sábado, 6 de junho de 2009

Bispos europeus reflectem sobre crise actual

D. António Marcelino
Os bispos europeus do Conselho das Conferências Episcopais da Europa responsáveis pelas questões sociais estarão reunidos em Zagreb, Croácia, dia 9 de Junho, para reflectirem sobre a crise económico-financeira. Neste encontro que terá 34 participantes de 21 conferências episcopais reflectir-se-á sobre as experiências, iniciativas e respostas da Igreja na Europa sobre a temática da crise actual. Portugal estará representado por D. António Marcelino, bispo emérito de Aveiro.

Cuidado, medicina e hospital

Porque a sua essência reside no cuidado, o Homem, ser-no-mundo e temporal, precisa de ser cuidado e de cuidar. Cuidar de quê? Cuidar de si, dos outros, da Terra, da transcendência. Por afectos, palavras - ah!, a cura pela palavra! - e por obras
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Numa obra essencial da Filosofia no século XX, Ser e Tempo, o seu autor, M. Heidegger, retoma a famosa fábula sobre o Cuidado, de Higino, um escravo culto (64 a.C.-16 d.C.). Retomo-a, traduzindo literalmente.
"Uma vez, ao atravessar um rio, o 'Cuidado' viu terra argilosa. Pensativo, tomou um pedaço de barro e começou a moldá-lo. Enquanto contemplava o que tinha feito, apareceu Júpiter. O 'Cuidado' pediu-lhe que insuflasse espírito nele, o que Júpiter fez de bom grado. Mas, quando quis dar o seu nome à criatura que havia formado, Júpiter proibiu-lho, exigindo que lhe fosse dado o dele. Enquanto o 'Cuidado' e Júpiter discutiam, surgiu também a Terra (Tellus) e queria também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora ela a dar-lhe um pedaço do seu corpo. Os contendentes tomaram Saturno por juiz. Este tomou a seguinte decisão, que pareceu justa: 'Tu, Júpiter, deste-lhe o espírito; por isso, receberás de volta o seu espírito por ocasião da sua morte. Tu, Terra, deste-lhe o corpo; por isso, receberás de volta o seu corpo. Mas, como foi o 'Cuidado' a ter a ideia de moldar a criatura, ficará ela na sua posse enquanto viver. E uma vez que entre vós há discussão sobre o nome, chamar-se-á 'homo' (Homem), já que foi feita a partir do húmus (Terra)'."
Heidegger, um dos maiores filósofos do século XX, mostrou que o cuidado é estrutura essencial do ser humano. O Homem, que tem a sua origem no cuidado, pertence-lhe ao longo da vida e não será abandonado por ele. O cuidado é duplo: preocupação ansiosa - a mãe diz ao filho: tem cuidado, filho! - e entrega abnegada, pois a perfeição do ser humano na realização das suas possibilidades mais próprias é uma tarefa do cuidado.
Viemos ao mundo e cuidaram de nós. Mas o cuidado não pode abandonar-nos nunca. Sem o cuidado, ao longo da vida toda, do nascimento até à morte, o ser humano desestrutura-se, sente-se perdido, não encontra sentido e acaba por morrer.
Não sei se o cuidado é mais próprio das mulheres. De qualquer modo, como escreve a filósofa M. L. R. Ferreira, "o tema do cuidado é o lugar por excelência em que se revela o pensamento maternal". E continua: "O cuidado é uma ternura vital, fruto do conhecimento e do afecto que temos pelos que estão a nosso cargo. Em todas as grandes religiões, em todos os mitos fundadores, em todas as culturas humanas a atitude de cuidado surge na sua dimensão compassiva de atenção ao outro. E as guardiãs do cuidado são as mais das vezes mulheres."
Cuidado, em latim, diz-se cura, que, para lá de cuidado, significa incumbência, tratamento, cura, inquietação amorosa, amor. Por esta via, chegamos também à medicina, que provém do latim mederi - a raiz é med: pensar, medir, julgar, tratar um doente -, que significa cuidar de, tratar, medicar, curar e que está também na base de moderação e meditação, sendo deste modo remetidos para um conceito holístico de saúde e de cura, que resultam e têm no horizonte sempre um equilíbrio harmónico.
Porque a sua essência reside no cuidado, o Homem, ser-no-mundo e temporal, precisa de ser cuidado e de cuidar. Cuidar de quê? Cuidar de si, dos outros, da Terra, da transcendência. Por afectos, palavras - ah!, a cura pela palavra! - e por obras.
Fragilizado ou doente, o Homem necessita de cuidados especiais. Aí aparece o médico ou o clínico (do grego klinein, inclinar-se), debruçando-se sobre ele/ela com o seu saber e técnica e também afecto e palavra, num pacto solidário. Em princípio, esse encontro dá-se no hospital ou na clínica.
Hospital vem do latim hospite, que significa hóspede, também em conexão com hotel. Como ser-no-mundo, o Homem é, logo na raiz, hóspede: somos hospedados no mundo. Significativamente, a palavra está ligada também a hoste, donde provém hostil. Não nos pedem, à chegada a um hotel, que em inglês também se diz hostel e em espanhol hostal, a identificação, pois não se sabe quem chega por bem ou por mal?
Espera-se que o hospital seja lugar de hospitalidade e não de hostilidade. Em francês, para hospital, também há o composto Hôtel-Dieu. Lá no termo, quem não espera ser hospedado pelo Deus da graça?
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quinta-feira, 4 de junho de 2009

As Rádios Locais também fazem serviço público

Vasco Lagarto alerta: 
as pessoas cada vez mais se interessam menos 
por aquilo que acontece à sua volta

