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sexta-feira, 22 de abril de 2016

Sobre a anedota dos caranguejos

Uma reflexão de Pedro José Lopes Correia



1.“Um pescador andava há horas na orla do mar a recolher caranguejos para um balde. Ao chegar a um café de praia, um homem que ali estava pousou o jornal e perguntou-lhe: – Desculpe, como é possível não lhe fugir nenhum caranguejo, se o senhor vira costas para ir apanhar mais e nunca deixa o balde tapado? – Ora, amigo, não vê que são caranguejos portugueses? Se algum deles tentar subir, os outros juntam-se logo para o deitar abaixo”.

Ler toda a reflexão aqui


Nota: Pedro José Lopes Correia é pároco das Gafanhas da Encarnação e Carmo e vigário paroquial da Gafanha da Nazaré. Escreve num estilo muito pessoal e as suas reflexões, assentes no quotidiano das pessoas e comunidades em que vive e trabalha, têm substância e arte, ou não fosse ele um homem de leituras abrangentes, contudo muito direcionadas para testemunhar a vivência da fé em Jesus Cristo que o anima. É por essas razões que aprecio muito o que escreve e como escreve. 

sábado, 5 de março de 2016

Os dois pais, a liberdade, Spotlight

Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias


«A Igreja Católica tem muitos e graves problemas 
para resolver, mas a questão da reconciliação sã 
com a sexualidade é fundamental»

A. Foi uma chuva de críticas contra o disparate do BE com o cartaz "Jesus também tinha dois pais", que pretendia celebrar uma causa justa: a não discriminação na adopção. Cito: "campanha infeliz", "ofensivo", "desrespeitoso", com "teor sexista", "de mau gosto", "estúpido", "imbecil", "provocação bacoca", no meio da bebedeira do poder... Alguém sugeriu que, se se quer mostrar força, faça--se algo parecido com imagens do islão. Por mim, disse e repito: A frase, "mais do que infeliz, é ridícula. Onde está a graça? A mim não me ofende e a Deus também não, porque o ridículo só atinge quem o produz". De facto, Jesus teve dois pais, como qualquer um ou uma de nós: um pai e uma mãe. O cartaz é um tiro no pé.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Faleceu o Manuel Albino Sarabando

Funeral amanhã, 17,
15 horas,
na Matriz da Gafanha da Nazaré

Manuel Albino

Com o passar dos anos, cada vez mais deparamos com a partida deste mundo de amigos com quem partilhámos cumplicidades em prol da comunidade. Desta feita, registamos o falecimento do Manuel Albino Sarabando de Jesus da Marinha Velha. Filho de Albino de Jesus e de Maria dos Anjos Sarabando era casado com Isalinda Vidreiro e pai de Daniel Filipe. 
O Manuel Albino fez parte de uma família numerosa que vivia mesmo ao lado da escola da Marinha Velha. Seguiu o ofício de eletricista, tendo emigrado para o Canadá, onde trabalhou alguns anos. No regresso, retomou a sua atividade até se reformar. Homem bom por índole, nunca o vi zangado com quem quer que fosse nem com a vida. Mesmo depois de doente, quando me cruzava com ele, mantinha a serenidade e nunca se mostrou agastado quando respondia a pergunta que lhe punha, no sentido de ser esclarecido sobre os tratamentos que estava a seguir. O problema era muito complicado, mas o Manuel Albino não falava disso. 
Conheci-o mais de perto na comunidade católica em que estava integrado, com responsabilidade no Conselho Económico e Pastoral. Antes, exerceu a missão de educador da fé, na Catequese Paroquial. Em tudo o que fazia punha o melhor da sua disponibilidade e competência, com toda a naturalidade. 
Que Deus o acolha no seu regaço maternal. Os meus pêsames à esposa e filho, bem como aos demais familiares.

