quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

José Tolentino Mendonça em entrevista ao PÚBLICO

"Muitas pessoas estão a dar 
uma segunda oportunidade à Igreja"

Padre Tolentino (foto do meu arquivo)



É um dos grandes pensadores do Portugal contemporâneo e do lugar do catolicismo no mundo. Em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, José Tolentino Mendonça fala do Natal, do amor, da poesia e do papel do Papa Francisco na reinvenção do papel da Igreja.



José Tolentino Mendonça não tem dúvidas: o Papa Francisco trouxe à Igreja Católica uma vitalidade que se julgava perdida e a prova disso são as muitas pessoas que se reconciliaram com a fé cristã. “Está a acontecer um pouco por todo o lado e como sinal, ao mesmo tempo, de uma cultura que volta a ter disponibilidade para ouvir aquilo quer julgava que já não queria ouvir mais.” A poucos dias do Natal falamos com o padre-poeta que gosta de construir pontes entre crentes e não-crentes, entre fé e pensamento.

Há um Natal de antigamente e um Natal dos dias de hoje? 
As formas como vivemos o Natal não são indiferentes à História, até porque o cristianismo é uma religião vertiginosamente histórica. Há outras tradições religiosas para quem a História é mais ou menos indiferente, porque apostam tudo na superação ou numa espécie de intervalo em relação à História. O cristianismo pega na História de frente. E, por isso, tudo o que é o fluxo histórico tem uma tradução na vivência do cristianismo. O próprio Natal, em si mesmo, é este cruzamento do eterno com a História e é sempre através daquilo que a História pode ser em cada momento que nós conseguimos olhar para o mistério da fé.

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Notas do meu diário: Hoje volto à liça

22 de dezembro



1. Já não ando por aqui, com textos próprios, desde 14 de dezembro. Alguns incómodos de saúde, felizmente não muito graves, impedem-me de seguir o meu ritmo normal. Hoje, porém, dei uma sapatada nesse incómodo e volto à liça habitual, que parar é morrer.

2. A época natalícia é, porventura, a que mais me toca. Sempre senti isso desde menino, desde quando a minha saudosa mãe me falava do nascimento do Menino Jesus, com o olhar repassado de ternura pelo Deus-Menino que haveria espalhar bondade, alegria, paz e fraternidade. De teologia, a minha mãe nada saberia. Muito menos seria capaz de me explicar por que razão quis Deus fazer-se homem há mais de dois mil anos. Mas sabia que era sua e nossa obrigação acolhê-Lo neste mundo maravilhoso, quiçá um vale de lágrimas para muitíssima gente. E depois, anunciava que no dia 25 de dezembro, começos do inverno, teríamos a grande noite, na qual não faltavam os presentes que o Menino se encarregaria de distribuir por todas as crianças do mundo. E assim era… 

3. Tenho por princípio ouvir música natalícia há muitos anos nesta quadra. É música diferente. Desde a popular que os simples criaram e nos ensinaram a cantarolar até à mais elaborada com fonte garantida nos grandes músicos. Toda ela é bela. E é curioso como por ela nos elevamos às alturas, tentando abafar mágoas das guerras e dos terrorismos, mesmo sabendo que não há milagres para que os homens se entendam se eles não quiserem nem souberem entender-se. 
Bom Natal para todos. 

domingo, 18 de dezembro de 2016

De mãe a discípula

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


«A igreja não tem nenhuma fórmula 
para salvar o mundo. 
É uma convocatória para o trabalho. 
Não é pouco.»
1. Pertencem a Paulo os primeiros escritos do Novo Testamento. Não são de carácter narrativo. São tentativas de interpretação de uma experiência que mudou completamente a sua vida, que o fez nascer de novo. A iluminação que derrubou as suas certezas não o fez ver apenas que nem Jesus nem os seus discípulos eram traidores da autêntica fé de Israel. Esta tinha sido atraiçoada ao deixar-se prender pela Lei, pelos seus preceitos e regulamentos, tornando-se uma questão nacionalista.
Jesus não cabia em Israel e não era só um judeu fora de série. Era um começo novo da humanidade. S. Lucas imaginou a sua genealogia como filho de Adão, como filho de Deus[1] e S. Mateus dirá, citando Isaías, que ele é Deus connosco[2]. É o evangelho de um filho da humanidade para toda a humanidade.
Quem frequentar as engenhosas narrativas, magníficos romances do nascimento e dos começos da vida de Jesus, não corre o perigo de imaginar que estamos a preparar, com o Advento, o nascimento de Cristo, assunto há muito resolvido. O que nos falta é consentir em nascer de novo. Como já referimos na semana passada, a grande figura do Natal é Nicodemos, um fariseu membro do Sinédrio[3], que andava de noite à procura da luz.

