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sábado, 5 de dezembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 160

BACALHAU EM DATAS - 50




O RAINHA SANTA

Caríssimo/a:

1955 - ASSISTÊNCIA SANITÁRIA: «A sua [do primitivo Gil Eanes ] última campanha fez-se em 1954 [vd. 1942] , sendo substituído no ano seguinte por um novo e moderno navio construído em Viana do Castelo, herdeiro de toda a riqueza da sua tradição de apoio humanitário e até do seu nome de baptismo – GIL EANNES.» [vd. 1974] [HDGTM, 43]

1958 - «A campanha de 1958 foi aquela que contou com maior número de unidades – 77.» [Oc45, 93]

«A pesca com veleiros puros parara em 1958.» [Oc45, 91]

1960 - «Só nas campanhas de 1960 e de 1967 mais de metade dos navios bacalhoeiros de artes de anzol (veleiros puros, lugres com motor e navios-motor) já eram construídos em ferro.» [Oc45, 99]

1961 - «O último navio a ser armado para a pesca com dóris foi o RAINHA SANTA, navio-motor de madeira concluído em 1961 nos estaleiros de Benjamim Bolais Mónica, na Gafanha da Nazaré, para a empresa Pascoal e Filhos, L.da..» [Oc45, 106 n. 26]

«De 1961 em diante os arrastões jamais deixarão de constituir mais de um terço do total de navios da frota bacalhoeira. Começou nesse ano a execução de um apressado programa de desmobilização e transformação de boa parte dos navios-motor de pesca à linha cujo rendimento se tornara insustentável, em parte porque a abundância de peixe nos bancos da Terra Nova começou a mostrar os seus limites.» [Oc45, 95]

1962 - «Em resultado da desmobilização de alguns navios-motor de pesca à linha, de 1962 em diante o potencial de pesca dos primeiros [arrastões] já ultrapassou o dos segundos [navios de pesca à linha]. O pulsar da produção nacional de bacalhau dependia cada vez mais das capturas do arrasto. [...] Em 1967 os arrastões compõem 50,7% do total de navios da frota, mas garantem 56,4% da capacidade de pesca disponível.» [Oc45, 101]

Manuel

sábado, 28 de novembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 159

BACALHAU EM DATAS - 49


Bissaya Barreto - 1943

88% DAS PROVISÕES ERAM
DE PRODUÇÃO NACIONAL

Caríssimo/a:

1950 - «Na década de 50, a frota continuará a ser renovada, agora suportada pelos Planos de Fomento das Pescas Nacionais.» [Oc45, 114]

«Em França, a congelação a bordo de arrastões bacalhoeiros foi aplicada pela primeira vez em 1950, no arrastão-congelador Jacques Coeur.» [Oc45, 106, n. 29]

«O último navio francês de pesca à linha demandara os bancos em 1950». [Oc45, 95]

24 de Janeiro - O navio BISSAYA BARRETO, construído nos Estaleiros Navais do Mondego, foi devorado por um violento incêndio, quando se encontrava fundeado no Douro.

1951 - Forma-se a empresa João Maria Vilarinho, com quatro barcos (NAVEGANTE I e II, ADÉLIA MARIA e CAPITÃO JOÃO VILARINHO)

«Nas campanhas de 1951 e 1952 a capacidade de pesca dos arrastões já se aproxima da dos navios de linha.» [Oc45, 101]

25 de Abril - A Lusitânia lançou à água um novo navio designado BISSAYA BARRETO.

1952 - 14 de Maio - Bota-abaixo do navio de pesca bacalhoeira CAPITÃO JOÃO VILARINHO.

24 de Setembro - Naufrágio do navio-motor JOÃO COSTA.

1953 - «Em 1953 a frota bacalhoeira portuguesa conta com 21 arrastões, menos um do que a frota espanhola que introduzira o arrasto ainda antes de começar a Guerra Civil.» [Oc45, 95]

1954 - «1954-58 Os 17 navios lançados ao mar neste quinquénio foram todos construídos em estaleiros nacionais e todos eles de pesca à linha, uma vez que os arrastões mobilizavam mais investimentos avultados em importações de aparelhagem e chaparia.» [Oc45, 93]

«...[O] advento dos primeiros arrastões pela popa dotados de instalações frigoríficas ocorre apenas cerca de uma década depois da experiência pioneira da série britânica dos Fairtrys, modernos navios-fábricas cujo modelo depressa se estendeu a outros países da Europa Ocidental e de Leste desde que o primeiro foi lançado ao mar em 1954.» [Oc45, 101]

«De notar que em 1934, ano em que o Estado Novo começou a reorganizar o vector do bacalhau criando um esquema de protecção de pesca nacional capaz de promover a substituição das importações, o grau de auto-aprovisionamento do mercado interno era de 16%. Em 1954 a “Campanha do Bacalhau” atingia o auge: 88% das provisões disponíveis eram de produção nacional. Cálculos nossos obtidos a partir de estatísticas do INE.» [Oc45, 104 n. 7]

Manuel

domingo, 22 de novembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 158

BACALHAU EM DATAS - 48
.

Condestável

64 EMBARCAÇÕES EM 1964

Caríssimo/a:

1948 - «Arménio Mónica, filho de Manuel Maria Bolais Mónica, iniciou-se na construção de lugres no ano de 1948, através da direcção e construção dos lugres-motor de quatro mastros, CONDESTÁVEL e COIMBRA, para as empresas Companhia Transatlântica de Pesca, L.da, do Porto, e Empresa de Pesca São Jacinto, L.da, de Coimbra, num investimento global de 12.400.000$00. Estas embarcações de pesca à linha obedeciam às “características portuguesas” e aperfeiçoamentos modernos das anteriormente ali construídas, com a componente da introdução e utilização dos quatro mastros em ferro concedendo uma maior consistência e elegância aos navios. ... Concomitantemente, nos estaleiros de António Mónica, o irmão João Bolais Mónica, correspondia ainda no decorrer do ano de 1948, à solicitação da empresa José Maria Vilarinho com o lançamento à água do lugre-motor de madeira ADÉLIA MARIA.» [Oc45, 118]

«Em 1948, os arrastões – então todos eles “clássicos” ou “laterais” - significam ainda pouco mais de um décimo do total dos navios da frota: 12,7%. Na campanha seguinte regista-se um salto importante: 27% das unidades jà são arrastões.» [Oc45, 95]

«Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo são fundados em 1946, por iniciativa dos armadores Vasco de Albuquerque d'Orey e João Alves Cerqueira. Em 1948 apresentaram as primeiras embarcações destinadas à pesca do bacalhau, os arrastões SENHORA DAS CANDEIAS, SENHOR DOS MAREANTES e SÃO GONÇALINHO.» [Oc45, 119, n. 11]

1949 - «No mesmo dia do bota-abaixo do arrastão COMANDANTE TENREIRO, a 12 de Maio de 1949, eram cravados os rebites do novo arrastão BISSAYA BARRETO, a construir nos Estaleiros Navais do Mondego, também para a pesca do bacalhau.» [Oc45, 117]

«Um dos saltos mais significativos [no número de navios ] ocorre em 1949, campanha em que foram aos bancos 64 embarcações, mais nove do que no ano anterior. [...] De meados da década de trinta a 1967 o crescimento da frota bacalhoeira é evidente, embora seja inconstante e irregular. As taxas de crescimento médio por quinquénio são quase sempre positivas. As mais altas situam-se em 1934-38 (8,4%) e 1944-48 (4,1%). O número de navios construídos para a frota bacalhoeira num e noutro período é bastante significativo e confirma o interesse do Estado em acelerar o ritmo da “Campanha”: foram construídos 25 navios em 1944-48 e 17 em 1954-58. Nos quinquénios de 1939-43, 1959-63 e no quadriénio de 1964-67 a frota bacalhoeira regista taxas de crescimento médio ligeiramente negativas. Todas presumem períodos em que o condicionamento estatal dos ritmos de renovação da frota se fez sentir por razões diversas.» [Oc45, 93]

Manuel

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Dia Mundial do Mar: Recordar a aventura dos bacalhaus