Fernando Martins

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Tirar o Evangelho da cadeia

Crónica de Frei Bento Domingues 

«Os Evangelhos não podem ser 
o arquivo morto das Igrejas

1. Com intenções diversas, dizem-se que já é tempo de me convencer de que faço parte de uma minoria religiosa em extinção. Alguns afirmam-no como um lamento: depois do desprezo laicista pelas raízes cristãs da cultura europeia, passando pelo esquecimento ecuménico do Vaticano II, podemos estar a caminhar, a passos largos, para uma Europa muçulmana de cariz revanchista. Portugal, depois de um longo interregno, estaria incluído numa explícita vingança.
Não sou nada bom em sociologia religiosa e já não tenho idade para chegar a ver o que será esse futuro. Espero que as novas gerações católicas consigam libertar a Igreja de certas formas religiosas e movimentos que a asfixiam, mas não para os trocar por algo que se pareça com a vida da maioria dos países dominados pela lei islâmica.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Os antibióticos do Papa

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO

«Para certas gripes 
não bastam aspirinas e chá de tília»

1. Dizem-me que a Igreja Católica, em Portugal, está a cair de sono. Alguns acrescentam: pode dormir à vontade porque só quando Fátima entrar em crise é que será preciso algum cuidado. Ainda não chegamos aí.
Bocas são bocas e má-língua é má-língua. Para o confronto com a realidade, talvez fosse preferível promover algumas sondagens e iniciativas de jornalismo de investigação para responder às seguintes questões:
Como reagem, que dizem e fazem os católicos portugueses – sejam eles leigos, religiosos, padres e/ou bispos – perante as atitudes, as intervenções, os gestos e as declarações do Papa Francisco?
Qual a influência das suas orientações no modo de viver a fé cristã nas paróquias, nas dioceses, nos movimentos, nas congregações religiosas, nos colégios e na universidade católica?
Como é recebida na vida pessoal, familiar, profissional, na intervenção social e política o seu exemplo e as suas propostas?

sábado, 16 de janeiro de 2016

O futuro da Igreja (2)

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Jean Delumeau

Na obra que acaba de publicar, L'avenir de Dieu, que é o seu "testamento" intelectual, espiritual e religioso, Jean Delumeau, 92 anos, depois de mostrar que a grande falha da Igreja foi ter-se convertido em poder, como vimos no sábado passado, apresenta "pistas e proposições" para o futuro.

1. O governo da Igreja. Não tem o governo da Igreja Católica de "ser profundamente repensado e reconstruído", devendo estar "mais atento do que no passado aos desejos e aspirações dos fiéis"? Não deveriam estes "poder escolher os seus representantes que constituiriam uma espécie de parlamento da catolicidade?"
Antes, isso era irrealizável. Mas actualmente o mundo tornou-se uma pequena aldeia na qual todos podem comunicar instantaneamente entre si no planeta. Então, porque é que não poderei "manifestar o desejo de que os futuros responsáveis da Igreja Católica ao mais alto nível sejam um dia eleitos por um parlamento mundial dos fiéis para um mandato por tempo determinado? Em que é que esta prática atraiçoaria a mensagem de Cristo?"

sábado, 5 de dezembro de 2015

O SENHOR VEM. PREPAREMOS A SUA VINDA

Reflexão de Georgino Rocha

 “Toda a criatura 
verá a salvação de Deus”



João Baptista é o arauto que anuncia e exorta. Ele, o maior dos profetas, apresenta-se como voz que brada no deserto. Percorre a zona do rio Jordão. Convoca o povo com palavras persuasivas. Recomenda vivamente: “ Preparai os caminhos do Senhor”. Ele vem, está a chegar, vive já no meio de vós. Não o reconheceis?! 
A pregação de João é situada historicamente por Lucas, o autor da narração. Nada de fantasias nem de factos inventados. Ocorre no décimo quinto ano do reinado de Tibério, imperador romano, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia. São igualmente mencionados o nomes dos responsáveis, políticos e religiosos, nas regiões abrangidas. E também o de Zacarias, pai de João. Com estas credenciais, a mensagem pode ser mais impactante, despertar a atenção dos distraídos, convocar os desviados, chamar ao arrependimento os faltosos, anunciar, com êxito, a salvação dos perdidos que desejam acolher a salvação que Deus lhes oferece. Pregação que acontece no descampado, não no Templo, e é feita por um profeta, não por um sacerdote como Zacarias. Contrastes a denotar a novidade que se avizinha.

