domingo, 27 de setembro de 2009

PS vence com maioria relativa

Esta vitória do PS, para mim, tem um significado: os portugueses disseram que preferem Sócrates, mas um Sócrates sem arrogância e mais dialogante. Penso que o primeiro-ministro aprendeu a lição.

Face a estes resultados, é óbvio que  vai ter muito cuidado na escolha dos ministros, que têm de ser competentes, capazes de ouvir o povo, atentos aos poderes autárquicos e abertos às melhores propostas, venham elas de onde vierem. Ministros que lutem por uma sociedade inclusiva, por uma justiça célere e igual para todos, por um progresso sustentável, por uma educação integral de mãos dadas com as famílias, por um ensino que prepare para a vida, por empregos estáveis e por uma solidariedade atenta.

Estamos todos cansados de guerras verbais, de desemprego, de corrupção real ou virtual, de empresas falidas, de endividamentos cada vez maiores e de pobreza que se mantém há uns 20 anos, sem solução à vista. Importa agora que Sócrates organize um Governo credível, transparente e sensível, para que possa dar garantias de estabilidade. Portugal e os portugueses precisam mesmo de estabilidade, para poderem esperar e lutar por um futuro solidário com mais tranquilidade.

FM



O FIO DO TEMPO: A Carta das Nações Unidas




1. O líder líbio, Muamar Kadafi está a comemorar os 40 anos no poder. Talvez esta longevidade no poder dê azo acrescentado aos improvisos e extravagâncias habituais que caracterizam o líder líbio e o trazem, a par de meia dúzia no mundo, para as capas dos jornais por motivos ao arrepio do bom senso. Há dias a tribuna das nações unidas foi o palco (melhor haveria?!) para a sua afirmação se situar em dois planos antagónicos: primeiro, defende o extremismo talibã; segundo, elogia o presidente Obama. Que dizer?! Talvez seja a derradeira forma diplomática de argumentar de Kadafi no rumo do seu sonho de imperialismo islâmico para a África... Nesse discurso de uma hora e 35 minutos, ignorando as regras da Assembleia das Nações Unidas, Kadafi conclui surpreendendo com o gesto do rasgar da Carta das Nações.

2. Sabe-se que este documento fundador, Carta das Nações Unidas ou Carta de São Francisco – assinada por 51 estados membros originais em São Francisco, EUA, em 26 de Junho 1945 – tem uma matriz tipicamente ocidental. Foi-se tornando relevante o seu peso congregador e foi crescendo o seu alcance em momentos destacados como o dia 10 de Dezembro de 1948, data da assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Hoje este universalismo, encaminhado a partir da segunda grande guerra, consegue espelhar-se nas 192 Nações que se fazem representar na Assembleia-Geral da ONU e nas múltiplas abordagens documentais que procuram informar e envolver todas as latitudes do pensamento e acção humanas, também na linha essencial: educativa (UNESCO).

3. O gesto rasgador de Kadafi tem muito que se lhe diga. Uma atitude simbólica perturbadora que questiona fortemente o senso de quem rasgou, mas também o motivo por que rasgou: nessa altura ele atacava o domínio efectivo – do direito de veto – dos cinco membros do Conselho de Segurança: China, EUA, França, Grã-Bretanha e Rússia. Repensar a ONU? Da sua raiz ocidental à sua efectiva (onto)universalização?

Alexandre Cruz

sábado, 26 de setembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 150

BACALHAU EM DATAS - 40
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Gil Eanes
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FINALMENTE NAVIO-HOSPITAL...

Caríssimo/a:

1941 - «A primeira bênção [dos navios bacalhoeiros] foi protagonizada pelo Padre Cruz, passando depois a ser presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa e posteriormente – de 1941 em diante – pelo arcebispo D. Manuel Trindade Salgueiro, conhecido por “bispo do mar”, natural de Ìlhavo, cujas origens se ligavam estreitamente ao mar e à pesca, pois era filho de pescador morto em naufrágio.» [Creoula, 16]

«O mestre Benjamim Mónica reatou a construção naval em madeira na Figueira da Foz [Murraceira], iniciando a construção de dois lugres, em madeira, em finais de 1941. estes deram trabalho a 250 homens, num “verdadeiro formigueiro humano”, inserindo os estaleiros da Murraceira na renovação da frota bacalhoeira preconizada pelo Estado Novo. Em 1943, os estaleiros da Murraceira entregaram as duas unidades. Tratava-se dos dois primeiros navios-motor em madeira da frota nacional e os futuros modelos “tipo CRCB”. A sua traça esteve a cargo do Engenheiro Naval Capitão-tenente J. Valente de Almeida e foram baptizados com os nomes BISSAYA BARRETO e COMANDANTE TENREIRO. Tinham capacidade para 660 t de carga de bacalhau cada e foram equipados com motor diesel de 500 CV, frigoríficos, TSF, luz eléctrica e aquecimento.» [Oc45, 116]

1942 - «Os estaleiros de Alcochete participaram na reestruturação da frota da pesca do bacalhau, em 1942, com a reconstrução do lugre-motor em madeira FLORENTINA, de 700 t e capacidade de albergar 420 t de bacalhau. Este lugre foi alvo de melhoramentos a nível das instalações dos tripulantes e dotado de aparelhagem moderna. Esta reconstrução decorreu sob as ordens do mestre José Maria e do Capitão Manuel Lourenço. O casco do antigo lugre-escuna TERRA NOVA dava lugar ao FLORENTINA, com capacidade para albergar 60 pescadores.» [Oc45, 114]

ASSISTÊNCIA SANITÁRIA «[D]epois o GIL EANES, navio comercial alemão, refugiado em águas portuguesas e arrestado pelas nossas autoridades aquando do início da I Guerra Mundial. Mas este navio que ao serviço da Armada Portuguesa os mais variados serviços alternados – cruzador, transporte de tropas e matérias primas, apoio à nossa gente nos Grandes Bancos, cabotagem entre as ilhas açoreanas, viagem ao Oriente, etc. - só em 1942 viria estabilizada a sua condição de navio-hospital, de apoio exclusivo à frota portuguesa, data em que por decreto ministerial foi abatido aos serviços da Armada e transferido definitivamente para a SNAB – Sociedade Nacional dos Armadores de Bacalhau. Sob a bandeira da nova companhia faria mais vinte e sete viagens aos bancos da Terra Nova e Gronelândia, como navio-hospital e de apoio logístico à frota portuguesa. A sua última campanha fez-se em 1954... » [Vd.1923 e 1955] [HDGTM, 43]

5 de Junho – O lugre-motor MARIA DA GLÓRIA é bombardeado por um submarino alemão e afunda-se.

Manuel

Dois milhões de pobres. Dar dinheiro não compensa



O jornal i abordou o tema da pobreza em Portugal, adiantando: "Há dez anos que a população pobre (18%) é a mesma. Assistencialismo  não resolve o problema."

O combate à pobreza em Portugal não funciona e é caro. A conclusão é dos especialistas que se reuniram este sábado na Faculdade de Economia do Porto para perceber "o que sabemos sobre pobreza em Portugal".


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Crónica de um Professor: DEL - Dia Europeu das Línguas


À mesa servem-se Línguas
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Tinha um ar resoluto, aquele Ruiguila!