Foto de Carlos Duarte
Foi hoje celebrado, na Universidade Sénior (US) da Fundação Prior Sardo, na Gafanha da Nazaré, o Dia Mundial do Mar. Nesta terra de marinheiros e de sabor a mar, comemorar esta data é recordar os feitos de quantos, ao longo dos tempos, assumiram a conquista do Atlântico Norte, para oferecer prosperidade ao país e às famílias que nasceram e se criaram à sombra das ondas marinhas.
O Capitão Manuel Correia, que carrega no sangue e na alma agruras, trabalhos e alegrias vividas no mar, ofereceu aos alunos da US uma resenha histórica da pesca do bacalhau, desde o século XV, evocando alguns portugueses que deram corpo à epopeia que tanto nos distinguiu, nomeadamente João Vaz Corte-Real e seus filhos (Gaspar Corte-Real, Miguel Corte-Real e Vasco Anes Corte-Real), João Álvares Fagundes e João Fernandes Lavrador, os quais, entre outros, assinalaram a presença dos portugueses nos mares da Terra Nova e da Costa do Lavrador.
Um filme feito pelo Capitão Correia – Mar e Pesca – foi momento de oportuna recordação de bravos oficiais e pescadores que enfrentaram, com tenacidade, a pesca do fiel amigo, quer nos dóris, quer nos arrastões. Homens que trabalhavam no espírito de entreajuda, com escaladores a competirem com sofisticadas máquinas de escalar, no número de peixes por minuto.
Esses tempos que já lá vão mostram à saciedade a coragem indesmentível dos marítimos da nossa região. Nem sempre, porém, nos lembramos deles, o que é uma grande injustiça.
Pretendeu-se, com esta iniciativa, evocar a epopeia que permanece viva na memória colectiva do povo do concelho de Ílhavo, partilhando histórias e factos, num ambiente de convívio, entre alunos, professores, dirigentes e funcionários da Fundação Prior Sardo. 
Paralelamente, uma exposição de fotografias, de Carlos Duarte, "Mar e Ria", ficará patente ao público, na sede da Fundação, até 30 de Novembro, de 2.ª a 6.ª feira, das 10 às 12 horas e das 14 às 17.30 horas.

F. M. 

domingo, 15 de novembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 157

BACALHAU EM DATAS - 47




ACTIVIDADE PLENA NOS ESTALEIROS

Caríssimo/a:

1946 - «Em 1946, estava reunida a maior frota portuguesa para a pesca do bacalhau. Era composta por 55 navios, incluindo seis arrastões, onde a maior parte estava equipada com TSF, motor e frigorífico. As carreiras da CUF, Mondego e Gafanha da Nazaré “encontravam-se em actividade plena”.» [Oc45, 113/114]

«Adquirida a especialidade de trabalhos com navios-motor, em 1946-1947, os Estaleiros Navais do Mondego, L.da fizeram trabalhos no casco do lugre-motor LUSITÂNIA, adaptando-o a navio-motor através da aplicação de castelos e superestruturas de ferro.» [Oc45, 116]

«Entre 1946 e 1948, os Estaleiros Navais do Mondego modernizam-se e ampliam as suas instalações, possuindo três carreiras com capacidade de construir barcos até 3000 t e 500 operários em laboração.» [Oc45, 116]

1948 - «Neste ano iniciou-se a construção, nos Estaleiros Navais do Mondego, em ferro, do novo COMANDANTE TENREIRO, para a “Lusitânia Companhia de Pesca”, em substituição do navio-motor do mesmo nome, que havia naufragado na sequência de uma colisão com um iceberg, investimento que rondou os 17.000.000$00. Os primeiros rebites desta nova unidade foram cravados em cerimónia festiva pelos Ministros da Marinha e da Economia, pelo patrono da nova unidade, Comandante Henrique Tenreiro e pelo Prof. Doutor Bissaya Barreto, em representação do Conselho de Administração dos estaleiros...» [Oc45, 116]

«...[T]erminava assim a construção de navios em madeira para a pesca do bacalhau na Murraceira. Agora as construções eram em aço Siemens Martin, como o COMANDANTE TENREIRO, com 71 m de comprimento, 2.200 t de deslocação e capacidade para 1.080 t de bacalhau. Era um navio moderno, equipado com radar, radiotelegrafia, telegrafia, sondas ultra-sonoras, guinchos americanos, aquecimento, frigoríficos e um motor B&W de 1.200 CV. Este arrastão foi a primeira grande construção em ferro dos Estaleiros Navais do Mondego e ao mesmo tempo a “última palavra” em termos de progresso nas construções navais do género. O bota-abaixo deste navio foi a 12 de Maio de 1949.» [Oc45,. 117]

São da Figueira 9 dos 54 navios da frota bacalhoeira.

Manuel

sábado, 7 de novembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 156

BACALHAU EM DATAS - 46
.

Primeiro Navegante

O NAUFRÁGIO
DO PRIMEIRO NAVEGANTE

Caríssimo/a:

Já vimos algumas imagens trágicas deste naufrágio.
Contudo, Deus louvado, há sempre outra imagem da mesma realidade – agora até no futebol nos dão sempre o ângulo oposto. Ora, nem mais: vamos mudar a máquina de filmar e captemos outros cenários.
A Dra. Ana Maria Lopes, no seu blogue, mas a 2 de Agosto de 2008, sobre este mesmo tema, escrevia:

«Contava-me o meu Pai que, nesse ano, bacalhaus escalados, espalmados e salgados tal como são acamados no porão do navio, após a salga, deram à costa, a boiar, chegando a aparecer na própria ria.
Nesse ano, é que houve, pelos vistos, festival do bacalhau, a sério, sem encenações.»

Pois bem, continuemos com a mesma perspectiva e divaguemos:
Num «Postal do Porto», publicado no Timoneiro de Novembro de 1983, escrevia (há um preâmbulo que não suprimi porque está ligado ao contexto...):

1. Vamos hoje partilhar este bocadinho de prosa que vinha no Gaiato, assinada pelo Padre Moura:
«Naquele mesmo dia demos um saltinho à Gafanha da Nazaré, a uma empresa de pesca ligada ao bacalhau. Fomos lá buscar dois fardos, oferecidos.
Um dia, nos fins de Setembro, em Paço de Sousa, recebemos a visita da família que administra a empresa. Até nos foram oferecidos, para além de outros valores, dois fardos de bacalhau bem cada mês do ano!
Deus seja louvado pelo Homem que dá o que é seu! Pelos pescadores de rosto queimado, habituados a subir e a descer as ondas do mar, tão longe da sua terra! Pelo mar, sinal de vida, um movimento para o Infinito!... E pelos peixes, escondidos na profundeza das águas, que são uma maravilha para os olhos e alimento para nós. Por tudo, a nossa gratidão!»


2. Esta oferta de BACALHAU recordou-me uma outra que o mar fez aos «pobres» da zona onde vivia, deve haver para aí uns trinta e tantos anos.
Foi o caso... Afundou-se, ali à boca da Barra, um navio – O PRIMEIRO NAVEGANTE, salvo erro.
O bacalhau libertou-se dos porões e, levado pela corrente e «atraído» pelas pedras, foi refugiar-se nas rochas da Meia Laranja, nas tocas. Era meter-se lá, fugir às ondas, e vir a pingar bacalhau e a escorrer água e areia.
Aquilo foi uma fartura! Trazia-se para casa às carradas.
Chegado aí – cada casa era uma seca e cada família, uma empresa -, era lavado e limpo da areia e posto a secar. Nenhum se estragou, que, enquanto havia bacalhau fresco a secar, não mais se provou outro conduto. E afinal nenhum peixe chegou a secar nem se guardou de reserva... a não ser na «barriga».

Felizmente neste naufrágio não houve vítimas a lamentar e talvez por isso o bacalhau era tão saboroso com o pequeno (!) senão de um ou outro grão de areia fazer música nos dentes.

