quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A PROPÓSITO DO SEMINÁRIO…


A propósito da efeméride do Seminário de Santa Joana Princesa, dei mais uma vista de olhos ao livro “A alma e a pena do arcebispo”, com selecção de textos de D. João Evangelista de Lima Vidal da responsabilidade de João Gonçalves Gaspar. Estive a reler, precisamente, o tema “Na entrada dos primeiros alunos no novo Seminário”, com data de 17 de Novembro de 1951. É uma delícia esta escrita poética do saudoso arcebispo, que justifica, pois, uma leitura de quando em vez, para então sentirmos o palpitar do entusiasmo do primeiro bispo da restaurada Diocese de Aveiro.
“Estamos longe, bem longe ainda, desse absoluto almejado arrumo; falta ainda um novelo espantoso de inquietações, de esforços, de lutas, uma mina de ouro, para nós podermos dizer que a construção do Seminário foi empresa que, realizado integralmente o seu curso, ora a cavalo ora a pé coxo, ou a cem à hora ou à velocidade da lesma, está agora nas prateleiras de algum silencioso e venerando arquivo”, lembra D. João, de quem bem me recordo.
E a seguir sublinha:
“Todos sabem até que eu, se fosse a fazer aquilo que mais me estava no gosto, preferia mil vezes que só houvesse vida de seminário no Seminário depois de se ouvir lá a última martelada dos operários, depois de se extinguir lá o último grão de poeira das obras, depois de não haver mais nada a fazer lá senão abrir a porta e entrar. Mas foi preciso apressar e fazer como os cães: acomodar um canto entre o tumulto, defendê-lo com umas aparas ou com umas ripas, abrir-lhe a cova, dar-lhe umas voltas e, fechados os olhos, fechados também os ouvidos, fazer por dormir.”
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Foto de D. João, desenho de Gaspar Albino

Efeméride


NOVEMBRO - 1951


Neste dia, mas em 1951, O Seminário Diocesano de Santa Joana Princesa, instituído em 1939, foi transferido para o novo edifício, no lugar de Santiago, freguesia da Glória, como refere João Gonçalves Gaspar, em Calendário Histórico de Aveiro.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Na Linha Da Utopia




Museus, Cultura, sempre “depois”!

1. «É impossível gerir uma casa sem saber o que acontece amanhã!», lamenta o director do Museu de Arqueologia de Lisboa, Luís Raposo (Público, 13.XI.2007). É o desabafo que espelha a realidade de grandes museus do país que, por falta de pessoal vigilante e devido a desarticulação de serviços, se vêem obrigados a fechar (tanto algumas salas de exposição como em horas especiais). O Museu Nacional de Arte Antiga já no Domingo passado esteve semifechado, e as palavras da Ministra da Cultura confirmam a «situação de colapso provocado pela falta de atenção do Instituto dos Museus e da Conservação» (IMC), ainda sublinhando que «não há a mais pequena responsabilidade do Ministério da Cultura neste assunto». Mãos lavadas em assunto cultural!...
2. O director do IMC prefere não comentar a acusação de “esquecimento” de sua parte em manter os mínimos da “precariedade cultural” no solicitar atempadamente ao Ministério da Cultura a requisição da prorrogação dos contratos para este, por sua vez, se dirigir com “pressão” ao das Finanças a “mendigar” a sustentabilidade apertada das portas abertas dos museus. A resposta, no dizer da tutela da Cultura, “é natural que demore alguns dias” (semanas?). A certeza é de que até chegar a solução (sempre retardada e provisória… com excedentários provisórios?), uma parte expositiva dos museus pode estar encerrada (provisoriamente!), indo por água abaixo tanto esforço e investimento em captar os (já de si) difíceis PÚBLICOS.
3. A situação é de tal maneira apertada que o director do Museu Nacional de Arte Antiga considera a nomeação de vigilantes «um balão de oxigénio!» No meio de toda esta provisoriedade, não deixa de ser interessante a existência de reclamação de público detectada no Domingo passado, sinal (apesar das limitações) de louvável esforço no divulgar da fundamental abertura dos museus e património às gentes. Desta situação, todos declaram convictamente que O PROBLEMA É ANTIGO, num país ainda à procura da sobrevivência onde é “tese” a cultura vir sempre depois, se houver tempo e no infalível dogma da provisoriedade. Neste panorama, como é possível a (essencial e definitiva) abertura cultural das mentalidades em que os museus façam parte da vida das gentes e cidades e estas sintam-se “em casa” nos seus (amados ou tantas vezes esquecidos?) museus?
4. No fundo, o dinheiro existe sempre para o que se considera que é importante. Que o diga a (pós)cultura do futebol, falado em todos os lados!... Como (nos) sentimos (n)os museus, e como eles estão com o seu património histórico-cultural no centro das nossas cidades? Como transferir públicos dos centros comerciais para os centros culturais?! Talvez seja de concluir que muito do futuro (humano) passa hoje pelo modo como (vi)vemos os museus e o património que temos à nossa volta. Quando não seremos estranhos em casa!

Alexandre Cruz

Banco Alimentar


UM BOM ENSAIO
DE SOLIDARIEDADE


Quem nunca fez uma experiência de solidariedade não sabe o que perdeu. O facto de nos sentirmos com capacidade para partilhar o que temos, mormente o nosso tempo, é de uma riqueza interior que nem tem explicação. Por isso, acon-selho essa vivência, nem que seja, e já não é pouco, colaborar, simplesmente, num peditório.
O Banco Alimentar Contra a Fome está a organizar mais um peditório anual de recolha de alimentos junto das superfícies comerciais. É nos dias 1 e 2 de Dezembro que tal acção vai acontecer. E para isso precisa de gente que se disponibilize para colaborar, nas diversas tarefas que essa recolha impõe. Se tem um tempinho livre, inscreva-se no CUFC, junto à Universidade de Aveiro. Depois, tudo será fácil.

