domingo, 22 de novembro de 2009

Portugal não tem os trabalhadores qualificados de que as empresas precisam


Manuel Porto com Ludgero Marques

A globalização pode gerar
pobreza e exclusão social

A globalização tem “reflexos significativos” sobre a economia mundial. Porém, se “convenientemente governada, pode ser um factor de desenvolvimento humano”, mas também é certo que pode ter aspectos “socialmente perniciosos, com aumentos localizados de pobreza e fenómenos de exclusão”, sublinhou o empresário Ludgero Marques na conferência que proferiu esta manhã, no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro, integrada na Semana Social, que decorreu este fim-de-semana.
Abordando o tema “A responsabilidade pessoal e a participação das pequenas comunidades e iniciativas empresariais na construção do bem comum, em contexto de globalização”, o conferencista lembrou que os portugueses estiveram quase 50 anos alheados do resto do mundo, tendo Portugal entrado na globalização com um grande défice ao nível da educação.
Denunciou que os nossos trabalhadores, com “uma formação académica tão baixa”, não podem contribuir para que o nosso país possa “diferenciar-se daqueles que têm formação do nosso nível, ou até inferior”. Portugal não tem os “trabalhadores qualificados de que as empresas precisam”, disse.
Ludgero Marques, actual presidente da Mesa da Assembleia Geral da AEP (Associação Empresarial Portuguesa) com passagem, durante anos, por diversos e importantes cargos directivos de outras estruturas empresariais, referiu que é preciso desenvolver actividades económicas locais, “para que as comunidades sejam capazes de enfrentar o lado negativo da globalização”. Nessa perspectiva, importa que o Estado implemente condições que levem os empreendedores a apostar claramente na comunidade em que se inserem, ajudando-a no seu desenvolvimento e fazendo dela “o trampolim para o sucesso no mundo global”.
Ao falar da responsabilidade social das empresas, “nomeadamente em termos ambientais e de combate a fenómenos de exclusão”, Ludgero Marques recordou a notória situação do desemprego provocado pela pouca formação dos trabalhadores e pelo desajustamento em relação ao progresso tecnológico, cada vez mais exigente.
“A não assunção de responsabilidades sociais é entrave ao desenvolvimento sustentável”, especialmente porque o não cumprimento, pelas empresas, das suas obrigações “leva à concorrência desleal, à deterioração do enquadramento económico, à destruição de ecossistemas, à corrupção e, ainda, a um clima desfavorável à realização de investimentos e à prática da inovação”, frisou o conferencista convidado pela Conferência Episcopal Portuguesa para esta Semana Social.

Fernando Martins

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 158

BACALHAU EM DATAS - 48
.

Condestável

64 EMBARCAÇÕES EM 1964

Caríssimo/a:

1948 - «Arménio Mónica, filho de Manuel Maria Bolais Mónica, iniciou-se na construção de lugres no ano de 1948, através da direcção e construção dos lugres-motor de quatro mastros, CONDESTÁVEL e COIMBRA, para as empresas Companhia Transatlântica de Pesca, L.da, do Porto, e Empresa de Pesca São Jacinto, L.da, de Coimbra, num investimento global de 12.400.000$00. Estas embarcações de pesca à linha obedeciam às “características portuguesas” e aperfeiçoamentos modernos das anteriormente ali construídas, com a componente da introdução e utilização dos quatro mastros em ferro concedendo uma maior consistência e elegância aos navios. ... Concomitantemente, nos estaleiros de António Mónica, o irmão João Bolais Mónica, correspondia ainda no decorrer do ano de 1948, à solicitação da empresa José Maria Vilarinho com o lançamento à água do lugre-motor de madeira ADÉLIA MARIA.» [Oc45, 118]

«Em 1948, os arrastões – então todos eles “clássicos” ou “laterais” - significam ainda pouco mais de um décimo do total dos navios da frota: 12,7%. Na campanha seguinte regista-se um salto importante: 27% das unidades jà são arrastões.» [Oc45, 95]

«Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo são fundados em 1946, por iniciativa dos armadores Vasco de Albuquerque d'Orey e João Alves Cerqueira. Em 1948 apresentaram as primeiras embarcações destinadas à pesca do bacalhau, os arrastões SENHORA DAS CANDEIAS, SENHOR DOS MAREANTES e SÃO GONÇALINHO.» [Oc45, 119, n. 11]

1949 - «No mesmo dia do bota-abaixo do arrastão COMANDANTE TENREIRO, a 12 de Maio de 1949, eram cravados os rebites do novo arrastão BISSAYA BARRETO, a construir nos Estaleiros Navais do Mondego, também para a pesca do bacalhau.» [Oc45, 117]

«Um dos saltos mais significativos [no número de navios ] ocorre em 1949, campanha em que foram aos bancos 64 embarcações, mais nove do que no ano anterior. [...] De meados da década de trinta a 1967 o crescimento da frota bacalhoeira é evidente, embora seja inconstante e irregular. As taxas de crescimento médio por quinquénio são quase sempre positivas. As mais altas situam-se em 1934-38 (8,4%) e 1944-48 (4,1%). O número de navios construídos para a frota bacalhoeira num e noutro período é bastante significativo e confirma o interesse do Estado em acelerar o ritmo da “Campanha”: foram construídos 25 navios em 1944-48 e 17 em 1954-58. Nos quinquénios de 1939-43, 1959-63 e no quadriénio de 1964-67 a frota bacalhoeira regista taxas de crescimento médio ligeiramente negativas. Todas presumem períodos em que o condicionamento estatal dos ritmos de renovação da frota se fez sentir por razões diversas.» [Oc45, 93]