Manuel

sábado, 31 de outubro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 155

BACALHAU EM DATAS - 45




NO BICO (MURTOSA) CONSTRÓI-SE
O “MARIA DAS FLORES”

Caríssimo/a:

1946 - «Os arrastões que compunham a frota de 1946 eram os seguintes: SANTA JOANA e SANTA PRINCESA, da praça de Aveiro, e JOÃO CORTE REAL, ÁLVARO MARTINS HOMEM, JOÃO ÁLVARES FAGUNDES e PEDRO BARCELOS, pertencentes à praça de Lisboa. Os arrastões que compunham a frota do final da década de quarenta, possuíam todos TSF, radar, radiogoniómetro e instalações consideradas como boas e confortáveis para a tripulação.» [Oc45, 119, n. 9]

«No período pós-guerra verificou-se uma abertura às construções em estaleiros estrangeiros. [p. 119, n. 10] Nos últimos anos da década de quarenta, chegaram a Portugal navios destinados à pesca do bacalhau provenientes de estaleiros de Inglaterra, Holanda e Itália. Entre as muitas unidades provenientes desses estaleiros, destacam-se os navios de pesca à linha CONCEIÇÃO VILARINHO, SERNACHE, VAZ, e os arrastões PÁDUA, CONCEIÇÃO VILARINHO, SANTO ANDRÉ, SANTA MAFALDA, ANTÓNIO PASCOAL e SOTO-MAIOR.» [Oc45, 114]

«Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo são fundados em 1946, por iniciativa dos armadores Vasco de Albuquerque d'Orey e João Alves Cerqueira. Em 1948 apresentaram as primeiras embarcações destinadas à pesca do bacalhau.» [Oc45, 119, n. 11]

«Referindo-se ao processo de renovação da frota bacalhoeira, o Jornal do Pescador constatava: “renasceu a construção naval” na Murtosa. O mestre José Maria Lopes de Almeida, por encomenda do industrial e proprietário dos estaleiros do Bico da Murtosa, João Carlos Tavares, concluía em 1946 a construção do lugre de madeira de três mastros, o MARIA DAS FLORES, que viria a participar na campanha desse mesmo ano, ao serviço da Empresa Comercial e Industrial de Pesca, Pescal. A esta construção juntou-se, no mesmo ano, a do lugre MARIA ONDINA, trazendo ambos a alegria aos habitantes da região, pois estes estaleiros davam trabalho a muitos operários da zona. Apesar de o estaleiro ocupar um espaço exíguo no Cais do Bico, o mestre construtor José Maria Lopes de Almeida conseguiu obrar um navio como o MARIA DAS FLORES, de 50 m de comprimento e 10,30 m de largura, num total de 800 t. Esta embarcação, desenhada pelo arqueador oficial António Maria Rodrigues, possuía alojamentos para 50 pescadores, um motor propulsor de 340 CV e dois motores auxiliares com a missão de fornecer energia ao frigorífico e iluminação.» [Oc45, 115]

24 OUTUBRO - «PRIMEIRO NAVEGANTE» Lugre motor Naufragou ao Sul, próximo do Farol.[História da Pilotagem Prática em Portugal, António Joaquim Martins, p. 94]

«[...] No dia 24 do referido mês, perante um cais apinhado de gente para assistir ao sempre emocionante espectáculo da entrada, pairavam também, lá fora, o Lousado, o Navegante II, o Ilhavense II, o Santa Mafalda, o Maria das Flores, o António Ribau e o Viriato. Vinha o Maria das Flores, a entrar, rebocado pelo “Marialva”, quando o “Vouga” lançou o cabo ao Primeiro Navegante, iniciando o caminho já percorrido com os outros navios. Em frente à Meia Laranja, alterosas e repetidas vagas conjugadas com violentas rajadas de vento, encheram todo o poço do navio, que desgovernou e tomou proa ao sul, sendo impelido para cima da coroa ali existente, apesar de todos os esforços do rebocador “Vouga”. Também o “Marialva” veio em auxílio do lugre, perante o perigo iminente que ele corria, mas os seus esforços também foram em vão.[...]» [Vd. Mais no blogue Marintimidades, de Ana Maria Lopes, no dia 26/02/2009]

Manuel

domingo, 25 de outubro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 154

BACALHAU EM DATAS - 44



D. João Evangelista


A BÊNÇÃO DO INÁCIO CUNHA

Caríssimo/a:

Vem daí comigo ao Estaleiro que o ambiente é de festa... Já lá vão tantos anos, mas vale a pena observar tudo através dos olhos privilegiados de alguém que participa e vive intensamente o momento:

«A BÊNÇÃO DO LUGRE

O cenário é o mesmo do da nau Portugal. Um sopro discreto e fagueiro do vento encrespa e orla de espuma a maré-cheia. Sabem-nos os beiços e a língua a salgado. E dentro da alma, à sua maneira, na sua esfera, sente-se como que a repercussão da frescura que, por fora, nos toca e consola a pele.
Estava tentado a repetir o que ouvi uma vez ao Cónego Pontes, num êxtase, diante de um espectáculo soberbo do Atlântico:
- Há coisas que nos reconciliam com a Natureza!
Eu não ando zangado com a Natureza; ao contrário, eu e ela sempre nos temos entendido perfeitamente. Mas, com efeito, no caso de alguma hora de amuo que nem todas as horas são as mesmas na vida, aquela Gafanha que só tem de esquisito o nome, com a cintura azulada das suas águas, com o murmúrio terno das suas ondas, com aquele ar fino que nos limpa a fronte, se o suor corre penosamente por ela, com aquela agitação das gaivotas, das narcejas e dos maçaricos que parecem doidos de alegria e de fome, só ela bastaria para fazer as tais pazes de que falava, à beira do Oceano, o filósofo Pontes. Não era preciso mais nada.
Os estaleiros eram nessa tarde campo apertado para uma tal multidão de gente. Valia, para os descongestionar um pouco, a linha longa da estrada e da praia e, melhor ainda, o convés dos navios vizinhos, as amuradas, e até as vergas dos mastros, improvisadas para o efeito em camarotes e galerias. Não haveria teatro que se lhes pudesse parecer.
E no meio lá estava ele, o «lnácio da Cunha», ainda preso à terra pelas amarras, ainda seguro por cabos, mas parece que com dois olhos enormes na quilha a cobiçar já as águas e a lamentar a demora do seu bota-abaixo. Lembrava a águia que se quer lançar aos espaços e fitar de frente nas alturas o sol, mas que se sente atada por um laço no pé ao chão.
A Igreja, nestas bênçãos dos barcos de pesca, foi buscar ao Evangelho o que mais próprio poderia parecer para animar e dar confiança e alegria aos homens na sua faina: a tempestade de Tiberíades, quando os apóstolos, cansados de lutar com as ondas, ao fim vencidos, foram acordar o Mestre que dormia tranquilo, como um menino no regaço da sua mãe, à proa da bateirinha; e o Mestre, erguendo-se, esfregando os olhos do sono, disse-lhes com dolente sorriso, que era uma benção:
- Não estava eu aqui? Que medo é esse?
Ou então quando os apóstolos, ainda pescadores, depois de uma noite inteira de labuta infrutífera, tendo-lhes pergunntado o Mestre, ao romper da manhã, vaga silhueta na praia, em pé na areia:
- Moços, foi boa a pesca?
E eles reponderam, abanando os ombros de fadiga e desânimo:
- Nem sequer um!
- Deitai as redes daquele outro lado - apontou o Senhor.
E daí a pouco, ao recolherem o saco, era peixe de estoirar as malhas!
Coisa maravilhosa! - já dizia no seu tempo Montesquieu - A Igreja Católica, que parece não ter outra ocupação senão os destinos eternos do homem, também se interessa, mesmo até estas minúcias de ventos prósperos e pescarias, mesmo até pequenos detalhes de enxalavares e de remos, pelo aconchego material dos seus filhos. E, sem que nenhum mestre de cerimónias indicasse ao povo a liturgia do acto, ele por si mesmo, com uma espécie de instintivo respeito, ministros, soldados, marinheiros, magistrados, arrais, pescadores, operários, crianças, todos se descobriram e perfilaram quando o Pontífice, com o seu raminho de paz, de água benta, aspergiu o costado e o coração da nau e assim a fortaleceu para os dramas e para as conquistas do mar.
- Aquelas duas escoras acompanham o navio até à água - explicava assim ao meu lado uma mulher com a cara tão torrada do sol da Gafanha que já parecia da cor do seu lenço preto.
Não se poderia exprimir por uma forma tão graciosa, tão poética, tão literária, eu ia a dizer tão rítmica, tão musical, um pensamento de pura técnica. O que se aprende a escutar o povo!
O mundo então por um momento parou.
- Em nome de Deus e da Pátria, vai lá!
Ouviu-se a voz do machado que partia as cordas no seu cruzamento e logo a mole, até aí parada, tomou fôlego, deu um arranco e docemente mergulhou na ria, dando em seguida, com uma elegância estranha, meia volta para se mostrar a todos.
O cenário era o mesmo mas desta vez, graças a Deus, a nau não tombou para o lado, com a melancólica resignação da outra, com os mastros estendidos na água como em esquife.
Deus vá e volte contigo, com os seus anjos e arcanjos ao leme, com a Estrela do Mar a guiar-te, adormecida nas ondas, ó nau da Pátria!»
(CV, n.º 731, de 5-5-1945, pg. 1)

in Aveiro-suas gentes, terras e costumes, D. João Evangelista de Lima Vidal, pp. 131-133