sábado, 28 de novembro de 2015

Vigiai e orai. Está próxima a vossa libertação

Reflexão de Georgino Rocha

«O Senhor Jesus já veio 
na humildade da natureza humana; 
está a vir nos gestos 
de solidariedade e tolerância»

Esta exortação é feita por Jesus aos seus discípulos, pouco antes de iniciar o processo da paixão. Tinha falado de perseguições a pessoas, de destruições de casas e do Templo. Agora alarga os horizontes e menciona o cosmos inteiro: o céu, a terra, o sol, a lua, as estrelas. E garante “ as forças celestes serão abaladas”. Não admira que, perante o caos anunciado, haja ansiedade e medo, angústia e dor.
As forças celestes são frequentemente entendidas como o rosto dos deuses que presidiam à constelação religiosa de muitos povos. Era-lhes tributado culto com grande e convicta devoção. Pessoas, coisas, ritos e festas “giravam” à sua volta e dos santuários a eles dedicados. Em linguagem típica apocalíptica, Marcos, Mateus e Lucas, narram a transformação final do mundo, da história, e o início da “nova era” com a chegada de Jesus ressuscitado, vencedor da morte e vivo para sempre.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Servir com alegria

Reflexão de Georgino Rocha

«Seguir Jesus é ser o primeiro 
na disponibilidade para servir»


Jesus aproveita um episódio familiar para fazer o seu ensinamento sobre o exercício do poder. Fá-lo em dois momentos, profundamente relacionados. “Nada disso entre vós” – diz aos discípulos ciumentos por verem a pretensão de Tiago e de João. Jesus referia-se ao modo como os reis da terra, os homens do poder dominam os súbditos, escravizam os concidadãos, dispõem dos sem protecção nem recurso. É uma lição da história que mantém toda a actualidade. Mesmo nas ditas democracias em que a manipulação da vontade popular se torna patente ou anula. Quanto mais nas ditaduras de todo o tipo.
Os irmãos Tiago e João têm pretensões ousadas. O seu sonho é ocupar um lugar no trono de Jesus, imaginando-o à maneira do messianismo judaico, temporal, libertador da opressão dos romanos e, consequentemente, sem entraves para o exercício do poder. Sonho arrojado que desperta a inveja dos companheiros e origina uma situação em que o Mestre vai manifestar o próximo futuro que vislumbra. Recorre a duas metáforas conhecidas: beber o cálice e receber o baptismo que ele próprio assumiria. Abre a ponta do véu da amargura da paixão, do sangue da crucifixão, da experiência da solidão na agonia e morte. “Podemos” – respondem cheios de coragem e determinação. E de facto, assim acontece. Passados poucos anos, Tiago é mandado matar por Herodes e João sofre o exílio e tudo o que o acompanha.

domingo, 18 de outubro de 2015

Sínodo das Famílias ou dos Bispos? (1)

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO

 «... mas não serão as famílias 
que vivem experiências de êxitos 
e fracassos matrimoniais 
a poderem apontar caminhos possíveis 
para a felicidade familiar?»

1. Há dias, um amigo dizia-me, com ar sentencioso: a vida de uma pessoa, comparada com a duração do mundo, não é apenas breve, é insignificante. Vós, os católicos, tendes a mania de negar a evidência, inventando a ideia de vida eterna quando, de facto, não passa de um fruto enganador da megalomania do desejo. Para não entrar numa discussão estéril, citei-lhe uma frase de Manuel da Fonseca, mais radical e evidente: isto de estar vivo, ainda vai acabar mal!
A conversa tinha começado pelos rumores em torno do Sínodo dos Bispos. Segundo este amigo, está a preparar-se a primeira grande derrota do Papa Francisco. O seu raciocínio era simples: os bispos de todo o mundo dispõem de um passado e do Direito Canónico que lhes oferece a ilusão - assim como à Cúria vaticana - de mandar no imaginário de uma realidade universal, com uma longa história de muitas configurações culturais e religiosas: a Família. Para eles, as normas contam mais do que a felicidade ou infelicidade das pessoas e dos casais. O Papa Francisco, pelo contrário, acordou para as exigências do humanismo cristão, mas não conseguiu acordar os outros bispos do sono dogmático.