Manuel

Para começar o dia: Uma reflexão dominical


JESUS EM TRIBUNAL

Pilatos recebe Jesus em sua casa – a residência do procurador do Imperador de Roma. Recebe-o porque a autoridade judaica lho entrega para ser julgado e condenado à morte. Sem demoras, inicia um diálogo a sós com ele, diálogo directo, claro e decisivo.
Jesus adopta uma postura digna e serena, centrando “o fio da conversa” na pessoa de Pilatos que, rapidamente, passa de juiz a arguido num vaivém contínuo: da sala à varanda, da consulta à multidão à escuta da mulher, da certeza à pergunta, da dureza da lei à busca da verdade. Este vaivém constitui um espelho transparente da atitude interior de quantos sentem o contraste das razões da consciência com a onda avassaladora das opiniões gritadas na praça pública.
Jesus aproveita a pergunta de Pilatos sobre a verdade para centrar o diálogo na missão que tem vindo a realizar e da qual estava a ser acusado. “Vim para ser testemunha da Verdade”. E qual é o seu testemunho?
Jesus testemunha pelo estilo de vida e jeito de agir que dispor de qualquer forma de poder é cultivar atitudes de serviço humilde e generoso; que toda a pessoa vale mais que as riquezas do templo e a sacralidade do sábado; que o bem de todos é fruto do contributo de cada um; que Deus e o homem estão unidos por laços originais de vida e não são concorrentes ou rivais, mas amigos leais envolvidos na mesma causa: o bem-estar integral da humanidade; que a salvação definitiva está no amor feito serviço.
A verdade é Jesus que, hoje, se espelha nas atitudes humanas e nos critérios de valor que constituem a marca da vida dos seus discípulos e a qualidade da sua acção social. Verdade que tem a ver com a justiça, a solidariedade fraterna, o bem comum, os direitos humanos, a ética da responsabilidade na política e na economia. A verdade de Jesus mostra que ser humano é aceitar-se na sua inteireza, apreciar a sua dignidade pessoal e de relacionamento, assumir o casamento entre homem e mulher, defender a vida e, em caso de conflito de valores, preferir os que menos têm, podem e sabem.
Jesus continua em tribunal. A par de tantas injustiças e acusações falsas, há sinais evidentes desta verdade no mundo de hoje: os incansáveis defensores dos direitos humanos universais; os voluntários de todas as causas nobres; os que sabem acolher e acompanhar quem está em necessidade; os que fazem da sua vida uma doação permanente para desvendar a presença de Deus nos caminhos da humanidade, realizando serviços que a Igreja lhes confia.

Georgino Rocha

sábado, 21 de novembro de 2009

Exercício/simulacro “Porto Azul/2009” considerado “muito positivo”


Bombeiros em acção


Incêndio, seguido de explosão,
 em camião-cisterna

A Divisão de Segurança da APA (Administração do Porto de Aveiro) realizou, este sábado, 21 de Novembro, um exercício/simulacro denominado “Porto Azul/2009”. Com início às 09:30, no Terminal Norte, este exercício teve por objectivo testar o Plano de Emergência Interno (PEI) do Porto de Aveiro nos seguintes aspectos: combate a derrame de hidrocarbonetos na área de jurisdição portuária; combate a incêndios na área portuária; evacuação de sinistrados em incidentes na área portuária.

Cenário simulado: Pelas 09:30 ocorre incêndio, seguido de explosão, em camião-cisterna que se encontrava em preparativos para a operação de bancas ao navio NERO II, este atracado na posição I do Terminal Norte a proceder a operação de carga de “pellets”, através do tapete transportador.
A Divisão de Segurança da APA., SA, acciona de imediato o Plano de Emergência Interno (PEI) do Porto de Aveiro.
O Centro de Coordenação de Operações (CCO) activa, prontamente, o Núcleo de Apoio Operacional (NAO), Núcleo de Operações de Manutenção (NOM), Núcleo de Operações de Logística (NOL), Núcleo de Combate a Derrame – Trem Naval – (NCD), Núcleo de combate a derrame em terra e o Núcleo de Combate a Incêndios (NCI).
Os sinistros são eficazmente combatidos pelas corporações de bombeiros de Ílhavo e de Aveiro (Novos e Velhos), tendo os incêndios sido dado como extintos às 10:24.
A Administração do Porto de Aveiro regista a eficácia da resposta ao incidente manifestada pelos seus colaboradores e demais entidades intervenientes, tendo já aberto um inquérito para determinar as causas do sinistro; as conclusões do inquérito - a entregar pela equipa responsável ao Conselho de Administração da APA, SA no prazo máximo de quinze dias -, cotejadas com os relatórios das entidades envolvidas no combate aos incêndios hoje verificados, ajudarão os responsáveis do Porto de Aveiro “a desencadear, com prontidão e firmeza, as medidas consideradas necessárias para evitar futuras ocorrências deste tipo”.

