sábado, 24 de dezembro de 2016

ALEGRAI-VOS. HOJE NASCEU O SALVADOR

Reflexão de Georgino Rocha



O convite à alegria ecoa no descampado de Belém onde pastores vivem e guardam os rebanhos. (Lc 2, 1-14). É noite que envolve também o seu coração. O povoado fica a uns três km, agravando o desconforto emocional. Apenas o apoio mútuo lhes serve de amparo e consolação. São marginais `que sobrevivem em precárias condições. São trabalhadores por conta de outrem sem qualquer protecção legal. São “nómadas” considerados violentos e ladrões, socialmente perigosos e ameaçadores. Gente a evitar e a manter à-distância.

No céu de Belém, faz-se ouvir uma voz estranha que se vai aproximando. Sentem muito medo. Ficam pasmados com o convite que lhes é dirigido: “Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor”. E para os demover, o Anjo indica-lhes um sinal de reconhecimento: o Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura. O grande medo cede lugar a uma enorme paz, o pasmo é vencido pela vontade curiosa de ir verificar a verdade do anúncio, a solidão da noite é desfeita pela agradável companhia de vozes celestes que louvam a Deus pela sua glória e felicitam os homens pela paz, fruto divino do amor incondicional e do esforçado trabalho humano.

Natal. Traduções da Bíblia

Crónica de Anselmo Borges 



«Estou convencido 
de que o desconhecimento da Bíblia 
e a proibição da sua leitura 
foram uma das causas 
do atraso cultural de Portugal.»

1 "A Bíblia é o poema colectivo mais longo criado até agora pela humanidade. Nele se espelham as várias batalhas que os homens engendram na sua demanda pelo amor absoluto. Não admira que a literatura ocidental nele tenha encontrado os seus modelos de narração amorosa mais fortes e que os seus mitos continuem a servir de moldura para o pensamento em torno da liberdade e da paz" (Lídia Jorge).

Ernst Bloch, marxista heterodoxo e ateu religioso, ainda na antiga República Democrática Alemã, dizia nas suas aulas, para escândalo do governo comunista, que os nazis, ao recusarem a Bíblia, já "não puderam compreender a cultura alemã". De facto, sem a Bíblia, não podemos compreender os cânticos de Natal, da Páscoa, costumes populares..., não conseguimos entender o gótico, a Idade Média, Dante, Rembrandt, Händel, Bach... "Sim, sem a Bíblia, o que é que ainda podemos compreender?" Sem a Bíblia, não entendemos a Missa Solemnis de Beethoven, um requiem, "garnichts" (nada mesmo).
Como entender os ideais da Revolução Francesa? Karl Marx, exilado, levou consigo a Bíblia. Bertolt Brecht encontrava inspiração na Bíblia. No século XIX, não havia analfabetos na Noruega e a razão é que as mães liam a Bíblia e uma mãe que sabe ler não permite que os filhos fiquem analfabetos...
Entretanto, a gente pasma, quando lê que, em 1713, o papa Clemente XI, na Constituição "Unigenitus Dei Filius", declarou serem falsas afirmações como: "A leitura da Sagrada Escritura é para todos", "é útil e necessário" todos terem acesso ao estudo e conhecimento da Bíblia.

Estou convencido de que o desconhecimento da Bíblia e a proibição da sua leitura foram uma das causas do atraso cultural de Portugal.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Quem ouve, hoje, a voz dos anjos no silêncio da noite?

Mensagem do Bispo do Porto:
Com Maria e José sonhar a alegria do Natal


1. Como sonhar a alegria do Natal nas ruas manchadas pelo sangue derramado em Paris, Nice, Ancara ou Berlim? Como construir presépios nas ruínas de Alepo, donde fugiram os cristãos? Que presente de Natal oferecer ao menino que chora convulsivamente porque o seu pai está preso, ao ouvir cantar os parabéns, no dia do seu aniversário, pelos companheiros e educadoras daquele Centro Social de um bairro pobre da cidade?
Vinte séculos depois, o mundo continua a fechar as portas das albergarias da cidade diante da vida que nasce e incomoda e frente a famílias de refugiados, sem teto, sem terra e sem trabalho.
Os poderosos do mundo parecem continuar distraídos de tudo isto, ocupados com outras coisas, enredados nos seus negócios ou absorvidos pela ambição desmedida do seu domínio.
Quem ouve, hoje, a voz dos anjos no silêncio da noite? Quem se apressa a acorrer à gruta de Belém? Quem se deixa iluminar pela estrela que nos conduz a Deus, nascido de Maria e velado por José, seu pai adoptivo. Que mistérios divinos contemplamos? Que sonhos de paz e de misericórdia embalamos? Que caminhos de luz e de sabedoria percorremos?

