PITADAS DE SAL – 17
APONTAMENTOS PARA UM TRABALHO
SOBRE A PAISAGEM DE AVEIRO
Caríssima/o:
Nas minhas deambulações pelos trilhos e para as marinhas, encontrei este apontamento que muito apreciei:
«[...] A humanização da paisagem de Aveiro sugere qualquer coisa de actividade lúdica, de esforço manobrado pela mão da inocência criadora da infância que se compraz em regalar os olhos com o produto da sua energia. O pragmatismo, aqui, surge corroborado por uma moldura doirada de beleza e aconchegado pelo calor de uma visão que amacia o sensório.
O cagaréu foi-se à água informe e desordenada e domesticou-a dentro de rectângulos de uma esquadria rigorosa, realizando uma paisagem geométrica com murinhos pueris de Iodo que parecem riscados a régua e esquadro.
É a humanização geográfica mais epidérmica que conheço e, consequentemente, a mais frágil e vulnerável.
Em cada ano estes marnotos-geómetros têm de refazer tudo desde o princípio: a água tem de ser novamente domada nos seus ímpetos arrasantes e contida no viveiro para ser, depois, usada por conta-gotas e, com ela, formar camadinhas de espelho que estende pela planície fora... Ali se armazena a água e começa a condensar-se para a via sacra que tem de percorrer: algibé, caldeiras, sobre-cabeceiras, talhas, cabeceiras, meios de cima...