segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Piódão vence grupo das Aldeias Remotas










Ontem à noite, fiquei satisfeito ao assistir à vitória de Piódão no grupo das Aldeias Remotas, num concurso promovido no âmbito das 7 Maravilhas de Portugal – Aldeias, com o objetivo de promover a identidade nacional. Gosto deste género de programas que nos permitem viajar no tempo com os pés assentes na atualidade.
Gosto, fundamentalmente, de todas as aldeias com história, preservadas no que é possível, havendo espaço para o presente. Quando as visito, aprecio o cuidado das suas gentes que se orgulham das joias que possuem e mostram a quem as visita. E tudo isso se sentiu nas manifestações de regozijo dos representantes das aldeias que participaram no concurso. 
Quando visito aldeias com identidades ancestrais, procuro os museus, se os houver, para além do museu vivo expresso no casario, monumentos, ruas e ruelas, igrejas, cruzeiros, pelourinhos e casas de pedra que resistiram ao passar dos séculos, suportando ventos agrestes, chuvas torrenciais, gelos invernais e calores infernais. Daí o prazer que senti quando fui a Piódão em 15 de julho de 2005. 
Tenho para mim que o viajante não pode fixar-se apenas na tipicidade do casario, no empedrado das ruelas e monumentos. Importa conhecer as pessoas, falando quando possível com elas, e ler o que sobre elas se escreveu com traços de realismo identitários. E em Piódão, para além do museu que visitei e onde fui autorizado a fotografar o que quisesse, comprei um livro — Dr. Vasco Campos – Obras completas — cuja leitura me ofereceu retratos belíssimos sobre as suas andanças como médico por aquelas bandas. «Vasco Campos foi o amigo que pegou na mão deste povo, ajudou-o e amparou-o em comunhão com ele. E fê-lo tocando o coração daqueles que tiveram a honra de ser por ele servidos», diz-se no Prefácio assinado por A. J. Rodrigues de Campos. 
Poesia em vários tons, relatos de um «compromisso solene de consagrar» a sua vida «ao serviço da Humanidade», na Serra do Açor e suas redondezas. Cartas, agradecimentos, recordações, estórias  e dedicações aos mais desfavorecidos e abandonados nas serranias perdidas. E aqui fica um naco de uma estória "O parto da Moleira": «Senhor doutor, nem de rastos como as cobras posso pagar o que lhe devo! E sobre todos os favores ainda quero pedir-lhe mais um: — Há-de ser o padrinho do cachopo.» E foi realmente o padrinho e sua mulher a madrinha. Referia-se Vasco Campos a um parto em que salvou uma criança de morte certa. A mãe estava em coma e o médico levou a criança  para sua casa até a parturiente recuperar.
Como curiosidade história, aponta-se o facto de Diogo Lopes Pacheco (estes apelidos ainda hoje existem na aldeia), conselheiro de D. Afonso IV e que contribuiu para o assassínio de D. Inês de Castro, se ter refugiado em Piódão. Também se diz que o célebre salteador e assassino João Brandão, que atacava de noite os povos da região, se escondia de dia em casa do pároco.
O Núcleo Museológico do Piódão é lugar de passagem obrigatória para o turista que preza a cultura.

Fernando Martins

Georgino Rocha — Aliança de amor e harmonia conjugal


“A Igreja deve ser e parecer mais séria no seu agir pastoral, sobretudo em relação ao matrimónio”, diz-me sem floreados e com ares de grande convicção um amigo que se vem dedicando a situações complexas de harmonia conjugal. Escuto-o com muita atenção porque também estou preocupado e o assunto envolve a vida de tantas pessoas, a credibilidade da mensagem cristã e a honestidade de agentes pastorais. E surgem, ora dele ora de mim, ditos do Papa Francisco, de D. António Marcelino, de párocos e de outras vozes autorizadas pela sua dedicação a promover a educação para a sexualidade no homem e na mulher, a beleza do casamento entre estes e a “desatar nós” quando o amor sonhado se dilui e desaparece.