Vasco Lagarto 

A Rádio Terra Nova (RTN-105FM), como a grande maioria dos órgãos de comunicação social, está, desde há muito, a encontrar sérias dificuldades para sobreviver. O fenómeno é conhecido, mas nem por isso as comunidades locais, nas quais ela se insere, se mobilizam para a apoiarem. Como nos dizia Vasco Lagarto, seu principal responsável desde a primeira hora, as pessoas e instituições só reconheceriam a importância da RTN se ela se calasse de vez. “Toda a gente se habituou à ideia de que a rádio está ali, que funciona 24 horas por dia, e só reclamam quando há um programa que vai para o ar com uns dez minutos de atraso ou quando, por qualquer razão, não há possibilidades de fazer a cobertura de provas desportivas ou de outros eventos”, salientou. O director da Terra Nova garante que a rádio só se mantém em actividade porque existem algumas pessoas que lhe dedicam o seu tempo, mas urge compreender que há “encargos e que é preciso chegar ao fim do mês com meios financeiros para os suportar”, referiu.
A RTN nasceu na década de 80 do século passado, num período de baixa de preços dos equipamentos de emissão. Um pouco por todo o mundo, e em Portugal também, surgiram rádios locais, muitas vezes direccionadas para simples bairros. Pretendia-se divulgar iniciativas de instituições dos mais variados ramos, que nunca tinham vez nem voz nas rádios nacionais. O boom das “rádios piratas” foi de tal ordem elevado, que as entidades oficiais não tiveram qualquer hipótese de impedir o seu funcionamento. Em 12 de Julho de 1986, a RTN, mesmo sem baptismo, foi para o ar, na sede da Cooperativa Cultual. 
Diz a sua história que eram 11.30 horas de um sábado. “Ligámos apenas um amplificador e passámos música gravada”, recorda Vasco Lagarto. Em 31 de Dezembro de 1988 “calou-se”, por imposição do processo de legalização entretanto iniciado. Mas em 26 de Março de 1989, num domingo de Páscoa, agora com alvará e com as exigências de legislação entretanto aprovada, reiniciou as suas emissões, assumindo um projecto voltado para as realidades culturais e sociais das comunidades envolventes, num raio de acção que hoje chega aos 50 quilómetros. Posteriormente, adoptou o nome Terra Nova, não só em homenagem a quantos viveram a saga da Faina Maior – pesca do bacalhau – nos mares do mesmo nome, mas ainda por reflectir o sonho de quantos apostam numa terra nova, no respeito pelo progresso sustentado e pelos direitos humanos.

Crónica de um Professor...

Johnny Holliday
Irreverência II
“Sleep is my only homework. And I wish I had more of it”
(O meu único trabalho de casa é dormir. E gostaria de ter mais trabalho desse...) Em letras brancas, garrafais, sobre fundo preto, ostentava com ar desafiador, aquela inscrição na sua t-shirt nova. Era aquele aluno, oriundo dali, da Costa Nova, com uns olhos verde-água, quase transparentes, penetrantes. A língua inglesa era para ele uma toada estranha, que em nada se assemelhava aos pregões que ouvia no mercado, onde a sua família vendia o pescado. Não vislumbrava qualquer utilidade nela, nem sequer na época balnear, em que a sua zona era visitada e frequentada por uma multidão de turistas estrangeiros. A ocupação nos tempos de férias, em restaurantes e bares, onde podia usar, dar utilidade à língua estrangeira, não era suficientemente atractiva para o demover da sua inércia. Deixava-a passar ao lado! P’ra quê falar Inglês, se os seus compinchas tão bem o entendiam e as suas aspirações na vida, não tinham acompanhado o seu crescimento, tinham ficado anãs? Aquela inscrição, subversiva, em Inglês, despertara-lhe o apetite! Era “in” exibir um dito jocoso, na língua mais falada do planeta! A teacher esteve atenta e aproveitou, pedagogicamente, aquela intencionalidade irreverente. Pelo menos, aquela frase entrara-lhe e sabia o seu significado! Atrás desse, outros viriam, também provocadores, mas... o que interessa é que lhes visse a utilidade. T-shirts com inscrições, em Inglês, mescladas com certa conotação humorística, sempre foram do agrado da teacher, que ainda hoje as usa no seu quotidiano. Desde cedo que exerceram fascínio na sua mente feminina e a aquisição dessas peças de vestuário tem sido uma prática recorrente. Evoca aquela fase dos seus verdes anos, na Faculdade, em que se pavoneava pelas ruas da Lusa Atenas com a efígie do cantor pop Johnny Holliday. A revista jovem da altura, Salut les coupains promovera a venda dessas t-shirts a troco de uma pequena quantia em francos. Fã que era do cantor, lá vai a jovem universitária encomendar e receber, pelos CTT, a almejada encomenda. Ah! Aquilo é que foi um delírio! Toda ufana e ostentando uma coisa original (ninguém fora tão excêntrico (!?) percorria o caminho para a universidade e ouvia, com a timidez duma teenager, o piropo avulso de algum transeunte com quem se cruzava! O rosto estampado no peito daquele cantor francês era o mote para uma comunicação unilateral... mas que dava algum gozo àquela aspirante a teacher! Afinal, aquela criatura ingénua, com ar de santinha, introvertida e sonhadora, tinha lá no fundo, aprisionada, a sua fracção de irreverência que haveria de explodir num futuro longínquo... quiçá na idade madura!
M.ª Donzília Almeida 05.06.09

Emigrantes solidários com a construção do Hospital de Cuidados Continuados da Misericórdia de Ílhavo