domingo, 4 de outubro de 2015

Papa Francisco, incarnação do novo humanismo

Crónica de Frei Bento Domingues 


«O Papa Francisco incarna, 
no mundo de hoje,
o humanismo libertador
 de Jesus Cristo»

1. Julia Kristeva, de pais cristãos, nasceu na Bulgária, em 1941, onde frequentou a escola dominicana francesa. Depois de uma pós-graduação na Universidade de Sofia, aos 24 anos, foi para Paris.
Uma carreira brilhante fez dela uma professora de várias universidades e uma figura cultural multifacetada: filósofa, semióloga, psicanalista, romancista. Doutora honoris causa de Harvard e prémio internacional Holberg, equivalente ao Nobel para as ciências humanas apaixonou-se por uma espanhola do século XVI, Santa Teresa de Avila.
Que poderiam ter a dizer-se uma psicanalista e uma santa católica? A resposta surgiu num romance de 750 páginas [1]. Mais ainda do que um romance, dizem os críticos, é “um tratado de vulcanologia sobre a alma de fogo da santa espanhola”.
Casada há 48 anos com Philippe Sollers, nesta época de mexericos sobre divórcios, ousou escrever uma narrativa autobiográfica: “Do casamento como uma das belas-artes” [2].

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

“Pelos Canais — Vou ao encontro, vivo a alegria”

Um livro de Manuel Joaquim Estêvão da Rocha



“Pelos Canais  — Vou ao encontro, vivo a alegria” é o 2.º volume do livro com o mesmo título e subtítulo “palavras e gestos que edificam”,  da autoria do Padre Manuel Joaquim Estêvão da Rocha, pároco da Vera Cruz desde setembro de 2001. O Padre Rocha, como é mais conhecido, ocupa também o cargo de Vigário Judicial da Diocese de Aveiro.
Este seu trabalho reflete fielmente o que semana a semana publica em “O Canal”, boletim paroquial que é distribuído nas missas dominicais. São reflexões curtas, interpelativas e acessíveis a todas as camadas sociais, assentes nas realidades objetivas da paróquia da Vera Cruz. Leem-se com gosto e são alertas e desafios para todos os dias da semana.
Maria da Graça Matias Gadelho, que prefaciou o livro, afirma que o autor tem «um estupendo conhecimento das fontes e uma lógica convincente» que o ajudam a analisar «a essência da sua paróquia e dos seus “filhos”, demonstrando que «a essência da sua própria vida está enraizada na imagem cristã que tem de Deus, justificando que a sua relação com Ele é deveras vivenciada e profundamente sentida nas mensagens que pretende transmitir».

sábado, 26 de setembro de 2015

Comunidade aberta e tolerante

Reflexão de Georgino Rocha

«Há quem faça o bem 
e não pertença 
à comunidade eclesial»


A formação dos discípulos é, nesta fase da missão de Jesus, a sua grande preocupação. Acompanha sempre o ensinamento que lhes faz com as acções que pratica: assumir a cruz da vida e segui-lo sem condições – diz a Pedro, acolher a sua proposta de serviço humilde e confiante – responde aos aspirantes ao primeiro lugar, destacando a criança como figura exemplar, adoptar atitudes de compreensão e grandeza de ânimo face ao inesperado e diferente – declara a João ciumento e indignado com o que estava a observar. Pois, conclui, “quem não é contra nós é a nosso favor”. Mc 9, 38-43.

