segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Georgino Rocha - Onde estão as freiras, nossas irmãs?

D. António Francisco 


«“É isto que, em nome da Igreja de Aveiro, vos peço: Sede testemunhas felizes da fidelidade de quem se encontra com Deus; sede apelo contínuo à vocação para que nunca faltem trabalhadores generosos da Messe do Senhor; sede trabalhadores incansáveis desta Igreja em missão”. Pedido feito por D. António Francisco no a 2 de Fevereiro de 2014, dia dos consagrados, e agora evocado como memória agradecida.»

“A maioria das pessoas que vejo nesta sala, afirma Carlos Mester ao iniciar a sua comunicação no congresso da vida religiosa activa no Nordeste brasileiro, tem cabeça de prata, corações de ouro e pés de ferro”. De facto este biblista notável socorre-se do seu fino humor para provocar uma grande gargalhada e animar a vasta assembleia de 250 freiras, todas bem entradas em idade. O realismo sadio faz encarar as situações como elas são e a procurar tirar partido das oportunidades que oferecem. Os pés de ferro, ainda que com alguma ferrugem, constituem o testemunho mais expressivo do valor da vida religiosa, pois são estão dotados de uma energia que brota do coração sempre disponível para servir por amor. A moldura grisalha fica mais visível com as brancas que predominam no cabelo da maioria.

Este cenário tem tanto de encanto como de provocador, tanto de memória agradecida como de ousadia profética. Onde estão as freiras, nossas irmãs? Pergunta que nos leva a Nazaré da Galileia, a casa de Ana e de Joaquim, e a ver de novo o portador de boas notícias, o Anjo Gabriel, a chegar onde está Maria, e a saúda com o convite à alegria por ser a cheia de graça. Pergunta que nos faz percorrer os espaços geográficos, mas sobretudo anímicos, relacionais ocupacionais/laborais e espirituais que configuram a vida das freiras e atestam a realização feliz da sua opção evangélica.

Fruto da consagração a Deus é a doação livre ao serviço integral da pessoa humana que se concretiza de diversas formas, tendo em conta o carisma original enriquecido pela leitura constante do magistério da Igreja e dos desafios da sociedade, pela experiência das pessoas envolvidas e opções feitas.

O serviço toma rosto no silêncio contemplativo e oração solícita do Carmelo, na acção de proximidade de quem ajuda as famílias empobrecidas a cuidarem dos próprios lares, no acolhimento e acompanhamento de mulheres e crianças em situação de risco, na instrução/educação de adolescentes e jovens que querem prosseguir estudos ou “encontrar uma casa fora de casa”, na orientação de momentos de oração e de grupos bíblicos e vocacionais, na colaboração em tarefas paroquiais e diocesanas, na presença feminina encorajante dos que se acolhem ao Seminário e pretendem amadurecer a opção da vida e ser consequentes. É um rosto plural, com traços pessoais e comunitários, acentuados pelo evoluir dos tempos e consumo de energias. É um rosto plural que irradia o amor que Deus nos tem e se humaniza em cada pessoa. É um rosto plural que carrega a suavidade do serviço livremente aceite e, tantas vezes, exemplarmente realizado, serviço que gere o presente e se abre ao futuro.

“Fiquei surpreendida com a agilidade, destreza e capacidade de uma Irmã, com oitenta anos, que orienta uma obra social e atende a 600 crianças e adolescentes, em risco constante, na periferia da cidade. Face à situação tem entre mãos e coordena o projecto que visa reorganizar a sua congregação, já que em breve terá de deixar o seu trabalho e quer prever as circunstâncias decorrentes”. Este testemunho pertence a Maria Inês Vieira Ribeiro, da CNBB, em relato da sua visita recente a uma comunidade situada nas periferias de uma cidade onde a riqueza e a miséria convivem em ostentação provocadora. Relato em que surge a afirmação taxativa; “A vida religiosa fechada nos nossos ambientes é testemunho de fragilidade, empobrecimento e tristeza”.

O desafio parece claro: Fechar-se e gerir razoavelmente as forças existentes, implorando do Senhor que faça o resto, e/ou reorganizar as congregações afins nos seus objectivos e relançar-se, com ousadia, em nova saída missionária? Apostar na proximidade das pessoas, sobretudo das que mais precisam, e/ou evangelizar por irradiação contagiante na certeza de que os dons de Deus contam com a colaboração de quem nEle confia e podem estar a florescer em outras modalidades mais consentâneas com os sinais dos tempos?

Na década de oitenta, do século 20, participei num processo de discernimento de oito reduzidas congregações religiosas na Bélgica com o objctivo de valorizar o que havia de comum e chegar a uma “plataforma” de entendimento. O resultado foi positivo, ficando apenas duas com renovado vigor e grande irradiação apostólica. O acompanhamento foi da responsabilidade da equipa local do Movimento por um Mundo Melhor.

Onde estão as freiras, nossas Irmãs? Pergunta que faz parte da consciência cristã decorrente do ser Igreja; pergunta que tem pleno cabimento no programa pastoral 2017/2018 da nossa diocese; pergunta que exige resposta positiva pois enquanto “a vida consagrada” não constituir preocupação apostólica constante, o Evangelho que anunciamos e a Igreja que construímos ficam empobrecidos e desfigurados. “Este estado, afirma o Vaticano II na constituição sobre a Igreja, pertence, de modo indiscutível, à sua vida e à sua santidade”. (LG 44).

“A vida religiosa está entre as questões urgentes e inevitáveis que não podem esperar”, afirma J. M. Castillo que reflecte sobre o magistério do Papa Francisco e destaca a prioridade que vê nesta urgência, fazendo um pedido: “ensinai-nos a procurar no encontro com Cristo a alegria que preencha a alma da Humanidade, a coragem que vença os medos do Mundo, e as certezas de fé e de esperança que desfaçam as injustiças sociais”. Aponta assim a projecção pública do encontro pessoal com Jesus Cristo, centro da vida cristã. E faz lembrar que a vida religiosa é um bem de excelência na sociedade actual: afirma o valor da pessoa e do sentido da vida aberto ao futuro de Deus, testemunha a relação humana no seio da comunidade, evidencia o valor da doação ao outro por amor solidário, empresta, como dizia Madre Teresa de Calcutá, as suas costas para carregar os pobre de Deus, como outrora o jumentinho de Jerusalém levou Jesus.

“É isto que, em nome da Igreja de Aveiro, vos peço: Sede testemunhas felizes da fidelidade de quem se encontra com Deus; sede apelo contínuo à vocação para que nunca faltem trabalhadores generosos da Messe do Senhor; sede trabalhadores incansáveis desta Igreja em missão”. Pedido feito por D. António Francisco no a 2 de Fevereiro de 2014, dia dos consagrados, e agora evocado como memória agradecida.

Efeméride — Restauração da Diocese de Aveiro


1938, 11 de dezembro 

«Com grande solenidade, D. João Evangelista de Lima Vidal deu execução à bula do Papa Pio XI, que restaurou a Diocese de Aveiro, e tomou posse do cargo de administrador apostólico da mesma Diocese (Correio do Vouga, 11-12-1938; João Gonçalves Gaspar, Lima Vidal no seu Tempo, III, pgs. 102-106 e 109-120) – J.»

