domingo, 23 de fevereiro de 2014

JUSTIÇA

«Há pessoas neste mundo que gastam todo o seu tempo à procura da justiça, não lhes sobrando tempo algum para a praticarem»

Henry Billings Brown 
(1863-1913),
 juiz norte-americano 

QUEM SÃO OS ZELOTAS?

Crónica de Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO

1. Reza Aslan (1) nasceu no Irão, vive nos USA e é apresentado como um investigador, um académico e um escritor de renome internacional. A sua obra, O Zelota, surge com o propósito de recuperar o Jesus da história, o Jesus antes do cristianismo. A tese é simples: Jesus foi um revolucionário judeu que, há dois mil anos, atravessou a província da Galileia reunindo apoiantes para um movimento messiânico, com o objectivo de estabelecer o Reino de Deus, mas cuja missão falhou quando, após uma entrada provocatória em Jerusalém e um ataque descarado ao Templo, foi preso e executado por Roma pelo crime de sedição.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Com D. António Francisco

Um testemunho do Padre Georgino Rocha

D. António Francisco e Padre Georgino Rocha
(Foto FM)

COM DOM ANTÓNIO FRANCISCO

Desde a sua chegada, surpreendeu-me o seu modo de olhar as nossas "coisas". Era um olhar diferente, transparente, assertivo. Depois, esse olhar fez-se proximidade, amizade. ajuda e serviço que mobilizava energias um pouco adormecidas. Veio a seguir a visão do futuro próximo da diocese, do seu seminário, da Casa Sacerdotal, do seu plano de pastoral e da missão jubilar que coroava a festa dos 75 anos da restauração. Via-se claramente que a adesão ia crescendo e os dinamismos surgidos germinavam e exigiam continuidade e novo suporte. A reorganização das estruturas, a actualização das normas pastorais e a renovação de procedimentos... surgiam como garantia do espírito novo. Acompanhei e participei, também pela rede virtual, esta onda crescente.
A Dom António devo uma atenção especial pela sua compreensão, carinho e presença insistente e paciente. Gostei sinceramente de colaborar com Ele de modo habitual e nas tarefas específicas que me pediu. Guardo no coração a pedagogia vivida: chegar como quem aprende, observar como quem se maravilha, acompanhar como quem aceita ritmos diferentes, ponderar como quem quer tomar decisões acertadas, situar-se à frente, no meio ou atrás como quem preza sobretudo a comunhão, rasgar horizontes como quem sonha com o futuro emergente no quotidiano e no modo como é vivido.
Com Dom António Francisco. o presente faz-se um hoje que importa apreciar e viver. Bem-haja. E que continue a ser Bispo que entre nós se manifestou de forma tão qualificada. Um abraço amigo!

D. António Francisco e as portas da fé

Novo Bispo do Porto acredita 
que diálogo entre Igreja e sociedade
passa pelos «umbrais da arte»




«O diálogo entre a Igreja e a Sociedade passa, mais vezes do que imaginamos, pelos umbrais da arte e aí se abrem as portas da fé, porque a arte e a cultura transportam em si um ministério profético», sublinhou o prelado em 2013 no texto de apresentação da exposição “Diocese de Aveiro – Presente e Memória”.

Para o até agora bispo de Aveiro, uma das poucas dioceses portuguesas com um setor da Pastoral da Cultura formalmente instituído, a relação dos católicos com outras perspetivas atravessa «necessariamente» os «caminhos abertos da Cultura, em que a Igreja soube tantas vezes ser pioneira».

«Estejamos também nós disponíveis para fazer deste diálogo franco um serviço e um tesouro sem esquecer nunca que a arte transporta em si um ministério profético», apelou então D. António Francisco dos Santos.

Ler o texto de Rui Jorge Martins aqui 

O que pensam os católicos sobre a Igreja?

Crónica de Anselmo Borges 



1- A Bendixen & Amandi realizou, entre Dezembro de 2013 e Janeiro de 2014, com 12 038 fiéis adultos de 12 países maioritariamente católicos dos cinco continentes, para a Univisión, a principal televisão em espanhol dos Estados Unidos, uma sondagem sobre temas importantes na e para a Igreja. Fiabilidade: 95%.