GAFANHA DA NAZARÉ: Subsídios para a sua história

A partir de hoje, passarei a publicar alguns escritos, que mais não são do que modestos contributos para a história da Gafanha da Nazaré. Serão escritos despretensiosos, objectivos quanto possível, já publicados em circunstâncias especiais. Outros resultam de intervenções em palestras, colóquios e encontros de jovens e menos jovens. Quem me ouviu ou quem me leu há-de verificar, no entanto, que não faltarão, agora, alterações aos textos, resultantes, naturalmente, da evolução dos tempos. Por norma, modifico bastante a minha escrita, sempre ao sabor da maré, mas faço-o no respeito absoluto pela essência do que primeiramente publiquei.
Penso que a história da Gafanha da Nazaré, como das outras Gafanhas, ainda está por fazer. Há muita gente que escreve, mas falta, indubitavelmente, uma recolha criteriosa do que há, publicado ou na memória de muitos gafanhões, porque as actuais gerações precisam desse trabalho. De diversas pessoas tenho recebido incitamento para tornar público os vários escritos que a vida dos gafanhões me suscitaram. Confesso, no entanto, que tenho andado um pouco indiferente a esses apelos. Por comodismo, sobretudo. Mas prometo que não deixarei de pensar nisso.
Hoje, portanto, aqui deixo a promessa de começar a publicar no meu blogue o que considerar importante para a história deste povo, na certeza de que estarei a homenagear quantos aqui nasceram e quantos, vindo de todos os recantos do País, fizeram as Gafanhas, à custa de suor e lágrimas. Mas também de alegrias, pela certeza de terem ajudado a dar vida a uma terra que fica no coração de quem um dia a conheceu.
Ainda quero deixar um pedido a todos: As contribuições dos meus leitores são indispensáveis.

Fernando Martins

Semana dos Seminários








Seminário de Santa Joana Princesa, uma jóia a preservar…

O Seminário de Santa Joana Princesa, em Aveiro, é uma jóia a preservar, para dar vida a projectos de formação, que enriqueçam quantos acreditam que nem só de pão vive o homem.
Estamos a viver, até domingo, a Semana dos Seminários, o que nos obriga a pensar um pouco na importância destes edifícios, onde há décadas a alegria esfuziante de muitos jovens, a reflexão e o estudo se tornavam imagens de marca. Desse ambiente e de quantos se envolveram nos projectos de formação dos Seminários nasceram os padres que hoje servem o povo de Deus, mas também muitos outros que, sentindo que a sua vocação não era o sacerdócio, partiram para a vida com hábitos de trabalho, cultura e valores humanos que são, sem dúvida, uma mais-valia para a sociedade.
Hoje, com projectos e formações muito diversos, mas também com menos jovens a aderirem à vocação da disponibilidade total para servir as comunidades católicas, os Seminários sentiram a premência de se reconverterem, sem, porém, abdicarem dos caminhos que levem a valorizar quantos desejam saber mais, para mais eficientemente contribuírem para a elevação moral, espiritual e cultural da sociedade. Por isso, se não há tantos jovens, eventualmente, a caminho do sacerdócio, há outros jovens, de todas as idades, à procura do saber. Em Aveiro, o ISCRA (Instituto Superior de Ciências Religiosas) assumiu a tarefa de dar mais vida ao Seminário de Santa Joana Princesa, proporcionando formação a clérigos e a leigos, da diocese e de outras regiões do País. Para além disso, os serviços diocesanos garantem ali a realização de várias acções abertas a todas as pessoas ou apenas aos seus membros, o que mostra, à evidência, que, afinal, o edifício do Seminário, com mais de meio século de existência, tem certezas de sobrevivência, na plenitude da razão de quem o sonhou.
Uma sugestão aqui fica, dirigida a todos: vale a pena passar por lá para apreciar o edifício, belo e típico exemplar da arquitectura dos anos 50 do século passado, mas também para sentirem e constatarem o palpitar de vida cultural e espiritual que enche claustro (há exposições permanentes e temporárias) e salas de aula.

Fernando Martins

Arte Nova


CASA MAJOR PESSOA VAI SER ABERTA AO PÚBLICO
Por notícia da Rádio Terra Nova, a Casa Major Pessoa vai ser aberta ao público, passando, em breve, a Museu da Arte Nova, em Aveiro. O empreiteiro, depois de ter concluído as obras de recuperação e restauro, já entregou as chaves à Câmara Municipal de Aveiro, pelo que num futuro próximo aquele edifício ficará à disposição dos aveirenses e dos turistas, sobretudo dos admiradores da arquitectura e da Arte Nova, em particular. Esta é, sem dúvida, uma boa notícia, ou não tivesse sido a Casa Major Pessoa, no Rossio, durante muitos anos, um triste exemplo do abandono e da degradação.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

AÇORES: Ilha de S. Jorge


FAJÃ DO OUVIDOR
Aqui está mais um postal que me chegou dos Açores, mais concretamente da ilha de S. Jorge. Fajã do Ouvidor fica em Velas e oferece, a quem por ali aparecer, vistas bonitas, que são um desafio a artistas, de várias áreas, para que as mostrem ao mundo... Por mim, limito-me a apresentar o que me vai chegando por empenho do meu leitor João Paulo, o que agradeço. Seria tão bom que outros leitores do meu blogue colaborassem... Mas esse dia há-de chegar, estou em crer.

Na Linha Da Utopia



“PORQUE NÃO TE CALAS!”