Fonte: Porto de Aveiro

Evocação de Mestre Cândido Teles, o pintor da Ria





«A próxima palestra integrada no 3º Ciclo de Conferências sobre “Aveirenses Ilustres” que a Câmara Municipal de Aveiro leva a efeito no auditório do Museu da Cidade, das 18, 30 às 19,30 horas, do dia 26 de Novembro, presta homenagem ao Artista ilhavense Cândido Teles.
Com esta iniciativa pretende a CMA homenagear personalidades que, activamente, deram o seu contributo para o desenvolvimento sociocultural e político-económico da região, valorizar a Historiografia Local e formar pedagogicamente públicos.
Associada à palestra evocativa decorre também uma pequena mostra de objectos e literatura alusiva à individualidade evocada que estará patente durante 15 dias no espaço do Museu da Cidade.
Tem hoje, também, o Artista, um lugar de destaque no Marintimidades, porque a oradora convidada será a autora deste blog e Cândido Teles, apesar de muitos outros aspectos de relevo, identifica-se, na região, com um grande pintor da Ria, da Costa Nova, das nossas fainas marítimas e lagunares.»

Ana Maria Lopes

Ler mais em Marintimidades

Dia Internacional da Saudação: 21 de Novembro




Não há o hábito salutar de cumprimentar

Até meados de século passado, as Gafanhas tinham um ambiente marcadamente rural. A população residente era em número muito inferior à grande massa de gente que nelas habita, nos dias de hoje. Não havia praticamente indústria, exceptuando a faina ligada à secagem e tratamento do bacalhau.
As pessoas que cá viviam mourejavam nas parcelas de terra que possuíam, ocupando-se numa agricultura de subsistência, paralelamente com alguma actividade piscatória, artesanal. O nível de vida era muito baixo. O número de automóveis era diminuto e quem os possuía era um privilegiado e detentor de um estatuto social elevado. Pela estrada principal, os veículos que circulavam eram carroças de vacas, que os pequenos lavradores utilizavam para fazer o transporte das suas mercadorias.
Praticamente todos se conheciam uns aos outros e todos se saudavam: - O Senhor nos dê muito bom dia! Bom dia nos dê o Senhor. Ouvia-se a cada passo, entre as pessoas que se dirigiam para o campo. A religiosidade destas gentes era bem patente e a saudação era o reflexo das suas crenças. Ninguém passava na rua que não cumprimentasse todos aqueles com quem se cruzasse, fossem ou não da família. Aqui havia um conceito alargado da mesma, já que as pessoas se entreajudavam nas fainas agrícolas, nomeadamente nas grandes sementeiras da batata, do milho e do trigo.
Com o aumento demográfico e a invasão das Gafanhas, por gentes de fora, este costume tão salutar foi-se perdendo. Só os mais antigos conservam ainda este hábito que teimam em passar para as novas gerações.
Na grande cidade, com um individualismo crescente, todos passam indiferentes, cada um a tratar da sua vidinha, ignorando completamente o próximo. Entra-se num consultório cheio de gente e não se ouve um Bom dia! Boa tarde! Entra-se num elevador apinhado de pessoas e....alguém se cumprimenta? Assiste-se a esta cena caricata – todos de cabeça baixa.... a “inspeccionar” o calçado de seu parceiro. Se está ou não engraxado! Se está na moda ou não! Se...se..se.... Não há o hábito salutar de cumprimentar, de dizer um bom dia, boa noite!
Daí que, se por um lado a comunicação entre as pessoas se tornou mais efectiva no encurtar de distâncias, via internet, por outro lado as relações entre as pessoas são menos afectivas.
E, se tanto se diz que o mundo hoje é uma aldeia global, então, façamos nós como os nossos antepassados, aqui, na Gafanha que se cumprimentavam todos entre si, sem excepção. Os antigos tinham razão!

M.ª Donzília Almeida

A sobrevivência da civilização



O Pensador

"A sobrevivência da nossa herança religiosa
é condição para a sobrevivência da civilização"


«A razão disso está em que os desejos do Homem não têm limites: "Podem crescer incessantemente, numa espiral sem fim de avidez." Mas, uma vez que o nosso planeta é limitado, somos forçados a limitar os nossos desejos. Ora, sem uma consciência dos limites, que "só pode provir da história e da religião", toda a tentativa de limitá-los "terminará numa terrível frustração e agressividade", possivelmente em grande escala. "Todas as tradições religiosas nos ensinaram ao longo de séculos a não nos vincularmos a uma só dimensão: a acumulação de riqueza e ocuparmo-nos exclusivamente com a nossa vida material presente." Assim, "a sobrevivência da nossa herança religiosa é condição para a sobrevivência da civilização".

A mais perigosa ilusão da nossa civilização consiste em o Homem pretender libertar-se totalmente da tradição e de todo o sentido preexistente, para abrir a perspectiva de uma autocriação divina. Esta "confiança utópica" e esta "quimera moderna" de inventar-se a si mesmo numa perfeição ilimitada "poderiam ser o mais impressionante instrumento do suicídio criado pela cultura humana". É que, "quando a cultura perde o sentido do sagrado, perde todo o sentido".»