Nascerás esta noite em Alepo

Um poema de Senos da Fonseca 
para este tempo




Nascerás
Esta noite em Alepo.
Não terás Reis, nem Magos.
E de mirra terás o odor dos
Mortos.
Verás homens ferozes
Matando outros homens
Sem perceberes porquê.
Verás meninos empunhando armas
Matando outros meninos.
Apesar de Ti
O mundo está pior.
Nesta noite chorarei…
Chorarei sobre as consciências
Adormecidas.
Chorarei sobre os que ainda
Acreditam
Na inocência.
Esta noite não quero mais natal
Nesta noite morreu meu sonho
O de acreditar que o Homem
Se queria igual.


Senos da Fonseca

Natal 2016

NATAL, ÉS TU


NATAL, ÉS TU

"O Natal és tu, quando decides nascer de novo em cada dia e deixar Deus entrar na tua alma.
A árvore de Natal és tu, quando resistes vigoroso aos ventos e dificuldades da vida.
Os enfeites de Natal és tu, quando as tuas virtudes são cores que enfeitam a tua vida.
O sino de Natal és tu, quando chamas, congregas e procuras unir.
És também luz de Natal, quando com a tua vida iluminas o caminho dos outros
com a bondade, a paciência, a alegria e a generosidade.
Os anjos de Natal és tu, quando cantas ao mundo uma mensagem de paz, justiça e amor...
Os cânticos de Natal és tu, quando conquistas a harmonia dentro de ti.
Os presentes de Natal és tu, quando és um verdadeiro amigo e irmão de todos os seres humanos.
Os desejos do Natal és tu, quando perdoas e restabeleces a paz, mesmo sofrendo.
A consoada és tu, quando sacias com pão e esperança o pobre que te é próximo.
Tu és a noite de Natal, quando, humilde e consciente, recebes no silêncio da noite o Salvador do mundo, sem ruído nem grandes celebrações; 
tu és sorriso de confiança e ternura na paz interior de um natal constante estabelecendo o reino dentro de ti."

Papa Francisco

Nota: Texto gentilmente enviado por Georgino Rocha com votos de Feliz Natal

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

José Tolentino Mendonça em entrevista ao PÚBLICO

"Muitas pessoas estão a dar 
uma segunda oportunidade à Igreja"

Padre Tolentino (foto do meu arquivo)



É um dos grandes pensadores do Portugal contemporâneo e do lugar do catolicismo no mundo. Em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, José Tolentino Mendonça fala do Natal, do amor, da poesia e do papel do Papa Francisco na reinvenção do papel da Igreja.



José Tolentino Mendonça não tem dúvidas: o Papa Francisco trouxe à Igreja Católica uma vitalidade que se julgava perdida e a prova disso são as muitas pessoas que se reconciliaram com a fé cristã. “Está a acontecer um pouco por todo o lado e como sinal, ao mesmo tempo, de uma cultura que volta a ter disponibilidade para ouvir aquilo quer julgava que já não queria ouvir mais.” A poucos dias do Natal falamos com o padre-poeta que gosta de construir pontes entre crentes e não-crentes, entre fé e pensamento.

Há um Natal de antigamente e um Natal dos dias de hoje? 
As formas como vivemos o Natal não são indiferentes à História, até porque o cristianismo é uma religião vertiginosamente histórica. Há outras tradições religiosas para quem a História é mais ou menos indiferente, porque apostam tudo na superação ou numa espécie de intervalo em relação à História. O cristianismo pega na História de frente. E, por isso, tudo o que é o fluxo histórico tem uma tradução na vivência do cristianismo. O próprio Natal, em si mesmo, é este cruzamento do eterno com a História e é sempre através daquilo que a História pode ser em cada momento que nós conseguimos olhar para o mistério da fé.

Ler mais no PÚBLICO

Notas do meu diário: Hoje volto à liça

22 de dezembro



1. Já não ando por aqui, com textos próprios, desde 14 de dezembro. Alguns incómodos de saúde, felizmente não muito graves, impedem-me de seguir o meu ritmo normal. Hoje, porém, dei uma sapatada nesse incómodo e volto à liça habitual, que parar é morrer.