1. O original da frase é em espanhol. Este é mais um “refrão” que fica da diplomacia internacional destes dias. Na recente cimeira ibero-americana, diante da não respeitabilidade de regras civilizadas pelo presidente venezuelano, o verniz estalou; mas, ao mesmo tempo parece que tudo vai continuar na mesma, não se notando tanto qualquer mudança de atitude. Quem aplaude é o (pai Filed) presidente cubano que sente o legado garantido de uma linha de pensamento e acção para quem os males sociais são o discurso triunfante… E como em todos os sistemas e sociedades esses males (da pobreza e da desigualdade) infelizmente estão sempre garantidos, então parece mesmo que essa perpetuação de algumas figuras ditatoriais no poder persistem; é o que vamos assistindo no progressivo fechamento da Venezuela…
2. Hugo Chávez vai copiando Fidel Castro, tanto na longevidade do discurso que quebra todas as regras das sessões comuns (da vida em comunidade política), como na irreverência perturbadora da ordem da normalidade. Diante da má educação sempre espectacular para dar vida à Cimeira dando nas vistas gritando umas coisas, nesse momento, várias vezes o primeiro-ministro espanhol apelou ao respeito dos princípios do “diálogo”, todavia, esta uma palavra que se vai asfixiando no dicionário dos lados venezuelanos. No feio panorama, o rei de Espanha procura salvar a honra da pátria, em palavras na generalidade aprovadas pelo bom senso da análise mesmo internacional. Quanto ao resto e aos outros presentes, o “silêncio diplomático” e o salvar da pele pessoal da sua própria nação, continua a imagem da marca política, demonstrativa que estamos muito longe de uma Verdade democrática efectivamente conhecida e reconhecida…
3. Mas o mais importante no meio de tudo isto será mesmo o verbo “calar”, que nos desperta para as fundamentais condições do diálogo. Este exige momentos de silêncio e de palavra. O entrelaçar desordenado, e nada educado, do corte da palavra do outro deita a perder toda a democracia eleita que se representa. Para esses lados da Venezuela “eleição democrática” também parece conceito em perigo, e o espectáculo internacional de Chávez vai sendo reflexo do caminho prolongado no poder onde se pretende chegar. Pior ainda (e existe quem o absolva por tal razão), será dizer-se que só por Bush ser “mau” e por Chávez ser contra-americano, então está tudo bem. Para mal dos pecados, o rei de Espanha terá de ter razão (no conteúdo): o calar, o fazer silêncio, o ouvir, será de ser uma base mínima para o “jogo” político-democrático. A Venezuela de Chávez ainda terá esses mínimos?! Não chega minimamente iludir-se e dizer que os portugueses na Venezuela estão bem. Como se estivessem…!

Alexandre Cruz

domingo, 11 de novembro de 2007

ARES DO OUTONO


ORAÇÃO


O Outono é Primavera
Frutificada. E o sentimento
Do amor,
Cristalizando,
Tornou-se incandescente.
É o coração aceso
De Cristo,
O novo Sol.

Teixeira de Pascoaes


In “Últimos Versos”

CONVÍVIO NO STELLA MARIS




ENCONTROS LEVAM-NOS A OUTROS TEMPOS E LUGARES


Realizou-se ontem, no Stella Maris, o anunciado encontro de convívio, promovido pela direcção daquela instituição da Igreja Católica, vocacionada para o apoio, a vários níveis, aos homens do mar e da ria e suas famílias. Foram muitos os que aderiram a esta iniciativa, ou não houvesse, como mesa de fundo, um jantar à moda serrana, animado por belíssimos fados de Coimbra, interpretados por quatro gafanhões de gema, que há muito teimam, conseguindo, manter vivo o gosto pela canção coimbrã na região.
A organização sentou-me numa mesa, onde foi fácil cultivar amizades, à roda da sopa de castanhas e da vitela à serrana. Com vinhos também daquelas bandas, mais doces, fruta e castanhas assadas, que as vésperas do S. Martinho recomendavam. Digo que foi fácil cultivar amizades porque um casal, que ali me foi apresentado, era mesmo um casal caramulano, com gosto pela serra de tantos matizes e de tantas lendas e tradições. Não foi difícil, por isso, falar do Caramulo e lembrar passeios e vivências experimentados por mim, com o prazer que me vem de procurar uns ares bem diferentes dos ares marinhos que respiro desde o nascimento, aqui na Gafanha da Nazaré, terra que o mar e a ria beijam por todos os lados.
O Caramulinho, um golfinho magicamente feito pedra granítica, que certo dia fugiu do mar sem se saber como nem porquê (não teria o mar andado por ali?), os tempos dos muitos tuberculosos, também gafanhões, que procuraram cura nos sanatórios caramulanos, hoje todos desaparecidos, com um reconvertido em lar e outros em unidade hoteleira, as aldeias que insistem em existir em qualquer recanto serrano, as lendas de lutas entre cristãos e sarracenos, com a festa das cruzes a assinalar e a manter viva e expressiva uma certa união, as pessoas e os sabores e saberes de gente que ainda vai tendo todo o tempo do mundo para recordar, de tudo um pouco se falou neste jantar de convívio do Stella Maris.
Ainda houve espaço para trazer à memória Jaime de Magalhães Lima e o seu livro “Entre Pastores e nas Serras”, onde sobressaem as belezas do Caramulo, que o multifacetado escritor calcorreou pelo deleite do contacto com a serra e pessoas com quem se cruzou. Mas disso falarei noutro momento, já que é uma pena não ser conhecido este belo escrito intemporal do “franciscano eixense”, que foi, sem dúvida, um precursor do espírito ecológico entre nós. E no fim da azáfama da conversa, enquanto se comia e bebia, sem exageros que não estamos em tempos disso, vieram as canções coimbrãs, de melodias simples, de que todos gostam, e de poemas cheios de sabedoria, que outrora interiorizámos, ao ponto de todos as trautearmos com vozes nem sempre afinadas. Mas que importa essa desafinação, se afinados estavam os nossos propósitos de ajudar o Stella Maris, de âmbito diocesano e com sede na Gafanha da Nazaré, a unir pessoas, de todas as idades, para melhor servir os homens do mar e da ria e seus familiares, como sublinhou o presidente da direcção, o diácono Joaquim Simões?
Fernando Martins

Na Linha Da Utopia


E os Idosos (que seremos)?