Esta afirmação de Jesus faz parte da resposta dada àquele discípulo, porta-voz do grupo apostólico – que se havia queixado de alguém andar a expulsar os demónios sem licença nem qualquer vínculo de pertença; queixa amargada pelo falhanço de uma tentativa levada a efeito por eles. O Mestre, bom pedagogo e profundo conhecedor do coração humano aproveita a oportunidade e pronuncia uma série de sentenças que Marcos – o autor do relato – compendia e a Igreja nos apresenta.

sábado, 29 de agosto de 2015

A Palavra que iIumina o Coração

Reflexão de Georgino Rocha

«É de dentro do coração da pessoa 
que sai o que degrada ou enobrece
 a dignidade humana»



Jesus continua a dar-nos boas notícias nos seus ensinamentos. Aproveita oportunidades que as situações da vida lhe proporcionam ou cria factos que realizam o que, depois, anuncia em narrativas estimulantes. Mc 7, 1-8. 14-15. 21-23. Hoje surge no seu caminho um grupo de fariseus e de doutores da Lei. Os primeiros, muito zelosos em manter as tradições e em as observar escrupulosamente. Os segundos, conhecedores da Lei e das suas centenas de normas que examinam até ao pormenor. Reúnem-se à volta de Jesus, num espaço fora da sinagoga. Ao verem a atitude dos discípulos – comer sem lavar as mãos, atitude que contagia os alimentos, tornando-os impuros e, por isso, contrariando a tradição -, pedem-lhe explicações com a pergunta inquisitorial: Porque procedem assim, não respeitando os antigos nem as suas tradições sagradas?

sábado, 22 de agosto de 2015

Acreditamos que Tu és o Santo de Deus


Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha


O discurso do pão da vida atinge o auge, no desabafo de Jesus, que João formula na pergunta dirigida aos Apóstolos: “E vós também quereis ir-vos embora?” A sinceridade denota um sabor de amargura. A preocupação manifesta um receio fundado. O risco é evidente e virá a ser concretizado na paixão. A circunstância, aliada ao tom da voz e ao brilho do olhar, provoca a resposta eloquente de Pedro: “A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. Jo 6, 60-69. 

A crise atinge o auge: as multidões deixam de andar na sua companhia e perdem o gosto de o ouvir; os nobres judeus, após discussões intensas, “viram-lhe as costas”, deixando palavras mordazes; os discípulos, “escandalizados” pela vivacidade crescente e realista da mensagem anunciada, cansam-se e desanimam, dispersando-se. Resta o grupo dos Doze. Jesus sente o abandono, mas não cede em nada, não suaviza o alcance do discurso, não faz uma religião à medida do gosto de cada um nem das tradições legalistas. E seria tão fácil. Como ainda hoje se pode verificar.

sábado, 8 de agosto de 2015

Voz político-moral global (1)

Crónica de Anselmo Borges 


«O centro da Igreja é o ser humano, 
sempre frágil e necessitado
de compreensão e ternura»


"A descrição do Papa como um super-homem, como uma estrela, é ofensiva para mim. O Papa é um homem que ri, chora, dorme tranquilamente, e tem amigos, como as outras pessoas." Quem isto diz é o Papa Francisco, dessacralizando o papado, citado por R. Draper num artigo na National Geographic deste mês, com o título provocador: "O Papa vai mudar o Vaticano? Ou o Vaticano vai mudar o Papa?" À partida, digo que estou convicto de que é o Papa que vai mudar o Vaticano. Seria péssimo para a Igreja e para o mundo se fosse ao contrário. Ele sabe que ninguém é perfeito: "Existimos apenas nós, pecadores." Mas também sabe que "Deus não tem medo de coisas novas! É por isso que nos surpreende continuamente, abrindo-nos o coração e guiando-nos por caminhos inesperados."

sábado, 25 de julho de 2015

Dai-lhes vós mesmos de comer

Reflexão de Georgino Rocha



«O facto histórico 
tem um alcance simbólico excepcional.
 A razão vê o facto. 
A fé capta o alcance da realidade 
contida no símbolo»


A multidão anda entusiasmada com Jesus. Nem sequer pensa nas suas necessidades básicas: descanso para a fadiga, casa para dormir, pão para alimento. A acção de Jesus e os seus ensinamentos exerciam uma sedução que compensava largamente tudo isso. E lá vai seguindo o Mestre que sobe ao monte, se senta compadecido por aquela gente e dialoga com os discípulos sobre o que fazer para lhe acudir e valer. Quer associá-los ao que vai fazer. E surge o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, a partir da “merenda” levada por um jovem. Jo 6, 1-15.