Anunciação. Josefa de Óbidos

Anunciação. Josefa de Óbidos (1676)

sábado, 17 de dezembro de 2016

Papa Francisco celebra o seu 80.º aniversário


O Papa Francisco celebra hoje o seu 80.º aniversário, mantendo a agenda de encontros e demais trabalhos. Celebra o seu aniversário sem interromper o seu múnus papal, dando-nos o exemplo preclaro de entrega absoluta à missão que aceitou já na velhice. Sublinho isto porque vejo e sinto que na idade dele muitos de nós ousam sonhar com o fazer nada, fugindo da vida ativa por preguiça mental ou física, mas também por comodismo inglório. O Papa não é desses. O Papa revolucionou a Igreja, garantindo que, a partir dele, haverá, espero eu, uma outra Igreja, capaz de estar no mundo, de dialogar com todos, independentemente das suas convicções religiosas, políticas, sociais ou artísticas. 

Não estávamos habituados a esta forma de ver o Papa a misturar-se com o povo, a comprar óculos numa loja como um cidadão normal. A telefonar a pessoas e instituições, a visitar inesperadamente os desprotegidos da sorte, a olhar para os sem-abrigo com preocupação, a dar entrevistas com a maior tranquilidade deste mundo, a denunciar injustiças, a promover encontros para diálogos francos, a dizer que tem vergonha de ver a indiferença com que a comunidade internacional olha de soslaio para os refugiados, a dinamizar diplomacias entre nações desavindas. A ralhar com os carreiristas da cúria vaticana. A sugerir aos mesmos e a todos uma vida alicerçada no amor, na alegria, na partilha. Não quer condenar ninguém, porque a Igreja tem de ser mãe acolhedora. 

Podia continuar a enaltecer este Papa que me cativou desde o princípio. Porém, ainda digo: Foi pagar a conta da sua estada em Roma no conclave que o elegeu Papa, foi de autocarro com os demais cardeais, recusou os aposentos que lhe destinaram e continuou a viver na casa de Santa Marta, onde celebra a Eucaristia, falando ao mundo de forma que todos o entendam. Dizem que renunciará em breve. Mas fica o seu exemplo. A Igreja depois dele será diferente da que todos conhecemos até à sua eleição. Que Deus o abençoe e o preserve enquanto ele estiver lúcido e atuante.

Fernando Martins

A revolução de Francisco: "Sou amado, logo, existo"

Crónica de Anselmo Borges no Diário de Notícias




1. Na perspectiva grega, o decisivo é conhecer a essência, por exemplo, o que é Deus? Na perspectiva hebraica, no que a Deus se refere, a perspectiva é outra: o que é que acontece quando Deus está presente? Foi assim que João Baptista, na prisão, mandou discípulos perguntar a Jesus se era ele o Messias. Jesus não deu nenhuma resposta teórica. Deviam eles próprios descobrir a verdade a partir do que viam que estava a acontecer: "Ide contar a João o que estais a ver e a ouvir: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a boa notícia." O Messias verdadeiro é aquele que está presente em nome de Deus a aliviar os tremendos sofrimentos das pessoas, a abrir horizontes de esperança para todos, sobretudo para os pobres e abandonados. Jesus está aí, libertando da opressão e da indignidade, anunciando e realizando um mundo novo de alegria e dignidade para todos. Ele é o enviado pelo Deus compassivo, que sara e cura as feridas e liberta a vida: "Sede misericordiosos como o vosso Pai celeste é misericordioso." Mais do que dogmas e doutrina, o decisivo no cristianismo é a prática libertadora.

A revolução de Francisco foi anunciada desde o início, ao proclamar que ninguém devia ter vergonha da ternura, sendo a missão da Igreja levar adiante o projecto de humanização que Jesus quer: "Vejo com clareza que do que a Igreja precisa é de capacidade para curar feridas. Devemos encarregar-nos das pessoas, acompanhando-as como o bom samaritano, que lava e limpa as feridas e consola", "caminhar com as pessoas na noite, saber dialogar e inclusive descer à sua noite e obscuridade sem nos perdermos".

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Estou sem tempo — um soneto para aliviar


Conta e Tempo

Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta,
Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...


