quinta-feira, 24 de agosto de 2017

"A PESCA POR UM MAR SEM LIXO"

Aqui não se vê lixo
Ministra do Mar

A Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, apresentou hoje, pelas 16 horas, no Porto de Pesca Costeira, o projeto "A Pesca por um Mar sem Lixo", integrado num dos compromissos voluntários assumidos por Portugal no âmbito do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 14 – Oceanos, segundo informa o sítio do Porto de Aveiro. Trata-se de um projeto, tanto quanto é possível saber, de grande interesse para o asseio das nossas zonas ribeirinhas. 
Quem passeia com alguma regularidade pelas referidas zonas, junto do mar ou da ria, pode confirmar que a permanência de pescadores é notória e compreensível. Pescar faz parte da vida humana desde tempos imemoriais. Contudo, também se nota com frequência que alguns pescadores, menos dados à limpeza e ao cuidado da natureza, deixam os espaços carregados de lixo que os anzóis arrancam da maré. 
Eu sei que nem sempre há caixotes do lixo por perto, mas também sei que, se cada pescador for asseado, as zonas costeiras nunca ficarão conspurcadas

Poema para este dia — Raízes


Raízes

As minhas raízes são como jasmim

não são fortes
não são profundas
apenas leveza
apenas perfume
estar aqui é apenas o início
de uma aventura

As minhas raízes são como jasmim

imaginava a vida como uma árvore
com raízes sólidas
com braços e abraços
com um fim e um princípio
com amor e ódio

Descobri a beleza do efémero

as minhas raízes
são apenas perfume

Orlando Jorge Figueiredo

In “os pássaros habitam a casa”



Foto do dia — Aldeia na serra



Gosto de recordar. Uma foto pode ser sempre um momento de reviver dias ou momentos agradáveis. Hoje, no encontro com esta imagem que achei no meio de tantas, registada em plena serra, fui até lá. A aldeia, cujo nome se varreu da minha memória, deve permanecer intacta com séculos de história e de vida, ora serena ora agitada, de gente que respira ares puros por todos os poros, enriquecendo a alma de sonhos.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Certificado de excelência para a Universidade de Aveiro

Recanto da UA
Festa da Bênção dos Finalistas 

«A Universidade de Aveiro foi distinguida, pelo segundo ano consecutivo, com o certificado de excelência do TripAdvisor, conjunto de sites que compõem a maior comunidade de viagens do mundo. Este selo é atribuído a locais turísticos que oferecem serviço de alta qualidade.» Esta é mais uma razão para nos sentirmos vaidosos com a UA, tantas vezes premiada pelos mais diversos motivos. Os meus parabéns. 

Ler mais aqui 

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Como os fotógrafos da National Geographic viram o Eclipse Solar






Aprecie a beleza e o rigor da oportunidade dos fotógrafos da revista National Geographic no dia do recente eclipse solar. Os autores estão referenciados junto aos seus registos.

Henrique Raposo — E se a barriga de aluguer for um útero artificial?


Não, não é um delírio à Frank Herbert ou à Philip Dick. O útero artificial deixou a estratosfera da ficção científica e aterrou na realidade. Uma gestação mecanizada e sem a necessidade do corpo da mulher já não é uma impossibilidade. Já estão a ser feitas experiências com bezerros criados em úteros artificiais que se assemelham às máquinas que suportam as pessoas em coma: bombas mecânicas, tubos e seringas bombeiam ar e injectam os nutrientes que permitem o crescimento do feto.

Mas a pergunta fundamental não está no campo da possibilidade, está no campo da legitimidade. A questão “é possível criar um ser humano num útero artificial?” é insignificante ao pé do dilema “é legítimo criar um ser humano num útero artificial?”. A ciência não se legitima a si própria.
Se servir para salvar ou proteger de forma mais tranquila a vida dos chamados bebés prematuros, esta máquina pode ser uma dádiva, um avanço notável da medicina. Contudo, se for usada como barriga de aluguer dos caprichos dos Ronaldos e das Kardashians, esta máquina pode ser uma porta para um inferno pós-humano onde o ser humano passa a ser uma mercadoria como outra qualquer.

Neste cenário, o útero artificial deixa de ser medicina e passa a ser distopia, deixa de ser um instrumento que auxilia uma vida já criada (o bebé prematuro) e passa a ser um portal para a criação de seres humanos ex nihilo. Ou seja, estamos à beira de um pesadelo ético (o negócio das barrigas de aluguer torna-se ainda mais fácil porque a “mãe” passa a ser uma relíquia), de um pesadelo político (um útero mecânico é o sonho molhado dos nazis) e de um pesadelo criminal - se o comércio de seres humanos e de órgãos já é uma realidade, como será no dia em que as máfias poderão simplesmente criar seres humanos para vender ou para servirem de estufas de órgãos humanos para colher e vender?

