terça-feira, 25 de julho de 2006

QUEM VISITA FÁTIMA?

Perfil do visitante de Fátima em estudo
Quem visita Fátima? E porquê? O perfil do visitante de Fátima é traçado num estudo que se inicia hoje. "Estudar a satisfação, as motivações e as expectativas dos visitantes" de Fátima é o objectivo de um estudo que se prolonga até 31 de Agosto.
Dois bolseiros, licenciados em Turismo, vão efectuar 384 inquéritos na cidade para conhecer o perfil do visitante, seja ele peregrino ou turista. O estudo servirá para analisar os vários segmentos de mercado que afluem a Fátima, adianta a responsável pela equipa de investigação, Graça Poças dos Santos. Servirá também para dar pistas sobre potenciais novos públicos.
A investigadora acredita que as pessoas com mobilidade condicionada (deficientes e idosos) poderão ser este público-alvo.O projecto é liderado localmente pela Região de Turismo Leiria-Fátima e é finaciado pelo programa comunitário Interreg IIIC e conta com a participação dos santuários marianos de Altotting (Alemanha), Loreto (Itália), Czestochowa (Polónia) Lourdes (França), Patmos (Grécia) e Santiago de Compostela (Espanha).
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Fonte: Ecclesia

PMA ainda em discussão

Debate público é urgente
O presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, admitiu na semana passada a petição popular por um referendo à Procriação Medicamente Assistida (PMA). Gama justificou a sua decisão com a vontade de "não obstaculizar" uma iniciativa legal de cidadãos e permitir a sua discussão política.
António Pinheiro Torres, director de campanha da Petição Popular de Referendo da PMA, explica à Agência ECCLESIA que esta decisão "foi uma grande vitória cívica", lamentando que tenham sido precisos "dois meses foram para 82 mil cidadãos derrubarem os portões da Assembleia". "Defendendo o direito desta iniciativa popular de referendo a ser discutida em plenário, defendemos o direito de todas as futuras iniciativas populares de referendo", assegura.
Sobre o futuro da iniciativa, agora que o Presidente da República, Cavaco Silva, já promulgou a lei sobre a PMA, Pinheiro Torres considera que tudo está ainda em "aberto". "Entre a realização desta campanha, referendaria a forma como o Presidente da República promulgou a lei, a admissão da petição no parlamento e o anunciado pedido de um grupo de deputados ao tribunal constitucional que seja apreciada a constitucionalidade da lei, estamos a conseguir aquele que era o nosso objectivo principal: que as pessoas se apercebessem de que existia esta matéria de decisão política, que se estava a discutir a lei, que procurassem formar o seu juízo sobre a mesma", afirma.
António Pinheiro Torres considera que estão em cima da mesa "matérias serias" e "princípios e valores fundamentais". "Se entre Setembro e Outubro a nossa petição for discutida e for decidido realizar um referendo o resultado do mesmo condicionara uma revisão da actual lei (num ou noutro sentido)", aponta.
O comité Pró-referendo é de carácter laico e visa propor que, no país, exista um debate público sobre estas matérias.
Mais informações em www.referendo-pma.org

domingo, 23 de julho de 2006

Gotas do Arco-Íris – 27

E SE TODAS AS LUTAS TERMINASSEM EM ARCO-ÍRIS?!...
Caríssimo/a: Em tempo de calor sabe bem uma leitura leve e um espreguiçar de olhos... Daí o meu convite para esta visita rápida a uma estória infantil que sempre nos fará regressar a outros reinos e outros mundos... “Certo dia as cores começaram a lutar entre si. Cada uma queria ser a mais importante. O verde alegava que era a cor da vida e da esperança, a que estava mais espalhada pela natureza. O azul reivindicou ser a cor do céu, do mar e da paz. O amarelo dizia que era a cor da alegria,do sol e da vitalidade. O laranja pretendia ser a cor da saúde, da vitamina e da força. Bastava pensar nos morangos, na laranjas, nas papaias, nas cenouras e nas cabaça. O vermelho sublinhava a sua força e valor, a sua paixão e o seu fogo. O púrpura sublinhou que era a cor da nobreza e do poder. O anil fazia notar que era a cor do silêncio, da oração e dos pensamentos profundos. A chuva observou a disputa e interveio. Com a sua força fez com que as cores se encolhessem e fundissem numa só. Quando acabou a chuva, despregaram-se em forma de arco-íris e todas e cada uma delas brilhou com a sua beleza e deram-se conta da beleza do conjunto.”[pneuma, jun.2006, p.32] Saibamos nós encontrar a beleza do conjunto e a fragrância de cada uma das gotas... Manuel