Tinha um ar resoluto, aquele Ruiguila!

De estatura baixa, dois palmos de gente....cabelo em crista incipiente e o brinco bem assertoado na orelha, lá entrava ele na sala, com o seu ar de liderança. Era já veterano na Escola, apesar de estar apenas no 5º ano. A sua postura de inata contestação, aliada a uma pretensa assertividade, haviam-lhe granjeado o papel de Assessor do D.T. Este, com a larga visão da sua função docente, tinha-o empossado em funções que lhe iriam desenvolver e alimentar a auto-estima. Com esta em níveis satisfatórios era fácil conquistá-lo para o contrato pedagógico. A ajuda que deu ao D.T. no dia da apresentação e recepção, aos caloiros, foi a prova máxima da sua eficaz colaboração.

A atribuição de responsabilidades a este género de alunos, tem-se revelado uma estratégia eficiente no auto-controle da irreverência e impulsividade.

Logo nas primeiras aulas de Inglês, o Ruiguila revelara um interesse inusitado pela disciplina e a fraca reputação que o seu aspecto sugeria, parecia ser injustificada, aos olhos da teacher. Fazia perguntas sobre vocabulário que não fora ainda leccionado, sobretudo aquele que faz parte do léxico de qualquer adolescente, no relacionamento com o sexo oposto!

Acabou por revelar, em frente à turma, que conhecera uma francesa (!?) nas férias passadas e tivera necessidade de falar com ela. Gostou daquela mulher (!?) e na sua ingenuidade eivada de pragmatismo, quis confessar-lho, de viva voz. Mas... eis que depara com a barreira da língua. E... nem só de gestos vive um galanteador! Vai daí, o nosso herói põe os neurónios a funcionar e pensa como há-de fazer chegar, à eleita, os arroubos da alma que aquela figura feminina suscitara.

- Francês, não sei falar, está fora de questão! Mas... ah! Espera aí! Ela deve saber falar Inglês, como qualquer jovem hoje em dia!

Usando os parcos conhecimentos que possuía, não precisou de intérprete. Cavalheiro que se preza não põe as palavrinhas doces em boca alheia! Essas têm que ser usadas em primeira língua e... como o povo diz, acertadamente, estão sempre na ponta da mesma!

Assim se descartou o rapaz da dificuldade de comunicação e quis ali, em plena aula, certificar-se dos termos que havia usado e que guardaria para ocasiões futuras! I love you, kiss, my darling, sweetheart... etc, vieram à baila e foram o campo semântico, ali aprendido e partilhado por todos. Quem sabe quando voltarão a ser usados, aqueles termos... por esta gente de palmo e meio, que cada vez é mais precoce!?

Foi hilariante este desfiar de “experiência” no campo linguístico dos afectos! A teacher, sempre “oportunista”, serviu-se deste episódio fortuito que ocorreu na aula, para lhes falar sobre a importância e a necessidade de aprender línguas estrangeiras, neste particular, o Inglês.

Constituem uma mais-valia para qualquer cidadão do mundo e permitem-lhe um alargar de horizontes, nas múltiplas possibilidades de conhecer novas gentes, novas culturas, novas civilizações. Contribuem para uma mundividência mais universalista, pois potenciam o aprofundar do conhecimento.

E... lá no seu íntimo, a teacher rejubilou por ter, há décadas atrás, feito esta escolha profissional! Afinal, sempre há males que vêm por bem! Os efeitos perversos da Torre de Babel, permitem-lhe, hoje, angariar o seu ganha-pão, que de outra forma não teria cabimento.

M.ª Donzília Almeida

26.09.09

AS RELIGIÕES EM 2050



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AS RELIGIÕES NÃO SÃO ESTÁTICAS
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A profecia repetida do fim da religião não se confirma. De facto, quando se olha para o planeta e não apenas para a Europa, constata-se que Deus não morreu nem está em vias de desaparecer da consciência da imensa maioria da Humanidade. É o que mostra um estudo independente elaborado pelo grupo La Vie e o diário Le Monde, agora acessível também em espanhol: El Atlas de las religiones.


Como escreve Rémy Michel, na apresentação, "é inegável que as religiões estão profundamente ancoradas no espaço geográfico que marcaram com as suas pegadas e que ordenam segundo as representações próprias de cada credo", mas acrescenta que "as religiões não são estáticas, evoluem, conquistam territórios, deslocam-se". Daí a importância de uma visão geopolítica da sua dinâmica para a compreensão das sociedades.

Anselmo Borges

Ler toda a crónica em DN

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Poesia nos jornais... Para quando?


Teus brincos dançam se voltas
A cabeça a perguntar.
São como andorinhas soltas
Que inda não sabem voar.

Fernando Pessoa


Sou do tempo em que os jornais publicavam poesia com alguma regularidade. Um cantinho bastava para oferecerem aos seus leitores uns poemas, normalmente curtos, para serem lidos de imediato. Eram poemas que nem sempre voltavam a ver a luz do dia e que tinham vida, por isso, de apenas umas horas. Nos semanários uma semana.

Um poema, no meio de notícias frias e nem sempre agradáveis, era como um ramo de flores, que nos ofereciam, e ainda oferecem,  em dias marcantes, e donde nunca retirávamos os olhos enquanto as suas cores e perfumes perdurassem.

Hoje, infelizmente, a poesia quase foi expulsa dos nossos jornais. E não há por aí tanta gente jovem e menos jovem ávida de mostrar a sua sensibilidade poética? Claro que estamos sempre a tempo de se reatar a antiga tradição de os jornais partilharem uns poemas, no meio de tantos cardos que dia a dia publicam. Mas há quem já o faça. Para esses os meus parabéns.

FM

Cuidados com os nomes que se escolhem para os bebés

Nomes bizarros

O jornal i publicou na quarta-feira um trabalho jornalístico sobre os nomes dados aos bebés. Diz, com razão, que há nomes bizarros que podem marcar as pessoas para toda a vida.
Hoje divulgou o melhor comentário que lhe foi enviado, por Maria Helena. Aqui fica ele:

O melhor comentário

“Concordo inteiramente com o cuidado que se deve ter com o nome que se dá aos nossos filhos. Durante a minha actividade como professora deparei-me com nomes horríveis de alguns alunos que, sofriam imenso com os comentários dos colegas. Há tantos nomes portugueses lindos, que me parece ser inadmissível que se recorra a nomes de telenovelas e não só, que nada têm a ver com a nossa cultura e que marcam de modo irreversível quem teve o azar de os ter.(...) ”

por Maria Helena

Na era da crença descafeinada



O cristianismo nasceu como uma comunidade de excluídos, na linha dos grupos excêntricos, e a verdadeira desconexão cristã “não é uma atitude de contemplação interior, mas a de um trabalho activo de amor que conduz necessariamente à criação de uma comunidade alternativa”.


José Tolentino Mendonça

Leia todo o texto aqui

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Concurso de Bandas de Aveiro



No próximo sábado, dia 26 de Setembro, às 19 horas, vai decorrer o Concurso de Bandas de Aveiro 2009, no Grande Auditório do Centro Cultural e de Congressos de Aveiro.