A conversa faz desfilar a caminhada de preparação para a relação entre jovens e sua evolução para o casamento, a fase do noivado, o amadurecimento da opção pelo matrimónio alicerçada no propósito sincero de viverem a felicidade conjugal mútua. Recordei, com sentido de oportunidade, o testemunho ouvido no programa “Porque hoje é Domingo” da Radio Renascença que dizia: “Quero fazer-te feliz na medida das minhas possibilidades e das tuas necessidades”. Ficou encantado o amigo advogado, corroborando a minha percepção de que aqui estaria uma formulação acertada do propósito a viver pelo casal ao longo da sua história familiar. A viver e a alimentar. A alimentar e a transmitir.

sábado, 2 de setembro de 2017

Região de Aveiro é uma pequena Holanda



«A região de Aveiro é uma pequena Holanda em clima e luz ocidentais. Provavelmente pela extensa superfície de evaporação de centos de hectares de água salgada, toda esta região se distingue no norte do país pela luz irisada que a banha e de momento a momento muda de tom. Por vezes julgamo-nos aí transportados a uma região ideal.»

António Arroio, 
engenheiro e crítico, Porto, 1856; Lisboa, 1934

"Origens da Ria de Aveiro”, de Orlando de Oliveira

MaDonA — João Marquinhos


O Ensino Recorrente integrou a Educação de Adultos, que visava proporcionar uma segunda oportunidade de formação, conciliando os estudos com o exercício de uma atividade profissional. 
Foi nesta modalidade de ensino que conheci pessoas gradas da nossa terra. Pessoas de origem humilde, mas cujo percurso de vida as fez chegar ao topo dos seus sonhos. 
Neste âmbito, recordo um aluno, de idade já avançada, mas de espírito jovem que frequentou as minhas aulas. De seu nome João Marquinhos é uma referência na nossa terra, com a provecta idade de 83 anos, 38 como ele refere, gracejando. Oriundo de Aveiro, desde tenra idade veio para a Gafanha da Encarnação, adotando-a como sua terra natal. 
Concluiu o e ensino primário, com distinção, a menção honrosa dada aos alunos que sobressaiam no seu desempenho, numa época em que não havia, nas escolas, o Quadro de Honra e Excelência. Partilha o orgulho que sinto de ambos meus progenitores, que também concluíram a 4.ª classe com distinção. Uma façanha para a altura, em que o ensino primário não era obrigatório. Alguma coisa, por osmose, terá passado para esta humilde criatura? 
Desde muito cedo se lançou na vida de trabalho, tendo começado com apenas onze anos, na bilheteira do cais de embarque, na Costa Nova. Eram as barcas que faziam o transporte dos banhistas na Gafanha da Encarnação, ancoradouro da Bruxa, para a praia. Apesar da sua tenra idade, não foi alvo da CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens) por exploração de trabalho infantil. A ociosidade, como dizia o meu progenitor, é a mãe de todos os vícios...e o pai? Será mãe solteira, provavelmente! 
Nesse tempo eram poucos os que prosseguiam estudos e a maioria das crianças ajudava os pais nas atividades agrícolas ou da pesca. O trabalho que o menino João ia desempenhar não lhe exigia esforço físico, mas apenas mental – fazer contas, matéria em que era um ás. Dada a sua pequena estatura, precisou, certamente de um banquinho, para chegar ao guichet. 
A sua vida foi decorrendo sem sobressaltos, tendo passado pelo comércio, onde se terá iniciado nos meandros dessa atividade, até aos dezassete anos.
Nessa idade, já começava a “olhar para a sombra”, isto é a pensar nas “cachopas” e a querer catrapiscar alguma sua favorita. Com o intuito de comprar cerejas para oferecer a uma que tinha debaixo de olho, foi à festa da N.ª S.ª de Vagos, onde se deu o primeiro grande revés da sua vida. Uma derrapagem na areia, com o seu Cucciolo de estimação, levou-o às portas da morte...mas não chegou a entrar! A recuperação do coma em que esteve dois dias e a sua reabilitação física levaram o seu tempo e originaram o handicap da sua mobilidade: a locomoção com duas canadianas, imagem que sempre o acompanhou pela vida fora. Se fisicamente ficou debilitado, a sua força anímica redobrou, vindo à tona e a partir daí foi ver este homem mexer-se, a um ritmo quase vertiginoso. 
Não ficou de braços cruzados, à espera da compaixão do próximo, e fez-se à estrada da vida, cheio de energia e vontade de vencer. Já que a vida lhe dera um limão, ele haveria de fazer a sua limonada!
Assim, começou a idealizar uma profissão que se coadunasse com a sua limitação física e surgiu a ideia de ser alfaiate. Aprendeu com os melhores mestres, tendo feito uma formação em Lisboa que lhe haveria de mudar o rumo da vida. Ainda se lembra do n.º 852, na Rua da Prata. 
Iniciou-se na vida de alfaiate e depressa viu a sua clientela aumentar exponencialmente, chegando a ter dez costureiras no seu atelier. 
Como qualquer jovem que se preza, foi namoradeiro e teve os seus devaneios amorosos, como ele conta com um sorriso brejeiro “Ainda eu namorava com a Celeste, veio uma rapariga e enfeitiçou-me. Fui atrás dela até Amarante. Levava a motoreta no comboio até ao Porto...” 
Dado o seu dinamismo e uma vontade férrea de contribuir para o desenvolvimento da sua terra, hoje vila da Gafanha da Encarnação, ocupou lugares de relevo na administração local. Na autarquia, participou ativamente na Assembleia Municipal. Na Junta de Freguesia, desempenhou as funções de secretário, tesoureiro, tendo declinado o cargo de Presidente, por motivos de conciliação de agenda.
A sua paixão pelo futebol granjeou-lhe o cargo de presidente, do clube da terra, o NEGE (Novo Estrela da Gafanha da Encarnação). 
O Sr. João Marquinhos é o protótipo do self-made-man, o homem empreendedor, que não tendo ganho a meia-maratona, alcançou o podium na maratona da vida. 
Nas aulas, marcava a sua presença assídua e vestígios do seu trabalho, pousavam na sua roupa – as linhas com que costurava a vida. 
Foi um Homem que a pulso e com horizontes largos, construiu um império, um modelo de tenacidade e auto superação. Um exemplo a seguir pela juventude hodierna, que apesar dos dotes que a natureza lhe dá, anda à deriva, num desnorte confrangedor. 
O bichinho da profissão de alfaiate ainda não esmoreceu, pois criou um estaminé, adjacente ao banco, onde ainda dá uns pontos e atende a solicitação de algum cliente/amigo. 
Sempre que vou levantar dinheiro ao Totta (Quem quer dinheiro vai ao Totta!), situado no rés-do-chão do prédio onde habita, dou dois dedos de conversa ao Sr. João Marquinhos. Recebe-me sempre com um sorriso amistoso e não se cansa de elogiar a “sua professorinha” que um dia o teve, como aluno atento, na sua sala de aula. 
Que a vida lhe sorria e, quem sabe? a vila da Gafanha da Encarnação, um dia, lhe dê o tributo que merece este filantropo – um topónimo... para a posteridade. 