Sem grande alarme colectivo, estamos a caminhar para uma sociedade em que o ser humano pode ser comercializado ao abrigo das leis do mercado. O que não deixa de ser curioso: a resistência ao comércio de bens inertes (vulgo “capitalismo”) coabita lado a lado com a indiferença perante o comércio de seres humanos. Mas, já que invoco o conceito de “ser humano”, convém prosseguir com uma pergunta: será que um bebé criado ex nihilo numa máquina ainda pode ser considerado um “ser humano”? Uma pessoa que entra neste mundo através de uma máquina e não através de outro ser humano ainda pode ser considerado “ser humano”?

Até Jesus precisou de Maria para entrar neste mundo. O Salvador não apareceu do nada num portal de metal à ficção científica; Ele precisou de Maria, portal humano. Julgo que até os não crentes percebem este ponto de forma intuitiva. E também não é preciso acreditar no conceito cristão de “alma” para perceber que nós não somos apenas matéria, não somos compostos apenas de carne e fluidos. Durante a vida intra-uterina, a nossa personalidade começa a ser formada através da interacção com a nossa mãe. No vácuo da máquina, que tipo personalidade pode ser desenvolvida?

Este debate devia estar a ser feito, mas o tema tem sido desprezado. Porquê? A meu ver, a razão para o silêncio é a seguinte: o útero artificial desarruma os termos actuais do debate do aborto. Os defensores da “IVG” tentam tudo para desumanizar o nascituro, tentam reduzir ou menosprezar a vida intra-uterina, para assim retirar a carga odiosa do acto. Ora, o útero artificial vem mostrar é que “aquilo” não é um “mero amontoado de células”. Moral da história? Paradoxalmente, o útero artificial vem mostrar que os críticos do aborto sempre tiveram razão. O problema é que abre uma nova caixa de Pandora.

Li na Renascença 

Olhos sobre o Mar 2017 — Preto e Branco e Cor


1º Prémio e Melhor do Município de Ílhavo:

Autor: Leonardo Mendes de Oliveira Ferraz Vieira
Titulo: Que me consuma a maré
Local: Praia da Barra | Ílhavo


2º Prémio:

Autor: Lisia Graciete Martins Pereira Lopes
Titulo: Todos querem ver o mar
Local: Praia da Granja | Gaia




3º Prémio:

Autor: André Pina Moreira Boto
Titulo: Reza
Local: Montegordo


1º Prémio:

Autor: Ana Filipa Scarpa
Titulo: Olhos sobre o Mar
Local: Cascais


2º Prémio

Autor: Ernesto Orlando da Costa Matos
Titulo:Aos pés do Mar
Local: Praia do Meco

3º Prémio

Autor: Ana Filipa Scarpa
Titulo: A festa
Local: Costa da Caparica

«Aberto a todos os fotógrafos profissionais ou amadores, o tema do Concurso é “O Mar” em todas as suas vertentes, e tem caráter territorial exclusivamente nacional (terrestre ou zona marítima exclusiva). Este Concurso conta com o apoio da Direção-Geral das Artes e do Diário de Aveiro.
Os 50 melhores trabalhos estarão expostos, durante o mês de agosto, no Navio Museu Santo André.
A entrega dos prémios decorrerá neste navio em data a informar brevemente.»

Fonte: Ver mais na CMI

domingo, 20 de agosto de 2017

A justiça em Portugal é “mais dura” para os negros

Meninos (foto da rede global)
"A sensação que tive quando fiz trabalhos de inspecção nas comarcas de Lisboa Oeste e Norte foi que, para os mesmos crimes, as penas eram mais leves para cidadãos portugueses. Parece que há um código para uns e um código para outros”

João Rato, procurador

A reportagem que li no PÚBLICO deixou-me revoltado pela injustiça com que a Justiça Portuguesa trata quem enfrenta os tribunais. Afinal, a cor da pele dita a sentença: amarga para os negros e branda para os brancos. Quem havia de dizer que alguns magistrados cometem crimes desta natureza, num país que há mais de 40 anos vive em democracia, onde os cidadãos têm, ou devem ter,  os mesmos direitos e as mesmas obrigações. 


