sábado, 7 de fevereiro de 2015

Crentes e ateus críticos

Crónica de Anselmo Borges no DN

Anselmo Borges


No presente estado do conhecimento e do saber científico, impõe-se, contra o dogmatismo, uma atitude crítica, tanto por parte dos crentes como dos ateus. Refiro-me aos crentes e aos ateus que sabem o que isso quer dizer. Esta foi a mensagem fundamental deixada pelo jesuíta Javier Monserrat, neurólogo e filósofo, das universidades Autónoma e Comillas, de Madrid, nos debates que organizei no Porto, em Coimbra e em Lisboa, por ocasião da publicação do livro que coordenei: Deus ainda Tem Futuro? Deixo aí o essencial das suas exposições.
1. A revelação de Deus em Jesus e a revelação de Deus na criação vêm do mesmo Deus. Ele também se revelou no livro da natureza. Ora, como fez Deus a natureza? O único modo de sabê-lo é pela ciência e pela filosofia, e o que Deus disse em Jesus deve estar em harmonia com o que disse na criação.

JESUS E O ENIGMA DO MAL

Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha



O enigma do mal ”colou-se” à natureza humana e, tal como o joio da parábola, progride sem se saber bem como. Se é difícil a sua explicação, não o é a verificação dos seus efeitos perniciosos. As pessoas atingidas pelos tormentos que provoca sofrem horrivelmente.
Job é o rosto humano de tal situação. As expressões que usa são bem elucidativas: vida dura e cruel, sofrimento atroz, noites intermináveis de amargura, dias breves de esperança, amanhecer sem aurora, angústia e morte. O drama de Job actualiza-se, hoje, nas vítimas da economia sem rosto, da política sem escrúpulos, da medicina sem ética, da educação sem humanidade, dos meios de comunicação sem regras respeitadoras da dignidade humana.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A nossa gente: António Cirino

ANGE 



Neste mês de fevereiro, em que se realiza o I Congresso Náutico – Embarque para o Conhecimento, dedicamos a rubrica a “nossa gente” ao dirigente associativo mais antigo na área do desporto náutico: António Cirino, Presidente da Direção da ANGE – Associação Náutica da Gafanha da Encarnação.
António Cirino nasceu a 25 de julho de 1946, na Gafanha da Encarnação, Município de Ílhavo. Estudou até à 4.ª Classe na Escola Primária Encarnação Sul e foi admitido na Escola Comercial de Aveiro, onde estudou até ao 4.º ano.
Entre 1964 e 1968, cumpriu o Serviço Militar na Marinha de Guerra, onde desde logo demonstrou uma grande apetência pelos desportos náuticos.
No final de 1968, com apenas 22 anos de idade, António Cirino emigrou para a França à procura de uma vida melhor. Viveu em Paris durante quinze anos, aliando o seu trabalho no ramo automóvel ao Associativismo. Para além de jogar futebol, foi Dirigente Associativo no Clube Saint Gracient.
Em 1983 regressou à Terra Natal, onde se instalou por conta própria com um negócio de reparação de automóveis (até 2001), a que se seguiu o trabalho de gestão no Estaleiro de Reparações Náuticas “Ponte Mar” (até 2012).

Foto do Dia — O banco

O banco

Normalmente gosto do mobiliário urbano, decorativo ou funcional. Decorativo porque enriquece com a sua beleza, discutível embora, os ambientes. Funcional porque serve de algum modo ao transeunte, turista ou não. 
Ontem vi este banco à entrada da Costa Nova, na Biarritz, branco como a neve, a desafiar-me ao descanso, depois de uma caminhada junto à ria. Sentei-me, mas logo tive de me levantar, por tão frio estar o assento. O sol batia-lhe quase em cheio, mas nem assim, por volta do meio-dia, o banco aqueceu. Porém, aqui fica o convite para que o usufruam, assim que o tempo dê uma volta para temperaturas mais agradáveis. A paisagem merece uma pausa na caminhada.

