quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

NATAL - 15

Santuário de Fátima: Presépio
QUANTO MAIS LUZ,
MAIS NATAL?
Um sentimento de engano (per)segue o Natal em que nos (des)encontramos. No meio de tantas luzes que brilham na noite é imensa a escuridão de corações não amados que não nascem com o nascer da Luz do 25 de Dezembro. Este dia de todos os dias, reveste o brilho inapagável de uma esperança infinita que nos quer visitar sempre, novamente, e que traz consigo o único presente que sacia a fome de sentido de vida e de paz: Deus em Pessoa, Jesus! Que tempo e lugar haverá para este “Presente” de Tudo?! Que contraditório o caminho dos homens, que até são capazes de diminuir o “outro” no natal de cada dia e depois fazer a maior árvore do mundo na quadra festiva; que distâncias entre o ser e o parecer (que conduz ao ter) dos tempos modernos. Natal, outra vez, (trans)formado em luzes e doces, excessos e supérfulos, mas em que se perdeu (ao menos) da memória a razão de tanta doçura! Porque o assinalamos? Vivemos o “resto” do Natal(?). Enquanto ele der lucro, ele existirá! O Natal para a Europa será o “resto” dessa força repleta de tradição judeo-cristã – que vende e venderá mais algumas décadas - mas já tanto vazia de sentido profundo, divino. Quando se perde a razão profunda da festa, do doce, da rabanada, a médio prazo perde-se o próprio encontro, reencontro, a alegria de uma fonte de esperança divina encontrada. Claro, haverá que acolher cada luz que brilha, cada embrulho que hoje já não seduz a criança de mão cheias, e acreditar na esperança de cada momento, cada gesto. Haverá que acreditar sempre que por traz de cada árvore enfeitada habita a procura e o presente da paz, do amor, da felicidade e, por isso, o seu brilho é partilha aberta e feliz dos que estão em casa, em que o que se festeja é mesmo o (re)nascimento de um presépio no coração humano, que nos comunica uma nova paz para o natal de cada dia! Mas… será mesmo assim: quanto mais luz mais Natal?! Como passar – reconstruindo pela positiva - de todos os gestos sociais ao sentido profundo das coisas, da vida, da razão do dia de Natal? Como dizer hoje que o Natal está sempre incompleto e precisa da nossa ajuda no aconchego para haver mais calor humano? Como fazer perdurar as luzes acesas – elas que no seu piscar parecem sempre fugidias mas sempre surpreendentes na sua beleza de cores para todos os gostos – durante todo o ano? Que contradição (e que incompreensão n’) o Natal social! Como se este tivesse razão de existir. Como é possível celebrar o nascimento da vida quando, por outro lado, porventura, se quer dizer não à vida? É uma coisa única, nem que seja pela tradição (esta que quer ser sempre convite a caminhar hoje nos porquês), é irresistível o tornar públicos os símbolos de Natal, com o seu brilho encantador e cheio de ternura; mas o mais importante de tudo, e a autêntica prova dos nove, será lermos o depois: o que ficará depois do Natal? Que coerência diante de todos os sinais brilhantes? O Natal, para o ser de verdade, precisa de cada um! É convite a todos, mas é fundamentalmente estímulo a uma vida renovada na Paz para todos. Precisa, pelo menos, da “boa vontade” humana como quem procura a Verdade e aceita dialogar ao seu encontro. “Paz na terra aos homens”, será este o sonho feito vida como fruto do humilde dar “glória a Deus nas alturas”.Que se diga bem alto: o Natal não é um museu! O Natal, tal como as luzes, não coexiste com as mentes fechadas em si mesmas; há um brilho de dignidade humana que, pelo presente de Deus, é divina e que anseia ser partilhada infinitamente nos caminhos da vida. Que na “tomada” de cada luz que brilha reine a fonte de um momento de profundo silêncio… Encontro de paz, amor, esperança!
Alexandre Cruz

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

NATAL - 14

Mensagem do Bispo de Aveiro

Repouso na fuga para o Egipto - Gerard David.

Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

O NATAL É HORA DE DEUS
E DOM DA VIDA
::
São múltiplos os sinais, diversificados os gestos e variadas as expressões e mensagens que afirmam o Natal como acontecimento que dá sentido às nossas vidas e oferece encanto e alegria às nossas terras. Aveiro, cidade e diocese, testemunha esta verdade e manifesta esta alegria. As comunidades e as famílias cristãs, as instituições e as pessoas, guiadas pela estrela de Belém, sentem-se neste tempo de Natal mais disponíveis para acolher Jesus, o Príncipe da Paz, o Filho de Deus. Recebemos do tempo e da história, formas e modos, jeitos e tradições de celebração do Natal. Nesta herança revelam-se o gosto e a arte, o encanto e a verdade com que oferecemos júbilo e beleza às nossas convicções de fé e aos acontecimentos da nossa redenção. Assim se percorrem, também, caminhos de proximidade entre o humano e o divino, entre o efémero e o absoluto, entre uma humanidade em procura e um Deus que vem ao nosso encontro. Um dos maiores imperativos do Natal consiste em tornarmo-nos, em cada ano que passa, mais disponíveis para testemunhar a beleza do Natal como abençoada hora de Deus e para colocar o nascimento de Jesus no coração do mundo, no centro da história e na alma da humanidade, onde o dom da vida não pode encontrar fronteiras nem limites. Esta é, também, a missão da Igreja: anunciar, viver e testemunhar o Natal como hora de Deus e dom da vida. Celebramos o Natal na nossa Diocese de Aveiro em pleno ano pastoral dedicado à Família. Saúdo e convoco todas as famílias da Diocese para que, a exemplo da Família de Jesus, saibamos viver o Natal como acolhimento do Salvador do mundo. O Natal é igualmente oportunidade privilegiada para intensificarmos o nosso espírito solidário. Sendo hora de Deus, o Natal faz-se hora da Humanidade. De todas as iniciativas de solidariedade onde a ousadia da caridade se exprime destaco este ano, com muita alegria, a Ceia de Consoada e a Festa de Natal oferecidas e organizadas pelo Centro Universitário Fé e Cultura da nossa Diocese aos estudantes e professores estrangeiros que passam o Natal longe das suas famílias. Vêm como estrangeiros. Queremos acolhê-los como irmãos. Com eles celebramos o único e o mesmo Natal. Este é o primeiro Natal que vivo em Aveiro. Agradeço-vos o acolhimento alegre e caloroso que me ofereceis e que, desde a primeira hora, me fez membro da Família aveirense. Esta é a minha primeira mensagem de Natal dirigida à Diocese e a todos os aveirenses. Saúdo cada um de vós e as vossas famílias e estendo esta mensagem a todos os aveirenses a viver emigrados e a todos quantos, vindos de outras terras ou países, moram, estudam e trabalham na nossa Diocese. Saúdo-vos com as palavras de bênção que Isabel, a Mãe de João Baptista, dirigiu à Mãe de Jesus: - Felizes aqueles que acreditaram (Lc.1,45). Um santo e feliz Natal
+ António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro

GOTAS DO ARCO-ÍRIS - 44

TUDO DA COR DA NEVE...
Caríssimo/a: E continua a chover. Seguramente que lá mais para diante, Janeiro fora, o tempo apertará e aparecerão as geadas e a neve 'na serra da Estrela'. Para quem vive nas 'cidades' só há bom tempo com sol esplendoroso e passamos a vida a queixar-nos do 'tempo', nós, os filhos do urbano - se chove, porque chove; se está calor, ... Aliás, salvo erro, já o nosso povo diz que 'o lavrador quer sol na eira e chuva no nabal'. Basculhando apontamentos em outras arcas encontrei referências a tempos vários e outros que nos farão sorrir perante a nossa incredulidade e a nossa dúvida: pode lá ser?! Vamos ver: 1938 - Jan - 11- Neva em Avanca.
" Caiu por aqui [Avanca] neve aos bocadinhos. Uma coisa como nunca tinha visto. Choveu neve aos pedacinhos, pareciam bocadinhos de algodão branco em rama. Via-se no céu tudo a mexer-se como que fossem 'boagens'. Ao outro dia estava a serra toda branca de neve. Muita gente bastante velha, nunca viram isto". [Apontamentos de Maria José Costeira] [Na agenda de Monsenhor Costeira:]
1941- Jan - 15 -"Um grande temporal assolou esta cidade (Évora), abatendo chaminés, telhados, muitas árvores e causando muitos desastres pessoais. Morreu um bombeiro e uma criança, várias pessoas ficaram feridas. Foi uma devastação nas árvores, telhados, etc.. Não há memória de tal ter sucedido há muito tempo."
16-"Continua o mau tempo: frio e ventania forte. Foi o temporal de ontem um ciclone que assolou todo o país fazendo prejuízos incalculáveis. Não há memória de tal desgraça nesta geração. Foi muito pior que o de 16 de Janeiro de 1922."
17-"Está o trânsito interrompido em quase todas as linhas férreas do país, nas estradas, etc.. Não há telégrafo nem telefones. Só a rádio." 21-"Recebi carta de minha irmã Maria, escrita em 16. Narra o que foi de trágica a tarde e a noite de 15. Em casa ruiu parte da chaminé, o telhado sofreu bastante e as laranjas caíram todas, ficando as folhas das laranjeiras como queimadas pelo fogo." 26 - "Grande ciclone varre toda a região marinhoa.” 1942 - Jan - 11- “Em Évora, caiu um nevão que constituiu um espectáculo lindíssimo nas ruas, praças, telhados, jardins e campos. Para mim foi uma coisa nova. Fiz uma bola de neve, coisa que nunca tinha feito em minhas mãos." Na esperança de 'melhores' dias fica o
Manuel

NATAL - 13

Virgem e o Menino - Lorenzo Ghiberti.
Nacional Gallery of Art.
Washington - Kress Collection
PELO NATAL
:: Recordo com saudade aqueles Natais Que celebravam o nascimento de um petiz Um momento tão marcante e tão feliz Passado numa cabana pobre de animais Eram pobres as prenditas que me dava O menino Jesus, nos Natais da meninice Um doce e algo útil. Mesmo que não pedisse Ele sabia sempre do que eu mais precisava E que podia eu esperar receber mais De um menino muito mais pobre do que eu De um menino que eu sabia que nasceu Tão pobre numa cabana de animais Era um tempo muito belo mas modesto As roupas partilhadas com os manos Os brinquedos, simples, duravam anos A imaginação e o engenho faziam o resto Hoje é diferente e faz-me certa confusão Que o Natal que era outrora de um menino Seja hoje de um velho abastado e fino Que publicita as suas prendas na televisão O Pai-Natal impôs-se no nosso imaginário... Um menino pobre numa cabana de animais Não encaixa bem nos propósitos comerciais Como explicaria qualquer bom publicitário. Recordo com saudade aqueles Natais... João Alberto Roque (22 de Dezembro de 2005)

NATAL - 12

Sagrada Família - Frei Agostinho Paolo.
Museu Nacional de Arte Antiga - Lisboa
A CONSTRUÇÃO DO PRESÉPIO
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«A primeira coisa a ir para dentro da gruta foi o musgo. Com muito jeito alcatifámos o chão com mantas fofas e verdes que fomos tirando das cestas. As heras foram crescendo em redor. E, de repente, o interior da gruta transformou-se numa serra verdinha, com arvoredo e cheia de pasto, a precisar de um rebanho de ovelhas e de alguns pastores. (…)
Feita com espigas de trigo, saiu da caixa uma manjedoura. Era uma boa ideia. Se chovesse ou nevasse, aquela manjedoura serviria para lá pôr o feno seco para o rebanho comer.
Outro pastor chegou. Aquele pastor, que era ainda rapazinho e tinha um chapéu roto na cabeça, foi pôr-se junto dos cordeiros. E fez muito bem. Aquela serra não estava vigiada. Se aparecesse um lobo, os cordeios, coitaditos, nem sequer teriam tempo de chamar pelo cão.
Depois apareceu uma vaca (…). Do outro lado veio encostar-se um burrinho. Logo depois apareceu S. José e foi encostar-se à manjedoura. Atrás de José, veio Maria.
O burrinho, a vaca, José e Maria estavam a olhar para a manjedoura. Bem se via que estavam preocupados. O bafo muito quente saía das narinas da vaca e do burrinho e aquecia a palha da manjedoura.
Uma estrela prateada apareceu no cimo da gruta, bem perto de um galo que não parava de cantar.
Finalmente, muito gorducho, sempre a rir, só com uma fralda de pano no corpo,o Menino Jesus foi posto na manjedoura.
Depois ficámos bastante tempo a olhar. A olhar. Calados.
O silêncio era tão grande naquela gruta que até parecia que ouvíamos o MeninoJesus a respirar tranquilamente.»
(excerto do conto Sonhos de Natal,
deAntónio Mota)
:
Enviado por Sara Silva