Mais de 800 emigrantes de vários locais dos EUA reuniram-se em Newark numa festa, tipicamente portuguesa, e cuja receita reverte, integralmente, para a construção do Hospital de Cuidados Continuados da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo. Presentes nesta festa o provedor da Santa Casa, professor Fernando Maria, o presidente da Câmara, Ribau Esteves, e dois vereadores da Câmara de Newark, que entregaram às entidades portuguesas a medalha daquela cidade Americana. A receita prevista será de mais de 20 mil dólares e vai ser entregue em Ílhavo pela comissão organizadora do encontro, composta por emigrantes de Ílhavo e das Gafanhas. O professor Fernando Maria visitou o Hospital Saint Barnabás acompanhado pela Direcção do hospital, tendo ficado satisfeito com a visita, pois a estrutura funcional deste estabelecimento americano é idêntica à de Ílhavo.

O obsceno e o sentimental invadem o nosso espaço público

Os ecologistas estão muito atentos ao gato morto que se abandona na rua ou ao lixo lançado fora dos contentores, mas passa-lhe ao lado a preocupação pelo ambiente humano deteriorado e cada dia mais inquinado pelo que se publica, se vê e ouve, até na rua, que, por enquanto, ainda é espaço de todos
Será que foi sempre mais ou menos assim ou estaremos perante um fenómeno novo a que a comunicação social se encarrega de dar permanente e vistosa publicidade? O inquinamento doentio da mente e do coração sempre pôde atingir a todos com gravidade. Em tempos foi-se muito longe, quando a manifestação pública deste inquinamento produziu vidas depravadas e chegou à exaltação, como se se tratasse de grandeza da raça ou de um melhor estatuto cívico. Ainda aí há sinais disso. Como quer que tenha sido antes, a verdade é que estamos hoje a viver ou a reviver uma época de pan-sexualismo, reduzido à manifestação de obscenidade que o ambiente farisaicamente favorece e dá dinheiro a quem o promove, acabando por manchar, socialmente, a maravilhosa dimensão da afectividade e da sexualidade humana. Como que a fazer eco do que se passou há poucos anos nos Estados Unidos da América, surge agora, como realidade ao longo de décadas, igual mazela na Irlanda. Acontecimentos que são, descontados embora os exageros de alguns relatos, a todos os títulos lamentáveis e condenáveis, mais ainda por estarem relacionados com instituições cristãs. Ninguém está imune do mal e de passos mal andados, devendo reconhecer-se, no entanto, que não é isso que se espera de pessoas e de obras sociais, que se propuseram ter a mensagem evangélica como instância educativa permanente. Quem folheia jornais e revistas de generalidades e pára na rua para observar os escaparates dos quiosques da imprensa ou passa pelos canais de televisão, de cá e de fora, se tem sentimentos de dignidade e preocupação por uma sociedade sadia e liberta, não pode deixar de ficar perplexo e preocupado ante o que lê e vê. A educação sexual, sempre e muito mais neste contexto, torna-se, de facto, necessária para os mais jovens, chamados a ser gente responsável, não por caminhos modernos tortuosos ou a agir sob sentimentos imediatos, mas pela transmissão lúcida de valores perenes que levem ao respeito por si e pelos outros. Muitos adultos necessitam, também, de um forte safanão que os acorde e os leve a quererem ser mulheres e homens, pessoal e socialmente dignos, e a trocar os atoleiros e o chafurdo por ambientes sadios, onde se viva de modo feliz e liberto. Do mesmo modo, haja quem atento tome conta do que se publica. Os ecologistas estão muito atentos ao gato morto que se abandona na rua ou ao lixo lançado fora dos contentores, mas passa-lhe ao lado a preocupação pelo ambiente humano deteriorado e cada dia mais inquinado pelo que se publica, se vê e ouve, até na rua, que, por enquanto, ainda é espaço de todos. Quando a vergonha e a responsabilidade pessoal não são censura válida, qualquer outra se torna odiosa. Quando o poder económico é rei e senhor, não faltam outros poderes a dobrar-se reverentes, ante os que mais têm e podem sempre ser úteis. Tem começado pela desagregação moral o declínio dos povos que se julgavam pioneiros de uma liberdade sem controlo. Por aí vamos, porque as crises económicas são antes morais e éticas. Comer, gozar e agradar não é modo de viajar rumo a bom porto. E a família? Muito se tem feito para a dignificar e capacitar para as suas tarefas. Mas muito se tem feito, também, para a destruir e anular na sua dignidade e nos seus direitos e deveres. A fonte que gera todas as crises humanas é sempre a mesma numa sociedade adormecida, manietada e desvirtuada nos seus objectivos normais. Se houver coragem para o reconhecer haverá também determinação para dar resposta. A intoxicação do obsceno e do sentimental debilitou os sentimentos mais nobres e os vínculos que unem as pessoas. O problema é cultural, com inevitáveis reflexos no humanismo reinante. As grandes vítimas estão aí à mostra: as crianças e os mais idosos. Ambos, pela sua natural dependência, se tornam manejáveis a interesses. Sem respeito e amor às crianças e gratidão aos idosos, para onde ruma e onde vai parar a sociedade?

António Marcelino

Só se pode Participar!