Mª Donzília Almeida 

29 de agosto de 2017

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Georgino Rocha — A coragem de ser cristão


Georgino Rocha

O diálogo de Jesus com Pedro, em Cesareia de Filipe, é esclarecedor e persuasivo. Manifesta um choque frontal de critérios em relação à missão a realizar. Os de poder e prestígio, típicos ainda do Antigo Testamento. E os da novidade que Jesus anuncia e que convergem no amor que leva à doação total, ao assumir a cruz da morte ignominiosa. Mas afinal, da manhã ressuscitadora, da Páscoa gloriosa.
Ser cristão discípulo exige coragem e ousadia confiante, determinação e coerência. Seguir Jesus é abraçar a sua mensagem na íntegra. Também na luta contra a corrente e na defesa da humanidade, da criação e do ambiente. A nossa fé, diz o Papa Francisco, ensina-nos uma forma de pensar, de sentir e de viver. 
Acredita, ama e dá. Esta é a batalha da vida. O mal ganha, dividindo a pessoa humana nas suas apetências e destruindo a sua harmonia interior. Deixa-a amargurada no vazio, na pobreza da esterilidade, na sensação da derrota. Mas cada um de nós pode revoltar-se contra o mal e preferir seguir caminhos de bem, de verdade que liberta e de amor que irradia. Como Jesus.
Pedro fica perplexo com o que ouve a Jesus. Contrastava tanto com o que havia experimentado. Realmente, era frustrante. Sentia-se desiludido, ele que tinha recebido tão rasgado elogio: Feliz és tu, filho de Jonas, por teres descoberto que eu sou o Messias; ele, o porta-voz, do grupo apostólico, que recebe a promessa de ser o alicerce da construção da Igreja e de ficar com as chaves da entrada no Reino; ele, que deixa o nome de família, e aceita ser chamado de modo novo – o da missão que lhe é confiada. 
Perante o contraste, o impulso do coração leva-o a agir. A simples hipótese do sofrimento anunciado e do enfrentamento, com os chefes religiosos e políticos, poder conduzir à morte de cruz, constituía um verdadeiro tormento. Espontâneo e generoso, como era, resolve aconselhar o Mestre. Toma-o à parte e contesta-o abertamente. A sós, pensava, seria mais fácil dizer-lhe tudo o que entendia ser prudente e sensato, ele que não largava a ideia de um Messias vitorioso, libertador, capaz de desarmar todos os seus inimigos e instaurar a nova ordem anunciada. À medida que fala, dá conta que o semblante de Jesus se altera. Parece que transmite irritação profunda, fúria incontida. E de facto, a resposta ouvida é tão áspera e dura que o surpreende completamente. Fica em silêncio, sabe Deus com que amargura, a “gemer” a reprimenda e a tentar ouvir as instruções que Jesus ia dando aos discípulos. E por quanto tempo estas palavras o hão-de acompanhar: Põe-te no teu sítio, não queiras desviar-me do caminho traçado, tem em conta as coisas de Deus, não sejas ocasião de escândalo, retira-te, Satanás.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O Farol faz anos hoje