O VOUGUINHA

Assembleia Municipal de Aveiro quer reabilitar o "VOUGUINHA"
A Assembleia Municipal de Aveiro quer reabilitar o "VOUGUINHA", tendo aprovado, por unanimidade, uma moção a favor dessa ideia, por iniciativa do PCP. O documento vai ser enviado ao Presidente da República e ao Governo, bem como às Câmara abrangidas pelo antigo ramal do Vale do Vouga.
Por motivos históricos e turísticos, e ainda pelo interesse das populações, será bem-vinda a reabilitação do "VOUGUINHA", pela qual tanto se bateu, há décadas, o jornalista Daniel Rodrigues, que guarda, na sua memória, ricas histórias dessa sua luta.
Em 1974, publicou "VOUGA ARRIBA... ou o drama de um povo", que inclui reportagens então publicadas em "O Comércio do Porto", de que era jornalista-chefe da Delegação de Aveiro daquele diário, onde refere: "Hoje, mais do que nunca, estamos confiantes de que a linha do Vale do Vouga reabrirá. Ela é do Povo. O Povo quere-a, anseia-a. E um Povo unido..."
Pode ser que agora, tantos anos depois, esse seu sonho, que continua a ser o sonho de muitos, venha a concretizar-se.
F.M.

Um poema de Fernando Pessoa

AVÉ MARIA Avé Maria, tão pura Virgem nunca maculada Ouvi a prece tirada No meu peito da amargura.
Vós que sois cheia de graça Escutai minha oração, Conduzi-me pela mão Por esta vida que passa.
O Senhor, que é vosso Filho, Que esteja sempre connosco, Assim como é convosco Eternamente o seu brilho.
Bendita sois vós, Maria, Entre as mulheres da Terra E voss'alma só encerra Doce imagem d'alegria.
Mais radiante do que a luz E bendito, oh Santa Mãe É o fruto que provém Do vosso ventre, Jesus!
Ditosa Santa Maria, Vós que sois a Mãe de Deus E que morais lá nos céus, Orai por nós cada dia.
Rogai por nós, pecadores, Ao vosso Filho, Jesus, Que por nós morreu na cruz E que sofreu tantas dores.
Rogai, agora, oh Mãe qu’rida E (quando quiser a sorte) Na hora da nossa morte Quando nos fugir a vida.
Avé Maria, tão pura Virgem nunca maculada, Ouvi a prece tirada No meu peito da amargura. 12-4-1902

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

'Têm havido'
muitos erros
Aborrece-me sumamente ter de ouvir ministros, professores dos vários graus de ensino, jornalistas, estudantes - eles e elas - a dizer: "Houveram encontros", "Poderiam haver mais possibilidades", "Haviam tantas mulheres que os homens tiveram medo", "Podem haver outros mundos."
Seria preciso perguntar-lhes qual é o sujeito do verbo. Não há paciência!Apareceram agora os resultados dos exames e, mais uma vez, foi o desastre: a Matemática teve uma ligeira melhoria em relação ao ano transacto, mas, mesmo assim, 64% das notas foram negativas, a média geral das notas de Química foi de 6,9 valores e a de Física, 7,7.
Mas, para mim, o mais impressionante foram os resultados dos exames de Português: nota negativa para metade dos alunos, o dobro em relação ao ano passado. A palavra é mesmo essa: um desastre!
E a mim impressionam-me particularmente os resultados dos exames de Português, porque há muito tenho a ideia de que o problema essencial da Matemática, da Física e da Química é mesmo o português, a língua portuguesa. Porque uma língua é um mundo com uma determinada estrutura. O mundo em português e em alemão, por exemplo, não é exactamente o mesmo - Heidegger chamava a atenção para o facto de, em última análise, a sua filosofia só ter sido possível a partir da língua alemã. George Steiner não se cansa de repeti-lo: "Como Freud nos ensina, é preciso virar os grandes mitos ao contrário, eles dizem o contrário do que parecem dizer. Babel, longe de ser uma punição, é talvez uma bênção misteriosa e imensa. As janelas que uma língua abre dão para uma paisagem única. Aprender novas línguas é entrar em novos mundos."
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Quadros da Ria de Aveiro

Zé Penicheiro,
Aveiro, Gente da Ria,
acrílico sobre cartão, 27x21,
Colecção Particular ::
Se passar por Aveiro, não deixe de deambular por aqui e por ali, na esperança, quase certeza, de encontrar quadros como este. Como este e como muitos outros que o artista Zé Penicheiro nos vai oferecendo, com a sua rica sensibilidade, que faz dele, decerto, um dos melhores artistas da nossa Ria.