Alguns resultados, com dissonâncias entre a doutrina e a opinião e vivência dos fiéis. a) Anticonceptivos: 78% a favor; 19% contra; 3% não responderam. b) Ordenação sacerdotal das mulheres: 45% a favor; 51% contra; 4% não responderam. c) Casamento dos padres: 50% sim; 47% não; 3% não responderam. d) Aborto: 8% deve permitir-se sempre; 65% nalguns casos; 33% nunca; 2% não responderam. e) Quanto ao casamento homossexual, há acordo com a doutrina: 66% contra; 30% a favor; não responderam 4%. f) Como avalia o trabalho do Papa Francisco? 41% excelente; 46% bom; 5% medíocre; 1% mau; 7% não responderam.

VIVE O AMOR PERFEITO

Uma reflexão de Georgino Rocha




O padrão de felicidade proposto por Jesus aos seus discípulos adquire novas facetas que dão rosto humano às bem-aventuranças. O ensinamento feito na montanha vai mostrando, por contrastes, a beleza e a elevação a que todos nós estamos chamados. A disponibilidade pronta e radical para ir mais longe e chegar ao fundo do coração é especialmente apreciada e destacada. E, vigoroso e atraente, brota o apelo/convite a viver, sempre, o amor perfeito que dá um novo sentido a situações consideradas positivas sob o ponto de vista legal e saneia completamente as negativas.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Joana Gramata da Gafanha da Encarnação

Crónica de um professor, 
por Maria Donzília Almeida

Joana Gramata

Está no imaginário de quase todos os habitantes da Gafanha da Encarnação, este gentílico, nomeadamente nos mais antigos, os que emergem do século passado. Integra até um topónimo, que me traz gratas recordações, pois foi lá que nasci e passei os verdes anos da minha meninice e adolescência. Perdeu o sentido, quando dali partiu o patriarca, deixando a casa que habitou, cheia de recordações e amargura! 
A Gafanha da Gramata, ou Gafanha da Maluca começou a designar-se por Gafanha da Encarnação, só em 1848, um século anterior ao meu aparecimento neste mundo. Joana Maluca e o seu segundo marido tinham mandado erigir, nesse ano, a primeira capela dedicada a Nossa Senhora da Encarnação, neste lugar.
A designação de Gramata, proveio de uma planta marinha existente na zona. A atual vila da Gafanha da Encarnação tomou aquele nome, não só pela existência da tal planta, mas pela necessidade de a distinguir da Gafanha da Nazaré.

D. António Francisco: um bispo próximo e acolhedor

Uma evocação pessoal 



Jamais esquecerei o dia 8 de Dezembro de 2006, data em que D. António Francisco dos Santos entrou solenemente na Sé de Aveiro para ocupar a cadeira de Bispo Residencial. Dia da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal e Mãe da Igreja. À mesma hora em que se dirigia ao Povo de Deus que lhe havia sido confiado pelo Santo Padre, recolhia eu ao hospital com um incómodo de saúde. E se não pude ouvir a sua voz e refletir a sua mensagem, senti a sensibilidade do novo Bispo de Aveiro, no dia seguinte, provavelmente na primeira visita que fez, na diocese, a um doente internado. Estou-lhe muito grato por isso.
Foi assim que conheci, pessoalmente, D. António Francisco, que entrou na cadeia apostólica, entre nós, tendo na retaguarda prelados tão distintos, como homens e como pastores, todos empenhados, cada um à sua maneira, no crescimento do Reino de Deus em terras de Aveiro.
Natural de Tendais, Cinfães, foi nomeado Bispo de Aveiro pelo Papa Bento XVI, em 21 de Setembro de 2006. E na saudação que dirigiu à diocese garantiu que todos teriam lugar no seu coração de bispo. «Que ninguém se sinta sozinho, esquecido, excluído ou à margem do meu desvelo de servir, independentemente da sua condição social, convicção de fé, cor ou cultura.»
Com estes propósitos, D. António Francisco recordou, na tomada de posse: «Sou uma diocese nova, recém-restaurada. Mas o caminho percorrido é grande e belo, com etapas marcantes de dois Sínodos diocesanos a cujos dinamismos me vinculo. É meu dever assumi-los. É meu desejo continuá-los. Há vidas doadas a Deus, à Igreja e ao Seu Povo, que hoje e sempre devemos recordar, agradecer e merecer.»
Num olhar atento, percebe-se que D. António Francisco é, essencialmente, um bispo com uma capacidade rara para ouvir, sem pressas. Atento ao mundo e à diocese, o seu espaço de intervenção pessoal, direta e próxima, o nosso Bispo privilegia a pessoa, com todos os seus problemas e anseios, mas ainda com as suas limitações e dificuldades.
Pessoalmente, não posso deixar de apreciar a sua serenidade, a sua humildade no contacto com todos, a sua fé esclarecida e atuante, o seu desejo de inovar e a procura das melhores soluções, para implantar e dinamizar o Reino de Deus entre nós.