Bento XVI aceitou convite de Cavaco Silva


Cavaco Silva com Bento XVI
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Bento XVI visita Portugal
no dia 13 de Maio de 2010
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Segundo nota da Presidência da República, Bento XVI aceitou o convite feito pelo Presidente Cavaco Silva para visitar Portugal, pela primeira vez, em Maio de 2010, para presidir às cerimónias de 13 de Maio, em Fátima. Diz a nota:
"Sua Santidade o Papa Bento XVI efectuará uma visita a Portugal no próximo ano, em resposta ao convite que lhe foi endereçado pelo Presidente da República. Para lá do programa oficial, Sua Santidade o Papa Bento XVI deslocar-se-á ao Santuário Mariano de Fátima, onde presidirá às cerimónias religiosas de 13 de Maio."

Para uma vida mais feliz




Pôr Humor na Oração

(...)
Por vezes a nossa oração é demasiado séria. É muito importante que ela se deixe atravessar pelo humor. Aprender a rezar com Sara e Abraão, com estes dois, é aprender a rezar com os nossos risos, com os nossos impasses e descrenças, com esta espécie de jogo bem-humorado que a oração introduz. Há uma desproporção tão grande entre o céu e a terra, entre a fidelidade de Deus e a nossa fragilidade que, depois de tudo e através de tudo só o sorriso de Deus estampado no nosso rosto pode fazer a diferença. Por alguma razão o Pai do filho pródigo faz com que a sua casa se ilumine com músicas e danças (Lucas 15, 25).

José Tolentino Mendonça

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Crónica de um Professor



O Outono

O Verão, esmorecido,
Do Outono se despediu!
Agora, outro colorido
A Natureza vestiu!

O Outono pachorrento
Com seus matizes de cor
Abre a porta, à chuva, ao vento
E à paleta do pintor!

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Este ano, o Outono chegou, suavemente, sem se ter feito anunciar por nenhum cataclismo meteorológico. Uma temperatura amena, muito agradável, tem presenteado aqueles que se deslocam, para estas paragens nas suas obrigações profissionais. Os resquícios de um Verão moribundo, a teimar em lembrar-nos as férias passadas e já gozadas, numa saudosa recordação.

No nosso clima temperado, com marcada influência atlântica, temos a sorte de assistir a uma transição suave entre as várias estações do ano, apesar de essa passagem ser cada vez mais diluída. As consequências nefastas do aquecimento global, resultantes do efeito de estufa, estão aí, bem patentes nas alterações climáticas que afectam o planeta. Não há uma separação nítida entre as quatro estações e por vezes acontecem fenómenos desgarrados, em épocas inadequadas.

Mas o Outono entrou no calendário e alguns sinais típicos desta estação, já se fizeram sentir. As primeiras aragens frescas com arrefecimento nocturno acentuado, o início do cair da folha.

Por alguma razão de sentido, chamam os Americanos, de forma poética, ao Outono, The Fall! A canção dos verdes anos, de 1970, “,Spring Summer Winter and Fall” cantada por Demis Roussos e sua banda, é uma nota nostálgica nesta estação que ora iniciámos.

É neste prelúdio de cor, que a natureza começa a vestir-se de tons dourados, acobreados e ocres, ostentando um manto de tons quentes e apelativos.

Desde cedo que fui ouvindo falar da magia do Outono, em que os artistas encontram a sua inspiração máxima. Pintores, poetas e pessoas comuns sentem esse envolvimento e esse chamamento à reflexão, à meditação numa nostalgia que, por vezes, é avassaladora.

É a altura em que o aconchego do lar tem mais pertinência e as pessoas se congregam em convívios familiares, e/ou tertúlias, em que tudo serve de pretexto para um apetecível serão, à lareira!

E... com o Outono chegam as saborosas e sempre bem acolhidas castanhas, expoente máximo da gastronomia sazonal. “Quentes e boas” é o pregão que se ouve, nas nossas ruas, ao entardecer, aliado a um aroma adocicado e quente que perfuma a atmosfera que respiramos.

Com o recolhimento antecipado, pela diminuição crescente dos dias, saboreia-se mais o conforto do lar e o convívio em família.

O homem, que neste contexto, segue o exemplo da formiga laboriosa, também se esfalfa no Verão, para usufruir na estação mais dura, o conforto e a paz do seu lar!

E vivam os serões, em boa companhia, a degustar castanhas assadas e a declamar os poetas da nossa preferência!

Mº Donzília Almeida

23.09.09

O FIO DO TEMPO: Responsabilidade de participar



Velho do Restelo
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A CONSCIÊNCIA POLÍTICA É UM DEVER CÍVICO


1. Sabe-se que as soluções para os problemas da sociedade em geral não são unívocas. Porque as próprias problemáticas e crises que se apregoam (e que surpreenderam mesmo com tanto conhecimento disponível!) não são simplistas mas complexas. A habilidade da superação, em vez de crise chamando “desafio aberto” a compreendermos os ventos de mudança, conduz a que não se pode ficar de fora quando se procura essa renovação social. Talvez a sociedade portuguesa ainda se revista muito do maior engano de todos, aquele em que o futuro acontecerá sem se participar activamente. O criticismo estático do “velho do Restelo” e o “ir à boleia” ainda habita muito do imaginário português, factores que às dificuldades acrescentam mais lentidão não propondo caminhos alternativos ágeis a (pro)seguir.

2. Ainda que seja palavra comum o generalizado apelo à participação eleitoral no próximo domingo, para que a abstenção não ganhe terreno, a verdade é que a sustentabilidade cívica e democrática terá de trazer consigo a palavra maior que a Humanidade do século XXI vai consagrando nas grandes coordenadas, a responsabilidade. O rigor e a exigência que terão de criar escola sempre em progresso conduzirão à boa expressão da liberdade que integra a responsabilidade de, para se poder exigir, cumprir o dever e o privilégio de participar. Muita reflexão crítica é feita sobre este assunto, mas em que na praxis o seu eco pouco se faz sentir. O divórcio entre as (designadas) elites pensantes e o povo concreto tem no fenómeno da abstenção – apesar de todas as emoções desagregadoras ou espevitadoras das campanhas – o seu maior hiato.

3. Sublinhe-se, se bem da quase inutilidade do sublinhado diante da surdez das bandeiras e ruídos, que a consciência política é um valor cívico para cada um, intransferível e insubstituível. É o alimentar da democracia em exercício prático, tarefa (dever) que compete a cada cidadão para o acolher ético dos direitos de cidadania numa sociedade onde todos terão vez!