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

UM ARTIGO DE ANTÓNIO REGO

HOMENS E GOLFINHOS
Desde muito novo me habituei a ver os golfinhos pelos mares dos Açores. Não faz parte da minha infância a descoberta das suas altas virtualidades. Simpáticos, brincalhões, boas companhias nas longas viagens de barco. Pelo que percebia, os pescadores não lhes achavam muita graça, pois roubavam muitos dos chicharrinhos que deviam cair nas suas redes. E, ainda hoje, saindo um pouco da costa, o lugar certo e a hora precisa de ver os golfinhos coincide com a espuma branca do lugar onde os cardumes acorrem para as suas abundantes refeições. É a lei do mar. Passados a animais de circo ganharam alguma magia e arrastam multidões para os seus rituais de acrobacia e velocidade dentro e fora das águas. Possivelmente ultrapassaram, nalguns casos, a colheita de ternura roubando, não já cardumes que podiam servir para a mesa dos pobres, mas algum lugar de afecto que é recusado a pessoas. Agora, com as ecografias de gestação, deixam extasiados alguns que revelaram indiferença pelo início da vida… humana. Nada mais bonito que o olhar duma mulher fixado na ecografia do seu filho. O recorte, o movimento, a constituição do corpo humano surgem como o primeiro documento que os pais gostam de revelar ao familiares e amigos com uma candura que não tem preço nem explicação. A ciência sente-se cada vez mais perturbada pelo acesso ao momento luminoso do início vida. Uma vida humana no ventre materno é algo de sagrado, subtil, frágil, sublime, na total incapacidade de defesa a qualquer agressão. Os estudiosos da comunicação reconhecem que é aí, pela modulação, sem palavras nem gestos, que começa o grande diálogo entre mãe e filho. E aí se contam emoções, alegrias, afectos, projectos. Dia e noite, dias e dias, em profundos colóquios de silêncio e embalo, onde a mãe e filho nenhum gesto é indiferente. Todos se acumulam para uma aventura comum da vida. Nada há comparável à vida humana.

Natal da minha meninice

A Virgem e o Menino, de Hans Memhng, Museu Nacional de Arte Antiga

Na paz da minha tebaida, usufruindo do aconchego dos meus familiares e da companhia sedutora dos livros que me trazem recordações de tantos anos, vieram até à minha memória vivências de Natais doutros tempos. Dos tempos em que o essencial não eram apenas as lembranças compradas em lojas de modas, que o Menino Jesus de então nada tinha a ver com o símbolo comercial do anafado Pai Natal dos nossos dias.
Lembro-me, era eu um menino que acreditava mesmo nas prendas do Menino Deus, de ver minha mãe regressar da loja da Tia Joana Rita, esposa do mestre José Lázaro, com uns embrulhos que tentava esconder. Por mais que lhe pedisse que nos mostrasse o que trazia, ripostava com maus modos, mas a sorrir: o Menino Jesus não gosta nada de meninos teimosos. E lá ia esconder as simples guloseimas que na madrugada da Noite de Consoada estariam bem distribuídas nos sapatos que eu e meu irmão púnhamos num recanto da lareira da cozinha principal.
Nunca me zanguei quando descobri que afinal as prendas do Menino Jesus chegavam até mim através dos meus pais. E quando ouço alguns "sábios" que há por aí com protestos sem nexo contra o facto de se enganarem as crianças com as prendas que o Menino Jesus distribui no dia de ceia (como por aqui se diz), rio-me da ignorância dessa gente que fica, no entanto, toda contente e até acha bem que seja o Pai Natal a substituir o Deus Menino da minha infância.
Diz a psicologia que há idades para tudo: para os sonhos, para as estórias de encantar, para os contos mágicos, para o fantástico, para o faz-de-conta e para tantas outras lendas e tradições que fazem voar a imaginação por espaços irreais, tornados autênticos para muitos, cruzando-se com a vida dos homens que nem sempre podem ou sabem abrir-se aos mistérios que trazem no coração.
Não fiquem, pois, perturbados esses "sábios" que são incapazes de voar para o alto, quais águias que abarcam horizontes de belezas ímpares, para vislumbrarem os mundos de sonhos que nunca se esquecem. Quando a minha mãe me disse que o Menino Jesus apenas dava saúde a meu pai, que labutava nas águas do mar, na pesca do bacalhau, onde se iniciara em menino, com 14 anos, não fiquei nada zangado. E até me recordo que ri a bom rir e que a beijei ternamente.

Fernando Martins

TURISMO

Aveiro: Canal Central

AVEIRO:
DESTINO TURÍSTICO
DE QUALIDADE
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A Ria de Aveiro e a zona costeira limítrofe foram distinguidas como destino costeiro turístico de qualidade, através de um projecto europeu. A região lagunar é a primeira a nível nacional a ser reconhecida com este galardão. Isto mesmo noticia hoje o Diário de Aveiro, com o destaque que merece. Há muito se diz que a Ria de Aveiro e as terras que banha são riqueza paradisíaca insuficientemente aproveitada para fins turísticos. Noutros países, estas belezas naturais seriam certamente motivo para mais largos voos no campo do turismo, gerando novas fontes de rendimento e mais trabalho para muitos. Estou convencido de que, nos tempos que correm, os nossos autarcas e gente empreendedora estão mais abertos a novas formas de criar riqueza, obviamente com vantagens para toda a gente, se devidamente apoiada em projectos credíveis e com visão de futuro. A Marina da Barra, de que tanto se falou há anos, seria, em minha opinião, um projecto a reequacionar, diminuindo, eventualmente, a carga habitacional, para então se avançar. Nisso se tem empenhado a Câmara Municipal de Ílhavo, mas deve haver por aí entraves políticos e burocráticos que não têm deixado avançar o projecto, com a celeridade desejada. O mesmo se pode dizer da ponte que poderia ligar São Jacinto a Aveiro, eliminando o isolamento daquela freguesia da sede do concelho. O nosso mal, muitas vezes, é esse. Ideias inovadoras, com interesse à vista, emperram por quezílias políticas. Daí o nosso atraso no aproveitamento da nossa Ria. Fernando Martins