Fernando Martins

Mensagem de D. António Francisco à Diocese de Aveiro

FOI À VOZ DE DEUS QUE SEMPRE PARTI



Caros Diocesanos,

Nesta hora, não encontro outras palavras senão estas ditas, por Deus quando chamou Abraão: “Deixa a tua terra, a tua família e vai para a terra que eu te indicar” (Gén 12, 1).
Foi à voz de Deus e seguindo o Seu chamamento que sempre parti. Desde a minha primeira missão, como jovem diácono, nos confins do Alto Douro.
Em todos os lugares permaneci e trabalhei, por pouco ou muito tempo, com alegria. Sempre me senti livre para daí partir no dia seguinte, se necessário fosse. Sempre, de igual modo, me senti disponível para aí permanecer.
De todos os lugares fiz minha terra até ao fim. De todas as pessoas sempre me senti irmão. Em todos os lugares onde vivi e nos diferentes múnus que a Igreja me confiou eram previsíveis as mudanças. Menos aqui!
Aveiro era para mim lugar, desígnio e missão até ao fim. Nunca aqui fui estranho nem me senti estrangeiro. Mas, hoje, compreendo, melhor do que nunca, que também aqui era simplesmente peregrino. Só Deus basta e só Cristo permanece.

D. António Francisco dos Santos - Bispo Eleito do Porto




«D. António Francisco dos Santos, de 65 anos, foi hoje nomeado pelo Papa Francisco como novo bispo do Porto, sucedendo a D. Manuel Clemente, que em julho de 2013 deixou a diocese para assumir o cargo de patriarca de Lisboa.
O novo responsável pela diocese nortenha era até agora bispo de Aveiro e anuncia o desejo, na sua primeira mensagem à Igreja Católica no Porto, de uma particular “presença junto dos doentes, dos pobres e dos que sofrem” para procurar fazer um “caminho de bondade e de esperança na busca comum de um mundo melhor”.
“Quero ser apóstolo das Bem-Aventuranças nestes tempos difíceis que vivemos”, escreve, no texto enviado à Agência ECCLESIA.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Nasceu um novo oráculo

Por Pedro Correia 
no Delito de Opinião




«Os "analistas políticos" portugueses detestam ministros das Finanças e adoram ex-ministros das Finanças.
No dia em que se demite ou é exonerado do Governo, um ministro das Finanças deixa de ser a pessoa mais incompetente deste país para se tornar um oráculo dos tempos que virão e um poço de sapiência não só a nível financeiro mas também político.
Ganha imediato lugar cativo na televisão e todos procuram beber os seus conselhos.

É raro o dia em que não desfilam nas pantalhas ex-ministros das Finanças deste rincão: Silva LopesMedina CarreiraJoão SalgueiroMiguel CadilheMiguel Beleza,Braga de MacedoEduardo CatrogaPina MouraManuela Ferreira LeiteBagão Félix,Campos e Cunha - e agora até o extraordinário Teixeira dos Santos. Um deles,Cavaco Silva, é Presidente da República. Outro, Guilherme d' Oliveira Martins, preside ao Tribunal de Contas. Outro ainda, Vítor Constâncio, é vice-presidente do Banco Central Europeu.
Este país, como nenhum outro, aprecia "magos das finanças". Desde que já não estejam, na ala nascente do Terreiro do Paço, ao serviço da coisa pública.»