Alexandre Cruz

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Festa da Senhora dos Navegantes na Gafanha da Nazaré








Aspectos da festa
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Mais de cem embarcações
participaram na procissão pela ria


Mais de cem embarcações participaram na procissão de N.ª Sr.ª dos Navegantes, no domingo passado, entre o Clube Stella Maris e o Forte da Barra, na Gafanha da Nazaré. O evento de fé, tradição e cultura foi organizado pelo Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, e contou com a colaboração de entidades como o Stella Maris, a paróquia e a Administração do Porto de Aveiro.
Os três andores seguiram em três barcos diferentes. O barco de pesca “Jesus nas Oliveiras” carregou a imagem principal, a de N.ª Sr.ª dos Navegantes, que ao largo de S. Jacinto foi saudada por muitos populares, acompanhados de uma imagem com a mesma invocação e pela Banda local.
No Forte da Barra uns bons milhares de pessoas aguardaram a chegada do cortejo marítimo. Seguiu-se a Eucaristia, presidida pelo P.e Francisco Melo e um festival de folclore. Na celebração, perante autoridades e povo, comentando as leituras, o pároco da Gafanha da Nazaré realçou que a sabedoria de Deus não é antagónica em relação ao ser humano e notou que quem tende a absolutizar as suas concepções e formas de agir, cortando o diálogo, “está condenado ao fracasso”. Dirigindo-se à Sr.ª dos Navegantes, confiou-lhe “os que arrancam do mar o pão de cada dia”, as pessoas da Gafanha da Nazaré, pobres, doentes, crianças, idosos e as famílias, “sobretudo as mais desestruturadas”.
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NOTA: Acompanhei, desde sempre, nesta segunda fase da sua existência, a festa em honra da Senhora dos Navegantes. E nunca perdi a oportunidade de presenciar a procissão pela ria, pelo colorido e alegria que ela proporciona. Este ano, porém, por razões especiais e inadiáveis, não tive esse prazer.
Desde domingo que tenho pensado na festa e no povo que a vive com entusiasmo. Por isso, não resisti a dar nota desta falta, que me levou a solicitar fotos para publicar no meu blogue. Aqui ficam elas, graças à colaboração gentil do meu amigo Jorge Pires Ferreira, director-adjunto do Correio do Vouga. Também fica o texto publicado naquele semanário diocesano.

O FIO DO TEMPO: Valores que (re)unifiquem



Aveiro acolhe
gente de várias paragens

1. Talvez haja que não ter medo da expressão valores de unidade. Esta, não existindo por si, reveste um conjunto de pressupostos princípios humanos fundamentais à prossecução dos objectivos mais nobres de toda a pessoa, instituição, comunidade. Se os tempos sociopolíticos são de valorização e assumpção sublinhada das diferenças, então por isto mesmo sejam destacadas as visões que, integrando as muitas diversidades, procuram lê-las ao serviço da unidade saudável. O ano escolar vai no seu início e a campanha das legislativas na sua fase derradeira. Antes e depois de todas as metas volantes estará a meta final da inclusão das pessoas concretas no seu tempo e espaço a que são chamadas a viver.

2. Aveiro acolhe gente de muitas paragens. Vindos de muito longe ou de mais perto, a afirmação desta terra como “lugar” cosmopolita obriga continuamente à capacidade de acolher e reunificar, no sentido da gestação de oportunidades para nos conhecermos e reconhecermos na diversidade de cada um. Recordamos o hábito sempre novo de há alguns anos no Natal se encontrarem à mesma mesa gentes da academia aveirense de mais de 30 países, da Ásia às Américas, da Europa à África lusófona e outra(s). A linguagem própria desses momentos revela o essencial da condição humana como desígnio de unidade do género humano, sejam quais forem as latitudes de proveniência.

3. Valerá a pena sublinhar que não é no nada nem no vazio que o “encontro” é possível. Este é revestido e comportado por um conjunto de valores estimulantes que representam e expressam o SER HUMANO no que há de mais belo e no que não passa. O nada e o vazio impedem a grandeza do apreciar o mais importante: as culturas como reflexo da viva poética existencial, a esperança humana universal como o sentir do sonho que comanda todas as vidas na procura do melhor de todos e cada um. Em início de ano escolar, valerá a pena reflectir-se e pensar-se sobre as condições e os valores para serem possíveis as unidades.

Alexandre Cruz

Efeméride aveirense: Construção da segunda fase das obras do porto


1944 – 23 de Setembro


Neste dia, do ano de 1944, realizou-se uma manifestação pública, com uma memorável sessão no Teatro Aveirense, em que se evidenciou o regozijo das populações pela decisão do Governo em dotar a Junta Autónoma da Ria e Barra de Aveiro com um substancial subsídio para a construção da segunda fase das obras do seu porto.

Fonte: Calendário Histórico de Aveiro

Uma ideia para Portugal

Ora aqui está um belíssimo programa de governo


Ora aqui está um belíssimo programa de Governo. E andam os partidos políticos a encher folhas e mais folhas de papel com as suas propostas, repletas de banalidades, no sentido de melhorar a vida das pessoas. Em meia dúzia de linhas, este advogado fiscalista apresenta o essencial…

FM

“Para melhorar Portugal era essencial existir mais formação cívica e moral das pessoas, um maior respeito pelo trabalho e esforço individual, uma luta séria contra a corrupção e a extorsão, uma desburocratização estrutural, a redução geral de impostos para premiar pessoas e empresas que criam riqueza e um maior pragmatismo nas decisões políticas e económicas do país.”

Tiago Caiado Guerreiro

In jornal i de 22-09-09

Diversas fases da mesma vida



Boa reflexão de D. António Marcelino,
importante, penso eu,
para lhe associarmos o dia lindo
que temos hoje

Leia tudo aqui, no espaço de Opinião

"Cada pessoa tem a sua história. Mas a sua vida está traduzida em expressões, atitudes, modos de ser e agir, que, sendo diferentes, denunciam, normalmente, uma continuidade com semelhanças e sem roturas de maior. Nesta roda da vida em que todos circulamos, ninguém é igual a ninguém, ninguém esgota a escala da perfeição possível, ninguém substitui ninguém, ninguém está a mais. Porém, todos somos, por virtudes e defeitos, da família de todos, ao contrário de indiferentes ou desconhecidos."

António Marcelino

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Dia Europeu Sem Carros




Três aspectos da festa


CRIANÇAS: a mola-real da alegria mais sã

Hoje foi Dia Europeu Sem Carros. O município de Ílhavo também aderiu. É importante sensibilizar para hábitos de vida  mais saudáveis. Andar a pé, fazer caminhadas longas, sem cansar muito, andar de bicicleta, poluir menos o ar que respiramos. Para isto é preciso andar menos de automóvel, optando por transportes públicos e pela bicicleta. Ou preferir os veículos movidos por energias alternativas à gasolina.
Ó Dia Europeu Sem Carros também serve para proporcionar o convívio, em espaços habitualmente destinados a carros. Foi precisamente esta vertente que eu captei na tarde de hoje, na parte da Av. José Estêvão frontal à igreja matriz. Gostei de ver as crianças, a mola-real da alegria mais sã, a usufruírem do prazer de estar com amigos de todos os lugares da Gafanha da Nazaré.

O FIO DO TEMPO: O medo e o ritmo das reformas


1. Em documento de 21 de Setembro 2009, sobre a avaliação da crise e do desenvolvimento humano e económico europeu, a OCDE pede à Europa uma aceleração do ritmo das reformas estruturais. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) considera que a Europa teve agilidade em reagir à crise financeira do último ano mas não de forma determinada capaz de gerar reformas estimulantes. Considera o documento que para um crescimento sustentável da União Europeia depois da recessão se torna importante a aceleração das reformas. Vendo de fora, poderá parecer que tudo será uma questão de alta velocidade, mas as razões são mais complexas que a mera capacitação teórica de agilizar as reformas consideradas.