Anselmo Borges

Leia todo o texto no DN

Para este sábado... Uma curta mas boa proposta de reflexão


Óleo de Picasso


Conservadorismo dos olhos


A pergunta sobre o motivo da rejeição das “novas escolas de arte” (e com que veemência às vezes!) é fácil de responder: é que o olho acostumado às “receitas” do antigamente não sabe assimilar à primeira vista as “receitas” recém-descobertas. Isso requer tempo. Eu chamar-lhe-ia “conservadorismo dos olhos”.


Wassily Kandinsky (1866-1944)

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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

D. José Policarpo: O Homem só se realiza com os outros Homens


D. José Policarpo

A solidão é uma das maiores pobrezas

“A salvação do Homem é a expressão plena do bem comum”, afirmou D. José Policarpo na Semana Social que está a decorrer em Aveiro, no Centro Cultural e de Congressos. Ao apresentar a conferência subordinada ao tema “Lugar da religião na edificação do bem comum”, o Cardeal-Patriarca de Lisboa realçou que “o homem só se realiza com os outros homens”. E garantiu que “nunca o bem do homem dependeu tanto do bem da humanidade”.
A Semana Social, uma organização da Comissão Episcopal da Pastoral Social, da Conferência Episcopal Portuguesa, está a decorrer até domingo, envolvendo 400 pessoas, maioritariamente ligadas à intervenção sociocaritativa na comunidade nacional. Aposta este ano na “Construção do bem comum – responsabilidade da Pessoa, da Igreja e do Estado”.
O Cardeal-Patriarca considerou que as Religiões desempenham um papel relevante no apoio ao desenvolvimento integral do homem. No caso específico da Igreja Católica, adiantou que ela sempre esteve na primeira linha da luta contra a pobreza. A Igreja não pode nem deve ficar apenas pela Mensagem, mas tem de dar “respostas concretas”, promovendo a solidariedade, no “sentido da verdadeira comunhão”.
Disse que os pobres têm de se comportar como sujeitos e protagonistas de “um mundo novo”, competindo a todos os cristãos viver o amor fraterno, tendo em vista “a dignidade da pessoa”.
Citando Bento XVI, referiu que a solidão dos presos, migrantes e exilados “é uma das maiores pobrezas”, acrescentando que a Igreja intervém de forma específica na sociedade, através das suas instituições e dos seus membros, “empenhados noutros corpos sociais, quer do Estado, quer da sociedade civil ".
D. José Policarpo alertou para o facto de o conceito de bem comum não se limitar apenas a direitos, “reconhecidos e respeitados”, mas deve alargar-se aos deveres do dom da solidariedade de cada um para com o corpo social a que pertence.

FM

Último parágrafo do Editorial do jornal i

"Os estados não vão à falência, mas a consequência principal desta falta de dinheiro é a inevitabilidade de reduzir as despesas sociais. Se o dinheiro não estica, começa a ser impossível financiar défices na saúde pública ou ponderar aumentos nos subsídios sociais. Pior: começa a ser impossível não cortar tudo isso. A não ser, claro, que se aumentem impostos ou se faça crescer a dívida. Mas aí queixam-se as classes médias trabalhadoras, que se insurgem porque o Estado carrega no pouco que ganham e pressionam o futuro dos filhos. Solução? Era isso que todos queríamos ver os nossos políticos discutir."

Nota: Este é, de facto, o último parágrafo do Editorial do jornal i, mas eu aconselho a que se leia tudo aqui