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

NATAL - 10

JESUS NO PRESÉPIO
- Um menor em risco
Mais uma vez vai ser Natal! Já agora, e antes de mais, Bom Natal a todos os leitores desta “coluna de opinião”. No pressuposto de que esta coluna vá correspondendo a um certo “sobressalto cívico e de cidadania” que o seu autor dela pretende, a simbologia do Natal sugere-me uma reflexão sobre a problemática que tanto (e tão oportunamente) tem andado pelas páginas do SOLIDARIEDADE muito bem tratada, a saber: os “menores em risco”.
Esta criança chamada Jesus andou com um azar miserável: filho de mãe solteira, adoptado pelo bom S. José, pessoas pobres que, como tais, levaram com a porta na cara quando, em viagem, viram chegar a hora do nascimento e pediram alojamento em várias pensões! Lá foram parar a um curral de sendo aquecidos pelo calor de animais que os humanos lhes negaram, ali viram nascer o seu Menino.
Ainda mal refeitos deste pesadelo, tomam conhecimento de que essa criança estava na mira das autoridades por representar uma ameaça ao poder dos tronos da autoridade, onde pontificava o temido Herodes que, de forma cruel, o quis eliminar à nascença, decretando a ignominiosa “matança dos inocentes”. Azar o seu: entretanto, o Menino Jesus, acompanhado por Maria e José, fugiu para o Egipto, qual imigrante clandestino sem papéis nem autorização do SEF lá do sítio.
Por lá andou uns tempos, iludindo a vigilância das autoridades, até que conseguiu regressar à sua terra para lá ir crescendo em sabedoria e ciência, preparando-se assim para a sua Missão Messiânica. O Natal evoca-nos este acontecimento histórico, de um Deus feito Homem na forma de uma Criança. Jesus pode bem considerar-se como o protector das “crianças em risco” .
É pena que a evocação desta data natalícia e os símbolos genuínos deste evento do Natal de Jesus se tenham vindo a “desidentificar” de tal forma que o comércio e as decorações natalícias tenham “eliminado” o Menino substituindo-o por um Pai Natal carregado de prendas, numa espécie de adoração ao ídolo do consumo que constitui uma cruel adulteração das cenas históricas herdadas pela tradição cristã! Afinal de contas, naquele tempo como hoje, parece que as crianças na sua fragilidade e inocência incomodam tanta gente. Porque será?
José Maia
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Fonte: SOLIDARIEDADE

NOVO BISPO DE AVEIRO

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Bento XVI e D. António Francisco
D. ANTÓNIO FRANCISCO
AO LEME DA BARCA DIOCESANA
Embora um pouco tarde, por razões de saúde, não posso deixar de registar a entrada de D. António Francisco em Aveiro, no dia 8 de Dezembro, dia da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal desde o reinado de D. João IV.
D. António Francisco, que vem de Tendais, Cinfães, Diocese de Lamego, já assumiu o leme da barca diocesana, barca esta que navega entre o oceano e a serra, bordejando a ria e o Vouga, estabelecendo laços entre povos de vida e pensar muito diversos, unidos por histórias, sonhos e projectos que cimentaram uma identidade muito própria. Conforme li no “Correio do Vouga”, órgão da Diocese aveirense, D. António Francisco manifestou o desejo de “testemunhar a esperança cristã para que a Igreja de Aveiro seja âncora e farol para todos”. Imagem bonita nos apresenta o novo Bispo de Aveiro, quando fala de âncora e de farol, símbolos tão expressivos da identidade desta gente que respira ares carregados da maresia, da mansidão da laguna, da regularidade das marés, das correntes ora serenas ora agitadas do Vouga e das neblinas que são entre nós sempre certeza de sol radioso. Sucede D. António Francisco a quatro grandes Bispos, que Aveiro tem no seu coração: D. João Evangelista, que empurrou quanto pôde, tantas vezes (ou sempre!) de forma poética, qual barqueiro em dias sem vento, para que a Diocese ressurgisse e crescesse; D. Domingos da Apresentação Fernandes, que calcorreou os caminhos da seara diocesana num afã até à exaustão; D. Manuel de Almeida Trindade, que nos ensinou serenidade, capacidade de ouvir e de dialogar, a par de uma cultura teológica que ainda hoje dá gosto reler e meditar; e D. António Baltasar Marcelino que subiu e fez subir as montanhas das pastorais e da fé, numa ânsia de chegar mais alto e mais longe, com uma paixão entusiasmante que nos encheu a todos do amor a Deus e aos irmãos sem vez e sem voz no mundo diocesano e não só. Com a sua personalidade própria, com a sua fé que o leva a dizer que no meio de nós vai amar a Deus e servir, estou convicto de que D. António Francisco vai enriquecer, num crescendo até ao limite do possível, ou do impossível com a graça de Deus, este povo de Aveiro que o recebeu em júbilo.
Bem-vindo D. António Francisco! Que se sinta muito bem entre nós! Fernando Martins

domingo, 17 de dezembro de 2006

NATAL - 9

DEUS EM PESSOA
Não se trata duma luz enigmática do transcendente nem duma experiência mística, nem duma descoberta metafísica, nem duma pista sobre o relógio mágico do universo, perfeito ou cego nas suas evoluções. Nem sequer dum eureka resultante de aglomerados culturais, camadas de visões ou sequência precipitada de feitiços. Tudo isso seria interessante a recordar aos mortais que algo existe para além do imediato ou que uma lógica sublime esconde inteligências mil - ou uma inteligência infinita - por detrás dos absurdos que tecem tantos andamentos da história dos homens. E, possivelmente, ficaríamos filosoficamente tranquilos, por um ser inacessível nos vigiar, uma inteligência maior confortar a nossa estreiteza e, quem sabe, um confortável sentido último daria tranquilidade aos ventos cruzados que desnorteiam as nossas trémulas bússolas. Os deuses do Olimpo lá tinham os seus entretenimentos, afectos e fúrias para além das nuvens - mas não muito para além. Não obstante alguma proximidade da sua mesquinhez, os crentes sabiam do desamor arrogante que eles alimentavam pela humanidade. Os seus afazeres, ainda que assumidos como mitologia, nada tinham a ver com a realidade humana. Serviam para divertimento de divindades que afinal, em ponto maior, apenas cultivavam fraquezas humanas. Foram inspiradores de poetas, músicos e pintores. Mas sempre se mantiveram suspensos das suas próprias tramas, só se deixando ver nas tempestades furibundas que aterrorizavam os mortais. A revelação de Deus, desde o Sinai, trouxe um envolvimento na história do homem. Como pessoa e como povo. Nada lhe ficou estranho ou alheio. E o homem habituou-se a não dar um passo no tempo sem o relacionar com os passos de Deus. Mas foi a vinda de Jesus que vestiu Deus da nossa carne, assemelhando-o em tudo a nós excepto no mal. Antes, para dele nos livrar. E esse mistério torna-se particularmente visível no Natal. No anúncio feito a Maria, nas dúvidas de José, na intervenção de João Baptista, na aproximação a Belém, no nascimento, no presépio, nos magos. Foi Deus que chegou. Deus em pessoa. Bem diferente dum transcendente abstracto.
António Rego