Jornadas de formação do clero de Aveiro

António Marujo e D. António Monteiro
«O Jornalista António Marujo apelou a uma formação mais ativa e intensa dos cristãos em relação à Doutrina Social que permita repensar toda a acção social da Igreja. Foi neste sentido que propôs que a Igreja deveria saber criar uma “alternativa aos modelos económicos e financeiros vigentes”, que assentasse nos principais pilares da doutrina social, como o primado do bem comum sobre a propriedade privada ou o primado da pessoa sobre o capital e que a instituição Universidade Católica deveria revestir na sua proposta uma verdadeira alternativa aos modelos económicos vigentes. Na sua partilha elencou algumas periferias da Evangelii Gaudium como a “cidade e a pastoral urbana”, a “multiculturalidade”, a “solidão”, a “religiosidade popular” e a “pobreza”. Estas periferias são um apelo à missão para que se  concretize o sonho do Papa Francisco de “chegar a todos”.»

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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A um jovem poeta

Poema de Manuel António Pina




A um Jovem Poeta

Procura a rosa.
Onde ela estiver
estás tu fora
de ti. Procura-a em prosa, pode ser

que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças

como diante de uma infância
inicial não embaciada
de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.

Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão
e passagem para o que não se vê.

in "Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança"



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Camões e o Amor


Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

Podem visitar a Biblioteca do Agrupamento de Escolas da Gafanha da Nazaré aqui

Foto do Dia — Reflexo


Para a minha idade, frio de rachar, como diz o nosso povo. Nem as águas da ria e do mar conseguiram amenizar a temperatura. Foi o que senti numa curta saída feita a correr. O sol, contudo, brilhava lá no alto, mas nem assim subiu a temperatura. Olhando a ria, captei esta imagem. Não é neve, não senhor. mas tão-só o reflexo dos raios solares nas águas serenas da laguna,

A tempestade

A Tempestade é um desenho original de Amadeu de Sousa Cardoso para o álbum "XX Dessins,1912". Num estilo que o impôs ao mundo como grande artista, esta  imagem está no meu computador para eu a apreciar quando o abro. A arte faz parte da vida do homem desde o tempo da pré-história. Cerca-nos por todo o lado, no que pisamos, vemos e sentimos. Contudo, com a pressa, nem sempre lhe damos o devido valor. E este desenho faz todo o sentido nesta terra de mar e ria, tão propícia a tempestades.

Festas no Património Imaterial

Festa da Vista Alegre 
quer entrar no registo nacional 
do Património Imaterial 



Capela de Nossa Senhora de Penha de França
Procissão pela Ria

Na reunião da Câmara Municipal de Ílhavo (CMI), realizada ontem, 4 de fevereiro, foi aprovado por unanimidade o parecer prévio positivo, no âmbito da candidatura apresentada pela Fábrica da Vista Alegre ao registo Nacional do Património lmaterial das festas em honra de Nossas Senhora de Penha de França,  
Entretanto, o vereador do PS, Pedro Martins, lembra que a autarquia deve prestar atenção a outras festividades do nosso município, com vista ao mesmo registo, nomeadamente, a Procissão pela Ria e  Festa em Honra de Nossa Senhora dos Navegantes,

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Eça de Queirós terá razão?

Portugal está a atravessar a pior crise



Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: —  mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não —  pelo menos o Estado não tem: —  e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise me parece a pior — e sem cura. 

Eça de Queirós, 
in 'Correspondência (1891)

li no Citador

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Mulher ao leme do moliceiro

Mulher ao leme do moliceiro

Engana-se quem pensa que a mulher era, no século passado, uma tradicional dona de casa que faz a comida, lava a roupa, trata dos filhos e cuida da horta. Por esta foto, publicada no livro "Aveiro — Imagem de um século", do espólio de João Sarabando, organizado por Jorge Sarabando, podemos facilmente concluir que a mulher da beira-ria participou ativamente nos trabalhos, ao lado do marido, Conheci uma mulher da minha família, Anunciação Facica, que tinha cédula que a autorizava a circular na ria na apanha de moliço e noutras tarefas.