1. Cada acto eleitoral afirma-se como um forte desafio à cidadania. Sendo verdade que a motivação em participar, muitas vezes, é bem mais desperta em situações de não liberdade ou quando existem regimes ditatoriais…o certo é que a plena consciência de uma cidadania efectivamente activa conduzirá a saber dizer «presente» mesmo, porventura, em situações em que não dá jeito ou a urgência parece não ser tanta. Torna-se essencial o nunca perder da memória histórica para apreciar o direito de votar e o valor do voto como das conquistas sociais mais dignificantes; é importante o considerar que cada dia, cada pessoa e cidadão, é convidado a ser actor sócio-político de modo generalizado, o que implica a noção dos «deveres para com a comunidade» (Declaração Universal DH, artigo 29º).
2. Nunca a «desculpa de mau pagador» das más imagens ou menos boas práticas políticas poderá ser justamente argumento para a não participação. Poderão, porventura, existir muitas condicionantes, circunstâncias e até dúvidas sobre o «peso» de cada voto; poderão existir visões ou distracções promotoras de uma indiferença generalizada diante da distância dos centros de poder (europeus) para que se vota… Mas nada nem nenhum argumento, numa sociedade madura que se deseja, justificará qualquer sentimento e prática de abstenção. Sociedade não participativa será comunidade social adormecida. Esse adormecimento, depois consequentemente, deita por terra o terreno activo de credibilidade reclamadora e estimulante.
3. Sendo que por vezes até pode interessar a indiferença ou um não pensamento de visão crítica integral a determinados agentes políticos, a verdade é que nada poderá afectar a necessidade de alimentar a democracia diária de que também a possibilidade de votar é expressão inequívoca. Uma certa anemia social da sociedade civil portuguesa, que se denuncia volta e meia, é desafiada a ser superada nas eleições europeias(?). Alexandre Cruz

Caldeirada de Enguias

Um bom petisco com pouca despesa

Caldeira de enguias (foto da casa Zé-Zé)


Um bom petisco, com imaginação, não obriga a muitas despesas. Se não puder apreciar a caldeirada de enguias à Zé-Zé, no sítio próprio, compre as enguias e ensaie fazer a dita, em família, aproveitando as sugestões deste e daquele. Se não tiver dinheiro para comprar as enguias, compre outros peixes quaisquer, mais em conta, e coma-os como se fossem enguias. Não se esqueça de regar a caldeirada e a garganta com um vinho branco fresquinho. Quanto a doce, opte pela aletria, bem açucarada, que toda a gafanhoa que se preze sabe fazer.


Há um livro à sua espera

Se olhar para a sua estante, há decerto um bom livro que por ali deve estar à espera que lhe pegue. Se puder comprar um, aqui fica a sugestão. O livro “Regresso ao Litoral – Embarcações Tradicionais Portuguesas”, de Ana Maria Lopes. É, seguramente, uma boa opção cultural. Se não tiver dinheiro para livros, então passe pelo pólo da Biblioteca Municipal, no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, onde pode requisitar um livro, para ler durante 15 dias. A bibliotecária pode dar-lhe algumas sugestões.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A condição humana

1. Na madrugada de segunda-feira o voo 447 da Air France desapareceu no Atlântico, tendo, entretanto, sido descobertos seus vestígios. Saído do Brasil com 228 pessoas de 32 nacionalidades, esta tragédia poderá ser oportunidade de reflexão sobre a condição do ser humano. A hora presente é a do conforto possível, atitudes também manifestadas nos três dias de luto nacional brasileiro, nas celebrações em Paris das diferentes religiões no respeito pelas sensibilidades dos passageiros do voo fatídico. Têm sido nestes dias partilhadas muitas afirmações e realidades que são reflexo desta face humana humilde diante da grandeza surpreendente deste acontecimento. Quer de pessoas que embarcariam e por várias circunstâncias não partiram, quer diante da profundidade possível dos mais de 4000 metros onde possivelmente estarão os destroços do Airbus e a essencial caixa negra reveladora.
2. Para quem procura continuamente um sentido para a vida estas questões da condição humana não ficam esquecidas na periferia mas estão no centro dos valores e ideais nos quais se procura alicerçar a caminhada diária. Acontecimentos como o que acima referimos fazem parte de um autoconhecimento contínuo de quem sabe que a história humana por si mesma é limitada ao tempo e ao espaço; uma consciência clara de que tudo passa e tudo é breve (facto objectivo que não pode conduzir ao descompromisso), ficando de nós o bem que procurámos semear. Aquele que se descentraliza das “coisas” para os ideais que vencem as coordenadas temporais, esse conhece-se acima da ordem física e calculista, eleva-se! Mas para o pensar humano que absolutize a ordem do mundo de um “Titanic” perfeito, diante deste choque abre-se um abismo...
3. (Re)Conhecer-se a si mesmo na humildade da condição humana e ver acima do olhar das coisas é tarefa fortalecedora dos sentidos e oferece novas aberturas… Capazes de gerar a flexibilidade pessoal e comunitária dadora de qualidade e sensibilidade a cada dia presente.
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Alexandre Cruz