GOTAS DO ARCO-ÍRIS - 43

AZUL, AZUL CELESTE
Caríssimo/a: Chove. Escrevo na véspera da festa de Nossa Senhora da Conceição. Não ficaria de bem comigo mesmo se não fosse até à Igreja apreciar os preparativos da Festa. Claro que chove e o vento aperta, mas os mordomos são de antes quebrar que torcer e quase todos eles, regressados há pouco dos bancos do bacalhau, estão habituados à invernia e vivem com o coração lá bem à frente na esperança dos bons tempos... Anos houve que foi uma desgraça: arcadas no chão, coretos pelo ar, botequins virados, enfim, a procissão acabou por não sair... Mas no ano seguinte as promessas e as graças reanimaram o povo e a festa foi de arromba. Parece que ainda estou a ouvir os foguetes: era cada estoiro que até fazia eco na Junta. Aquilo sim foi fogo! E à noite? Nunca tal se tinha visto, as lágrimas até chiavam. Era um regalo! Sempre a Rainha de Portugal andou pelas ruas da nossa Gafanha, fosse Ela, a Nossa Senhora da Nazaré, no Verão, ou a Nossa Senhora da Conceição, nesta época, logo depois de os bacalhoeiros arribarem... Estou certo que os anjos muito se riam com a nossa inocência. Que sabíamos nós de liturgia ou de ano pastoral ou litúrgico? Nada e à nossa volta não víamos muitas pessoas que estivessem dentro desses segredos (sim, aquela vizinha ia ao terço e nós até espreitávamos a missa por entre as pestanas coladas pelo sono cortado pela mão amiga de nosso Pai que lá nos conduzia...). Contudo, aquela festa com a música, os foguetes e a procissão, claro, com uns bolinhos e umas bolas de serrim, e (nós bem víamos...) uns namoricos novos revividos na fotografia do Laminuta, sim, aquela festa anunciava o Natal, vivido no aconchego do Lar, e antecipava o cortejo dos Reis que iria percorrer as nossas ruas. Era nesta ambiência de festafamíliarua que olhávamos para o Céu, onde estaria Nossa Senhora com o seu manto azul, como aquele que levava na procissão, e lhe rogávamos: - Nossa Senhora da Conceição, venha sol e chuva não! Manuel
::
Nota: O Gotas do Arco-Íris nº 44 sairá no meio desta semana, para acertar o passo com o calendário. Tudo isto, por motivos de falta de saúde de minha parte. Apresento as minhas desculpas ao amigo Manuel e aos leitores.
F.M.

PROPÓSITO

ESTOU POR AQUI
HÁ DOIS ANOS
Só hoje me dei conta de que completei, no dia 14 de Dezembro, dois anos de presença no mundo da blogosfera, com um propósito como meta: Pela Positiva. Mantenho-o, porque essa meta repousa no infinito. Disse então, no primeiro post, em jeito de quem dá, timidamente, os primeiros passos:
"O meu propósito, a partir de hoje e neste espaço, situa-se na linha dos que apostam, no dia-a-dia, num mundo muito melhor. Não simplesmente pelo protesto, que será sempre a via mais fácil e menos estimulante, mas fundamentalmente pela defesa do bem, do belo, dos afectos, em suma, dos valores que enformam a nossa civilização. Pela Positiva vai ser o meu lema de todos os dias, quer na análise dos mais diversos acontecimentos, quer pela divulgação do que vou lendo, quer pela defesa do que vou reflectindo, quer, ainda, pela partilha de gestos, porventura ignorados ou marginalizados, que são matriz de uma sociedade mais justa e mais fraterna. De bom grado se aceitam sugestões, desde que venham pela positiva"
:
Aqui prometo continuar, ao sabor da maré, dizendo o que penso, divulgando o que me encanta, mostrando o que me rodeia, lembrando o que admiro, pugnando pelo bem, pelo belo, pela verdade, pela justiça, pelos afectos, pelo diálogo entre todos os homens e mulheres de boa vontade, dando relevo ao pensar e ao viver pela positiva.
Para todos os cibernautas, votos de Santo Natal.
Fernando Martins

UM ARTIGO DE ANSELMO BORGES, NO DN

Qual é o Deus
do Mediterrâneo?
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No passado dia 1, enquanto Bento XVI voava de Istambul para Roma, depois da sua visita à Turquia, estava a realizar-se, em Santa Maria da Feira, o V Simpósio "Sete Sóis Sete Luas", que teve como tema: "Qual é o Deus do Mediterrâneo?" Foram conferencistas Salman Rushdie, Cláudio Torres e eu próprio.
O debate, moderado por Carlos Magno, durou quatro horas, com uma assistência atenta, que esgotou todos os lugares disponíveis do auditório da Biblioteca Municipal. Não admira que Salman Rushdie tivesse inaugurado a sua intervenção observando que um debate assim sobre a religião seria "inimaginável" há 40 anos, quando se pensava que a fé ficaria confinada à "esfera privada".
Qual é o Deus do Mediterrâneo? Antes de mais, porque não: "Qual a Deusa?" Afinal, não estávamos ali também porque contra Salman Rushdie tinha sido lançada em 1989 pelo ayatollah Khomeini uma fatwa por causa do livro Os Versículos Satânicos?
Quais são esses versículos? Dois, que não figuram nas versões ortodoxas do Alcorão. Lê-se, de facto, na sura (capítulo) 53, versículos 19 e 20, da Vulgata: "E que vos parecem al-Lat, al-Uzza e a outra, Manat, a terceira?" A estes versículos, na tradução francesa de Régis Blanchère, acrescentam-se mais dois (20bis e 20ter), os "satânicos": "Elas são as Deusas Sublimes e a sua intercessão é desejada."
Tratava-se de divindades do politeísmo pré-islâmico, representando, portanto, aquilo que Maomé mais fustigou por causa do seu monoteísmo puro. Mas, se a negação do monoteísmo é o único pecado sem perdão, como pôde o Profeta declarar sublimes aquelas deusas?
:
Leia mais em DN