O Farol da Barra de Aveiro, situado em pleno concelho de Ílhavo, na Gafanha da Nazaré, é um ex-líbris da região aveirense. Imponente, não há por aí quem não o conheça, como o mais alto de Portugal e um dos mais altos da Europa. Já centenário, faz parte do imaginário de quem visita a Praia da Barra. Quem chega, não pode deixar de ficar extasiado e com desejos, legítimos, de subir ao varandim do topo, para daí poder desfrutar de paisagens únicas, com mar sem fim, laguna, povoações à volta e ao longe, a dominar os horizontes, os contornos sombrios das serras de perto e mais distantes.
À noite, o seu foco luminoso, rodopiante e cadenciado, atrai todos os olhares, mesmo os mais distraídos, tal a sua força. Mas são os navegantes, os que mais o apreciam, sem dúvida. 
Foi inaugurado em 31 de agosto de 1893. Oficialmente, completa hoje 124 anos. No próximo ano chega a uma data redonda — 125 anos. Vamos todos contribuir para uma festa? Ele bem a merece!

F. M.

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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Poesia de José Régio para começar o dia...


(…)
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
— Sei que não vou por aí!

José Régio,

in 'Poemas de Deus e do Diabo' ,
do poema Cântico Negro

terça-feira, 29 de agosto de 2017

A paróquia da Gafanha da Nazaré está na blogosfera



A nossa paróquia saltou os muros do adro da igreja e da área matriz da sua razão de ser, a Gafanha da Nazaré, para se projetar no mundo. O propósito é compreensível, já que há gafanhões nem sempre disponíveis para participarem no dia a dia da paróquia, mas também há muitos outros, um pouco por todo o mundo, lutando por uma vida melhor. Acresce uma outra razão, que se apoia na realidade concreta de haver um sem-número de lusodescendentes que nunca ou raramente visitaram esta terra das suas origens, por estarem, decerto, plenamente integrados nas comunidades dos países onde nasceram. O blogue tem por título “Paróquia Nossa Senhora da Nazaré” (https://paroquianossasenhoranazare.blogspot.pt/) e apresenta-se como uma comunidade atenta aos sinais dos tempos. E é neste pressuposto que pretende viver, num espírito de abertura aos seus paroquianos e ao mundo em geral. 
Presentemente, ainda está em construção e assim permanecerá, porque assume fugir à estagnação, desejando que os nossos paroquianos, de perto e de longe, se disponham a colaborar, enviando notícias com fotos, partilhando ideias, sentimentos e emoções, onde todos se possam rever. 
Na abertura do blogue, o nosso prior, Padre César Fernandes, afirmou que pretendemos levar a todos os gafanhões a Boa Nova de Jesus, residentes na comunidade ou emigrados, na certeza de que, deste modo, poderemos criar laços de proximidade e fraternidade, que hão de conduzir-nos a um mundo mais cristão e mais solidário.

