terça-feira, 11 de novembro de 2008

A melhor juventude

É possível abordar o fenómeno da Acção Católica de um ponto de vista puramente histórico e referir como nestes 75 anos ele se tornou um observatório privilegiado para olhar o interior da própria Igreja e o impacto desta no mundo.
Três quartos de século permitem uma visão suficientemente ampla e diversa e, entre os estudiosos, restam hoje poucas dúvidas sobre a centralidade decisiva da Acção Católica e o papel charneira que essa militância representa. Ela tem espelhado e trabalhado cada tempo num esforço metódico de coincidência com o real (distante das espiritualidades autosistémicas e desencarnadas), mas concebendo o tempo como laboratório do Reino: nas suas tensões e sinais a interpretar, na sua largueza e na tarefa que nos compromete.
É possível abordar a Acção Católica em chave sociológica e maravilhar-se com esta movimentação transversal a meios e estratos sociais, onde o laicado encontrou uma espécie de escola de formação e de oportunidades, mas também onde tantos padres carismaticamente se destacaram. A “marca” Acção Católica é detectável um pouco por todo o lado: na linguagem e nas prioridades dos programas pastorais; no currículo dos bispos e no seu modo de leitura da realidade; nas vozes mais consistentes e originais do laicado, sendo de mulher muitas dessas vozes; no tecido eclesial como um todo; na vida das paróquias e na dinâmica dos movimentos que, entretanto, emergiram; no ideário e na praxis social e política.
Num mundo em acelerada recomposição, a Acção Católica tem sido a antena e o sintoma, o posto de escuta e o palco de experimentação. Mas a interpretação da Acção Católica e do seu significado ficariam irremediavelmente lacunares sem uma leitura espiritual. A Acção Católica não é apenas expressão organizativa ou a introdução de uma eficaz cultura metodológica na prática cristã. É expressão da primavera do Espírito que dá a cada baptizado a consciência dinâmica da sua condição e missão. É obra desse incessante Pentecostes que explica o mistério da própria Igreja e instaura cada cristão, face ao mundo, como sentinela da aurora.

José Tolentino Mendonça

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Foto-Desafio

Descobrir a identidade deste homem é tarefa muito difícil. Eu sei. É como descobrir agulha num palheiro. Mesmo sabendo isso, não desisto de lançar aqui o desafio aos meus leitores. Quem será este homem? Onde terá sido tirada esta fotografia? Junto de uma seca do bacalhau? Claro. No porto bacalhoeiro? Evidentemente. Na Gafanha da Nazaré? Penso que sim. Mas quem será ele? O avô ou bisavô de um qualquer conterrâneo nosso? Talvez. Ajudem-me nesta tarefa. Um doce para quem me informar. Com provas? Pois claro!

Igreja não cala convicções sobre família

D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga e presidente da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), defendeu, na abertura da Assembleia Plenária dos bispos portugueses, que “O Estado tem a alta responsabilidade e a grave obrigação de defender a instituição familiar”. Noutro passo do seu discurso, adiantou que “Devemos ser respeitadores dos pensamentos diferentes. Só que não podemos renunciar à nossa identidade que, em muitos aspectos, se consubstancia com a cultura portuguesa”.

Dar voz aos pobres para erradicar a pobreza

Imigrantes
"Dar voz e poder aos pobres na resolução dos seus problemas é uma condição para o sucesso das estratégias de luta contra a pobreza. Assim o entendemos e ficou assinalado nesta Audição Pública. Este passo deve ser dado, desde já, através do incentivo à participação dos utentes dos serviços sociais públicos e de instituições de solidariedade social na avaliação dos mesmos. Há, porém, que ir mais longe e fomentar as associações que integrem pessoas de grupos sociais mais fragilizados, dando-lhes oportunidades de poder e participação na resolução dos seus problemas e maior visibilidade junto das respectivas Autarquias e outros poderes públicos. A este propósito, merece referência específica a situação dos imigrantes e a das populações que vivem em bairros de habitat degradado ou em bairros sociais que carecem de apoio para que se organizem e aproveitem de sinergias inerentes ao trabalho em rede."
Ver todo o documentos aqui