NOTA HISTÓRICA

A Diocese de Aveiro, sufragânea da Arquidiocese de Braga, foi criada pelo papa Clemente XIV, mediante o breve Militantis Ecclesiae gubernacula, de 12-04-1774, a pedido do monarca D. José I, abrangendo uma área destacada do território da Diocese de Coimbra; em 24-03-1775 deu-se execução ao documento pontifício. O rei ficou com o direito de padroado. A catedral foi instalada na igreja da Misericórdia e, mais tarde, em 1830, na igreja que fora do extinto Recolhimento de S. Bernardino. Nas suas primeiras seis décadas, teve apenas três bispos. Em 01-04-1845, após alguns anos de certa confusão canónica no governo eclesiástico, o arcebispo de Braga foi também constituído no cargo de administrador apostólico da Diocese, para a qual nomeou sucessivamente vigários gerais ou governadores – o que aconteceu até à sua extinção pela bula do papa Leão XIII Gravissimum Christi Ecclesiam regendi et gubernandi munus, de 30-09-1881, executada em 04-09-1882. Pela bula Omnium Ecclesiarum, de 24-08-1938, o papa Pio XI restaurou-a, dando-lhe novos limites, com oitenta e duas freguesias de dez concelhos, desmembrados das Dioceses de Coimbra (Águeda, Anadia, Aveiro, Ílhavo, Oliveira do Bairro e Vagos), do Porto (Albergaria-a-Velha, Estarreja e Murtosa) e de Viseu (Sever do Vouga); foi então elevada a catedral a secular igreja do extinto Convento de S. Domingos e matriz da Paróquia de Nossa Senhora da Glória. A sentença executória da restauração deu-se em 11-12-1938.

Portugal é o melhor destino turístico do mundo


 
«O prémio acaba de ser entregue [10 de dezembro à secretária de Estado Ana Mendes Godinho nos World Travel Awards, no Vietname.
Foram seis Óscares mundiais, mais quatro do que os conquistados no último ano, que "representam muitos anos de trabalho na requalificação do país". "Portugal arrasou!" Ainda com a emoção à flor da pele, Ana Mendes Godinho, que foi ao Vietname para a cerimónia anual dos World Travel Awards, contou ao DN que "nem tinha mãos para segurar tantos prémios".
Depois do Dubai, no ano passado, neste ano e pela primeira vez Portugal foi escolhido pela prestigiada organização mundial como o Melhor Destino Turístico do Mundo. Mas se esta foi a maior distinção da noite - que chega três meses depois de recebermos também o prémio de Melhor Destino Europeu -, não foi de longe a única.»
 
Ler mais aqui  
 
NOTA: Portugal é assim: capaz do melhor e do pior.  Tanto somos distinguidos numa faceta como de repente somos apontados como  atrasados  noutras. De qualquer forma, nesta área do turismo, um dos grandes desafios dos tempos de hoje e do futuro, vencemos tudo e todos. É bom, sim senhor.

domingo, 10 de dezembro de 2017

Dia de Natal - António Gedeão

O nosso Menino Jesus 

Dia de Natal
Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra — louvado seja o Senhor! — o que nunca tinha pensado comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:

Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

Bento Domingues — Quem desafia quem?



1. A guerra de insultos entre ciência e religião só pode ser alimentada e divulgada pelo persistente desconhecimento da natureza destas duas atitudes e práticas, igualmente humanas e diversas. Não são concorrentes, pois não brotam das mesmas perguntas, nem seguem os mesmos caminhos. Uns são os métodos da investigação científica, outros os percursos da experiência religiosa.
Certas formas de ateísmo contemporâneo, com ou sem invocações científicas, pretendem mostrar que a religião é um veneno. Para os adversários deste neoateísmo trata-se, apenas, “da última superstição”. São, de facto, duas apologéticas ideológicas. Deliciam-se a encontrar as formas mais sofisticadas ou mais grosseiras de se desqualificarem mutuamente. Distorcem um debate necessário, que não pode ser feito nesses termos, nem nesse clima crispado e de propaganda (1).
Muito diferente é o estilo de Francisco J. Ayala, um biólogo, membro da Academia Nacional das Ciências dos EUA, que também teve uma exímia preparação teológica. Ao terminar a sua obra sobre a evolução e a fé religiosa mostra que elas não são incompatíveis. Os crentes podem ver a presença de Deus no poder criativo do processo de selecção natural, descoberto por Darwin. Como este escreve no final da Origem das Espécies, “existe grandeza nesta concepção de que a vida, com as suas diferentes forças, foi alentada pelo Criador … e que, a partir de um princípio simples se desenvolveram uma infinidade de formas, as mais belas e poderosas” (2).
Hoje, existem bastantes pessoas com preparação científica e teológica para não se fazer de uma teoria científica e de uma convicção de fé religiosa um campo de batalha. Na religião não vale tudo. Jesus Cristo passou o tempo a denunciar a religião em que foi criado quando ela não servia a vida e alegria dos seres humanos.

2. O Papa Francisco (3), no passado dia 18 de Novembro, ao receber os Membros, Consultores e Colaboradores do Pontifício Conselho para a Cultura, assumiu, no seu discurso, uma posição descontraída, como se fosse absolutamente normal a Igreja ser desafiada e desafiar a questão das questões, a questão antropológica, e encontrar as linhas futuras de desenvolvimento da ciência e da técnica.
Bergoglio realçou que este Conselho para a Cultura tinha concentrado a sua atenção, de modo particular, em três tópicos.
O primeiro é sobre a medicina e a genética, que nos permitem olhar para dentro da estrutura mais íntima do ser humano e até intervir nela para a modificar. Tornam-nos capazes de debelar doenças que até há pouco tempo eram consideradas incuráveis; mas abrem, também, a possibilidade de determinar os seres humanos, “programando”, por assim dizer, algumas das suas qualidades.
Em segundo lugar, as neurociências que oferecem cada vez mais informações sobre o funcionamento do cérebro humano. Através delas, realidades fundamentais da antropologia cristã como a alma, a consciência de si e a liberdade aparecem, agora, sob uma luz inédita e até podem ser postas seriamente em discussão por parte de alguns.
Finalmente, os incríveis progressos das máquinas autónomas e pensantes, que em parte já se tornaram componentes da nossa vida quotidiana, que nos levam a meditar sobre aquilo que é especificamente humano e nos torna diferentes das máquinas.
Todos estes desenvolvimentos científicos e técnicos induzem algumas pessoas a pensar que nos encontramos num momento singular da história da humanidade, quase na alvorada de uma nova era e no surgimento de um novo ser humano, superior àquele que conhecemos até agora.
As interrogações e as questões que devemos enfrentar são graves. Por isso a Igreja, que acompanha, com atenção, as alegrias e as esperanças, as angústias e os medos do nosso tempo, deseja colocar a pessoa humana e as questões que lhe dizem respeito, no centro das suas próprias reflexões.
A antropologia é o horizonte de auto compreensão no qual todos nos movemos, diz o Papa, e determina a nossa noção do mundo e as escolhas existenciais e éticas. Hoje, apercebemo-nos de que os grandes princípios e os conceitos essenciais são constantemente postos em questão, inclusive com base num maior conhecimento da complexidade da condição humana. Exigem novos aprofundamentos. Por outro lado, as mudanças socioeconómicas, os deslocamentos de populações, os confrontos interculturais, a propagação de uma cultura global e, sobretudo, das incríveis descobertas da ciência e da técnica inscrevem-se num contexto mais fluido e mutável.