Dia Internacional dos Direitos da Criança: 20.11.09

LIDAR COM AS CRIANÇAS
CONSTITUI UM DESAFIO

Lidar com as crianças, no seu dia-a-dia, constitui um desafio! À paciência, à tolerância, à capacidade de se desdobrar em mil e uma tarefas, que preenchem a actividade dum professor.
Muito se tem escrito sobre os direitos que as assistem, sobre a protecção que a sociedade lhes deve, mas pelo mundo fora, ainda se depara com muita injustiça, maus-tratos, negligência. Em alguns países africanos, subdesenvolvidos, ainda persiste a exploração da mão-de-obra infantil, em trabalhos árduos que não estão de modo nenhum de acordo com a fragilidade dos protagonistas.
Por esse mundo fora constata-se uma discrepância entre os direitos/regalias de algumas crianças, que têm tudo a seu favor, brinquedos, alimentação, boas escolas, cuidados de saúde primários e outras que sofrem no corpo e na alma as agruras de um destino cruel.
Nos países em guerra em que tudo escasseia, alimentos, apoio sanitário e até familiar, depara-se com a subnutrição das pobres criancinhas. As imagens chocantes que circulam na net, são disso clara evidência. Nos países desenvolvidos, começa a tomar forma, cada vez com mais visibilidade, o resultado dos excessos alimentares, traduzidos na obesidade infantil. Os eternos desequilíbrios da civilização.
Para quem contacta com esta realidade - a infância, há décadas, vêm à memória episódios pitorescos que trazem um certo colorido a estes dias cinzentos que teimam em ficar.
Um dia, numa das várias escolas por onde passei, havia um aluno, homónimo do grande português que transpôs o Cabo Bojador, Gil Eanes. Tal como o famoso navegador, também este Gil era aventureiro e tinha nas veias o apelo do mar, quase ali a bater-lhe à porta. Era uma criança irrequieta, viva e dócil ao mesmo tempo.
Um dia, numa aula de Português, em que a professora se ocupava a explicar um qualquer assunto, foi-se apercebendo que aquele aluno denotava uma agitação fora do habitual. Sentado na primeira fila, mesmo em frente ao quadro e à professora, apresentava um comportamento estranho! Ora se ria baixinho, ora cochichava com os colegas. A mestra continuava empenhada na explicação, exposição da matéria. O Gil, com aquela carita de bolacha Maria, não parava de se contorcer na carteira.
Sem se conter mais, pergunta-lhe a professora:
Diz lá, Gil, o que se passa! Porque estás tão agitado? Desembucha, rapaz!
Muito envergonhado, comprometido, depois de muito instado a falar, lá atira o aluno, a custo:
É que... é que...
Diz, Gil, avança! - Diz a professora.
É que... a professora tem a mola aberta!
Depois de reposta a “decência” no seu vestuário, um sorriso beatífico inundou o rosto da professora que a muito custo se conteve para não explodir numa gargalhada estrepitosa.
Aqueles malandrecos não deixam passar nada, nem um simples mas desestabilizador esquecimento!

M.ª Donzília Almeida

Efeméride aveirense: Carmelitas Descalças


1983

Neste dia, em 1983, regressaram a Aveiro as Religiosas Carmelitas Descalças, instalando-se provisoriamente em Eirol. Desta forma, deram início ao Carmelo de Cristo Redentor, autorizado pelo Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade, em 15  de Outubro deste mesmo ano.

Fonte: Calendário Histórico de Aveiro

Nota: Permitam-me que sublinhe o que para os católicos e para  os que cultivam a espiritualidade, cristãos ou não, representa  este Carmelo, há muito instalado em S. Bernardo. As carmelitas, contemplativas, simbolizam o desprendimento total do mundo agitado, mas fazem-no em sintonia com esse mesmo mundo, pela oração, pela contemplação e pelo sentido de comunhão, bem expresso na forma como vivem, em ligação a Jesus Cristo. Estão, afinal, no mundo, sem estarem no mundo...

FM

CMI promove Concurso Literário Jovem



Para fomentar hábitos de leitura e de escrita

Tendo por base o papel fundamental que a leitura e a escrita assumem na formação de todos os indivíduos, nomeadamente dos mais Jovens, assim como a necessidade da criação de estímulos para fomentar hábitos de leitura, a Câmara Municipal de Ílhavo deliberou aprovar as Regras do IX Concurso Literário Jovem.
O concurso destina-se aos Jovens do Ensino Básico do 1.º, 2.º e 3.º Ciclos, assim como do Ensino Secundário, podendo participar alunos de qualquer estabelecimento de ensino, público ou privado, do Município de Ílhavo, até ao 12.º ano de escolaridade.
O prazo de entrega dos trabalhos decorre entre o dia 23 de Novembro de 2009 e o dia 31 de Março de 2010, devendo os mesmos ser entregues por mão própria ou enviados por correio, com aviso de recepção e endereçados para a Câmara Municipal de Ílhavo – IX Concurso Literário Jovem – Avenida 25 de Abril – 3830-044 Ílhavo.

Ligação ferroviária ao Porto de Aveiro



Como vem sendo prometido pela REFER, a ligação ferroviária ao Porto de Aveiro vai ficar concluída até ao fim do ano. É notório que as infra-estruturas fundamentais estão em fase de acabamento, sendo legítimo esperar que os prazos venham a ser cumpridos. Esta obra foi totalmente concebida e levada a cabo pela REFER, sendo garantido que vai contribuir para o desenvolvimento do Porto de Aveiro.

Um poema para começar um dia triste


Solidão


Sob um céu de chumbo
A alma derretida
Dobrado o corpo num rodilho
Escuto a ameaça
Da solidão

Vem correndo sobre mim
Estendendo os braços
Quais garras assassinas.

Inesperadamente
Fica presa nas rochas
Debate-se exasperada
Lança urros tenebrosos
Não consegue soltar-se

Num ápice fui salva
Por mão de pedra
Inerte mas segura
Mão desconhecida
Mas amiga
Dum anjo ou de um Deus
Que me protege.

Aida Viegas

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Pertinente pergunta de Nuno Rogeiro na SÁBADO





"Iconoclastas
à la carte


Se saem os crucifixos das escolas, porque não as imagens do Presidente da República das repartições públicas, e a bandeira nacional da generalidade de sítios comuns?
Se saem as cruzes do estabelecimentos de ensino público, o que faz a imagem do primeiro-ministro em certos departamentos?
E, já agora, o que fazer com as estátuas, e outros monumentos, que exibem, à frente de todos, as tradições monárquicas e republicanas, cristãs e seculares, francófonas e anglófonas, pacifistas e bélicas, do velho Portugal de oito séculos?
E os nomes das ruas? Haverá sempre quem não goste de Norton de Matos, ou do Marquês de Pombal, ou do Afonso Costa, ou do Salvador Allende.
E os sinais rotários e maçónicos? E os presépios? E o hino?
O que fazer para não agredir os monárquicos, os anarquistas, os objectores de consciência, os federalistas europeus, etc..
E quem decide? O povo local ou o Terreiro do Paço?
Ou o Grande Irmão?"