Crónica de um professor

O poster
Quando colocou, no quadro, os posters dos artistas trazidos pelos seus alunos, não pôde esconder o comentário que aquela personagem lhe despertava: -I like Brad Pitt! He is a “bird”, he is a good-looking man! E usou os maneirismos que uma adolescente ostenta, perante a admiração dos seus ídolos. Além do mais, o nome era uma referência no imaginário feminino, quanto aos dotes que qualquer mulher aspira num homem! Era um artista de cinema, um ícone da indústria cinematográfica, que andava na boca de todas as jovens de bom gosto. Tratava-se do Brad Pitt, o namorado da Angelina Jolie, apressou-se o Edgar a acrescentar. Com efeito, era dotada de certa jovialidade de espírito, esta professora; no concernente ao corpo, praticava a filosofia do nosso rei D. Duarte: “Mens sana in corpore sano!” Compreendia o espírito irreverente dos alunos e até participava em algumas brincadeiras. A brincar, também se aprende, e nada melhor do que partilhar as vivências dos jovens e adolescentes, para os cativar para a parte mais séria da vida escolar – a aprendizagem. Assim, para lhes ensinar as nacionalidades, na língua estrangeira, pediu-lhes que levassem, para a aula, figuras/fotos/recortes de pessoas famosas, oriundas de outros países . Por uma sequência aleatória, foi colocando, no quadro, várias imagens, tendo ficado, em último lugar, a do Brad Pitt. Foi feita a apresentação do novo vocabulário, o registo escrito, nos cadernos diários, e quando se estava no melhor da aula, a admirar o “ídolo” (!!!), eis que a campainha toca, vindo pôr fim àquela contemplação. Ultimava os preparativos para deixar a sala, ainda sem ter retirado a figura do supracitado actor, quando na mente daquela professora perpassou, fugazmente, a ideia de”coleccionar” a foto. Empunhava já a pasta, quando subtilmente aquela aluna, tendo, por telepatia, adivinhado os pensamentos da professora, lhe pergunta: Quer ficar com o poster para si? Um fulgor brilhou no olhar da mestra que disse para os seus botões! - Ainda há alunos atentos na aula! Ainda alguém presta atenção às minhas palavras! Ainda vale a pena, evocando as palavras de Fernando Pessoa: ”Tudo vale a pena se a alma não é pequena!” E… a alma daquela professora era a de uma menina, adolescente, que ainda se deixa deslumbrar com a beleza de um artista de cinema!
Mª Donzília Almeida

domingo, 9 de novembro de 2008

Eu, professor aposentado, me confesso…

Confesso que começo a ficar baralhado. Fui professor e continuo muito ligado à classe. Temas como escola, ensino, educação, alunos, professores e comunidade educativa continuam a ter um lugar especial na minha mente. Bem tento ficar de fora, alheando-me do que se passa à minha volta, ao nível do ensino e da educação, mas não consigo. De todo… Perante a realidade das gigantescas manifestações de descontentamento dos professores, não posso ficar indiferente. Não consigo. E se a isto juntar o que ouço de alguns professores, com esgares de revolta e de tristeza, não devo ficar calado. Este país não pode continuar alheio ao diálogo; não pode aceitar a incapacidade, permanentemente demonstrada por parte dos responsáveis, para se sentarem, de uma vez por todas, à volta de uma mesa, para se acabar com os tristes espectáculos que todos estão a fazer passar para os alunos. Quando os professores e os governantes não conseguem entender-se, gritando, em altos berros, as suas razões, que hão-de as crianças e jovens pensar? Eu sei que há professores muito honestos e muito esforçados; eu sei que há professores muito competentes e muito criativos; eu sei que há professores que trabalham por vocação, numa entrega diária; mas sei que o contrário também é verdade. Os primeiros, no entanto, estarão em grande maioria. Disso tenho a certeza absoluta. Já por lá passei. Por estes dias tenho ouvido diversos docentes, de vários graus de ensino. Todos se queixam do excesso de burocracia, o que os impede de se entregarem mais e melhor àquilo que gostam de fazer: ensinar; muitos se queixam de alunos indisciplinados e pouco estudiosos; diversos contestam a arrogância e a prepotência do ministério; outros tantos sentem-se desesperados pelo clima desgastante do dia-a-dia, que lhes destrói a serenidade necessária para ensinar e motivar os alunos, para a descoberta e para a aprendizagem. Deste meu recanto, de professor aposentado, apetece-me pedir a quem nos governa que ouse ouvir os professores, para que o caos acabe. E ao Presidente da República suplico que, pensando muito nos alunos, converse com o primeiro-ministro. É urgente encontrar uma saída para este drama nacional. As nossas escolas precisam de paz. Todos ganharemos. Fernando Martins