Políptico de Santa Joana Princesa

Um texto de Paulo Miranda



«O políptico de Santa Joana Princesa é uma pintura do arquiteto Luiz Cunha para a igreja homónima também de sua autoria, em Aveiro (1976). É um quadro composto por sete partes, que recria o retrato da Padroeira de Aveiro e a sua exemplar vida de devoção a Jesus Cristo. No centro deste políptico, o autor reproduz a tábua do séc. XV, uma das obras-primas da iconografia portuguesa, de uma forma fiel mas pessoal, acrescentando elementos novos.
Ao seu redor existem seis partes que contam a vida desta infanta, filha de D. Afonso V e irmã de D. João II.»

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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Dia dos Namorados no Museu!

14 de fevereiro, sábado, 
15 horas, 
limitado a 15 casais


O Museu Marítimo de Ílhavo (MMI) está a organizar um programa especial para casais, tendo por pano de fundo a celebração do Dia dos Namorados, 14 de fevereiro, destacando-se um embarque numa viagem romântica no referido museu. o convite reza assim: «Venha namorar a bordo do “Faina Maior”, conhecer as aventuras românticas de grandes marinheiros e tirar uma foto num cenário muito especial e terminar com um lanche à luz de “velas”.» 
Ao convidar todos os apaixonados o MMI oferece «um conjunto de atividades que vão deixar o romance no ar… Entre estas, destacamos uma sessão de histórias e contos românticos em frente ao aquário de bacalhaus, uma fotografia só para namorados num lugar especial do Museu, ou um lanche com muitas doçuras na cafetaria».
Embora não possa paticipar com a minha mulher, a Lita, auguro a todos os casais um dia muito feliz, com votos de continuidade, por muitos e muitos anos. 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Recordando o Padre Manuel Maria



Hoje, sem saber porquê, recordei o Padre Manuel Maria Carlos. Não estava em maré de nostalgias, mas as memórias não têm hora própria para nos dominarem. E para o homenagear, lembrei-me de publicar um texto seu, que um dia, em resposta a um pedido meu, teve a gentileza de me enviar para publicação no Timoneiro, jornal mensal da nossa comunidade. Voltarei ao assunto mais tarde.

O texto do padre Manuel Maria Carlos ser lido aqui.

As vantagens de não se julgar infalível (1)

Crónica de Frei Bento Domingues 
Bento Domingues

1. Dizem-me que estou a ficar viciado no Papa argentino. É possível. Seja como for, o seu pontificado retomou, de forma original e surpreendente, o impulso meticulosamente abafado de João XXIII (1881-1963). Este filho de camponeses pobres, de Sotto il Monte (Bergamo), foi uma bênção inesperada para um mundo dividido e ameaçado por um confronto nuclear. Já muito idoso teve a ousadia de provocar um abalo sísmico numa Igreja obsessionada com dogmas e anátemas, ao convocar o Vaticano II, o concílio do acolhimento universal e do diálogo irrestrito. Consta que este bispo pobre, piedoso e cheio de humor sempre se sentiu bem na companhia de hereges, cismáticos e não-católicos. Destruiu barreias e construiu pontes, em todas as direcções, sem nunca se julgar infalível.
Não esqueço que já passaram várias gerações e que, hoje, é difícil imaginar o que se passou, na Igreja, entre 1958 e 1962. Além disso, em Portugal, esse concílio não foi nem preparado, nem acompanhado, nem recebido.

Mudanças no mundo

«Sê a mudança que queres ver no mundo»

Gandhi
1869-1948

NOTA: O problema é que falamos e barafustamos mas pouco fazemos para mudar o mundo para melhor, mesmo à nossa volta.

sábado, 31 de janeiro de 2015

O riso e a transcendência

Crónica de Anselmo Borges 
no DN


Anselmo Borges

1. Uma vez, uma jovem estudante pediu-me para fazer um trabalho sobre o riso. Porquê? Queria entender porque é que a mãe, entrando na igreja para a celebração da missa de corpo presente da avó, ao deparar-se com o cadáver, começou a rir.
Diferença essencial entre o ser humano e os outros animais é o riso e o sorriso. Eles são manifestação da inteligência superior e de transcendência.
Perante o cadáver, seja ele de quem for, mas sobretudo de um ente próximo e querido, íntimo, há um choque de emoção e razão, sobrepondo-se a razão. De um modo ou outro, acabamos por nos rever no cadáver, a nossa posição futura está ali, desabando então, frente àquela figura coisificada, toda a vaidade e todo o ridículo da soberba e grandeza imaginada, que vão ser pó ou cinza. E aí está a tensão que obriga a transcender. Por outro lado, antes ainda, depois ou em concomitância, está aí a revolta: a minha mãe não foi nem é esta coisa cadavérica aí em frente. No limite do trágico, sobrevém o riso, clamando transcendência. É a explosão do conflito entre o intolerável do que se mostra e uma transcendência para que se aponta.