"Praceta Carlos Roeder", na Praia da Barra

Carlos Roeder foi um empresário
com visão de futuro

Na Praia da Barra há uma praceta com o nome “Comendador Carlos Roeder”. Fica mesmo ao lado do molhe da Meia-Laranja e tem no centro um obelisco, evocativo das obras da barra, com legendas que são uma boa lição de história para quem se der ao cuidado de as ler. 
Quando as nossas autarquias avançaram com esta simples mas justa homenagem a Carlos Roeder, não pude deixar de intimamente aplaudir o gesto. É que este industrial foi um dinâmico empresário que deu trabalho a muitas centenas de pessoas, quer no Estaleiro de S. Jacinto, quer noutras empresas que também fundou, ou das quais foi sócio de relevo. 
Carlos Roeder foi, e ainda é, uma figura de referência na região, sendo considerado, por um dos seus fiéis admiradores e colaboradores, Henrique Moutela, “um homem de invulgares qualidades de trabalho e de capacidade técnica”. Aparece na região, lembra Henrique Moutela, a “vender motores para os veleiros da Empresa de Pesca de Aveiro (EPA). Fá-lo a crédito, na década de 30 do século passado”. Na altura, “é convidado a entrar como sócio nessa empresa, com o valor da venda dos motores”. 
Carlos Roeder, com uma visão de futuro bastante nítida, convence os sócios da EPA a abandonarem “a pesca à linha em dóris” e em 1935 aparece o primeiro arrastão português, o ‘Santa Joana’, mandado construir na Dinamarca. 
O Estaleiro de S. Jacinto foi construído em 1940, “com amigos e colaboradores”. Mas o seu primeiro trabalho de engenharia foi o hangar da base da então Aviação Naval. Depois, quase até aos nossos dias, o Estaleiro foi, realmente, uma fonte de trabalho e de riqueza para muita gente da região, em especial de S. Jacinto, Gafanhas, Aveiro e Ílhavo. 
De ascendência alemã, Carlos Roeder estudou na Escola Politécnica de Lisboa, seguindo posteriormente para a Alemanha, onde cursou engenharia. Diz-se que a sua origem e formação muito contribuíram para a sua capacidade organizativa, para o sentido empresarial e para uma visão universal do trabalho. 
O seu gosto era, de facto, criar riqueza, dando emprego a centenas de pessoas, enquanto procurava destacar, sobretudo, a competência profissional e a lealdade dos seus colaboradores. Muitos dos seus encarregados eram pessoas sem grandes estudos, mas cumpridores rigorosos das suas decisões. No fim da vida, determinou a criação de uma fundação, a Fundação Roeder, destinada a contribuir para o bem-estar de todos os seus trabalhadores ou ex-trabalhadores. 

Fernando Martins

Bordados com arte, na Junta de Freguesia de S. Salvador

No salão da Junta de Freguesia de S. Salvador, Ílhavo, vai ser inaugurada, no próximo dia 5, pelas 21 horas, com a presença do presidente da Câmara, Ribau Esteves, uma exposição de Bordados, Macramé, Arte Floral e Pintura, por iniciativa da Colectividade Popular da Coutada. A exposição ficará patente ao público até 11 de Junho, com o seguinte horário: Dias úteis, das 16 às 20 horas; Sábado, domingo e feriado, das 15 às 20 horas.

terça-feira, 2 de junho de 2009

É possível Paz na Justiça?

1. Ninguém duvida que a complexidade da justiça, na sua multiplicidade de organismos e instâncias, nos conduz a uma reflexão que não seja simplista nem superficial. Todos temos a certeza de que uma sociedade que consiga “ter” uma justiça de qualidade garante meio caminho andado para o desejado progresso humano e social. Façamos o exercício de ver a justiça de trás para a frente, das finalidades e dos finalmentes serem redefinidos os meios, de olhar para o que chega diariamente ao cidadão comum com o intuito de reinterpretar as estruturas. É bem verdade que a revolução de comunicação humana que está a acontecer cada dia desafia à reinvenção dos modelos e estruturas sociais que muitas vezes se foram cristalizando no tempo.
2. Talvez a justiça, a par de outras estruturas, seja um destes pilares da sociedade ainda em défice de ajustamento contínuo, também porque não é fácil responder com a agilidade dos dias de hoje na base de procedimentos provindos de outros tempos e ritmos. Aos organismos práticos da justiça pede-se tudo: um tratamento de qualidade em quantidade. Mas para este salto qualitativo poucos envolvimentos e investimentos são reconhecidos e atribuídos. O mesmo se poderá dizer da Escola para que a Educação (para além da Escola) seja outro baluarte seguro, sempre em aperfeiçoamento, para que das experiências realizadas se elaborem as sínteses que permitem avançar…e nada caia em saco roto quando tudo o vento leva. Não nos referimos meramente a técnicas ou tecnologias; talvez o segredo seja outro: um Humanismo estimulante.
3. O exagerado e desordenado “barulho” que implode o reino da justiça na sociedade democrática, a par da desordenança subjacente que impede os consensos mínimos razoáveis para se seguir em frente, comprovam-nos a existência do défice de humanismo de sentido de bem comum. Até porque o segredo de toda a Paz não reside no tratado assinado em papéis mas carece de um pouco de boa vontade… Isto!
Alexandre Cruz

Faz sentido votar nas Europeias?