1. Temos de conjugar na primeira pessoa do plural. A abordagem à realidade da pessoa idosa (em Portugal), para ser integral e mais capaz, terá de ser realizada numa envolvência afectiva em que ao falarmos da pessoa idosa falamos de “nós”, do presente ou das expectativas futuras. Tantas vezes, arrepia a “frieza” insensível com que se abordam estas questões relacionadas com a comummente designada “terceira idade”, numa visão prática e quantitativa das coisas como se de pessoas (de nós próprios, dos que falamos e dos que decidimos!) não se tratasse.
2. Há dias foi notícia que, em Portugal, em média, as autoridades competentes, encerram um Lar de Idosos por semana. Nessa mesma notícia (Diário de Notícias, 9 de Novembro), revela-nos o presidente do Instituto de Segurança Social, Edmundo Martinho, que “a esmagadora maioria são ilegais, sem qualquer tipo de alvará”. Solução encontrada: Lar fechado e distribuição dos utentes pelas instituições na área de proximidade, parecendo que tudo fica resolvido… Segundo aquele responsável, este ano o Instituto “já fechou cerca de cinquenta casas”.
3. Se esta é uma problemática emergente nas nossas sociedades (de longevidade) ditas de ocidentais que começa a ser acompanhada em termos de estudos (gerontologias e geriatrias), já a resposta social continua nos moldes antigos, assente numa boa vontade e numa confiança que nem sempre merece esses créditos. Ao abandono da pessoa idosa, uma triste ‘imagem de marca’ da pobreza da nossa sociedade, muitas vezes corresponde também um oportunismo negocial que não garante uma dignidade correspondente... Área muito sensível, mas em que mesmo situações de “esquecimentos” nessas casas também têm sido detectadas pelas entidades. Mas, seja dito, a sua decisão “encerradora” não acrescenta qualquer solução para as “vítimas” de todo este complexo mundo que é o acompanhamento da pessoa idosa.
4. Quantos idosos nos lares sem visitas de familiares há tantos anos (já foram feitas as partilhas!)?! E como outras sociedades (por exemplo, africanas e islâmicas) nos dão a lição de não tirar de casa aqueles que a construíram e que são os depositários da cultura e da tradição das histórias e dos valores que garantem a ponte com as novas gerações! E quanta gente (sem qualquer apoio significativo nesse trabalho heróico) dá a sua vida nessa generosidade incansável, dia e noite, nesse aconchego caloroso da companhia matando a solidão gerada por um sistema de sociedade por vezes tão competitivo quanto frio! E como são tão complicadas as “papeladas” das promessas de subsídios político-financeiros, papéis que fazem os irmãos idosos desistir dessa gota de água para o seu “oceano” dos medicamentos!...
5. Como vamos estamos habituados, “fechar” é fácil, e depois?! Não haverá mais tempo, apoio, formação, …para as transições de regimes?... Heróicas as instituições e as casas que nestas décadas são a “casa de família” dessa multidão silenciosa que nos deu a vida e que de outro modo mergulhariam, resignadamente, na solidão que mata!... Não (os) esqueçamos, nestes assuntos, estamos a falar de “nós” e do futuro social. Só semeando poderemos colher… Há qualquer coisa de injusto, perturbador e de inconsequente na nossa sociedade (de todos) a este respeito...

Alexandre Cruz

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 46



A VELHA DA CHANQUINHA

Caríssima/o:

Como todo o jovem que se prezava à época, fui convocado para a tropa – avancei para Mafra! Feito o COM, passei fugazmente por Tancos e fiquei sediado na Ota, de onde, a um mês da disponibilidade, me enviaram para S. Jacinto.
Mas ainda hoje – e saiba-se lá porquê?! - Mafra se sobrepõe e apaga a memória dos outros lugares.
Será que as lendas nos ajudam a compreensão?

1. A Velha da Chanquinha - « A criação da Tapada Real de Mafra deu origem a várias lendas, entre as quais se pode referir a história da Velha da Chanquinha.
Diz-nos esta lenda que havia uma velha que vivia no seio da Tapada, num local a que hoje se chama "Currais da Chanquinha".
O Rei, com o objectivo de a convencer a sair dali, ofereceu-lhe um barrete cheio de moedas de ouro. Por sua vez a velha, como gostava muito das suas terras, ter-lhe-á oferecido dois barretes cheios de moedas de ouro para de lá não sair.
Porém, ainda segundo a lenda, a velha lá foi obrigada a abandonar aquele local, tendo ido viver fora da Tapada para uma povoação que, devido à sua teimosia, ainda hoje é chamada A-da-Perra (Lugar da Teimosa). » (de uma publicação da Câmara Municipal de Mafra)
2 . Ratos e túneis gigantes - Muitas são as lendas em torno do Palácio de Mafra mais ou menos aterradoras. A da existência de enormes ratazanas nos subterrâneos é a mais popular, e aquela que mais se confunde com a realidade. Quando se fala no Palácio, logo há quem conte histórias tenebrosas com ratos à mistura, como a dos dois soldados que teriam sido devorados pelos roedores quando tentavam exterminá-los - não teria sobrado nada, nem mesmo o metal dos lança-chamas que empunhavam. Ou como a do pessoal da Escola Prática de Infantaria que alimentava os ratos com cadáveres de gatos e cães, e até com o de uma vaca pendurada por cordas, a qual teria ficado reduzida a esqueleto em escassos minutos. Para descanso de uns e, quiçá, desencanto de outros, os subterrâneos do Palácio de Mafra foram explorados à exaustão e não deram mostras de serem habitados por ratazanas fora do normal. Um ou outro ratinho, mas não mais do que seria de esperar numa zona de esgotos.A existência de um túnel que, supostamente, ligaria o Convento de Mafra à Ericeira e por onde teria escapado o Rei D. Manuel II rumo ao exílio a 5 de Outubro de 1910, pertence também ao domínio do imaginário. De facto o túnel existe, mas não passa da Vila de Mafra, tendo sido construído para escoar os esgotos do Palácio.»

