quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Um artigo de Acácio Catarino, no CV

Voluntariado
com sensibilidades
diferentes
São bastante diversificadas as sensibilidades dentro do voluntariado e em relação a ele. O mais tradicional não se designava por “voluntariado”, exceptuando o caso dos bombeiros e pouco mais; outrora designava-se por serviço, “ajuda”, dádiva, partilha, assistência, caridade...
Normalmente, esse voluntariado achava-se associado à dádiva de outros, para além do trabalho, e não recebia compensação das despesas efectuadas. Não considerava necessário um quadro legal de regulação, nem um quadro de direitos e deveres. As palavras “responsabilidade” e “compromisso” traduziam melhor o seu tipo de relacionamento.
Pelo contrário, o voluntariado mais recente assume naturalmente a designação, considera necessários os quadros legal e de direitos e deveres, bem como a compensação das despesas efectuadas. Insiste bastante no imperativo da organização e até defende que o trabalho voluntário, caracterizado pela gratuitidade, deve ser tão profissionalizado como o remunerado, qualquer que seja o número médio de horas semanais de serviço.
Compreensivelmente, observam-se reservas mútuas entre o voluntariado mais tradicional e o mais recente, podendo afirmar-se que se estão a aproximar um do outro. Observa-se até uma verdadeira convergência das diferentes famílias e histórias de voluntariado.
Umas e outras vão tomando consciência daquilo que as une e sabendo conciliar aquilo que as diferencia.Trata-se de um processo evolutivo merecedor de simpatia e de atenta ponderação.
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Fonte: Correio do Vouga

Um artigo de Alexandre Cruz

Diálogo de surdos?
1. Não é fácil chegarmos ao entendimento dialogante quando os canais de recepção têm meias leituras sensacionalistas ou análises ideológicas de quem vê o outro não como irmão mas com distância desconfiada. O “caso” do belíssimo e profundo discurso “racional” de Bento XVI sobre questões que em leitura descontextualizada incendeiam a “emoção colectiva” menos atenta e pouco cuidadosa em “ler o conteúdo com olhos de ler” diz-nos que no chamado diálogo inter-religioso há muito a aprender. Será caso para dizer que nem todas as razões a “razão” conhece, e quando a inesperada reacção acontece é sinal de que as ondas de sintonia andam muito desencontradas. Afinal, como dialogar? Haverá lugar no “diálogo” para as verdades fundamentais? Será possível chegar aos consensos que estimulem positivamente as emoções colectivas que tantas vezes carecem da dose “qb” de “razão”? É possível, da parte da chamada teologia ocidental, escolher outras citações menos delicadas? Afinal, onde param, mais uma vez, as facções do Islão que poderiam por água na fervura dando o verdadeiro sentido ao texto e apaziguando os ânimos? No fundo, qual o lugar da “razão” no diálogo? Será possível o diálogo inter-religioso sem dizermos que “Deus não tem nada a ver com a guerra nem, quer nada com a guerra”? Ou no “diálogo” haverá lugar só para meias verdades que vão entretendo?... Das tantas análises, sob os diversos prismas que no fundo de tudo vão ao encontro da relação entre o ocidente e o mundo islâmico, foi de apreciar os testemunhos insuspeitos de líderes de outras religiões ou personalidades que se consideram indiferentes ao fenómeno religioso, que manifestaram apreço objectivo pela profundidade do discurso académico de Bento XVI sobre as relações entre “Fé, Razão e Universidade; Memórias e Reflexões”; para alguns, que leram todo o texto e só depois fizeram comentário, foi mesmo novidade bem estimulante toda a fundamentação filosófica e teológica do discurso que, na fronteira, procura despertar os horizontes da inteligência humana. Assim, o primeiro passo, princípio de honestidade intelectual, será sempre o ler todo o texto e só depois se pronunciar sobre ele; não um alinhar em meias leituras com slogans sensacionalistas, como acaba por denunciar o próprio director do Público, José Manuel Fernandes, referindo-se ao mau jornalismo que contribuiu para a confusão. 2. Em verdade, o que disse Bento XVI? Mesmo dos meios menos simpáticos para com o Papa alemão vai-se notando uma admiração na coragem que ele tem em, num espírito de pluralismo cultural, chamar os nomes às “coisas”. Não se pense que ele terá dito algo de novo, de modo algum; o que ele disse uma boa parte da população do mundo o diz: “agir de modo irracional é contrário à natureza de Deus” pois é diminuição de humanidade; ou seja, sem qualquer apologia ‘caseira’ mas em discurso aberto a questões universais, sublinha que a Fé deverá conter dose “qb” de razão, tem estrutura, pensamento, razoabilidade…e mal vai quando a emoção sem razão cresce a ponto da convicção não ser pensada; este, sem o bom senso, é o salto para o fanatismo... Não é novidade este apelo que afinal corresponde ao espírito da dignidade e dos direitos humanos; já em Agosto de 2005, na sua viagem a Colónia (Alemanha), Bento XVI confrontou os representantes islâmicos com o fenómeno do terrorismo, afirmando que "os programadores dos atentados demonstram que desejam envenenar os nossos relacionamentos e destruir a confiança, servindo-se de todos os meios, até mesmo da religião, para se oporem a todos os esforços de convivência pacífica e tranquila". Porque nesta altura não existiram manifestações?... Separando as águas, seja Papa conservador ou progressista, seja líder desta ou daquela religião ou de filosofia social ou política, seja trabalhador em fábrica, professor, aluno ou “cidadão” comum que cada dia faz o melhor que está ao seu alcance, seja mesmo indiferente (ainda) às questões de um sentido para a vida, sempre que “alguém” disser que a “guerra santa” é um mal objectivo e que a religião nunca deve ser confundida com a violência, aí estamos mais próximos da “verdade” absoluta de que “Deus é amor”. 3. No meio de tudo isto, é certo que poderão existir outras citações sobre pensadores passados menos sensíveis, certamente. Mas o fundamental de tudo será que para haver “diálogo inter-religioso”, de facto, a “verdade” objectiva da rejeição da violência, do fundamentalismo e do mal terá de ser um ponto de convergência de todos. E mais: talvez tenha chegado o tempo do Islão puro, moderado, ter “palavra” forte de moderação e bom senso nas seitas extremistas islâmicas… Onde estão os moderados no papel de moderadores? É essencial! Ou terão, eles próprios, medo de ser acusados de “ocidentalizados” e por isso preferem calar-se deixando andar? Já em outros escritos sublinhámos que, infelizmente, fanatismo existe em imensos lados e instituições, e não só no âmbito religioso; fanático e fundamentalista será o que não atingiu a maturidade do “diálogo” que complementa e enriquece a todos. O discurso de Bento XVI talvez tenha sido também “uma verdade inconveniente” e delicada mas, no fim de tudo, pode apresentar-se como um programa para “aprendermos mais a dialogar” (sem guerrear). Seria uma urgência histórica, continuando a apurar as “condições do diálogo” pois não é possível dialogar com “armas” ou desconfianças!... Talvez este seja o novo muro de Berlim que caberá ao Papa entreabrir pela estrada da “razão”… A-ver-vamos (ou não), assim seria tão importante no mundo globalizado! É verdade que diálogo à força é impensável, seria de surdos; mas que bom seria que todas as forças humanas se colocassem em fecundo diálogo para melhor nos conhecermos e mais futuro projectarmos!...

