domingo, 9 de novembro de 2014

A GAFANHA ERA UM LENÇOL DESOLADOR DE AREIA BRANCA



«[A Gafanha] Era um lençol desolador de areia branca, de dúzias de quilómetros quadrados, que os braços da laguna debruavam a norte, a leste e a poente, isolando do contacto da vida a solidão árida do deserto.
Lá dentro, longe das vistas, bailavam as dunas, ao capricho dos ventos, a dança infindável da mobilidade selvagem dos elementos em liberdade.
Brisas do mar e brisas da terra, ventos duráveis do norte em dias de estabilidade barométrica, e rajadas violentas de sudoeste a remoinharem no céu enfarruscado de noites tempestuosas, eram quem governava o perfil das areias movediças cavadas em sulcos e erguidas em dunas de ladeiras socalcadas a miudinho.
Era assim a Gafanha do tempo dos nossos bisavós: deserto enorme de areia solta, a bailar, ao capricho dos ventos, o cancan selvagem de uma liberdade sem limites.
Um dia, não longe ainda, um homem atravessou a fita isoladora da Ria e pôs pé na areia indomável. Não sabe a gente se o arrastava a coragem do aventureiro, se o desespero do foragido. De qualquer modo, ele fez no areal a sua cabana, à beira da água, e principiou a luta de gigantes do Gafanhão contra a areia.»

Joaquim Matias,
in Arquivo do Distrito de Aveiro,
vol IX, página 317

QUADRO DE SÃO GONÇALINHO ARREBATA FIÉIS E COLECIONADORES

Texto de Sandra Simões e Foto da Paulo Ramos,



«Júlio Pires foi o pintor convidado pela Mordomia São Gonçalinho 2015/2016 para pintar a obra em honra do Santo. Ausente no Brasil, numa residência artística, nem a distância inibiu o artista ilhavense de aceitar o desafio e dar largas à imaginação e ao talento artístico, que já lhe fez conquistar vários prémios de pintura.
Dados os ingredientes principais: a história do santo, a sua religiosidade, a tradição das cavacas, o empenho das Mordomias, o lado pagão das festas, a fé que passa de geração em geração... coube depois ao artista pôr tudo isto e mais alguma coisa numa tela e o resultado foi ontem apresentado publicamente. A sessão decorreu no bairro da Beira Mar (Bar Bombordo), acompanhada, essencialmente, por coleccionadores das litografias de São Gonçalinho, ávidos por conhecer a deste ano.»

ESTE PAPA É INCORRIGÍVEL

Crónica de Frei Bento Domingues 


“Digamos juntos, de coração: 
nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, 
nenhum trabalhador sem direitos, 
nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá”




1. Eu deveria observar algum tempo de jejum em relação ao estilo, aos temas e aos conteúdos das intervenções pastorais de Mario Bergoglio, mas não me apetece nada precipitar a Quaresma.
Não é, todavia, para o defender ou ceder à desnecessária apologia de alguém que precisa mais de seguidores do que de admiradores. Conheço a oração, “Senhor, ilumina-o ou elimina-o”, as acusações de ser “comunista” e de usar os métodos do “prec” na reforma da cúria, de abusar da noção de hierarquia das verdades e de estar a perder, por palavras, gestos e atitudes, a tradicional dignidade de um “verdadeiro” Santo Padre. Há quem discuta a legitimidade da sua eleição e não só.

UM DIA DE CHUVA


 Com Miles Davis em fundo

Hoje, domingo, 9 de novembro, desejo sentir-me com a tranquilidade necessária para refletir. Sem movimento cá por casa, que todos os filhos e netos têm as suas ocupações, será bom partilhar com a Lita sonhos ainda por realizar, sonhos esses que alimentam os nossos quotidianos.
Desde muito jovem que me dei bem com a chuva, menos quando ela é torrencial. Chuva que cai de mansinho, sem vento que a empurre, que bate nas vidraças levemente, é lenitivo para momentos de recordações agradáveis que ao longo da vida experimentei. O menos agradável fica lá fora.
Também gosto de ler embalado por essa chuva. Ler o que me faz pensar e sonhar. Ler o que me leva a viajar. Ler o que me educa. Ler o que me diverte. Ler o que me informa e forma. Ler o que me abre novas portas a mundos desconhecidos. Ler o que me serena o espírito. Ler o que desperta para novos horizontes. Ler o que me acorda para caminhos de esperança. Ler o que me mostra a ternura de Deus.
Um domingo assim será um domingo abençoado.