STELLA MARIS

NO DIA 22 DE DEZEMBRO
ALMOÇO DE NATAL
PARA 120 PESSOAS
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No dia 22 de Dezembro vai acontecer no Clube Stella Maris um almoço para 120 pessoas com várias formas de carências, a saber: com dificuldades económicas; que sofram de solidão; com deficiência e doentes. À partida, são apoiadas pela Fundação Prior Sardo e pela Obra da Providência, instituições da Gafanha da Nazaré, havendo, no entanto, pessoas de outras paróquias, também ligadas à área diocesana da Obra do Apostolado do Mar.
Para o próximo ano, será feito um esforço para dar cobertura às pessoas com este perfil e residentes nas paróquias localizadas na referida área, isto é, toda a zona da ria e do mar, pertencente à Diocese de Aveiro. Esta iniciativa do Clube Stella Maris é a primeira que visa dar visibilidade à Pastoral Social dirigida à comunidade piscatória e a todos os que, directa ou indirectamente, estão ligados ao mar e à zona lagunar.
Sublinhe-se que este almoço contou com o apoio de algumas instituições e empresas, com géneros ou com dinheiro, apoios estes que a direcção do Stella Maris agradece. Desta forma, será possível celebrar o Natal com os que, de uma maneira ou de outra, mais precisam. Também é de evidenciar o trabalho de muitos voluntários, nomeadamente os escuteiros da Gafanha da Nazaré, que vão servir à mesa.
A direcção do Clube Stella Maris e seus colaboradores desejam a todos um Bom Natal e um Próspero Ano Novo.
A Direcção

sábado, 16 de dezembro de 2006

NATAL - 8

UM POEMA DE DAVID MOURÃO-FERREIRA
NATAL À BEIRA-RIO
É o braço do abeto a bater na vidraça? E o ponteiro pequeno a caminho da meta! Cala-te, vento velho! É o Natal que passa, a trazer-me da água a infância ressurrecta. Da casa onde nasci via-se perto o rio. Tão novos os meus Pais, tão novos no passado! E o Menino nascia a bordo de um navio que ficava no cais, à noite iluminado... Ó noite de Natal, que travo a maresia! Depois fui não sei quem que se perdeu na terra. E quanto mais na terra a terra me envolvia mais da terra fazia o norte de quem erra. Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me à beira desse cais onde Jesus nascia… Serei dos que afinal, errando em terra firme, precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

GOSTEI DE LER

UM TEXTO DE VINÍCIUS DE MORAES
PROCURA-SE UM AMIGO
Procura-se um amigo. Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objectivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

ESTOU DE VOLTA

JÁ ME APETECE SORRIR
Um incómodo de saúde, de natureza cardíaca, obrigou-me a umas “férias” de alguns dias no Hospital Infante D. Pedro, em Aveiro. Os momentos difíceis que passei penso que estão ultrapassados e até já me apetece sorrir. A vida tem destas coisas. Quando menos esperamos, reconhecemos que temos quarto marcado num qualquer hospital, onde um conjunto enorme de profissionais competentes e dedicados nos ajuda a recuperar a saúde. E com que carinho todos eles o fazem durante 24 horas por dia. Mas disso hei-de falar um pouco um dia destes, por uma questão de justiça, quando recuperar as forças. Durante este internamento, estive mesmo fora do mundo agitado a que pertencemos. Nem jornais, nem rádio, nem TV me chegaram para serem devorados com a avidez de sempre. Apenas os meus familiares e amigos me davam sinais de que a vida continuava, tantas vezes indiferente ao sofrimento de tantos. Palavras de ânimo, sinais de afecto que jamais esquecerei, o amor dos que amo sempre presente, as preocupações de amigos sem conta e a presença constante de Deus a dizer-me que a vida nunca terá fim foram lenitivo para os momentos menos agradáveis por que passei. Neste interim, todos os meus projectos foram interrompidos. Mas como a vida continua, estou certo de que em breve tudo será retomado, com a serenidade que a idade aconselha. Aqui também, com os muitos amigos do ciberespaço. Foram inúmeras as mensagens que recebi, por vários meios. Não sei se poderei responder a todos pessoalmente, como é meu desejo. De qualquer modo, aqui fica, para todos, o testemunho da minha gratidão. Fernando Martins

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

GENTE GAFANHOA

PADRE LÉ,
O DECANO DOS PÁROCOS
DO ARCIPRESTADO
DE ÍLHAVO
O Padre Manuel Ribau Lopes Lé conta já com uma longa e preenchida história de 84 anos. Nascido a 4 de Agosto de 1922, na Gafanha da Nazaré, Concelho de Ílhavo, seus pais, José Lopes Júnior (ou José Lopes Lé) e Teresa de Jesus Ribau, cedo lhe ensinaram a mestria do trabalho da lavoura. Sendo o seu pai marnoto, dele recebeu os segredos dessa arte (ofício), acompanhando-o até aos 14 anos de idade. Uma vez concluída a instrução primária, na Escola do Sr. Prof. Oliveira, na Gafanha da Nazaré, iniciou em 1936 a frequência de vários seminários, num percurso trilhado durante 11 anos. Integrou o Seminário da Imaculada Conceição de Figueira da Foz (sua abertura), de 1936 a 1937. De 1937 a 1939 encontrou-se no Seminário Maior de Coimbra. De 1939 a 1943, foi o Seminário de Aveiro (abertura pela restauração da Diocese), o seu local de formação. Para terminar este percurso, estudou no Seminário de Cristo Rei dos Olivais, de 1943 a 1947. A sua ordenação sacerdotal aconteceu a 20 de Setembro de 1947, no Bunheiro, pelo Sr. D. João Evangelista de Lima Vidal, na Vigília de S. Mateus, iniciando a sua actividade sacerdotal 8 dias depois, ao celebrar a Missa Nova, na Igreja Matriz da Gafanha da Nazaré, sendo na altura Pároco o conhecido Padre Guerra. Durante 5 anos, o Padre Lé foi coadjutor, no Bunheiro, com o Sr. Padre Domingos da Silva e Pinho e paroquiou as freguesias de Préstimo e Macieira de Alcoba, do arciprestado de Águeda, durante outros 5 anos. No dia 28 Outubro de 1957, no Domingo de Cristo Rei, o Padre Lé regressa às origens, tendo sido nomeado Pároco da Gafanha da Encarnação, onde exerce a sua actividade pastoral, numa relação de proximidade com a Comunidade. O rodar natural e inexorável do tempo não lhe apaga o gosto pelo exercício Sacerdotal, sendo actualmente, no Arciprestado de Ílhavo, o decano dos Padres em exercício de funções.
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In "Viver em", edição da CMI