Fernando Martins

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Festival de Folclore em Ílhavo



Com organização do Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo, vai realizar-se, no sábado, 2 de setembro, pelas 21 horas, no Jardim Henriqueta Maia, o Festival de Folclore “Cidade de Ílhavo”. Para além do rancho  anfitrião, participam o Rancho Folclórico de Passos de Silgueiros, o Rancho Folclórico de Terras da Feira, o Grupo Folclórico do Bairro de Santarém, o Grupo Regional de Moreira da Maia e a Ronda Típica da Meadela

domingo, 27 de agosto de 2017

REFAN — Perfumaria & Cosmética na Gafanha da Nazaré

Alexandre e Luisinha 
Luisinha atende cliente 

É preciso explicar
Vitrinas

Vitrinas
No passado dia 18 de agosto, abriu ao público na Av. José Estêvão, n.º 89, na Cale da Vila, Gafanha da Nazaré, uma loja de perfumaria e cosmética ligada à REFAN, líder mundial nesta área de perfumes de alta qualidade e cosmética natural, para todas as idades. Trata-se de uma iniciativa do casal Alexandre Cruz e Luísa Marabuto, «um sonho alimentado há bastante tempo» que avança agora na linha do «empreendedorismo da juventude», convictos de que «a vida é feita de riscos — e nós arriscámos». Alexandre Cruz adianta ainda que nesta terra, com estabelecimentos de muitas e variadas dimensões, «faltava uma perfumaria, sendo esta a primeira do género no município de Ílhavo».
Para Luísa Marabuto, Luisinha para familiares e amigos, mas também, porventura, para os seus clientes na Gafanha da Nazaré, mostrou satisfação pela abertura do seu espaço comercial, para de imediato frisar a «importância dos odores agradáveis, porque nos fazem sentir bem, deixando-nos felizes». O odor — provavelmente um dos cinco sentidos menos falados — alimenta em nós a expressão da sedução, mas logo acrescenta que, «se não for agradável, em vez de aproximar gera repulsa». Luisinha refere com oportunidade que até na cozinha os odores nos abrem o apetite, obrigando-nos a dizer, com alguma euforia, «Que cheirinho tão bom, tão agradável!».
Luísa Marabuto está esperançada em que a sua loja — que se apresenta com muito bom gosto, onde sobressaem os produtos expostos em vitrinas sob luz indireta que realça todo o ambiente — tenha sucesso na Gafanha da Nazaré, terra de um «povo fantástico». Referiu que as pessoas da Gafanha, «boas, alegres e dinâmicas, procuram e apoiam o comércio local». Por isso, adiantou, «temos a obrigação de contribuir para a sua alegria, para que se sintam bem e possam conviver», naturalmente com bons perfumes.
REFAN é uma marca de origem búlgara, com 25 anos de experiência, sempre a apostar em produtos de grande qualidade. Está implantada na península ibérica em Barcelona e daí veio para a Gafanha da Nazaré. 
Antes da abertura, procedeu à bênção o nosso prior, Padre César Fernandes. Presente também, além dos familiares do casal, amigos e convidados, Carlos Rocha, presidente da Junta de Freguesia, que desejou os maiores êxitos à loja que fazia falta na nossa terra. 

Fernando Martins

sábado, 26 de agosto de 2017

PRAIAS — Queimam-se os últimos cartuchos


O verão do calor e das praias está a chegar ao fim. Este fim de semana, para a grande maioria dos veraneantes, queimam-se os últimos cartuchos. Corpos bronzeados pelo sol e pelos unguentos próprios de quem quer proteger-se das queimaduras solares, espíritos livres dos stresses, almas lavadas pelos convívios, leituras e reflexões a gosto de cada um, mais pulmões purificados pela maresia, tudo isto nos dá ânimo para voltarmos à vida real do trabalho, canseiras, desafios e ânsias de novos projetos, que parar é morrer.
Bom regresso para todos, com muita saúde e otimismo.

Um poema para este dia — SÍSIFO


SÍSIFO 

Recomeça....
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...

Miguel Torga 

In POESIA COMPLETA, Diário XIII

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Fim de tarde — Recreio dos Bandeirantes - RJ

Luiz Martins 
Há vários motivos para você não ser feliz, mas a decisão é opcional.