Manuel



domingo, 18 de outubro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 153

BACALHAU EM DATAS - 43


Inácio Cunha


VAI EM NOME DE DEUS... E DO ESTADO NOVO!

Caríssimo/a:

1945 - «Fruto do plano de construção de navios-motor de madeira, foram lançados à água, no ano de 1945, ao navios do “tipo CRCB”: CAPITÃO FERREIRA, JOÃO COSTA, INÁCIO CUNHA, LUTADOR, ELIZABETH e ANTÓNIO COUTINHO, construídos pelos irmãos Mónica , na Figueira da Foz e na Gafanha da Nazaré, aos quais se juntariam unidades de características diferentes – o lugre-motor VIRIATO, e os arrastões em ferro e a motor JOÃO ÁLVARES FAGUNDES e PEDRO DE BARCELOS, saídos das carreiras dos estaleiros da CUF.» [Oc45, 113]

«Depois de um interregno em que os dois estaleiros de Manuel e António Mónica se dedicaram a outro tipo de construções em madeira e aço, em 1945 voltam a inserir-se no plano de renovação da frota, mais concretamente na construção de navios-motor do “tipo CRCB”. Em Abril desse ano, desceu as carreiras do estaleiro de Manuel Maria Mónica, o INÁCIO CUNHA, encomendado pela empresa Testa & Cunhas. Foi considerado pelo Diário de Lisboa como um navio “de linhas elegantes, a mais sóbria unidade construída nos estaleiros Mónica”. O INÁCIO CUNHA foi o primeiro navio do “tipo CRCB”, na linha do COMANDANTE TENREIRO e BISSAYA BARRETO (construídos em 1943, por Benjamim Mónica nos estaleiros da Murraceira), dentro do plano concebido pelo Ministério da Economia, a possuir dois castelos (elevações sobre o convés) e mastros de aço, o mais completo até então construído em madeira. Possuindo os aperfeiçoamentos mais modernos, incluindo telegrafia e telefonia, todas as comodidades e sistemas de segurança foram contemplados para os 63 marinheiros. Dispondo de 53 m de comprimento e de um motor de 535 CV, deslocava 950 t, a capacidade de carga atingia as 720 t de bacalhau, o convés era duplo e estava provido de um castelo para arrumação dos dóris.» [Oc45, 117 e 118]

«Decorria ainda o ano de 1945 e um outro elemento da família Mónica, Alberto de Matos Mónica, lançava à água, nos seus próprios estaleiros, o VIRIATO, sob encomenda dos Armazéns Luís da Costa & C.ª L.da, de Lisboa. Deslocava 900 t, tinha 52 m de comprimento, estava dotado de um motor de 480 CV e de todos os requisitos modernos.» [Oc45, 118]

«A 20 de Dezembro de 1945, efectuou-se o bota-abaixo destes dois navios onde o mestre construtor naval Benjamim Mónica foi auxiliado, devido às más condições climatéricas, pelo seu irmão Manuel Maria Bolais Mónica. Ao cortar o cabo do JOÃO COSTA, o Comandante Henrique Tenreiro não hesitou em bem-fadar o navio: - “Vai em nome de Deus e do Estado Novo”. As novas unidades chamar-se-iam CAPITÃO FERREIRA e JOÃO COSTA, a primeira para a Atlântico Companhia Portuguesa de Pesca, L.da e a segunda para a Sociedade de Pesca Luso-Brasileira, L.da. A sua construção foi iniciada após o bota-abaixo dos barcos BISSAYA BARRETO e COMANDANTE TENREIRO. Estas duas novas unidades tinham cerca de 53 m de comprimento, deslocavam 1500 t brutas cada e possuíam motores ingleses de 660 CV. Perante os resultados auspiciosos obtidos com estas quatro unidades, os agora Estaleiros Navais do Mondego, L.da, cujo accionista principal era a Lusitâinia Portuguesa de Pesca, e como gerente técnico Benjamim Mónica, podiam alargar a sua esfera de acção, tanto mais que possuíam licença para construções em ferro desde 1943.» [Oc45, 116]

Manuel

sábado, 10 de outubro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 152

BACALHAU EM DATAS - 42


Maria Frederico



A FROTA DO ESTADO NOVO

Caríssimo/a:

1943 - «De acordo com o discurso oficial, nasceria a “Frota do Estado Novo”, de barcos fabricados de madeira nos estaleiros nacionais e por operários portugueses, do “tipo CRCB” um modelo caracterizadamente português. Caracterizavam-se as novas unidades da seguinte forma: comprimento total aproximado dos 54 m, deslocação de 1500 t, motor principal de 500 a 650 CV e motores auxiliares de 20 CV movidos a óleos pesados. Capacidade de carga de 720 a 780 t de bacalhau e uma tripulação de 60 pescadores e marinheiros. [...] Dos mais de 15.000 pinheiros calculados para o efeito em Abril de 1943 já tinham sido abatidos 7.000 árvores nos pinhais de Leiria. Apenas os motores viriam a ser adquiridos no estrangeiro, o que , em plena Guerra Mundial, foi visto à luz do discurso oficial como um triunfo dos negociadores portugueses.» [Oc45, 112]

«Em 1943 seriam lançados à água outros navios de referência desse tipo: o BISSAYA BARRETO e o COMANDANTE TENREIRO, ambos de madeira e ambos armados pela Lusitânia, da Figueira da Foz.[3.º momento ainda da renovação da frota bacalhoeira nacional]» [Oc45, 100] (Vd. 1939 e 1941)

É fundada a Sociedade Gafanhense de Pesca, com dois barcos de pesca à linha e um arrastão, empregando à volta de 240 homens.

1944 - «Servindo-se dos seus estaleiros privativos, localizados na Gafanha da Nazaré, a Empresa de Pesca de Portugal, L.da, lançou à água, em 1944, um lugre-motor em madeira, delineado para a pesca do bacalhau, o MARIA FREDERICO. Era um lugre de três mastros, com “linhas airosas”, dois castelos e proa americana, possuidor de 48 m de comprimento, 800 t de deslocação e capacidade para carregar perto de 1000 t de bacalhau. Este navio traçado pelo engenheiro construtor naval Valente de Almeida, ocupou na sua construção 100 operários, orientados por António Pereira da Silva, sócio da empresa armadora.» [Oc45, 114/115]

Neste ano de 1944, 11 dos 41 barcos da frota bacalhoeira eram provenientes da Figueira da Foz.

Entre 1939 e 1944 dos 1639766 quintais de bacalhau, 222806 foram pescados pela frota figueirense.