Representações do sagrado e conflito de liberdades - 3

Representações
do sagrado e liberdade
O sagrado enquanto tal não tem representação. Todas as formas ou fórmulas que procuram atestar o sagrado são da ordem das mediações, da linguagem. O sagrado apresenta-se à consciência humana como um processo dialogal, comunicacional, onde se instaura uma relação entre a experiência humana e a percepção de uma dimensão da realidade transcendente, não domável e não apropriável. A objectivação dessa realidade sempre foi constitutiva da ordenação da vida das comunidades e dos indivíduos, na medida em que permite o estabelecimento de fronteiras e de perímetros existenciais. Em muitos universos culturais e religiosos, o sagrado tende a circunscrever uma exterioridade só acessível a alguns, determinando simultaneamente a territorialidade do profano, próprio ao comum do humano. Nesta perspectiva, esta forma de ordenar a realidade fornece à hierarquização estabelecida uma legitimidade decorrente do sagrado, conduzindo à identificação dessa ordem com a representação do sagrado entre os humanos e nas sociedades. A ilustração desta ordem, por mais variada e diversificada que seja, corresponde a representações e imagens que transportam determinados códigos que permitem a cada homem e a cada comunidade um processo de identificação e de crença. Essa objectivação que vai de expressões miméticas do viver humano até a expressões de maior abstracção, como seja a lei, passando pela definição de espaços e de tempos carregados de sentido e de laços de pertença. Por isto mesmo, essas representações suscitam um envolvimento afectivo e, elas próprias, ilustram as mundividências que cada um possui, individualmente e em grupo. Todavia, por diversas vias, existe também uma outra percepção, fundamental para a condição humana, que tem a ver com o facto de se considerar que a representação por excelência do sagrado se encontra na conjugação com o profano que acontece na individualidade de cada um como pessoa. Contudo, para muitos, este modo de colocar as questões acarreta como que uma dessacralização. Mas tal nem é exacto, nem correcto. Não se trata da divinização do humano ou da redução do divino ao humano, bem pelo contrário. Trata-se do reconhecimento de que é no interior do humano que se inscreve uma realidade de transcendência onde se joga a abertura e a relação de cada um aos outros: a razão profunda da existência. Este modo de entender a representação do sagrado, se encontra certamente na antropologia cristã um dos seus principais fundamentos, manifesta-se em muitas outras tradições que colocam o homem não como centro de tudo, mas como sujeito relacional consigo, com os outros e com a natureza. Neste contexto, a experiência de liberdade é crucial neste processo de afirmação do sagrado. A liberdade não é ausência de laços e, consequentemente, de capacidade de escutar (obediência) e de responder (responsabilidade). A liberdade rompe com a escravidão e a dominação, na medida em que são estas as mais profundas e radicais atitudes de dessacralização. Não é o exercício da liberdade que rejeita o sagrado, bem pelo contrário, mas são os comportamentos ou as mediações de servitude que negam ao homem e à mulher a sua realização, retirando-lhes o protagonismo e a participação no caminhar e no crescimento de uma consciência pessoal onde a alteridade - a contemplação e a complementaridade do outro - não fenece em qualquer narcisismo, mais ou menos ferido, mas onde essa alteridade corresponde à complementaridade parceira de um percurso solidário. Sim, é a vida do outro enquanto pessoa, reconhecida e querida, que é a representação do sagrado. As representações do sagrado na sua conjugação com a liberdade não podem fechar o essencial que é a comunicação entre pessoas e comunidades diferentes e distintas. O sagrado em qualquer uma das suas representações não pode esmagar, mas instaurar a capacidade de comunicação assente no que o outro quer dizer, mesmo quando se exprime de forma radicalmente contraditória e antagónica. O sagrado não é incompatível com a liberdade, nem vice-versa, mas que para tal aconteça o que está em jogo é a alteração do desejo de subjugação e de domínio sempre presente como idolatria e como opressão nas pessoas e nos grupos. António Matos Ferreira Historiador, UCP
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In "Observarório da cultura"

Uma opção corajosa

Alberto Ramos
tem 72 anos,
uma filha
e tornou-se padre
aos 67 anos
A conversa veio interromper-lhe o estudo da Bíblia Sagrada. Alberto Ramos guarda os apontamentos, enfia a caneta Montblanc no bolso da camisa, recosta-se na cadeira e pede perguntas. Daí a pouco há-de realizar um funeral. Por agora, apressa-se a desfiar o longo novelo da sua vida. Tem quase 73 anos, é vigário paroquial de Belas e S. Brás, concelho de Sintra, mas já foi casado e tem uma filha.
O padre Alberto Ramos nasceu em Nogueira, Vouzela. Cumpriu o serviço militar na Marinha e, terminado o liceu, ingressou na PSP (Polícia de Segurança Pública), nos serviços administrativos. Foi funcionário civil da polícia. Primeiro em Aveiro, depois em Viseu. Quis melhorar a vida e estudou. "Licenciei-me em Ciências Sociais e Política Ultramarina. E o Ministério da Justiça ofereceu-me um lugar de administrador em Moçambique. Não hesitei." Por essa altura já era casado com Maria de Fátima Matos. Juntos, tiveram uma filha, Filomena. Em Moçambique, não quis parar de aprender e tirou o bacharelato em Jornalismo.
Depois do 25 de Abril, veio para Portugal, esteve preso 22 meses por ter sido um representante do Governo em Moçambique, a seguir trabalhou na Cruz Vermelha e no Instituto Nacional de Estatística.
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Um artigo de Sónia Morais Santos. Leia mais no DN