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Nota: Foto de Daniel Rocha/Público


Bondade

«A confiança na bondade dos outros 
é um notável testemunho da própria bondade»

Michel de Montaigne 
(1533 – 1592)

Couto de Esteves merece uma visita

O meu filho Fernando foi hoje, em serviço, a Sever do Vouga e veio encantado com a tranquilidade que por aquelas bandas se vive e respira. Ao almoço falou do que viu e sentiu, em contraste com a agitação e confusão que encontrou à medida que se aproximava de Aveiro, sobretudo a caminho das praias. E tanto bastou para que eu corroborasse tudo quanto disse, ouvindo ele de minha parte uma visita de algumas horas que fiz a Couto de Esteves, há cerca de um ano. De facto, Couto de Esteves, vila antiquíssima e com história, que já conhecia há muito, merece uma visita de limpeza de alma, tal é a pureza de ares e a profunda serenidade que por ali é possível experimentar. Até disse ao meu filho que terei de levar à prática uma estada na vila limpa e asseada de Couto de Esteves  para retemperar o espírito e o corpo, que bem preciso.

Santo Estêvão, padroeiro da vila,
em casa particular

Matriz e Cruzeiro em dia de leilão 
Casa particular
Casas de pedra e rua estreita

Pelourinho 
Casas de pedra 



Forte da Barra espera investidores


Há muito se espera o restauro do Forte da Barra, também conhecido por Castelo da Gafanha. O presidente da Câmara de Ílhavo, Fernando Caçoilo, adianta à Rádio Terra Nova que uma solução passará por investidores particulares que dessem vida àquele edifício de interesse público e histórico. Eu congratulo-me com a ideia, porque está provado à saciedade que as entidades oficiais não têm capacidade para isso. Portanto, venham os investidores. Diz o autarca ilhavense:  «O Forte, no âmbito do acordo com a APA, depende de investidores que assumam a recuperação. Todos lutaremos para que isso aconteça. Já esteve próximo mais não foi possível. Será mais fácil haver investidores com um ambiente de recuperação económica. Associando este equipamento acredito que o espaço destinado para equipamento hoteleiro no acesso ao Santo André possa ser importante. Temos a marina que não sendo fácil não está esquecida.»

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Miguel Ângelo morreu há 450 anos



«Miguel Ângelo (Michengelo di Lodovico Buonarroti Simoni) nasceu a 6 de março de 1475 em Caprese, então República de Florença, atual Itália, e morreu há 450 anos, a 18 de fevereiro de 1564, em Roma, integrada então nos Estados Pontifícios.
Escultor, pintor, arquiteto e poeta, Miguel Ângelo exerceu uma influência sem paralelo na arte ocidental. Os frescos no teto da Capela Sistina, cenário que a Santa Sé escolhe quer para a eleição do sucessor de Pedro quer para encontros com artistas e personalidades do mundo da cultura, constituem hoje, possivelmente, a sua obra mais conhecida.
Foi o primeiro artista a ser objeto de biografia - duas, para sermos exatos - enquanto ainda estava vivo.
Tornou-se aprendiz aos 13 anos, talvez depois de ultrapassar as objeções do pai, aprendendo do pintor mais proeminente de Florença, Domenico Ghirlandaio. O ensino ficou acordado por um período de três anos, mas Miguel Ângelo saiu no primeiro ano porque não tinha mais nada a aprender, conta um dos biógrafos.»

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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

São Jacinto celebra aniversário

Freguesia chega aos 59 anos com queixas sobre a “saúde”, mas com promessas de normalização das relações com a “mãe” Câmara Municipal de Aveiro (CMA)

«S. Jacinto assinalou, ontem, o 59.º aniversário da criação daquela freguesia. Entre queixas sobre o abandono a que se sentiu votada “nos últimos oito anos”, escutou Ribau Esteves garantir “tempos de mudança positiva” nas relações entre aquela freguesia e a CMA.
Ao Diário de Aveiro, António Costeira referiu que “a freguesia não está muito saudável, mas está à medida dos dias que vivemos actualmente, com muitas dificuldades, mas com a responsabilidade e o interesse em tentar melhorar”.»