António Rego
Pertencer à Comunidade Europeia é um privilégio e um risco. E quando a Comunidade não se define primariamente como económica, aproxima os países mais ricos e mais pobres na procura da identidade histórica, política e cultural. E estimula uma aproximação social ainda que a velocidades diferentes. Os chamados fundos estruturais continuam voltados para os que chegam mais tarde e têm de andar mais depressa. Não faria qualquer sentido que em termos de saúde, habitação, cultura - desenvolvimento - algum dos países membros vivesse em situações de carência sem quaisquer condições de parceria ou negociação com os restantes membros. Neste conjunto e apesar dos muitos queixumes, Portugal quase se tornou irreconhecível a partir da sua pertença à União Europeia. Mesmo que a muitos pareça, ou dê jeito dizer, que se vive pior hoje que há trinta ou quarenta anos. Todos os dias somos confrontados com números europeus. Vindos de diferentes instâncias e abrangendo múltiplas áreas, fazem de nós um objecto de percentagens em radiografia permanente, não deixando por vezes que respiremos em ligeira passagem do positivo para o negativo. Se por vezes tem aspectos próximos do ridículo, apresenta outros interessantes: coloca-nos em contínuo exame de consciência ou numa autoavaliação que não nos deixa sossegados no adquirido. Corremos também riscos: dissolver a nossa identidade em tantos segmentos para alcançarmos um padrão europeu; vender a alma ao diabo para nos apresentarmos modernos e progressistas; renunciarmos a um património que é muito nosso em troca dum incerto prato de lentilhas. Aqui entra o papel dos nossos deputados ao Parlamento Europeu. Na assiduidade das suas presenças, nas questões que levantarem, nas propostas que fizerem, nos votos que emitirem, nas prioridades de ideologia, progresso, cultura, desenvolvimento que escolherem. E nos valores que defenderem. Não é indiferente um ou outro candidato. Eles têm de ser o reflexo de todos nós seja qual for o partido que lá os coloque. Sabe-se que são representantes de grupos políticos. Mas antes disso, dum país que é o nosso. O nosso passado e o nosso futuro são mais que um jogo partidário ou palavras que o vento leva. A isso não é alheio o conjunto de valores cristãos que tecem a nossa comunidade nacional.
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António Rego

“Língua e Costumes da Nossa Gente”, um livro que faltava

Obra que merece ocupar um lugar 
especial nos nossos interesses culturais



“Língua e Costumes da Nossa Gente” é um livro de Maria Donzília Almeida e de Oliveiros Louro, ambos docentes do Ensino Secundário. Vai ser lançado no próximo sábado, 6 de Junho, pelas 15.30 horas, no Auditório da Biblioteca Municipal de Ílhavo. A organização do evento é da Confraria Camoniana de Ílhavo. A identidade do povo da Gafanha vai decerto sair reforçada com a publicação deste livro de dois gafanhões, que se orgulham das suas raízes. Conheço-os o suficiente para fazer esta afirmação. Digo isto mesmo sem ter lido o livro que agora vai ver a luz do dia. Contudo, se não li esta obra, li já bastante dos seus autores, em trabalhos dispersos e escritos ao longo de anos. Escrevem muito bem e das suas almas sai expressiva poesia. O livro é uma “manta de retalhos”, no bom sentido. Fala de trabalhos na água e na terra, actividades que se complementavam. Basta pensar que era da ria que se tirava o moliço, fertilizante para as areias áridas que haveriam de dar o sustento a quem aqui se fixou. Contém, por isso, palavras e expressões relacionadas com o trabalho agrícola e com as fainas piscatórias. Contém, também, expressões de uso local e outras de uso mais alargado. Relata usos como a matança do porco, a festa da Páscoa e os Reis, fala de orações, responsos, canções infantis do tempo da escola, lengalengas, provérbios e ditos da sabedoria popular. São inúmeras as referências a alfaias e utensílios usados na pesca, na agricultura e na vida doméstica, ilustrados com dezenas de fotografias. Nele se inserem actas e documentos históricos e no fim tem uma surpresa para muita gente que eu não desvendo. Trata-se, portanto, de um livro muito belo, que merece ocupar um lugar especial nos nossos interesses culturais, em tempo de uma globalização que tudo dilui, com avidez mortífera, se não estivermos atentos.
FM

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Crónica de um Professor: Dia Mundial da Criança

“Deixai vir a mim as criancinhas!”
Não pretende usurpar Direitos de Autor a Quem proferiu, há milénios, estas palavras, mas tão-só evocar quão partilhadas o têm sido, na sua tão penosa quanto longa carreira docente. Neste dia, em que está no centro das atenções, das preocupações e comemorações, a criança merece algum debate e reflexão, por parte da teacher. Desde muito cedo, foi alvo de estudos de comportamento, não fosse ela a matéria-prima duma profissão tão nobre, como é a lapidação de diamantes brutos. Das mãos dos professores, após muitas operações de profundo labor, saem as pedras preciosas que vão embelezar a vida e gerir os destinos do amanhã. Quando forem adultos! Quando tiverem ultrapassado, com sucesso, as várias etapas da sua formação, na qual os mestres são agentes activos e modeladores. Pretende-se que saia o melhor produto, que ganhe a excelência! Para isso se esfalfam e hoje, por todo o país, se desdobram em esforços para lhes proporcionarem alguns momentos agradáveis e em que elas são os únicos protagonistas. Sim, as criancinhas merecem-nos o melhor e o maior empenho. Vêm à memória, episódios de violência contra as crianças em que a mais abominável, execrável a todos os níveis, é sem dúvida a pedofilia. Não há palavras de repúdio que possam expressar a intensidade da revolta e indignação que qualquer cidadão de bem possa sentir. Ultrapassa os limites da capacidade humana. É uma ignomínia! Por outro lado, há que usar de bom senso e não cair no extremo oposto de tanta protecção, tanto facilitismo, tanta permissividade, que estão a conduzir as crianças de hoje a verdadeiros e pequeninos déspotas! Vejamos como as políticas educativas têm conduzido o ensino em Portugal e como os seus agentes têm sido maltratados e vilipendiados com a pseudo-liberdade dada aos alunos em geral. Foi moeda corrente em determinada época, que o ensino deveria ser ministrado com carácter lúdico, para que as crianças aprendessem a brincar! De tal modo isso ficou arreigado, que hoje, nas nossas salas de aula, deparamos com bandos de indigentes que nada mais fazem que boicotar sistematicamente o trabalho do professor. Sempre teve alguma dificuldade em aceitar que a pura brincadeira, sem carácter de responsabilização, possa conduzir a uma interiorização de valores, como por exemplo o trabalho. Se é dada, ao aluno, a possibilidade de recompor energias de descontrair, de brincar, em suma, nos intervalos das aulas que até são generosos, por que cargas de água não se deverá encarar o estudo, a aprendizagem como algo de sério, de consequente e não apenas um prolongamento do recreio? Vamos formar uma multidão de ociosos, de irresponsáveis, de parasitas? Quem está no ensino há décadas vê com tristeza como as coisas têm acontecido neste país de brandos costumes, onde a transgressão e a violência estão a ganhar foros de práticas rotineiras. Preconiza a teacher que... é de pequenino que se torce o pepino... e também com as abençoadas criancinhas deveria acontecer a mesma coisa!
M.ª Donzília Almeida 01.06.09