Fotógrafos do Brasil

Georgino Rocha — PERGUNTA CRUCIAL, RESPOSTA SUBLIME


O ser humano tende a fazer perguntas que saciem a sua curiosidade e fome de saber. É sinal dos limites da natureza finita e da aspiração infinita do seu espírito. Faz perguntas desde a mais tenra idade e sobre os mais diversos assuntos, chegando normalmente a interrogar-se sobre o sentido da vida, a identidade pessoal, a convivência em sociedade, o futuro após a morte, Deus, Jesus Cristo, Igreja, família.
Tem tendência a interrogar Deus, a pedir-lhe explicações dos seus actos, a julgá-lo no “tribunal da razão” pelas suas ausências e cumplicidades.
A pergunta do ser humano é um eco das perguntas que Deus lhe faz ao longo da história: Adão, onde estás? Caim, que fizeste do teu irmão? Povo meu, que te fiz eu? Responde-me – suplica por meio do profeta. E vós, quem dizeis que eu sou? – indaga Jesus aos seus discípulos.
Este modo de ser manifesta a relação mais profunda e o diálogo mais salutar que, naturalmente, se estabelece entre ambos: criatura e criador, ser carenciado e salvador, ser peregrino na história e senhor do tempo e da eternidade.
Deus dá sempre resposta à interrogação do ser humano, embora possa não seja a que este espera. Importa estar atento. O ser humano nem sempre responde às perguntas feitas por Deus à consciência pessoal e social. Daí, a necessidade de reconsiderar e de reorientar a atitude assumida, desfazendo o desvio e procurando a sintonia.
Jesus, fiel intérprete de Deus e do homem, entra na lógica da pergunta e da resposta. E, dirigindo-se aos discípulos, questiona-os algumas vezes, sobretudo quando pretende verificar o reconhecimento da sua identidade e da sua missão. Que dizem a meu respeito? E para vós quem sou eu? Perguntas feitas junto ao mar de Tiberíades e que têm repercussões universais, interpelação dirigida a um grupo e que se destina a toda a humanidade, ao longo dos tempos.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

"A PESCA POR UM MAR SEM LIXO"

Aqui não se vê lixo
Ministra do Mar

A Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, apresentou hoje, pelas 16 horas, no Porto de Pesca Costeira, o projeto "A Pesca por um Mar sem Lixo", integrado num dos compromissos voluntários assumidos por Portugal no âmbito do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 14 – Oceanos, segundo informa o sítio do Porto de Aveiro. Trata-se de um projeto, tanto quanto é possível saber, de grande interesse para o asseio das nossas zonas ribeirinhas. 
Quem passeia com alguma regularidade pelas referidas zonas, junto do mar ou da ria, pode confirmar que a permanência de pescadores é notória e compreensível. Pescar faz parte da vida humana desde tempos imemoriais. Contudo, também se nota com frequência que alguns pescadores, menos dados à limpeza e ao cuidado da natureza, deixam os espaços carregados de lixo que os anzóis arrancam da maré. 
Eu sei que nem sempre há caixotes do lixo por perto, mas também sei que, se cada pescador for asseado, as zonas costeiras nunca ficarão conspurcadas

Poema para este dia — Raízes


Raízes

As minhas raízes são como jasmim

não são fortes
não são profundas
apenas leveza
apenas perfume
estar aqui é apenas o início
de uma aventura

As minhas raízes são como jasmim

imaginava a vida como uma árvore
com raízes sólidas
com braços e abraços
com um fim e um princípio
com amor e ódio

Descobri a beleza do efémero

as minhas raízes
são apenas perfume

Orlando Jorge Figueiredo

In “os pássaros habitam a casa”



Foto do dia — Aldeia na serra



Gosto de recordar. Uma foto pode ser sempre um momento de reviver dias ou momentos agradáveis. Hoje, no encontro com esta imagem que achei no meio de tantas, registada em plena serra, fui até lá. A aldeia, cujo nome se varreu da minha memória, deve permanecer intacta com séculos de história e de vida, ora serena ora agitada, de gente que respira ares puros por todos os poros, enriquecendo a alma de sonhos.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Certificado de excelência para a Universidade de Aveiro

Recanto da UA
Festa da Bênção dos Finalistas 

«A Universidade de Aveiro foi distinguida, pelo segundo ano consecutivo, com o certificado de excelência do TripAdvisor, conjunto de sites que compõem a maior comunidade de viagens do mundo. Este selo é atribuído a locais turísticos que oferecem serviço de alta qualidade.» Esta é mais uma razão para nos sentirmos vaidosos com a UA, tantas vezes premiada pelos mais diversos motivos. Os meus parabéns. 