Frei António das Chagas, 
em Antologia Poética

Não temas, Jesus é o Deus connosco

Reflexão de Georgino Rocha



O Filho de Maria de Nazaré tem dois nomes por sugestão do anjo que Mateus regista no seu Evangelho (Mt 1, 18-24): Jesus, o Salvador; e Emanuel, Deus connosco. Designam a mesma pessoa realçando a sua entrada na história humana e a sua função messiânica. De facto, só Jesus salva como já se indicia a partir do seu nascimento. E José, o justo, surge como o homem providencial a quem é confiado o encargo de lhe dar o nome, inserindo-o na linhagem de David e assumindo a paternidade segundo a lei judaica. Protagoniza assim um dos momentos mais marcantes da vida de Jesus, que fica a ser conhecido por filho de José, o artesão de Nazaré.
Os nomes indicados deixam em aberto a possibilidade de outros surgirem ao longo da história, não para anular o seu alcance, mas para os configurar em situações especiais. Será o caso de uma relação existencial específica ou de outra circunstância peculiar. Assim, o nome de Jesus pode ser o misericordioso, o paciente, o manso e humilde, o homem das dores, o “meu Senhor e meu Deus”, a verdade e a vida, o que vai á-frente, o pastor solícito que pôe aos ombros a ovelha perdida, o garante da vida para além da morte. E muitos outros. Os discípulos estão chamados a dar-lhe um nome vinculativo da sua relação com Ele. Qual será o que melhor expressa a tua?

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Mensagem de Natal do Bispo de Aveiro













No “sim” de Maria, o Verbo fez-se carne e habitou entre nós. Ele é verdadeiramente o Emanuel, o Deus connosco. «Sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos», diz-nos Ele (cf. Mt 28,20). Em ocasiões de crise do povo de Israel (Is 7,14), Ele já tinha sido anunciado como o Deus que nunca abandona o seu povo, apesar das suas infidelidades.

Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, veio anunciar o Reino de Deus. Toda a sua vida e toda a sua obra são a realização deste novo tempo, a que todos estamos chamados a construir. É Jesus, o menino do presépio, o homem da cruz e o Cristo ressuscitado, quem entrega livremente a sua vida; e o sangue derramado sela a nova Aliança com o novo e verdadeiro Israel – a sua Igreja. Eis que fica, para sempre, no meio de nós e ao nosso dispor.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Não é lixo, não senhor!


Não... não é lixo. Pode parecer que é, mas não é. ,E simplesmente o reflexo do sol que caiu sobre a laguna aveirense. Ao fundo, num tom acinzentado como que a ameaçar chuva, vê-se a ponte que nos liga às nossas praias da Barra e Costa Nova, Mas o Sol lá descobriu uma nesga para nos saudar com magia. Quando quer, o astro rei fica sempre a ganhar.

Painéis cerâmicos de VIC na igreja matriz

Painel com sacrário

Painel dos Santos Óleos

As igrejas são, muitas vezes, repositórios de artes que nos enchem a alma, enquadrando de forma especial as diversas cerimónias litúrgicas, enriquecendo-as sobremaneira. E a nossa igreja matriz não foge à regra. Neste número do Timoneiro debruçamo-nos apenas sobre a capela do Santíssimo Sacramento e o pórtico dos Santos Óleos, ambos com painéis cerâmicos de um artista aveirense, Vasco Branco, que esteve ligado à Gafanha da Nazaré, tendo sido fundador, proprietário e diretor técnico da Farmácia Branco, na Cale da Vila.
Vasco Branco, que se notabilizou pela sua polivalência artística, em especial como escritor (contista, novelista e romancista), pintor, ceramista e cineasta, assumiu VIC como nome artístico. O nosso povo, decerto, ao olhar para os dois painéis, fixando os olhares em VIC, talvez nem saiba que se trata do Dr. Vasco Branco, que frequentemente ocupava o seu lugar de técnico responsável na farmácia que ostentava o seu apelido.
O nosso conterrâneo Armando Cravo informou-nos há dias que colaborou com o artista VIC, ao fazer «os moldes em papel de cenário, tamanho natural, com todos os cortes e recortes, especialmente o do Sacrário, por terem uma configuração mais complexa». 
Também projetou «os pórticos de granito que emolduram e servem de suporte a tão maravilhosas obras de arte».
Armando Cravo sublinhou ainda que Vasco Branco «era uma pessoa de trato afável, com quem dava gosto trabalhar, e com muita sensibilidade artística».