Generosidade dos portugueses respondeu, pela positiva, aos apelos do Banco Alimentar Contra a Fome

A Justiça Social virá quando não forem precisos os Bancos Alimentares
Quem há por aí capaz de duvidar da generosidade dos portugueses? Só os pessimistas, os que olham apenas e só para o seu umbigo. Afinal, pese embora as dificuldades por que todos passamos, o nosso povo soube responder ao apelo do Banco Alimentar Contra a Fome, durante o último fim-de-semana. Segundo números já apurados, e que apontam para 1935 toneladas de alimentos recolhidos, houve um aumento, em relação a Maio do ano passado, da ordem dos 18 por cento. Ainda bem. Contudo, é bom que nos habituemos à ideia de que esta é a solução imediata para responder à fome de muitos milhares de portugueses. A solução definitiva virá quando os Bancos Alimentares não forem precisos. Nessa altura, não haverá injustiças sociais. FM

Debater a Europa?

1. A campanha já vai alta, mas os níveis de reflexão efectiva sobre a Europa continuam muito baixos. A preferência pela intriga também já é elemento característico, como companhia dos vários processos eleitorais. Não se pense que é só em Portugal que ocorre este desvio; a Itália debate-se com a crítica a Berlusconi, a França debruça-se sobre Sarkosy. E parece que quanto mais os cidadãos estão “longe” da Europa ou a entendem só como dadora de subsídios, tanto mais o debate vai arrefecendo uma desejada reflexão ampla e aberta sobre a Europa para o século XXI. É natural que as grandes questões nacionais acabem por ser essa Europa mais perto em que a maturidade cívica tem dificuldades em reconhecer as virtudes e está logo pronta no apontar os defeitos.
2. Mas as lideranças teriam outra obrigação despertadora para os máximos possíveis de ligações entre os cidadãos e os lugares e poderes de decisão. Ao fosso que existe (e que acaba por ser lógico) entre Bruxelas e as comunidades locais e regionais, a elite política parece rendida à insignificância do debate sobre a Europa. Os problemas nacionais, também na conjuntura de crise, acabam por afogar as tentativas de uma reflexão de cidadania europeia. Talvez na actualidade terá sentido perguntar se «é mesmo possível debater a Europa?» Mesmo os que criticam o défice democrático da não realização de referendos sobre questões deste velho continente, a verdade é que o tempo e o modo de suas actuações parecem fazer desta época mais uma oportunidade eleitoral perdida.
3. Já bastava a distância geográfica dos centros de decisão europeia, já seria difícil ao nosso país de limitada intervenção cívica, quanto mais com a generalidade de um género crispado de campanha… Os apelos à não abstenção são esse último apelo a vencer as indiferenças que vão reinando, para mais em acto eleitoral de que não se vê o benefício imediato… Campanha terá de significar mais pedagogia... Cidadania? A faca e o queijo vão ficar na mesma?
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Alexandre Cruz

domingo, 31 de maio de 2009

Dom de Deus por excelência

O SOPRO DE JESUS
Jesus escolhe o gesto do sopro para comunicar o Espírito Santo, o dom de Deus por excelência. Comunica-o aos discípulos, fazendo deles apóstolos, comunica-o à Igreja a fim de ultrapassar as fronteiras da sinagoga e se abrir sem medos à universalidade da missão; comunica-o a cada um de nós para que – como São Paulo – vivamos para o Senhor e para os outros e não apenas para nós mesmos.
Antes de fazer o gesto, Jesus identifica-se. Mostra as mãos onde se mantêm as cicatrizes da crucifixão e apresenta o lado com as marcas da flagelação. Sou eu mesmo e não um fantasma – afirma. Vivo uma vida nova que não se parece em nada com a vida material ou virtual. Compreendei o gesto que vos faço. Acolhei e apreciai o Espírito que vos confio em nome do Pai. Deixai-vos guiar por Ele, pois fica constituído em memória permanente e viva de quanto vos transmiti e em garante fiel de quanto vos vai ser pedido para realizardes a missão que vos entrego.
O sopro de Jesus é para os discípulos o que o alento de Deus foi no alvor da criação, dando vida a todas as coisas e gerando a harmonia do universo; é para os profetas o que a brisa suave foi para Elias, atestando a presença qualificada de Deus junto de quem permanece fiel, mesmo no meio da perseguição; é para a Igreja ao longo da história o que foi para os membros da primeira comunidade cristã: agente de transformação, força de comunhão que vai integrando diferenças legítimas, linguagem de comunicação que a todos quer fazer chegar a novidade de Jesus, em favor da humanidade inteira.
Mas quantas vezes, os ruídos se infiltraram e surgiram os monólogos e as deturpações, a comunhão cedeu lugar à desunião e ao mútuo desconhecimento, a renovação foi suplantada pela manutenção e conservação das tradições, a brisa suave foi varrida pela tempestade violenta das guerras, sem conta, o alento criador foi usurpado pelas forças da morte, de todos os naipes.
O sopro de Jesus tem sempre uma importância vital para os discípulos, a Igreja enquanto comunidade instituída, a humanidade com família de irmãos. Ele é Espírito e não os espíritos, as forças ocultas e malfazejas, as correntes dinâmicas de esoterismo, os estados sentimentais e fundamentalistas. O sopro de Jesus constitui o gesto da nossa marca e do nosso estilo. Faz-nos apelos à intervenção coerente, lúcida e realista, numa sociedade cheia de luzes e sombras. Georgino Rocha