3. Bergoglio pergunta: Como reagir a estes desafios?
Antes de tudo, diz, devemos expressar a nossa gratidão aos homens e às mulheres de ciência pelos seus esforços e pelo seu compromisso a favor da humanidade.
Este apreço pelas ciências, que nem sempre soubemos manifestar, continua o Papa, encontra o seu fundamento último no desígnio de Deus, que nos escolheu antes da criação do mundo como seus filhos adoptivos (4), confiando-nos o cuidado da criação: cultivar e salvaguardar a terra (5).
Precisamente porque o ser humano é imagem e semelhança de um Deus que criou o mundo por amor, o cuidado de toda a criação deve seguir a lógica da gratuidade e do amor, do serviço e não do domínio nem da prepotência.
A ciência e a tecnologia ajudaram-nos a aprofundar os confins do conhecimento da natureza e, em particular, do ser humano. Elas sozinhas não são suficientes para todas as respostas. O ser humano tem outras dimensões. É necessário recorrer aos tesouros da sabedoria conservados nas tradições religiosas do saber popular, à literatura, às artes e a tudo o que toca o mistério da existência humana, sem esquecer a filosofia e a teologia.
Não estamos no pior nem no melhor dos mundos. Os progressos científicos e tecnológicos são incontestáveis, mas a quem aproveitam? Quem são os seus beneficiários? Servem para o bem da humanidade inteira ou criam novas desigualdades? As grandes decisões sobre a orientação da pesquisa científica e sobre os investimentos que exigem devem ser tomadas pelo conjunto da sociedade ou ditadas apenas pelas regras do mercado ou pelo interesse de poucos?
Com o Papa Francisco entramos numa Igreja que aceita ser desafiada, mas que desafia, não como quem manda, mas como quem serve a casa comum.

Frei Bento Domingues no PÚBLICO


(1) Edward Feser, A última superstição. Uma refutação do neoateísmo, Ed. Cristo Rei, Belo Horizonte, 2017
(2) Cf. Darwin y el Diseño Intekigente. Creacionismo, Cristianismo Y Evolución, Alianza Editorial, Madrid, 2008, pp 206-207
(3) Discurso do Papa Francisco ao Pontifício Conselho para a Cultura
(4) Ef 1, 3-5
(5) Cf. Gn 2, 15

sábado, 9 de dezembro de 2017

BUÇACO classificado como Monumento Nacional

Palace Hotel do Buçaco 

Obelisco para assinalar a Batalha do Buçaco


Recanto da Serra do Buçaco

Oliveira onde  Arthur Wellesley amarrou o cavalo depois da batalha 

Lita comigo no cimo da serra 

Lita e Aidinha sugerem uma visita

Outro ângulo do Palace Hotel
«O Conselho de Ministro aprovou [dia 7] o decreto que classifica como monumento nacional o conjunto do Palace Hotel do Buçaco e mata envolvente, incluindo as capelas e ermidas, Cruz Alta e Convento de Santa Cruz.
O decreto aguardava aprovação há mais de um ano e meio, desde que João Soares abandonou a pasta da Cultura, e vem reforçar o processo de candidatura da Mata do Buçaco a Património Mundial da Unesco, apresentada em 2016.
"Esta decisão do Conselho de Ministros vem corrigir um erro grave que tardava em ser corrigido e fazer finalmente justiça a um espaço majestoso e imponente, de rara beleza, único no país", disse à Lusa o presidente da Câmara Municipal da Mealhada, Rui Marqueiro, o principal impulsionador da candidatura do Buçaco.»

Ler mais aqui 

Nota: Fotos dos meus arquivos.

Georgino Rocha - Escutai a voz do Profeta



ENDIREITAI OS CAMINHOS DO SENHOR

João Baptista surge com todo o seu vigor no início do Evangelho de Marcos que, no 2º domingo do Advento, a liturgia da Igreja nos apresenta. (Mc 1, 1-8). Surge como o profeta que realiza o anúncio vaticinado por Isaías, durante o cativeiro do povo judeu na Babilónia. Surge como garantia de que os relatos sobre a vida de Jesus estão na sequência dos factos narrados nos textos sagrados, já conhecidos. Surge para lançar o brado definitivo: “Endireitai os caminhos do Senhor, Ele está no meio de nós”.

Marcos chama o leitor a iniciar o percurso da descoberta de Jesus Cristo, ouvindo o apelo de João Baptista, acolhendo as vozes dos acompanhantes que testemunham os factos por Ele realizados na itinerância da missão, e abrindo o coração para saborear a confissão pública do Centurião: “Realmente, este é o Filho de Deus!”.

A liturgia da Igreja organiza as celebrações de modo sábio e pedagógico. Em cada domingo apresenta um episódio emblemático que visualiza a vida de Jesus, configura o seu modo de proceder e desvenda a sua realidade profunda: Ser Filho de Deus. E o leitor é interpelado, convidado a parar, meditar, reconsiderar e a professar a sua fé, se chegar a esta feliz conclusão. Como o Centurião romano.

“Endireitai os caminhos do Senhor”. É nos caminhos da vida que se encontra Jesus Cristo. A vida, no seu dramatismo provocante, está recheada de surpresas que despertam a sonolência que, frequentemente, nos assalta. E a ensurdecedora publicidade comercial consumista avoluma. E Marcos convida-nos a irmos aos começos, a verificarmos as raízes que nos garantem a liberdade em segurança, a escutarmos as boas notícias da verdade que Jesus nos comunica.

O que será preciso pôr direito na vida de cada um de nós, nas famílias, nas instâncias sociais e políticas da sociedade, no sistema educativo como serviço público de qualidade, pertença a quem pertencer? Que será preciso endireitar na Igreja e suas comunidades e movimentos para que nas pessoas e na sua instituição brilhe mais intensamente a transparência do Evangelho de Jesus?

Os caminhos têm de ser visíveis e transitáveis, planos e assinalados. Por isso, exemplifica Isaías na 1ª leitura: Que o retorcido seja posto direito, o vale seja elevado, o monte abatido, as veredas escarpadas sejam aplanadas. E da morfologia do terreno, somos convidados a examinar a integralidade da vida humana, sobretudo a consciência iluminada pela razão e pela fé cristã. A mudança há-de ser verificada pelo arauto chamado a proclamar a feliz notícia: O Senhor vem na sua glória com o prémio da vitória. O relato de Marcos confirma esta visão profética com os factos narrados no seu Evangelho que abrem caminho à missão da Igreja, de cada um de nós.

Aplanai, facilitai, favorecei o caminho da vida aos que estão abatidos e perplexos, são rebaixados na “cotação” social e organizativa, e têm de esconder a vergonha que os assalta pela desconsideração sentida a partir da cultura do êxito a baixo preço e de consumo no instante.

“Perante a realidade concreta que vivemos, neste mundo que se apresenta fragmentado, violento, injusto e estilhaçado… a Palavra de Deus faz-nos o convite a esperar em Deus que nos ama e nos promete uma realidade reconciliada, transformada pela justiça, uma realidade como a que canta o Salmo 84: de paz, de misericórdia e fidelidade. Uma esperança ancorada em Deus e vivida no coração da realidade”, afirma Mariña Rios Alvarez, mulher teóloga. (Homilética 2017/6, p. 745).

É uma esperança que nos faz ver com profundidade a vida, as pessoas, os conjuntos sociais e religiosos, a cultura de “espuma da onda” que deslumbra mas desumaniza e aliena, o Evangelho cheio de energia transformadora da instituição eclesial chamada a agilizar o serviço de animação missionária.

É uma esperança que nos impele a consolar os tristes e amargurados – e são tantos! – a acompanhar as dores sofridas pelas vítimas de si mesmas e das circunstâncias envolventes, a ajudar a abrir horizontes de liberdade a quem não consegue erguer o olhar e ver uma nesga de luz que possa augurar um futuro feliz.

“Endireitai os caminhos do Senhor”, exorta o profeta, pois eles são os nossos caminhos. É no caminho, e não na acomodação, que se dá o encontro. E a nossa vida irradiará a misericórdia do Senhor e todos juntos contemplaremos “a justiça (que) caminhará à sua frente e a paz (que) seguirá os seus passos”. (Salmo 84, proclamado na liturgia de hoje). Que mensagem entusiasmante! Experimenta.