Fernando Martins

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Bombeiros Voluntários de Ílhavo esperam por nós

Lançamento de uma litografia
de António Neves
17 de dezembro, 15 horas


No próximo sábado, 17 de dezembro, pelas 15h, no Salão Nobre Dr. João Resende, os Bombeiros Voluntários de Ílhavo vão fazer a apresentação de uma Litografia da autoria do artista António Neves, que estará presente para as autografar.
Será possivelmente uma boa prenda de Natal e, desta forma, quem a comprar estará a ajudar os nossos Bombeiros.

Natal 2016: Somos portadores da alegria

Crónica de Maria Donzília Almeida 



Com a entrada de dezembro, começa a sentir-se o ar impregnado do cheirinho a Natal. Os primeiros sinais bem visíveis e apelativos começam nos mass media, com particular incidência na caixinha mágica que entra em casa e nos seduz. Aí, a publicidade de tão insistente começa a impor-se de forma subliminar, chegando a ser agressiva. Os perfumes, por exemplo, que têm um alvo específico, ocupando largo tempo de antena, metem-se pelos olhos dentro a quem quer impressionar pelo olfato. 
Sendo o 67.º Natal que eu vivencio, se Deus quiser e me der saúde, como dizia a minha mãe, é com algum distanciamento que assisto a este materialismo. 
Recordo, com saudade, os natais da minha infância, que tinham a magia e a candura da idade da inocência. Com os parcos recursos das famílias, a mesa de Natal era pobrezinha, mas à volta dela reunia-se a família, que na altura ainda era uma instituição de peso. 
Pai e mãe presidiam à celebração e os filhos, sem as pretensões das crianças de hoje, aguardavam a chegada do Menino Jesus. No imaginário pueril, aquela criaturinha diáfana era o centro das atenções, pois lhes trazia as prendinhas tão ansiosamente esperadas. 
Os pais, que viam no Menino Jesus a personificação do filho de Deus que nascera nas palhinhas, também lhe confiavam a sua saúde, o que lhes permitia serem os intermediários entre Deus e os filhos. O Menino Jesus era uma criação romântica que reluzia e inspirava numa sociedade pouco industrializada, quase rural. 
Hoje, com a laicização da sociedade, esbateu-se essa criação e apareceu a figura bizarra do pai natal, empoleirado nos telhados a fazer uma escalada interminável. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

No Farol, a noite estava a chegar


Foi à tardinha. A noite vinha a caminho. Apressada. E o nosso Farol, o mais alto de Portugal, estava atento. O foco rotativo dava sinais de que estava próxima a dança intermitente da sua luz anunciadora de que é preciso cuidado, A costa pode ser fatal para quem navega sem radar afinado. Há muitas histórias de tristes destinos. Todo o cuidado é pouco. E então imaginei-me lá no cimo, olhando à volta, mas tanto degrau para subir já não me permite tais  devaneios. Pode ser que um dia o elevador me leve ao cocuruto do Farol da Barra de Aveiro. Há tantos anos que não vivo essa experiência!

