sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Anselmo Borges - Onde estarei, quando deixar de existir?

Anselmo Borges


1 A pergunta do título é feita, textualmente, por Ivan Ilitch, nas vésperas de morrer. Uma pergunta de abismo e de calafrio, que abala até à raiz do ser, terrível e lancinante.
Há muitos anos, tinha lido A Morte de Ivan Ilitch, uma das obras-primas de Tolstoi, pequena em volume, mas imensa em humanidade: vai até aos abismos da nossa condição. Recentemente, o livrinho vinha acoplado, gratuitamente, a uma revista. E reli. E lá está a pergunta, que retomo, para algumas reflexões, em vésperas do Dia de Todos os Santos e do Dia dos Finados (1 e 2 de Novembro), os dias em que as nossas sociedades, que fizeram da morte tabu - disso não se fala - permitem alguma abertura à pergunta que está na raiz de todas as perguntas: onde é que eu estarei, quando já cá não estiver?
Ivan Ilitch, o conselheiro do Supremo Tribunal, sabia que ia morrer e estava apavorado, desesperado. "No fundo da sua alma, estava bem certo de que ia morrer mas não só era incapaz de se afazer a essa ideia, não a compreendia sequer, era incapaz de a compreender." Ele também tinha estudado lógica e lá estava um exemplo de silogismo: todos os homens são mortais, Caio é homem, logo Caio é mortal. Isso era evidente. Mas Caio era um homem em geral e, claro, tinha de morrer, era natural que morresse. Ivan Ilitch, porém, não era Caio, era ele mesmo, único, irrepetível. E estava perante o abismo sem fundo do incompreensível. Como compreender que morresse? Era simplesmente horrível, apavorante, paralisante, incompreensível. Impossível. Tentava, pois, escorraçar aquela ideia, "como coisa falsa, anormal, doentia, tentando substituí-la por outras ideias, normais e sãs". E, contudo, era assim mesmo: ia morrer. Essa realidade bruta erguia-se, impenetrável e certa, diante dele.
Ivan Ilitch tinha um tormento maior, que consistia na mentira, admitida por todos: afinal, ele apenas estava doente e não era um moribundo. Mas ele sabia bem que o esperavam sofrimentos terríveis e a morte. Essa mentira atormentava-o e sofria por não quererem admitir a realidade bruta, tendo ele próprio de participar naquela intrujice. "A mentira que cometiam para com ele nas vésperas da sua morte, essa mentira que rebaixava o acto formidável e solene da sua morte até ao nível das suas visitas, dos seus jantares, era atrozmente penosa a Ivan Ilitch. E, coisa estranha! Esteve muitas vezes quase a gritar-lhes, quando eles exibiam à volta deles as suas histórias da carochinha: "Basta de mentiras! Bem sabeis e eu bem sei que vou morrer! Acabem ao menos com essas mentiras!" Mas nunca teve coragem de agir assim. O acto atroz da sua agonia era rebaixado pelos que o rodeavam, bem o via, ao nível de um simples dissabor." Aliás, outros pensamentos ocupavam agora alguns colegas: o aborrecimento de terem de ir ao funeral, mas, com a morte dele, também poderia estar mais próxima a sua promoção e a dos amigos, tinham sobretudo um sentimento de alegria: era ele que estava a morrer e não eles. Ivan Ilitch, esse, gemia de angústia, porque os dias e sobretudo as noites eram intermináveis: "Se isto pudesse acabar mais depressa. Mais depressa? O quê? A morte, as trevas!... Não, não! Tudo é melhor do que a morte!" E chorava e gritava por causa da sua situação, "pela horrível solidão, pela crueldade dos homens, pela crueldade de Deus, que o tinha abandonado".