2. No mesmo dia, do outro lado do atlântico, nos Estados Unidos, a aceleração a mais na retoma faz gerar pânico. As subidas dos últimos meses têm-se apresentado bem superiores às expectativas realistas dos investidores, o que lançou a suspeita sobre a credibilidade e seriedade do andar da economia, conduzindo as bolsas a fechar no vermelho. Diz-se que «o mercado accionista está vulnerável. Existe uma multidão à espera de uma descida depois de um pico tão forte.» A instabilidade paira no ar e as tendências dos mercados reflectem os sentimentos das pessoas e das comunidades. Humanizando-se a economia, por trás das bolsas estarão sempre mãos e vontades que, de um lado do atlântico ou do outro, quererão descortinar a sustentabilidade ético-económica depois da crise.

3. Por vezes, destes relatórios da OCDE – como outro que já há dias apontava expectativas mais optimistas para Portugal (?!) –, até poderá parecer que tudo resultará num passe de mágica. Repete-se o refrão a aplicar: «reforço da inovação, aprofundamento do mercado único e passagem para uma economia com baixo consumo de carbono», eis as palavras-chave para a Europa. Quem dera que assim fosse… eis um assunto importante que diz respeito ao futuro de todos! Da palavra à obra!

Alexandre Cruz

OUTONO

OUTONO

Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há tanta fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.

Miguel Torga

Decididos, indecisos e desinteressados



Sociedade mergulhada
na desesperança


Vivemos numa sociedade cada vez mais mergulhada na desesperança. Instituições, pessoas, projectos, tudo é olhado com um profundo cepticismo, mesmo desprezo, fustigadas que estão as pessoas pelos falhanços do passado e a desconfiança do futuro.
Muito para além da crise social, económica ou do actual sistema democrático, é este pano de fundo que serve para justificar a ausência de milhões de portugueses quando chamados a exercer o seu direito fundamental de votar, que tantos anos levou e tantos sacrifícios provocou até poder ser de todos e para todos.
Mais do que uma opção consciente pela abstenção, voto em branco ou nulo, chocam os (muitos) casos em que se pode testemunhar o orgulho com que tantos cidadãos não só manifestam profundo e total interesse em relação aos próximos actos eleitorais, como entendem ser essa uma manifestação de superioridade face a um mundo indigno, fechado em si próprio e alheio aos anseios das populações.

Octávio Carmo
 

Limpar as mãos à parede não resolve


O Presidente não pode 
assobiar para o lado


"Não basta a Cavaco dizer que abriu um inquérito interno para apanhar a fonte anónima. Será preciso mais. Um caso desta dimensão exige provas documentais, registos internos do que se fez e deixou de se fazer no Palácio de Belém. Chegado aqui, o presidente não pode assobiar para o lado. O país quer escutá-lo e tem a justa esperança de que afinal ele seja tão sério e sólido como o país precisa que ele seja."

Ler mais no jornal i  

NOTA: Todos temos de ficar espantados com o nível a que chegou a nossa democracia. Embora envergonhados, não podemos cair no desânimo e deixar andar a carruagem como se nada acontecesse de mau no nosso país. Afinal, se olharmos bem, ainda há muita coisa boa entre nós. Não fora assim, onde já estaria Portugal?

Que Fizemos do Evangelho da Alegria?


Anjo risonho

Testemunhar o bom humor de Deus

Se dissermos que Deus é Amor, ninguém se espanta. A afirmação tornou-se até um pouco banal à força da repetição. Mas se dissermos que Deus é Humor, ficamos em estado de alerta, porque nos parece que alguém está a tentar entrar, no território de Deus, “pela entrada dos fundos” e não pela “porta principal”. A verdade é que o Amor não dispensa o Humor.

José Tolentino Mendonça

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Ria em festa...




Ria em festa

Para começar o dia

Para começar o dia, nada melhor do que uma foto da nossa ria em festa. Foi no sábado que as velas brancas de barcos e barquinhos emprestaram a sua beleza às cores azuladas da laguna. Como disse Raul Brandão, a Ria de Aveiro é mesmo para contemplativos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O FIO DO TEMPO: E os dias que virão?!

A troca de galhardetes
vai sendo regra em crescendo

1. Sabe-se que à medida que se aproximam os actos eleitorais vai crescendo a intensidade popular dos apelos ao voto. Cresce o dar tudo por tudo a ponto de muitas vezes se passar a fronteira do bom senso. A troca de galhardetes vai sendo regra em crescendo, havendo sempre mais um coelho na cartola para denunciar quando tal for preciso como resposta. É nesta linha que poder-se-á concluir que os dias de campanha que aí vêm, pelos dias a que já se chegou, não auguram nada de bom… Debater os problemas de fundo da sociedade portuguesa parece ser agenda relegada para a periferia. O caso, o enredo, a vírgula, a denúncia, a suspeita, a nuvem a pairar sobre a ética está tornado o essencial e não parece haver estofo de maturidade cívica que resista a este destino menor e intrigante.

2. Este ano as eleições que vêm a seguir, as autárquicas, precisavam efectivamente do exemplo que viesse de “Lisboa”. Como em tudo na vida, cada palavra e cada passo cria escola ou desconstrói valores que custam uma vida a edificar. Não só a campanha das eleições legislativas (do que poderemos designar de política profissional) não parece ser capaz de mobilizar pela positiva, como deixa atrás de si um rasto que não será muito boa sementeira para os que diariamente servem a causa na política local. A arte de nos conhecermos nas possibilidades e limites, de rentabilizar recursos e de ampliar horizontes sociais e humanos, de catalisar oportunidades mesmo no meio das crises, de gerar consensos razoáveis com dinamismos que no respeito pelas diferenças saibam mobilizar o melhor de cada um…são valores fundamentais à vida diária longe da campanha.

3. Uma apurada e amadurecida consciência política acaba por resultar como a exigência primordial que poderá “salvar” e unir o que ficar estilhaçado depois da guerra, ou “combate” como se lhe gosta de chamar. Erguem-se muros de tal maneira no enaltecer ao rubro das intrigas e divisões… Terão depois de vir os persistentes construtores de pontes, no procurar diário juntar as peças perdidas!

Alexandre Cruz

Legislativas: Menos de uma semana para cada um decidir

É já no próximo domingo, 27 de Setembro, que vamos ser chamados a votar. Teoricamente, há muito por onde escolher; na prátiva, e com os olhos postos no voto útil, teremos apenas dois candidatos: José Sócrates e Manuela Ferreira Leite. Contudo, os fiéis a um ideário saberão manter o rumo nas suas escolhas. Portanto, os politizados e os menos politizados terão que saber o que fazer. Aos indecisos cabe a tarefa de tentar acertar na melhor opção, segundo as suas consciências.
Temos de reconhecer, no entanto, que a nossa sociedade ainda não amadureu suficientemente as suas opções partidárias, manifestando  uma matriz conservadora confrangedora. Ainda não foi capaz de olhar, por exemplo, para os pequenos partidos que raramente se aproximam dos que têm estado, há muito, no Parlamento. Não será tempo de se começar a pensar nisso, já que os actuais partidos políticos, de assento garantido na Assembleia, não conseguem dar volta, pela positiva, a isto tudo?

