quarta-feira, 20 de junho de 2007

Ares da Primavera

OUTROS ARES,
OUTRAS PRIMAVERAS
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Graças à gentileza da conterrânea e amiga Teresa Calção, algures nos Estados Unidos da América, publico hoje algumas fotos suas, expressamente enviadas para a rubrica Ares da Primavera. É bom saber que há sempre alguém com vontade e gosto de partilhar sentimentos e emoções com os cibernautas amantes da beleza. Este meu espaço está aberto a todos, desde que venham pela positiva. Um abraço para a Teresa, com votos de que continue, com toda a família, a gozar o prazer de sentir saudades da terra natal e amigos.
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A arte da primeira globalização

Contador indo-português
PORTUGAL ABRE EM WASHINGTON
O COFRE DOS DESCOBRIMENTOS



Com os títulos, em epígrafe, muito felizes, do PÚBLICO de hoje, Portugal vai mostrar em Washington, EUA, obras-primas da museologia universal, dos tempos em que o nosso País deu cartas ao mundo. Com os descobrimentos portugueses, Portugal protagonizou a primeira globalização, dando novos mundos ao mundo. O Presidente da República, Cavaco Silva, honrou, com a sua presença, a exposição, que vai atrair, decerto, muitos milhares de estudiosos, curiosos e simples apaixonados pela arte da época áurea da nossa história. São 250 obra de arte de mais de 100 museus.
A propósito deste acontecimento, refere o PÚBLICO, Jay Levenson, director do programa internacional do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, disse que “Os portugueses estabeleceram uma rede fenomenal de entrepostos comerciais que funcionou como um mecanismo para a produção de novos tipos de objectos artísticos”. E acrescenta: “Em África, como na Índia ou no Japão e na China, os portugueses encomendaram obras de arte para o mercado europeu. Portugal estava realmente na vanguarda da criação da arte multicultural.”
Ora, é importante que se saiba que muitas peças dessa arte estão, habitualmente, nos museus de Portugal, quantas vezes ignorados pelos nossos compatriotas. Compatriotas que, muitas vezes, passam por todo o lado, menos pelos museus.

Fernando Martins

Um artigo de António Rego

PURO ESPÍRITO DE ASSIS :
Estava na Torre da Basílica de Assis. Faltavam cinco minutos para o início e ainda não havia circuito com Lisboa. Era uma transmissão directa da Radiodifusão Portuguesa. Outubro de 1986. No largo das arcadas estava o Papa João Paulo II. Acompanhei-o na subida a pé pelas ruas estreitas de Assis, com outros responsáveis de Confissões Religiosas. Fiz, na altura, as contas e calculei em 3 mil milhões os crentes ali representados. Numa oração pela Paz. E recordo cada prece que se elevou de Assis ao Deus Universal para que os homens acertassem duma vez por todas com a porta santa da paz. João Paulo II não se sentiu nem superior nem inferior nesse encontro. Foi o seu congregador e teve a aceitação do mundo desejoso de Paz. Mesmo dos que não se encontravam muito bem com o nome de Deus mas O procuram nos sinais que os humanos podem captar e transmitir. Afinal conseguiu-se ligação. E nunca mais esqueço a transmissão de vozes e gestos que se elevaram em tons, ritmos, ritos, cores, evocativos da policromia cultural e religiosa do nosso planeta. E nem por um momento se pareceu com babilónia de religiões ou mistura anódina de credos. Tudo foi cristalinamente iluminado pelo sol poente no Vale da Umbria, com uma espécie de encontro da poeira fina da terra com o sol magnificente, de todos, no poema miraculoso de Assis. Recordo também 2002, pouco tempo depois do 11 de Setembro, com João Paulo II muito mais envelhecido e doente, e com uma violenta tempestade sobre a celebração de Assis. Wojtila repetiu o gesto, presidindo ao rito comum duma lâmpada de azeite acendida pelo representante de cada Confissão Religiosa. Em 2007, no Oitavo Centenário da conversão de S. Francisco de Assis, na sequência de João XXIII e João Paulo II, Bento XVI, em peregrinação espiritual lembrou a “intuição profética” de João Paulo II, considerando-a um “momento de graça”. E lançou um apelo veemente: “que cessem todos os conflitos armados que ensanguentam a terra, se calem as armas, e, em todo o mundo, o ódio dê lugar ao amor, a ofensa ao perdão, a divisão à união”. Puro espírito de Assis.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Medo de represálias do Governo

NUNCA PENSEI QUE TAL FOSSE POSSÍVEL
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O caso da Ota e de Alcochete tem mexido com o País. Dando o dito pelo não dito, o Governo recuou nas suas convicções e aceita repensar o assunto, logo depois de a CIP (Confederação da Indústria Portuguesa) ter apresentado um estudo liderado pelo Prof. da Universidade de Aveiro Carlos Borrego. Até aqui tudo bem. Não há mal nenhum em mudar de ideias, desde que haja razões fortes para isso.
O que me chocou profundamente foi a afirmação do presidente da CIP, Francisco Van Zeller, garantindo que não divulgaria os nomes dos investidores, os que pagaram a conta do estudo, pois os mesmos tinham medo de represálias do Governo. Incrível, numa sociedade democrática. Ainda esperei, mas não vi qualquer reacção do Governo a esta afirmação. Como quem cala consente, será mesmo verdade. Quem contraria o Governo, pode correr o risco de represálias de quem nos governa. Como é que isto é possível?
Fernando Martins

Para ler, meditar e pôr em prática

O VATICANO APRESENTA...