sexta-feira, 21 de julho de 2006

Um artigo de D. António Marcelino

Destruição criminosa e falta de senso comum
Refiro-me à destruição da família. Feita de modo pro-gramada por uns, por inércia por outros, por pouco saber e fraco discernimento da realidade hu-mana e social por parte de políticos e outros responsáveis, pelos seus próprios membros, quando não se chegou a saborear a riqueza da experiência familiar ou depressa se perdeu esse sabor único, pelo ambiente desfavorável, cultural, ideológico e legislativo, que despreza os seus valores ou os passa a segundo plano. A família está, de facto, submetida a uma crise sem precedentes na história. Um dado evidente com fautores conhecidos.
A defesa da família é hoje a tarefa mais difícil e ingrata, mas também a mais urgente. Se ninguém pode viver sem amor, o espaço normal do amor e da felicidade é a família equilibrada e séria que, contra ventos e marés, se sente apoiada e não desiste de ser família. Por esta tem de lutar quem trabalha pelo bem comum e tem bom senso.
Quem vai construindo a sua vida, com determinação e sentido, tem por detrás uma família que apoio e é referência. Verificação diária, feita por todos quantos amam, estimam e defendem a sua própria família, qualquer que ela seja. Por outro lado, vidas socialmente destruídas, andam com frequência ligadas à ausência da família, porque se rejeitou ou porque se foi rejeitado por ela.
O Papa disse em Valência que ia ali “propor o papel que, para a Igreja e para a sociedade, tem a família fundada no matrimónio”. Esta proposta incomodou. Mas não pode a Igreja, em democracia, dar livremente razão da sua esperança e convicções? Ou terão mais auditório os que andam pelo país, naturalmente com subsídios do Estado, a dizer, em forma de comédia para rir, que “o matrimónio é como o submarino que pode flutuar, mas é feito para afundar”? Quem é que destes luta mais pelo bem da sociedade?
A família normal é a maior riqueza humana e social de um povo, a fonte e o suporte que permitem vencer problemas e desafios, curar feridas e recobrar energias. É espaço de encontro enriquecedor das diversas gerações, em cujas veias corre o mesmo sangue. Cada geração aprende da que a precede os valores que perduram, e encontra na que a prolonga, estímulos para a viver. Só uma escola, como a família normal, é capaz de transmitir e ensinar o que é indispensável à vida e que faz parte da bagagem de cada um.
Por tudo isto, não se pode considerar família uma qualquer ligação instável e a prazo. Muito menos, se já nasce sem consistência para enfrentar a vida como os seus espinhos e os contratempos do dia a dia. Família a sério é inseparável do projecto de perenidade, gera nós que não se desatam mais, os seus membros nunca são peças de vestir e despir.
Se a família não pode sozinha enfrentar as tarefas que tem de realizar, há que colaborar com ela e ajudá-la a abrir-se à colaboração de outros que a completam, sem que perca o seu protagonismo, nem se subalternizem os seus direitos e deveres.A Igreja acredita na família e nos seus valores, sem fechar os olhos aos problemas e às dificuldades, sem passar ao lado das crises. Sempre a defenderá, afirmando, convictamente, que só nela há energias inatas que lhe permitem, como a nenhuma outra instituição da sociedade, vencer as batalhas que enfrenta e recuperar, pela positiva, os estragos das derrotas, que também fazem parte da sua história.
O Estado não faz favores à família. Mas não tem outro modo de servir a comunidade com futuro, senão respeitar a família, defendê-la, protegê-la e apoiá-la, como valor primeiro. A ligação natural dos seus membros, a solidez das relações humanas e humanizantes que cria e garante, o ser a fonte geradora da vida e a garantia do amor que molda a sociedade, a escola normal do respeito pelo outro, pela mútua aceitação, o espaço dos valores naturais e universais, tudo justifica o dever dos que governam.
Menosprezar a família é falta de senso comum e crime maior contra a nação e os cidadãos. Os sintomas deste menosprezo estão à vista, mas a família vencerá.