2 Philippe Ariès chamou a atenção para o facto de esta obra de Tolstoi ser dos primeiros avisos de que estava a caminho a "mentira" sobre o morrer e a morte. Na atitude tradicional, a morte era natural e quase familiar, mas, entretanto, ela tornou-se tabu, o último tabu. Não é de bom tom referir-se-lhe. Disso pura e simplesmente não se fala. O próprio luto é ocultado.
O que se passou? Evidentemente, a "morte" de Deus e a desafeição pela religião deixaram as pessoas no desamparo. Vive-se numa sociedade da produção e do consumo, do êxito, do hedonismo, uma sociedade tecnocrática, poderosíssima nos meios mas paupérrima nas finalidades humanas, posta em causa precisamente pela morte. A morte não deixou, portanto, de ser problema; pelo contrário, de tal modo é problema, o único problema para o qual este tipo de sociedade não tem solução, que a única solução é ignorá-la, como se não existisse. Vive-se então na banalidade rasante, na superfície de uma existência agitada e fragmentada, na vertigem do tsunami (des)informativo e na busca do êxito a qualquer preço e no espectáculo indecoroso de um poder interesseiro, sem atenção ao essencial e decisivo, ignorando os outros, numa solidão atroz.
Não sou de modo nenhum partidário do pensamento mórbido sobre a morte, que foi muitas vezes utilizada, também pela Igreja, para dominar e tolher a vida. Mas estou convicto de que, sem o pensamento são da morte, se perde o essencial. Porque é ele que obriga a distinguir, como sublinhou M. Heidegger, entre a existência autêntica e a existência inautêntica, entre o justo e o injusto, entre o que verdadeiramente vale e o que realmente não vale, e a abater tanta vaidade ridícula e a pouca-vergonha. Esse pensamento não envenena a vida, pelo contrário, leva a viver digna e intensamente cada momento e a abrir-se aos outros. Já perto da morte, o filósofo H. Marcuse voltou-se para o amigo, também filósofo, J. Habermas: "Sabes, Jürgen? Agora sei onde se baseiam os nossos sentimentos morais: na compaixão."
A curto, a médio, a longo prazo, todos iremos estando mortos. Com a morte, acaba tudo? É tão próprio do ser humano saber da sua morte como esperar para lá dela. Para a eternidade vamos: a eternidade do nada ou a eternidade da vida plena em Deus. É razoável esperar e confiar em Deus, e a razão está em que, no próprio acto de confiar, se mostra a razoabilidade desse acto, porque então, contra o absurdo, o mundo e a existência encontram sentido, sentido último, a salvação.

Anselmo Borges no DN

Georgino Rocha — AMAR: Critério único da vida



Jesus manifesta uma paz de espírito admirável, transmite uma liberdade interior brilhante, reage serenamente à provocação dos fariseus em busca de uma prova acusatória. O episódio narrado por Mateus ocorre nas imediações do Templo. A provocação surge na forma de pergunta sobre o maior mandamento. Pergunta fundamental não apenas para os Judeus, mas para nós, os seres humanos, chamados a realizar a nossa vocação ao amor. Mt 22, 34-40.

O amor é a energia vital que nos humaniza e enobrece, tem a sua fonte em Deus e manifesta-se em opções e critérios, atitudes e gestos concretos. É dinamismo de relação que revigora o laço solidário que nos une e recheia a consideração que nos dispensamos. É alimento de esperança no futuro e força de envolvimento no presente. Sem ele, a pessoa enclausura-se no egoísmo e a sociedade empobrece no tecido por onde flui a seiva do desenvolvimento integral. Sem ele, o coração faz-se insensível e a vontade indiferente, a inteligência rígida e o desejo fantasioso, as leis espartilhos e os mandamentos imposições insuportáveis. A vida entrincheira-se no reduto autorreferencial e perde horizontes de sentido, cultivando apenas o jardim da zona de conforto individualista.