Manuel

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A Hora da Saudade no Rádios Antigos no Ar


Pesca do Bacalhau


A Hora da Saudade, de que há meses falei no meu Pela Positiva, foi agora recordado pelo coleccionador António Rodrigues, no seu site Rádios Antigos no Ar. Tema para eu, como outros, reviver, porque o assunto, na época em que aconteceu, suscitava grande interesse. Hoje, praticamente, ninguém evoca a Hora da Saudade, que levava pelos ares a nossa voz emocionada e feliz, até junto de familiares que labutavam no alto mar por uma vida melhor para os seus. Leia mais aqui.

domingo, 4 de outubro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 151

BACALHAU EM DATAS - 41



Maria da Glória


O NAUFRÁGIO DO “MARIA DA GLÓRIA”


Caríssimo/a:

O relato que aí vos deixo é o resumo do muito que encontrei, em livros e na internete, sobre este acontecimento que marcou profundamente a nossa infância.

O MARIA DA GLÓRIA era um lugre de três mastros, 45m/320tb, construído em 1919 na Gafanha da Nazaré, ria de Aveiro, com o nome de PORTUGÁLIA, por Alfredo Mónica. Em 1927 foi adquirido pela Empresa União d’Aveiro, Lda, que lhe alterou o nome e em 1937 instalou-lhe um motor auxiliar.


O jornal “Ilhavense”, na sua edição de 1 de Agosto de 1942, noticiava que segundo um telegrama recebido no Ministério da Marinha e assinado pelo capitão da marinha mercante Sílvio Ramalheira, comandante do lugre-motor “MARIA DA GLÓRIA” na altura, “este barco foi afundado no dia 5 de Julho pelas 15:30, por um submarino que não ostentava bandeira nem qualquer outro sinal indicador da sua nacionalidade” [Submarino alemão U-94, do comando do Oberleutnant Otto Ites.]A notícia do “Ilhavense” prossegue afirmando que “o lugre levava a bandeira portuguesa pintada no costado. [...] Como o capitão Ramalheira nada podia fazer, resolveu dar ordem de abandono do lugre. A tripulação e pescadores – 44 homens – passaram apressadamente para os dóris, as minúsculas embarcações da faina bacalhoeira e que em breves instantes o “MARIA DA GLÓRIA”, sucessivamente atingido, afundou-se”.

“A partir do momento em que o navio afundou, começou então a negra e angustiosa tragédia dos pescadores e tripulantes. Os dias passavam entre as brumas densas, apertadas, que guardavam no meio do mar o mistério sombrio, dramático dos acontecimentos. Os dóris, primeiro em grupos, juntos durante cinco dias, foram-se dispersando pouco a pouco. A névoa isolá-los-ia por fim. Nas longas noites agitadas e tristes as ondas levavam cada barquinho para seu lado. [...]”.

Escrevia “O Primeiro de Janeiro”, a 3 de Setembro de 1942, após a chegada dos quatro primeiros sobreviventes a Portugal: “No dia do afundamento do lugre português havia bom tempo, mas a primeira noite passaram-na sob medonho temporal, com chuvas torrenciais. A bordo dos dóris não havia mantimentos. Foram queimados trapos, em miragem de socorro e no terceiro dia, dos nove dóris lançados à água os sobreviventes só conseguiam avistar quatro. Passaram muita sede e muita fome. O capitão do “MARIA DA GLÓRIA” distribuíra pelos dóris, para melhor orientação, o “estado maior” do lugre. Ao sexto dia da terrível odisseia, o capitão Ramalheira, por estar extenuado, abandonou o seu frágil bote com outro tripulante, que estava também muito mal e passaram para outro dóri, o que seria recolhido ao 11º dia [a 15 de Julho]. Na pequena embarcação abandonada ficava o cadáver de um terceiro marítimo, morto pelo cansaço e pela fome.”

Os sobreviventes foram recolhidos por uma corveta da marinha de guerra norte-americana.

Entre os 36 mortos e desaparecidos do afundamento do “Maria da Glória” estavam várias parelhas de irmãos, entre elas por exemplo dois jovens da Gafanha da Encarnação, os irmãos José Augusto Cardoso Roque com 22 anos de idade e Manuel Cardoso Roque, de 18 anos de idade, ambos solteiros. Eram os mais velhos dos 12 irmãos. Mais tarde, um dos sobreviventes da tragédia contou à família que José Augusto Cardoso Roque seguia a bordo do dóri onde iam os oito sobreviventes. No entanto, o amor fraternal e os gritos de desespero do irmão mais novo, que seguia num outro barco, levou-o a pedir para mudar para o outro bote, de modo a poder acompanhar e confortar o irmão Manuel. E assim, ambos desapareceram para sempre nas águas do Atlântico. A tragédia ocorrida em 1942 aconteceu 25 anos após o regresso de Augusto Roque, o pai dos dois infelizes tripulantes, de França, onde combateu contra as tropas alemãs durante a I Guerra Mundial.


Em 1942 naufragaram o "DELÃES" e o "MARIA DA GLÓRIA", afundados por submarinos alemães. Do "DELÃES" todos se salvaram, mas do "MARIA da GLÓRIA" apenas sobreviveram oito tripulantes que com fome e em desespero comeram o cão do navio. A água era a que recolhiam das velas dos sete dóris que ainda estavam a flutuar. O comandante do navio capitão Sílvio Ramalheira foi um dos sobreviventes e demorou muitos meses a recompor-se.

Curvemo-nos perante a memória dos tripulantes e pescadores do MARIA DA GLÓRIA, muitos deles nossos parentes e vizinhos:



Sílvio Ramalheira-39 anos- Ílhavo-Capitão-Sobrevivente
António dos Santos-49 anos-Ílhavo-Piloto- Sobrevivente
Domingos Sarabando-28 anos-Gafanha-motorista-Desaparecido
Jacinto Alcides T. Pinto- 27 anos-Ílhavo-Aj. Motorista-Desaparecido
Carlos Gafanhão-32 anos-Gafanha-Cozinheiro-Desaparecido
José Martins Júnior-22 anos-Gafanha- Aj. Cozinheiro- Sobrevivente
José Menício Tróia-38 anos-Aveiro- Contra-mestre-Sobrevivente
António Carlos Afonso-17 anos- Gafanha- Moço-Desaparecido
João Rosa Pereira-19 anos- Gafanha- Moço-Desaparecido
Miguel dos Santos P. Novo-20 anos- Gafanha-Moço-Desaparecido
João Manuel P. Redondo-16 anos-Ílhavo-Moço-Desaparecido
António Maria dos Santos-27 anos- Murtosa-Pescador-Desaparecido
António Luís Brázida-24 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
José Francisco da Graça-40 anos- Fuzeta- Pescador-Desaparecido
Américo Pereira Patusco-38 anos- Murtosa-Pescador-Desaparecido
António Ramos Paló- 35 anos-Fuzeta-Pescador_Desaparecido
Júlio da C. Simões Júnior-36 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
Isidro da Fonseca-34 anos-Murtosa-Pescador-Sobrevivente
António Santos Cego-26 anos-Figueira da Foz-Pescador-Desaparecido
Manoel dos Ramos Baló-32 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
João Maria Costeira-37 anos- Murtosa-Pescador-Sobrevivente
Felisberto Pires Flora-54 anos- Fuzeta-Pescador-Desaparecido
António André Simões-?-Fuzeta- Pescador-Desaparecido
Manuel dos Santos Neves-?-São Jacinto-Pescador-Desaparecido
Joaquim Lino C. Simões-27 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
João Luís Brázida- 29 anos-Fuzeta- Pescador-Desaparecido
Manuel Gualberto Martins-21 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
Lázaro das Neves- 25 anos-Gafanha-Pescador- Sobrevivente
José dos Santos Matias-32 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
José Maduro Viegas-34 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido
António Maria Gandarinho-?-Gafanha-Pescador-morto
João Valente Caspão-23 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
Eustáquio Caria Matracão-24 anos-Nazaré-Pescador-Desaparecido
José A. Cardoso Roque-22 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
Manuel Cardoso Roque- 18 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
Manoel dos S. Parrolheiro-28 anos-Matosinhos-Pescador-Desaparecido
Júlio de Abreu Guerra-33 anos-Buarcos-Pescador-morto
José Ramos-?-Setúbal- Pescador-Desaparecido
Laurélio das Neves-33 anos-Gafanha-Pescador-Sobrevivente
José da Rocha Rito-25 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
Ramiro Nunes Ramizote-42 anos-Ílhavo-Pescador-Desaparecido
Artur Pereira Ramalheira-?-Ílhavo-Pescador-Desaparecido
Armando das Neves-20 anos-Gafanha-Pescador-Desaparecido
José Martins Freirinha-49 anos-Fuzeta-Pescador-Desaparecido

E terminemos com este desabafo do ti Zé Caçoilo, ouvido por Bernardo Santareno [Nos Mares do fim do mundo, pp 219 a 222] :


«Ah gentes amigas, s'aqui, nestes bancos do bacalhau,. cada home dos nossos qu'as ondas comeram, ficasse assinalado por uma alminha acesa, como é d'uso lá nas nossas terras, podem crer, amigos, qu'atão este mar saria todo ele um luzeiro, maior qu'aquele qu'enche a Cova d'Iria, no treze de Maio!»