Direitos Humanos celebrados em Aveiro

A Plataforma DH congrega 15 entidades locais e regionais para a celebração condigna do 60.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A coordenação é da Comissão Fórum::UniverSal, sendo a organização de PANGEA org. e Fórum::UniverSal - Fundação João Jacinto de Magalhães e Centro Universitário Fé e Cultura. A Declaração, adoptada e proclamada, aconteceu a 10 de Dezembro de 1948, em Paris, por iniciativa da Assembleia-Geral das Nações Unidas, e apresenta 30 Artigos, que mantém uma actualidade abrangente e digna de ser amplamente divulgada e aplaudida. Amanhã, 10 de Novembro, Dia Mundial da Ciência ao Serviço da Paz e do Desenvolvimento, no Auditório da Livraria SAS-UA, pelas 17 horas, vai ser divulgada a Agenda Aveiro DH. Mas as comemorações da Declaração Universal dos Direitos Humanos vão continuar até 24 de Dezembro, com “10 Milhões de Estrelas, um Gesto de Paz”. Nota: Regularmente, aqui farei eco do que aconteceu e do que irá acontecer, já que a Agenda da Plataforma DH inclui muitas e diversificadas acções.

DAR

Os jornais-referência começam a perceber que vale a pena apostar em temas que nos suscitem a reflexão e a acção. O EXPRESSO é um deles e a sua REVISTAÚNICA tem abordado, semana a semana, assuntos que são outros tantos desafios. O último número tem por PRATO PRINCIPAL o tema DAR. Deixando de lado as ENTRADAS e as SOBREMESAS da Ementa, fixemo-nos no mais importante. Vai ser uma excelente refeição para toda a semana. Então, DAR mostra-nos extraordinários caminhos de vidas que se dão aos outros. É gente com imaginação fértil, generosa em extremo e com capacidade sem fim para amar. A dado passo, encontro um subtítulo que diz o seguinte: Dar de nós. Dar sem medo. Dar sem tempo. Dar sem pedir. Dar por todos. Dar tudo por tudo. Dar o melhor. Dar e trocar. Dar. Um verbo conjugado de várias formas pelos voluntários. Eis cinco histórias singulares. É isso mesmo. São histórias singulares que nos convidam a olhar à nossa volta: Voluntária num Centro de Dia. Estar disponível para aceitar o outro. Voluntária para trabalhar com animais. Voluntário numa Associação. Voluntária nos Médicos do Mundo. A ÚNICA mostra-nos “Uma Pessoa Comum”, portuguesa, que fundou um Orfanato no Quénia, construiu casas no Nepal e lutou pelos Direitos Humanos na Birmânia. Dá casos concretos de jovens a quem Portugal concedeu asilo. Retrata “mães de Aldeias SOS”. Apresenta gente capaz de “dar um pouco de si” próprios [órgãos] aos outros. Revela os sem-abrigo de forma diferente, “para mostrar como somos todos iguais”. Divulga causas, fala do consumo e até nos mostra lapsos de políticos a “dar… barraca”. Leiam para meditar. E para também se darem, se puderem.
Boa semana.
FM

Artesanato da Região de Aveiro

Desde sempre gostei muito do artesanato da nossa região. Nas feiras e nas exposições, individuais ou colectivas, paro sempre para apreciar a habilidade da nossa gente. Sem complexos, os artesãos trabalham à vista de todos, mostrando a sua arte e a habilidade que possuem para, das suas mãos, nascerem peças normalmente únicas. Falando com eles, aprecio o gosto com que se entregam à paixão de criar, mas também o desgosto que sentem por saberem que, se não houver estímulos, muito artesanato pode morrer. Ao chamar a atenção dos meus leitores para o nosso artesanato, apenas me move o desejo de ver mais gente na sua loja, ali junto aos Arcos, em Aveiro. Mas, já agora, sugiro que visitem a Galeria do seu “site”. FM