Nuno Rogeiro,

In SÁBADO de hoje

Uma boa ideia para as gentes de Ílhavo


A Junta de Freguesia de S. Salvador, Ílhavo, tem inscrições abertas para cursos de marinharia e arte de navegar. É, de facto, uma boa ideia, embora haja na área concelhia clubes que não descuram esse ensino. Numa região que tende a perder a sua identidade essencialmente ligada ao mar e à ria, é muito oportuna esta iniciativa da Junta. Estou em crer que não vão faltar jovens (de todas as idades) com vontade de aprender as artes de navegar, para então poderem usufruir do prazer de andar sobre as águas salgadas.

D. José Policarpo: A «felicidade não se pode confundir com facilidade»

A apologia da inquietude




1. A inquietude não se dá bem com a passividade e a indiferença. Das frases gravadas de Fernando Nobre (médico fundador e presidente da AMI) é aquela que nos diz que no mundo de hoje os dois males principais são a indiferença e a intolerância. Conclui deste modo quem percorre o mundo, seja fisicamente seja mentalmente. Não é preciso andar quilómetros para a intuição daqueles valores fundamentais a que como humanidade somos chamados. Cada vez que na rua observamos os mais novos dependentes de todas as tecnologias em que o olhar já não tem largueza para a relação pessoal, ou que dos poderes da comunicação ou do marketing a mensagem se revela num aliciante interesseiro sem grandes causas generosas…estas realidades, entre tantas outras, obrigam-nos a repensar hoje o lugar das inquietudes e do futuro.

2. Quando se ouve a (des)consideração que existe pela autoridade saudável, nas escolas, no trabalho ou até pelo bloqueio que se sente no diálogo de gerações dentro da mesma casa; ou quando se sente que o «não pensar» é a mais cómoda das opções gerando a apatia do «tanto faz»… faz-nos sentir o quanto urgente se torna o despertar dos sentidos humanos para sabedorias humanísticas que dêem razões e fundamentos para viver e existir de forma reflectida. O tempo actual, num adormecimento sedutor por mil e umas formas de diversão e entretenimento, precisa de resgatar a INQUIETUDE como atitude existencial e comunitária. A consciência de que o amanhã pode ser sempre melhor que o hoje e o ontem é uma aprendizagem de sabedoria intransferível, que ninguém pode viver pelo outro.

3. Dizia há alguns anos D. José Policarpo que a «felicidade não se pode confundir com facilidade». O mundo das facilidades publicitadas também tem gerado aquela ilusão que afinal não existe mas gera fragilidades de pensamentos e acções. Floresça uma apologia da inquietude, na lembrança continuamente despertadora do compromisso em cada amanhecer!

Alexandre Cruz

Efeméride Aveirense: reabertura do Teatro Aveirense há 60 anos


Teatro Aveirense

Um espaço que muito honra
a cidade e as suas gentes

Há espaços emblemáticos na cidade de Aveiro. O Teatro Aveirense é um deles. Enche a memória dos aveirenses e de quantos por ali passaram ao longo da vida e continuam a passar.
No dia de hoje, em 1949, há precisamente 60 anos, foi reaberto, após dois anos de profundas obras de modernização, conforme lembra o Calendário Histórico de Aveiro. Nesse dia, foi apresentada a revista “Esquimó Fresquinho” pela Companhia de Revistas do Teatro Maria Vitória.
Entrar no Teatro Aveirense, só por si, é revisitar a sua história e lembrar momentos agradáveis que se não perdem com o tempo. É evocar cultura, arte, artistas, cerimónias cívicas, pessoas ilustres, enfim, tudo o que nos faz recordar um passado que precisa de ter continuidade, agora com novas formas. O Teatro Aveirense aí está, presentemente, como espaço que muito honra a cidade e as suas gentes.

FM

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Beira-Mar vai mesmo arrumar as botas e enterrar a sua história? Não creio...



Acabei de ler, no PÚBLICO online, que "O plantel e equipa técnica de futebol do Beira-Mar anunciaram hoje que vão avançar com a “pré-rescisão” colectiva dos contratos, caso  os dois meses de salários em atraso não sejam pagos até ao dia 30 de Novembro.
A decisão foi comunicado em conferência de imprensa pelo capitão de equipa Hugo, que leu uma nota elaborada pelo plantel: “Vamos continuar com o mesmo nível de rigor e profissionalismo, não recorrendo à greve e às faltas de comparência”.