Os fariseus dirigem-se a Jesus e querem saber qual é o maior mandamento, pois tinham 248 preceitos e 365 proibições, ou seja 613, tal era o seu empenho em prever todas eventualidades na vida e assim cumprir a vontade divina. Preocupação legítima para um regime de religião controlada, de sistema vigiado, de segregação de “puros e impuros”. Mateus, porém, adverte que a pergunta entranhava certa malícia, pois era para apanhar Jesus em algo acusatório. A resposta surge diáfana e serena como se nada de especial estivesse a acontecer: Amar a Deus e ao próximo como a ti mesmo. E para não haver dúvidas, acrescenta: Nestes dois mandamentos se encerra a Lei inteira e os profetas, ou seja toda a revelação conhecida da vontade de Deus. Resposta sublime. Deixa desarmados os inquisidores. Terão ficado satisfeitos ou amargurados, esclarecidos ou intrigados? Tudo é possível. Mas não desarmam e as próximas cenas apontam para a retaliação, a prisão e a condenação.

Jesus põe a claro que há um só amor que se manifesta em intensidades diferentes. Concretamente, a resposta indica três: Amar a Deus com doação total, pois Ele toma a iniciativa de vir ao nosso encontro, amar os outros sem reservas, tendo como referência o bem que cada um deseja para si. Ou dito de outro modo: Aprecia o teu bem com o critério de Deus, respeita e solidariza-te com o próximo com a medida que usas para ti mesmo, reconhece que o amor te faz entrar e viver no circuito de amor próprio de Deus, comunhão das três pessoas divinas.

O amor abre-nos a Deus de quem procedemos e com quem nos relaciona, faz-nos ver os outros humanos como irmãos empenhados no mesmo bem, e impele-nos a apreciar as criaturas e a criação, o ambiente e a natureza como herança a valorizar e a transmitir às próximas gerações. Por isso, o amor abrange a pessoa toda e deve ser cuidadosamente apreciado como valor maior e educado como dimensão superior da nossa comum humanidade. Outras dimensões que certa imprensa “cor-de-rosa” difunde e de que se alimenta serão sempre pirilampos de luz intermitente a brilhar na noite escura do gosto instantâneo, do prazer descartável, do biblô de satisfação imediata.

O amor de Deus é derramado em nossos corações e quer irrigar as veias da humanidade e fazer surgir a correspondente civilização, espelho da nossa dignidade. A construção do sociedade passa por aqui. Só o amor edifica, garante São Paulo ( 1Co 13, 4-7) . Escala de valores, opções de vida, critérios de acção, atitudes, sentimentos e palavras hão-de ser reflexo acessível nos ambientes da família e da convivência social, do lazer e da profissão. Hão-de ser veiculados pela educação e pela comunicação, pela relação de proximidade benevolente e pela atenção solícita a tudo o que diz respeito ao que acontece a todos, sobretudo aos mais pobres, como recomenda o livro do Êxodo na 1ª leitura deste domingo.

Inicia-se, hoje, a semana dedicada à educação cristã. Os nossos Bispos enviam-nos uma mensagem com o título expressivo: «A Alegria do Encontro com Jesus Cristo». É dela que retiramos alguns parágrafos que nos fazem sentir o realismo do amor, sentido único da vida.

A alegria do encontro é, antes de mais, a alegria de nos sentirmos amados, de modo pleno e incondicional. Mesmo no pecado? Então ainda mais!... já que a carência é maior... É também a alegria pelo “novo horizonte” e o “rumo novo” que esse amor dá à nossa vida… É, enfim, a alegria de vermos a nossa vida a prolongar-se nas vidas daqueles a quem a damos: os pais nas dos filhos; os catequistas nas dos catequizandos; os professores nas dos alunos; todo o educador nas dos educandos (cf. CEP “Catequese: A alegria do encontro com Jesus Cristo”, IV). Uma alegria que cresce, quando também eles se dão – a partir do encontro com Cristo, mediado por cada um de nós, que então pode, por isso, dizer: É Cristo que vive em mim (Gl 2, 20)… Acolhamos, por tudo isso, o convite do Papa Francisco a “todo o cristão, em qualquer lugar que se encontre, a renovar (…) o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de o procurar no dia-a-dia sem cessar” (A Alegria do Evangelho, n. 3).