Boa pergunta da VISÃO

Um artigo de Tiago Mendes, no Diário Económico

A incerteza de julgar
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O facto de observarmos um erro não implica que a decisão tomada não tenha sido acertada – ou, se quisermos, a melhor possível no contexto relevante
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Disparar, ou não, sobre um potencial bombista suicida? Condenar ou absolver um réu? Rejeitar, ou não, uma hipótese científica? Na actuação policial, como nos tribunais e na investigação académica, são inúmeras as situações em que a possibilidade de escolha é dual e onde existe incerteza relativamente à decisão acertada a tomar. Essa incerteza leva, inevitavelmente, à possibilidade de erro.
Pegando no exemplo judicial, erra-se quando se condena um inocente e quando se absolve um culpado. O primeiro erro, tido consensualmente como o mais grave, fundamenta a “presunção de inocência”. Não obstante ser altamente indesejável, ele ocorrerá – a menos que não se condene qualquer réu sempre que haja um mínimo de dúvida, algo de incomportável na nossa sociedade –, com probabilidade positiva. Portanto, numa população suficientemente numerosa existirão alguns inocentes condenados.
O facto de observarmos um erro não implica que a decisão tomada não tenha sido acertada – ou, se quisermos, a melhor possível no contexto relevante. Confundir isto é não perceber que a avaliação da justeza de uma decisão só pode ter em conta a informação conhecida no momento em que ela se dá. Uma pessoa pode ser presa preventivamente e mais tarde ver essa resolução alterada sem que haja qualquer incoerência. Basta que tenham surgido dados novos que, racionalmente, recomendem a sua revisão.
Um outro caso merece atenção. Há cerca de um ano, um cidadão suspeito de ser bombista suicida foi baleado pela polícia inglesa, dias depois dos atentados de 7 de Julho em Londres. À esquerda, tivemos o previsível: responsáveis políticos destacaram, na análise do que se passou, características como a nacionalidade, a profissão e o estatuto do cidadão morto (brasileiro, electricista, emigrante ilegal). Tudo, como é bom de ver, irrelevante para a deliberação de disparar ou não. Até porque – não devia isto ser óbvio? – nenhuma dessas características era “observável” no momento em que os disparos foram realizados. Mas a coisa não espanta: afinal, adeptos da “vitimização” não faltam por aí.
A posteriori, o que aconteceu foi um erro lamentável. Contudo, a decisão foi provavelmente a mais correcta, dadas as circunstâncias em que se deu. Bento Jesus Caraça dizia não recear o erro, por estar sempre disposto a corrigi-lo. A reparação de erros cometidos – irreversíveis ou não – é, inquestionavelmente, uma questão a que temos de responder. Sem, porém, esquecer duas coisas: primeiro, que uma decisão tomada em ambiente de incerteza acarreta sempre a possibilidade de erro; e, segundo, que ela só pode ser criticada com base na informação então disponível. Não entender isto implica desonestidade intelectual ou falta de lucidez – ou ambas as coisas. Em qualquer dos casos, o erro será mais que certo.

Imagens da Ria

Já imaginou um passeio pelas margens da Ria de Aveiro, só para apreciar as decorações dos Moliceiros? Se tiver uns dias de férias ou umas horas livres não deixe de seguir esta minha sugestão. Há-de ver que vale a pena.