FM

O papel do provedor do leitor num órgão de comunicação social

Quem pensar que o provedor do leitor de um órgão de comunicação social não passa de uma figura simbólica, para apenas levar os órgãos directivos e os profissionais a reflectirem sobre o que fazem ou não fazem, engana-se redondamente. Joaquim Vieira, provedor do leitor do PÚBLICO, age com independência e com rigor, mostrando à saciedade como se cumpre uma missão de suma importância na comunicação social dos nossos dias.

domingo, 20 de setembro de 2009

O FIO DO TEMPO: A luta de António Feio


António Feio

LUTA CONTRA "O BICHO"



1. É de conhecimento geral que o reconhecido actor António Feio trava uma luta hercúlea contra o que ele chama «o bicho» para o qual ainda a cura não é garantida, referindo-se deste modo ao cancro. Há dias apreciámos uma entrevista que ele deu, já depois do falecimento de sua irmã (10 de Setembro) do mesmo cancro do pâncreas. Das suas palavras, no silêncio comunicativo destas horas, ressalta uma confiança e uma não desistência que são valores essenciais em luta dura semelhante a tantas pessoas anónimas. Comunicação aberta mesmo quando A.Feio diz: «A minha irmã morreu hoje. Não há palavras.»

2. António Feio nasceu em Lourenço Marques (1954), vindo aos sete anos para Portugal e revelando-se cedo um actor humorista agora como que em diálogo com este labirinto em que garante que vai «dar luta até ao fim». A 1 de Agosto, tendo em conta os cuidados de saúde, António Feio e José Pedro Gomes despediram-se de uma linha de programa apreciada já com 12 anos, A Verdadeira Treta. O palco de António Feio é agora outro, mas a mesma fragilidade e força do actor em cena é também neste momento a capacidade de reciclar a força interior para superar a batalha e abrir-se a dimensões superiores à própria razão artística.

3. As horas das fronteiras da vida são essas que revelam a verdadeira essência do espírito humano. No fundo, não há nenhum verdadeiro poeta (da poética como busca itinerante) que não queira viver para sempre, dando tudo na vida com a sua linguagem possível por essa realização plena. O mesmo se poderá dizer do actor, esse que quando sobre ao palco sente sempre aquele arrepio de insegurança que depois o impele a avançar, arriscar e a conseguir transcender-se. Descortinando as ideias profundas de sentido de vida por trás das palavras que se dizem, a confiança e a esperança reditas são essa abertura desejada ao infinito que se revela como fé no tempo presente. Mesmo quando se diz: «se me vencer, pelo menos que se saiba que eu dei luta».

Alexandre Cruz

300 mil entradas no Pela Positiva


Flores do meu jardim

Responsabilidades acrescidas


Queria ver, em directo, a mudança do contador no momento em que atingisse o número redondo das 300 mil entradas, mas esqueci-me. Nesta altura, meio-dia do dia 20 de Setembro, quando pressinto os foguetes da Festa da Senhora dos Navegantes, a quem a minha saudosa mãe rezava quando o meu pai partia para a pesca do bacalhau, confirmei que fui ultrapassado. Mas não faz mal, também posso atirar um foguete, sem medo que ele me estoire nos dedos.
As responsabilidades acrescidas segredam-me que continue a partilhar com o mundo o meu mundo, o que me envolve e me faz respirar o doce prazer da comunicação e da vida. A alegria de saber que estou vivo, com saúde e com projectos de fraternidade e de paz, junto dos meus e de todos, sempre na aposta de uma sociedade melhor.
Saúdo todos quantos colaboram comigo dando muito do que  pensam e sabem, para que outros, paulatinamente, possam enriquecer, quando abrem o Pela Positiva. Mas também não posso deixar de felicitar os que, dia a dia, me seguem, um pouco por toda a Terra, e, ainda, os que me estimulam, para que continue.

Pela Positiva

Fernando Martins

sábado, 19 de setembro de 2009

Um livro-filho de Senos da Fonseca


No momento dos autógrafos
.
Saudades de mim menino

 
Ai barcas, ai barcas
Tão triste é vosso negror,
Por onde ides navegar?
Que espreita
O olho que levais na proa?
Ai amores, ai amores
Da ria amada.
Ai amores do verde pino…
Ai saudades de mim, menino
Levai-me em vosso vagar.

(S.F.)
Costa-Nova-do-Prado
 200 Anos de História e Tradição

 
Costa-Nova-do-Prado – 200 Anos de História e Tradição é o mais recente livro de Senos da Fonseca. Trata-se de um livro-filho, como salientou Zita Leal, que fez a apresentação da obra, hoje à tarde, na Calçada Arrais Ançã, naquela praia.
É na Costa Nova que Senos da Fonseca recupera dos seus trabalhos e inquietações, deixando-se inebriar pelo “azul único” reflectido na ria e pelo “farfalho da marola branca que lhe bate à porta”.
Reconhece que a ria, tal como ele, “anda inquietada”, mas tem vida dentro de si própria, alimentando garantias de que continuará a viver, para que nós e os outros que hão-de vir possamos “admirar esta paisagem”.
O autor adiantou que foi aqui que “as pessoas tomaram consciência de que era necessário procurar outros locais, por esse litoral fora”, sendo certo que os ílhavos foram sempre diferentes das pessoas das comunidades onde se inseriram. Na Nazaré, na Cova [Figueira da Foz], em Peniche e em Olhão ainda se fala da “cultura ilhavense que não se deixou subverter” pelas culturas que encontrou.
Ao olhar para a identidade dos ilhavenses, conotada com hábitos e formas de estar na vida trazidos pela burguesia, o autor recordou figuras gradas da cultura e da política que na Costa Nova visitaram José Estêvão e mais tarde seu filho Luís de Magalhães, levando os jornais a falar desta terra com enlevo.
Evocou a “geração de ouro”, dos finais do século XIX e princípios do século XX, com figuras de expressão nacional, “que Ílhavo tenta esquecer a todo o custo”. “É isso que me dói”, afirmou Senos da Fonseca, garantindo que por essa razão, entre outras, escreveu este livro, incitado pelo Clube de Vela da Costa Nova, para quem havia alinhavado uns textos e juntado umas fotografias, para comemorar os 25 anos da sua existência.
E explicou: “Esquecemos Alexandre da Conceição, no meio de uma pedra em Viseu; nunca mais lá fomos buscá-lo, ele que foi um dos maiores poetas do século XIX; esquecemos Trindade Salgueiro, com as suas duas facetas: era um senhor da Igreja, havendo muito poucos que atingiram o seu nível; e esteve ligado a um Tenreiro do antigo regime.”
Denunciou que há figuras ilhavenses que têm sido assumidas por Aveiro, como Mário Sacramento e Rocha Madail, e disse que, “amanhã, Cândido Teles também será um aveirense”. Esquecidos  têm sido Fernando Magano e João Carlos, este com obras “num pardieiro qualquer”.
Euclides Vaz, um dos maiores escultores do nosso país, talvez  por ter a sua ética política em sintonia “com um partido que continua a ser incómodo para alguns, nem uma ruela tem em Ílhavo”, ele que foi “um monstro sagrado da escultura portuguesa”.
Não temos vergonha de ignorar Filinto Elísio, filho de Maria Manuel e de Manuel Simões, que eram de Ílhavo e foram para Lisboa. “Até à sua época, só havia dois grandes escritores que o tinham suplantado: Camões e António Vieira.”
Enquanto Zita Leal foi apresentando a obra, realçando o que mais a tinha impressionado, João Manuel da Madalena interpretou algumas canções e Jorge Neves disse poemas. A Rádio Faneca (de que falarei um dia destes), ao vivo, levou-nos a reviver os tempos, de meados do século passado até 1998, em que apresentava música e publicidade, com discos pedidos à mistura, em Ilhavo, aos domingos, e na Costa Nova, na época balnear.
O produto da venda do livro reverterá, na íntegra, para o CASCI, instituição fundada por Maria José Fonseca, que faleceu em Novembro de 2007. O seu cargo foi então ocupado por  seu irmão, João Senos da Fonseca, autor da obra apresentada.
Sobre o livro, que ainda não li, hei-de escrever em breve.