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Nota: O Padre Lé, que todos os gafanhões conhecem, tem sido, para mim e para muitos, um exemplo de vida ao serviço da Igreja. Conheço-o desde sempre e não posso deixar de recordar quanto tanta gente lhe deve. Pelo seu exemplo de fé e pelo seu dinamismo que lhe dá ânimo para continuar à frente da paróquia que adoptou como parte integrante do seu ministério. Por isso, esta adenda, muito pessoal, ao texto elaborado pelos responsáveis de "Viver em", como homenagem a um homem que sempre procurou servir a comunidade com total entrega ao Povo de Deus que lhe foi confiado. Pessoalmente, permitam que acrescente, ainda, a gratidão que nutro por este sacerdote que há anos muito me acompanhou de perto, quando eu procurava uma felicidade mais completa.

Fernando Martins

UM ARTIGO DE D. ANTÓNIO MARCELINO

MAIS VIAGEM
DO QUE PORTO
Ouvi há dias, na inauguração da nova Residência dos Professores, gente de várias idades fazer coro afinado e entusiasta numa canção que abre caminhos para quem pode ter a tentação de pensar, com o avançar do anos, mais em comodidade, que em novos sonhos e projectos. “Viver é mais viagem do que porto”, assim se cantava. A canção continuava advertindo sabiamente os distraídos e os menos corajosos: “Ai de quem só vê na idade apenas tempo/ Ai de quem olha para o espelho e só vê rosto…” Ao terminar esta cerimonia inaugural, o coro da Academia dos Saberes, com muita gente aposentada, entoou cânticos lindos a mostrar que a vida também afina gargantas quando os corações estão vivos e sensíveis à beleza e ao bem. Também ouvi a Presidente Nacional da Associação, que já conta oito décadas de uma vida cheia de entusiasmo e esperança, citar alguém de nome que dizia que onde termina o encantamento ante a beleza e o bem, é sinal de que também terminou a vida. Há uma salutar e benéfica contracorrente na sociedade que procura, ao arrepio de um mundo de interesses onde só conta o poder e o dinheiro, mostrar que há patrimónios adquiridos ao longo de anos de trabalho persistente, que não podem menosprezar-se. Entre estes está o património da idade, que é sabedoria acumulada na escola da vida, capacidade escondida para coisas novas, cadinho de esperança viva e fecunda, cátedra aberta de um saber que escasseia ou se transferiu para outros saberes de utilização imediata, mas saberes efémeros em relação ao que a vida pede e nunca dispensa. Tenho dito, de muitos modos, que em cada idoso que lutou e venceu, por vezes em situações bem difíceis, reside um mundo de sabedoria que as bibliotecas não comportam, nem se ensina nas melhores universidades. A escola da vida, hoje, por vezes, empobrecida de valores e impeditiva de estímulos para poder crescer por dentro, é aquela que verdadeiramente forma pessoas sérias, honestas, colaborantes e sensíveis e as enriquece de critérios válidos e consistentes. Na escola da vida, os comportamentos ditavam as leis, os princípios davam rumo às relações mútuas, as coisas eram como eram e não como convinham que fossem, a chave na porta dava sentido à solidariedade e tom ao acolhimento fraterno. “Estão a estragar a vida” desabafava alguém à procura de uma palavra de estímulo, por ver que, depois de anos de luta, os seus filhos mais queriam os caminhos aliciantes que a sociedade consumista e hedonista propicia, que aqueles que cada um vai abrindo com o seu esforço e ajuda de outros e ainda com as certezas interiores que os norteiam e confortam. A vida não é porto de chegada e de repouso, mas estímulo a caminhar sempre mais. A sabedoria dos vivos assim ensina, porque da dos mortos já nada se pode esperar. Tantos idosos que estão empurrando a vida, a sua e a dos outros! Tanto voluntariado generoso de gente que já podia descansar, mas descobriu, por sorte sua, que fazer bem é na vida um estimulo a viver mais e melhor e por isso continuam em viagem, descobrindo riquezas próprias e de outros que nem imaginava! Só sabe o valor da vida quem faz dela viagem até ao fim, para que o seja para além do fim. Ouve-se dizer a miúdo, em ar de conselho para convencer: “Já é tempo de descansar”. É tempo é de viver de outro modo, com horizontes novos mesmo que sejam os de sempre. Que pena tenho dos idosos que, meio adormecidos, só esperam a morte, sem que alguém lhes espevite o amor pela vida e o modo de a tornar útil. Há que continuar a pedir a quem sempre deu. Dispensar de ir mais longe é cortar asas, porque o mistério da vida é sempre uma revelação contínua, cheia de novidades e surpresas impensáveis.

NATAL – 7

Colectiva de Natal
na Vera Cruz
A Galeria Vera Cruz, situada no largo da Apresentação, em Aveiro, tem patente ao público, até 31 de Dezembro, uma Exposição Colectiva de Natal.Esta mostra apresenta trabalhos dos artistas António Neves, Coque, Damião Porto, Graça Morais, Guilherme Parente, João Cutileiro, João Figueiredo, Júlio Pires, Júlio Resende, Mário Portugal, Noronha da Costa, Rogério Amaral, Thierry Ferreira e Zé Augusto Castro, e ainda obras do próprio acervo da galeria, assinadas por Albino Moura, Alfredo Luz, Bual, Cargaleiro, Cruzeiro Seixas, Fernando Gaspar, Mora Urgeiro, Paulo Ossião, Ricardo Paula, entre outros.