[In Blog da Sabedoria]

Lendas magníficas sairiam do bornal do Ângelo e de outros Amigos que em paragens mais longínquas militaram. Venham elas!

Manuel

TODOS SOMOS CO-RESPONSÁVEIS PELO CRESCIMENTO DA IGREJA



Pediu Bento XVI aos bispos portugueses

É preciso mudar o estilo de organização e a mentalidade dos membros da Igreja Portuguesa


“É preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado, tendo em conta que todos somos um, desde quando fomos baptizados e integrados na família dos filhos de Deus, e todos somos co-responsáveis pelo crescimento da Igreja” – pediu esta manhã (10 de Novembro) Bento XVI aos bispos portugueses.

Leia mais na Ecclesia

sábado, 10 de novembro de 2007

QUASE LHES PERDOO OS 80 MILHÕES



Não sei o que se passou exactamente em Fátima em 1917. Sei que os "videntes" não viram Nossa Senhora no sentido do nosso ver terreno, como quando vemos as plantas ou o céu ou as pessoas.
Embora se possa ser católico e não acreditar em Fátima - pude constatar que teólogos estrangeiros eminentes, de visita a Portugal, não manifestaram interesse em ir lá -, não me custa aceitar que tenha havido aí uma experiência religiosa, mas, evidentemente, no horizonte de compreensão próprio de crianças e no quadro de esquemas de uma religiosidade popular. Assim se explica, por exemplo, que Nossa Senhora tenha "mostrado" os horrores do inferno aos pastorinhos, o que não é uma atitude particularmente maternal, quando se pensa em crianças de 10, 9 e 7 anos. Aí está um exemplo de religião sacrificial e dolorista, como se transmitia nas pregações da altura. Isto significa que o Evangelho é que deve ser a medida crítica de Fátima e não o contrário.
Seja como for, Fátima impôs-se, e de modo impressionante, a nível nacional e internacional. Ali se congregam multidões de milhões de pessoas. A quase totalidade dos portugueses já passou por lá, e as peregrinações são diárias. Há pouco tempo, um jornalista atirou-me, provocatoriamente: "Nossa Senhora de Fátima é a maior mulher de Portugal, a mais influente." Eu diria que sim, sendo depois preciso analisar essa influência.
Em princípio, é uma influência positiva. Há excessivo sofrimento no mundo: físico, material, moral, psíquico, espiritual... E Fátima, como diz frei Bento Domingues, é o cais de todas as lágrimas dos portugueses. Ali vão buscar alguma paz, alívio, conforto, conselho, esperança. Ali desabafam as suas mágoas. Quem melhor do que "a Mãe" poderá entender o que se passa no coração dos homens e das mulheres? E aí está a razão por que, pelo menos em parte, Fátima passa ao lado do "controlo" da hierarquia. As pessoas vão lá numa relação muito íntima, pessoal e única, com Nossa Senhora e com Deus. E ninguém tem nada com isso. Ainda estou a ver na televisão: quando o cardeal Sodano começou a "revelar" o "terceiro segredo de Fátima", os peregrinos continuaram, serenos, nas suas devoções e nos seus diálogos com "a outra dimensão".Inaugurou-se no dia 13 de Outubro a igreja da Santíssima Trindade. Fui confrontado com a pergunta do escândalo: Como é possível gastar ali 70 milhões de euros (80, com os acessos)? Não há tantos pobres? (É realmente uma vergonha nacional haver dois milhões de pobres - desses, 700 mil têm de (sobre)viver com seis euros por dia).
Costumo responder que se deveria ser mais contido nos gastos. Como diz Carlos Fiolhais, os portugueses gostam de conjugar o verbo derrapar, e até em Fátima houve derrapagem de 40 para 70-80 milhões de euros.
Mas também não tenho uma visão miserabilista da existência. O Homem não vive só de pão. Depois, quem pagou são os peregrinos, que têm direito a algum conforto. Que dizer do desperdício do excesso de estádios de futebol vazios?
Acima de tudo, foram convocados artistas de renome, nacionais e estrangeiros, e o que resultou é simplesmente belo. Agora, Fátima é um conjunto harmonioso no seu todo, que alguém já comparou a um barco. Ah!, aquele Cristo crucificado no interior da igreja, meio selvagem, fixando, de olhos abertos, cada um: ele é a mensagem de convocação para a Vida e a Liberdade; aquela Virgem, finalmente uma jovem rapariga airosa, de braços abertos acolhedores; aquele grande painel do presbitério, símbolo da Jerusalém Celeste: a esperança da Humanidade com Deus e a sua glória!
Jesus foi confrontado com o luxo de uma libra de perfume de nardo puro - o seu preço correspondia a um ano de salário - que uma mulher lhe derramou sobre a cabeça. Os discípulos ficaram indignados: "Para quê este desperdício? Podia vender-se por bom preço e dar-se o dinheiro aos pobres." Jesus respondeu que não faltariam oportunidades a quem lhes quisesse fazer bem.
A religião sem a beleza é inverdadeira. Sem o gratuito - a graça -, é uma desgraça.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

POR CADA SEMANA É ENCERRADO UM LAR DE IDOSOS

Presidente de IPSS escuta utente de lar (foto do meu arquivo)