Manuel


sábado, 26 de setembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 150

BACALHAU EM DATAS - 40
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Gil Eanes
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FINALMENTE NAVIO-HOSPITAL...

Caríssimo/a:

1941 - «A primeira bênção [dos navios bacalhoeiros] foi protagonizada pelo Padre Cruz, passando depois a ser presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa e posteriormente – de 1941 em diante – pelo arcebispo D. Manuel Trindade Salgueiro, conhecido por “bispo do mar”, natural de Ìlhavo, cujas origens se ligavam estreitamente ao mar e à pesca, pois era filho de pescador morto em naufrágio.» [Creoula, 16]

«O mestre Benjamim Mónica reatou a construção naval em madeira na Figueira da Foz [Murraceira], iniciando a construção de dois lugres, em madeira, em finais de 1941. estes deram trabalho a 250 homens, num “verdadeiro formigueiro humano”, inserindo os estaleiros da Murraceira na renovação da frota bacalhoeira preconizada pelo Estado Novo. Em 1943, os estaleiros da Murraceira entregaram as duas unidades. Tratava-se dos dois primeiros navios-motor em madeira da frota nacional e os futuros modelos “tipo CRCB”. A sua traça esteve a cargo do Engenheiro Naval Capitão-tenente J. Valente de Almeida e foram baptizados com os nomes BISSAYA BARRETO e COMANDANTE TENREIRO. Tinham capacidade para 660 t de carga de bacalhau cada e foram equipados com motor diesel de 500 CV, frigoríficos, TSF, luz eléctrica e aquecimento.» [Oc45, 116]

1942 - «Os estaleiros de Alcochete participaram na reestruturação da frota da pesca do bacalhau, em 1942, com a reconstrução do lugre-motor em madeira FLORENTINA, de 700 t e capacidade de albergar 420 t de bacalhau. Este lugre foi alvo de melhoramentos a nível das instalações dos tripulantes e dotado de aparelhagem moderna. Esta reconstrução decorreu sob as ordens do mestre José Maria e do Capitão Manuel Lourenço. O casco do antigo lugre-escuna TERRA NOVA dava lugar ao FLORENTINA, com capacidade para albergar 60 pescadores.» [Oc45, 114]

ASSISTÊNCIA SANITÁRIA «[D]epois o GIL EANES, navio comercial alemão, refugiado em águas portuguesas e arrestado pelas nossas autoridades aquando do início da I Guerra Mundial. Mas este navio que ao serviço da Armada Portuguesa os mais variados serviços alternados – cruzador, transporte de tropas e matérias primas, apoio à nossa gente nos Grandes Bancos, cabotagem entre as ilhas açoreanas, viagem ao Oriente, etc. - só em 1942 viria estabilizada a sua condição de navio-hospital, de apoio exclusivo à frota portuguesa, data em que por decreto ministerial foi abatido aos serviços da Armada e transferido definitivamente para a SNAB – Sociedade Nacional dos Armadores de Bacalhau. Sob a bandeira da nova companhia faria mais vinte e sete viagens aos bancos da Terra Nova e Gronelândia, como navio-hospital e de apoio logístico à frota portuguesa. A sua última campanha fez-se em 1954... » [Vd.1923 e 1955] [HDGTM, 43]

5 de Junho – O lugre-motor MARIA DA GLÓRIA é bombardeado por um submarino alemão e afunda-se.

Manuel

sábado, 19 de setembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 149


Santa Princesa

BACALHAU EM DATAS - 39

Caríssimo/a:

1939 - «A autonomia de decisão dos armadores em matéria de renovação das frotas sem interferência do estado no planeamento prévio do tipo e da capacidade dos navios a construir apenas se nota até 1939.» [Oc45, 93]

«Garantindo o emprego a aproximadamente 250 operários dos estaleiros de Manuel Mónica, em 1939, era construída uma unidade de linhas airosas, de “tipo americano”, considerada como modelar pela sociedade inglesa classificadora de navios Lloyds Register of Shiping. Tratava-se do lugre AVIZ, uma encomenda da Companhia de Pesca Transatlântica, L.da, do Porto, com 50 m de comprimento, 700 t de arqueação, onde o maior conforto, inovação e eficiência constituíram apanágio. Dispunha de acomodações para 60 homens de tripulação, sala de oficiais, casas de banho, caldeiras para aquecimento central, frigoríficos e TSF. O seu motor debitava 400 CV e tinha 540 t de capacidade de carga. As madeiras utilizadas foram, mais uma vez, o carvalho, pinho manso e pinho bravo nacionais e madeiras brasileiras.» [Oc45, 117]

«Embora no final da década de 30 do século XX, perto de metade dos navios da pesca do bacalhau portugueses tivessem entre 10 e 20 anos de idade, dentre os 49 navios que compunham a frota em 1939, registaram-se 41 embarcações equipadas com motor, 16 com frigorífico e 36 com receptor TSF. A safra desse ano envolveria 2038 tripulantes e seria produtiva, atingindo a cifra recorde de 17.635 t de pescado.»[Oc45, 110]

«O avanço foi considerável, uma vez que antes da intervenção corporativa nas pescas, a frota bacalhoeira tinha somente 14 navios equipados com motor e nenhum possuía TSF ou frigorífico.» [Oc45, 119, n. 4]

1940 - «2.º arrastão para a EPA: SANTA PRINCESA Se a viagem inaugural [do SANTA JOANA] foi coroada de êxito, as viagens seguintes já sob comando de capitães portugueses, foram de tal forma bem sucedidas que logo a empresa armadora pensou em adquirir mais uma unidade. Foi assim que em 1940, um navio em segunda mão, comprado aos franceses veio juntar-se ao SANTA JOANA. Tratava-se de um navio novo que após ter sofrido um violento incêndio em pleno mar, incêndio que acabou por ser dominado, foi levado para o Havre a reboque de um arrastão da mesma companhia. Chamava-se este navio SPITZBERG, elemento de uma série de quatro navios todos iguais, sendo os restantes o PRESIDENT HONDUCE, o ANGELUS e o LE DUGNAY TROUIN. Uma vez chegado a Aveiro a reboque de um navio fretado para o efeito, foi totalmente recuperado com nova maquinaria e rebaptizado com o nome SANTA PRINCESA. Corria o ano de 1940, ano que marca o início de grande desenvolvimento da nossa frota pesqueira, com uma série de construções de ambas as modalidades – arrasto e pesca à linha. p. 44 de 1936 a 1950: 48 navios=> 20 arrastões (aço e motor diesel) e 28 navios para a “White Fleet” (madeira com motor e vela; ou de aço só motor).» [HDGTM, 43 ]

«Apesar da entrada na década de quarenta com uma encomenda em mãos, a NAU PORTUGAL, um empreendimento de 1200 t que viria a figurar na Exposição do Mundo Português, os Estaleiros Mónica mantiveram-se na senda das construções para a pesca do bacalhau, não esquecendo que a madeira como matéria prima era agora tida como prioritária no contexto da Guerra. No ano de 1940, os dois irmãos António e Manuel Maria Mónica, possuidores de estaleiros “paredes meias”, lançaram à água os lugres-motor D. DENIS e PRIMEIRO NAVEGANTE, dotados dos habituais pormenores a nível de conforto e equipamento, destinados respectivamente às empresas Pascoal e Filhos, L.da e Ribaus & Vilharinhos, L.da.» [Oc45, 117]

Fundação dos Estaleiros Navais do Mondego.