Georgino Rocha

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Agostinho da Silva sobre os políticos



«Nenhum político deve esperar que lhe agradeçam ou sequer lhe reconheçam o que faz; no fim de contas era ele quem devia agradecer pela ocasião que lhe ofereceram os outros homens de pôr em jogo as suas qualidades e de eliminar, se puder, os seus defeitos.»

Agostinho da Silva

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Tempo de Outono — Árvores depenadas



Anda não chegou o frio outonal? Não. Mas os seus sinais já estão à vista. À vista nas roupas que usamos à medida do tempo que faz. As árvores e arbustos começam a ficar nus, depenados, como que a anunciar que vão hibernar. Daqui a uns tempos, já a vida vegetal estará em sono profundo. Mas nós, enfrentando o frio corajosamente, continuaremos por cá a pôr a conversa em dia, nem que seja ao calor da fogueira. Bom outono para todos.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Presidente da República condecora Navio escola Sagres



O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou hoje, terça-feira, o NRP Sagres com a insígnia de membro honorário da Ordem Militar de Avis, classificando o Navio escola como uma verdadeira instituição nacional e “expressão da alma portuguesa”.  O PR afirmou, na cerimónia, que decorreu a bordo da Sagres, que este navio é “uma escola de bem formar e bem servir”, reconhecida por todos, nos seus 80 anos de vida, 55 dos quais ao serviço de Portugal. 

Ler mais no Observador e aqui 

Nota: Foto do meu arquivo 



GNR alerta idosos para o perigo dos burlões




«Dê uma aparência de ocupação à sua residência e não divulgue que vai de férias; feche bem as portas e as janelas, mesmo quando sair apenas por alguns minutos; guarde os seus objetos de valor num lugar seguro e quando se ausentar de sua casa, por vários dias, informe a força de segurança da sua zona.» Estas foram algumas recomendações dadas a poucos idosos que participaram no encontro promovido pela GNR (Guarda Nacional Republicana), no dia 19 de outubro, à tarde, no salão nobre da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré.
O “Programa de Apoio 65 — Idosos em Segurança” é uma iniciativa do Ministério da Administração Interna e tem por objetivos apoiar a camada da população mais vulnerável, «como é o caso dos idosos, principalmente os que vivem mais afastados ou isolados», sendo uma resposta ao nível da segurança e apoio social, «dentro desta nova filosofia de servir socialmente». E porque a segurança «é responsabilidade de todos» deve começar por cada um de nós.
Para falar aos idosos presentes, a equipa da GNR, que apresentou o programa “Idosos em segurança 2017», era constituída por Pedro Guedes (coordenador) David Dias e José Sá. Esclareceu que apoia idosos, escolas e comércio, exercendo um policiamento de proximidade, porta a porta, enquanto estabelece parcerias com as Juntas de Freguesia. No fundo, trabalha, fundamentalmente, numa perspetiva de prevenção. 
A equipa da GNR recomendou aos idosos que não deixem entrar pessoas desconhecidas em casa, «sem terem a certeza de quem são», fingindo que está acompanhada de um familiar ou amigo e «chamando por ele». 
Na rua, os idosos devem sair acompanhados e circular por vias bem iluminadas e movimentadas, mas nunca podem ser portadores de quantias elevadas. Se levarem bolsas, têm de as trazer fechadas e junto ao corpo. Nos passeios, as pessoas têm de transportar os seus sacos do lado oposto às ruas e estradas ou bem junto ao peito.
Importa ainda ter em conta que os burlões se apresentam, normalmente, bem vestidos, fato e gravata, são afáveis, têm conversas convincentes e cativantes, com artes de levar as vítimas a fazerem o que não querem. Alguns apresentam-se como membros de instituições públicas e procuram ajudar junto das caixas do multibanco, sendo importante recusar qualquer auxilio.
A equipar da GNR considerou de muito interesse a presença de cães junto dos idosos, em casa, por darem sinais de quem chega, distinguindo os conhecidos dos estranhos.
Os mais velhos precisam de ter à mão os telefones da GNR ou de outra força de segurança, dos Bombeiros e o número de emergência, que é o 112. 