O DECÁLOGO DOS CONDUTORES

I. Não matarás
II. A estrada deve ser um instrumento de comunhão, não de danos mortais
III. Cortesia, correcção e prudência ajudar-te-ão
IV. Sê caridoso e ajuda o próximo em necessidade
V. O automóvel não seja para ti expressão de poder
VI. Convence os jovens a não conduzirem quando não estão em condições de o fazer
VII. Apoia as famílias das vítimas dos acidentes
VIII. Procura conciliar a vítima e o automobilista agressor, para que possam viver a experiência libertadora do perdão
IX. Na estrada, tutela a parte mais fraca
X. Sente-te responsável pelos outros
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Fonte: Ecclesia


MUSEU MARÍTIMO DE ÍLHAVO



ESCOLHA UM DOMINGO
E DEDIQUE-O AO MUSEU


Nunca me canso de visitar o Museu Marítimo de Ílhavo. Quando lá vou, como aconteceu há dias, sinto-me transportado aos meus tempos de menino. Ali recordo vivências de menino e moço em que tudo aquilo me era familiar. Filho de marítimo, aprecio com enlevo tudo quanto diz respeito ao mar. Olhar os navios, mesmo em miniatura, é entrar no Santo André, quando ele chegava da Terra Nova, carregadinho de bacalhau salgado que iria dar trabalho a imensa gente, quase de todo o País, nas secas de bacalhau, onde o fiel amigo se tornava mais saboroso. Fiel amigo, porque era, então, acessível a todas as bolsas. Hoje, importado, o bacalhau, sobretudo o de melhor qualidade, já é prato de ricos.
Ainda tenho em mim o cheiro e o sabor do pão branco, branquinho como a neve, que meu pai nos dava, à chegada. Era um pão diferente, com um sabor raro e muito agradável. Nunca nos faltou o pão, nem no tempo da guerra, mas aquele, nem sei bem porquê, era muito diferente.
No museu deliciei-me com a colecção das conchas, expostas com arte, que são um encanto ver, mais os apetrechos marítimos, que me eram, e ainda são, tão familiares. Depois, a sala das salinas, com os utensílios indispensáveis para a safra do sal, a miniatura da marinha, com os seus tabuleiros, talhos, cabeceiros e outras divisões; mais, em tamanho natural, razoila, rodo, ugalho, almanjarra, círcio e nem sei que mais. Logo adiante, a sala da Ria, com o moliceiro e a bateira, como suas velas, e a arte da construção das embarcações da laguna.
A visita, igual a tantas outras que faço ao Museu de Ílhavo, serve agora para dizer aos meus amigos que ele, com todo o seu recheio, bem cuidado e bem exposto, que o seu director, Álvaro Garrido, é um especialista destas coisas, como homem da ria que também é, ali de Estarreja, continua à espera que o povo passe por lá. Quer uma sugestão? Então, escolha um domingo, que pode ser o próximo, e dedique-o ao Museu Marítimo de Ílhavo. Verá que não perdeu o seu tempo.

Fernando Martins

Banco Alimentar Contra a Fome de Aveiro celebra aniversário



É PRECISO AJUDAR QUEM AJUDA


O Banco Alimentar Contra a Fome comemora hoje o seu 10.º ani-versário, com uma missa que vai ser celebrada pelo Bispo Emérito de Aveiro, D. António Marcelino, e com um concerto pela Filarmonia das Beiras, no Teatro Aveirense.
Para além das cerimónias e outras acções comemorativas, importa lembrar que esta instituição dá de comer, diariamente, a muitos milhares de pessoas em Portugal. Em Aveiro apoia diariamente 173 instituições e mais 30 ocasionalmente, com a prestimosa colaboração de 1600 voluntários, como noticia a Rádio Terra Nova, da Gafanha da Nazaré.
Muitos hão-de interrogar-se sobre o porquê de tanta fome em Portugal. O facto, digno de reflexão por bastantes sociólogos e outros especialistas, nunca suscitou respostas que levassem à erradicação da pobreza entre nós. Ela existe, mesmo debaixo dos nossos olhares, concluindo-se que se trata duma aceitação tácita e irreversível. “Pobres sempre os houve toda a vida; pobres sempre os teremos.” Isto é dito à boca cheia, a toda a hora, como se mais nada houvesse a fazer.
Choca-me este conformismo, palpável em cada canto. Mas nem por isso deixo de manifestar este meu desabafo, numa ânsia incontida de querer lutar contra as injustiças que causam a fome, no nosso País, a tantos milhares de compatriotas nossos e a muitos imigrantes que nem aqui conseguiram encontrar o essencial para uma vida digna.
Enquanto a justiça social não for preocupação primeira dos nossos empresários e políticos, enquanto não houver salários justos e pagos regularmente, enquanto não houver condições para que cada português possa ter o mínimo para uma vida decente, teremos de agradecer ao Banco Alimentar Contra a Fome e a tantas outras instituições e pessoas que se preocupam com os que nada têm.
E aqui fica, por isso, o apelo para que todos saibamos e queiramos ajudar quem ajuda.
Fernando Martins

domingo, 17 de junho de 2007

História na rua


HISTÓRIA NA PRAIA DA BARRA



Há dias passeei com um amigo pela Praia da Barra. Inevitável ver o mar, com barcos que saem e entram. Há sempre quem goste de ver e que até se imagine dentro de um para correr mundo, prazer de tantos dos nossos conterrâneos que andam embarcados, e não só. Apesar do ventinho agreste, havia gente na praia, estendida na areia e à espera do sol benfazejo de mistura com o iodo da maresia. Não pisámos o areal, que não íamos à moda disso, nem é coisa do meu gosto, mas deambulámos por ali ao sabor das nossas recordações de tempos que nos encheram a memória de coisas agradáveis, nem sempre ditas a quem nos ouve.
Depois parámos em frente ao obelisco, assente num largo que tem o nome de um grande homem grande, alemão, e que deu trabalho a muita gente destes sítios. Roeder, assim se chamava e assim era conhecido o fundador do Estaleiro de São Jacinto, que os administradores que vieram depois não conseguiram manter de pé, por vicissitudes várias e próprias da crise industrial que entretanto surgiu. O nome dele aqui fica, como simples mas justa homenagem, embora um pouco deslocado do sítio onde muito trabalhou e viveu, dando exemplo de uma tenacidade rara.
O obelisco, agora mais bonito, depois do restauro por que passou, é uma lição de história. Não vi ninguém a ler, ou a reler, as legendas com referências à ria e barra de Aveiro. Nós lemo-las, e com que gosto. Quem dera que outros o façam, para ao menos ficarem a saber um pouco mais do chão que pisam e da terra onde vivem ou passam férias.