Raul Brandão passou pela Gafanha

Raul Brandão foi para mim o escritor que melhor retratou a Ria de Aveiro e as gentes ribeirinhas, quando por aqui andou em 1922, para depois publicar no seu muito badalado livro “Os pescadores”. Já tenho falado deste escritor e elogiado o que escreveu. Gosto da poesia que brota da sua alma. Raul Brandão apresenta-se em "Os pescadores" como um tipo "esgalgado e seco, já ruço, que dorme nas eiras ou sonha acordado pelos caminhos". "Sou eu que gesticulo e falo sozinho, envolto na nuvem que me envolve e impregna. Que força me guia e impele até à morte?” Quando relembra o seu regresso do mar, das muitas viagens que fez, para depois descrever, com arte e poesia, o que viu e sentiu, diz que vem sempre “estonteado e cheio de luz” que o trespassa. Depois pega nos “apontamentos rápidos”, em “meia dúzia de esboços afinal, que, como certos quadradinhos, do ar livre, são melhores quando ficam por acabar”. E acrescenta com nostalgia de poeta da prosa: “Estas linhas de saudade aquecem-me e reanimam-me nos dias de Inverno friorento. Torno a ver o azul, e chega mais alto até mim o imenso eco prolongado… Basta pegar num velho búzio para perceber distintamente a grande voz do mar. Criou-se com ele e guardou-a para sempre. – Eu também nunca mais o esqueci…”
FM

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 102

AS CANÇÕES Caríssima/o: Para além do Hino Nacional, cantávamos, na Escola ou durante as nossas brincadeiras, muitas canções, cânticos e cantilenas. Quem há aí que não se lembre de alguma destas: : :
Foi na loja do Mestre André, Fui ao jardim da Celeste, O bom barqueiro, A Ciranda, Sou vareira, Os caçadores, Mata-tira-nira-ná, A menina da canastrinha, Ó Condessa, ó Condessinha, Bóia, bóia, binha, A moda da Carrasquinha, A primavera, tão lindas flores, Padeirinha, Ah,ah, minha machadinha, Canção da Amélia, As pombinhas da Catrina, Alecrim, ... Nunca mais esqueci o entusiasmo que púnhamos a cantar a “Loja do Mestre André” e nos gestos esfuziantes com que a acompanhávamos: ele era o pífaro, o violino, o rabecão, o piano, ... e o bombo! Claro que as cantigas são como as pessoas, vão mudando com os tempos e hoje os nossos netos têm outras preferências, mas o importante é cantar, cantar, cantar. Também tínhamos as nossas cantilenas. Alguns recordarão: Una, duna, tena, catena, cigalha, migalha, catrapis, catrapés, conta bem, que são dez. Já me esquecia de dizer que não havia creches nem jardins-de-infância; aprendiam-se estas coisas por transmissão oral, fazia parte das tradições que iam passando de geração em geração, tudo natural, sem sobressaltos. E digam lá se não apetecia iniciar esta manhã com o Ai olé, ai olé foi na loja do Mestre André!
Manuel

sábado, 8 de novembro de 2008

Para erradicar a pobreza

Numa declaração de 14 pontos, a Comissão Nacional Justiça e Paz exprime que a pobreza não é uma “fatalidade”, porque existem “recursos já alcançados, em quantidade suficiente para a satisfação das necessidades humanas consideradas básicas”. O problema está no funcionamento “da economia desfocado das necessidades das pessoas”.
Leia mais aqui

Sabia que...

O YouTube, que nos permite, hoje, publicar, ver e divulgar, livremente, vídeos, não é assim tão velho quanto muita gente supõe. Nasceu apenas em Fevereiro de 2005. Três anos depois, oferece, a quem o consulta, mais de 80 milhões de vídeos, sendo, sem sombra de dúvidas, o maior fenómeno da Net. Quem há por aí que o não consulte? E quem não o ajude a crescer?