2. A época natalícia é, porventura, a que mais me toca. Sempre senti isso desde menino, desde quando a minha saudosa mãe me falava do nascimento do Menino Jesus, com o olhar repassado de ternura pelo Deus-Menino que haveria espalhar bondade, alegria, paz e fraternidade. De teologia, a minha mãe nada saberia. Muito menos seria capaz de me explicar por que razão quis Deus fazer-se homem há mais de dois mil anos. Mas sabia que era sua e nossa obrigação acolhê-Lo neste mundo maravilhoso, quiçá um vale de lágrimas para muitíssima gente. E depois, anunciava que no dia 25 de dezembro, começos do inverno, teríamos a grande noite, na qual não faltavam os presentes que o Menino se encarregaria de distribuir por todas as crianças do mundo. E assim era… 

3. Tenho por princípio ouvir música natalícia há muitos anos nesta quadra. É música diferente. Desde a popular que os simples criaram e nos ensinaram a cantarolar até à mais elaborada com fonte garantida nos grandes músicos. Toda ela é bela. E é curioso como por ela nos elevamos às alturas, tentando abafar mágoas das guerras e dos terrorismos, mesmo sabendo que não há milagres para que os homens se entendam se eles não quiserem nem souberem entender-se. 
Bom Natal para todos. 

domingo, 18 de dezembro de 2016

De mãe a discípula

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


«A igreja não tem nenhuma fórmula 
para salvar o mundo. 
É uma convocatória para o trabalho. 
Não é pouco.»
1. Pertencem a Paulo os primeiros escritos do Novo Testamento. Não são de carácter narrativo. São tentativas de interpretação de uma experiência que mudou completamente a sua vida, que o fez nascer de novo. A iluminação que derrubou as suas certezas não o fez ver apenas que nem Jesus nem os seus discípulos eram traidores da autêntica fé de Israel. Esta tinha sido atraiçoada ao deixar-se prender pela Lei, pelos seus preceitos e regulamentos, tornando-se uma questão nacionalista.
Jesus não cabia em Israel e não era só um judeu fora de série. Era um começo novo da humanidade. S. Lucas imaginou a sua genealogia como filho de Adão, como filho de Deus[1] e S. Mateus dirá, citando Isaías, que ele é Deus connosco[2]. É o evangelho de um filho da humanidade para toda a humanidade.
Quem frequentar as engenhosas narrativas, magníficos romances do nascimento e dos começos da vida de Jesus, não corre o perigo de imaginar que estamos a preparar, com o Advento, o nascimento de Cristo, assunto há muito resolvido. O que nos falta é consentir em nascer de novo. Como já referimos na semana passada, a grande figura do Natal é Nicodemos, um fariseu membro do Sinédrio[3], que andava de noite à procura da luz.

Anunciação. Josefa de Óbidos

Anunciação. Josefa de Óbidos (1676)

sábado, 17 de dezembro de 2016

Papa Francisco celebra o seu 80.º aniversário


O Papa Francisco celebra hoje o seu 80.º aniversário, mantendo a agenda de encontros e demais trabalhos. Celebra o seu aniversário sem interromper o seu múnus papal, dando-nos o exemplo preclaro de entrega absoluta à missão que aceitou já na velhice. Sublinho isto porque vejo e sinto que na idade dele muitos de nós ousam sonhar com o fazer nada, fugindo da vida ativa por preguiça mental ou física, mas também por comodismo inglório. O Papa não é desses. O Papa revolucionou a Igreja, garantindo que, a partir dele, haverá, espero eu, uma outra Igreja, capaz de estar no mundo, de dialogar com todos, independentemente das suas convicções religiosas, políticas, sociais ou artísticas. 

Não estávamos habituados a esta forma de ver o Papa a misturar-se com o povo, a comprar óculos numa loja como um cidadão normal. A telefonar a pessoas e instituições, a visitar inesperadamente os desprotegidos da sorte, a olhar para os sem-abrigo com preocupação, a dar entrevistas com a maior tranquilidade deste mundo, a denunciar injustiças, a promover encontros para diálogos francos, a dizer que tem vergonha de ver a indiferença com que a comunidade internacional olha de soslaio para os refugiados, a dinamizar diplomacias entre nações desavindas. A ralhar com os carreiristas da cúria vaticana. A sugerir aos mesmos e a todos uma vida alicerçada no amor, na alegria, na partilha. Não quer condenar ninguém, porque a Igreja tem de ser mãe acolhedora. 