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Televisões de cabeça perdida?

Alma sã em corpo são
Confesso que me intriga o comportamento de gente que aposta em programas com cenas de sexo em horas acessíveis a muita gente. Gente jovem e gente menos jovens. Diz Francisco Penin, o director de programas da SIC, onde uma telenovela com essa marca vai passar, que esta é uma aposta da estação, porque, sublinha, “estas cenas fazem com que mais gente veja a série". É pena, a meu ver, que responsáveis por uma televisão, com responsabilidades na formação das pessoas, insistam em programas com conteúdos que possam ferir sensibilidades, à custa da conquista das audiências. Ainda há meses, em Aveiro, o jornalista José Carlos de Vasconcelos garantiu que os programas, com qualidade, mais tarde ou mais cedo acabarão por merecer a preferência do povo, pelo que urge avançar com eles. Mas não há dúvida, pelo que se vê, que há directores, com responsabilidades nessa matéria, que teimam em seguir os caminhos mais fáceis, por mais degradantes que eles sejam, em detrimento do que possa contribuir para o enriquecimento das pessoas, ao nível da formação moral, cultural, social e cívica. E o mais caricato disto tudo é que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social, que já iniciou um processo de averiguações para saber por que passou a SIC “spots” promocionais da série, com cenas de sexo, durante o dia, não consegue levar as pessoas à razão. Em resposta, Francisco Penin frisa que a conversa que teve com aquela entidade não teve qualquer efeito na decisão de passar os episódios, depois das 23 horas, sabendo ele, como sabe toda a gente, que a essa hora ainda há crianças e adolescentes de pé e a ver televisão. Continuo a pensar que neste País, que é o nosso, não faltam directores de programas, afinal, para quem o lucro justifica todos os procedimentos. E o mais grave é que, de certeza, não lhes hão-de faltar apoios publicitários de firmas ligadas a produtos que consumimos. Claro que essas séries apenas se destinam a pessoas sem mente sã. E que, por essas e por outras razões, dificilmente chegarão a ser gente de alma sã em corpo são. F.M.