Representações do sagrado e conflito de liberdades - 2

O sagrado,
a liberdade
e a responsabilidade
O notório caso dos cartoons foi alvo de um sem-número de comentários. Quando a poeira começou a assentar, a conclusão mais comum consistiu em proclamar mais um capítulo daquilo que nas bocas dos sábios dos nossos tempos corre pelo nome de “choque de civilizações”. De um lado, o “Ocidente”, defensor inflexível da “liberdade de expressão”; do outro, o fanatismo religioso islâmico que coloca o sagrado como critério primordial do que é possível fazer (ou dizer), ou não, no domínio do profano. Parecia ser mais uma manifestação da célebre antinomia amigo/inimigo, da separação entre “Nós” e “Eles”, que, para mais, tinha o mérito de contribuir para a definição que cada uma das partes em conflito fazia de si mesma. É preciso notar, no entanto, que a violência que acompanhou a tomada de posição dos que, em certas regiões do mundo, se sentiram ofendidos com a publicação dos cartoons contribuiu decisivamente para a polarização em torno destas duas partes. Contudo, o grau que essa violência atingiu e as suas manifestações concretas também permitem concluir que este problema ultrapassou (e ultrapassa) em larga medida o domínio religioso. Concentrar-me-ei no exame de apenas uma das partes em conflito, a dita “ocidental”, a que se declarou, sem qualificações, pela liberdade de expressão. Todo o exercício da liberdade está sujeito a abusos (pelo menos potencialmente). Escutando as vozes dos partidários da liberdade de expressão, dir-se-ia que a publicação dos cartoons não foi encarada pelo mundo ocidental como uma manifestação dessa possibilidade. Muito simplesmente, não houve qualquer abuso da liberdade de expressão porque essa liberdade particular só muito raramente se presta a abusos. E como tantas vezes se insistiu, as referências religiosas não podem colocar limites ou entraves a essa liberdade; tal constituiria, isso sim, um terrível abuso. O que o discurso dos partidários da liberdade de expressão também revelou foi aquilo a que se poderia chamar (recorrendo à expressão de Marcel Gauchet, “a saída da religião” no mundo moderno ocidental) “a saída do sagrado”. A “saída da religião” ou, neste caso particular, a “saída do sagrado” ultrapassa no seu significado o fenómeno conhecido por “laicização” ou “secularização”. A “saída do sagrado” corresponde à reestruturação do mundo, e dos “imaginários sociais” que o configuram, segundo a neutralização mais extrema da presença do divino no mundo sublunar e a desvalorização mais radical das suas representações. Assim, o “sagrado” não pode impor limites à liberdade de expressão, ou, por outras palavras, a responsabilidade que deve acompanhar o exercício da liberdade de expressão não pode integrar as exigências da fé e das hierarquias religiosas, porque estas foram expulsas do espaço público, do lugar por excelência onde a sociedade se pensa a si mesma, ou mais rigorosamente, se interpreta a si mesma. A religião ou, para falar mais genericamente, o sentido do sagrado foi “secundarizado” e “privatizado”; tudo se resume a uma questão de escolha pessoal, privada e subjectiva. Enquanto tal, não pode reivindicar um lugar diferente de todas as outras escolhas privadas e subjectivas. Mais: em relação a outras escolhas, a fé e o sentido do sagrado adquirem nos nossos dias o estatuto duvidoso da mais “privada” e “subjectiva” das escolhas, o que contribui decididamente para interditá-las do espaço em que decorre a discussão pública. Durante estes últimos tempos, a defesa, sem qualificações, da liberdade de expressão assumiu-se como o derradeiro capítulo dessa longa narrativa a que Max Weber chamou “o desencantamento do mundo”. Parece, então, estar ausente do debate público uma terceira posição: uma que aceite a liberdade de expressão, e a liberdade da pessoa humana em geral, e, simultaneamente, a presença do sagrado no mundo. Ora, o Cristianismo contém, desde as suas origens, o princípio de separação entre Igreja e Estado; afirma a dignidade da pessoa humana e daí deduz o direito individual e grupal à(s) liberdade(s); mas não permite que, em nome da individualidade, se reduza a vida humana à soma de escolhas subjectivas, sem ordem, nem hierarquização. A liberdade tem limites, e não se considera um acto como autenticamente livre se não for acompanhado pelo princípio da responsabilidade. A acção livre ocorre sempre num contexto social e político; é por isso que o exercício dos direitos individuais e grupais se encontra limitado, não só pela existência dos direitos de outros indivíduos e de outros grupos sociais, mas também pelos imperativos da justiça e do bem comum. É precisamente essa a recomendação da Declaração do Concílio Vaticano II sobre a liberdade religiosa, Dignitatis Humanae (§7). Alguns apontaram que a literatura e a iconografia do escárnio fazem parte da nossa “civilização” ocidental. Sem dúvida. Mas recordar o princípio da responsabilidade que deve sempre acompanhar o exercício dos direitos e reavivar os deveres da caridade também não é sintoma de “tibieza”, “cobardia” ou “rendição”. É o seu contrário. Miguel Morgado Docente de Ciências Políticas, UCP
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In "Observatório da cultura"

quinta-feira, 20 de julho de 2006

Quadros da Ria de Aveiro

Zé Penicheiro, "O Sol da Tarde", acrílico sobre tela, 46x38

Os quadros da Ria de Aveiro que aqui deixo são um desafio aos meus leitores para que visitem a laguna aveirense. Mas também um apelo para que a apreciem com olhos de ver. Hoje ofereço o olhar e a arte muito própria do artista Zé Penicheiro.