(10 de Março) - O navio VIRIATO, da frota da Figueira, foi aprisionado na Holanda, pelo exército alemão.

«Carlos Roeder resolve, com um grupo de amigos e colaboradores, iniciar, no ano de 1940, na povoação de S. Jacinto, a construção de um estaleiro.» [in Os Estaleiros de S. Jacinto – 50 anos de história, por Henrique Moutela]

Manuel

domingo, 13 de setembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 148

BACALHAU EM DATAS - 38

Novos Mares
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NOVOS NAVIOS DE PESCA À LINHA
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Caríssimo/a:
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1938 - «Na campanha de 1938, a maior parte dos navios da frota bacalhoeira portuguesa já estava provida com aparelhos de telegrafia sem fios que era considerada como a providência da navegação, valendo, “por si, meia campanha”, pois permitia a comunicação entre navios e aumentava as condições de segurança das embarcações.» [Oc45, 110]

«[...] Seguiram-se, em 1938, [nos Estaleiros da Gafanha da Nazaré] o lugre de quatro mastros NOVOS MARES, a cargo de Manuel Mónica, para a empresa Testa e Cunha, L.da, de Aveiro, e os lugres-motores OLIVEIRENSE e DELÃES, saídos dos estaleiros de António Mónica.» [Oc45, 117]

«[O CREOULA] sofreu um acidente de consequências muito graves que fez desaparecer, numa onda que varreu o convés, 5 membros da tripulação, o imediato e quatro pescadores.»[C., 42]

«... o imediato de nome Calais e natural de Lisboa, o Joaquim Bolhões, da Nazaré, o Zé Damásio, da Ilha de S. Miguel, o Joaquim Caneco, da Fuzeta, e um outro de Setúbal, que tenho pena de não poder lembrar o seu nome... [José da Silva Cruz, Memórias 1972-1983]» [C., 43]

10 de Maio - «O lugre TROMBETAS, da Lusitânia, Companhia Portuguesa de Pesca, da Figueira, sofreu um acidente que arrastou para o mar - e vitimou - 7 dos seus tripulantes.»


1939 - «O terceiro momento da inovação [da frota bacalhoeira portuguesa] respeita ao advento dos grandes navios-motor de pesca à linha – uma novidade absoluta à escala internacional – e ao abandono da navegação à vela em parte da frota de “navios de linha”. Em Abril de 1939 saíram dos Estaleiros da CUF, na Rocha do Conde de Óbidos, de Lisboa, os primeiros navios-motor em ferro, o SÃO RUY e o SANTA MARIA MADALENA. Foram ambos armados pela Empresa de Pesca de Viana e já fizeram a campanha desse ano.» [Oc45, 100 ] Vd.1936

«Orçados num valor aproximado de 5.000.000$00. Obedecendo ao modelo de proa direita com ligeira inclinação para vante e popa redonda, apresentavam um comprimento de 66 m, um deslocamento de 1692 t e motores diesel suíços, fornecidos pela Sulzer, de 550 CV. Os seus meios de pesca e de habitabilidade eram dos mais sofisticados. Contavam com o seguinte equipamento: frigorífico para transporte de isco congelado, um duplo fundo para albergar água doce, habitabilidade estudada segundo os requisitos mais exigentes, fornos de isolamento, ventilação, sonda eléctrica, posto de telefonia, potência eléctrica suficiente para o trabalho de guincho das amarras, bombas de esgoto e incêndio e aparelhagem electromecânica para o serviço dos dóris.» [Oc45, p. 111]
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Manuel

sábado, 5 de setembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 147

BACALHAU EM DATAS - 37


Creoula - 1937
Caríssimo/a:
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1937 - «A Companhia União Fabril, concessionária dos estaleiros da Rocha do Conde de Óbidos, no porto de Lisboa, iniciou em 1937, os trabalhos da construção dos dois primeiros navios de pesca em ferro, fabricados em Portugal. Tendo sido efectuado o lançamento das quilhas no dia 3 de Fevereiro de 1937, foram construídos, lado a lado, dois navios gémeos – CREOULA e SANTA MARIA MANUELA – uma nova classe de navios bacalhoeiros inspirados nas antigas escunas da Nova Escócia. Os trabalhos de construção decorreram em 62 dias úteis e a cerimónia de lançamento à água ocorreu a 10 de Maio de 1937. Após o lançamento, os navios foram mastreados e acabados de aparelhar, tendo o CREOULA sido entregue ao armador em Junho, efectuando a sua primeira campanha de pesca nesse ano.» Creoula, 33-38
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«[...] [O CREOULA e o SANTA MARIA MANUELA] eram navios “gémeos” com 62 metros de comprimento numa deslocação de 1247 t, com uma estrutura reforçada de aço à proa, que permitia a navegação em segurança em mares de gelo, acomodações para 52 homens e todo o equipamento moderno. O CREOULA reunia sadias condições, era uma boa construção e um óptimo veleiro.» Oc45, 111
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«De acordo com a Revista da Marinha, de 19.11.1941, os alojamentos dos lugres CREOULA e SANTA MARIA MANUELA estavam forrados a madeira nas amuradas e anteparas, permitindo um aquecimento a água quente num circuito de tubos de ferro. Os alojamentos dos capitães, oficiais e motoristas situavam-se à ré e possuíam aquecimento central com irradiadores. Estavam ainda munidos de electricidade, TSF, projectores, instalação frigorífica e sonda eléctrica.» Oc45, 119, n. 6
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«...[V]erificando-se que os franceses usavam o sistema de trole desde o início do século XX, com dois pescadores em cada dóri, decidiu-se que também na frota portuguesa deveria ser introduzido tal método, tendo desempenhado o CREOULA o papel de navio pioneiro na concretização desta experiência. Assim, no decurso da sua primeira viagem, em 1937, o CREOULA partiu para a Terra Nova equipado com dóris adaptados a dois homens. Confrontados com a novidade, registou-se por parte dos pescadores uma firme atitude de recusa relativamente à experimentação deste método que, inúteis os dóris empilhados a bordo, tornou-se necessário que o capitão recorresse aos restantes navios da frota bacalhoeira portuguesa na Terra Nova, solicitando o empréstimo de dóris de um só homem, tradicionalmente utilizados pelos nossos pescadores.» Creoula, 19
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«Em 1937, o Ministro da Marinha autorizou a compra de navios de comércio com mais de 10 anos, contados a partir da data do lançamento à água, sob prévio parecer do Conselho Superior da Marinha, enquanto durasse a “situação anormal do mercado de navios e de custo das construções navais”. [in “O Ilhavense”, n.º 1178, 07.11.1937, p. 1]» Oc45, 119 n. 2
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Neste ano de 1937, é constituída a Sociedade Pascoal e Filhos com dois barcos de pesca à linha: RAINHA SANTA e D. DINIS.
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Manuel

sábado, 22 de agosto de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 146

BACALHAU EM DATAS - 35

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A BÊNÇÃO DOS BACALHOEIROS
Caríssimo/a:

1936 - «A primeira bênção [dos navios bacalhoeiros] foi protagonizada pelo Padre Cruz, passando depois a ser presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa e posteriormente – de 1941 em diante – pelo arcebispo D. Manuel Trindade Salgueiro.» Creoula, 16
«A bênção dos navios e tripulações da frota bacalhoeira, em Lisboa, é instituída pelo Estado Novo.» Oc45, 91

«No ano de 1936, a firma Brites e Vaz recebeu uma das “melhores construções portuguesas”, de então, saída das mãos de Manuel Maria Bolais Mónica, o lugre-motor, em madeira, de quatro mastros, BRITES. Este navio moderno, com 50 m de comprimento, deslocando 422 t, equipado com motor Deustcher de 300 CV, TSF, luz eléctrica, custou 600.000$00. Nele foram utilizadas as melhores madeiras brasileiras, riga, carvalho e pinho manso. O BRITES deslizou para a água acompanhado pelo hino nacional e sob as tradicionais palavras do Ministro da Marinha, comandante Ortins Bettencourt: “Em nome de Deus, da Pátria e do Estado Novo”. Por esta ocasião mestre Manuel Mónica viu reconhecido o seu trabalho na construção de muitos lugres para a frota mercante portuguesa, pois foi agraciado pelo Ministro do Comércio com a medalha de Mérito Industrial.» Oc45, 117

Abr19 - Manuel Maria Bolais Mónica recebeu a condecoração da medalha de Mérito Industrial e Agrícola.