APAGÃO

GAFANHA DA NAZARÉ
ÀS ESCURAS
Ontem a Gafanha da Nazaré esteve quase toda às escuras. Às escuras e não só. A falta de energia eléctrica paralisou meio mundo desta cidade que virou aldeia do século passado, daquelas que se alumiavam à luz da vela. Segundo as funcionárias da EDP, a avaria, detectada mas não explicada, teria reparação concluída em data indeterminada... o que deixou em pânico muita gente. E mais não podiam dizer porque não sabiam e quem se quisesse queixar que o fizesse por escrito junto da administração.
Dos meus contactos fiquei a conhecer alguns pequenos dramas que a modernidade provoca. Já imaginaram uma senhora que ficou sem conseguir sair de carro, porque o portão, automático, não abria? E lá teve ela de ir a correr para o emprego, onde chegou toda molhada! Como "uma ursa", no seu dizer engraçado. Sim, que estas coisas também têm o seu quê de cómico!
Mas nem tudo é mau. Estas faltas de energia, que bloqueiam tudo quanto funciona em casa, obrigam-nos a recorrer às formas mais antigas de sobrevivência, como é a de fazer torradas sem a torradeira eléctrica!
Outra coisa boa foi o serão que as famílias puderam vivenciar. Sem televisão, sem rádio, sem leitores de DVD e sem Internet, toda a gente foi obrigada a conversar. Cá por casa, nem imaginam as estórias que foram recordadas à luz das velas. Nem sei quantas se acenderam... As chinesas é que se gastam muito depressa. Mas até isso foi motivo de conversa, ou não fosse a imaginação da China apreciada, na luta que tem travado para sair do fosso económico em que tem estado. Que as sociedades ocidentais se cuidem!!!
Recordações de infância, férias gozadas a fazer campismo, vidas de gente que sobreviveu sem necessitar da luz eléctrica, estórias que levaram os gafanhões a criar uma cooperativa para distribuição da energia mágina que marcou o século XX, por estas bandas, já que os poderes instituídos não tinham nem capacidade nem vontade para olhar, com olhos de ver, para esta terra em franco crescimento, de tudo um pouco se falou, porque a EDP, se calhar, se esqueceu de que a cidade da Gafanha da Nazaré deu um pulo enorme nos últimos anos.
Bonito, no fim de tudo, seria que todos fizessem esta experiência de quando em vez, mesmo que não falte a electricidade. Vamos a isso?
Só mais uma palavrinha: se o homem que muito contribuiu para a criação da freguesia da Gafanha da Nazaré, em 1910, e que foi seu primeiro pároco, o padre João Ferreira Sardo, na imagem, viesse agora ao mundo, decerto ficaria zangado com muita gente, porque uma cidade como esta, com tanto comércio e indústria, não merece tais descuidos da EDP.
Bom 8 de Dezembro, com muita luz, são os meus votos para hoje.
Fernando Martins

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Armando Ferraz - O último fantocheiro



Armando Ferraz foi um gafanhão humilde que deixou marcas na memória de muitos. Morava ali no canto dos Zanagos, no lugar da Cambeia da Gafanha da Nazaré. Penso que foi, durante toda a vida, um funcionário da JAPA (Junta Autónoma do Porto de Aveiro), onde fazia um pouco de tudo. Recordo que, em data já muito distante, fazia parte da organização da Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, ao tempo da responsabilidade dos trabalhadores da JAPA, instituição que também subsidiava os festejos. Mas era preciso fazer um peditório pela Gafanha da Nazaré e terras vizinhas. E então, recordo o Armando Ferraz que lá andava, com outros colegas do trabalho, de saco às costas e de saca na mão, a pedir de porta em porta para a festa. 
Mais tarde vi quanto o Armando Ferraz gostava de festas populares: participava nas cegadas do Carnaval, nos grupos folclóricos que se iam organizando por isto ou por aquilo, e que logo desapareciam, e noutras festas de sabor popular. Mas onde mais se distinguiu foi como fantocheiro. O cenário próprio da arte, um paralelepípedo com armação de madeira e forrado a pano, os fantoches e suas vestimentas, pintados a seu gosto, e as estórias que entusiasmavam a criançada, tudo era de sua autoria. 
Apreciei-o algumas vezes nas ruas das Gafanhas e nas terras vizinhas, com a sua humildade, a dar alegria aos miúdos de todas as idades; admirei-o a animar festas em instituições vocacionadas para o apoio a crianças; saboreie o seu prazer de trabalhar com os fantoches (que davam pancada que se fartavam, uns nos outros), em Escolas de gente mais nova; soube que foi filmado para a televisão e fotografado para jornais e revistas, e até que foi à Universidade para participar numa qualquer festa. Foi, de facto, o último fantocheiro. 
Depois dele, nunca mais vi nenhum por estes lados. Mas a vida tem destas coisas: a gente humilde cai muitas vezes no esquecimento. Porém, o Armando Ferraz não morreu no coração de muitos gafanhões. Há dias alguém se lembrou dele no meu blogue. Não consegui qualquer fotografia sua a trabalhar como fantocheiro. Mas elas devem andar por aí, de mãos dadas com as suas estórias. Quem souber mais, acrescente ao que aqui fica dito. 

Fernando Martins

NATAL - 6

Um poema de Fernando Pessoa
Nossa Senhora do Socorro
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AVÉ MARIA Avé Maria, tão pura Virgem nunca maculada Ouvi a prece tirada No meu peito da amargura.
Vós que sois cheia de graça Escutai minha oração, Conduzi-me pela mão Por esta vida que passa.
O Senhor, que é vosso Filho, Que esteja sempre connosco, Assim como é convosco Eternamente o seu brilho.
Bendita sois vós, Maria, Entre as mulheres da Terra E voss'alma só encerra Doce imagem d'alegria.
Mais radiante do que a luz E bendito, oh Santa Mãe É o fruto que provém Do vosso ventre, Jesus!
Ditosa Santa Maria, Vós que sois a Mãe de Deus E que morais lá nos céus, Orai por nós cada dia.
Rogai por nós, pecadores, Ao vosso Filho, Jesus, Que por nós morreu na cruz E que sofreu tantas dores.
Rogai, agora, oh Mãe qu’rida E (quando quiser a sorte) Na hora da nossa morte Quando nos fugir a vida.
Avé Maria, tão pura Virgem nunca maculada, Ouvi a prece tirada No meu peito da amargura. 12-4-1902

HERA OFERECE NOVOS SERVIÇOS

ARTE NOVA EM BREVE
A HERA-Associação para a Valorização e Promoção do Património oferece mais um serviço, com o objectivo de divulgar noticias e novidades relevante no ambito cultural, arqueológico e ambiental. Mais anuncia, para breve, um novo projecto, ARTE NOVA, co-financiado pela UE, para a valorização do património histórico e cultural em meio urbano, em Aveiro. Mais informações em www.heraonline.org