Podia continuar a enaltecer este Papa que me cativou desde o princípio. Porém, ainda digo: Foi pagar a conta da sua estada em Roma no conclave que o elegeu Papa, foi de autocarro com os demais cardeais, recusou os aposentos que lhe destinaram e continuou a viver na casa de Santa Marta, onde celebra a Eucaristia, falando ao mundo de forma que todos o entendam. Dizem que renunciará em breve. Mas fica o seu exemplo. A Igreja depois dele será diferente da que todos conhecemos até à sua eleição. Que Deus o abençoe e o preserve enquanto ele estiver lúcido e atuante.

Fernando Martins

A revolução de Francisco: "Sou amado, logo, existo"

Crónica de Anselmo Borges no Diário de Notícias




1. Na perspectiva grega, o decisivo é conhecer a essência, por exemplo, o que é Deus? Na perspectiva hebraica, no que a Deus se refere, a perspectiva é outra: o que é que acontece quando Deus está presente? Foi assim que João Baptista, na prisão, mandou discípulos perguntar a Jesus se era ele o Messias. Jesus não deu nenhuma resposta teórica. Deviam eles próprios descobrir a verdade a partir do que viam que estava a acontecer: "Ide contar a João o que estais a ver e a ouvir: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a boa notícia." O Messias verdadeiro é aquele que está presente em nome de Deus a aliviar os tremendos sofrimentos das pessoas, a abrir horizontes de esperança para todos, sobretudo para os pobres e abandonados. Jesus está aí, libertando da opressão e da indignidade, anunciando e realizando um mundo novo de alegria e dignidade para todos. Ele é o enviado pelo Deus compassivo, que sara e cura as feridas e liberta a vida: "Sede misericordiosos como o vosso Pai celeste é misericordioso." Mais do que dogmas e doutrina, o decisivo no cristianismo é a prática libertadora.

A revolução de Francisco foi anunciada desde o início, ao proclamar que ninguém devia ter vergonha da ternura, sendo a missão da Igreja levar adiante o projecto de humanização que Jesus quer: "Vejo com clareza que do que a Igreja precisa é de capacidade para curar feridas. Devemos encarregar-nos das pessoas, acompanhando-as como o bom samaritano, que lava e limpa as feridas e consola", "caminhar com as pessoas na noite, saber dialogar e inclusive descer à sua noite e obscuridade sem nos perdermos".

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Estou sem tempo — um soneto para aliviar


Conta e Tempo

Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta,
Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...


Frei António das Chagas, 
em Antologia Poética

Não temas, Jesus é o Deus connosco

Reflexão de Georgino Rocha



O Filho de Maria de Nazaré tem dois nomes por sugestão do anjo que Mateus regista no seu Evangelho (Mt 1, 18-24): Jesus, o Salvador; e Emanuel, Deus connosco. Designam a mesma pessoa realçando a sua entrada na história humana e a sua função messiânica. De facto, só Jesus salva como já se indicia a partir do seu nascimento. E José, o justo, surge como o homem providencial a quem é confiado o encargo de lhe dar o nome, inserindo-o na linhagem de David e assumindo a paternidade segundo a lei judaica. Protagoniza assim um dos momentos mais marcantes da vida de Jesus, que fica a ser conhecido por filho de José, o artesão de Nazaré.
Os nomes indicados deixam em aberto a possibilidade de outros surgirem ao longo da história, não para anular o seu alcance, mas para os configurar em situações especiais. Será o caso de uma relação existencial específica ou de outra circunstância peculiar. Assim, o nome de Jesus pode ser o misericordioso, o paciente, o manso e humilde, o homem das dores, o “meu Senhor e meu Deus”, a verdade e a vida, o que vai á-frente, o pastor solícito que pôe aos ombros a ovelha perdida, o garante da vida para além da morte. E muitos outros. Os discípulos estão chamados a dar-lhe um nome vinculativo da sua relação com Ele. Qual será o que melhor expressa a tua?

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Mensagem de Natal do Bispo de Aveiro













No “sim” de Maria, o Verbo fez-se carne e habitou entre nós. Ele é verdadeiramente o Emanuel, o Deus connosco. «Sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos», diz-nos Ele (cf. Mt 28,20). Em ocasiões de crise do povo de Israel (Is 7,14), Ele já tinha sido anunciado como o Deus que nunca abandona o seu povo, apesar das suas infidelidades.

Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, veio anunciar o Reino de Deus. Toda a sua vida e toda a sua obra são a realização deste novo tempo, a que todos estamos chamados a construir. É Jesus, o menino do presépio, o homem da cruz e o Cristo ressuscitado, quem entrega livremente a sua vida; e o sangue derramado sela a nova Aliança com o novo e verdadeiro Israel – a sua Igreja. Eis que fica, para sempre, no meio de nós e ao nosso dispor.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Não é lixo, não senhor!


Não... não é lixo. Pode parecer que é, mas não é. ,E simplesmente o reflexo do sol que caiu sobre a laguna aveirense. Ao fundo, num tom acinzentado como que a ameaçar chuva, vê-se a ponte que nos liga às nossas praias da Barra e Costa Nova, Mas o Sol lá descobriu uma nesga para nos saudar com magia. Quando quer, o astro rei fica sempre a ganhar.

Painéis cerâmicos de VIC na igreja matriz

Painel com sacrário

Painel dos Santos Óleos

As igrejas são, muitas vezes, repositórios de artes que nos enchem a alma, enquadrando de forma especial as diversas cerimónias litúrgicas, enriquecendo-as sobremaneira. E a nossa igreja matriz não foge à regra. Neste número do Timoneiro debruçamo-nos apenas sobre a capela do Santíssimo Sacramento e o pórtico dos Santos Óleos, ambos com painéis cerâmicos de um artista aveirense, Vasco Branco, que esteve ligado à Gafanha da Nazaré, tendo sido fundador, proprietário e diretor técnico da Farmácia Branco, na Cale da Vila.
Vasco Branco, que se notabilizou pela sua polivalência artística, em especial como escritor (contista, novelista e romancista), pintor, ceramista e cineasta, assumiu VIC como nome artístico. O nosso povo, decerto, ao olhar para os dois painéis, fixando os olhares em VIC, talvez nem saiba que se trata do Dr. Vasco Branco, que frequentemente ocupava o seu lugar de técnico responsável na farmácia que ostentava o seu apelido.
O nosso conterrâneo Armando Cravo informou-nos há dias que colaborou com o artista VIC, ao fazer «os moldes em papel de cenário, tamanho natural, com todos os cortes e recortes, especialmente o do Sacrário, por terem uma configuração mais complexa». 
Também projetou «os pórticos de granito que emolduram e servem de suporte a tão maravilhosas obras de arte».
Armando Cravo sublinhou ainda que Vasco Branco «era uma pessoa de trato afável, com quem dava gosto trabalhar, e com muita sensibilidade artística».

Fernando Martins

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Bombeiros Voluntários de Ílhavo esperam por nós

Lançamento de uma litografia
de António Neves
17 de dezembro, 15 horas


No próximo sábado, 17 de dezembro, pelas 15h, no Salão Nobre Dr. João Resende, os Bombeiros Voluntários de Ílhavo vão fazer a apresentação de uma Litografia da autoria do artista António Neves, que estará presente para as autografar.
Será possivelmente uma boa prenda de Natal e, desta forma, quem a comprar estará a ajudar os nossos Bombeiros.

Natal 2016: Somos portadores da alegria

Crónica de Maria Donzília Almeida 



Com a entrada de dezembro, começa a sentir-se o ar impregnado do cheirinho a Natal. Os primeiros sinais bem visíveis e apelativos começam nos mass media, com particular incidência na caixinha mágica que entra em casa e nos seduz. Aí, a publicidade de tão insistente começa a impor-se de forma subliminar, chegando a ser agressiva. Os perfumes, por exemplo, que têm um alvo específico, ocupando largo tempo de antena, metem-se pelos olhos dentro a quem quer impressionar pelo olfato. 
Sendo o 67.º Natal que eu vivencio, se Deus quiser e me der saúde, como dizia a minha mãe, é com algum distanciamento que assisto a este materialismo. 
Recordo, com saudade, os natais da minha infância, que tinham a magia e a candura da idade da inocência. Com os parcos recursos das famílias, a mesa de Natal era pobrezinha, mas à volta dela reunia-se a família, que na altura ainda era uma instituição de peso. 
Pai e mãe presidiam à celebração e os filhos, sem as pretensões das crianças de hoje, aguardavam a chegada do Menino Jesus. No imaginário pueril, aquela criaturinha diáfana era o centro das atenções, pois lhes trazia as prendinhas tão ansiosamente esperadas. 
Os pais, que viam no Menino Jesus a personificação do filho de Deus que nascera nas palhinhas, também lhe confiavam a sua saúde, o que lhes permitia serem os intermediários entre Deus e os filhos. O Menino Jesus era uma criação romântica que reluzia e inspirava numa sociedade pouco industrializada, quase rural. 
Hoje, com a laicização da sociedade, esbateu-se essa criação e apareceu a figura bizarra do pai natal, empoleirado nos telhados a fazer uma escalada interminável. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