Georgino Rocha

Helena Matos — A festa do cone iluminado




O bolo rei já não tem brinde. A Bela Adormecida ficou sem beijo porque o príncipe foi acusado de abuso. A fruta não tem bicho. O Natal ficou sem Menino Jesus e tornou-se a festa do cone iluminado.
De repente no meio da rua lá está aquela tranquitana metalico-luminosa a que chamamos árvore de Natal. E foi perante aquele cone iluminado, artefacto que nos sobrou devidamente expurgado de tudo o que possa identificar aquilo que somos, o que sentimos, o donde vimos, que me dei conta de como em nome da segurança, da tolerância, da saúde e de sei lá mais o quê estamos a criar um mundo faz de conta. Um mundo em que:

O bolo rei já não tem brinde.
O iogurte ficou sem lactose.
As natas perderam a gordura.
O leite vem da soja e não das vacas.
Os doces ficaram sem açúcar.
Os bolos não têm farinha.
O café perdeu a cafeína.
A manteiga ficou magra.
O pão não tem glúten.
O circo ficou sem leões, depois sem elefantes e agora sem animais.
A humanidade ficou sem sexos e dizem que está a perder o interesse pelo sexo.
O namoro ficou sem palavras por causa do assédio.
A Bela Adormecida ficou sem beijo porque o príncipe foi acusado de abuso.
A Capuchinho Vermelho já não é salva pelo caçador que também deixou de caçar 
e o lobo ficou vegetariano.
Os maridos e as mulheres passaram a cônjuges.
Os parques infantis ficaram sem escorregas de verdade. E alguns sem baloiços.
Chama-se a televisão em vez da polícia.
Os brinquedos ficaram sem graça mas estão cheios de didatismo.
As crianças não têm tempo para não fazer nada.
A má educação tornou-se bullying.
Os pátios das escolas já não têm árvores nem terra.
As gaiolas ficaram sem grilos.
Os filhos não têm pai nem mãe mas sim progenitores.
As feiras não têm graça.
O atirei o pau ao gato ficou sem letra.
A mentira tornou-se inverdade.
A culpa é alegada.
A verdade inconveniente.
O artesanato é certificado.
A fruta não tem bicho.
Brincar é uma actividade devidamente monitorizada.
Os filmes não contam histórias, ilustram teses.
As universidades tornaram-se uma liga de costumes.
As coisas deixaram de ser o que são para se tornarem num dado a avaliar consoante o seu enquadramento numa perspectiva condicionada por diversas valências.
Tudo é relativo.

O Natal ficou sem Menino Jesus e tornou-se a festa do cone iluminado.

Li aqui 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Efeméride - Faleceu o Inspetor Domingos José Cerqueira

1927 - 8  de dezenbro 



«Faleceu o Inspector Domingos José Cerqueira que, embora nascido em Ponte de Lima, se radicou em Aveiro, onde exerceu o seu labor profissional no campo do Ensino Primário. Redigiu a famosa «Cartilha Escolar», foi jornalista e, nesta cidade, iniciou a criação de escolas infantis – as primeiras que existiram em Portugal (Litoral,30-5-1970) – J.»

Calendário Histórico de Aveiro 
de António Cristo e João Gonçalves Gaspar

Nota: Frequentemente,  dou-me conta de tanta gente que se dedicou ao ensino e à formação de pessoas em várias  áreas, caindo, depois, no limbo do esquecimento. Conheci há muitos anos a Cartilha Escolar e sei que teve mérito no seu tempo, contando diversas edições. Neste simples registo, quero lembrar e honrar tantos cabouqueiros da arte de ensinar a ler... 

Anselmo Borges - Progresso e esperança. 2


Como ficou dito, o livro Progresso, de Johan Norberg, apresenta dez razões para ter esperança no futuro. Continuo o seu elenco, para lá das apresentadas quanto à comida e ao saneamento.

3. Esperança de vida. Para não irmos a épocas anteriores piores, devemos referir que na década de 1830 a esperança de vida na Europa Ocidental ia até aos 33 anos e melhorou apenas de forma muito lenta. Antes de 1800, nenhum país do mundo tinha uma esperança de vida superior a 40 anos. O espantoso é que não existe um único país que não tenha visto melhorias na mortalidade infantil desde 1950.

4. Pobreza. Não precisamos de uma explicação para a pobreza porque é desse ponto que todos partimos. A pobreza é o que temos até criarmos riqueza. No início do século XIX, as taxas de pobreza eram superiores às dos países pobres hoje, até nos países mais ricos. Quando nos anos 50 do século XX a pobreza extrema foi erradicada em quase todos os países da Europa Ocidental, começou a segunda grande evasão da pobreza, na Ásia Oriental, com países como o Japão, a Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Singapura, que acelerou quando os dois gigantes mundiais, a China e a Índia, decidiram começar a abrir as suas economias em 1979 e 1991, respectivamente. O segredo do desenvolvimento da Ásia foi a sua integração na economia global. Entre 1981 e 2015, a proporção de países de rendimento baixo a médio que sofriam de pobreza extrema foi reduzida de 54% para 12%. Em 1820, o mundo tinha apenas cerca de 60 milhões de pessoas que não viviam em pobreza extrema. Actualmente, mais de 6,5 mil milhões de pessoas não vivem em pobreza extrema.

5. Violência. Nos inícios da Idade Moderna, aconteceu uma coisa incrível: A taxa europeia de homicídios caiu de 30-40 para 19 por cada 100 mil vítimas no século XVI e para 11 no século XVII. No século XVIII, desceu para 3,2 e hoje é de apenas 1. Entre o século XVII e o século XVIII, o número anual de execuções por cada 100 mil pessoas baixou de mais de 3 para menos de 0,5. Hoje ronda os 0,1. Claro que os riscos de guerra, incluindo nuclear, estão aí à vista. Pense-se nisto: A qualquer momento um grupo terrorista pode deitar a mão a uma bomba nuclear. Mas as tendências gerais a favor do valor da vida e da paz são fortes.

6. Ambiente. Disse Indira Gandhi: Não são a pobreza e a necessidade os maiores poluidores? O ambiente não pode ser melhorado em condições de pobreza. Os danos maiores dão-se nos países pobres. Agora, há o acesso global à soma dos conhecimentos da humanidade, e isso pode significar que o dilema no centro do aquecimento global - a nossa necessidade de energia - na verdade é também a sua solução.

7. Literacia. A taxa global de literacia cresceu cerca de 21% em 1900 para quase 40% em 1950 e em 2015 era de 86%. Isso significa que actualmente apenas 14% da população adulta não sabe ler e escrever, ao passo que em 1820 apenas 12% sabiam.

8. Liberdade. No ano de 1900, exactamente 0% da população mundial vivia numa democracia verdadeira, na qual cada homem ou mulher vale um voto. Em 1950, 31% vivia em democracia e no ano 2000 ia nos 58%. Hoje, até os ditadores têm de fingir gabar a democracia e forjar eleições.

9. Igualdade. É um facto: continua a haver discriminação e intolerância contra as mulheres, os homossexuais, minorias étnicas e religiosas e há pessoas que são vítimas de preconceito, hostilidade e crimes de ódio. Mas hoje, com raras excepções, pela primeira vez, os governos defendem a igualdade e o direito de amarmos quem quisermos e os fanáticos já não têm o auxílio, nem sequer o silêncio, das maiorias. Quando se pensa na escravatura, no racismo, na opressão das mulheres, é difícil não constatar um progresso espantoso.

