segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

O tempo

Para começar a semana

"Não há poder maior no mundo que o do tempo: tudo sujeita, tudo muda, tudo acaba."


Padre António Vieira
(1608-1697)

Em Escrito na Pedra do PÚBLICO

Natal e Novo Ano

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

O Papa Francisco não manifesta muito apreço pelo reino das abstracções. Os seus textos referem-se sempre a situações concretas que procuram socorrer o presente e abrir o futuro.

1. O Natal de Jesus de Nazaré inspirou, em todas as épocas, as mais belas obras de arte – música, literatura, pintura, arquitectura – e é possível encontrar nelas uma fonte de alegria porque, como diz Emir Kusturica, a felicidade produzida pela arte é o maior feito dos seres humanos [1]. Inspirou, sobretudo, uma nova arte de viver.
Como escreveu Frederico Lourenço, na Introdução aos Quatro Evangelhos [2], “Na segunda metade do século I da era cristã, o manancial (já de si tão rico) de textos em língua grega veio a enriquecer-se ainda mais com o aparecimento de quatro textos que mudaram para sempre a História da Humanidade. Nesses textos, o leitor escolarizado da época ter-se-ia confrontado com uma temática muito diferente da que conhecia de Homero, Sófocles ou Platão. Pois nestes quatro textos não se falava das façanhas heróicas de reis e de guerreiros, nem se reportavam as conversas de aristocratas atenienses com o lazer e o dinheiro para se dedicarem à filosofia. Aqui falava-se de pescadores e de leprosos; falava-se de pessoas desprezadas pela baixa condição na sociedade, pelas suas deficiências físicas, pelos seus problemas de saúde mental; falava-se de figuras femininas que não eram as rainhas e princesas da epopeia e da tragédia gregas, mas sim mulheres normais da vida real (a queixarem-se da lida da casa ou a exercerem, talvez, a mais antiga profissão do mundo).

domingo, 26 de dezembro de 2021

Dá-me a alegria


dá-me a alegria, a sem razão nenhuma que se veja,
dou-te alegria, a sem caminhos na clareira,
a de nenhum sinal em terra nua.
dá-me a tristeza, a toda certa sem fronteiras.
dou-te tristeza, a cinza em cinza devastada,
a oiro no silêncio debruada.

por águas me verti, por rios, sementes.
de terra me vestes, a sombra do dia,
o sítio das flechas no corpo, na árvore.
no sossego das chuvas me reparto.
ficas no escuro, nos ramos nos frutos,
embrulho novelo a desajeito.

a porta quase aberta diz que me recebes,
quase fechada diz que me visitas.
assim te visite, assim te receba.
nenhuma palavra que o gesto não faça.
de águas me vista, em terra me vertas.
no corpo das flechas o sítio, nos rios.

António Franco Alexandre, Poemas 

Assírio & Alvim, pág 290

sábado, 25 de dezembro de 2021

Natal: a dignidade infinita de ser Homem

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

"O Natal do comércio chega de um dia para o outro. Fácil, tilintante, confuso, pré-fabricado. É um Natal visual. Um amontoado de símbolos. Dentro de nós, porém, sabemos que não é assim. Para ser verdade, o Natal não pode ser só isto. Não pode ser apenas para uma emoção social, para um corrupio de compensações, compras e trocas. Para ser verdade, o Natal tem de ser fundo, pessoal, despojado, interpelador, silencioso, solidário, espiritual. Acorda em nós, Senhor, o desejo de um Natal autêntico."

José Tolentino Mendonça

A festa do Natal tem de ser, é, mais do que o festival do comércio natalício. Há pessoas que chegam à noite de Natal cansadas e desfeitas, por causa dos presentes. No último instante, ainda tiveram de ir à última loja aberta, por causa de mais uma compra. Há inclusivamente pessoas para as quais o tormento das compras natalícias começa logo em janeiro, uns dias após o Natal: o que é que vão dar como presente àquele, àquela, no Natal seguinte?!...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Bom Natal para todos

Para mim, a quadra mais bonita do ano é a que estamos a viver. O Natal, e nele incluindo o Dia de Ceia, como antigamente se dizia, mexe comigo e até me comove. Tantas recordações povoam o meu espírito  e tantos familiares e amigos, que já estão em Deus, voltam hoje para a ceia da consoada, em jeito de ensaio para a confraternização universal. E se à mesa me calar, não se assustem, estou à conversa com alguém de quem tenho tantas saudades!

Bom Natal para todos

Fernando Martins

O regresso do irmão pródigo

Um conto de natal - 2007


Nas vésperas da noite de consoada falta sempre qualquer coisa mais ou menos importante para a festa da família, associada, há muito, ao nascimento de Jesus. Prendas, sobretudo. Porque não se contava com a visita de um familiar, porque as destinadas ao filho mais velho ou mais novo não se coadunavam, afinal, com os seus desejos ditos em jeito de brincadeira, porque a filha precisava de algo diferente para decorar a sala.
Não cultivo muito o gosto de fazer compras, excepto de livros, mas acompanhei uma familiar pelas lojas mais na moda ou mais agressivas na publicidade aos seus produtos. Essa minha pouca apetência pelas compras não foi fruto de uma qualquer catequese mal alinhavada, que leva à conta de puro consumismo tudo o que diz respeito a dar lembranças em datas marcantes das nossas vidas, mas, sim, a uma inexplicável falta de habilidade. As prendas, no fundo, e em especial as de Natal e Páscoa, são normalmente sinais dos nossos afectos e do nosso amor para quantos nos rodeiam. Por isso, até foi com satisfação que acompanhei, também com a minha opinião, as últimas aquisições para a noite de consoada.

O SOL BRILHOU ABRIU-SE O DIA


O SOL BRILHOU ABRIU-SE O DIA

Obrigada, Senhor
porque abriste o dia
como quem abre a porta de um sacrário.
O sol brilhou e em curtos instantes
tudo se coloriu em sintonia.
As flores sorriram, as árvores bailaram
num véu de alegria os pássaros voaram.
O que meus olhos viram
me encheu de esplendor.
O pavor fugiu
só o medo ficou escondido num canto
à espera de ver se podia ficar
mas logo lhe disse que não tinha lugar
porque o sol me lembrara
que mesmo não vendo vizinho ou vizinha
em momento algum eu estava sozinha.
A causa do medo volveu-se em vigor
por sentir a presença de Ti, Meu Senhor.
E neste Natal, esqueçamos o medo
Pensemos no muito que já se venceu
E junto ao presépio cantemos com os anjos
Em doce alegria, Hinos de louvor.


Aida Viegas