Fernando Martins

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 28


A CARTA AO REI ... E AS NINFAS



Caríssima/o:


Certamente que, chegado a Coimbra ido da nossa pacata aldeia, foram muito importantes os primeiros contactos e as relações estabelecidas com os companheiros de pensão da Couraça dos Apóstolos. De dois recordo o nome: o Medina e o Eduardo. O primeiro era o típico Dux de Coimbra cuja faculdade de medicina frequentava há tantos anos que até já nem sabia quantos! O quarto e os corredores pejados de livros que devorava até a aurora romper, eram a prova da bagagem cultural que à mesa espargia humildemente. Acordou quando o pai lhe comunicou de Moçambique que lhe ia cortar a mesada! Terminou o curso num relâmpago... depois de se habituar aos horários dos exames!
O segundo era um mocito ali dos lados de Mira e que um dia abalou sem deixar rasto. Certamente que terá continuado o comércio que seus progenitores lá exerceriam... E mais não sei. Contudo, as brincadeiras e as músicas que vivemos nas tardes de fim-de-semana não mais foram esquecidas...
Anos mais tarde, a Mira fomos uma vez cumprir uma promessa de minha Sogra,...
Agora me lembrei o que estava a ficar esquecido: as nossas idas de bicicleta para visitar a minha primeira professora, a D. Zulmira. Lá íamos, em grupo, pontificado pelo Hortênsio. Grande resistência física acumulávamos nas 'canetas' pois ir e vir no mesmo dia, upa, upa... Seria das sardinhas assadas que nos serviam de almoço?
Fiquemos então com lendas de Mira.


«Permitam que nesta série intervenha o vigário Tomé Nunes Pereira de Resende, através de um excerto da carta que escreveu ao rei José I, a 2 de Maio de 1758. Pois ele aí conta a lenda de S. Tomé debaixo da amieira.
É orago e padroeiro desta freguesia o glorioso apóstolo S. Tomé, bem conhecido e nomeado por S. Tomé de Mira, pelos muitos milagres que há tantos séculos está continuamente obrando, sem afrouxar nunca nem a devoção dos fiéis nem a protecção do santo em favorecer aos que se valem do seu patrocínio, como o está mostrando cada dia a experiência. Há tradição que esta sagrada imagem do glorioso S. Tomé aparecera debaixo de um tronco de uma amieira em uns bosques ou pauis que eram ribeiros e se compunham de várias amieiras e de outras árvores silvestres e, não fica muito distante da lagoa, ainda que, com alguma distância desta vila; e há também tradição que por aquele sítio aonde aparecera o santo, se lhe não podia fazer igreja, por razão das águas daqueles ribeiros ou pauis lhe impedirem, lha fizeram em um sítio chamado hoje o Outeiro da Forca, onde ainda se vêm os vestígios de algum tanto distante do sítio aonde aparecera a dita sagrada imagem, e que, colocando-se na nova igreja o dito santo incitou os sacerdotes daquele tempo para dizer missa e os fiéis para visitar o mesmo santo, o não acharam na dita nova igreja, mas sim naquele lugar aonde aparecera, até que desenganados que o santo só naquele sítio aonde tinha aparecido queria permanecer, para nele ser Deus Nosso Senhor maravilhoso nos prodígios que por ele havia de obrar, lhe fizeram uma igreja tal qual permitia aquele sítio, ficando o altar da capela-mor no mesmo lugar aonde o glorioso santo aparecera, e a dita igreja sendo matriz desta freguesia e o dito milagroso S. Tomé padroeiro dela que, ao depois foram acrescentando conforme ia dando aquele sítio.
No início do século XX a Praia de Mira não era como hoje é. O areal era mais plano e o mar invadia mais facilmente a barrinha e esta, nas cheias, facilmente ultrapassava a lingueta que a separava do mar.
Diz a lenda que nessas ocasiões, Neptuno e as filhas Tétis e Dóris, vinham baptizar as ninfas à barrinha. Elas, após a cerimónia, ficavam transformadas em sereias que depois se dirigiam para o Atlântico.
Só que um dia naufragou ali o barco de um pescador e uma das sereias não conseguiu alcançar o mar. Alcançou-a o pescador que se perdeu de amores por ela. E foram tão intensos os beijos que trocaram que ele morreu de exaustão e sede abraçado a ela.
Então, Tétis castigou a sereia convertendo-a numa ilha à saída dos moinhos da Videira, para que a doçura da água lhe absorvesse todo o sal. Já Dóris transformou o pescador numa duna branca em forma de golfinho com o rosto virado para aquela ilha que tem o nome de Zé Arrais.
Às vezes, de noite, escutam-se os sussurros que os dois extremosos amantes ainda trocam...»
[Viale Moutinho, pg. 148]


Manuel

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

A CIMEIRA UNIÃO EUROPEIA-ÁFRICA
:
A África, com a sua magia, a sua floresta exuberante e a savana a perder de vista, o seu dia luminoso e colorido e a noite enfeitiçada, exerce fascínio sobre aqueles que por lá passam. E é sempre com um frémito que se aterra no aeroporto de Nairobi: por ali perto terá tido início a vida humana, por ali perto terá acontecido o salto milagroso do animal para o Homem, das vozes para a palavra, da oclusão do mundo para a emergência da luz da consciência.
Mas a África tem o condão dos extremos, como se estivesse ligada simultaneamente à inocência do Éden e ao terror do Apocalipse. A África subsariana transformou-se num campo de ruínas: fome, doença, analfabetismo, corrupção, colapso social, tiranias, sida, guerra, deslocados.
O drama da África é ter perdido a alma e a identidade. Foi lá que ouvi coisas temíveis. Disse-me um negro: "Com esta pele negra não se vai a lado nenhum." Outro atirou-me: "O vosso deus é mais forte do que os nossos - o vosso dá-vos tudo, os nossos deixam-nos na miséria."
Essa falta de confiança enraíza-se no tempo, essencialmente por causa da escravatura. O "tráfico dos negros", durante mais de três séculos, é uma das maiores vergonhas da Humanidade. No total, pensa-se que viveram escravizados pelo menos 20 milhões de africanos, pois no processo de escravização terão estado envolvidos uns 50 milhões, o que, como faz notar J. Moltmann, constituiu um dos maiores negócios de todos os tempos: os barcos circulavam permanentemente cheios, segundo este triângulo: armas e produtos da Europa para a África - escravos da África para a América - ouro, prata, açúcar, algodão, tabaco da América para a Europa.
Hegel, na sua filosofia da identidade, que absorve a diferença, não encontra lugar para a África. A História, que é a auto-realização de Deus, da Razão, caminha do Oriente para o Ocidente, pois a Europa é absolutamente o fim da História universal. A Ásia é o seu começo, mas a África "não é uma parte do mundo histórico": "O negro representa o homem natural, com tudo o que tem de indómito e selvagem."
Precisamente em Berlim, onde Hegel alcançou o cume da glória como filósofo, realizou-se em 1884 a famosa conferência que dividiu a África, não em função das realidades étnico-nacionais africanas, mas dos interesses coloniais.
Se, após a Segunda Guerra Mundial, os países africanos foram alcançando a independência política, isso não significou necessariamente melhoria das condições de vida das populações. Frequentemente, tudo piorou. Por exemplo, na década de 1990-1999, na África subsariana, o PIB por habitante caiu em média 0,2% ao ano e mais de 40% são pobres. Também porque, muitas vezes, dirigentes brutais esmagaram o povo e tornaram-se correias de transmissão de interesses de neocolonialismos.
Como acentuou o africano Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, os dirigentes dos países em desenvolvimento têm de defender o primado do Direito, aderir ao mercado, combater a corrupção, garantir a estabilidade da economia, seguir políticas responsáveis, cobrar impostos de forma equitativa e transparente, responder às questões pelo combate democrático e não mediante guerras intermináveis, proteger o direito de propriedade.
Por sua vez, os países ricos terão de apoiar, retirando apoio aos tiranos e apoiando um comércio justo, que alivie as taxas de importação aos produtos desses países pobres, de tal modo que não tenham de enfrentar tarifas e quotas incomportáveis nem competir com produtos subsidiados dos países desenvolvidos. Precisa-se de mais investimento e ajuda ao desenvolvimento, mas terão de ser esses próprios países a auto-ajudar-se, com projectos simples e eficazes, que parecem milagrosos, como mostraram, por exemplo, Amartya Sen e Muhammad Yunus, "o banqueiro dos pobres", ambos galardoados com o Prémio Nobel.
A Europa tem responsabilidades especiais para com a África, sendo legítimo esperar que a próxima cimeira UE-África durante a presidência portuguesa da União seja bem preparada e obtenha resultados eficazes e duradouros.