10. A próxima geração. Apesar do que se diz nos noticiários, as condições da infância nunca foram tão benévolas como agora. O autor pede para se imaginar uma menina de 10 anos há duzentos anos. Fosse onde fosse, não esperaria viver mais de 30 anos. Fora criada em condições que hoje consideramos insuportáveis. Vivia num mundo implacável, onde o risco de morte violenta era quase três vezes superior ao actual. Desde então, a humanidade assistiu a uma revolução nos níveis de vida material e à consciência dos direitos humanos. E quando se pensa nos avanços em conhecimento de todo o género em que essa menina vai hoje poder participar, deve reconhecer-se que está a dar os primeiros passos num mundo novo. O nosso futuro está nas mãos dela.

11. Epílogo. As coisas terem melhorado - esmagadoramente - não garante o progresso no futuro. É evidente. Pense-se inclusivamente na possibilidade do Apocalipse: armamento nuclear nas mãos de grupos terroristas. A nova situação do mundo não faz correr o risco da morte global?
No meu entender, neste livro tão animador há um vazio: a falta da invocação da transcendência. Para, concretamente num tempo de desorientação, de inesperança, de consumação do niilismo, niilismo sedado, responder às perguntas metafísico-religiosas, inelimináveis: viver para quê?, qual o sentido último do progresso e da existência?
Pensando precisamente no futuro da humanidade, que na sua grande maioria ainda se afirma religiosa, poderíamos esperar que, como líder global, Francisco dê impulso à reunião do Parlamento Mundial das Religiões para tratar de problemas cuja urgência para a humanidade ninguém pode negar, como a salvaguarda da mãe Terra, questões de bioética e relacionadas com as NBIC (nanotecnologias, biotecnologias, inteligência artificial, ciências cognitivas e do cérebro), diálogo intercultural e inter-religioso, governança global, a justiça e a paz mundial, trans-humanismo e pós-humanismo, a esperança e o sentido.

Anselmo Borges no Diário de Notícias 

Padre e professor de Filosofia

Georgino Rocha — Na Missa da Imaculada Conceição


ACÇÃO DE GRAÇAS

Jesus, bom amigo de todos, obrigado pela Tua Mãe que quiseste que fosse nossa também. Às vezes, esquecemo-nos, mas o Papa Francisco veio a Fátima avivar a memória quando afirmou: “Temos Mãe”.
Hoje, fazemos a festa da Tua Mãe e nossa Mãe. É uma grande alegria para nós e para Portugal, o nosso amado País, que escolheu a Imaculada Conceição para padroeira. Queremos ser dignos desta escolha. Ajuda-nos, Senhor!
Em Maria, vemos os seus Pais, Ana e Joaquim, moradores em Nazaré da Galileia. São eles que, hoje, estão a apresentar a sua menina, a dizer-nos como era o ambiente no lar, como foi a educação, como a levavam à sinagoga para o culto semanal, e tantas outras coisas belas. A sua obra estava tão perfeitinha que o Anjo Gabriel, quando a visita, lhe chama “cheia de graça”. Os Pais têm esta nobre missão na educação dos filhos. Obrigado, Ana e Joaquim, pela filha que preparastes para ser a Mãe do Filho de Deus.
Em vós e em Maria, vossa amada Filha, vemos os nossos Pais. Hoje destacamos a Mãe pela sua missão de ternura familiar e de presença amiga. Vós, bem sabeis, o que é para cada filho/a a sua Mãe. Por isso, queremos dar-vos graças pelas nossas Mães.
A sua dedicação enche o nosso coração de gratidão e cobre alguma impaciência que teve para connosco. O seu rosto amigo continua a brilhar no nosso olhar e faz esquecer alguma lágrima que nos fez chorar. O seu amor, expresso de tantas formas, vive sempre em nós e dá-nos alento para sermos amigos confiantes e persistentes. A sua coragem anima-nos nas dificuldades que a vida nos traz e ajuda-nos a seguir em frente. A sua fé ilumina as nossas dúvidas e incertezas, aponta-nos a verdade e liberta-nos dos medos e ansiedades. Infunde-nos confiança, tão necessária ao nosso viver quotidiano. 
Por tudo isto e por tantas outras coisas boas que recebemos dos nossos Pais, nós te damos graças, Senhor, e te pedimos que os abençoeis para sempre. Ámen!

Georgino Rocha

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Anselmo Borges: “Francisco — Desafios à Igreja e ao Mundo”



“Francisco — Desafios à Igreja e ao Mundo” é o mais recente livro de Anselmo Borges, padre da Sociedade Missionária Portuguesa e Doutor em Filosofia pela Universidade de Coimbra, em cuja Faculdade de Letras é Professor. O Prefácio é de Artur Santos Silva e merece ser lido antes de entrar no trabalho meticuloso, oportuno e esclarecedor do autor, sobre a personalidade marcante do Papa Francisco que, dia a dia, não se cansa de lançar desafios à Igreja e ao mundo, sempre na perspetiva da construção de uma sociedade mais fraterna e mais justa. Este trabalho de Anselmo Borges, cujas crónicas semanais, publicadas no Diário de Notícias, edito no meu blogue Pela Positiva, há uns 12 anos, mostra à evidência o pensar e o agir do Papa Francisco, que veio do outro lado do mundo para acabar com a sonolência na Igreja que amamos, e que, por isso, em muitas áreas, ficou parada no tempo. Não haverá temas, desafios, propostas, conselhos, exemplos, ralhetes, sorrisos, tristezas, mágoas, sofrimentos, alegrias e a fé desafiante do Papa que tenham sido ignorados pelo autor de “Francisco — Desafios à Igreja e ao Mundo”. 
A leitura deste livro entusiasmou-me sem nunca me cansar. Cada página contém matéria desafiante e estimulante para prosseguir, mas diversas vezes fui levado a reler para ficar mais esclarecido. Todos os textos, curtos, estão ricamente documentados por dezenas e dezenas de citações dos mais eminentes filósofos, teólogos, pensadores, biblistas, académicos, e outras figuras proeminentes da cultura contemporânea e doutras era, sem esquecer os Doutores da Igreja, os clássicos, sejam crentes e não crentes, cristãos de várias correntes e ateus ou agnósticos. 
Artur Santos Silva diz, logo a abrir o Prefácio, que «Este é um livro altamente inspirador para as gerações que vivem os tempos conturbados dos nossos dias», e logo a seguir salienta que «Muito admira Anselmo Borges, para além das suas qualidades pessoais, pela sua capacidade de mobilizar e gerar conhecimentos, pela liberdade com que aborda as grandes questões da sociedade em que vivemos», procurando «ajudar-nos a responder às nossas mais profundas dúvidas e interrogações». 
Santos Silva refere, citando Frederico Lourenço: «No cerne do seu valor ético, a mensagem de Jesus continua hoje tão válida, tão certeira e tão urgente como era há 2000 anos.»
Sobre Francisco, Anselmo Borges frisa na Apresentação que Francisco «é um Papa cristão, que antepõe o Evangelho ao Direito Canónico, que gosta das pessoas, as ama e serve, as anima, lhes dá esperança e confiança, como Jesus fez». E adianta: «Sendo um papa cristão, no sentido autêntico da palavra — que segue Jesus, para quem Jesus é determinante na vida e na morte —, a sua urgência maior, ad intra, é tentar converter os católicos, a começar pelos cardeais, bispos, padres, a cristãos, num discipulado evangélico, abandonando o clericalismo eclesiástico e seguindo o caminho de Jesus.»
O livro “Francisco — Desafios à Igreja e ao Mundo” está ordenado em quatro capítulos: De Bento XVI a Francisco, Sexualidade e Família, Pessoa, Ética e Política e Para uma Igreja do Século XXI. São 439 páginas, edição da Gradiva.