Fernando Martins

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Filarmónica Gafanhense celebrou aniversário



A Filarmónica Gafanhense esteve em festa, ontem, domingo, com a celebração do 181.º aniversário, com três atos simbólicos: Romagem ao cemitério para evocar quantos serviram a Banda, participação na Eucaristia das 11h15, que solenizaram, em ação de graças e em sufrágio dos que já não estão entre nós, e concerto na Fábrica das Ideias, antigo Centro Cultural.
Embora não tenha participado nos festejos, para além da participação na missa, por razões familiares, a verdade que é não posso deixar passar a oportunidade de felicitar a Filarmónica, formulando votos dos maiores êxitos, tanto no domínio do ensino da música como nos concertos que executa. E tudo isso será mais possível, graças às novas instalações que ocupa na Casa da Música, em parceria com o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré.
Há uma outra faceta que me tem impressionado, pela positiva, que é a sua participação em muitos eventos levados a cabo no Município de Ílhavo, sinal da sua ampla envolvência na comunidade. 
Os meus parabéns.

1.º Prémio de "Boas Práticas" para a Biblioteca de Ílhavo





«A Biblioteca de Ílhavo recebeu o 1.º Prémio de 'Boas Práticas em Bibliotecas Públicas Municipais', pelo projeto 'Ao Som das Histórias'."Com o objetivo de cumprir uma das missões veiculadas no Manifesto da Unesco para as Bibliotecas Públicas, 'Criar e fortalecer os hábitos de leitura nas crianças', em 2011, a Biblioteca Municipal Ílhavo desafiou a Rádio Terranova a criar um programa semanal, que dinamizasse a leitura de uma história destinada a crianças e não só", pode ler-se num comunicado de imprensa."A primeira história foi para o ar no dia 5 de Outubro de 2011 e, desde então, todas as semanas crianças e adultos, autores, ilustradores, músico, pessoas mais ou menos conhecidas do panorama literário, musical e cultural português deram a sua voz às histórias: Afonso Cruz, André Letria, António Mota, António Zambujo, David Machado, João Pedro Mésseder, João Vaz de Carvalho, Luísa Sobral, Madalena Matoso, Maria João Abreu, Miguel Ângelo, bem como numerosos membros da sociedade civil ilhavense, e alguns professores e pais das crianças envolvidas, que deram voz a este projeto, contribuindo para o seu sucesso e para o cumprimento do objetivo: levar mais longe a Biblioteca Municipal de Ílhavo, as Histórias, o Livro e a Leitura".»

NOTA: 

1.Congratulo-me com a atribuição do 1.º Prémio à Biblioteca Municipal de Ílhavo, mas também ao contributo da Rádio Terra Nova. Este galardão mostra à evidência a importância da colaboração assumida pelas duas instituições do nosso município. Exemplo a seguir noutras áreas, obviamente;
2. Fotos da RTN e da BMI.
Ler mais aqui 

500 anos da Reforma Protestante – De inimigos a irmãos


Um texto de Luís Manuel Pereira da Silva

«Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero envia ao arcebispo de Mogúncia as 95 teses, proposições em que se distancia de práticas que ele considerava inaceitáveis na Igreja de Roma. Decorreram, precisamente, 500 anos. A este evento costuma atribuir-se o estatuto de evento fundador da Reforma Protestante. Plasticamente, é registada a força deste acontecimento através da imagem de Lutero afixando as teses na porta da Igreja de Vitemberga, uma prática, aliás, frequente entre os académicos que expunham, assim, as suas ideias, dispostos a discuti-las. No caso de Lutero, porém, o evento assume um carácter que ultrapassa a dimensão académica e configura-se como o princípio de um movimento que vem a assumir contornos de enorme relevância eclesial (conduz à rutura com Roma) e política, criando divisões no império dirigido por Carlos V a partir de 1519.