sábado, 16 de junho de 2007

Um livro de Senos da Fonseca

“ÍLHAVO – Ensaio Monográfico:
Séc. X ao Séc XX”




HISTÓRIA cheia de FACTOS…
e de GENTES…
que fizeram a HISTÓRIA DE ÍLHAVO



Ontem, na Livraria Bertrand, no Fórum de Aveiro, foi lançado o livro “ÍLHAVO – Ensaio Monográfico: Séc. X ao Séc XX”, do ilhavense Senos da Fonseca. Encarregou-se da apresentação da obra o antigo presidente da Câmara Municipal de Aveiro Alberto Souto de Miranda, que ajudou os presentes a recordarem factos históricos e curiosidades ligados a Aveiro e Ílhavo, cidades irmãs, que, por uma razão ou por outra, ou por razões nenhumas, tantas vezes andaram de candeias às avessas. Trata-se de uma obra extensa, com as suas 600 páginas a convidarem-nos a uma leitura demorada e meditada.
Apenas li alguns excertos, a correr e movido pelo gosto de conhecer depressa o que Senos da Fonseca descobriu e tornou público, com todo o seu amor à terra que o viu nascer e onde tem contribuído, com muito empenho, para o seu desenvolvimento, através de inúmeras intervenções cívicas, políticas, culturais, desportivas e sociais.
O seu trabalho, como o autor sublinha no prefácio, é tão-só “o diário de bordo de uma viagem através dos tempos, embarcado como moço na grande aventura das gentes desta terra” de Ílhavo. Aventura que começou, como bem recorda, “ainda Portugal não tinha nascido”.
Mais adiante, deixa uma dúvida: “Não sei se as novas gerações vão procurar o futuro baseando-se numa identidade que veio de trás, de muito longe.” E deixa uma esperança: “Quero acreditar que sim… À cautela, deixo-lhes o meu testemunho do que fomos, não para que acreditem, mas para que o discutam. Para que esta terra não seja só lugar de estar, mas de ser.”
Senos da Fonseca oferece a todos os ílhavos, neles incluindo os gafanhões, um trabalho que vai servir de estudo a todos quantos se quiserem debruçar para mais e melhor conhecerem esta terra maruja, quer por simples curiosidade, quer por razões académicas. Com muitas e expressivas fotos, bem documentada, com citações oportunas e enriquecida por uma bibliografia profusa, esta obra revela, para além de tudo o mais, uma minuciosa investigação, sem, porém, fugir a questões polémicas, reflectindo, aí, a sua opinião.
Claro que hoje e aqui apenas faço referência à publicação do livro, na esperança de que os ílhavos o leiam. Estou certo de que outras edições lhe hão-de seguir. Como outros estudos deste autor ilhavense hão-de vir a lume. Uma coisa é certa: voltarei ao assunto, como gafanhão que me prezo de ser, com outras referências ao que escreveu Senos da Fonseca, neste seu trabalho de muito fôlego.

Fernando Martins

COIMBRA





PASSEAR POR COIMBRA
É UM PRAZER

Passear por Coimbra é um prazer. Sempre que lá vou, por isto ou por aqui, sinto-me transportado a um lugar de peregrinação, onde em cada esquina há motivos para recordar e sinais de um passado histórico e cultural muito expressivo. Por lá viveram e estudaram muitos vultos da nossa história, desde políticos a artistas de muitas facetas, desde poetas a filósofos, desde escritores de muitas expressões a músicos, entre tantos outros.
Ontem andei por lá, sempre a olhar na esperança de me confrontar com esses sinais, mas a pressa não me deixou. De longe, no entanto, do outro lado do Mondego, o Basófias de sempre, lá para as bandas de Santa Clara, olhei para a cidade, com trânsito e mais trânsito a perturbar a nossa tranquilidade e a exigir a nossa atenção. Foi pena não ter podido passar pela velha Universidade, pela Sé Velha, pelo Jardim Botânico, pelo Museu Machado de Castro, pela conhecida Almedina, onde há dias alguém me ofereceu o livro África Acima, de Gonçalo Cadilhe.
Do outro lado, então, lá registei uma imagem que hoje ofereço aos meus leitores, com votos de que passem um bom fim-de-semana.