João, o autor da narrativa que hoje se lê na liturgia da Palavra, inicia um longo discurso/ensinamento de Jesus que continuará a ser proclamado nos próximos domingos. Constitui uma esplêndida catequese sobre a eucaristia, o pão e o vinho do trabalho humano, o corpo e o sangue do Senhor Jesus, entregue por todos e cada um de nós, a humanidade inteira.

sábado, 27 de junho de 2015

DEMOCRACIA NA IGREJA

Crónica de Anselmo Borges 

«O Papa Francisco 
é uma autoridade 
político-moral global, 
universalmente reconhecida»



1. Não há dúvida de que o Papa Francisco é uma autoridade político-moral global, universalmente reconhecida. Impôs-se ao mundo pela simplicidade, pela bondade, pela entrega generosa ao bem da humanidade, a começar pelos mais pobres. Exemplo para todos os que exercem o poder. Com bondade e inteligência.
Muitos, porém, perguntam-se, com razão, o que poderá suceder a seguir ao seu pontificado. Não vai haver tentativas de restauração, como se ele tivesse sido apenas um parêntesis? Depois de reconhecer que o problema não é o papa, mas o papado absoluto, que exige reforma, com democracia real, divisão de poderes, escreve o teólogo José Arregi: "A reforma radical democrática será uma condição não suficiente, mas indispensável, para que a Igreja seja espaço de liberdade e de tolerância, lar de humanidade. Chegará até aí o Papa Francisco? O tempo corre contra ele."

MINHA FILHA, A TUA FÉ TE SALVOU

Reflexão de Georgino Rocha


«Superior ao rigor do castigo
está o impulso da necessidade,
a certeza do amor»



Jesus está à beira mar. Chega Jairo, um dos chefes da sinagoga de Cafarnaum e pede-lhe para ir a sua casa. No caminho ocorre um encontro singular que Marcos realça com pormenor e beleza. Mc 5, 21-43.
Uma mulher, sem nome, deseja ser curada da doença de fluxo de sangue, pois anda cansada de sofrer e estás prestes a desanimar. Já havia gasto “todos os seus bens “ nas mãos dos médicos. Ouve falar de Jesus e sente-se atraída pela sua fama. Decide meter-se na multidão e, destemida, ir avançando até se aproximar dEle e lhe poder tocar no manto. Este gesto era punido pela lei judaica. Mas superior ao rigor do castigo está o impulso da necessidade, a certeza do amor, a força da confiança que pressentem a possibilidade da cura desejada. E, de facto, assim acontece! O diálogo que se segue é enternecedor e pode ser condensado na declaração de Jesus: “Minha filha, a tua fé te salvou”.

domingo, 21 de junho de 2015

NOVOS OLHARES SOBRE O CASAMENTO (2)

Crónica de Frei Bento Domingues 



«As doutrinas e as instituições 
da Igreja só valem na medida 
em que, à luz do Evangelho, 
respeitarem e promoverem 
o bem da família»


1. Entrei numa Igreja paroquial para a celebração do casamento de uns noivos, meus amigos, para a qual tinha recebido jurisdição do respectivo pároco. Ao dirigir-me à sacristia para me paramentar, deparei com uma senhora que me perguntou se os noivos se tinham confessado. Respondi que não sabia nem queria saber.
Se não se confessaram a V. Reverência, aqui também não. Havia um pedido do casamento com Missa, mas não haverá Missa. Não posso ser cúmplice de dois sacrilégios.
Procurei saber que sacrilégios eram esses. A informação foi rápida: o primeiro já é inevitável - os noivos vão-se casar em pecado mortal; o segundo é deixar os noivos comungar nessa situação. Este vou impedi-lo, pois não haverá Missa.
Como as noivas chegam, quase sempre, um bocado atrasadas, julguei que tinha algum tempo para uma breve catequese.
Disse-lhe, então, que eram louváveis os seus cuidados com a alma dos outros, mas o seu zelo parecia-me pouco informado e nada esclarecido.