Citação

À medida que tomamos consciência
do nosso lado divino
sabemos que o amor ilimitado
que nos habita
é o único alimento
verdadeiramente capaz
de nos curar
de eventuais doenças
ou inevitáveis
momentos de tristeza.
::
In revista XIS

Um artigo de Alexandre Cruz

A guerra,
porquê? 1. Eis a pergunta mais ingénua e mais séria de todas: “A guerra, porquê?” Que drama de morte e que fatalismo consagrado este em que a guerra acompanha-nos e com uma certeza cruel de que só terminará quando acabar a Humanidade. Quem dera que fosse diferente mas é mesmo assim… Se há zonas do mundo cujas páginas de história se confundem com o constante conflito armado e mortífero, o Médio Oriente é esse emblemático lado escuro da humanidade. Ali, na visão dos livros típicos de história Ocidental, tudo nasceu: o bem, a esperança, a história, a ideia do colectivo, a civilização…mas também o mal, o ódio, a intolerância, a injustiça e a guerra. É este o fascínio obsessivo que faz de cada palmo de terra uma luta, uma conquista, uma guerra! Será que o melhor que se consegue serão “alguns anos” de processo de paz para o Médio Oriente? Não chega a visão simplista da história do século XX, dos acordos conseguidos a meados do século, da “força de persuasão” angariada pelas armas; ler as causas e perspectivas na óptica do passado século XX é não compreender que naqueles lados “1000 anos são um dia” e que o desígnio colectivo, onde não há pessoas indiferentes nem individualismos de indiferença, cria imperativos de não abdicar da própria história que cada grupo, etnia, comunidade, movimento, país, escreveu o quer escrever. Ou seja: são outros os olhos (e tantas vezes para o mal de todos), que não os nossos ocidentais, que movem as energias e conquistas ao longo dos séculos e mesmo milénios. Sim, já são pelo menos quase quatro milénios de história registada, em que aquele “chão” recebe as dores e as lágrimas humanas… Drama este em que todo o potencial de conhecimento e tecnologia militar é colocada ao serviço da morte de irmãos humanos, tragédia deste triste mundo em que os fanatismos, quer dum lado quer de outro, não olha a meios (nem à racionalidade) para atingir os seus fins egoístas, deixando por terra, pelo caminho, uma legião de mortos e desalojados!... 2. Que guerra é esta? O que está por trás como motor de guerra nesta desproporção alarmante da resposta israelita em que, “ferido um dedo”, ataca-se para matar todo o corpo do adversário? Interessa (há sempre interessados em guerra, que não o pobre povo) a quem este conflito? E a vergonha impávida e serena dos “G8” (que se chamam a si mesmo de mais ricos do mundo, mas são alarmantemente pobres de “amor sério e generoso à humanidade”), que da rica Cimeira da Rússia observavam desportivamente os mísseis a cair no Líbano? Como é possível, senhores da importância mundial, não se sentirem livres (interiormente e exteriormente) para dizerem cabalmente que, neste contexto, Israel deu início a esta guerra vergonhosa? Que falta de autonomia esta em que todos ‘alinham’ com os EUA protectores de Israel e não da verdade objectiva em cada situação? Pensarão os senhores de mundo que naquele constante “baril de pólvora” a guerra é caminho para alguma coisa de bom? Pela cultura dos tais milénios, e impregnados infelizmente de espírito terrorista e suicida, pensarão os gestores do Ocidente que o “Hezbollah”, o “Hamas”, os radicais Xiitas,… acalmam com as bombas que lhes são ‘presenteadas’? Ou antes, pelo contrário, recebem as bombas que lhes agradam como argumento de vingança duradoura contra Israel? Quem certamente estará a aproveitar bem o tempo será o nuclear presidente do Irão; Israel está-lhe a dar toda a margem de manobra. Apesar das diferenças no âmbito de todas as mil ramificações islâmicas, e em que mesmo o “Hezbollah” para os árabes é inimigo perigoso, o certo é que havendo um terceiro alvo a abater, Israel, então a motivação congregadora islâmica sobe em flecha; e se juntarmos a todo este contexto as palavras do presidente do Irão de que “Israel terá de desaparecer do mapa” então Israel corre mesmo perigo, um perigo que também atiçou. Claro que as posições no campo de combate vão-se gerindo: se Israel é, por obrigação histórica e económica, protegida pelos EUA, com a (possível) entrada em cena do Irão teremos então na final deste triste campeonato uma luta de titãs: Irão contra os Estados Unidos. 3. Onde pára a comunidade internacional? Quem é e o que pode a Comunidade Internacional? Onde está a ONU? Quem é afinal a Organização das Nações Unidas, com membros no Conselho de Segurança que são os desportivos “G8” a ver o mundo a passar à espera do momento certo para obter mais hegemonia e (porventura) petróleo do Médio Oriente?! Nos bombardeamentos de Haifa, cidade de Israel da maior convivência saudável entre as diversas comunidades islâmicas e israelitas, vemos a “morte” do processo de Paz, o terminar de um tempo de tolerância, esperança, expectativa, unidade da diversidade. Sendo certo que muitas águas existem a separar, por exemplo entre o que são os estados islâmicos e a sua necessária autonomia em relação aos movimentos fanáticos (como no caso do Líbano em relação ao “Hezbollah”), a verdade é que faz sentido perguntarmos quantos anos, décadas, serão necessários para restituir a esperança de um processo de paz? Não demorará só o tempo da reconstrução das pontes, edifícios e aeroportos de Beirute. O “essencial” não está no betão, se assim fosse a paz seria bem mais fácil!...