sábado, 19 de agosto de 2017

Uma passagem por Mira — Há males que vêm por bem




Há males que vêm por bem. Há dias, mais concretamente em 3 de agosto, eu e a Lita resolvemos visitar a praia de Mira, para apreciar o ambiente, refrescar as ideias e almoçar por ali, de preferência com mar à vista. Fomos cedo porque era preciso arrumar o carro, de forma que eu não tivesse de caminhar muito. Os propósitos eram bons, mas tivemos azar. Estacionar tornou-se impossível. Corremos um sem-número de ruas e ruelas, largos e parques de estacionamento, mas tudo estava abarrotado. Regressar a casa era impensável. Vai daí, rumámos à vila de Mira por onde temos passado inúmeras vezes, mas sem tempo suficiente para olhar o velho burgo que vem de tempos pré-históricos. E afinal valeu a pena. Carro arrumado, acolheu-nos um largo arborizado com lago florido, estátuas a homenagear quem serviu a terra e quem dela foi senhor, o Infante D. Pedro, da “Ínclita Geração”, no dizer certeiro do poeta. Almoço simples, como simples somos nós. No fim de tudo, importa reconhecer que, realmente, há males que vêm por bem, sendo certo  que vale bem a pena parar, porque a pressa, quantas vezes, nada nos dá.

"Mas, pera defensão dos Lusitanos,
Deixou, quem o levou, quem governasse
E aumentasse a terra mais que dantes:
Ínclita geração, altos Infantes."

"Os Lusíadas", Canto IV

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Fui hoje à praia — Uma surpresa



Anuindo ao convite da minha filha, Aida Isabel, Aidinha para nós, fui hoje à praia da Barra. Tempo assim-assim, com nevoeiro a ensombrar e a roubar-nos o sol benfazejo, lá fomos. Gente por todos os lados, passos apressados para arranjar um cantinho no areal. Trouxas às costas, com sacos, saquinhos e saquetas, mais para-ventos e guarda-sóis, arcas frigoríficas portáteis, chapéus de todos os tamanhos e feitios, em estilo de quem vai para ficar por ali o dia inteiro… a iodar os corpos e a lavar o espírito com a aragem da maresia.
A Aidinha às voltas para estacionar o carro… tudo cheio. E para não me forçar a longa caminhada, dita a sentença: «Ficas por aqui junto ao farol, que eu vou arrumar o carro.» E fiquei tranquilo a presenciar o espetáculo do povo em férias na praia da Barra.
Demorou um pouco, mas de tão divertido, por ver tanta gente apressada, velhos e novos, famílias inteiras, nacionais e estrangeiros, residentes e emigrantes, estes identificados pela algaraviada da conversa com expressões de linguajares mistos, nem senti o tempo passar. E lá chegou a minha filha.
«Vamos para a praia, que te quero oferecer uma surpresa”, disse ela. E lá fomos, eu com a máquina fotográfica e um livro, “Nação Crioula”, de José Eduardo Agualusa, angolano, mas com origens ilhavenses, que ando a reler (li-o em 2003), graças à oferta da Revista LER, pela renovação da assinatura. Ela levou os seus apetrechos pessoais.
Alérgico como sou a pisar o areal, apesar de estar de sandálias, procurei os passadiços de cimento e a dada altura ela apontou-me o caminho certo, para me dirigir, admiti, para a tal surpresa. «É por ali», disse a Aidinha. E pisei então a praia, pé ante pé, para a areia não me incomodar. De repente, dei de caras com a minha cadeira de encosto do nosso relvado, guarda-sol vermelho, toalha estendida. Tudo preparado, a correr, para me receber. E fiquei sem fala por uns instantes, para depois me rir com gosto. Os filhos são assim.