No Farol, a noite estava a chegar


Foi à tardinha. A noite vinha a caminho. Apressada. E o nosso Farol, o mais alto de Portugal, estava atento. O foco rotativo dava sinais de que estava próxima a dança intermitente da sua luz anunciadora de que é preciso cuidado, A costa pode ser fatal para quem navega sem radar afinado. Há muitas histórias de tristes destinos. Todo o cuidado é pouco. E então imaginei-me lá no cimo, olhando à volta, mas tanto degrau para subir já não me permite tais  devaneios. Pode ser que um dia o elevador me leve ao cocuruto do Farol da Barra de Aveiro. Há tantos anos que não vivo essa experiência!

domingo, 11 de dezembro de 2016

A restaurada Diocese de Aveiro faz hoje 78 anos

 Os Bispos da Restaurada Diocese de Aveiro

D. João Evangelista 

D. Domingos da Apresentação 

D. Manuel de Almeida Trindade

D. António Marcelino

D. António Francisco
D. António Moiteiro 
A Diocese de Aveiro foi criada pelo papa Clemente XIV a 12-04-1774, a pedido do monarca D. José I, abrangendo uma área destacada do território da Diocese de Coimbra; em 24-03-1775 deu-se execução ao documento pontifício. A catedral foi instalada na igreja da Misericórdia e, mais tarde, em 1830, na igreja que fora do extinto Recolhimento de S. Bernardino. Posteriormente, foi extinta pelo papa Leão XIII em 30-09-1881, executada em 04-09-1882. 
Pela bula Omnium Ecclesiarum, de 24-08-1938, o papa Pio XI restaurou-a, dando-lhe novos limites, com oitenta e duas freguesias de dez concelhos, desmembrados das Dioceses de Coimbra (Águeda, Anadia, Aveiro, Ílhavo, Oliveira do Bairro e Vagos), do Porto (Albergaria-a-Velha, Estarreja e Murtosa) e de Viseu (Sever do Vouga); foi então elevada a catedral a secular igreja do extinto Convento de S. Domingos e matriz da Paróquia de Nossa Senhora da Glória. A sentença executória da restauração deu-se em 11-12-1938.
Curiosamente, eu, Manuel Fernando da Rocha Martins, que nasci em 24 de novembro de 1938, Diocese de Coimbra, fui batizado no dia 25 de dezembro do mesmo ano, já na Diocese de Aveiro.
Nesta data comemorativa dos 78 anos, a Diocese de Aveiro merece os meus e nossos parabéns, na pessoa do seu Bispo atual, D. António Moiteiro.
Permitam-me que recorde os Bispos da restaurada Diocese de Aveiro, que tive o privilégio de conhecer. Falei com todos, exceto com D. João Evangelista. Mas participei no seu funeral, que foi grandiosos, na minha ótica.
Ao evocá-los, a minha memória diz-me que todos foram importantíssimos para a Igreja Aveirense, cada um a seu modo: D. João, bispo prático, sereno e poeta em muito do que dizia e escrevia. Levou a cabo o Primeiro Sínodo Dicesano, o sínodo da unidade. As paróquias vieram de três dioceses;  D. Domingos, o bispo do fervor pastoral. Queria chegar a tudo e a todos quanto antes; D. Manuel, um homem bom, sensível, e um bispo de grande cultura teológica e do concílio Vaticano II; D. António Marcelino, com todo o seu entusiasmo, criou estruturas pastorais abertas ao futuro, nomeadamente, o Congresso dos Leigos e o Sínodo Diocesano para enfrentar os desafios de tempos novos; D. António Francisco, um bispo próximo que nos abriu portas de bondade, de atenção aos outros e de grande dinamismo no diálogo constante com que soube sensibilizar-nos para a ação; D. António Moiteiro, o bispo dos nossos dias e para nós, atento ao que importa fazer e ao que o cerca, sem descurar a atenção aos mais sofredores. 

Fernando Martins 

Fonte: Diocese de Aveiro