domingo, 11 de dezembro de 2016

A restaurada Diocese de Aveiro faz hoje 78 anos

 Os Bispos da Restaurada Diocese de Aveiro

D. João Evangelista 

D. Domingos da Apresentação 

D. Manuel de Almeida Trindade

D. António Marcelino

D. António Francisco
D. António Moiteiro 
A Diocese de Aveiro foi criada pelo papa Clemente XIV a 12-04-1774, a pedido do monarca D. José I, abrangendo uma área destacada do território da Diocese de Coimbra; em 24-03-1775 deu-se execução ao documento pontifício. A catedral foi instalada na igreja da Misericórdia e, mais tarde, em 1830, na igreja que fora do extinto Recolhimento de S. Bernardino. Posteriormente, foi extinta pelo papa Leão XIII em 30-09-1881, executada em 04-09-1882. 
Pela bula Omnium Ecclesiarum, de 24-08-1938, o papa Pio XI restaurou-a, dando-lhe novos limites, com oitenta e duas freguesias de dez concelhos, desmembrados das Dioceses de Coimbra (Águeda, Anadia, Aveiro, Ílhavo, Oliveira do Bairro e Vagos), do Porto (Albergaria-a-Velha, Estarreja e Murtosa) e de Viseu (Sever do Vouga); foi então elevada a catedral a secular igreja do extinto Convento de S. Domingos e matriz da Paróquia de Nossa Senhora da Glória. A sentença executória da restauração deu-se em 11-12-1938.
Curiosamente, eu, Manuel Fernando da Rocha Martins, que nasci em 24 de novembro de 1938, Diocese de Coimbra, fui batizado no dia 25 de dezembro do mesmo ano, já na Diocese de Aveiro.
Nesta data comemorativa dos 78 anos, a Diocese de Aveiro merece os meus e nossos parabéns, na pessoa do seu Bispo atual, D. António Moiteiro.
Permitam-me que recorde os Bispos da restaurada Diocese de Aveiro, que tive o privilégio de conhecer. Falei com todos, exceto com D. João Evangelista. Mas participei no seu funeral, que foi grandiosos, na minha ótica.
Ao evocá-los, a minha memória diz-me que todos foram importantíssimos para a Igreja Aveirense, cada um a seu modo: D. João, bispo prático, sereno e poeta em muito do que dizia e escrevia. Levou a cabo o Primeiro Sínodo Dicesano, o sínodo da unidade. As paróquias vieram de três dioceses;  D. Domingos, o bispo do fervor pastoral. Queria chegar a tudo e a todos quanto antes; D. Manuel, um homem bom, sensível, e um bispo de grande cultura teológica e do concílio Vaticano II; D. António Marcelino, com todo o seu entusiasmo, criou estruturas pastorais abertas ao futuro, nomeadamente, o Congresso dos Leigos e o Sínodo Diocesano para enfrentar os desafios de tempos novos; D. António Francisco, um bispo próximo que nos abriu portas de bondade, de atenção aos outros e de grande dinamismo no diálogo constante com que soube sensibilizar-nos para a ação; D. António Moiteiro, o bispo dos nossos dias e para nós, atento ao que importa fazer e ao que o cerca, sem descurar a atenção aos mais sofredores. 

Fernando Martins 

Fonte: Diocese de Aveiro

Semeadores de mudança: poetas sociais (2)

Crónica de Frei Bento Domingues  

É preciso nascer de novo

1. A partir dos finais dos anos 60 do século passado, os militantes dos movimentos cristãos eram bombardeados com repetidas afirmações marxistas: a fé é a alienação da vida humana, a Igreja é o secular instrumento da alienação e os padres são os intelectuais orgânicos desse processo alienador.
A liturgia e a mística eram consideradas formas de fuga do mundo. Nesta perspectiva, a mística era rejeitada como expoente máximo do medo à realidade material, da fuga das responsabilidades sociais, da alienação na sua forma extrema. Era também recusada por ser uma mística de olhos fechados perante a história, sem ligação com as tarefas humanas[1].
Muitas atitudes e práticas religiosas, do passado e do presente, merecem bem esta crítica, mas diante do texto do domingo passado, e que desejo continuar hoje, essa crítica faz-nos sorrir. Não foram poucos os marxistas da época que se emburguesaram. Muitas pessoas da Igreja — e muitas que não se reconhecem em todas as suas expressões —, lideradas pelo Papa Francisco, vêem o mundo a partir dos excluídos e vivem em função da transformação da sociedade, como ficou claro no 3.º Encontro com os participantes dos Movimentos Populares.