Os portugueses gostam de telenovelas

Quando toca a crianças, é uma alegria
Os portugueses gostam de telenovelas. Gostam mesmo. Penso que esse gosto vem de há muitos anos, quando os brasileiros nos mostraram algumas que apaixonaram muita gente. Não condeno esse simpático gesto. Cada um dá o que tem e o que pode. Conheço gente que já não consegue viver sem elas. Venham elas à hora que vierem, é certo e sabido que não faltam telespectadores. Cada um come do que gosta. Eu também vi algumas, mas depois achei que estava a perder tempo. Senti-me preso, manipulado, dependente. Era como uma droga leve. Depois libertei-me, tornei-me independente e mandei à fava essa perda de tempo. Os portugueses aprenderam a lição que veio dos brasileiros, como aprendem tudo o que é novo. E se vier do estrangeiro tanto melhor. Cheira a coisa fina. Depois começaram a imitá-los. Pelo que tenho ouvido, imitam bem e em alguns casos até os ultrapassam. Dizem… Os temas foram recriados, ampliados e divulgados por literatura da especialidade. As telenovelas têm consumidores. Mas de vez em quando os nossos órgãos de comunicação social acham que é preciso inovar, inventando ou aproveitando assuntos que dão para uma infinidade de capítulos. Pedofilia da Casa Pia, negócios do Freeport vida privada de políticos, escândalos sociais, corrupção. E quando toca a crianças, então é uma alegria. Se ela for estrangeira, tanto melhor. Até fazem filmes. Joana, Maddie, Esmeralda e Alexandra. Esta, que é russa, até dá pano para mangas. Claro que ainda não descobriram umas meninas e meninos cujos pais não têm pão para lhes dar, nem dinheiro para as vestir e educar, ou sem pais e sem família. Uma coisa vos garanto: quando essas telenovelas acabarem, estou cá a pensar que algum guionista vai inventar uma história capaz de as substituir. Os portugueses gostam…
FM

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 133

BACALHAU EM DATAS - 23

O FRACASSO DO “ELITE”

Caríssimo/a: Voltemos ao ELITE e ouçamos a opinião do capitão Valdemar que nos ajudará, mais uma vez, a entrar com segurança em águas profundas: «A alternância verificada no âmbito do apoio hospitalar às suas frotas, entre franceses e portugueses, ficou a dever-se às diferentes políticas económicas de desenvolvimento adoptadas pelos dois países, sobretudo após a entrada no século XX. Dissemos acima que o princípio da mudança entre os franceses foi anunciado com o aparecimento dos primeiros arrastões nos bancos no início do século, mais concretamente em 1907; no entanto, o grande incremento, a verdadeira grande revolução, só após o término da I Guerra Mundial se verificaria de modo fulgurante. À medida que a nova modalidade - pesca de arrasto - se ia impondo por força das incomparavelmente melhores capturas, com muito menos riscos para o pessoal, os navios veleiros da pesca à linha iam sendo gradualmente convertidos ou abatidos, consoante se tratasse ou não de unidades de boa dimensão e em bom estado de conservação. Mas a muito curto prazo, até esses navios transformados tinham desaparecido, sendo pois a frota francesa constituída na sua totalidade por unidades novas, feitas de raiz. E, em poucos anos, a visão dos veleiros franceses nas águas da Terra Nova era coisa de arquivo, fotografia em parede de escritório, ou recordação gravada na memória. Em Portugal tudo se processou de modo bem diferente, mas por razões que convém esclarecer! Não se pense que não houve entre nós qualquer reacção aos ventos de mudança! Antes pelo contrário, o entusiasmo foi enorme e imediato, Entre nós, a primeira tentativa de enviar à Terra Nova um arrastão ocorreu em 1909 e partiu da Parceria Geral de Pescarias, da casa Bensaúde, sediada na Ilha do Faial, nos Açores. A escolha deste porto de armamento, situado a meio do Atlântico e, por conseguinte, a meia distância entre Portugal Continental e os bancos da Terra Nova, obedeceu a um plano estratégico bem delineado. O navio, chamado "ELITE", era de propulsão mecânica a carvão e estava preparado para trazer o bacalhau eviscerado, conservado em gelo granulado, fazendo viagens relativamente curtas – cerca de três semanas – entre saída e chegada ao porto de armamento. Eram estas, aliás, o tipo de viagens que entre nós se faziam ao Cabo Branco, quer em duração quer em conservação pelo gelo. Mas, infelizmente, por várias razões de ordem técnica, a experiência não correu bem, não resultou, o que foi pena, porque o fracasso desta iniciativa tão louvável, e levada a cabo num momento tão próprio, terá muito possivelmente contribuído para o abandono precipitado da modalidade nascente e para um maior apego à manutenção e desenvolvimento da modalidade ancestral, aliás apoiada numa mão de obra barata e de facílimo recrutamento ao longo de todo o litoral português, E esta é uma razão de consequência que não deve ser omitida.» HDGTM, 42
E ao ELITE regressaremos, em breve, mas por outras razões. Manuel