Um artigo de Jorge Pires Ferreira, no CV

50 perguntas sobre Jesus
:
Jesus era solteiro, casado ou viúvo? Que afinidades políticas tinha? Qual a relação de Jesus com Maria Madalena? Estas e mais 47 perguntas obtêm resposta nesta obra
:
Dizia Fernando Pessoa que “o mundo, à falta de verdades, está cheio de opiniões”. Podemos acrescentar que, à falta de verdade, está cheio de confusões. Veja-se o caso de Jesus. Sobre a figura central do cristianismo têm surgido, sucessivamente, as mais diversas teses, umas claramente estapafúrdicas, outras com aparência de ciência mas promovidas com finalidades interesseiras, e poucas com rigor histórico e científico, que levem realmente o leitor (ou ouvinte ou espectador) a aumentar os seus conhecimentos sobre a pessoa que está na origem da fé de boa parte da humanidade. Recordo algumas dessas teses. Colecciono-as com curiosidade e como sinais de que o Filho do Homem continua a ser motivo de escândalo e de especulações, de divisão. Di-zem elas que Jesus andou a aprender budismo na Índia, que pertencia à escola filosófica dos cínicos, que foi para o Egipto a aprender filosofia, que era homossexual, que era casado com Maria Madalena, que teve filhos, que não caminhou sobre as águas, mas sobre blocos de gelo, que tinha sido essénio, que era zelota, que como carpinteiro fabricava cruzes para os romanos, que não morreu mesmo mas entrou num espécie de estado de coma, que depois de morto foi levado para a Inglaterra por José de Arimateia, que foi sepultado em Jerusalém e ainda lá estão os ossos, que...
:
Leia mais no CV

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Arquivo Distrital de Aveiro


À CATA DAS RAÍZES

Há dias fui com um amigo e familiar à cata das nossas raízes. O Manuel Olívio, um apaixonado por estas coisas, gosta de conhecer quem esteve na base dos seus genes. Lê, procura aqui e ali, conversa com quem possa ajudá-lo e sente um prazer enorme quando descobre pontinhas do "iceberg" da sua família, com raízes pelas Gafanhas e terras circunvizinhas. E mais do que isso, consegue incutir em mim esse gosto e esse prazer de catar e adivinhar o nosso passado, com muito de comum. Honra lhe seja feita.
Nessas andanças, fomos duas vezes ao Arquivo Distrital de Aveiro, que assentou arraiais em Aradas. Gentilmente acolhidos, logo as funcionárias, atentas e prestáveis, puseram à nossa disposição os documentos-base, que cotejámos com curiosidade e cuidado. Com curiosidade, como quem busca um tesouro perdido algures, nem sabemos onde. Com cuidado, porque a antiguidade e a fragilidade dos documentos a isso aconselhavam.
A primeira impressão com que fiquei resume-se nisto: há aqui tanta coisa que a todos diz tanto respeito, e poucos se aventuram nesta procura das suas raízes.
Pois é verdade. E se soubermos, como decerto muitos saberão, que será sempre importante conhecer quem somos e donde viemos, para melhor construirmos o futuro nos legados que quisermos deixar aos nossos descendentes, então há que perder o receio e marcarmos lugar no Arquivo Distrital de Aveiro. Há sempre uma mesa e uma cadeira à espera de quem chega. Não faltam funcionárias simpáticas e documentos que nos fazem vibrar.

Fernando Martins

Um artigo de D. António Marcelino

O ESTALAR DO VERNIZ
E O PENSAMENTO ÚNICO
Não sou leitor assíduo de Daniel Sampaio e, sem que isso lhe retire o mérito que tem, não o vejo como guru que sabe tudo sobre educação de adolescentes e jovens, nem como mestre incontestável das melhores teorias para os compreender e orientar. Também o li e comprei alguns dos seus livros. Opinião formada, agora sou observador. Em educação não se pode nem deve esperar tudo de uma pessoa só, ainda que seja professor universitário. Os problemas da educação são complexos e não são todos do foro médico e psiquiátrico. Situação familiar, contexto social, instabilidade da escola, uso livre das novas técnicas de comunicação, permissividade alargada, crise de modelos e referências, cedência dos mais velhos, diálogo geracional raro, perda de sentido na vida, janelas fechadas ao transcendente e à esperança, tudo foi tornando o mundo da gente a educar um mundo com mais problemas que diagnósticos lúcidos e soluções à vista. Quem quiser ter êxito neste campo, tem de ser humilde para acolher e escutar, pondo de parte a suficiência intelectual e o afã das palmas e dos êxitos. Não estranhei que a Ministra da Educação, ao constituir uma comissão nacional encarregada de propor caminhos para a educação sexual nas escolas, tenha escolhido Daniel Sampaio como seu coordenador. Estas escolhas têm sempre a sua lógica. Porém, não é de aceitar, sem mais, que a proposta apresentada deva ser obrigatoriamente considerada como a única opinião válida e o caminho indiscutível para um problema urgente e grave e de solução difícil. Ao falar-se de educação sexual nas escolas, fala-se de pessoas, ambiente, conteúdos, agentes, meios e instrumentos. Neste, como noutros campos melindrosos, não se podem esquecer, nem menosprezar, elementos importantes para a sua compreensão e resposta, como são os educandos concretos e os intervenientes naturais e óbvios, aos quais esta função primariamente compete, os pais e a família. O Estado não se pode considerar, como está a acontecer, dono das crianças, dos adolescentes e jovens que frequentam as escolas estatais. Por vezes, forçado por lobbys, que no ensino escolar abundam, determina e exige. Para a execução, não lhe faltam mandatários que esgotam o seu saber e acção, controlando o que se faz e se deve fazer. Muitas vezes sem respeito por quem está em campo. Um critério os domina e orienta: o que manda a senhora ministra e os senhores secretários de Estado. Muita gente viu há dias um programa na televisão pública, sobre a educação sexual nas escolas. Teve algum mérito como estratégia, mas pareceu querer dizer ao país que, neste campo, as coisas só são aceitáveis como diz e quer a sábia comissão e o seu presidente. Foi este que, aos olhos atentos dos telespectadores, abafou opiniões contrárias, não se coibindo de puxar, a despropósito, pelos galões de professor, chegando a ser deselegante para quem opinava de modo diferente, nomeadamente uma colega de mesa com reconhecido valor nacional. Tão nervoso ficou por se ver confrontado, que lhe estalou todo o verniz. Eu não esperava isto. E tinha direito a não o esperar. Interroguei-me sobre o que se pode esperar de sábios de opinião única, que não se controlam, nem aceitam opiniões e considerações alheias. Sou por uma educação sexual séria, que não se reduza a mera informação, ajude a crescer harmoniosamente, amadurecer, discernir e optar, conte com os pais, formando-os para isso, se for caso. O ME tem de dizer se os pais contam ou não para o governo. Não pode pensar que crianças, adolescentes e jovens, em formação, não passam de terra de ninguém e massa informe, a moldar segundo modelos e valores preestabelecidos. A educação escolar, objectivos pretendidos, conteúdos veiculados, modelos propostos, estratégias escolhidas, está a ser problema grave. Há gente nas escolas, com valor e competência, a dizer que vamos por caminho errado. O ME não a ouve, nem a quer ouvir. Mas as crianças não pertencem ao Estado, nem podem ser suas cobaias. Educar é arte, arte difícil. Nem as pessoas são coisas, nem os artistas se geram por decreto.