As notícias de hoje dão conta de que por cada semana encerra um Lar de Idosos. Inexistência de alvará e falta de condições para ser desenvolvido um trabalho competente e digno do respeito de que precisam os utentes estarão na base das decisões dos departamentos do Estado que superintendem nestas questões.
Paralelamente a estas situações, há registo de maus-tratos e de explorações em alguns lares, onde se esperava que houvesse um ambiente acolhedor, marcado pela bondade, pela compreensão, pela atenção sem limites, pela disponibilidade caritativa. O idoso, que tanto deu, normalmente, à sociedade, em geral, e à família, em particular, precisa de carinho e de cuidados especiais e próprios de quem se sente retirado do seu “cantinho”. Não está numa pensão qualquer, muito menos num armazém de velhos que esperam simplesmente pela morte. Pode ter sido abandonado pela família e pelos amigos, o que acontece frequentemente, mas não pode nem deve ser esquecido pela sociedade. Aqui, portanto, o Estado tem a obrigação de estar atento a casos muito tristes de exploração a tantos níveis de que sofrem alguns idosos.
Já visitei, em trabalho jornalístico e de dirigente da solidariedade social, muitos Lares de Idosos. Uns que são autênticos modelos de bem tratar os utentes, mas outros que não passam de caixotes do lixo, para onde atiraram os idosos, quais trapos velhos que urge arrumar num canto, para que ninguém mais os veja. Para que sejam pura e simplesmente esquecidos. Para que se tornem mortos vivos, com os olhares perdidos em horizontes sem luz… e sem vida digna. Por isso, o meu aplauso para quem trata os idosos como pessoas, mas também para os serviços que estão atentos a quem não respeita os utentes dos Lares.
Fernando Martins

INCÓMODOS DA ESCOLA PELOS RESULTADOS CONHECIDOS


Os problemas da educação e da escola, ao lado dos da saúde, são entre nós os mais preocupantes para as pessoas. Não são os únicos, mas certamente os que mais doem.
Com dados do Ministério publicaram-se, a nível nacional e por escolas, resultados do secundário e de português e matemática do 3º ciclo, do ano escolar 2006/2007. Há sempre quem critique esta publicação e quem elogie a coragem de se fazer. Leituras diversas e carregadas de conceitos e preconceitos, consoante de onde o vento sopra.
Um dado que se vem afirmando em cada ano, e no ano que terminou foi ainda mais eloquente, refere-se aos resultados das escolas privadas, em confronto com os das escolas estatais. Tal confronto não agrada aos que, de há muito tempo, vêm denegrindo o ensino particular, e ponho neste campo alguns responsáveis dos sindicatos de professores. Nem agrada àqueles que vão asfixiando estas escolas, cortando turmas, regateando acordos, demorando pagamentos, multiplicando inspecções, calando legítimas opções dos pais, exigindo coisas, em relação às quais fazem vista grossa quando se trata das escolas do Estado. Esta atitude é a do Ministério e dos seus executivos, desde as direcções regionais às distritais, incluindo ainda alguns zelosos responsáveis locais, vizinhos do lado de uma escola com êxito e criatividade, mas que escapa à sua jurisdição. Tudo sugere alguma reflexão com dados que escapam a muita gente, não esquecendo que é complexa a grelha de leitura dos resultados finais.
O ensino privado responde aos requisitos legais e não é um favor do Estado. É um direito constitucional e, por isso mesmo, democrático e merecedor de respeito e apreço. Constitui um serviço público e, pelo que se vê, no seu conjunto com algum êxito e reconhecida qualidade. Não se pode considerar meramente supletivo do Estado, como alguns teimam em o afirmar. Um serviço diversificado, que vai de escolas reputadas dos meios urbanos com contratos simples, e longas listas de pedidos de inscrição, até às escolas de dimensão média, disseminadas pelo país, muitas delas com contratos de associação, dispensando aos seus alunos, a par das do Estado, ensino gratuito.
A rede pré escolar, com muitas escolas privadas e atendendo à dupla dimensão escolar e social, por isso mesmo com prolongamentos normais de horário, exigência à qual o Estado acabou por ter de se vergar, foi durante anos rede quase única ao encontro dos pais. Sofre agora um tipo de depreciação, que vai até à dispensa dos seus serviços, em troca de medidas pouco realistas e pressões ideológicas e profissionais, a que o governo se tem vindo a submeter e a que procura dar soluções de gabinete.
No furor da revolução militar assaltaram-se escolas privadas de vilas e aldeias que, por esse país fora, levaram durante décadas o ensino para além do elementar ao povo e permitiram a muita gente humilde ter acesso à universidade e a empregos qualificados. Depois criaram-se escolas estatais, inviabilizando as já existentes. O país empobreceu-se com esta duplicação dispensável e injusta, que o colectivismo estatal exigia e a Constituição socialista procurou consagrar. No fundo, um ataque claro à Igreja, por parte daqueles que se incomodavam pelo seu serviço aos mais pobres.
Fez-se crer que as escolas particulares eram elitistas e para os ricos. O atrevimento da ignorância e da má fé! Se havia e felizmente ainda há escolas mais qualificadas, será que isso é ou foi alguma vez um prejuízo para o país? O Estado tem como dever garantir a todos educação e ensino qualificados. Que o faça quem melhor o pode fazer, sem que os pais, que pagam os seus impostos, sejam onerados pela escolha da escola. Por essa Europa muitos já perceberam que o Estado, se não pode descuidar a educação, não tem que ser ele, necessariamente, o educador de crianças e jovens. Educar é missão de quem melhor a sabe e pode realizar. É a isso que os alunos têm direito.
Dignificar os professores porque indispensáveis, embora a escola não exista por causa deles; inovar, porque sem criatividade nada se qualifica; dar à escola autonomia administrativa e pedagógica, porque só assim se pode educar e melhorar o ensino. Há que respeitar quem trabalha e tem resultados. O país precisa de quem o dignifique e enriqueça.
António Marcelino

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

ARES DO OUTONO


Cada arbusto, por mais simples e modesto que seja (se é que há arbustos simples e modestos), é um mundo de cores variadas e de formas incrivelmente belas. Como este arbusto do meu quintal, visto em dia claro, como foi o de hoje. Vejam a variedade de tonalidades, de formas, de espaços esparsos por onde se escoa a luz, como que à procura de gente.