Fernando Martins

Os Fogos Florestais



Os fogos florestais fazem parte indelével das nossas  memórias. Sempre existiram associados ao calor dos verões. E disso tem dado conta a comunicação social, conforme a época. Inicialmente, apenas os jornais e rádios e a seguir as televisões. Na era do Estado Novo, os fogos e outras calamidades eram camuflados, quando não bloqueados, por razões próprias da ditadura. Era preciso manter a ilusão de que tudo no país era um mar de rosas. Depois, ditaram as leis da transparência democrática, muitas vezes, porém, com jogos de cintura para fugir às críticas e às responsabilidades.
Hoje, toda a gente sabe tudo na hora exata. E a partir daí, a competição entre órgãos de comunicação atinge extremos que arrepiam, quando ao vivo plasmam cenas de dramas pungentes, sem respeito algum pela dor de quem vê toda uma vida levada pelo fogo devorador. A moderação na reportagem, na minha ótica, deve ter carta branca, sem fugir à verdade dos factos. 
De muito positivo, destaco sobremaneira as manifestações de solidariedade do povo português, que nunca virou costas ao sofrimento alheio. E destaco ainda, para além dos responsáveis governamentais e autárquicos, a Proteção Civil, Bombeiros, GNR e variadíssimas instituições que se deram aos que foram fustigados pela violência dos fogos. Evocamos sentidamente os que faleceram e  os feridos, bem como os seus familiares, mas também os desesperados que tudo perderam, numa perspetiva de nos motivarmos para todas as ações solidárias que vierem a ser implementadas. 
Permitam-me ainda uma palavra de apreço ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que, em nome de todos nós, esteve nos momentos de dor junto de tantos destroçados. 

Fernando Martins

Júlio Cirino — Açores - Terceira - Festas Sanjoaninas

Traça arquitetónica de Angra
Tocadores de uma marcha
Desfile de bandas
Marchas de S. João

As Festas Sanjoaninas são um dos pontos mais altos das festividades de Angra do Heroísmo. Por essa altura juntam-se, para assistir aos festejos, dezenas de milhar de residentes e forasteiros.
Não há palavras para descrever as Festas Sanjoaninas. Durante uma semana, em cada dia, faz-se o desfile de abertura; o desfile de 36 bandas filarmónicas; desfilam, divididas por dois dias, mais de 60 marchas; desfilam os atletas de todas as modalidades desportivas praticadas nos Açores, faz-se um desfile de cariz religioso e até o desfile de carrinhos de bebé.
Os trajes usados são riquíssimos, bem confeccionados e de muito bom gosto. Os carros alegóricos são obras de arte. Os trechos musicais são muito bem escolhidos. As festividades de S. João muito honram os angrenses. 
Quem estiver interessado em saber sobre o que estou a falar, consulte o seguinte endereço:
Sanjoaninas 2015 – Angra, memória dos meus encantos, by Manuel Bettencourt. (recomenda-se que abra a quarta janela)

Obs.- Fotos extraídas da rede social.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

MaDonA — O Farol da Barra




O Farol da/na Barra pertence a Ílhavo, a Aveiro ou à Gafanha da Nazaré? A solução para a contenda!?
O Farol da Barra é uma referência para população desta zona balnear e um ex-líbris do distrito de Aveiro. 
Dada a sua majestosidade, originou expressões populares, aforismos, como “ Não conheço uma letra do tamanho do farol”, a que se pode juntar outra, no contexto do mar/ria “Deixar passar a maré por baixo do barco”. 
Foi tema da área curricular não disciplinar, Área de Projeto, num período efémero, antes de o MEC, na pessoa de Nuno Crato a retirar do currículo. Está em estudo a sua recuperação, bem como da Formação Cívica.
Como sempre, a Educação ao sabor das políticas partidárias!
Recentemente, tem-se gerado grande polémica, quanto à disputa pela jurisdição do dito farol. Tem sido o pomo da discórdia entre Aveiro e Ílhavo, a que veio juntar-se, por último, a Gafanha da Nazaré. Cada uma destas cidades reivindica a administração deste monumento, sendo que este litígio é muito antigo, remontando ao século passado.
Devido à proximidade da cidade de Aveiro e à sua imponência, foi dado o nome de farol a um jornal escolar que se publicava na década de sessenta, no Liceu Nacional de Aveiro. A par da Escola Comercial e Industrial de Aveiro, eram as únicas instituições de ensino público, no distrito. 
Não pretendendo por achas na fogueira, nem água na fervura, numa postura de neutralidade, vou apenas confirmar o que foi dito em epígrafe. A velha rixa entre Aveiro e Ílhavo.
No número nove do jornal farol, foi publicada esta notícia. "A JAPA resolveu, por fim, por cobro às questões entre Ilhavenses e Aveirenses, motivadas pelo Farol da Barra. Assim, será adaptado ao supradito Farol, umas rodinhas movidas por um motor Diesel, e o farol irá às 2.ª, 4.ª e 6.ª para Ílhavo e às 3.ª, 5.ª e sábado virá para Aveiro. Aos domingos poderá ir até à praia “se bronzear”.”
A irreverência estudantil, ontem como hoje, sempre à flor da pele!