Um artigo de João Pereira Coutinho, no EXPRESSO

OS ANJOS DO SEXO
Nelson Rodrigues costumava dizer que 'o sexo é uma mijada'. A frase sempre despertou acusações de boçalidade, sobretudo disparadas por boçais com sérias pretensões de sofisticação urbana. Lamento discordar. Lendo o homem, e sobretudo o teatro do homem, entende-se facilmente que o sexo só é uma 'mijada' quando ele surge despojado de qualquer dimensão privada e humana. Para a restante criação animal, um veterinário basta para ensinar os 'mecanismos' da 'cópula' e os 'resultados' da 'ejaculação'. Mas entre seres humanos, o sexo não é uma questão técnica; é também, ou sobretudo, uma questão de descoberta e intimidade, que nenhuma escola pode, ou deve, ensinar. Fatalmente, o dr. Daniel Sampaio não concorda com a tese e na passada semana, em espectáculo televisivo digno de registo, o psiquiatra Sampaio mostrou ao país o que andam os nossos 'veterinários' a fazer com as aulas de educação sexual. Primeiro, houve um pequeno filme de animação, intitulado 'Então é Assim!' (a frase típica com que o analfabeto funcional gosta de iniciar a hostilidades), e que pelos vistos tem ampla penetração escolar. A coisa consiste em dezassete minutos de 'National Geographic' para crianças, com a única diferença de que os animais, desta vez, são os pais delas. Depois, o dr. Sampaio tratou de anunciar, em insulto directo a uma colega de profissão ali presente, que qualquer discórdia perante o filme só mostrava os 'traumas' profundos que existiam na cabeça de quem discordava. O gesto não mostrou apenas a elegância do dr. Sampaio, um verdadeiro exemplo no trato com o sexo oposto. O gesto ilustrou bem como o Estado português entregou a cabeça das crianças à tolerância destes sábios. O bom senso, que normalmente se aprende em casa, aconselharia a fugir deles enquanto as cabeças dos petizes estão intactas. Mas é provável que isto seja apenas o meu trauma profundo a falar.
: Fonte: EXPRESSO DE 9 de Junho de 2007

Ares da Primavera



APROVEITANDO UMA ABERTA...
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Com os ares da Primavera a tornarem-se raros, que o tempo de chuva e ventoso não perdoa, lá consegui fotografar o canal central que ladeia o Fórum da cidade. Um passeio pelo canal, e talvez pela ria, deve ter proporcionado a estes turistas paisagens nunca por eles vistas. Registei o acontecimento, em jeito de estímulo a quem não costuma passar por Aveiro. Venham até cá, que há muito para ver e para saborear, mesmo que a Primavera teime em não ficar.



Um artigo de António Rego

DARFUR - O QUE É ISSO?
Voltamos à questão: informar motiva para as causas ou gera saturação e indiferença? Estaremos na eminência desse paradoxo que é saber mais sobre o mundo e mais indiferentes a ele ficarmos? Há palavras e lugares que nos cansam: Iraque, Afeganistão, Sudão, Darfur… E há tantos esquecidos… Como poderemos repousar o olhar num ponto, quando tantos e tão trágicos nos roubam permanentemente o sossego? Sudão, Darfur. Uma guerra civil no coração de África, entre agricultores negros e pastores árabes. Em quatro anos morreram mais de duzentas mil pessoas, dois milhões e meio ficaram deslocadas e quatro milhões carecem de ajuda. Há operações humanitárias montadas no local pela ONU. A matriz do conflito é política pois o governo do Sudão alimenta uma violência implacável de contra-revolta. Isso quer dizer que a comunidade internacional tem de pressionar quem gere a violência e ofende os direitos fundamentais do povo, a vítima primeira e última de todo este morticínio organizado. É aqui que a informação pode acordar para uma acção concreta. Tão importante como motivar o cidadão sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa. A consciência, o debate, a pressão, a intervenção são uma arma pacífica, justa e eficaz num mundo que já tem bons mecanismos internos de promoção de justiça e paz. Por isso saudamos e integramos a iniciativa da Missão Press (imprensa missionária) pedindo a resposta de todos os que acreditam em Deus e no homem. Não acabam aqui as causas humanas. Mas é dever grave dos cidadãos acordar sobre as realidades inquietantes do nosso planeta. E esta é considerada pelas Nações Unidas “uma das piores crises da humanidade”. Com o peso da violência e da morte com que se desenrola não permite que alguém fique tranquilamente adormecido. E na hora em que Portugal assume a Presidência da União Europeia temos, como cidadãos, uma responsabilidade acrescida perante o que se passa no Darfur. Porque temos capacidade de intervir no panorama internacional. Como escreve um missionário do Sul do Sudão “cabe à União Europeia liderar uma ofensiva diplomática que force Cartum a encontrar uma solução política num Acordo Compreensivo de Paz entre as partes envolvidas…”

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Recordando


ALEXANDRE, O GRANDE
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Todos os dias, no segundo caderno, P2, na segunda página, o PÚBLICO recorda um facto histórico, um acontecimento relevante, uma pessoa, uma data célebre. Hoje, trouxe à memória de quem gosta de História Universal Alexandre, o Grande, falecido, segundo rezam as crónicas, em Junho de 323 a.C. Uns dizem que em 10 de Junho, outro em 11 e alguns em 13 do mesmo mês.
Seja como for, o que importa é lembrar esta personagem histórica, com tanto de mitológica, que criou um dos maiores impérios da antiguidade - do Mediterrâneo Oriental à Índia. Os historiadores, não sabendo bem ao certo o dia exacto da sua morte, sabem, contudo, que morreu em Babilónia. Causas da morte, aos 33 anos, depois de guerras em que o seu génio tanto se distinguiu, também não são garantidamente conhecidas. Depois de o seu exército se ter recusado a avançar para Oriente e de ele próprio ter enfrentado e sentido a contestação, faleceu, ao que se supõe, de malária. Aquele que se considerava eterno, qual deus imortal, faleceu com a idade de Cristo, 323 anos antes de Jesus ter vindo para o meio dos homens e mulheres de todos os tempos.