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terça-feira, 22 de agosto de 2017

Como os fotógrafos da National Geographic viram o Eclipse Solar






Aprecie a beleza e o rigor da oportunidade dos fotógrafos da revista National Geographic no dia do recente eclipse solar. Os autores estão referenciados junto aos seus registos.

Henrique Raposo — E se a barriga de aluguer for um útero artificial?


Não, não é um delírio à Frank Herbert ou à Philip Dick. O útero artificial deixou a estratosfera da ficção científica e aterrou na realidade. Uma gestação mecanizada e sem a necessidade do corpo da mulher já não é uma impossibilidade. Já estão a ser feitas experiências com bezerros criados em úteros artificiais que se assemelham às máquinas que suportam as pessoas em coma: bombas mecânicas, tubos e seringas bombeiam ar e injectam os nutrientes que permitem o crescimento do feto.

Mas a pergunta fundamental não está no campo da possibilidade, está no campo da legitimidade. A questão “é possível criar um ser humano num útero artificial?” é insignificante ao pé do dilema “é legítimo criar um ser humano num útero artificial?”. A ciência não se legitima a si própria.
Se servir para salvar ou proteger de forma mais tranquila a vida dos chamados bebés prematuros, esta máquina pode ser uma dádiva, um avanço notável da medicina. Contudo, se for usada como barriga de aluguer dos caprichos dos Ronaldos e das Kardashians, esta máquina pode ser uma porta para um inferno pós-humano onde o ser humano passa a ser uma mercadoria como outra qualquer.

Neste cenário, o útero artificial deixa de ser medicina e passa a ser distopia, deixa de ser um instrumento que auxilia uma vida já criada (o bebé prematuro) e passa a ser um portal para a criação de seres humanos ex nihilo. Ou seja, estamos à beira de um pesadelo ético (o negócio das barrigas de aluguer torna-se ainda mais fácil porque a “mãe” passa a ser uma relíquia), de um pesadelo político (um útero mecânico é o sonho molhado dos nazis) e de um pesadelo criminal - se o comércio de seres humanos e de órgãos já é uma realidade, como será no dia em que as máfias poderão simplesmente criar seres humanos para vender ou para servirem de estufas de órgãos humanos para colher e vender?

Sem grande alarme colectivo, estamos a caminhar para uma sociedade em que o ser humano pode ser comercializado ao abrigo das leis do mercado. O que não deixa de ser curioso: a resistência ao comércio de bens inertes (vulgo “capitalismo”) coabita lado a lado com a indiferença perante o comércio de seres humanos. Mas, já que invoco o conceito de “ser humano”, convém prosseguir com uma pergunta: será que um bebé criado ex nihilo numa máquina ainda pode ser considerado um “ser humano”? Uma pessoa que entra neste mundo através de uma máquina e não através de outro ser humano ainda pode ser considerado “ser humano”?

Até Jesus precisou de Maria para entrar neste mundo. O Salvador não apareceu do nada num portal de metal à ficção científica; Ele precisou de Maria, portal humano. Julgo que até os não crentes percebem este ponto de forma intuitiva. E também não é preciso acreditar no conceito cristão de “alma” para perceber que nós não somos apenas matéria, não somos compostos apenas de carne e fluidos. Durante a vida intra-uterina, a nossa personalidade começa a ser formada através da interacção com a nossa mãe. No vácuo da máquina, que tipo personalidade pode ser desenvolvida?

Este debate devia estar a ser feito, mas o tema tem sido desprezado. Porquê? A meu ver, a razão para o silêncio é a seguinte: o útero artificial desarruma os termos actuais do debate do aborto. Os defensores da “IVG” tentam tudo para desumanizar o nascituro, tentam reduzir ou menosprezar a vida intra-uterina, para assim retirar a carga odiosa do acto. Ora, o útero artificial vem mostrar é que “aquilo” não é um “mero amontoado de células”. Moral da história? Paradoxalmente, o útero artificial vem mostrar que os críticos do aborto sempre tiveram razão. O problema é que abre uma nova caixa de Pandora.

Li na Renascença