MaDonA

01.08.2017

NB: Retido nos meus arquivos por razões de férias 

E voltei à liça diária


Depois de 15 dias alheio à blogosfera, onde partilho, pela positiva, o que julgo de interesse para os meus leitores e amigos, volto à liça diária, ou quase, para me sentir membro dinâmico da sociedade que nos acolhe. E faço-o com prazer e alegria, que a vida, sem isso, não faz sentido. 
Foram 15 dias amenos e com motivações variadas, com filhos e netos o encherem os nossos quotidianos. Não serão eles a nossa razão de viver? Não ocuparão eles as nossas horas de trabalho, canseiras e lazer? É claro que sim.
Parar de vez em quando faz bem ao corpo e à alma. Refletimos, conversamos, rimos e sonhamos, traçamos metas a curto prazo, idealizamos projetos viáveis e inviáveis, olhamos à volta horizontes possíveis, viajamos no tempo passado, presente e futuro, sentimos mais de perto os que nos rodeiam, revemos amigos guardados na arca da memória que ousaram correr mundos para cuidar dos seus. Encontrei aventureiros e viajantes ao jeito dos que «deram novos mundos ao mundo». E li, li, li, e ouvi música, música, música, e viajei, viajei, viajei... pouco. E procurei entender Deus em Jesus Cristo, o maior revolucionário da história humana com o seu projeto da civilização do amor. E os 15 dias que impus a mim mesmo chegaram ao fim. Não falo de férias porque as tenho quando quero. Mas falo do meu gosto de viver, porque o homem é sempre um ser social ou não é homem.
Um abraço para todos. 

Fernando Martins

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Agosto



Vou iniciar o mês de agosto com serenidade, ao jeito de quem quer passar umas férias sem grandes compromissos, sem a lufa-lufa do dia a dia tantas vezes corriqueiro  e sem sentido. Quero acordar cedo para aproveitar o dia, para saborear o sol benfazejo e abrir o coração ao mundo fascinante que urge viver em plenitude, na certeza de que há madrugadas libertadoras e solidárias. 
Passarei por aqui somente por compromissos editoriais ou por imperiosa necessidade de partilhar vivências, sentimentos e emoções que não posso fechar à chave em qualquer gaveta, como coisa para esquecer. 
Boas férias para todos.

Fernando Martins

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Júlio Cirino — Ilha Terceira - Cantorias

Desgarrada

José Eliseu

Mulheres na Cantoria

Peter

Assistência

O cantar ao desafio, nos Açores, é conhecido por “cantoria”. Por a letra ser de improviso, no início nem os cantadores sabem o rumo que a “cantoria” vai tomar. Por vezes faz-se chacota da gravata de um dos intervenientes ou ao nariz de outro, ou à ilha a que pertence, ou a qualquer outro pormenor que chame a atenção dos cantadores. O visado procura defender-se e contra-atacar quando lhe for possível.
A “cantoria” é versejada em quadras ou sextilhas. Por vezes inicia em quadras e acaba em sextilhas. 
A “cantoria” começa com a saudação ao povo da freguesia ou a alguém mais ilustre que esteja no arraial ou no salão. Os cantadores também se saúdam reciprocamente. Depois segue-se a “cantoria” propriamente dita que termina com a despedida e novas saudações.
Na ilha Terceira, para além da “cantoria”, temos “as velhas” (cantigas brejeiras e de escárnio) e as “desgarradas” (com música do fado de Lisboa, mas com letra de improviso). 
Estes cantares são acompanhados pela “viola da terra”, com 12 cordas de arame, e por uma viola de acompanhamento. Fábio Ourique, fadista afamado nos Açores, por vezes é acompanhado na “cantoria” à guitarra por Tiago Lima e à viola por Emanuel Silva, seus acompanhantes nas “Sombras Negras do Fado”.
Todos os anos as cantigas ao desafio são levadas aos Estados Unidos e ao Canadá, a convite de inúmeros emigrantes açorianos que por lá vivem.
Apesar de alguns cantadores nem serem de cá, os que mais se ouvem são o José Eliseu, o Bruno de Oliveira (de S. Jorge), o João Leonel, o Tiago Clara (de S. Miguel), a Maria Clara, o José Esteves, o Roberto Toledo (puto de 12 anos, que já se safa muito bem) e tantos outros. Temos ainda o decano dos cantadores terceirenses, o Ti João Ângelo, já com mais de 80 anos. No passado tivemos o Charrua, o Caneta, etc., etc. 