Ares da Primavera

Ponte da Barra, com pôr do sol.
Foto de Ângelo Ribau



PREPARE-SE PARA OS DIAS
MAIS LONGOS DO ANO




Prepare-se para os dias mais longos do ano e para a sua incom-parável claridade. Preste atenção a tudo isso. Mais: Preste atenção aos outros, ao que lhe dizem, ao que vê, ao mundo, às casas, às cores, aos nomes das pessoas; nunca mais se esqueça de um aniversário; nunca mais tenha medo de olhar os outros de frente.
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Fonte: Agenda EXPRESSO

Um Santo Popular


SANTO ANTÓNIO DE LISBOA



Santo António nasceu em Lisboa, provavelmente a 15 de Agosto de 1195, numa casa junto das portas da antiga cidade (Porta do Mar), que se pensa ter sido o local onde, mais tarde, se ergueu a Igreja em sua honra.
Tendo então o nome de Fernando, fez na vizinha Sé os seus primeiros estudos, tomando mais tarde, em 1210 ou 1211, o hábito de Cónego Regrante de Santo Agostinho, em São Vicente de Fora, pela mão do Prior D. Estêvão.
Ali permaneceu até 1213 ou 1214, data em que se deslocou para o austero Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde realizou os seus estudos superiores em Direito Canónico, Ciências, Filosofia e Teologia.
Segundo a tradição, talvez um pouco lendária, o Santo tinha uma memória fora do comum, sabendo de cor não só as Escrituras Sagradas, como também a vida dos Santos Padres.
As relíquias dos Santos Mártires de Marrocos que chegaram a Coimbra em 1220, fizeram-no trocar de Ordem Religiosa, envergando o burel de Frade Franciscano e recolher-se como Eremita nos Olivais. Foi nessa altura que mudou o seu nome para António e decidiu deslocar-se a Marrocos, onde uma grave doença o reteve todo o inverno na cama. Decidiram os superiores repatriá-lo como medida de convalescença.
Quando de barco regressava a Portugal, desencadeou-se uma enorme tempestade que o arrastou para as costas da Sicília, sendo precisamente na Itália que iria revelar-se como teólogo e grande pregador.
Em 19 de Março de 1222 em Forli, falou, perante religiosos Franciscanos e Dominicanos recém ordenados sacerdotes e, tão fluentemente o fez que o Provincial pensou dedicá-lo imediatamente ao apostolado.
Fixou-se em Bolonha onde se dedicou ao ensino de Teologia, bem como à sua leitura. Exercendo as funções de pregador, mostra-se contra as heresias dos Cátaros, Patarinos e Valdenses. Seguiu depois para França com o objectivo de lutar contra os Albijenses e em 1225 prega em Toloso. Na mesma época foi-lhe confiada a guarda do Convento de Puy-en-Velay e seria custódio da Província de Limoges, um cargo eleito pelos Frades da região. Dois anos mais tarde instalou-se em Marselha, mas brevemente seria escolhido para Provincial da Romanha.
Assistiu à canonização de São Francisco em 1228 e deslocou-se a Ferrara, Bolonha e Florença. Durante 1229 as suas pregações dividiram-se entre Vareza, Bréscia, Milão, Verona e Mântua. Esta actividade absorvia-o de tal maneira que a ela passou a dedicar-se exclusivamente. Em 1231, e após contactos com Gregório IX, regressou a Pádua, sendo a Quaresma do ano seguinte marcada por uma série de sermões da sua autoria.
Instalou-se depois em casa do Conde de Tiso, seu amigo pessoal, onde morreu em 1231 no Oratório de Arcela.
O facto de ter sido canonizado um ano após a sua morte, mostra-nos bem qual a importância que teve como Homem, para lhe ter sido atribuída tal honra. Este acto foi realizado pelo Papa Gregório IX, que lhe chamou "Arca do Testamento".
Considerado Doutor da Igreja e alvo de algumas biografias, todos os autores destas obras são unânimes em considerá-lo como um homem superior. Daí os diversos atributos que lhe foram conferidos: "Martelo dos hereges, defensor da fé, arca dos dois Testamentos, oficina de milagres, maravilha da Itália, honra das Espanhas, glória de Portugal, querubim eminentíssimo da religião seráfica, etc.".
Com a sua vida, quase mítica, quase lendária, mas que foi passando de geração em geração, e com os milagres que lhe foram atribuídos em bom número, transformou-se num taumaturgo de importância especial.
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Fonte: Transcrição da FAMÍLIA CRISTÃ,
feita pela Ecclesia, onde pode ler mais...

A nossa gente


MANUEL TELES



Nascido (1935), criado e vivido nesta Terra Maruja, no seio de uma conhecida família onde muitos artistas se revelaram, Manuel Teles bem cedo começaria a dar mostras de algum jeito para as artes de Palco.
Estreou-se assim nas célebres Récitas da velhinha Sede dos Escuteiros recitando e cantando monólogos, por mão do Reverendo Padre Miguel da Cruz.
Estudante do Secundário no saudoso Colégio João de Barros (Ílhavo), tornou-se conhecido pelo seu sentido de humor (e brincadeira), o que em nada ajudou a conclusão do Curso…
Com a aparição do “Girassol das Surpresas”, que era um espectáculo musical de Variedades, levado à cena em 1954 em benefício da aquisição da primeira ambulância dos nossos Bombeiros, Manuel Teles dá largas à sua queda para apresentador e imitador. Passou então a ser solicitado para as mais diversas actividades que tivessem a ver com o seu jeito (diziam!) para estar e falar em público. Colaborou em inúmeras iniciativas de cariz beneficente em favor das mais diversas instituições da nossa Terra (e não só).
Também no serviço militar viria a granjear grandes amizades, que perduram, graças ao seu sentido de humor e camaradagem, por vezes em situações menos alegres…
Feita a “tropa” ingressa na Fábrica da Vista Alegre (1958), primeiro como controlador/cronometrador, depois como adjunto do Serviço de Racionalização, responsável pelo Centro Gráfico, acabando como Chefe dos Serviços Sociais da Empresa. Ali teve a oportunidade de integrar o Grupo Cénico, colaborar com o Orfeão e Banda de Música, Corpo de Bombeiros Privativo e em múltiplas iniciativas que levaram bem alto o lema “Labor e Cultura”.
A par destas actividades manteve-se ligado à Rádio Faneca desde 1954, animando as tardes e noites de “picadeiro” em Ílhavo e na Costa Nova, ate 1979 e 1998 respectivamente. Ainda agora é responsável pela “reposição” das Tardes da Rádio Faneca levadas a efeito periodicamente pela Associação Chio-pó-pó.
Manuel Teles está ligado às Marchas Populares desde o seu aparecimento, sempre como apresentador/animador, mostrando com a sua graça e à-vontade, que “quem sabe não esquece”, colaborando graciosamente com a CMI na gestão desta iniciativa.
Por tudo isto, e pelo muito que Manuel Teles ainda tem para partilhar connosco, a agenda Viver Em dedica, neste mês de S. João, a rubrica A Nossa Gente ao Senhor Manuel Teles.
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Fonte: VIVER EM... da CMI

