sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Na Rádio Terra Nova

SOLTAR A CORRENTE
SOLTAR A CORRENTE é o novo programa da Pastoral Juvenil da Diocese de Aveiro na Rádio Terra Nova. Quinzenalmente, às sextas-feiras, entre as 21 e as 22 horas, em 105 FM. Entrevistas, ligações em directo com os grupos de jovens da diocese, sugestões para os teus fins-de-semana e a música dos teus ritmos. E, claro, o tal minuto e meio de reflexão. Porque a semana terminou, vem daí SOLTAR A CORRENTE. Podes acompanhar o programa online em http://www.terranova.pt/
O programa tem apresentação de João Matos, com repórteres que vão percorrer a diocese, Sónia Neves, Priscilla Cirino e Álvaro Ramos. A condução técnica é de Márcio Conceição e a produção de Catarina Pereira

Leituras

Não escondo que o meu grande prazer, diário, está na leitura. Quando acordo, até parece que os meus olhos começam logo à procura de letras, palavras, frases, jornais, revistas, livros. Sempre foi assim, desde que me conheço. E quando abuso, é certo e sabido que desabrocham as dores de cabeça. Prometo a mim mesmo que no dia seguinte serei mais contido e até prometo rejeitar leituras. Mas não consigo. Agora ando a contas com os livros da colheita do meu aniversário, do Natal e do Ano Novo. Há muito que ler. E reler. Quando acabo uma leitura, ocorre-me de imediato falar do livro em termos encomiásticos, para que outros, lendo-o, possam usufruir do prazer que eu senti. Mas é impossível. Não teria tempo para isso. Alguns há que não merecem qualquer referência, de tão banais que são. Hoje, qualquer bicho careta publica livros. Acordou com uma notícia escaldante debitada na rádio e zás. Aparece logo um livro. No fundo, não passa de um oportunista para enganar papalvos. E por vezes também vamos na onda, comprando molhos de folhas escritas sem nexo nem arte. Porém, há livros que merecem mesmo ser lidos e comentados no meu blogue. Estão aqui à espera de vez. E de tempo, valha a verdade, para alinhavar meia dúzia de frases, sem preocupações de análise crítica, que não é esse o meu mister. Um dia destes vou começar a aliviar a mesa de trabalho. Livro lido e comentado, se o merecer, vai para a estante, onde há sempre um cantinho para o acolher. Com carinho. Porque há livros que são, realmente, grandes amigos.
FM

Calor humano

Edifício onde funcionou a minha escola
Quando eu era menino o frio vinha e ia sem ninguém dizer nada. Sentia-se no corpo e na alma e sofria-se em silêncio. As escolas não tinham aquecimento nenhum, e o vento, húmido e gelado, entrava por todos os cantos. Os mais pobres, sem calçado e sem roupa que agasalhasse, tiritavam o tempo todo. Recordo-me dos truques de que o meu professor, Manuel Joaquim Ribau, de saudosa memória, se servia para enfrentarmos o frio. Antes de abrir a porta da escola, mandava-nos correr, na que é hoje a Av. José Estêvão. E a corrida aquecia. Mas dentro da sala de aula o frio atacava de novo, com força. Então, quando as mãos enregeladas não conseguiam pegar no ponteiro com que se escrevia na lousa, todos de pé, a um sinal do mestre, de braços estendidos, abraçávamo-nos a nós próprios, com genica, para que as nossas mãos nos batessem no corpo. E assim passava o tempo. Uma ou outra vez fizemos uma fogueira no caminho de terra batida, onde nos aquecíamos. E quando havia temporal, com vento, chuva e frio de rachar, a escola era triste. Mesmo muito triste. Hoje, com tantas comodidades, merecidas e justas, outros problemas haverá que também, por vezes, a tornam triste. Mas não há, julgo eu, tanto frio como antigamente, onde só o calor humano pontificava. FM