Obs.- Aconselho a audição da “cantoria” que escolhi por uma parte ser dedicada a um grupo de professores da Gafanha da Nazaré que por cá passou. Nesse grupo estava integrado o Rogério Fernandes (guitarrista de fado de Coimbra) e o Pedro Lagarto (treinador de andebol).
Quem estiver interessado em ouvir, por favor digite: José Eliseu e Bruno Oliveira, S. Sebastião 2015.
Para ouvir “As Velhas”, basta digitar: As velhas da Terceira com Bruno Oliveira & João Pinheiro.
Quanto à desgarrada, podemos ouvi-la, digitando: 5 cantadores na desgarrada açoriana. 
Este grupo é constituído por dois “coriscos” (alcunha dos habitantes de S. Miguel, também conhecidos por “japoneses”), dois “patacos falsos” (de S. Jorge) e um “rabo torto” (da Terceira).
Depois desta explicação preliminar, já se pode compreender melhor a desgarrada que recomendo. 

Nota - fotos extraídas da rede social.

Rua Maria Luz Rocha

Filhos de Dona Luz Facica (Falta o João Manuel, falecido)
Bisnetos de Dona Luz
Carlos Rocha, Fernando Caçoilo e Ascensão Ramos
Na sexta-feira, 28 de julho, a Câmara de Ílhavo “batizou” uma rua com o nome de “Maria da Luz Rocha (Luz Facica)”, em homenagem a uma cidadã de corpo inteiro, a quem a comunidade da Gafanha da Nazaré, e não só, muito deve, pelo que fez em prol de muitos feridos da vida. Trata-se da rua que dá acesso ao Intermarché e que, num futuro que se deseja rápido, faça a ligação à Rua D. Dinis.
Na altura, o presidente da autarquia ilhavense, Fernando Caçoilo, enalteceu o exemplo da homenageada, sublinhando que Dona Maria da Luz «tinha uma visão longa». «Um obrigado muito grande por aquilo que fez, por aquilo que nos legou e pelo exemplo que nos deu e que deve ser transmitido para toda a gente». Importa, referiu o autarca, que os vindouros se lembrem do trabalho que a Dona Luz Facica, «que todos acarinhámos», fez pelos mais desprotegidos. Ainda valorizou a sua «forma de ser e de estar na sociedade» e a «tranquilidade» que transparecia da sua vida no contacto com toda a gente. 
Carlos Rocha, presidente da Junta de Freguesia, adiantou-nos que a Dona Luz «viveu toda a vida não a pensar em si, mas nos outros, fundamentalmente naqueles que efetivamente mais precisavam». Disse que a Obra da Providência, a instituição que criou há mais de 60 anos, «surgiu para mulheres e raparigas escorraçadas, marginalizadas e maltratadas pela sociedade», mostrando nessa altura «uma visão e capacidade raras». 
À cerimónia assistiram muitos familiares e amigos que pela Dona Luz Facica nutriam uma admiração muita grande. E sua filha mais velha, Ascensão Ramos, em nome da família, agradeceu o gesto da Câmara de Ílhavo, frisando que sua mãe foi, realmente, «uma pessoa fora do comum em vários aspetos, tanto em iniciativas de grande vulto» como na forma como escutava e aconselhava quem a procurava. «Nenhum obstáculo que encontrou pelo caminho a fez parar». 
Ascensão Ramos fez questão de lembrar Dona Rosa Bela Vieira, mais conhecida por Belinha, companheira de sua mãe em diversas tarefas de bem-fazer, nomeadamente na Obra da Providência. Vivendo «como gémeas, sempre juntas, cada uma lutava de acordo com a sua maneira de ser». E acrescentou: «Planeavam os projetos e levavam-nos para a frente, porque estavam convencidas de que tinham essa missão; as duas, de uma fé enorme, sentiam que, para cumprir os desígnios da sua fé e os compromissos sociais, tinham de avançar, apesar das dificuldades».