Os poetas são assim…

Os poetas são assim: atentos aos poetas que nos ilustram a vida; abertos às mensagens com que eles nos brindam; capazes de recordar os seus aniversários. O Helder Ramos é um desses, dos que olham, com olhos de ver, para os grandes poetas. Desta feita, brindou-nos com um poema que dedicou a Sophia. Precisamente, no dia do aniversário da grande poetiza. Para aqui o transplantei, copiando-o da margem direita (sem política) do meu blogue. FM
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E se fosse luz? a Sophia de Mello Breyner*
A praia da tua memória Fazia brotar palavras Nas gerações inventadas E o teu país tinha ondas Conchas E azuis leves Que ainda se guardam nas páginas vivas De poemas breves
Helder Ramos 06.XI.2008
* Sophia nasceu em 6 de Novembro de 1919

Ontem foi dia de folga no meu blogue

Ontem foi dia de folga no meu blogue. Não para um qualquer passeio, que até seria legítimo e talvez necessário, mas por outras tarefas também importantes. Afinal, não escrevi para este meu espaço, mas escrevi para um jornal, onde reiniciarei a colaboração possível, depois de uma pausa de uns anitos. Refiro-me ao TIMONEIRO, um mensário da Gafanha da Nazaré, que retoma agora a publicação, depois de uns meses de repouso. Esta minha colaboração, já para o próximo número, vai ser uma forma de regressar, embora sem grandes responsabilidades, ao jornalismo activo, de que tenho saudades, devo confessar. Habituado à agitação da redacção, ao stresse do fecho de um jornal, que os prazos têm de ser cumpridos, à escrita apressada da última hora, sobre o joelho, e com a preocupação de ser fiel à verdade dos factos a retratar, não é de um dia para o outro que se atira tudo para trás das costas. O regresso vai servir, então, para me recolocar num espaço em que me sinto bem. Sem o vigor, obviamente, de outros tempos. Em hora certa, o que escrever para o TIMONEIRO aqui ocupará o seu lugar. E o contrário não deixará de ser verdade, embora com as devidas alterações, já que se escreve, ou deve escrever, de acordo com os órgãos de comunicação em que se colabora. E sendo assim, os leitores deste meu recanto da blogosfera nunca sairão prejudicados. Aqui fica, portanto, o convite, para que fiquem atentos ao TIMONEIRO da Gafanha da Nazaré. FM

DEUS CONTRA DARWIN?