No Advento e Natal havia sempre os encontros da família

Irmã Eliane Maria 
Em tempo de férias 
as famílias se ampliam 

Nasci na cidade de Frederico Westphalen, no interior do Rio Grande do Sul, Brasil. Vale dizer que no Brasil, nesta altura do ano, estamos no início do verão, é tempo de férias grandes. Quem está mais longe vem passar as festas de final de ano com a família. E por estar numa comunidade pequena, onde todos se conhecem, as famílias se ampliam.
Para o tempo de Advento e Natal, tínhamos sempre os chamados “encontros de família”, que eram encontros propostos pela Diocese com temas específicos e que visavam reunir as famílias. Para nós, crianças, eram motivo de alegria, porque podíamos nos encontrar e brincar mais um pouco, contar o que íamos ganhar no Natal e muito mais. O presente ao Menino Jesus era sempre consoante aquilo que a mãe achava que no momento era preciso: roupas, calçados ou um brinquedo. A surpresa era sempre os doces que acompanhavam o presente, que, sem a gente compreender, ao regressar da missa lá estavam sobre a cama ou junto da árvore de Natal.
Em minha família, era um tempo de mais trabalho, uma vez que já estávamos em férias e podíamos ajudar mais em casa e na lavoura, pois meus pais são agricultores. Em casa, a mãe começava com a “famosa limpeza de Natal”, e logo a seguir preparava os deliciosos doces de Natal — torta de bolachas, cuca (pão doce típico da culinária italiana), cajuzinhos (doce feito de amendoim torrado e leite condensado) e, claro, não podia faltar a galinha recheada e a carne fresca para o churrasco do dia de Natal. Para acompanhar, um delicioso e quente chimarrão (bebida típica do sul do Brasil) e para as crianças um guaraná e por fim um gelado de sobremesa.
Deste tempo, também fazia parte o preparar a árvore de Natal e o Presépio na Igreja de nossa comunidade, o que era sempre uma diversão e alegria.
A missa de Natal geralmente era a da comunidade vizinha, onde encontrávamos os avós paternos e muitos dos tios e primos. Rezávamos junto do presépio e já nos alegrávamos por poder estar todos juntos no dia de Natal na casa da “nona”(avó no dialeto italiano). As festas de Natal e final de ano eram sempre um dia de encontro, ora com os tios e primos da parte do pai, ora com os da parte da mãe. Na casa dos avós sempre podíamos comer doces à vontade e ouvir os mais velhos contar histórias do seu tempo de criança. Isto sempre nos fascinava. 

Irmã Eliane Maria Batalin
Comunidade de Schoenstatt da Gafanha da Nazaré 
(mantivemos no texto a ortografia 
e sintaxe do Português do Brasil)

Nota: Texto publicado no "Timoneiro"

sábado, 10 de dezembro de 2016

Prémio Pessoa para Frederico Lourenço

Frederico Lourenço

«Pode dizer-se que o coro de reações ouvidas após se ter conhecimento da atribuição do Pessoa a Frederico Lourenço foi grande e afinado. Desde logo o presidente da República: "Fico muito alegre, muito feliz, como cidadão, como académico e como Presidente da República. Trata-se de uma personalidade ímpar na nossa cultura, trata-se de uma obra também ímpar. As pessoas das mais diversas sensibilidades, religiões, culturas, consideram que é uma obra marcante, e Frederico Lourenço é de facto uma personalidade marcante na universidade portuguesa, na cultura portuguesa".»

NOTA: Quem sou eu para ajuizar do prémio Pessoa atribuído a Frederico Lourenço, o tradutor da Bíblia do Grego original para o Português contemporâneo? Como leitor do primeiro volume daquela tradução, os "Quatro Evangelhos", apenas sublinho que fiquei muito satisfeito. E agora, aconselho a leitura do texto do DN aqui

O islão e as luzes. 2

Crónica de Anselmo Borges 
no DN


Continuo com o Manifesto 
a Favor de Um Islão das Luzes,
de Malek Chebel. 
As outras propostas urgentes:

8. "Sancionar de modo mais severo os autores de crimes de honra." Mas não basta a sanção. É preciso ir mais fundo, libertando os valores de vontade pessoal e escolha amorosa feminina. "Enquanto a mulher não tiver a possibilidade de formular escolhas amorosas independentes, não poderá ser tomada a sério."

9. "Modernizar a lei civil e o código pessoal." Impõe-se um direito positivo mais conforme com o espírito do tempo, não identificado com a sharia, a lei religiosa. Sem se ser radical, "examinar o conjunto do potencial do direito islâmico, determinar a parte ainda viva, isto é, capaz de evoluir, depois adaptá-lo às novas condições de existência dos muçulmanos, afastando o que se tornou caduco. Este estudo deverá denunciar os aspectos mais retrógrados da sharia: cortar a mão ao ladrão e a língua ao mentiroso, colocar de quarentena a mulher durante a menstruação, aplicar a lei de talião, divisão injusta da herança, etc.".

10. "Reavaliar o estatuto da mulher." Toda a misoginia ligada à suposta inferioridade da mulher "desfigura o islão e dá uma má imagem do terceiro monoteísmo". "Repúdio, poligamia, casamentos forçados (e sobretudo casamentos precoces com 11 ou 13 anos), raptos de jovens raparigas, difamação das mães celibatárias e assassinatos perpetrados em nome da honra: aí estão alguns aspectos - flagrantes - da inferioridade jurídica da mulher muçulmana em relação ao homem", fundada na sua anatomia e fisiologia, muitas vezes consideradas mais importantes do que "o seu ser profundo". A mulher não pode ser considerada menor toda a vida.