Na Linha Da Utopia



FERNANDO VALENTE, A HOMENAGEM


1. É com emoção que estas palavras são escritas. Afinal, a todas as expressões de arte pertence a emoção sensibilizante, essa que nos transporta para uma nova dimensão de recriar o tempo e reinventar as possibilidades da história. Já passaram dez anos, parece que a notícia chocante aconteceu “ontem”. A história da música portuguesa recente regista e assiná-la o nome de Fernando Valente. Uma valentia surpreendente e irreverente inscrita naqueles que habitam o génio, este que, vivendo da superação contínua, não tem quaisquer fronteiras nem barreiras, antes anseia ardentemente por todo o futuro…
2. Aveiro presta homenagem a uma vida que começou em Canelas (Concelho de Estarreja), terra de músicos centenários que respira o ritmo da Banda Bingre Canelense, colectividade fundada em 1865 (com 141 anos de actividade ininterrupta, sendo a associação mais antiga do concelho). O génio nasce (sempre) simples, vivendo e vendo a sua terra, observando as suas gentes e daí retirando o horizonte da aprendizagem, agarrando a decisão de avançar e escalar a paixão musical, trazendo para a ribalta um instrumento pouco animado em Portugal, o Saxofone. Aveiro acolheu o aluno, o músico, o compositor, o docente nos Conservatórios de Música, de Aveiro e de Águeda.
3. Há 20 anos, na linda terra de Canelas, não esquecemos (pessoalmente) a alegria do Compasso Pascal, que ao chegar a casa do Fernando Valente (quando ele tinha possibilidade de estar) a música do seu saxofone genial transparecia esse espírito pascal festivo! Essa sua energia e alegria contagiantes marcaram os dias e os serões de Aveiro. Os bares da cidade, “hoje”, acolhem e celebram a vida daquele que não deixou que a arte cristalizasse na sala de aulas ou no auditório musical elitista. Uma certa “boémia cultural” une-se a uma visão da cultura popular, para todos, não só para alguns, ideal este tão necessário também para a vida das “gentes” contemporâneas e que se encontra bem espelhado na obra de George Steiner (A Ideia de Europa, Gradiva 2005), quando ele diz que “nos cafés e nas avenidas”, aí está inscrita a ideia cultural da Europa das pessoas concretas.
4. Fernando Valente, como que à descoberta, assumiu ser precursor na área musical dos instrumentos de sopro, a coragem de “sair” (para aprender mais), correndo os ares musicais da Bélgica, Espanha, França e Holanda (Amesterdão), cidade que ficará agarrada eternamente ao seu nome no famoso Quarteto de Saxofones de Amesterdão, e que o conduzirá à criação do Quarteto de Saxofones de Aveiro (em 1993). O homem português do Jazz, José Duarte (hoje na Universidade de Aveiro), disse sobre o seu amigo que “morreu fora de mão, em transgressão, como viveu”. José Duarte fala do contra-a-corrente na promoção da cultura musical que foi Fernando Valente, num país onde ela continua tão longe de pertencer à formação dos portugueses. Que outra forma melhor para aprender matemática que pela música?!...
5. Uma região que aprecia e celebra os seus artistas reconhece a sua identidade e cresce na universalidade da cultura e na promoção dos valores fundamentais. É esse o sinal louvável levantado pela Oficina de Música de Aveiro (por ele criada a 1997) e pelo Teatro Aveirense, contando com a parceria apreciável de entidades e colectividades que de norte a sul (e também a Amesterdão) se associam. Será de 9 a 17 de Novembro, com sede no Teatro Aveirense. Participar é engrandecer a música e Aveiro. Com a sua irreverência criativa, e no “lugar” Absoluto da melodia divina, o Fernando está connosco!

Alexandre Cruz

DIAS POSITIVOS

Generosidade dos ricos Diz um princípio clássico da moral que “não basta fazer o bem; é preciso fazer o bem bem feito”. É bom lembrar este princípio, porque de vez em quando achamos que basta fazer o bem. (São Paulo dizia que pregava a propósito e a despropósito. Os tempos eram outros. Hoje, pregar a despropósito é capaz de servir mais para criar anticorpos do que para fazer o bem). Esta reflexão provocou-a uma notícia dos jornais. A Câmara do Porto ofereceu um camião de recolha de lixo à cidade da Beira, Moçambique, e esta recusou-o. E com toda a razão. Então não é que o camião tem 25 anos, precisa de muita manutenção e, ainda por cima, tem o volante à esquerda, quando em Moçambique as viaturas devem ter o volante à direita (conduz-se à inglesa)? Os moçambicanos podem ser pobres, mas não são tontos. Fez-me lembrar que em tempos a tropical Guiné-Bissau teve navios quebra-gelos, oferecidos pela União Soviética… Só lhe faltava o Pólo Norte. Navios já tinha. Como escrevia um jornal moçambicano por estes dias, alguns países da Europa parece que querem transformar a África num depósito do lixo. Esta reflexão de outras geografias pode ajudar-nos a olhar para a nossa realidade. Quando a Diocese de Aveiro dedica o seu plano pastoral aos mais pobres e muitos cristãos o assumem, não devemos esquecer que não basta ser generoso. Há uma dignidade absoluta do pobre. E é preciso saber ser generoso.
J.P.F.
In Correio do Vouga

Semana dos Seminários

DAR VIDA AO SEMINÁRIO

"Dar vida ao Seminário, implica e pressupõe a oração intensa de toda a Comunidade Diocesana, o afecto e a generosidade que as várias iniciativas pastorais e o ofertório da Semana dos Seminários sugerem, revelam e exprimem.
Na medida em que a comunidade do Seminário seja sinal vivo de Cristo que chama novos discípulos e deles faz apóstolos do Reino, o próprio Seminário ajudará as famílias, os grupos, os movimentos apostólicos, os serviços pastorais diocesanos e as Comunidades cristãs a serem, também eles, sinais de salvação para o mundo e lugar vocacional por excelência."


Nota Pastoral do Bispo de Aveiro

AÇORES: Ilha de S. Jorge

Uma sugestão de férias 



A tranquilidade quase perfeita, sob o ponto de vista físico e emocional, pode ser usufruída em Fajã do Ouvidor, na ilha de S. Jorge, Açores. Esta sugestão de férias não é, obviamente, para quem gosta de folias e de barulho, nem para quem gosta de regressar a casa mais cansado do que quando partiu para gozar um período de descanso, longe da azáfama do dia-a-dia. É para os que acreditam que a paz interior e a fuga temporária à rotina também são importante. Para barulho e canseiras temos o resto do ano.