Fernando Martins

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 149


Santa Princesa

BACALHAU EM DATAS - 39

Caríssimo/a:

1939 - «A autonomia de decisão dos armadores em matéria de renovação das frotas sem interferência do estado no planeamento prévio do tipo e da capacidade dos navios a construir apenas se nota até 1939.» [Oc45, 93]

«Garantindo o emprego a aproximadamente 250 operários dos estaleiros de Manuel Mónica, em 1939, era construída uma unidade de linhas airosas, de “tipo americano”, considerada como modelar pela sociedade inglesa classificadora de navios Lloyds Register of Shiping. Tratava-se do lugre AVIZ, uma encomenda da Companhia de Pesca Transatlântica, L.da, do Porto, com 50 m de comprimento, 700 t de arqueação, onde o maior conforto, inovação e eficiência constituíram apanágio. Dispunha de acomodações para 60 homens de tripulação, sala de oficiais, casas de banho, caldeiras para aquecimento central, frigoríficos e TSF. O seu motor debitava 400 CV e tinha 540 t de capacidade de carga. As madeiras utilizadas foram, mais uma vez, o carvalho, pinho manso e pinho bravo nacionais e madeiras brasileiras.» [Oc45, 117]

«Embora no final da década de 30 do século XX, perto de metade dos navios da pesca do bacalhau portugueses tivessem entre 10 e 20 anos de idade, dentre os 49 navios que compunham a frota em 1939, registaram-se 41 embarcações equipadas com motor, 16 com frigorífico e 36 com receptor TSF. A safra desse ano envolveria 2038 tripulantes e seria produtiva, atingindo a cifra recorde de 17.635 t de pescado.»[Oc45, 110]

«O avanço foi considerável, uma vez que antes da intervenção corporativa nas pescas, a frota bacalhoeira tinha somente 14 navios equipados com motor e nenhum possuía TSF ou frigorífico.» [Oc45, 119, n. 4]

1940 - «2.º arrastão para a EPA: SANTA PRINCESA Se a viagem inaugural [do SANTA JOANA] foi coroada de êxito, as viagens seguintes já sob comando de capitães portugueses, foram de tal forma bem sucedidas que logo a empresa armadora pensou em adquirir mais uma unidade. Foi assim que em 1940, um navio em segunda mão, comprado aos franceses veio juntar-se ao SANTA JOANA. Tratava-se de um navio novo que após ter sofrido um violento incêndio em pleno mar, incêndio que acabou por ser dominado, foi levado para o Havre a reboque de um arrastão da mesma companhia. Chamava-se este navio SPITZBERG, elemento de uma série de quatro navios todos iguais, sendo os restantes o PRESIDENT HONDUCE, o ANGELUS e o LE DUGNAY TROUIN. Uma vez chegado a Aveiro a reboque de um navio fretado para o efeito, foi totalmente recuperado com nova maquinaria e rebaptizado com o nome SANTA PRINCESA. Corria o ano de 1940, ano que marca o início de grande desenvolvimento da nossa frota pesqueira, com uma série de construções de ambas as modalidades – arrasto e pesca à linha. p. 44 de 1936 a 1950: 48 navios=> 20 arrastões (aço e motor diesel) e 28 navios para a “White Fleet” (madeira com motor e vela; ou de aço só motor).» [HDGTM, 43 ]

«Apesar da entrada na década de quarenta com uma encomenda em mãos, a NAU PORTUGAL, um empreendimento de 1200 t que viria a figurar na Exposição do Mundo Português, os Estaleiros Mónica mantiveram-se na senda das construções para a pesca do bacalhau, não esquecendo que a madeira como matéria prima era agora tida como prioritária no contexto da Guerra. No ano de 1940, os dois irmãos António e Manuel Maria Mónica, possuidores de estaleiros “paredes meias”, lançaram à água os lugres-motor D. DENIS e PRIMEIRO NAVEGANTE, dotados dos habituais pormenores a nível de conforto e equipamento, destinados respectivamente às empresas Pascoal e Filhos, L.da e Ribaus & Vilharinhos, L.da.» [Oc45, 117]

Fundação dos Estaleiros Navais do Mondego.

(10 de Março) - O navio VIRIATO, da frota da Figueira, foi aprisionado na Holanda, pelo exército alemão.

«Carlos Roeder resolve, com um grupo de amigos e colaboradores, iniciar, no ano de 1940, na povoação de S. Jacinto, a construção de um estaleiro.» [in Os Estaleiros de S. Jacinto – 50 anos de história, por Henrique Moutela]

Manuel

OUVIR O SILÊNCIO




OUVIR O QUÊ?


No meio da vertigem das tempestades de palavras em que vivemos, que nos atordoam e paralisam, tal-vez se torne urgente parar. Para ouvir.

Ouvir o quê? Ouvir o silêncio. E só depois de ouvir o silêncio será possível falar, falar com sentido e palavras novas, seminais, iluminadas e iluminantes, criadoras. De verdade. Onde se acendem as palavras novas, seminais, iluminadas e iluminantes, criadoras, e a Poesia, senão no silêncio, talvez melhor, na Palavra originária que fala no silêncio?

Ouvir o quê? Ouvir a voz da consciência, que sussurra ou grita no silêncio. Quem a ouve?

Ouvir o quê? Ouvir música, a grande música, aquela que diz o indizível e nos transporta lá, lá ao donde somos e para onde verdadeiramente queremos ir: a nossa morada.

Ouvir o quê? Ouvir os gemidos dos pobres, os gritos dos explorados, dos abandonados, dos que não podem falar, das vítimas das injustiças.

Ouvir o quê? Talvez Deus - um dia ouvi Jacques Lacan dizer que os teólogos não acreditam em Deus, porque falam demasiado dele -, o Deus que, no meio do barulho, só está presente pela ausência.

Ouvir o quê? Ouvir a sabedoria. Sócrates, o mártir da Filosofia, que só sabia que não sabia, consagrou a vida a confrontar a retórica sofística com a arrogância da ignorância e a urgência da busca da verdade. Falava, depois de ouvir o seu daímon, a voz do deus e da consciência.

Ninguém sabe se Deus existe ou não. Como escreve o filósofo André Comte-Sponville, tanto aquele que diz: "Eu sei que Deus não existe" como aquele que diz: "Eu sei que Deus existe" é "um imbecil que toma a fé por um saber". Deus não é "objecto" de saber, mas de fé. E há razões para acreditar e razões para não acreditar.