Imagens da Ria

FOI ATRAPALHAÇÃO NA MANOBRA
Tive ontem, pela tarde, a visita do ex-arrais Gabriel Ançan. Está velho. Sempre são setenta e quatro anos de idade, dos quais cinquenta e três de arrais, em seis costas. Mas ainda hoje, à ré de um barco sardinheiro, não faria má figura. É de cerne, o Ançan, e do mais rijo. Nunca esteve doente… Salvou para cima de cento e vinte vidas. Ainda novo, perdida estaria a tripulação da barca francesa Nathalie se não fora ele. A mulher do capitão, desvairada pelo terror, atirou-se do convés para o mar: recebeu-a o Ançan nos braços. “Pesava menos que um lenço de assoar, mas como vinha tocada do alto, ainda me fez arrear um bocado os cotovelos.” … Ainda garoto foi dos que foram buscar a Senhora D. Maria II a Ovar. O Senhor D. Luís qui-lo para seu arrais. “Ainda estou novo, meu Senhor, e aqui não há quem me substitua.” Como intermináveis formalidades burocráticas lhe entravassem, durante três anos, a pensão requerida, tirou-se dos seus cuidados e partiu para Lisboa com dez tostões no bolso… Chegado às Necessidades, respondeu ao familiar de serviço: “Diga a Sua Magestade que é o Ançan, e verá como ele me recebe logo”… E da visita ao Senhor D. Carlos, só lhe ficou o remorso de ter saído de proa, isto é, de costas para o Rei. “Foi atrapalhação na manobra!” Chegou a ver todos os filhos, três, arrais como ele; e era lindo, comovedor e exemplar, ver sair, ao mesmo tempo para o mar, quatro companhas, de quatro Ançans. E se deixou a faina não foi porque já não pudesse fazer-lhe frente. “Ainda me não assusto, mas já não salto para bordo nem acudo às aflições com a prontidão de outros tempos e, tendo levado a vida a salvar gente, não quero arriscar-me a que me salvem a mim”. (Cunha e Costa, Paisagens, perfis e polémicas) In “Geografia de Portugal”, de Amorim Girão : Nota: Foi respeitada a ortografia

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Combate à pobreza

Governo quer prioridade
ao combate à pobreza
de crianças e de idosos
O Governo aprovou as linhas gerais do Plano Nacional de Acção para a Inclusão (PNAI) até 2008, documento que pretende dar prioridade ao combate à pobreza de crianças e idosos, e à integração de imigrantes e deficientes. Estabelecido para o período de 2006-2008, o PNAI é o documento multi-sectorial e multi-dimensional de coordenação estratégica e operacional das políticas de combate à pobreza e à exclusão social, em observância da Estratégia de Lisboa e fundado em objectivos comuns aplicados a todos os Estados da União Europeia.
Os grandes objectivos que vão estruturar a elaboração do PNAI são: A definição de um número restrito de prioridades fundamentais para obter resultados no combate à exclusão; A identificação de um número restrito de metas de cariz instrumental, garantindo que as mesmas se encontram devidamente alicerçadas em medidas concretizáveis e com financiamentos garantidos;A identificação de resultados que possam ser mensuráveis e devidamente avaliados.
Deste modo, o PNAI visa a adopção de medidas que permitam combater a pobreza persistente e encontra-se estruturado em torno de três prioridades: Combater a pobreza das crianças e dos idosos; Corrigir as desvantagens na educação e formação; Ultrapassar as descriminações e reforçar a integração das pessoas com deficiência e dos imigrantes.
"O PNAI tem prioridades bem definidas, instrumentos, medidas e metas quantificadas", referiu o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, no final da reunião do Conselho de Ministros.
Além das prioridades ao combate à pobreza de crianças e idosos e integração de deficientes e imigrantes, Vieira da Silva declarou que o PNAI privilegiará também acções que visem "corrigir as desvantagens na educação e formação".
"Combater as desvantagens na educação e na formação é lutar para que não se perpetuem os ciclos de pobreza", justificou o membro do executivo, sublinhando que o plano "pretende envolver a sociedade civil e as autarquias".
"Vamos fazer uma abordagem territorial dos problemas, porque as questões que se levantam apresentam uma abordagem diferenciada consoante as regiões do país", explicou.
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CITAÇÃO

O Papa e o islão VASCO PULIDO VALENTE
Não deve haver académico que, lá no fundo, não tenha um especial fraquinho pelo Papa Bento XVI. Afinal, ele faz parte da corporação e, mais, foi durante muito tempo um motivo de orgulho para a corporação. Fala o dialecto da seita, escreve no dialecto da seita e, se não pensa como a seita, pensa segundo as regras da seita. Só que é Papa e que, sendo Papa, de quando em quando, esquece o mundo cá de fora e reverte ao seu velho papel de universitário. O "escândalo" de Ratisbona não passa disto. Bento XVI, querendo explicar a irracionalidade da conversão pela violência, citou o imperador Manuel II Paleólogo. Num diálogo com um persa, Paleólogo dissera: "Mostra-me então o que Maomé trouxe de novo. Não encontrarás senão coisas demoníacas e desumanas, tal como o mandamento de defender pela espada a fé que ele pregava".
O mais preliminar assistente de Literatura, História, Filosofia ou Teologia percebe logo três coisas. Primeira, que o Papa não dá o imperador Paleólogo como um intérprete autorizado da religião muçulmana, mas como um como um opositor inteligente à perseguição religiosa. Segunda, que o Papa não esqueceu as perseguições da sua própria Igreja e que usou o imperador por conveniência ilustrativa da desordem moderna. E, terceiro, como o título e o resto da conferência comprovam, que Ratzinger não estava interessado em "atacar" ninguém, estava interessado na dualidade da fé e da razão. Infelizmente, a "rua" islâmica não é o público letrado da Universidade de Ratisbona e começou rapidamente a usual campanha de ódio contra o Bento XVI, que de toda a evidência o deixou estupefacto.
O papa já lamentou o equívoco, mas não pediu desculpa. Não podia pedir. Nem pelo incidente, fabricado pelo fanatismo e a ignorância, nem pelo teor geral da conferência de Ratisbona. Ratzinger insistiu que a fé não é separável da razão e que agir irracionalmente "contraria" a natureza de Deus. Não vale a pena entrar nas complexidades do assunto. Basta lembrar que desde o princípio (desde Orígenes, por exemplo) se construiu sobre a fé cristão um dos mais sublimes monumentos à razão humana e que o Ocidente, apesar da "Europa", não existiria sem ele. A fé muçulmana não produziu nada de remotamente comparável e, durante quinze séculos, sustentou uma civilização frustre e parada. A conferência de Ratisbona reafirmou a essência do cristianismo. Se o islão se ofendeu, pior para ele. :
In "PÚBLICO" de ontem
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Leia mais em Ecclesia