Não cabe aqui um esboço sequer da história das concepções evolucionistas. De qualquer modo, a ideia de evolução já tinha acenado entre os gregos. Em 1809, Lamarck expôs a sua teoria da não imutabilidade das espécies. Mas foi em 1858, há 150 anos, que a ideia da selecção natural e da luta pela existência, de Alfred Russel Wallace e Charles Robert Darwin, foi apresentada na Linnean Society de Londres. No ano seguinte, em 1859, Darwin publicou a obra célebre: A Origem das Espécies. Atendendo a estas datas e sobretudo às celebrações do segundo centenário do nascimento de Charles Darwin - nasceu em 12 de Fevereiro de 1809 -, aumentarão os estudos científicos sobre as teorias da evolução, não faltando os debates à volta da sua relação com a religião, por causa do livro do Génesis, do "criacionismo" e do chamado "desígnio inteligente". O primeiro embate célebre deu-se logo em 1860, em Oxford. Perante uma assistência numerosa, o bispo de Oxford, Samuel Wilberforce, foi perguntando ao naturalista Thomas Huxley, defensor de Darwin, se descendia do macaco pelo lado do avô ou pelo lado da avó. Huxley respondeu: "Penso que um homem não tem que envergonhar-se por ter um macaco como avô. Se tivesse de envergonhar-me de um antepassado, seria de um homem: um homem de inteligência superficial e versátil que, em vez de contentar-se com os sucessos na sua esfera própria de actividade, vem imiscuir-se em questões científicas que lhe são completamente estranhas, não faz senão obscurecê-las com uma retórica vazia, e distrai a atenção dos ouvintes do verdadeiro ponto da discussão através de digressões eloquentes e hábeis apelos aos preconceitos religiosos." Por causa desta resposta, considerada pouco elegante, uma senhora desmaiou. A mulher do bispo, essa, terá dito entre dentes: "Só faltava esta: descender de macacos! Se for verdade, rezemos para que ninguém saiba." A teoria da evolução constituiu uma daquelas humilhações do Homem de que falou Freud. Embora o Homem não descenda do macaco, ele e o macaco descendem de um antepassado comum, o que não constituiu uma descoberta particularmente exaltante. Desde então a nossa visão da natureza, do Homem e de Deus modificou-se. Significativamente, já na altura, muitos religiosos britânicos declararam que não havia incompatibilidade com a fé. O historiador das ciências D. Lecourt escreveu: "A figura mais importante da Igreja escocesa declarou-se evolucionista e, num curso, em 1874, aconselhou os teólogos a sentirem-se 'perfeitamente à vontade com Darwin'." Darwin, sepultado com pompa, em 1882, na abadia de Westminster, a alguns passos do túmulo de Newton, nunca foi oficialmente condenado pela Igreja católica e A Origem das Espécies nunca esteve no Índex. De qualquer modo, segundo o reverendo Malcom Brown, director dos serviços de relações públicas da Igreja Anglicana, a sua Igreja deveria agora pedir desculpa pela má interpretação de Darwin e algum fervor anti-evolucionista. Hoje, os equívocos beligerantes provêm essencialmente do "criacionismo" americano e do chamado "desígnio inteligente". Mas o "criacionismo" assenta numa leitura literal do mito da criação do Génesis, esquecendo que o Génesis é um livro religioso e não de ciência e que só uma leitura simbólica é adequada. Quanto ao "desígnio inteligente", o seu equívoco provém da ambição de demonstrar Deus pela ciência. De facto, como é evidente, a existência de Deus não é nem pode ser objecto de ciência. Mas afirmar taxativamente que a evolução é mero produto do acaso não deixa de ser também uma posição dogmática. A ciência vai respondendo ao "como" da evolução, mas não responde ao "porquê", concretamente ao porquê e para quê da existência do Homem e de tudo: "Porque há algo e não pura e simplesmente nada?" Como escreveu o cientista Francisco J. Ayala, na conclusão da sua obra Darwin e o Desígnio Inteligente, "a evolução e a fé religiosa não são incompatíveis. Os crentes podem ver a presença de Deus no poder criativo do processo de selecção natural descoberto por Darwin".

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O Fio do Tempo

McCain, saída em Unidade
1. A grandeza humana diária é colocada fortemente à prova em horas como a que McCain terá vivido no final do processo eleitoral. De muitas realidades que transpareceram para todos da democracia americana nestes dias, valerá a pena salientar o sentido inconfundível da unidade de todos em torno de ideais que, afinal reflectem a vontade do povo. Sabe-se que nos países democráticos já existe o bom hábito adulto das saudações de apreço mútuo do vencedor e do vencido. Mas quantas vezes essa saudação é absolutamente torcida, arrancada a ferros, pois, sejamos francos, não será fácil ao fim de tantos meses de duro combate entre candidatos! 2. Numa necessária análise isenta dos factos, nem pró nem antiamericana, seja dito que a agilidade e verdade da democracia também se reflectem quando os primeiros discursos pós-eleições manifestam um pendor intocável no sentido do bem comum como o bem maior de todos. Valerá a pena reter como exemplo os pedidos comunitários sublinhados nas primeiras mensagens. Aquele momento em que McCain convida os republicanos a associarem-se a ele na saudação e nos votos de boa presidência a Obama tem muito de autêntica “transcendência”: os apoiantes republicanos começam aos assobios ao nome Obama e McCain abre os braços reconciliadores e orienta todo o discurso no bem maior da nação e do mundo. Momentos grandes que são escola de vida e de sabedoria. 3. A democracia, como modelo possível na história, enriquece-se nesta nobreza de gestos, a que vale a pena juntar as palavras de Obama que pede ajuda a McCain na resolução dos grande problemas a enfrentar. Ficou patente que, após uma campanha aguerrida, não se tratava simplesmente de pró-formes ou de simpatias de cumprir o protocolo mas de um verdadeiro sentido da política como serviço à comunidade, esta a palavra “mágica” que formou Obama no amor e na educação. A sociedade democrática aprecia estes sinais!