Fernando Martins

RUY VENTURA — NATAL INCÓMODO



«Época de alegrias, de felicidade - mas também de euforias fabricadas, manipuladas pelo consumo -, o Natal leva-nos, frequentemente, ao esquecimento daqueles que assim não sentem, travando diariamente uma terrível luta com a angústia, com o vazio ou com o negrume, mal conseguindo esboçar um sorriso perante as agruras da doença, do desemprego ou de uma dignidade perdida, tentando arranjar uma réstia de ânimo para se levantarem da cama sabendo-se alvo de injúrias e de incompreensões, querendo elevar o coração apesar de se verem sem teto, sem alimentos dignos, sem uma companhia ao lado ou à distância, sem os seus entes queridos. Mesmo quando os lembramos nesta época de preparação para a festa do nascimento de Jesus Cristo, tantas vezes os olhamos como grãos de pó que é importante sacudir da lembrança, não vá ela ficar toldada (menos “alegre”) pelas suas nuvens incómodas. E, no entanto, foi sobretudo para estes nossos companheiros de existência que a encarnação do Divino Infante aconteceu e continua a acontecer, enquanto recordação rediviva e atuante. Bem sei que esse acontecimento milenar pouco ou nada interessa a uma sociedade onde o dinheiro é deus e rei, mas a verdade não tem outro conteúdo nem a festividade outro sentido, mesmo que o alheamento das luzes comerciais e financeiras nos tentem virar o olhar para lugares distintos e sentimentos menos nobres. Esquecer o sentido do Natal é esquecer tudo. Não há outro caminho. Ou somos incomodados por ele ou não vale a pena comemorá-lo.»

Ler todo o texto aqui 

Georgino Rocha - ALEGRA-TE COM MARIA, A MÃE DE JESUS

Nossa Senhora da Conceição - Gafanha da Nazaré
Na festa da Imaculada Conceição

Maria, a cheia de graça, é apresentada pela Igreja como a mulher escolhida para ser a Mãe de Jesus e dar rosto humano a quem se prepara para o Natal do Senhor. Olhando para ela, sentimos a esperança como motor do caminho a percorrer, a alegria como energia espiritual a elevar o coração, o sonho da comunhão a fazer-se realidade no dia-a-dia.
Maria de Nazaré, a Senhora da Conceição, vê reconhecida pelo Anjo de Deus a sua singularidade: Desde os primeiros instantes da existência no seio de Ana, sua Mãe, é abençoada com a graça da integridade, isenta do inumano que há na nossa natureza pessoal, liberta da tendência para a autoafirmação eivada de presunção e orgulho, típicos dos protagonistas dos alvores da criação, Eva e Adão. Conserva intacta esta graça durante a sua vida e corresponde-lhe generosamente. Por isso, a Igreja a celebra como a Imaculada, a Virgem-Mãe, a Senhora do sim total. E Portugal a consagra como sua Padroeira, após a restauração da independência, confirmando uma tradição antiga do nosso povo.
“Tendo entrado onde ela estava”, refere Lucas no relato do encontro do Anjo Gabriel com Maria. (Lc 1, 26-38). Em estilo solene e diáfano, demarca assim onde se faz o diálogo da anunciação. É uma afirmação lapidar que pode servir-nos de “ponto de partida” para uma reflexão encorajante. Onde está Maria? O programa pastoral 2017/2018 da nossa Diocese faz outra parecida: “Onde está o teu Irmão?” E o Evangelho induz-nos a outra ainda mais pertinente: “Onde estou eu”? As respostas têm de ser dadas no santuário da nossa consciência como faz Maria, após diálogo de clarificação confiante. 
Em casa dos Pais, pode responder-se, reportando-nos ao espaço físico. Mas há outros não menos importantes. Está no desempenho das tarefas domésticas, em reflexão sobre notícias preocupantes da vizinhança, em oração reconfortante que alimenta a esperança na vinda do Messias prometido a Israel, seu povo, em divagação mental com os sonhos de noivado com José, em visão antecipada da sua vida familiar em Nazaré. Em tudo, estava em si mesma, com a educação recebida de seus Pais e avós, com o fervor religioso alimentado na assembleia da sinagoga, onde se fazia o culto semanal, aos sábados e participado pelos vizinhos piedosos. E o Anjo vem encontrar-se com ela, desvendando a grandeza do seu estado: “Alegra-te, ó cheia de graça, o Senhor está contigo”.
Que novidade reconfortante para os Pais que, como Ana e Joaquim, cuidam da educação dos filhos com esmero e dedicação. Abertos à presença de Deus que quer o melhor para todos, especialmente para as crianças como Jesus mostrará ao abraçá-las e ao recomendar aos discípulos: “Deixai-as vir a Mim; não as impeçais”. Como será encorajante sentir que este desvelo de Deus é vivido pelos pais de hoje no seio das nossas famílias. Que Ana e Joaquim nos inspirem e estimulem na realização desta delicada missão. Não deixemos defraudar a confiança que Deus tem em nós e nos familiares mais chegados aos pais e avós.
“O que aconteceu em Maria, afirma uma mulher teóloga ao comentar o Evangelho de hoje, não é uma excepção, mas a verdadeira «regra» que Deus pensou para todos nós quando nos criou. Pois saímos das suas mãos e, portanto, somos bons por natureza. Ao contrário do que podemos pensar a conceição imaculada converte Maria numa criatura ainda mais humana, já que o pecado não é de Deus, nem está inscrito na nossa natureza”[i]. A autora tem em conta a dignidade original de Eva e Adão e vê Maria no seu prolongamento. A tradição bíblica refere que o sonho de Deus é perturbado com a atitude de Eva que contagia Adão de quererem ser donos da sabedoria moral, por meio da liberdade do desejo. Ao não aceitarem os seus imites, introduzem o que veio a ser chamado pecado, desfigurando o humano que, de novo, se configura em Maria, a Mãe de Jesus. E o pecado manifesta-se na alteração de valores e na confusão de verdades. Dai, o cortejo de atropelamentos à dignidade humana onde Deus se revê com a transparência original.
A festa de Maria representa a nova oportunidade que Deus oferece à humanidade, não apenas porque a faz voltar às origens, mas porque lhe abre as dimensões do futuro que Jesus vem inaugurar. Vale a pena recentrar a mensagem que a festa da Imaculada Conceição nos traz e viver a alegria do Evangelho, dando testemunho da esperança que nos anima.

Georgino Rocha

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

EDUCAÇÃO — ARMA PODEROSA



"A educação é a arma mais poderosa 
que pode ser usada para mudar o mundo."

Nelson Mandela (1918 - 2013)

Nota: Gosto muito deste pensamento de um homem bom e sábio. E no meio de tanta barafunda com provocações de toda a ordem, no meio de tanta generosidade que salva o mundo, ouso pensar que todos devíamos lutar por uma educação forte e sadia, no dia a dia, na certeza de que a sociedade seria bem diferente.

Fernando Pessoa - Avé Maria



AVÉ MARIA

Avé Maria, tão pura
Virgem nunca maculada
Ouvi a prece tirada
No meu peito da amargura.

Vós que sois cheia de graça
Escutai minha oração,
Conduzi-me pela mão
Por esta vida que passa.

O Senhor, que é vosso Filho,
Que esteja sempre connosco,
Assim como é convosco
Eternamente o seu brilho.

Bendita sois vós, Maria,
Entre as mulheres da Terra
E voss'alma só encerra
Doce imagem d'alegria.

Mais radiante do que a luz
E bendito, oh Santa Mãe
É o fruto que provém
Do vosso ventre, Jesus!

Ditosa Santa Maria,
Vós que sois a Mãe de Deus
E que morais lá nos céus,
Orai por nós cada dia.

Rogai por nós, pecadores,
Ao vosso Filho, Jesus,
Que por nós morreu na cruz
E que sofreu tantas dores.