Dia Europeu sem Carros 2006

22 de Setembro
com ruas só para peões
Com o objectivo de sensibilizar a população para uma boa utilização do domínio público, a Câmara Municipal de Ílhavo vai organizar, pelo quinto ano consecutivo, o Dia Europeu sem Carros que se realiza no próximo dia 22 de Setembro. Nesse dia a circulação automóvel será interdita entre as 9 e as 19 horas, numa área pré-definida nas Cidades de Ílhavo (Av. Mário Sacramento) e da Gafanha da Nazaré (do cruzamento para o Centro Cultural até aos semáforos junto à Igreja Matriz), onde se realizarão várias actividades desportivas, recreativas e educacionais direccionados a todo o público, mas em especial às Crianças das Escolas e Jardins de Infância do Concelho de Ílhavo.

domingo, 17 de setembro de 2006

Nossa Senhora dos Navegantes

PROCISSÃO PELA RIA DE AVEIRO
ATRAIU MUITA GENTE
Como sempre, a procissão pela Ria, com saída do porto de pesca longínqua, na Cale da Vila, Gafanha da Nazaré, rumo ao Forte da Barra, atraiu muita gente. O cais estava cheio de pessoas que gostam de presenciar o ambiente. Pelo que vi, por ali estavam muitos gafanhões, mas também aveirenses e ilhavenses, que ano após ano renovam o gosto de ver e de passear pela Ria. Os barcos, de todos os tamanhos e feitios, iam repletos. Para mim, que tive o prazer de estar com o antigo prior da Gafanha da Nazaré, Padre Miguel Lencastre, que iniciou, na década de 70 do século passado, esta procissão, em honra de Nossa dos Navegantes, que se venera no Forte da Barra, a festa deste ano teve um valor especial. Com ele, recordei o que foram esses tempos, em que foi preciso dar novo fôlego às festas paroquiais, e percebi, então, quanto o Padre Miguel estava feliz, por mais uma vez se encontrar com os paroquianos que não o esquecem. Ontem, sábado, participou na missa de acção de graças que se celebrou no Stella Maris, presidida pelo prior da Gafanha da Nazaré, Padre José Fidalgo. Naquela casa me falou da sua alegria por estar nesta terra, do prazer de conviver com o povo, de entrar no Stella Maris, uma estrutura diocesana vocacionada para o apoio aos homens do mar, que soube dinamizar após o 25 de Abril e que ainda se mantém actual, nesta altura em fase de reestruturação, em obediência às exigências de hoje. Alguém me segredou a importância desta festa e desta procissão. “Podiam acabar todas as festas, mas acho que esta devia continuar, porque é sentida de modo especial pelas populações desta região.” Concordo. Mas também compreendo que o sortilégio da festa em honra de Nossa Senhora dos Navegantes vem muito da procissão pela Ria. A Ria de Aveiro é um pouco, ou muito, a matriz das nossas sensibilidades. Somos, de certo modo, filhos da laguna, cujos cheiros, cores e sabores nos invadem desde a nascença. Nós, os povos ribeirinhos, nascemos inundados pela maresia. Ouvimos, na serenidade da noite, o mar e a ria, e os nevoeiros matinais até parece que vêm salgados. Por isso, o encanto de tudo o que acontece de bom na Ria. Fernando Martins