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

AMIGOS E AMIZADES

Há tempos especialmente propícios para apreciar melhor o que na vida teve, tem e terá sempre, um valor de excelência para nós, os mortais. Esses tempos não se encomendam. Vão acontecendo sem que a vida os possa engolir. Um coração sensível e atento dá por eles e deles sabe tirar as lições de ser e de saber que lhe são proporcionadas. Disse alguém que “um belo ancião é a mais formosa de todas as ruínas”. Formosa, rica e sábia, porque sempre capaz de discernir e apreciar, com rectidão, o que a vida lhe foi e vai proporcionando, por força da sabedoria adquirida no tempo, da experiência de ultrapassagem das portas estreitas da vida e da finitude dos túneis, por longos e lúgubres que sejam. E, também, pela vivência libertadora das mais complicadas contingências humanas, que acompanham todos os resistentes da vida no seu dia a dia, e persistem, encorajados e com sentido, para ir um pouco mais além. Os amigos, que sempre o foram e o são de facto, e as amizades advenientes por força das mais variadas circunstâncias, constituem privilegiados elementos de interesse dessa leitura da vida, que o tempo e os tempos vão permitindo fazer. Diz a sabedoria da Escritura que “um amigo é um tesouro”. A vida mostra que os tesouros são raros e de leitura nem sempre unívoca. Alguns amigos volatilizam-se quando os julgávamos de sempre e para sempre. Outros foram deixando que o coração se endurecesse aos apelos de ajuda e aos desabafos de compreensão. Ainda outros desaparecem rápidos como os tempos em que nasceram. Restam sempre poucos que, presentes e ausentes, mantêm o mesmo tom de voz, o mesmo calor das palavras, a mesma abertura de alma, a mesma disponibilidade para estar ou para vencer, num instante, distância de quilómetros. Mantêm a mesma alegria incontida, a mesma capacidade de alegria e de dor, vividas em comum, a mesma certeza do ontem e do hoje. São estas atitudes de vida que traduzem a verdade de que “um amigo é um tesouro” e de que os verdadeiros amigos não são como o vento que dá sinal de si, mas passa à frente e depressa. Das amizades e encontros que surgem ao longo da vida, tanto nascem amigos verdadeiros, coisa rara, como expressões de respeito que só enraizaram por tempos de relação necessária e que logo passam, como atitudes que escondiam interesses e não foram além da satisfação destes. Há, ainda, amizades de honra, propaladas por um tempo, que depois se transformaram em indiferença ou desconhecimento.. A vida de hoje, com padrões de relação mais frequentes mas mais superficiais, vazada em interesses imediatos a que repugna toda a gratuidade, não é propícia nem ao respeito pelas raízes mais antigas, mesmo as humanas, nem à conservação duradoira daqueles que o tempo parece ter tornado mais ou menos inúteis, senão mesmo desvalorizados, assim se diz, por incapazes de ler e falar o presente fluido, que a muitos seduz. Nesta depreciação entraram também instituições respeitáveis, por vezes mais propícias a ser museu de velharias inúteis, peças de ontem em prateleiras douradas, que salva guarda cuidadosa e carinhosa de gente a respeitar pela riqueza humana que nela perdura. As festas cíclicas não são mera tradição. Constituem ocasião de reforço das amizades verdadeiras. Os amigos, porque então, de alguma maneira, se manifestam sempre, ficam ainda mais amigos. Os que o não são, vão caindo e saindo, deixando recordações, nem sempre as melhores. Amizades por interesse ou respeito que não chegam ao coração. O verdadeiro tesouro conserva-se como presentes de amor, que é isso que de facto é. Um amigo verdadeiro dá segurança e alegria de viver. Tesouro raro. Mas o pouco é muito, quando verdadeiro, e o muito é nada, quando lhe falta o rosto e calor de verdade. Em cada ano não faltam ocasiões para agradecer os amigos e para pesar o valor das amizades de circunstâncias e, também, das utilitárias e compostas para a ocasião.
António Marcelino

Situação absurda

Um estudo recente revela que o número de habitações praticamente duplicou em Portugal nos últimos 30 anos. Sendo o nosso país um dos mais pobres da Europa, no entanto é o segundo com maior número de casas por habitante. Um enorme desperdício de recursos num país que não é rico. Este absurdo não é novidade. Como também se sabe haver mais de meio milhão de casas desocupadas em Portugal, ao mesmo tempo que inúmeras pessoas não possuem habitação digna desse nome. Ou, ainda, que muitas famílias estão com a corda na garganta por causa do empréstimo que fizeram para comprar casa. Este é o resultado desastroso de décadas em que faltou coragem política aos governos para reanimarem a sério o mercado de aluguer. O que implicaria uma revisão realista das rendas antigas. E uma justiça rápida e eficaz, não permitindo que um inquilino permaneça numa casa anos e anos sem pagar renda. Mas ninguém espere uma correcção a curto prazo desta situação absurda, apesar de o crédito estar agora mais caro e difícil. 2009 é ano de eleições.
Ponto de Vista de Francisco Sarsfield Cabral na Renascença