Embora não seja sócio, tenho pena que o Beira-Mar esteja a passar por uma situação tão difícil como esta. O orgulho dos sócios e adeptos do mais representativo clube de futebol da região aveirense, tratado, carinhosamente, por  Beiramarzinho, está a ser ferido, mas tenho a certeza que não será de morte. Tenho a certeza, repito,  de que não hão-de faltar gentes de Aveiro capazes de pegar no clube, para o colocar, com honra, no lugar a que ele tem direito, pelo seu rico historial desportivo. E quando isso acontecer, seria bom que os habituais maldizentes e críticos felinos se transformassem em apoiantes generosos, mostrando que, apesar de tudo, ainda são capazes de amar o Beira-Mar.

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O FIO DO TEMPO: O direito à alimentação é um direito básico




Por trás da fome de pão

1. Todos concordam que o direito à alimentação e, por consequência, à sobrevivência, é um direito básico que nem precisa de ser recordado e afirmado em declarações. Mas as declarações também o escrevem e a própria Declaração do Milénio num dos seus objectivos consagra valor urgentíssimo o terminar com a fome no mundo. Foi criada a FAO (16-10-1945), instância das Nações Unidas para as preocupações da agricultura e alimentação do mundo. Mas os cenários da fome e a (in)sobrevivência nesta matéria afirmam-se com preocupação crescente. De modo transversal, aumenta o conhecimento, tanto em termos de produção alimentar mas também dos riscos da manipulação genética dos alimentos; a própria canalização de cereais para fins de biocombustíveis cresce e tudo diante da galopante classe médica asiática que vai alterar o paradigma tido até ao início deste milénio.

2. Decorreu nestes dias em Roma a Cimeira da FAO, mas sem todos os G8 (os países mais ricos do mundo). O secretário-geral da ONU foi forte ao recordar que a cada seis segundos morre uma criança de fome… Os dados, no seu realismo, são chocantes. Sendo certo que nada se pode fazer sem planificação e concertação, esta é uma área de actuação diplomática onde a natureza jurídica dos papéis se mostra insignificante diante da crueldade da multidão faminta em contraste com a fartura de alguns. Como em tantas outras questões, o primeiro passo será a alteração de comportamentos no não estragar comida, numa visão dignificante da alimentação e no gerar a corrente positiva/solidária. Por trás da fome de pão impera a fome de justiça, valores e verdade? Como mudar?

3. (Nota – correcção de gralha: os dez minutos de pausa diária na escrita d’O FIO DO TEMPO fizeram com que no texto de ontem A FACE CULTA constasse uma gralha. O texto certo é: «À situação actual de Portugal estes cenários “face oculta” era tudo o que menos se esperava, esta observada crise de instituições na área da justiça que aliada à desconfiança e suspeita de redes de corrupções, trazem para o cimo da mesa do pior que se pode esperar…»)

Rodrigo Ramos, 23 anos, foi baptizado no sábado




“Um dos dias mais felizes da minha vida”


Rodrigo Alexandre Ramos, solteiro, 23 anos, brasileiro, radicado na Gafanha da Nazaré há sete anos, recebeu os sacramentos da iniciação cristã. Filho de pai adventista e de mãe católica, ficou à espera da idade que o levasse a optar por uma religião ou por nenhuma.
Jovem que se considera um pouco tímido, não deixou de arranjar amigos nesta terra que o acolheu e onde criou a sua própria empresa de venda e montagem de pneus, que o torna independente, sob o ponto de vista económico.
Nunca foi influenciado pelos pais, certamente por algum compromisso estabelecido entre eles. Mas um dia, uns amigos do grupo de jovens “Sementes de Esperança”, com quem convivia regularmente, convidaram-no para os acompanhar Aceitou ir com uma condição: “ficar calado, apenas a ouvir.”
O tempo foi passando e há cinco anos, livre e com toda a naturalidade, sem qualquer pressão do grupo, informou que não era baptizado, mas que gostava de receber o baptismo. Essa ideia talvez tenha nascido do modo como sempre foi acolhido no grupo.
Começou a participar nas actividades paroquiais, arciprestais e diocesanas e até ficou responsável pela animação. E à medida que o tempo passava e as acções de formação do grupo decorriam, foi-se acentuando o desejo de ser baptizado. Também fazia parte do grupo coral que animava a eucaristia, mas reconhecia que lhe “faltava qualquer coisa”.
Luís Miguel, João Paulo e Andreia Silva aceitam o seu desejo e garantem-lhe a ajuda indispensável. Fala com o Prior Francisco Melo que o aconselhou a encetar uma caminhada, com vista a descobrir as razões da sua fé. Participa numa acção de formação sobre S. Paulo, no seminário.
Outros encontros, conversas, orações,  leituras, estudos e reflexões se seguiram. E o dia chegou. No sábado, 14 de Novembro. Um dia de festa. “Foi uma felicidade muito grande, pela maneira como fui acolhido: foi um dos dias mais felizes da minha vida”, sublinhou, com alguma emoção.
Sentiu nessa altura que, enfim, era “membro da Igreja e filho de Deus”; sentiu que passava a ser, de pleno direito, “testemunha de Jesus Cristo e da sua mensagem”.
Seu pai não pôde participar na cerimónia, por se ter ausentado para o estrangeiro, em serviço, mas a mãe, “toda feliz” não deixou de marcar presença.