RECORDANDO - Festa da Senhora dos Navegantes


Barcos preparam-se para a procissão

Numa tentativa de sensibilizar os historiadores gafanhões, e não só, para se debruçarem, com entusiasmo, sobre o passado do nosso povo no que diz respeito à Festa da Senhora dos Navegantes, nada melhor do que começar por um pequeno texto que extraímos da Monografia da Gafanha do Padre João Vieira Rezende, que foi pároco da Gafanha da Encarnação. Diz assim: 
“No Forte, freguesia da Gafanha da Nazaré, começou a ser construída em 3 de Dezembro de 1863 a capela de Nossa Senhora dos Navegantes, sob a direcção do exímio engenheiro Silvério Pereira da Silva, a expensas dos Pilotos da Barra, sendo então piloto-mor um tal senhor Sousa. Custou 400$000 réis. Na parede está fixada uma lápide que diz: «Património do Estado». 
Há de interessante e invulgar nesta capela as suas paredes ameadas e a ombreira da porta principal, de pedra de Ançã, lavrada em espiral com arco em ogiva. Celebra-se a sua festa na última segunda-feira de Setembro com enorme concorrência de forasteiros das Gafanhas, de Ílhavo, Aveiro e Bairrada. Nesse dia Aveiro é um deserto por se terem deslocado para ali muitos dos seus habitantes. A procissão ao sair do templo segue por sobre o molhe da Barra e regressa pela estrada sul que vem do farol. 
A festa é promovida pela Junta Autónoma da Barra.” Tanto quanto sabemos, a capela que tem como padroeira Nossa Senhora dos Navegantes, no Forte da Barra, é o mais antigo templo das Gafanhas, mantendo com rigor a traça original, apesar das obras de restauro e conservação por que tem passado. Pequenina, ali está inserida, e bem, no complexo portuário que entretanto foi nascendo, dando, ao mesmo tempo, sinais de que vai crescer ainda mais. 
A Senhora dos Navegantes, que os nossos pescadores e mareantes tanto veneraram nos tempos dos nossos avós, não deixará, contudo, com a sua ternura de Mãe, de velar por quantos sulcam as águas do mar, não já na Faina Maior, que o bacalhau que comemos já é mais importado do que pescado pelos portugueses, mas sobretudo nos transportes marítimos e na pesca costeira. Espera-se também que a Senhora dos Navegantes olhe, atenta, para os que hão-de recolher-se à Marina da Barra, ainda em fase de estudo e discussão, e às outras existentes na laguna, para fugir dos temporais ou para desfrutar das paisagens únicas que a Ria de Aveiro oferece. E já agora, que Ela inspire bom senso a quantos projectam uma Marina mais completa, para que as populações ribeirinhas não venham a ser prejudicadas, antes possam usufruir de uma infra-estrutura de nível internacional. 
Do texto do Padre Rezende, registamos, como ponto de partida para uma análise mais profunda, o pormenor, significativo, da construção da capela ter sido iniciativa e a expensas dos Pilotos da Barra, não se sabendo se houve, ou não, qualquer pedido ou sugestão das populações, entidades eclesiásticas, políticas ou autárquicas. Ainda seria curioso saber se o piloto-mor, o tal senhor Sousa, era pessoa da nossa região e ligada à Igreja. 
Por outro lado, seria interessante descobrir-se como apareceu aqui a devoção a Nossa Senhora dos Navegantes, como se escolheu a imagem e quem deu a sugestão para a confecção do rosto. Teria sido tudo trabalho do piloto-mor? O facto de as paredes do templo serem ameadas prende-se, compreensivelmente, à existência do Forte Novo ou Castelo da Gafanha, numa certa homenagem à defesa da zona das investidas por via marítima dos inimigos da Pátria. 
Debrucemo-nos, então, um pouquinho sobre a festa de Nossa Senhora dos Navegantes, que não tinha nada de procissões pela Ria de Aveiro. Essas vieram mais tarde, por iniciativa do Padre Miguel Lencastre, prior da Gafanha da Nazaré entre Abril de 1973 e Outubro de 1982. 
Tanto quanto nos diz a memória, a Festa da Barra (como também era conhecida) da nossa meninice, já lá vai mais de meio século, tinha a marcá-la, como pormenor mais típico, a procissão até ao mar. Era sempre na última segunda-feira de Setembro, pois no domingo anterior realizava-se a festa da Senhora da Saúde, na Costa Nova. 
A festa de Nossa Senhora dos Navegantes atraía mais o povo de Aveiro e Gafanha da Nazaré e a de Nossa Senhora da Saúde era mais ao gosto das gentes de Ílhavo e Gafanha da Encarnação. A uma e a outra associavam-se os veraneantes a banhos nas praias da Barra e Costa Nova, respectivamente. 
No dia da festa, de manhã, tinha lugar uma procissão da igreja matriz da Gafanha da Nazaré para o Forte, sendo transportada em andor a imagem antiga de Nossa Senhora da Nazaré (Já restaurada, como pode ser apreciada no altar-mor da Gafanha da Nazaré), com os membros da Irmandade que tem por patrona a padroeira da paróquia a prestarem-Lhe as devidas honras, com as suas opas brancas, murças azuis e bastão (pau a imitar uma vela de cera). 
Anos depois, chegaram a levar o andor com a imagem numa carrinha de caixa aberta, numa clara violação das tradições. A procissão até ao mar começava obviamente na capela e seguia pelo molhe que dá acesso à Meia-Laranja. Presidia o prior da Gafanha da Nazaré, incorporavam-se as irmandades e os “anjinhos” e o povo acompanhava atrás. Não faltava a música. 
Os foguetes estralejavam e o colorido das opas e murças emprestava dignidade ao acto. Na Meia-Laranja havia a bênção do mar e de quantos dele viviam ou nas praias apanhavam banhos de sol, voltando a procissão agora pela rua que ligava a Barra ao Forte, atravessando pela segunda vez a ponte de madeira que só os mais velhos podem recordar. Na Meia-Laranja, os veraneantes associavam-se com devoção ao gesto da bênção do mar e das gentes, recordando, talvez, quantos foram tragados pelas águas revoltas do mar embravecido. 
As gentes ribeirinhas sempre tiveram muito respeito pelo mar, ou não fosse ele o amigo que dá sustento ou destrói vidas indefesas. Por isso, a adesão dos povos da beira-mar aos festejos em honra de Nossa Senhora dos Navegantes. Como nota final, queremos realçar o facto de a Festa da Senhora dos Navegantes ter tido, durante muitos anos, como organizadores, a Administração e os trabalhadores da Junta Autónoma da Barra, depois Junta Autónoma do Porto de Aveiro, antecessoras, de certo modo, da actual APA (Administração do Porto de Aveiro). 
Os trabalhadores, muitos domingos antes da festa, percorriam as Gafanhas, Aveiro e Ílhavo, de saco ao ombro e de saca na mão, recolhendo donativos para as muitas despesas. Tudo se perdeu no tempo. Mas é com gosto que registamos o facto de a APA apoiar logisticamente a festa em Honra da Senhora dos Navegantes, associando-se ao Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, que a organiza, à Paróquia, ao Stella Maris e Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, à Câmara Municipal de Ílhavo, ao Instituto Português da Juventude, ao povo amigo das tradições e a todos os que a tornam possível, agora com a aliciante procissão pela Ria, que lhe dá um outro encanto. 