Jesus ensina com autoridade

Reflexão de Georgino Rocha


Cafarnaum (ruínas)

«E hoje, que forças ocultas ou evidentes mantém as pessoas manietadas e oprimidas, as sociedades fragilizadas, os estados impotentes, as confissões religiosas ensonadas e a(s) Igreja(s) incomodada(s)?»

Chegado a Cafarnaum, Jesus vai à sinagoga, como bom judeu, e, convidado a comentar as leituras, adopta um estilo próprio, distanciando-se do método tradicional. Mc 1, 21-28. Não cita nenhum dos famosos rabis, como era de “bom-tom” para credenciar a sua homilia. O que disse, Marcos não o regista, mas não andará longe, como noutras passagens se afirma, de algo parecido com o que Mateus conserva na sequência do sermão da montanha (5, 21-48). Jesus reinterpreta, com autoridade pessoal — e que autoridade! — , o sentido das escrituras e manifesta o seu conteúdo oculto e inédito. Autoridade que é liberdade de ensino e relação, poder de comunicação, legitimidade de acção. Autoridade que lhe vem não do apoio popular nem da força das armas ou do prestígio social ou do voto democrático, tantas vezes manipulado. A fonte é outra como se verá a seguir.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Faleceu o professor Adérito Tomé

Adérito Tomé

Faleceu ontem, no Hospital de Aveiro, um conhecido de longa data, Adérito Francisco Tomé, de 76 anos, natural da Gafanha da Boa Hora, Vagos, e residente na Gafanha da Nazaré. Acamado há quatro anos, por força de um AVC, não resistiu a uma pneumonia que sofreu há cerca de um mês. Casado com Maria Fernanda Martins da Silva Tomé, pai de Fernanda Manuela de Silva Tomé e avô de Mafalda e Rita, o professor Tomé, como era mais conhecido, foi um amigo que apreciei pela simplicidade do seu coração e modo de ser e estar na vida, sempre aberto e cordial com toda a gente.
Licenciado em Física e Química pela Universidade de Coimbra, foi professor daquelas áreas e ainda de matemática, durante 40 anos, na Escola Secundária de Amadora, Colégio de Albergaria e Liceu José Estêvão, pautando o seu relacionamento com os alunos por uma proximidade muito grande e por uma dedicação própria de quem gosta de ensinar e encaminhar na vida quantos o conheceram e procuraram.
Filho de lavradores abastados, o professor Tomé jamais perdeu o amor à agricultura, pautando as suas atitudes pela educação e ambientes que recebeu dos seus progenitores e demais antepassados. Gostava dos trabalhos agrícolas, cujas tarefas sabia executar, chegando inclusive a cultivar produtos diversos, embora sabendo que pouco ou nada lucraria. Como é costume dizer-se, amava as suas raízes com bonomia, simplicidade e paixão.
Como orientador, o professor Tomé suscitou nos alunos o gosto pelo estudo, levando-os à descoberta de que as disciplinas de Física, Química e Matemática não eram, como não são, tão difíceis como tantos as viam, mas fáceis. Bastava para isso terem a sorte de se cruzar com docentes que suscitassem vocações e indicassem caminhos de compreensão e interesse.
Daí os testemunhos de alguns, que afirmaram ter sido graças ao professor Tomé que criaram o gosto pelo ensino e por outras profissões, que tiveram por matriz aquelas áreas do saber.
O funeral do professor Tomé terá lugar amanhã, sábado, pelas 15.30 horas, com cerimónia na capela mortuária da Gafanha da Nazaré, seguindo depois para o cemitério da cidade.

Fernando Martins