F. M.

domingo, 30 de julho de 2017

Bento Domingues — Jesus não gostava de broa? (2)


1. Vivemos, hoje, um momento de extraordinárias possibilidades na Igreja Católica e o Papa Francisco é, a muitos títulos, uma bênção mundial.
Os participantes no G20, em Hamburgo, nos dias 7 e 8 de Julho, tinham um tema: “Dar forma a um mundo interligado.” Na sua mensagem, o Bispo de Roma lembrou quatro princípios de acção, recolhidos da sabedoria multissecular, para a construção de sociedades fraternas, justas e pacíficas: o tempo é superior ao espaço; a unidade prevalece sobre o conflito; a realidade é mais importante do que a ideia; o todo é superior às partes.
Já tinha assumido essa sabedoria no seu programa pastoral Evangelii gaudium, pois a Igreja não deve aprender apenas na escola da Bíblia e das suas tradições, mas na de todos os povos e culturas, do passado e do presente. Para poder ser “mãe e mestra”, tem de ser filha e aluna atenta a todos os mundos. Antes de falar é necessário ouvir, como indica o ritual do Baptismo.
Na sua mensagem aos mais ricos e poderosos, Bergoglio abordou cada um desses temas de forma extremamente rigorosa e concreta, mas sempre com um objectivo muito preciso: dar prioridade absoluta aos pobres, aos refugiados, aos sofredores, aos deslocados e aos excluídos, sem distinção de nação, raça, religião ou cultura e rejeitar os conflitos armados.
Possibilidades semelhantes tinham sido abertas pelo Papa João XXIII, ao convocar o concílio Vaticano II (1962-1965), uma espantosa Primavera traída por algo que ainda hoje é inquietante: o adiamento da reforma das mediações concretas e a sua substituição por remendos de pano velho e irrecuperável.
A decepção criou gerações de católicos decepcionados, “não praticantes”, periféricos e um catolicismo do abandono da Eucaristia, cuja gravidade está ainda longe de ser reconhecida. Pela longa cegueira e medo de se tocar na Cúria, foi impedida a reforma radical dos ministérios ordenados que continua a ser uma urgência adiada.
Foi-se pronto a impedir a ordenação das mulheres, invocando razões teológicas ininteligíveis. Para os homens casados, dizem que não há nenhum obstáculo teológico, mas o resultado é o mesmo. Como o actual modelo de acesso a esses serviços está falido, os dons ministeriais de serviço sacramental da Igreja não têm quem os possa receber.
Em várias dioceses, o clero das Congregações religiosas vai procurando tapar o sol com a peneira, traindo a sua vocação específica. Certas Congregações femininas, multiplicando retiros e cursos de formação, ao rejeitarem as transformações das suas estruturas, estão em progressiva e inútil agonia.

2. A Igreja Católica não pode prescindir das mediações sacramentais e litúrgicas. Fazem parte das celebrações existenciais da Fé. O modo como celebra não é indiferente. Celebrar mal é pior do que não celebrar: fomenta alergias inúteis. O domingo, na linguagem cristã, não pertence ao “fim de semana”, mas à grande festa do seu primeiro dia. Nasceu como possibilidade, muito bela, de rejuvenescer e transformar a vida, resistindo às tendências negativistas e niilistas.
A religião ética é uma forma de resistência à alienação e ao pessimismo. É um protesto para abrir caminhos na floresta dos enganos. Por isso, a experiência da finitude é caminho de abertura à transcendência, que se exprime, sobretudo, na linguagem simbólica de gestos e palavras.

3. Tomás de Aquino, na primeira fase do seu ensino, estava marcado por uma concepção dos Sacramentos como causas da graça. Na Suma Teológica abandonou essa perspectiva e situou os Sacramentos no mundo da simbologia. São essencialmente signos, sensíveis, terrestres da graça actuante de Cristo. É uma mudança radical que ainda hoje está longe de ser assumida em todas as consequências. O primeiro cuidado com a sua celebração não é a fidelidade às rúbricas de um ritual, mas a realização de uma festa significativa da Fé pelo envolvimento de todos os participantes, mulheres e homens, grandes e pequenos.
É tríplice a sua significação: remetem para todo o percurso de Jesus Cristo até ao dom do Espírito Santo à Igreja, mas não são uma romagem de saudade, não fixam a comunidade naquele tempo. Cristo ressuscitado não pode ser amputado da sua vida terrestre, mas é celebrado como presença actual e transformante da comunidade, abrindo-lhe um futuro de esperança.
Seria engano ver nesta estrutura simbólica — causam o que significam — apenas actos de Cristo, como um automatismo ritual. Não se pode esquecer a correlação íntima entre essa actuação e as experiências de vida da assembleia celebrante. Estas são essenciais ao acontecimento sacramental e precisam de ter expressão pública.
Dizer que foi Cristo que instituiu os sacramentos e, especialmente, a Eucaristia, não se pode pensar como se ainda estivéssemos no mundo cultural da época de Jesus. Pensar dessa maneira é amputar o cristianismo da sua significação universal e da sua capacidade de inculturação em todos os povos e culturas. Quem, no seu perfeito juízo, pode hoje supor que na chamada celebração da última Ceia, Jesus tenha dito: fazei isto em memória de mim, mas só com pão de trigo, ázimo e a bebida só pode ser vinho?
Dir-se-á que hoje os comerciantes do trigo podem assegurar esse cereal em qualquer parte do mundo. Não tenho dúvidas. Todos sabemos das imposições culinárias da grande indústria. Não me parece que seja essa a missão da Igreja.
A simbólica da Eucaristia é a mesa partilhada, por isso, quando se convida alguém para jantar não se lhe pode dizer: vem, mas não comas.
Uma das grandes tarefas das Igrejas locais consiste em exprimir a identidade da Fé cristã nas linguagens das suas culturas.
Sarah, com as suas exigências culinárias, mesmo com risco para a saúde, anulou a simbólica essencial da Eucaristia, como mesa cristã de todos os povos. A base dos Sacramentos é terrestre, é sensível, mas é a sua tríplice significação do mistério cristão que mais conta. O cardeal atirou fora a simbologia e ficou, apenas, com as coisas, retirou-se da sacramentalidade.
Não sei se Jesus gostava ou não de broa. Talvez até nem soubesse que existia. Mas imaginar que ficaria atrapalhado, nos lugares em que o trigo não é o principal alimento, em celebrar com broa ou com arroz é duvidar do poder de Cristo.