Fernando Martins

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

A religião na escola pública
Quantos cristãos saberão que, se Adão e Eva fossem figuras reais e nossos contemporâneos, precisa-riam, para viajar para o estrangeiro, de um passaporte iraquiano? Quantos se lembram de que Abraão, que está na base das três religiões monoteístas - judaísmo, cristianismo, islão -, possuiria igualmente nacionalidade iraquiana? Quantos se lembram de que os primeiros capítulos do Génesis, referentes ao mito da criação e da queda, se passam na Mesopotâmia, onde mergulham algumas das nossas raízes culturais? Há guerras em curso, também por causa da divisão entre xiitas, sunitas e jihadistas. Mas quem conhece essas divisões e a sua origem e importância históricas? Qual é a relação entre religião e violência, religião e política, religião e desenvolvimento económico?
Há já alguns anos, Umberto Eco, agnóstico, lamentava-se: "Nas escolas italianas, Homero é obrigatório, César é obrigatório, Pitágoras é obrigatório, só Deus é facultativo. Se o ensino religioso se identificar com o do catecismo católico, no espírito da Constituição italiana deve ser facultativo. Só lamento que não exista um ensino da história das religiões. Um jovem termina os seus estudos e sabe quem era Poséidon e Vulcano, mas tem ideias confusas acerca do Espírito Santo, pensando que Maomé é o deus dos muçulmanos e que os quacres são personagens de Walt Disney..."
Ernst Bloch, o filósofo marxista heterodoxo e ateu religioso sublinhou que o desconhecimento da Bíblia constitui uma "situação insustentável", pois produz bárbaros, que, por exemplo, perante a Paixão segundo São Mateus, de Bach, ficam como bois a olhar para palácios.
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Leia mais no DN

Gotas do Arco-Íris – 31

DESAFIO:
COM AS CORES DO ARCO-ÍRIS
PINTANDO...
Caríssimo/a: Aí ficam duas propostas: 1- Há dias, acompanhados por casal fraterno, assistimos às regatas de bateiras durante os festejos do S. Paio. Certamente este terá ficado admirado ao ouvir os nossos comentários aos exímios arrais. Esqueceu-se que na nossa juventude a vida nos atirou para as nortadas da Ria como timoneiros natos! (Escrevi natos!?... É só trocar o t pelo b!) [Deixai-me salientar dois desses arrais: um, o que ganhou, brincava com a vela – aquela inversão de sentido, logo seguida de paragem imediata, um espectáculo!; o outro ia sozinho na sua bateira. E como era gostoso vê-lo, sob o peso do corpo e da idade, girar do leme para a escota, desta para a tosta... Mesmo ao longe, saltava o prazer e o gozo que todas essas manobras lhe provocavam. Não concorria; participava!] Mas o que ainda hoje me está nos olhos é a mancha policroma das quarenta e tal velas que bailavam à nossa frente... Que maravilha! Alguém ao nosso lado, perante essa enorme e viva aguarela, deixou de perguntar: – Mas afinal o que é o S. Paio? 2- Ontem recebi um «manual de apreciador de vinhos». Folheei-o e tive dificuldades na página 6. Diz assim: “A cor: Relativamente à cor os vinhos brancos podem apresentar-se das seguintes formas: . Citrina: em geral trata-se de vinhos novos produzidos em regiões frias. Pode também acontecer que a cor tenha sido conseguida através de processos tecnológicos. . Palha: esta cor identifica a maior parte dos vinhos portugueses produzidos em regiões quentes. . Palha oxidado: denuncia envelhecimento ou alguma anomalia. . Topázio: cor imprópria para vinhos de mesa. Apenas admissível para licores ou licores generosos. Os vinhos tintos podem apresentar as seguintes cores: . Rubi: denuncia castas que não possuem grande riqueza em termos de cor. Pode também acontecer, um menor contacto com as partes constituintes do bago ricas em matéria corante. . Granada: caracteriza de um modo geral os vinhos portugueses. Castas tradicionais e métodos de vinificação clássicos. . Retinto: cor muito pronunciada. Vinhos provenientes de castas com elevada matéria corante. . Vermelho violento: denuncia juventude e tipicidade. . Vermelho acastanhado: revela envelhecimento ou anomalias.” De facto, perante tal riqueza e variedade de cores, quem me quer ajudar? Manuel