Nota: Ao ler esta notícia, como leio, normalmente, o que a São Jacinto diz respeito, logo me lembrei dos bons momentos que lá passei como professor, durante dois anos. Mas também me lembrei de uma conferência proferida por Mons. João Gonçalves Gaspar, em 2003, nas comemorações do quinquagésimo aniversário da criação da paróquia, primeiro passo ou passo importante para a criação da freguesia, que ocorreu em 16 de fevereiro de 1955, por decreto governamental n.º 40.065.
Aqui ofereço ao povo e amigos de São Jacinto fotocópia do decreto da criação da paróquia, assinado por  D. João Evangelista de Lima Vidal, Bispo de Aveiro, em 3 de Fevereiro de 1953. E ainda uma fotocópia das assinaturas dos membros da Comissão "Pró - São Jacinto".




Nota: Imagens e referências retiradas da conferência proferida por Mons. João Gaspar em São Jacinto, a que tive o prazer de assistir.

QUARESMA DE 2014

Mensagem do Papa 




«À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. A miséria material é a que habitualmente designamos por pobreza e atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. O nosso compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha.»

Francisco, Papa 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Um poema de Ary dos Santos

Por sugestão
do Caderno Economia
do Expresso

Arte Peripoética

Aristóteles, visita
da casa de minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só
esta maneira de ser
contra a maneira do tempo
esta maneira de ver
o que o tempo tem por dentro.
Aristóteles diria
entre dois goles de chá
que o melhor ainda será
deixar o tempo onde está
pô-lo de perto no tema
e de parte na poesia
para manter o poema
dentro da ordem do dia.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só.
Ele sabia que o poeta
depois de tudo inventado
depois de tudo previsto
de tudo vistoriado
teria de fazer isto
para não continuar
com que já estava acabado
teria de ser presente
não futuro antecipado
não profeta não vidente
mas aço bem temperado
cachorro ferrando o dente
na canela do passado
adaga cravando a ponta
no coração do sentido
palavra osso furando
pele de cão perseguido.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só
esta maneira de riso
que é a mais original
forma de se ter juízo
e ser poeta actual.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
também diria antes só
do que mal acompanhado
antes morto emparedado
em muro de pedra e cal
aonde não entre bicho
que não seja essencial
à evasão da palavra
deste silêncio mortal.

Ary dos Santos,
em Adereços, Endereços.
Lisboa, 1965.

Ficção para compreender o mundo

«O ter-me tornado um leitor modificou-me muito, o livro e a leitura são talvez a forma mais reflexiva de olhar para o mundo e de o compreender. Percebe-se o mundo em parte pela televisão mas ela distorce a realidade, enquanto o livro… E não falo apenas do livro rigoroso do historiador mas da ficção. O Eduardo Lourenço dizia que conhecemos ainda mal como se vivia no Estado Novo porque há muito poucos romances e pouca ficção dessa época.»


 Eduardo Marçal Grilo, 
em entrevista a Maria João Avillez
 para o caderno 2 do PÚBLICO de hoje


CÓDIGO GENÉTICO (3)

Crónica de Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO de hoje



1. Os seres humanos só podem viver como humanos acolhendo, criando e recriando, desconstruindo e reconstruindo as narrativas simbólicas da sua condição inacabada. Apesar de todas as máquinas de desumanização, nunca esgotaremos a música, a poesia, a literatura, a pintura, a beleza das civilizações antigas e modernas.

É próprio da linguagem simbólica viver em figurações materiais, finitas, historicamente marcadas, em passagem permanente ao intemporal, ao infinito, superando-se na sua própria configuração concreta, limitada. A religião e as artes vivem do mesmo fundo de intranquilidade. Apesar de todas as tensões, têm, no impulso de transcendência, uma alma comum, que só morre ou se eclipsa quando instrumentalizada.

Como escreveu Fernando Pessoa, a literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta. Mas também não a pode substituir.