Natal — Tudo se fazia para manter a tradição familiar

Do Natal da minha infância 

Maria de Lourdes Almeida


Do Natal da minha infância, na década de 1950, retenho o espaço físico, a alegria e os cheiros. Tudo era mágico! O Natal era passado e vivido a três: eu, a minha mãe e o meu pai (a minha irmã nasceu 14 anos mais tarde). Vivíamos em Lisboa e a restante família estava em Leiria. Na altura, ir a Leiria significava cerca de 5 horas de camioneta para cada lado e o horário de trabalho na véspera de Natal era igual ao dos restantes dias. 
Ao chegar do trabalho, no dia 24, a minha mãe, ainda que com a ajuda do meu pai que sempre colaborou nas lides domésticas (um homem muito vanguardista para a época), começava os preparativos para as iguarias natalícias: cozer a abóbora para as filhós que precisavam de tempo para levedar, fazer o arroz doce, preparar as rabanadas e a salada de fruta. Quando os doces estavam prontos e o cheiro dos fritos pairava por toda a casa, preparava-se o bacalhau com batatas e couve (comprava-se a que vinha de Trás-os-Montes por ser mais tenra e saborosa). 
Não me recordo se esperávamos pela meia-noite para cear, mas creio que não deveria fugir muito a essa hora. Após o repasto era hora de limpar a cozinha. Tudo tinha de ficar escrupulosamente limpo, não fosse o Menino Jesus sujar-se ao descer pela chaminé. Enquanto a minha mãe se ocupava desta tarefa de limpeza o meu pai sentava-se a engraxar os sapatos. Então, o Menino Jesus não ia deixar os presentes em cima de sapatos mal limpos. Chegava a hora de ir para a cama. Que sufoco! E o Menino Jesus não se iria esquecer da nossa casa? Ter-me-ia portado suficientemente bem para merecer os presentes?

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

É só para me lembrar do verão...



Esta foto é só para me lembrar do verão, com tudo o que ele tem de bom. O frio, apesar de agasalhado e com algum aquecimento, tolhe-me. Até parece que fico proibido de trabalhar. Mas reajo... sim senhor. A Figueira da Foz, em especial no tempo de veraneio, sabe-me bem. Por isso a imagem que partilho. Lá está o bar com esplanada na foz do Mondego onde costumo vislumbrar outros horizontes. E no verão, se Deus quiser, voltarei.

Feliz de quem não se escandaliza comigo

Reflexão de Georgino Rocha

A revolução da  ternura

Estranha afirmação de Jesus que faz parte da resposta dada aos enviados de João preocupados em saber se Ele era o Messias. Escandalizar-se com as suas atitudes e palavras, os seus gestos de cura e ensinamentos de libertação, atingia não apenas os dirigentes religiosos, mas o próprio João Baptista, o precursor. O escândalo seria fruto de algo surpreendente que contrastaria com tradições fundadas e expectativas criadas, com a mentalidade predominante alimentada em rituais de sinagoga e comentários de rua. De facto, segundo Mateus, o evangelista narrador, a surpresa é tão grande que provoca um diálogo clarificador e assertivo entre os enviados de João e o próprio Jesus. Mt 11, 2-11.
“És tu Aquele que há-de vir ou devemos esperar outro? é pergunta síntese do que se ouvia falar a respeito do comportamento de Jesus e de que os discípulos de João se fazem porta-vozes, pergunta suscitada pelas dúvidas e incertezas, pergunta que admite a correcção de desvios e comporta o desejo de alcançar a verdade. O contraste é interpelante: A misericórdia compassiva para com os infelizes da vida substitui a justiça “férrea” de João, o anúncio da boa nova da salvação ocupa o lugar do discurso “musculado” e ameaçador do precursor, a proximidade e o envolvimento na missão são como que o contraponto do refúgio no deserto e do isolamento na prisão. À imagem do Deus justiceiro sobrevém o rosto do Deus misericordioso. Contudo, Jesus reconhece a grandeza de João e faz um rasgado elogio. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