Festa da Senhora dos Navegantes

Nossa Senhora
dos Navegantes
na Web

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APA convida amadores e profissionais a foto-grafarem os festejos deste ano, para inclusão em exposição alusiva e na internet Associando-se às celebrações de cariz religioso e popular da Nossa Senhora dos Navegantes, que merece especial devoção por parte de todos os que labutam no mar, o Porto de Aveiro disponibiliza, a partir de hoje, um site referente à procissão realizada em 2005. Este novo espaço na web é constituído exclusivamente por fotografias, num total que ronda as duas centenas. O site pode ser consultado em http://www.portodeaveiro.pt/navegantes2005 Entretanto, a APA convida todos os amantes da fotografia (amadores e profissionais), para fotografarem os festejos deste ano, a realizar já no próximo domingo, dia 17, e cujo programa se anexa. Das fotos recebidas na APA, em película ou formato digital, será feita uma selecção para integrarem exposição alusiva aos festejos e integrada nas comemorações dos 200 anos da abertura da Barra. As fotos seleccionadas serão também disponibilizadas na web, em site específico a produzir para o efeito. O envio deve ser feito para: APA – Administração do Porto de Aveiro, S.A., Edifício 9 – Forte da Barra, 3830-565 Gafanha da Nazaré. Recorde-se que, para além do portal do Porto de Aveiro (www.portodeaveiro.pt), a APA disponibiliza aos cibernautas os seguintes sites: Portofolio: www.portodeaveiro.pt/portofolio CLIP: www.portodeaveiro.pt/portofolio Natal: www.portodeaveiro.pt/natal

sábado, 16 de setembro de 2006

As minhas reportagens

PASTOR JOÃO NETO,
PRESIDENTE DO CENTRO
SOCIAL DA COVA E GALA,
PROPÕE:
'Não fazermos sozinhos
o que pudermos fazer juntos'
Cova e Gala são duas povoações da freguesia de S. Pedro, na Figueira da Foz. Ficam do outro lado do rio, logo depois da Ponte dos Arcos. E se hoje são terras airosas, com progresso visível, há meio século eram simplesmente duas aldeias piscatórias, esquecidas pelos poderes políticos e económicos e com inúmeras carências, como que à espera de quem ajudasse as suas gentes. Foi o que aconteceu, em 1960, quando João Neto, pastor da Igreja Evangélica Presbiteriana, assume o seu trabalho pastoral na Figueira da Foz, com responsabilidades na assistência a pequenas comunidades circunvizinhas. Nos primeiros contactos, apercebe-se das diversas dificuldades que atormentam as pessoas, tendo tomado consciência de que, “se a Igreja Presbiteriana queria cumprir a sua missão, tinha de actuar corajosamente”. Daí nasceu o “Projecto de Desenvolvimento da Cova e Gala”, matriz do actual Centro Social, que tem como fins principais implementar acções do âmbito da segurança social, “nomeadamente nas áreas comunidade, família, terceira idade, invalidez e reabilitação”, como sublinha o pastor João Neto ao SOLIDARIEDADE.
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sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Visita do Papa à Alemanha