terça-feira, 12 de junho de 2007

Dia de Portugal

Presidência da República
protesta junto da RTP
A Presidência da República dirigiu uma carta ao Conselho de Administração da RTP a propósito da transmissão das Cerimónias Comemorativas do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas : Em carta dirigida ao Conselho de Administração da Rádio e Televisão de Portugal, a Presidência da República questionou o modo como foram transmitidas, no canal 1 da RTP, as Cerimónias Comemorativas do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Atendendo às especiais responsabilidades inerentes à prestação do serviço público de televisão, afigura-se incompreensível que a transmissão daquelas cerimónias haja sido interrompida, contrariando uma prática há muito estabelecida e sem que quaisquer razões de programação o justificassem. Ao proceder deste modo, e ao invés do que tem acontecido em anos anteriores, o canal público de televisão privou os Portugueses e as Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo de acompanharem na íntegra as cerimónias comemorativas do dia 10 de Junho, facto que a Presidência da República considera inaceitável.
Fonte: Site da Presidência da Répública
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NOTA: Há critérios jornalísticos que tenho dificuldade em compreender. Por esta e por outras, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas está a ser cada vez mais desvalorizado, levando o povo a ficar indiferente à efeméride. Pergunto: a RTP seria capaz de suspender a transmissão de um jogo de futebol, em especial da nossa selecção? Seria capaz de interromper a transmissão, em directo, da chegada de um qualquer craque de futebol ao aeroporto? Penso que não. Então...há que ter a coragem de levar os responsáveis a explicarem os seus critérios de trabalho.
F.M.

Ancoradoiro à antiga


ASSIM É QUE ESTÁ BEM...



Há dias, quando critiquei, para um amigo, o aspecto desta marina improvisada pelos pescadores, no local onde terminava a antiga ponte de madeira que ligava o Forte à Barra, logo ele adiantou, com alguma razão, por entre as minhas gargalhadas, mais palavra, menos palavra: Assim é que está bem; no dia em que fizerem uma moderna, eles terão de pagar o sítio da amarração das bateiras; como está, é de graça.
Tem razão o meu amigo. O povo, com os seus improvisos, lá se vai desenrascando sem mais gastos… A não ser que melhorassem os ancoradoiros, sem mais despesas para os pescadores.

Um livro de Gonçalo Cadilhe

Uma viagem épica
por um continente impressionante





ÁFRICA ACIMA


Acabei de ler, há dias, África Acima, um livro que recolhe crónicas semanais que Gonçalo Cadilhe publicou no EXPRESSO durante vários meses. É, no fundo, um relato de uma viagem de oito meses em que o jornalista percorreu 27 mil quilómetros através de África, viajando desde o Cabo da Boa Esperança, no Sul, até ao Estreito de Gibraltar, no Norte.
Confirmo o que reforça o título na capa. Trata-se, de facto, de “uma viagem épica por um continente impressionante”, com o viajante e aventureiro, o figueirense Gonçalo Cadilhe, a descobrir, com outros olhares, África do Sul e Namíbia, Botsuana e Zimbabué, Zâmbia e Angola, República do Congo e Gabão, Camarões e Nigéria, Níger e Mali, Mauritânia e Marrocos.
Acompanhei, com muito gosto, o autor, que antes havia escrito Planisfério Pessoal e A Lua Pode Esperar, na descoberta de paisagens únicas, no contacto com outros povos e outras civilizações, no encontro com amigos e desconhecidos, na contemplação dos mistérios africanos, nos diálogos com gente prestável e com gente corrupta, nas deslocações por estradas desfeitas e por caminhos de terra batida. Sempre por terra, com os pés bem assentes no chão. Nunca de avião, que “voar sobre África não é viajar por África”, realça o meu cicerone, nesta viagem em que nos convida a imitá-lo, um dia… se pudermos criar em nós este prazer de conhecer outras terra e outras gentes, ao vivo.
A pé ou de moto, de táxi ou autocarro, de camião, de barco e de comboio, Gonçalo Cadilhe ensinou-me a conversar com pessoas estranhas e hostis, cordatas e disponíveis, colaborantes e amigas, honestas ou desonestas, abertas ou fechadas. Recordou-me que há sempre um português em qualquer esquina, um amigo em cada canto, um gesto de simpatia onde menos se espera. Mostrou-me muita riqueza natural e pobreza extrema por todos os lados, com atrasos ancestrais e desafiarem-nos à cooperação com os africanos.
A natureza que o apaixonou também me apaixonou. E a sua visão do mundo leva-me a pensar sobre quanto e como eu poderia ser diferente, no modo de contemplar e ajudar, mesmo de longe, a humanidade sofredora daquele recanto imenso ainda à nossa espera.
Diz o autor: “Cada vez me revolta mais a existência de um jardim zoológico. São várias as violações cometidas sobre os animais, não percebo com que justificação. Para as crianças poderem passar um domingo diferente? Para poderem ver ao vivo os bichos selvagens? Não justifica a existência dessa cruel instituição que é o equivalente na natureza à prisão perpétua nas sociedades humanas, com a diferença de que os animais do zoológico não cometeram qualquer crime.”
E acrescenta: “Não falemos então dos circos de animais. Se o zoo é a prisão perpétua, o circo é o desterro com trabalhos forçados.”
Se puderem, ou quando puderem, leiam África Acima de Gonçalo Cadilhe. Será, sem dúvida, como foi para mim, uma viagem fascinante.

Fernando Martins