Fernando Martins



O mais lúcido diagnóstico das desgraças por si não as soluciona nem as cura



O pé no chão e o coração na vida


“O mundo moderno é o nosso mundo. Porque é nosso e porque tem muito de bom e o queremos ainda melhor, devemos amá-lo, olhá-lo com simpatia, alegrar-nos com os seus bens e valores, purificá-lo dos seus erros e males. Não basta um conhecimento superficial. É preciso estudá-lo por dentro, aprofundar os seus problemas, descobrir pistas de solução, ganhar forças para as percorrer”.

Estas palavras dos bispos portugueses, foram proferidas em 1991, por ocasião do Ano da Doutrina Social da Igreja, numa mensagem ao Povo de Deus. Recordo-as agora ao terem-se celebrado, há poucos dias, os 75 anos da Acção Católica, e por estarmos em vésperas da VI Semana Social nacional, a realizar em Aveiro, sobre a “Construção do Bem Comum”, uma responsabilidade que diz respeito a todos nós.

Um e outro acontecimento lembram o dever diário de olhar o mundo com olhos de amor e de redenção, esse mundo em que muitos milhares de leigos cristãos investiram e continuam a investir o seu tempo e energias, traduzindo, desse modo, o seu compromisso de fé, a sua solidariedade fraterna e o seu dever social.

É preocupante o facto de se ver muita gente ficar em pânico ao olhar os males que existem e se alastram, deixando de prestar atenção e manifestar gratidão por tantas coisas boas e pelo empenhamento de quantos assumem, de modo consciente, a sua vocação de dupla cidadania, na Igreja e no mundo. Um cristão nunca pode ser um pessimista, um vencido, tal como o não pode ser qualquer cidadão consciente.

É verdade que a sociedade está minada pela mentira, a corrupção, as riquezas dúbias, as infidelidades de toda a ordem, o menosprezo lamentável por valores fundamentais, como a vida e a família. É verdade que, na grande política, o bem comum foi abafado pelos interesses individuais e de grupos. É verdade que existe uma crise de modelos e de referências morais e muita gente parece ter perdido o norte e o sentido da vida. É verdade que valores sociais, assim ditos, se traduzem, hoje, por coisas que nada valem ou são veneno corrosivo. É verdade que não faltam meios públicos para suportar campanhas destrutivas e suspeitas, mas são cada vez mais escassos os meios necessários para investir em favor dos que mais precisam e apoiar causas que promovem o bem e a verdade.

Porém, que olhar apenas as desgraças que aí abundam, ficará, inevitavelmente, acorrentado ao medo que deprime e ao pessimismo de que nada vale a pena, porque já tudo está perdido. Assim, se fica tolhido para enfrentar, com lucidez, os problemas graves que afectam o país e incapaz de neles poder intervir validamente. O mais lúcido diagnóstico das desgraças, por si não as soluciona nem as cura.

A história mostra que existem, na sociedade, energias pessoais e naturais, mais numerosas e vivas do que se pode imaginar. É preciso descobri-las, reconhecê-las, potenciá-las, uni-las, integrá-las e organizá-las. Ora esta não é obra de pessoas azedas, medrosas e, antecipadamente, vencidas.

Há muita gente séria e honesta neste país que não se pode isolar, nem acomodar. A urgência de uma mobilização, pacífica e operante, impõe-se cada vez mais. O povo sensato e trabalhador tem sido anestesiado e baralhado pelo malabarismo de alguns políticos pouco sérios. Haja quem o acorde, o faça pensar, o confronte com a realidade, a mentira e as promessas vãs, o convoque e lhe dê consciência dos seus direitos, deveres e capacidades. Graves omissões comete quem o pode fazer e não o faz.

Amar o mundo concreto das pessoas para poder reconhecer e pôr em relevo os seus valores e o purificar dos seus erros e males, é uma atitude pessoal e uma operação alargada, que não se podem descurar. Assim, se terá o pé no chão e o coração na vida.

António Marcelino

E já agora um poema



Deus é a nossa mulher-a-dias


Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a vida
porque achamos
que não presta

Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a fé
porque achamos
que é pirosa

Adília Lopes
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Para começar o dia, uma sugestão de leitura





«Em Obsessão do Fogo, somos levados a percorrer mais de dois mil anos de histórias sobre livros, seguindo uma discussão erudita e divertida, culta e pessoal, filosófica e anedótica, curiosa e apetecível, plena de ironia, astúcia e referências culturais. Atravessamos tempos e lugares diversos; encontramos personalidades reais e personagens fictícias; deparamo-nos com o elogia à idiotia, bem como com a paixão pelo coleccionismo; e compreendemos a razão pela qual cada época gera as suas obras-primas. Para além disso, ficamos ainda a saber por que motivo “as galinhas levaram mais de um século para aprender a não atravessar a estrada” e porque “o nosso conhecimento do passado deve-se a cretinos, imbecis ou contraditores”»

Na contracapa de  A Obsessão do Fogo, um livro que nos oferece um encontro em Paris entre Umberto Eco, um dos mais respeitados pensadores e romancistas da actualidade, e o cineasta Jean-Claude Carrière, conduzido por Jean-Philippe de Tonnac.

Nota: Será preciso dizer mais alguma coisa? FM