Rogai, agora, oh Mãe qu’rida
E (quando quiser a sorte)
Na hora da nossa morte
Quando nos fugir a vida.

Avé Maria, tão pura
Virgem nunca maculada,
Ouvi a prece tirada
No meu peito da amargura.


12-4-1902

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

“Olha a Arte de Natal!” vai animar esta quadra natalícia

(Foto de arquivo)

Nas próximas quartas-feiras, dias 6, 13 e 20 de dezembro, as manhãs vão ser mais alegres nesta quadra de Natal, com a Câmara Municipal de Ílhavo (CMI) a associar-se ao comércio  local, no sentido de revitalizar a identidade histórica e as suas memórias, através de intervenções artísticas dinamizadas pelos nossos maiores, estruturas residenciais para pessoas idosas e clubes seniores.
Assim,  a CMI lança a iniciativa “Olha a Arte de Natal!”, com  abertura marcada para o dia 6 de dezembro, pelas 10 horas, nas galerias comerciais, situadas atrás da Câmara, contando com a presença da vereadora do Pelouro da Maior Idade.
Segue-se um périplo por espaços comerciais da cidade, onde se serão desenvolvidas ações muito variadas, tais como representações teatrais, declamação de poesia, cantares de natal, artes plásticas, histórias, teatro musical e contos de natal,  entre outras. Estas intervenções terão lugar na freguesia de S. Salvador na primeira e última quarta-feira e na freguesia da Gafanha da Nazaré no dia 13 de dezembro.

Fonte: CMI

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Miguel Torga - HOSSANA!





HOSSANA!

Junquem de flores o chão do velho mundo:
Vem o futuro aí!
Desejado por todos os poetas
E profetas
Da vida,
Deixou a sua ermida
E meteu-se a caminho.
Ninguém o viu ainda, mas é belo.
É o futuro...
Ponham pois rosmaninho
Em cada rua,
Em cada porta,
Em cada muro,
E tenham confiança nos milagres
Desse Messias que renova o tempo.
O passado passou.
O presente agoniza.
Cubram de flores a única verdade
Que se eterniza!

Miguel Torga

domingo, 3 de dezembro de 2017

Bento Domingues - Entre o fim e o começo



1. Foi há 60 anos que li, pela primeira vez, na Summa Theologiae, de S. Tomás de Aquino, uma advertência que não se destinava apenas a principiantes: em teologia, é preciso evitar argumentações pretensiosas, sem fundamento rigoroso. Quem as usa oferece aos infiéis matéria para se rirem da fé, pois ficarão com a ideia de que as afirmações dos crentes são todas igualmente estúpidas [1].
Existem instituições eclesiásticas que se tornaram um obstáculo evidente ao desenvolvimento da vida cristã da Igreja e à realização da sua missão essencial na sociedade. Seria normal que fossem submetidas a uma avaliação rigorosa e se procedesse à sua reorientação e reconfiguração. Não é assim que acontece. Não é pelos frutos que se conhece a árvore? Insiste-se, pelo contrário, na sua sacralização para não se poder mexer nelas e arranjam-se razões que servem apenas para afastar os crentes e fazer rir os agnósticos e ateus.
O regime actual dos ministérios ordenados está a secar as comunidades católicas e a privá-las da Eucaristia a que todos os baptizados têm direito. E. Schillebeeckx mostrou que era possível encontrar respostas criativas que não precisavam de passar pelos seminários. O Cardeal Ratzinger bem se esforçou, mas não encontrou razões para invalidar as propostas finais do teólogo dominicano. Yves Congar, a figura maior da eclesiologia católica no séc. XX, declarou que as assinava, sem reticências. Nada feito. A situação continua a agravar-se. O caso tão badalado do “padre da Madeira” encontrou na hierarquia declarações que não deixam ninguém indiferente: uns sofrem com elas e outros riem-se. A retórica eclesiástica, mal argumentada, acaba por deixar mal as crianças, a família, os padres e o celibato. S. Tomás de Aquino tinha razão [2]. 

2. O Papa, neste caso e semelhantes, não pode fazer nada? Não se esqueça que o Papa é bispo de Roma, não é bispo da Madeira ou de Lisboa. Terá um dia de alterar o modelo de escolha e nomeação dos bispos. Mas a nível central, não lhe tem faltado trabalho com a reforma da Cúria. Foi João XXIII, nos tempos modernos, o primeiro a defender que seria um bem geral “sacudir a poeira imperial, que foi caindo, desde Constantino, sobre o trono de Pedro”. O Papa Francisco continua às voltas com essa herança pesada e paralisante [3].
Bergoglio tem um programa envolvente de que não abdica, apesar de todas as resistências. Propõe: “Em vez de ser apenas uma Igreja que acolhe e recebe, tendo as portas abertas, procuramos mesmo ser uma Igreja que encontra novos caminhos, que é capaz de sair de si mesma e ir ao encontro de quem a não frequenta, de quem a abandonou ou lhe é indiferente. Quem a abandonou fê-lo, por vezes, por razões que, se forem bem compreendidas e avaliadas, podem levar a um regresso. Mas é necessário audácia, coragem.” [4]
As dificuldades de Jesus Cristo, ao propor uma mudança de mentalidade aos seus contemporâneos e aos membros do povo a que pertencia, encontrou uma grande adesão no mundo dos excluídos, mulheres e homens, e uma resistência implacável entre os privilegiados e, sobretudo, entre os fariseus, os que não entravam no novo projecto de vida nem deixavam entrar. O Papa Francisco não hesita em lembrar estas passagens dos Evangelhos para comparar com o que está a acontecer com as reformas que propõe. Certos cardeais, bispos, padres, seminaristas — e outros grupos organizados — são os que mais resistem às reformas que ele propôs e que são inadiáveis. As resistências, activas e passivas, são cada vez mais declaradas e ridículas. Assim como aconteceu com Cristo, nenhuma ameaça o tem paralisado.

3. Muito se discutiu se a História tem ou não sentido. Não vou reabrir esse dossier [5], mas fiquei, mais uma vez, fascinado com o desenlace do Capítulo 25 do Evangelho de S. Mateus. É uma parábola. É a coroa de duas anteriores. Parece ser o julgamento final.
Como parábola está sujeita a várias interpretações. É muito estranha. A divindade não está separada do devir do mundo. Mais ainda, está identificada com todas as pessoas, que não têm todas o mesmo comportamento. O que as divide? O modo como olham para o vizinho, para o socorrer ou para o ignorar. É um golpe fatal na religião que está apenas preocupada com Deus. Quem se preocupa só com Deus, nem com Deus se preocupa.
Cristo não surgiu com uma nova organização religiosa concorrente no mundo das religiões. O seu embate constante foi com as instituições do Povo de Deus, que esqueciam e maltratavam quem mais precisava de acolhimento e ajuda. O culto religioso tornara-se o adversário da alegria humana. Isto era absolutamente inaceitável para Jesus. O aforismo “o sábado é para o ser humano e não o ser humano para o sábado” é o símbolo da alteração mais radical no campo religioso, seja qual for a época.
O que, de facto, festejámos no Domingo passado foi, por um lado, a vitória contra a indiferença. Não podemos andar no mundo e dizer não vi, não sei, não é comigo. Por outro, o que faz a diferença e julga a vida de cada um é o estilo da sua própria vida. Quando o Senhor da história se identifica com os socorridos ou abandonados, não deixa nada para o fim. É hoje que cada um diz a última palavra.
Celebramos, neste Domingo, o começo do Advento. Que não estamos no melhor dos mundos possíveis, é evidente. Se julgamos que é impossível alterá-lo, somos suicidas, niilistas. Não seríamos verdadeiramente humanos e muito menos cristãos. Que fazer?