Francisco Sarsfield Cabral no CUFC

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GLOBALIZAÇÃO, ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO
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Francisco Sarsfield Cabral, director de Informação da Rádio Renascença e conhecido jornalista, especializado em assuntos económicos, vai estar no CUFC no dia 14 de Novembro, pelas 21 horas. Falará sobre o tema "Globalização, Economia e Desenvolvimento Humano", mas também estará disponível para responder às questões, postas pelos presentes, suscitadas pela sua intervenção.

Na Linha Da Utopia




AS (RE)VOLTAS DA REVOLUÇÃO RUSSA

1. Foi há 90 anos que ocorreu a chamada Revolução Russa. Após uma série de acontecimentos políticos nesse ano de 1917 que marcariam decisivamente o séc. XX, resultou a eliminação dos Czares e depois do derrube do Governo Provisório (Duma), e, por fim, a instauração do poder soviético bolchevique. Os objectivos estavam conseguidos: a criação da União Soviética (que duraria até 1991), pouco tempo depois do momento marcante que abre a “globalização” (com a “ponte” de João Paulo II) da abertura do Muro de Berlim (1989). Recuperando a história, a revolução Russa (1917) teve duas fases distintas: em Fevereiro (Março no calendário ocidental), o derrube da autocracia do (último) Czar Nicolau II (1894-1917); em Outubro (Novembro no Ocidente, a chamada Revolução Vermelha), o partido Bolchevique, liderado por Lenine (1870-1924) derruba o poder provisório e impõe o governo socialista soviético.
2. As motivações da referida revolução, como no fundo de todas as marcantes revoluções ao longo da história humana, terão sido a prévia concentração dos poderes. No chamado Império Russo, até 1917, reinava a monarquia absoluta dos Czares, poder sustentado pela nobreza rural que era dona da maioria das terras cultiváveis. Com a abertura (possível) dos czares Alexandre II (1858-1881, assassinado) e Alexandre III (1881-1894) à Europa Ocidental, a Rússia monárquica acolhe um desenvolvimento industrial que cedo viria a revelar as problemáticas da exploração no mundo trabalho. Eis o terreno favorável para a criação de novas correntes políticas ocidentais que chocavam com o velho absolutismo, surgindo neste contexto, sob inspiração de Marx (1718-1783), o Partido Operário Social-Democrata Russo. Este, na sua vertente bolchevique, viria a tomar o poder instaurando a União Soviética, e legando no séc. XX páginas de indigna história totalitária (a par de outras).
3. A história não pode ser apagada. Como esta da Rússia, em tantas revoluções, o absolutismo que se derruba é o poder absoluto que se levanta pela sua própria ideologia. Trágica limitação humana habitual da imposição das ideologias que apaga a liberdade de consciência... Ainda, mudam-se os tempos e os líderes vão mudando a “cor da pele”, tantas vezes, no seu oportunismo escancarado… Ou que dizer quando líderes da “cor” afirmam claramente que «hoje, só se pode ser comunista a partir de uma rejeição profunda do que foi a herança do comunismo na URSS, que foi um projecto conspurcado, uma tragédia» (Público, 7 Nov., 4.P2). Então, afinal?! Tantas vezes a história tem sido construída não por convicção mas por reacção, uma história contraditória. E se o argumento da revolução russa foi «a injustiça social, as desigualdades na distribuição da riqueza e exploração dos homens pelos outros homens» (id), então esta mesma ideia tem alimentado tantas revoluções, mas em que esses vitoriosos e defensores da causa acabam por viver o contrário da doutrina, impedindo a verdadeira justiça e igual dignidade.
4. Uma distância entre o discurso da “ideia” e a realidade prática enferma uma evolução saudável e positiva, e tem feito das “revoluções” um cavalo de batalha mais elitista que de serviço ao bem social de todos. Que novas revoluções estarão em gérmen? E quando os cidadãos se aperceberem a sério do seu poder? E como os antigos donos da revolução vão travando a nova? Que história (humana?) esta!


Alexandre Cruz

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Diálogo inter-religioso

Para quando a convivência fraterna
entre cristãos e muçulmanos? O Papa Bento XVI recebeu no Vaticano o rei Abdullah da Arábia Saudita. Em ambiente cordial, discutiram a situação das minorias cristãs nos países islâmicos, onde não são livres de viver a sua fé e de ver respeitados os seus direitos de cidadania. No entanto, nos países ocidentais, os muçulmanos são respeitados e até ajudados a cumprir os seus preceitos religiosos. É certo que se trata de culturas diferentes, mas, mesmo assim, não gostamos de saber que na Arábia Saudita, por exemplo, reina uma ditadura islâmica, capaz de menosprezar e até de perseguir os cristãos. Por isso, espera-se que o Papa consiga sensibilizar o rei Abdullah para a urgência de pugnar pela implementação de democracias tipo ocidental nos países árabes, onde as mulheres passem a ser tratadas como seres humanos com direitos iguais aos homens. Mas também que todos os árabes possam, se e quando quiserem, aderir livremente às religiões cristãs ou outras, sem sofrerem qualquer perseguição por isso. Em Setembro, 138 teólogos muçulmanos, de quase todos os países e correntes, enviaram uma nova carta ao Papa em que aproximam as concepções teológicas e os valores das duas religiões, numa clara atitude de convite ao diálogo inter-religioso, que tarda neste mundo que prega o pluralismo em várias vertentes. E num dos pontos mais significativos dessa carta chegam mesmo a propor a vivência de uma “competição” pelo amor ao próximo, quando frisam que “cristãos e muçulmanos constituem mais de 55 por cento da população mundial, o que faz com que a relação entre estas duas comunidades religiosas seja o mais importante factor para uma paz significativa no mundo”.
FM