Comte-Sponville não crê, apresentando argumentos, mas compreendendo também os argumentos de quem crê. Numa obra sua recente, L'Esprit de l'athéisme, mostra razões para não crer, mas sublinhando a urgência de pensar, se se não quiser cair no perigo iminente de fanatismos e do niilismo, e, consequentemente, na barbárie, "uma espiritualidade sem Deus".

Constituinte dessa espiritualidade, no quadro de um "ateísmo místico", é precisamente o silêncio. "Silêncio do mar. Silêncio do vento. Silêncio do sábio, mesmo quando fala. Basta calar-se, ou, melhor, fazer silêncio em si (calar-se é fácil, fazer silêncio é outra coisa), para que só haja a verdade, que todo o discurso supõe, verdade que os contém a todos e que nenhum contém. Verdade do silêncio: silêncio da verdade."

Encontrei Raul Solnado apenas uma vez. Num casamento. Surpreendeu-me a imagem que me ficou: a de um homem reflexivo. Não professava nenhuma religião. Por isso, não teve funeral religioso. Mas deixou um pequeno escrito, com uma experiência, no silêncio, na Expo, em Lisboa, em 2007.

"Numa das vezes que fui à Expo, em Lisboa, descobri, estranhamente, uma pequena sala completamente despojada, apenas com meia dúzia de bancos corridos. Nada mais tinha. Não existia ali qualquer sinal religioso e por essa razão pensei que aquele espaço se tratava de um templo grandioso. Quase como um espanto, senti uma sensação que nunca sentira antes e, de repente, uma vontade de rezar não sei a quem ou a quê. Sentei-me num daqueles bancos, fechei os olhos, apertei as mãos, entrelacei os dedos e comecei a sentir uma emoção rara, um silêncio absoluto. Tudo o que pensava só poderia ser trazido por um Deus que ali deveria viver e que me envolvia no meu corpo amolecido. O meu pensamento aquietou-se naquele pasmo deslumbrante, naquela serenidade, naquela paz. Quando os meus olhos se abriram, aquele Deus tinha desaparecido em qualquer canto que só Ele conhece, um canto que nunca ninguém conheceu e quando saí daquela porta, corri para a beira do rio para dar um grito de gratidão à minha alma, e sorri para o Universo. Aquela vírgula de tempo foi o mais belo minuto de silêncio que iluminou a minha vida e fez com que eu me reencontrasse. Resta-me a esperança de que, num tempo que seja breve, me volte a acontecer. Que esse meu Deus assim queira."

Anselmo Borges

In DN

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ílhavo adere mais uma vez ao Dia Europeu Sem Carros – 22 de Setembro




«nunca é demais um carro a menos»


A Câmara Municipal de Ílhavo adere uma vez mais ao Dia Europeu Sem Carros (22 de Setembro). Quer sensibilizar, assim, toda a população para o bom uso dos espaços públicos do Município, incentivando as caminhadas, o uso da bicicleta e a circulação em segurança.

Pretende-se, também, com o vasto programa de animação, que decorrerá em Ílhavo (Centro Histórico) e na Gafanha da Nazaré (Avenida José Estêvão), que cada cidadão redescubra as cidades concelhias em cada rua, esquina ou jardim!

Subjacente a toda esta iniciativa, está a participação de todos os cidadãos neste processo, de forma a construir-se um ambiente urbano melhor para todos, tendo em consideração que «nunca é demais um carro a menos»!


Universidade Sénior dá os primeiros passos


Ribau Esteves, Hugo Coelho e Cândida Silva, na abertura da Universidade Sénior


Directora da Fundação presta esclarecimentos

- Quando te reformares, o que é que vais fazer?
- Talvez vá para a Universidade Sénior da Curia, Anadia.
Esta simples pergunta, de Hugo Coelho, presidente da Fundação Prior da Sardo, e a respectiva e também simples resposta de sua Mãe, Fernanda Filipe, estiveram na base da criação da Universidade Sénior, que hoje deu os primeiros passos para servir todo o concelho de Ílhavo, e não só.
Sabe-se que outras entidades e pessoas tiveram o mesmo sonho, mas foi a Fundação Prior Sardo que assumiu as responsabilidades de proporcionar aos menos jovens encontros para valorização dos conhecimentos de quantos entendem que a vida tem de continuar, com todo o espírito de uma juventude que alimenta ânsias de saber mais, para mais facilmente contribuírem para um mundo muito melhor.
Sei que não vai ser fácil para muita gente deixar o nada-fazer para se envolver em algo de bom e de belo, como são acções de formação cultural, social e humana. Cultural, porque proporciona partilha de saberes; social, porque envolve o convívio entre pessoas de diversas idades e mentalidades; humana, porque prepara para a intervenção na comunidade, tendo em vista uma sociedade mais fraterna.
Pelo que ouvi hoje, na abertura do ano lectivo, há quem se disponha a colaborar na orientação de aulas e encontros, há pessoas que querem saber mais, há entidades que assumem os apoios indispensáveis, há vontade de levar por diante este projecto.
A Universidade Sénior iniciará as actividades lectivas em Outubro, em espaços de Ílhavo, Gafanha da Nazaré e Gafanha da Encarnação. Inscreveram-se até hoje 47 pessoas, mas há vagas para mais.
Quando houver novidades, aqui darei conta delas.


FM

O FIO DO TEMPO: Não alimentar radicalismos




1. Para o cidadão comum, observar que a crispação anda no ar basta ver algum breve tempo de notícias. A intolerância e o radicalismo como afirmação de que se tem por exclusividade a verdade é tentação que tem percorrido os séculos, fazendo jorrar muito sofrimento, mas continua ainda hoje a sua sementeira. Faltam alguns dias para chegar a 27 de Setembro e o clima da sedução das massas ecoa determinadas afirmações que seriam impensáveis e nunca ditas em dias normais de hoje. Percebe-se que para o cativar das massas, especialmente quando as emoções falam mais alto, a radicalização dos discursos é quase esse dar tudo para fazer passar a mensagem…

2. Talvez o principal vector esteja mesmo no nível de qualificação do “ouvido”, na maturidade cívica do ouvinte cidadão em não alinhar na promessa impraticável ou em saber separar as águas da intenção do discurso tendo estofo para compreender a ideia que, directa ou indirectamente, lhe querem vender. Dizer-se que as televisões dão o que as pessoas gostam de ver ou que o país tem os políticos que merece poderá também reflectir essa própria anemia social que por vezes os estudiosos da vida pública registam. Mas, de facto, é verdade que numa sociedade já formada que não goste de radicalismos eles não existem, e também não se pode exaltar o infeliz hábito de que os tempos de campanha, em vez de épocas de esclarecimento, sejam momentos de integrismo radical.

3. A arte da governança do bem comum, em todas as formas de serviço à comunidade, é o palco onde o que se diz hoje fica gravado e será recordado amanhã, como hoje se recorda o que ontem foi afirmado. A delicadeza desta certeza garantida contém em si não tanto o ter de se ser “ético à força” mas a confirmação da irrepetibilidade do tempo e de que as fronteiras haverão de ser bem solidificadas. Tem havido, de variados quadrantes da campanha nacional, determinadas afirmações de radicalismos que talvez sejam, a montante e a jusante, o ensaio para o teste final político feito pelo juiz Gato Fedorento. Salva-se o humor!

Alexandre Cruz