“É Natal Português” na Gafanha da Encarnação

“É Natal Português” é o título do espetáculo 
que o grupo “Pedras Vivas” 
irá realizar na Igreja Matriz 
da Gafanha da Encarnação, 
no próximo dia 17 de dezembro,
pelas 21 horas. 
Entrada livre.
Nossa Senhora da Encarnação
Espaço da assembelia com altar
Este sarau cultural é constituído por encenação, concerto musical e coral, recitação de poemas alusivos à quadra natalícia, de modo a criar um evento recreativo e cultural apelativo, sem nunca esquecer a componente religiosa que tem sido uma constante nos diversos eventos realizados pelo grupo “Pedras Vivas” em colaboração com a paróquia da Gafanha da Encarnação.
A maioria das encenações bíblicas são idênticas às realizadas no espetáculo natalício de 2015, às quais foram acrescentadas novas cenas, “com a novidade da introdução de declamação de textos poéticos”, como explicou Ana Caçoilo, uma das dirigentes do grupo informal “Pedras Vivas”.
Os quadros bíblicos começam com os profetas que anunciam a vinda de Jesus, passando pela “Anunciação a Maria”, a “Visita a Isabel”, terminando com a “Adoração ao Menino”. É neste quadro, que recorda o “Presépio”, que surgem os textos poéticos, com poemas da autoria de Adolfo Simões Muller, de Miguel Torga, de João Coelho dos Santos e de Augusto Federico Schmidt, e ainda três textos populares de autores desconhecidos.
“Outra das novidades deste ano é o surgimento de “uma personagem criada por nós, que não é bíblica, e que irá fazer a apresentação do espetáculo, que este ano será diferente, integrando também alguma comédia intercalada com os quadros de cariz um pouco mais dramáticos”, adianta Ana Caçoilo.
A componente musical será constituída por cânticos portugueses e alguns em latim, num total de 16 cânticos. “O ano passado foram 11. Este ano, retirámos os cânticos que o ano passado foram cantados em espanhol, mas introduzimos alguns de origem estrangeira, mas que foram traduzidos para português”, refere a dirigente.
Em palco estarão cerca de 30 pessoas, incluindo os “poetas”, aos quais se juntam mais quatro dezenas de músicos e coralistas”.

Cardoso Ferreira
in Correio do Vouga 

Li aqui

Festa da Imaculada Conceição, Rainha de Portugal

8 de dezembro
Nossa Senhora da Conceição
(Esta imagem está no átrio de acesso à torre
da igreja matriz da Gafanha da Nazaré

O dogma proclamado por Pio IX, em 8 de dezembro de 1854, reconheceu que Maria, Mãe de Jesus, foi concebida sem pecado original e cheia de graça, desde o primeiro instante da sua existência. Aliás, este dogma mais não fez do que reconhecer o que durante séculos se  foi impondo à Igreja ao longo dos tempos, sobretudo através dos Franciscanos, a partir de 1263.
Portugal aderiu à referida corrente, manifestando uma grande devoção a esta prerrogativa de Maria, tendo declarado Nossa Senhora da Conceição padroeira do Reino, em 1646, por proposta de D. João IV. A partir dessa decisão, os reis de Portugal nunca mais usaram coroa, tanto  quanto me é dado saber.
A liturgia celebra este mistério com a categoria de solenidade, a 8 de Dezembro, com textos que datam de Pio IX e refletem o clima próprio do Tempo do Advento.
A piedade popular tem grande devoção por Nossa Senhora da Conceição. Na Gafanha da Nazaré chegou a haver uma festa no dia 8 de dezembro, mais dedicada aos bacalhoeiros, que chegou a suplantar a festa da padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, talvez pela natural alegria provocada pela chegada dos que andaram a labutar sobre as ondas do mar gelado dos pesqueiros.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Na noite de Natal não havia bacalhau

Manuel Serra (foto do meu arquivo)


Nasci em 1942, em plena II Guerra Mundial, na aldeia da Raseira, freguesia de Liceia, que pertence ao concelho de Montemor-o-Velho. Na altura, a Raseira tinha 50 ou 60 habitantes. Agora tem 10 ou 20. Éramos cinco irmãos e estávamos numa zona pobre, que tinha de produzir da terra quase tudo o que consumia. O meu pai era carpinteiro e por vezes tínhamos alguns tostões para comprar algo mais. O mar ficava a 20 quilómetros, na Figueira da Foz, mas era como se fosse no fim do mundo. Não havia eletricidade nem gás. Água, era a da fonte para beber e do poço para regar. Embora Portugal não tivesse entrado na II Guerra Mundial, sofríamos os racionamentos. As pessoas tinham de ter um pinhal para ter lenha, uma terra de arroz, um olival, uma terra com nabos, couves e batatas... Em casa tinham alguns animais: galinhas para dar ovos – não se comia galinha – e o porco que se matava antes do Natal.