Não nos interessam aqui, porém, os dados de ordem histórica, mas reter que, felizmente, hoje, já não estamos nesse ponto. Costumo recordar aos meus alunos que, quando é estudada a Reforma e a Contrarreforma, na disciplina de História, só lhes é contado o primeiro capítulo dessa narrativa, pois, felizmente, hoje, já não estamos nessa fase do conflito que foi encontrando, em alguns eventos pacificadores, como com o édito de Nantes de 1598, alguns mais ou menos efémeros raios de conciliação. A história deste caminho fez-se, até finais do século XIX e inícios de XX, com grandes divergências e conflitos. Feridas que a história levou tempo a sarar. Católicos e protestantes olharam-se, durante tanto tempo (demasiado tempo!), como inimigos. Basta recordar que, na Irlanda do Norte, essa é uma dolorosa ferida ainda com escaras.»

Ler todo o texto aqui

domingo, 22 de outubro de 2017

MaDonA — Dia Internacional da Gaguez


A data, estabelecida em 1998, visa mostrar as dificuldades, traumas e receios que as pessoas com gaguez enfrentam, diariamente, no ato de comunicação. 
De um modo geral, a gaguez é uma perturbação da fluência do discurso em que se verificam bloqueios, repetições e prolongamentos de sons. Estas manifestações podem ser acompanhadas de movimentos faciais e ou corporais. 
 A pertinência da sua avaliação verifica-se porque a gaguez afeta a comunicação e provoca um profundo sentimento de desconforto ao seu portador, pois quer comunicar e acaba por ser discriminado pelos demais que dele fazem chacota. Em regra, o gago apresenta problemas de isolamento social, de angústia e de um aumento da ansiedade. 
É comum que, as pessoas que gaguejam não sejam capazes de assumir o seu problema, pelo que tendem a aparentar uma falsa tranquilidade. 
 Como estratégia para evitar serem vistos como gagos, costumam fugir às palavras e letras em que gaguejam mais o que compromete o sentido do discurso. 
 Nesta situação o gago fica com a frustração de não ter dito o que queria ou obriga-se a reformular a conversa passando novamente pelo suplício de falar.  
Neste contexto, a gaguez é tida como um problema vital e uma limitação na qualidade de vida do sujeito.  
Perante este cenário, estas pessoas precisam de ajuda técnica para aliviarem esse sofrimento. O apoio familiar é fundamental, bem como o do grupo de amigos, na escola e demais atividades em que participa.  
 Um exemplo clássico de autossuperação, relativamente ao problema, foi Demóstenes (384 a.C. a 322 a.C.) um proeminente orador e político ateniense. A sua oratória constitui uma importante expressão da capacidade intelectual de Atenas e um olhar sobre a política e a cultura da Grécia antiga, durante o século IV AC. Demóstenes aprendeu retórica estudando os discursos dos grandes oradores antigos. 
Garoto ainda, Demóstenes assistiu a um julgamento no qual um orador chamado Calístrato teve um desempenho brilhante e, com a sua verve, mudou um veredicto final. Demóstenes ficou impressionado com o poder da palavra, que parecia tudo vencer. Assim, alimentou a esperança de se tornar um grande orador - sonho que parecia impossível devido à sua gaguez. Conta-se que Demóstenes, à força da sua perseverança, ultrapassou o problema declamando poemas enquanto corria na praia contra o vento e forçando-se a falar com pedrinhas na boca. 
Do Latim balbutius (=pedra) derivou para português, por via erudita, o verbo balbuciar (gaguejar). Após treino intenso, Demóstenes venceu a gaguez e tornou-se o maior orador da Grécia. 
Desta lição de vida, se pode tirar a ilação: querer é poder. 

MaDonA 

11.10.2017