Sou levemente alérgico a estas crónicas durante o mês de Agosto. Até Setembro

Frei Bento Domingues, no PÚBLICO 

sábado, 29 de julho de 2017

Álvaro Garrido: Venham ao museu e tragam um amigo também

Faina Maior
Embarcações lagunares

O bacalhau que comemos

Aquário dos bacalhaus
O Museu Marítimo de Ílhavo (MMI) aguarda a nossa visita em qualquer dia do ano. Jovens e menos jovens são sempre bem recebidos e desejados, porque um museu tem de ser permanentemente uma casa aberta, com a predisposição para acolher quem chega, ou não tivesse nascido para exibir um recheio multifacetado e devidamente organizado, direcionado para as pessoas. 

Álvaro Garrido 
Um dia destes lá fomos cumprir um ritual integrado nas férias anuais que teimamos em manter. À chegada, tivemos a dita de encontrar o consultor do MMI, Álvaro Garrido, que fizemos questão de cumprimentar, a quem lançámos uma questão: Dê-nos uma boa razão para visitar o Museu de Ílhavo durante as férias! E com toda a naturalidade, Álvaro Garrido sugeriu que o ideal seria participar na festa comemorativa dos 80 anos do museu, que decorre de 5 a 8 de agosto, sublinhando, como pontos altos, «a inauguração de uma exposição extraordinária intitulada História Trágico Marítima, que vai incluir muitas obras valiosas que não é comum verem-se em exposições». 
Referiu que há um concerto celebrativo no dia 6, à noite, no largo do museu, «precisamente baseado numa obra inédita de Fernando Lopes Graça — História Trágico Marítima, cuja letra foi escrita por Miguel Torga». E acrescentou: «É um espetáculo muito singular, inédito», tratando-se de uma obra musical que foi descoberta e que estava esquecida», obra essa «que tem sido trabalhada pelo maestro Vassalo Lourenço».
Álvaro Garrido lembrou, entretanto, que, de 5 a 8 de agosto, há continuamente atividades, visitas especiais e a possibilidade de «fazer coisas diferentes no museu, para vários públicos, dos 8 aos 80 anos». 
Questionado sobre o enquadramento do MMI no contexto europeu e a nível internacional, Álvaro Garrido adiantou que «o nosso museu é cada vez mais conhecido.» E esclareceu: «Os museus marítimos são muitos, mas têm identidades muitos diversas; há os museus marítimos de comunidade e museus navais», sendo certo que «os museus marítimos, à escala internacional, estão numa espécie de encruzilhada, hesitantes entre os caminhos a seguir». 
Disse que o MMI tem conquistado públicos, «talvez por efeito do fluxo de turismo que ocorre em Aveiro e que tem algum impacto no município de Ílhavo». «É um público mais aberto, do país inteiro, e o número de estrangeiros também está a aumentar, sobretudo espanhóis, franceses, e não só, e ainda ilhavenses que estão na diáspora; no verão é muito comum as pessoas virem ao MMI, quase como um ritual». E finalizou a nossa curta conversa com um apelo: «Venham ao museu e tragam um amigo também.» 

Fernando Martins