ARADAS: Empresário oferece lar de idosos

GESTO MUITO BONITO
"Manuel Madaíl, empresário e ex-autarca, está a construir um lar de idosos para oferecer à população de Aradas, uma freguesia de Aveiro. O apoio deverá estender-se aos estudantes e às mães solteiras. Um empresário de Aveiro vai oferecer um lar da terceira idade à população de Aradas, a freguesia onde nasceu e onde foi presidente da Junta de Freguesia, entre 1976 e 2001. Manuel Madaíl, 75 anos, o mecenas de que falamos, está a investir 1,5 milhões de euros num equipamento inexistente em Aradas. Quarenta idosos vão beneficiar da nova infra-estrutura, dotada de lar, centro de dia e apoio domiciliário, já visível junto ao cemitério de Aradas."
Ler mais no JN

Democracia, projecto parado ou lentidão interessada?

Um passo democrático positivo dado nos últimos dias foi, sem dúvida, o alargamento da representação partidária na assembleia regional dos Açores, com a alegria de se votar livremente. Sempre que haja mais vozes a ouvir-se, desde que o bem do povo açoriano seja o interesse de quem fala, a democracia aparece como benefício de todos. 
“Não há bela sem senão” e mais de 50% de abstenções em dia de sol, é de mais. Amanhã já não se falará disso, mas o facto provoca interrogações à espera de resposta. Nenhum partido pode cantar vitória, e muito menos o que governa com maioria, quando cresce o desinteresse do povo por um acto central do regime democrático. Assim nos Açores, no continente, em qualquer autarquia. Lá e cá, o povo que, no seu conjunto, festejou a liberdade do voto e o acesso alargado às urnas, quando se omite, não age sem razões. Há que tentar percebê-las. 
Muitas se devem, por certo, ao modo como se vive a política partidária e como actuam os seus profissionais neste jogo habitualmente, mais ainda por altura de eleições. Não se pode deitar a culpa só para o comodismo e da irresponsabilidade cívica dos faltosos, embora também estes existam em muitos casos. O facto, porém, tem mais a ver com o comportamento dos políticos da ribalta e dos que lhes fazem corte, pelo modo como se relacionam uns com os outros, pelos objectivos porque se batem, pela escandalosa contradição nas suas palavras, atitudes e juízos, consoante se está no governo ou na oposição. 

Biblioteca Municipal de Ílhavo

Utilizador do Pólo de Leitura
Pólo de Leitura da Gafanha da Nazaré quer mais leitores
Não sei se todos os gafanhões sabem que na Gafanha da Nazaré há um Pólo de Leitura, da responsabilidade da Biblioteca Municipal de Ílhavo. Se não sabem, sugiro que passem por lá, para o verem com os próprios olhos. O Pólo de Leitura está no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, na ala voltada para a Extensão de Saúde. Trata-se de um espaço arejado, com boa luz e com ofertas diversificadas. Há ali bons livros, vídeos, computadores e acesso à Internet. Para todos os gostos e para todas as idades.
Cláudia Rodrigues no espaço de acolhimento
Cláudia Rodrigues, técnica de biblioteca, adiantou-me que há cerca de 300 leitores por mês e que a esperança de que esse número cresça faz parte da programação da Biblioteca. Nessa linha, quando aparecem crianças em número suficiente, organiza-se a Hora do Conto ou a Hora da Leitura, e todos os meses é promovido um autor, com a apresentação das suas obras mais representativas. Os leitores, possuidores de cartão de utilizador, têm liberdade para requisitar livros para ler em suas casas, pelo período de 15 dias, período esse que pode ser alargado, se tal for necessário. Reconhecendo que há horas mortas, coincidentes com os horários escolares, Cláudia Rodrigues sugere que os adultos passem a frequentar o Pólo de Leitura nas suas horas livres, já que o ambiente é acolhedor. Se pensarmos bem, há muitos aposentados e reformados que poderiam criar hábitos de leitura, pois não faltam livros novos e mais antigos que vão chegando ao Pólo, de acordo, decerto, com as solicitações. Aquela responsável ainda lembrou que o Pólo de Leitura pode beneficiar de dádivas de bons livros, se houver gente generosa com vontade de colaborar. Basta pegar neles e entregá-los no Pólo. O Pólo de Leitura da Gafanha da Nazaré funciona às segundas-feiras, das 14 às 18 horas, e de terça a sexta-feira, das 10 às 12.30 horas e das 14 às 18.30 horas. FM