CORREIO DO VOUGA COM NOVA CARA

Jornal feito para os leitores e com os leitores
Chegou-me hoje às mãos um Correio do Vouga com nova cara. Diz a direcção, em nota de esclarecimento, que este semanário da Diocese de Aveiro “muda para ser mais agradável de ler, ter mais informação, ter outra informação”. Assumindo que “parar é morrer”, o Correio do Vouga apresenta-se com outra cara, na “imagem e no conteúdo”, sendo feito “com o mesmo empenho profissional e paixão”. Sendo suspeito em qualquer juízo de valor (não posso esquecer que fui seu director durante 12 anos), não quero enjeitar a obrigação de apoiar as mudanças verificadas, mudanças que são sempre sinais de aposta no futuro, neste mundo de competição desenfreada. Alguma comunicação social não se coíbe de pôr de lado a ética profissional, apenas para vender mais notícias, em especial de sinal negativo, as tais que atraem mais publicidade. O Correio do Vouga, que alinha pela positiva, com boa informação e com a formação adequada, oferece agora, em mais páginas, outras razões para ser mais lido. Além das secções e colaboradores habituais, há novas rubricas, mais notícias um pouco de todos os âmbitos. E até nem sequer foi esquecido o passado, que poderá ser, para muitos leitores, mais um motivo de interesse. O mesmo se diga da “Espiritualidade”, do “Ver, Ouvir, Sair” e do “Almanaque”. E porque é feito para os leitores e com os leitores, esperam-se sugestões. Os meus parabéns para a direcção do Correio do Vouga e para quantos semana a semana o fazem. FM

VIA DE CINTURA PORTUÁRIA DE AVEIRO

Ana Paula Vitorino preside hoje
ao auto de consignação da 3.ª fase
Hoje, 8 de Janeiro, vai proceder-se à assinatura do auto de consignação da terceira fase da Via de Cintura Portuária de Aveiro, obra com custo previsto de 6,9 milhões de euros e um prazo de execução de oito meses. A cerimónia, a decorrer na sede da Administração Portuária, será presidida pela Secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, que já em Julho havia estado em Aveiro para o lançamento do concurso desta importante obra. O projecto original da Via de Cintura Portuária de Aveiro foi concretizado, em duas fases anteriores, no âmbito da construção do Terminal Norte. O objectivo pretendido era o de permitir que o núcleo da futura área portuária comercial e industrial que veio a ser desenvolvido a partir de 2001, gravitando à volta do referido Terminal, ficasse dotado de um eficiente acesso rodoviário. Actualmente ainda falta completá-la com a 3ª fase que fechará a actual Via, ligando-a desde a zona da Chave até ao IP5, no chamado nó da “Friopesca”. O projecto da Via de Cintura Portuária de Aveiro – 3ª Fase, tem como objectivos fundamentais e prioritários: Assegurar uma adequada ligação entre o Nó do IP5, junto à ponte do Rio Boco e a actual Via de Cintura Portuária; Melhorar a acessibilidade da zona portuária, constituída essencialmente por unidades industriais de transformação de pescado; Permitir uma fácil circulação dos veículos pesados de transporte de matérias-primas e mercadorias, sem congestionar o restante tráfego; Contribuir para a dinamização socioeconómica da zona portuária; e gerar atractivos para a fixação de novas potenciais indústrias.
Fonte: Newsletter do Porto de Aveiro

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Sobriedade e solidariedade

Não seria possível acolher
os sem-abrigo nos lares?
Face à crise económico-financeira, anunciada no mundo ocidental, o Papa já fez o seu apelo para que vivêssemos com sobriedade e em espírito de solidariedade. Os políticos e demais responsáveis pela sociedade também não se cansam de nos alertar para a necessidade de cuidarmos do futuro, ensaiando e levando à prática comportamentos de contenção nas despesas. Por outro lado, importa implementar nas instituições de solidariedade social e de caridade uma redobrada atenção, no sentido de ajudarmos os que mais precisam. Ontem, por causa do frio, até tendas foram montadas para proteger os sem-abrigo, reforçando-se a distribuição de roupas, outros agasalhos e alimentos quentes. Era o mínimo que se poderia fazer. Mas continuo a pensar nesta triste realidade, que nos leva a aceitar, como indiscutível inevitabilidade, a existência dos sem-abrigo. Eu sei, por conversas que já mantive com alguns que prestam apoio aos que vivem na rua, que o problema é muito complexo. Por exemplo, há pessoas que se recusam, pura e simplesmente, a ingressar num qualquer lar. São pessoas marcadas por contingências diversas e complicadas, que as levam a optar por essa forma estranha de viver. Mas não seria oportuno que técnicos credenciados estudassem a fundo a questão, tendo em conta que cada caso é um caso, para que os sem-abrigo fossem acolhidos nos lares? FM