Procriação Medicamente Assistida

Jaime Gama
aceita projecto-lei
O residente da Assembleia da República admitiu o projecto-lei de iniciativa popular para a realização de um referendo à Procriação Medicamente Assistida (PMA). Jaime Gama enviou já a proposta para a Comissão de Saúde, que vai agora olhar para o documento. No entanto, decisões concretas só em Setembro. Depois do chumbo do Parlamento, o presidente da Assembleia da Republica propôs ao Movimento Pró-Referendo a transformação da petição, com mais de 80 mil assinaturas, num projecto-lei de iniciativa popular. A ideia foi aceite pelos dirigentes do Movimento que exigem um referendo sobre a Procriação Medicamente Assistida.
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Fonte: RR

CARTA ÀS INSTITUIÇÕES DO PRESIDENTE DA CNIS

Esclarecimentos e orientações sobre ATL SENHOR (ª) PRESIDENTE
Pelo muito que fizeram ao longo do ano e para melhor perspectivarem umas mais do que merecidas férias, todos os dirigentes das IPSS’s bem mereciam um fim de ano lectivo tranquilo. Porém, alguns vivem momentos bem difíceis porque o futuro próximo está envolto em muitas nuvens de dúvidas. Entre esses, estão claramente bastantes dirigentes de IPSS’s com a valência de ATL… Para fazer dispersar algumas nuvens, sinto ser meu dever esclarecer o que pode ser esclarecido e apontar algumas orientações:
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quarta-feira, 19 de julho de 2006

Um artista ilhavense

Costa Nova, 2004, Acrílico sobre tela, 80x120 cm
Brincadeiras de Menino, 2006, Acrílico sobre tela, 90x80 cm
JÚLIO PIRES: Um pintor a visitar
Há dias encontrei-me com um artista que desconhecia. Num ambiente em que se sente bem e que o completa: uma galeria de arte, a OP ARTE, na Gafanha da Nazaré. É um pintor ilhavense, que reflecte, num rápido contacto, uma serenidade que impressiona. Senti que não gosta de falar da sua arte. Gosta, porém, que sejam os outros a falar dela. É o que faço aqui, neste meu espaço, sem preocupações críticas. Deixando, contudo, que a minha sensibilidade diga o quanto gostei de apreciar nas suas telas, carregadas de cor. Mais luz e sombras dos nossos ares, com a Ria e o Mar a deixarem marcas que artistas, como ele, perpetuam. Por isso, digo que o Júlio Pires merece uma visita, onde quer que se encontre: nas galerias onde expõe, nas telas que se vão espalhando por casas de gente de bom gosto, no seu ateliê, que fica na Avenida João Vaz e Silva, Lote 4, na Praia da Vagueira, e no seu “site”, que mora em www.juliopires.com Os quadros que apreciei projectam-me para cantos e recantos da sua e nossa terra, e para mais além, ora carregados de cores fortes, ora de silhuetas que fazem sonhar, mas sempre com traços firmes que denotam o domínio das técnicas que experimenta, ou não fosse o artista um autodidacta que tem, como deve ter, a ânsia da procura e o desejo de chegar mais longe na arte que nunca mais pode abandonar. De quando em vez mostra-nos rostos que nos são familiares, tais são o rigor das feições e a expressividade de certos olhares e posições, das nossas gentes e de gentes de outras bandas, que Júlio Pires fixou de diversos pintores e de várias culturas. Aqui chegando, permita-me o pintor ilhavense que lhe diga que a sua arte, para se impor, não precisa, assim tanto, de sair dos horizontes que lhe enchem a alma, embora tenha o direito, como outros, de se deixar impressionar por outras formas de ser e de estar na vida, neste Portugal de tantos contrastes. Júlio Pires é natural de Ílhavo, onde nasceu a 30 de Outubro de 1964. É um autodidacta, criando o seu próprio percurso no caminho das Artes Plásticas. Frequentou em 1987 um curso de desenho e pintura no Grupo A.C.V. na Fundação Calouste Gulbenkian, sob a direcção de Pedro Andrade. Profissionalmente, foi pintor na Fábrica de Porcelanas da Vista Alegre. Porém, é nas telas que encontra a sua realização pessoal e a sua forma de expressão, que os ílhavos, e não só, têm a obrigação de muito mais valorizar. Júlio Pires já foi contemplado com vários prémios, fazendo parte a sua pintura do acervo de diversas colecções particulares. Está representado, também, em instituições portuguesas e estrangeiras, tendo participado em 34 exposições individuais e 24 colectivas. Fernando Martins