«Entre 1936 e 1964, os navios velhos foram substituídos e construídos 83 navios novos. Destes, 67 foram construídos em estaleiros nacionais, entre os quais o CREOULA e o seu gêmeo SANTA MARIA MANUELA.» Creoula, 11

«Em 50 navios da pesca do bacalhau à linha no ano de 1936; lugres de madeira – só 1 de construção em aço-, 42 capitães de Ílhavo, 419 tripulantes (moços, cozinheiros e ajudantes), 1709 pescadores.» HDGTM,

FAROL – iluminação eléctrica (até esta data, a petróleo).

Manuel

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Arrastão "Maria Teixeira Vilarinho"

Ontem, no Navio-Museu Santo André, onde decorreu a abertura do Festival do Bacalhau, alertaram-me para uma pequena (ou grande) incorrecção, no referente ao arrastão "Maria Teixeira Vilarinho". O Ângelo Ribau esclarece que o "Maria Teixeira Vilarinho" foi mandado construir em Viana do Castelo, pela firma José Maria Vilarinho Ldª. Era a construção n.º 69 daqueles Estaleiros e teve o n.º de registo V-4-N. Isto é, a firma indicada na exposição só nasceu depois do falecimento do C.tão José Maria Vilarinho, que ocorreu em 20 de Maio de 1985. Ainda me prestou outros esclarecimentos, que ficarão de reserva.

domingo, 16 de agosto de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 144

BACALHAU EM DATAS - 34
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Mulheres das secas

MULHERES ... SECAS
Caríssimo/a:
A propósito do “Festival do bacalhau”, onde 150 mil visitantes provaram, o ano passado, todas as iguarias à base de bacalhau”, lembrei-me de vos segredar que há dias recebi uma “caldeirada de espinhas de bacalhau”; foi uma prima que se lembrou de mim e mas enviou. “Que queres, a gente tem de ajudar; a vida não está fácil, eu ando na seca e sempre trago algum!” Já ninguém se lembra de que a Gafanha é terra de bacalhau e da sua preparação! E é bem verdade que, além desta prima, uma sobrinha também se dedica a essa faina!.. Bem vindas as espinhas mas logo uma diferença: foram aparadas à máquina. Lascas de bacalhau, viste-las!, só uns fiapitos que a lâmina deixou passar. E então a imagem de marca: secas a atulhar de bacalhau e de raparigas, montes de raparigas, na labuta, por entre galhofas, ditos e cantares. No final do dia, estradas e caminhos fervilhavam de juventude, em correrias ou andar romanceado, que era hora da procura, dos encontros e das conclusões. De duas irmãs que conheço, percorreram estes caminhos e ambas casaram “fora”: muitos rapazes imigravam à cata de trabalho, aqui criaram raízes e já não regressaram às suas terras de origem! Casadas e cansadas, chegam a casa onde as espera o filho faminto e carente: seu primeiro cuidado é dar leite à criança que se aperta ao colo da mãe. Nos tempos que correm seria suposto uma qualquer ASAE fazer análises ao leite desta Mãe e não me surpreenderia que os químicos espreitassem bem para o fundo dos tubos de ensaio não acreditando nos valores que o computador ia revelando: suor, gotícolas de sal, uma ou outra farripa de bacalhau, vestígios de escamas e leite de muito boa qualidade! Mas, espanto geral, ao surgir um novo elemento, o mais inesperado e nunca visto: a análise acusava de forma bem clara a presença intensa de cheiro de bacalhau! Quem diria?! E foi assim, amigas/os, que destas Mulheres nasceu a nossa geração. De onde, pois, a admiração de que ainda hoje a nossa preferência vá para “todas as iguarias à base de bacalhau”!... Do muito que (esta geração) viveu, trabalhou, pescou e até mordeu o bacalhau não vos massarei eu já que, ontem como hoje, só o conheço no prato! Mas fica aí o desafio para que se abram espaços (blogues... ou quejandos) onde se aprofundem estes temas; e um dos que valeria a pena seria, sem dúvida, “a mulher da Gafanha e as secas de bacalhau”. Manuel

sábado, 8 de agosto de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 143

BACALHAU EM DATAS - 33
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Santa Joana

O SANTA JOANA

Caríssimo/a:
1935 - «...[P]erante a incapacidade dos estaleiros navais portugueses em satisfazer as necessidades da frota, apesar da necessária autorização prévia do Ministro da Marinha, os armadores portugueses recorreram à aquisição de unidades usadas no estrangeiro, onde os preços de navios usados oscilavam entre os 150.000$00 e os 200.000$00. Aquisição do lugre em ferro JOSÉ ALBERTO, para a praça da Figueira da Foz e dos lugres em madeira SANTA QUITÉRIA, para a praça do Porto, e LABRADOR, para a praça de Lisboa. Ainda no mesmo ano e para a praça de Aveiro, foi comprado em França o lugre NORMANDIE e na Irlanda o lugre SENHORA DA SAÚDE.» Oc45,109
«O JOSÉ ALBERTO, adquirido na Dinamarca pela Sociedade de Pesca Oceano, L.da, em 1935, se[rá] o primeiro lugre-motor de pesca à linha, totalmente feito em ferro, a ser integrado na frota de pesca do bacalhau.» Oc45, 111
«17 de Fevereiro - Entrou na barra da Figueira o lugre com motor de 4 mastros JOSÉ ALBERTO, construído em chapa de aço em 1923, na Dinamarca. Propriedade da Sociedade de Pesca Oceano, o lugre foi considerado "o maior e mais elegante navio da frota bacalhoeira portuguesa". A maioria das casas comerciais da zona ribeirinha fecharam, para que o seu pessoal pudesse observar este momento histórico.»
«Neste ano a frota bacalhoeira portuguesa era composta por 46 navios, sendo 11 da Figueira da Foz.»
1936 - «O segundo marco de inovação [das características técnicas introduzidas nos navios bacalhoeiros da frota portuguesa do bacalhau] foi o começo da pesca com arrastões clássicos ou laterais, em 1936, com o célebre SANTA JOANA.» [v. 1932 ] Oc45, 100
«Por encomenda da Empresa de Pesca de Aveiro, foi construído nos estaleiros de Nakskow, na Dinamarca, um arrastão em aço, o SANTA JOANA, que viria a ser o primeiro barco em Portugal a utilizar o sistema de pesca do bacalhau por arrasto. Era de aço, com 66 metros de comprimento e 17 pés de calado. A sua tonelagem bruta atingia as 1198 t e a sua capacidade de pesca ia até às 1080 t. Com uma tripulação de 58 homens, possuía frigorífico, TSF e um motor Guldner que debitava 900 CV. Este motor permitia-lhe fazer duas safras por ano, a primeira entre Março e Junho, a segunda de Setembro a Dezembro. O SANTA JOANA era um navio sofisticado e bem equipado, numa época em que o preço de um arrastão com estas características rondava os 8.500 contos.» Oc45,111
«O SANTA JOANA foi o primeiro arrastão português da pesca do bacalhau. Pertencia à Empresa de Pesca de Aveiro e era considerado, na sua época, uma das maiores unidades do arrasto na pesca do bacalhau.» Oc45,119 n. 5
«Esta modalidade [o arrasto] firma-se entre nós nesse ano de 1936, com a construção dinamarquesa do SANTA JOANA para a Empresa de Pesca de Aveiro, na gerência de Egas Salgueiro. Assume o comando do navio o Capitão João Ventura da Cruz, veterano dos lugres bacalhoeiros, um dos que, em 1931, demandaram pela primeira vez os bancos da Gronelândia.» HDGTM, 7
«Em 1936, foi adquirido o lugre MILENA, em Génova, também para engrossar a flotilha aveirense [para a Indústria Aveirense de Pesca].» Oc45, 109
Manuel