Fernando Martins



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Basílica de São João de Latrão

Uma reflexão para este domingo




«“Durante cerca de duzentos e cinquenta anos, o Império Romano perseguiu os cristãos com grande dureza e crueldade. O édito de Milão, assinado por Licínio e Constantino em 313, concede-lhes a liberdade de culto. Puderam escancarar as portas das casas onde até aí celebravam a Eucaristia em segredo. Puderam fazer Igrejas. O imperador Constantino mandou construir para os cristãos um templo semelhante aos grandes edifícios públicos do Estado, as basílicas.»

Pode ler mais aqui 


sábado, 8 de novembro de 2014

A PACIÊNCIA



Nós devíamos todos aprender com os pescadores a ter paciência. Iscar, atirar a linha da cana de pesca à água e esperar, esperar e voltar a esperar que o peixe se distraia e caia na tentação de morder o isco, que pode ser morte certa. Mas às vezes as horas passam e nada. Nem um peixito para amostra. Um dia destes, um pescador, cansado de nada apanhar, disse para quem o quis ouvir, com um sorriso nos lábios, que ia telefonar para o restaurante para saber se havia leitão. Eu, que estava junto dele, sorri e disse: 
— Então eu pensava que o senhor só gostava de peixe e vai comer leitão? 
E ele de pronto atalhou: 
— Só gosto de peixe às vezes!

HAWKING E FRANCISCO

Da crónica de Anselmo Borges
no DN de hoje



Afinal, Deus continua a ser notícia. O que é facto é que os media mundiais não deixaram de fazer ampla referência às declarações recentes do famoso físico Hawking e do Papa Francisco sobre a fé em Deus.
1. Que disse o cientista inglês Stephen Hawking? "Antes de termos entendido a ciência, o lógico era crer que Deus criou o universo, mas agora a ciência oferece uma explicação mais convincente. Não há Deus. Sou ateu. A religião crê nos milagres, mas estes não são compatíveis com a ciência."
(...)

Nota: Leitura no DN só para assinantes. Provavelmente, talvez na segunda-feira, no meu blogue.

LAVRADORES DE VILAR

Um livro de Francisco Gamelas


SER FELIZ

Crónica de Maria Donzília Almeida


“Being happy” – Ser feliz

Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Quando os tem, ali ... na ponta do nariz!

Mário Quintana
                                


É o título de um livro que me saltou à vista, quando deambulava por uma zona comercial, na capital londrina. Despertou a minha curiosidade, tanto pelo significado, como pela informação adicional de que se tratava de um bestseller.
Esta cena ocorreu nos idos tempos de finais do século passado, 1995 e influenciou, profundamente, a minha mundividência, a partir de então.
É um tema muito pertinente, já que é um desiderato de todos sem exceção e também, simultaneamente uma frustração para tantos que a perseguem e nunca a alcançam. Mas.....será que há fórmulas para se atingir na vida aquele estado de supremo bem estar a que se apelida de felicidade?

FALAVA DO TEMPLO DO SEU CORPO

Uma reflexão semanal 
de Georgino Rocha



O gesto de Jesus, usando o chicote de cordas para expulsar os vendilhões do templo, seguido de diálogo que pretende ser esclarecedor, provoca tal “confusão” que é preciso o autor do texto vir dizer que “falava do santuário do seu corpo”. (Jo 2, 13-25). E não era para menos. O chicote do Messias, segundo uma expressão rabínica, constitui um símbolo da chegada dos tempos messiânicos: Pela purificação das intenções dos corações e pela reposição da função das coisas que, necessariamente, comportam aflição e sofrimento.

Ao ver o espectáculo do que acontecia – o mercado havia dominado o glorioso Templo de Jerusalém – enche-se de coragem e liberta os sentimentos mais impulsivos e vibrantes. E segue-se a acção demolidora das mesas de comércio, o menosprezo pelo dinheiro e a expulsão dos cambistas, a retirada dos animais e das aves. “Não façais da casa de meu Pai um covil de ladrões” – adianta como exortação e denúncia.