Frei Bento Domingues no PÚBLICO


[1] I q.46.a.2.
[2] Cf. Ricardo Araújo Pereira, Discriminar como Jesus discriminou, Visão, 23.11.2017; Teresa Martinho Toldy, A Igreja fechada no seu Olimpo, PÚBLICO, 25.11.2017
[3] Yves Congar, Igreja serva e pobre, Ed. Logos, Lisboa 1964, p152
[4] Entrevista do Papa Francisco, Sonho com uma Igreja Mãe e Pastora, Paulus, 2013, pp 36-37
[5] Francisco J. Ayala, Darwin Y el Diseño Inteligente. Creacionismo, Cristianismo Y Evolución, Aliança Editorial, Madrid, 2008

Para todas as idades — “24 coisas a fazer antes do Natal”



Um dia para recuperar alguma coisa que já não se usa (porque passou de idade ou existe em demasia) e oferecê-la a quem poderá ter necessidade. Outro para entrar na igreja, acender uma vela, fechar os olhos e pensar no Natal.
Ainda outro dia para se ocupar de quem está próximo, pedir ajuda para si ou para um amigo. Vinte e quatro dias para partilhar, presentear em silêncio, oferecer olhares, boas ações e gentilezas ao próximo.
Da experiência quase centenária do “Mensageiro dos Rapazes”, revista mensal editada pelos frades menores conventuais da basílica de Santo António de Pádua desde 1922, nasceu a ideia de uma espécie de calendário do Advento dirigido a pré-adolescentes de ambos os sexos.
Trata-se de um percurso de aproximação ao Natal feito de 24 etapas, uma por dia, desde o primeiro até 24 de dezembro. Escritos em italiano, os textos, ilustrados, não contêm chocolates mas desafiam os leitores a colocarem-se em jogo com reflexões e ações que envolvam o próximo.
Basta uma ação por dia: desligar o computador, o telemóvel, a televisão, a plataforma de jogos e marcar no calendário por quantas horas se resistiu; presentear jogos ou vestuário em bom estado que já não se usam a quem precisa.
Mais sugestões? Saudar as pessoas que se encontram no caminho; partilhar a merenda com o companheiro que habitualmente se evita; enviar uma mensagem anónima de felicidades a uma pessoa só, a uma família de imigrantes, a alguém com quem se está de costas voltadas.
Perguntar a quem está próximo, a começar pelos pais, como estão e como foi o seu dia… Nada de difícil, tudo a tentar, dia após dia. Será depois natural estender o Advento a todo o ano…
Concebido para leitores dos 11 aos 14 anos, “24 cose da fare prima di Natale” «não renuncia aos objetivos catequéticos e espirituais deste tempo litúrgico que prepara o Natal (espera, caminho, maravilha, vida, oração, encontro), mas procura decliná-los educativamente à medida de rapazes e raparigas», refere a sinopse.
E certamente as suas propostas, redigidas pelo diretor da revista, poderão muito bem ser adaptadas – ou até aplicadas diretamente – aos católicos com mais idade.

Rossana Sisti
In "Avvenire"
Trad. / edição: SNPC
Publicado em 27.11.2017

Georgino Rocha - Movimentos Apostólicos, em saída missionária



Os movimentos na Igreja são dons de Deus que visualizam a presença e acção do Espírito Santo, protagonista principal da missão de Jesus na história da salvação. Dons concedidos a quem se dispõe a dar-lhes acolhimento, a exemplo de Maria de Nazaré, e a cooperar generosa e livremente. Dons que constituem prova eficaz do amor de irradiação missionária para que “os homens consintam na grandeza do seu destino”. Dons que pretendem alargar horizontes aos discípulos e pastores para que, agindo localmente, tenham sempre presente o universal, que é típico da fé católica. Dons que são sementes a florir na sociedade e seus dinamismos e dão rosto irradiante ao “jardim bonito que é a nossa Igreja”.
Esta última afirmação é feita no encontro de movimentos, obras e associações realizado no Seminário de Aveiro no dia da festa de Cristo Rei, Senhor do Universo. Expressa uma visão apreciativa, fruto certamente da leitura crente da realidade e de um sonho a ir-se realizando com a colaboração de todos. Dá azo a uma reflexão que pode ser oportuna e enriquecedora.
De facto, é um jardim e não um canteiro; bonito pela variedade em harmonia que provoca admiração; atraente pelo vigor dos arbustos enraizados na terra e pela beleza das flores a erguerem-se para o alto, aromatizando os ambientes; precário em cada pétala viçosa que depressa murcha, cedendo lugar a outras que uma nova primavera fará surgir; apelativo no seu valor simbólico, pois a vida tem dimensões que urge descobrir e testemunhar e se condensam no jardim cuidado e florido. A metáfora do jardim deixa em aberto clarões de esperança para os tempos que se avizinham. E faz lembrar o hino da Liturgia do Ofício de Leitura de 2ª feira: “Seja a terra um jardim sereno e vasto// sem os ventos do ódio a devastá-lo// e que os homens consintam // na grandeza do seu destino”.
A Igreja reconhece a grandeza da liberdade humana e está ao seu serviço pois essa é a vocação de cada pessoa e das suas múltiplas formas gregárias; pois essa é a verdade que ilumina a consciência onde se pode escutar o eco, ainda que em surdina, da voz de Deus. Nasce daqui, a qualidade da missão que Jesus confia aos seus discípulos e pastores: Prestar um serviço de ajuda e não de substituição à consciência humana para que faça opções responsáveis e meça o alcance de cada decisão.
Os movimentos apostólicos situam-se neste serviço da Igreja à humanidade. Reconhecem que “a glória de Deus é o homem vivo; e que a vida do homem é a contemplação de Deus” na concisa e feliz expressão de Santo Ireneu, bispo de Lyon. Captar esta presença e aprender a sua sabedoria para a testemunhar com audácia é, sem dúvida, um propósito nobre de todo o cristão, sobretudo associado em movimento de irradiação missionária.
Onde estão os movimentos, que áreas de intervenção preferem, que sintonia manifestam com os dinamismos culturais que dão corpo à sociedade e rumo à história, que áreas ficam a descoberto e é urgente ter em conta por fidelidade ao Evangelho de Jesus e à mensagem social da Igreja, hoje revigorada pelo Papa Francisco e tantos outros bispos, padres e leigos? Com que “ferramentas” apostólicas estão munidos e que disposições espirituais alimentam o seu compromisso missionário? Perguntas que têm muitas irmãs a indicar caminhos quase esquecidos, mas de grande relevância e urgente resposta.
“Valorizar o papel dos movimentos apostólicos de intervenção pública” é uma linha de acção do Programa Pastoral “Dai-lhe vós mesmos de comer”, 2017/2018, da nossa Igreja diocesana. Linha claramente definida e, espera-se, eclesialmente assumida. “Nada nos é indiferente” é o tema do III Encontro Nacional dos Leigos ocorrido em Évora a 7 de maio passado; tema que tem como húmus nutriente: “A realidade contemporânea, a encíclica do Papa Francisco ‘Laudato Si’ sobre o ‘cuidado da casa comum’ e o Jubileu da Misericórdia (que) desafiam-nos a atenção, a inteligência, o coração e a ação”.
De outros países chegam notícias sobre as opções da Igreja nesta vasta e complexa área de apostolado. Se a presença dos leigos é necessária nas paróquias, não o é menos nos espaços onde vivem e se realizam profissionalmente ou diverte em convivência saudável e descontraída; onde se buscam caminhos de verdade e formam consciências; onde se reabastecem das energias do Evangelho e da partilha solidária com quem está nas “linhas da frente” da missão apostólica.