CORTEJO DOS REIS

Tradição continua a ser respeitada 
na Gafanha da Nazaré

Os Reis Magos (Foto de arquivo)

Como todos os anos, vai realizar-se o Cortejo dos Reis na Gafanha da Nazaré, no domingo depois da Epifania, 11 de Janeiro. Trata-se de uma tradição bastante enraizada nesta paróquia, com o povo a viver, de certa forma, a alegria da visita ao Menino-Deus, seguindo a Estrela de Belém que há mais de dois mil guiou os Reis Magos. 
Previamente, o povo organiza-se para participar condignamente. As comissões dos lugares distribuem tarefas, ornamentam os carros, ensaiam cânticos apropriados e outras modinhas e formam grupos para recolha de donativos. No meio de tudo isto, há os espontâneos, que procuram vestir-se de maneira original: à moda antiga, uns, e de qualquer forma, outros. 
Durante o cortejo, que começa manhã cedo no lugar de Remelha, com a aparição do anjo a anunciar aos pastores o nascimento do nosso Salvador, não falta quem cante e quem apresente autos natalícios, repetidos há muitas décadas. São ensaiados, no tempo certo, pelos mesmos actores, que sabem de cor o que têm a dizer, quando é chegada a hora de entrar em cena. 
As ruas da Gafanha da Nazaré tornam-se mais animadas ao som dos cânticos, muitos deles exclusivos deste povo. A fechar o cortejo, lá vão os Reis Magos, montados nos seus cavalos, seguindo a estrela que os guia até ao presépio. E no final, na igreja matriz, todos vão beijar, como muita devoção, o Menino Jesus. Depois, a festa continua com o leilão dos presentes, nunca faltando os que fazem “render o peixe”. O rendimento reverterá para as obras da residência paroquial da Gafanha da Nazaré. 

Fernando Martins

Seria melhor saber o futuro?

Não é por acaso que o mundo inteiro dá saltos de espanto, festa e medo nos primeiros momentos de cada ano. Nem todos dizem, cantam ou dançam o mesmo. Há um oculto ritual, um desejo de espantar o mal, o medo, a guerra, a dor, a morte. Quase todos arrancam para a festa com a experiência de duros e fantásticos dias vividos num passado, próximo ou longínquo, pintado de tempo. O advir é um atalho de mil caminhos que pode desembocar em mil alegrias ou prantos. Tudo isso se encaixa no tempo que nos é dado viver. Com todas as hipóteses e nenhuma certeza definitiva. Trata-se do futuro. E o futuro, como dizem os crentes e não poucos ateus, a Deus pertence. Nada se passa apenas no singular. Todos vivem, convivem, estão ligados a uma família ou a um grupo de amigos. E nessa esfera de relações há íntimos frágeis, idosos, crianças, filhos, irmãos, pais. Afectos e rancores, desejos e repulsas. Mesmo os solitários que vivem a milhas de todos, têm um repente de irmão, pai ou amigo, no momento de aflorarem a porta do futuro que ninguém adivinha como se abrirá e quem por ela poderá passar. Assim vivemos, envoltos neste mistério que astrólogos e cartomantes procuram explorar e vender nas franjas da magia ou adivinhação. Olham para os astros, olham para o tempo, fixam-se na palma da mão e dizem o possível, tão convictos do futuro como o apostador do euromilhões que esgota o mais rigoroso cálculo de probabilidade sem nunca lá chegar. Ou lá chega contra todas as lógicas. Nas mãos de Deus está o futuro. Mas também nas nossas.Com a nossa cumplicidade se levantam as muralhas de guerra e paz, os frutos da justiça e da opressão, abraços de festa ou as armas de morte. Temos os cordelinhos de muitos acontecimentos. Falta-nos a chave da historia. Que, como o futuro, a Deus pertence. Para nós, previsões seguras só no fim do jogo. E ainda bem. António Rego