Aura Miguel faz balanço da visita de Bento XVI à Alemanha
A deslocação teve, naturalmente, uma dimensão espiritual. Foi um regresso às origens de Joseph Ratzinger, aos locais onde nasceu, cresceu e consolidou a Fé, a sublinhar que o sucessor de Pedro é um homem como outro qualquer: com sentimentos, fortes laços familiares, preferências de amizades e lugares de memória. Mas esta viagem abriu também novos horizontes quanto aos ensinamentos de Bento XVI. Se no início do Pontificado o Papa alertou o mundo para os riscos de uma "ditadura do relativismo", fazendo até o seu diagnóstico, agora na Alemanha o Papa foi ainda mais profundo. Talvez por a Igreja Católica alemã não estar na melhor forma, a braços com uma profunda secularização, que no fundo é o espelho da Europa, Bento XVI afirmou que o Ocidente está, há muito, ameaçado pela falta de respeito pelo sagrado, pela redução da razão ao estritamente científico e pelo abuso do direito à liberdade, que leva, inclusivamente, a ridicularizar o sagrado. Patologias e doenças mortais da razão e da religião, disse o Papa, que levam à destruição da imagem de Deus por causa do ódio ou da violência, e que põem em perigo a Humanidade. Bento XVI apelou à coragem, para que o Ocidente se abra à grandeza da razão, sem cancelar as questões fundamentais da vida e para regressar ao respeito pelo Sagrado e pelo temor de Deus.
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In RR, citada por Ecclesia

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Imagens da Ria

A RIA DE AVEIRO
Deixem-me ir hoje, no meu rico vagar, pela estrada que de Aveiro vai ter à Barra. A começar nas Pirâmides. Mas antes de lançar pés à suavíssima marcha, esperemos que avance e que passe uma vela que se mostrou ao longe, vinda certamente com pescaria miúda das costas de São Jacinto em demanda do nosso canal. Já se distinguem perfeitamente os clássicos e variados remendos do pano: um xadrez, meus amigos, um verdadeiro xadrez! À escota vem um marnoto de idade, de ceroilas curtas, nem chegam aos joelhos: de camisola azul ferrete, grossa como uma tábua, grossa como um cortiço, aberta à boca do peito; de carapuço de lã na cabeça, com a ponta derrubada para a nuca e terminada por uma bolinha. — Linda manobra, sim senhora, linda manobra. — Pois c’anté! — responde o velho, descobrindo a venerável cabeça. A estrada não é muito larga nem dá muitas voltas para chegar ao seu aprazível e benfazejo destino: mas de ambos os lados tem uma renda finíssima de tamargueiras que mergulham os troncos na água e que se vêem surgir na maré-baixa, de entre os calhaus arroxados e humedeci­dos da margem. Nestas alturas, não há remédio senão poisar a pena durante um momento e coçar a cabeça! Olha-se para um lado: água, muita água, brisas, espumas, velas, barcos, moinhos, areia e sol! Olha-se para o outro lado: tabuleiros de cristal, montinhos brancos expostos ao tempo, marinhas, marnotos e salineiras, a planície, a imensidade, e no fundo, no extremo horizonte, a sombra quase imperceptível, a divina moldura dos pinheirais! Olha-se para trás: a cidade: Alto! Ali não se distingue, ali não se aponta para nada: é a cidade, é Aveiro! Nestas doces ocupações do espírito vai-se chegando, sem dar por ela, à ponte da Gafanha. Dizem que é uma ponte velha, feia, indigna dos nossos tempos; mas eu, se fosse milionário, comprava a peso da oiro a consolação de sentir neste momento debaixo dos pés as pranchas carcomidas do seu tabuleiro. Agora começam casinhas baixas à beira da rua e, na areia amoliçada, semeadura às mãos cheias: milho, feijão, batata, abóboras, pinheiros! Eram dez horas da manhã de 20 de Julho de 1909. Que estava eu a fazer em casa, taciturno, pasmado?! Fugi para aqui, vim passar a minha agonia para estas areias onde a Providência não me negaria com certeza o seu anjo de consolação! A Barra! O Forte! A Ronca! A Capela! Eu já disse Missa naquela ermida. A meio da Missa ateou-se um ramo seco que deitou uma chama enorme; e um doido manso que estava presente, o Julinho de Esgueira, exclamou aterrado no meio da assembleia: — Ai Portugal, que te vais à vela! Lima Vidal (Lições da Natureza e dos Homens, Coimbra, 1914) Transcrito do Boletim Municipal de Aveiro, Ano II, 1984, nº 4 Nota: Lima Vidal é D. João Evangelista de Lima Vidal, primeiro bispo da restaurada Diocese de Aveiro.
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Foto do livro "Aveiro, cidade de água, sal, argila e luz", edição da CMA

Um exemplo de disponibilidade

Padre João Gonçalves
termina missão
na Glória O Padre João Gonçalves terminou a sua missão na paróquia da Glória, Sé de Aveiro, passando a viver mais para a pastoral sociocaritativa, incluindo a pastoral das cadeias, de que é coordenador nacional. Afinal, assume tarefas para as quais também está fortemente vocacionado. Quem vive em Aveiro e pela cidade passa, tanto no âmbito eclesial como social, mas não só, conhece forçosamente o Padre João, um gafanhão da Gafanha do Carmo que desde a ordenação começou a trabalhar na paróquia da Glória, de que foi prior 29 anos. Conheço o Padre João desde sempre e sempre admirei o seu testemunho de homem de Deus e da Igreja, com uma dedicação sem limites às missões que lhe foram atribuídas. Homem de sorriso aberto, de humor sadio, de luta pela defesa dos mais carentes, de atenção aos que mais precisam de uma palavra amiga, de um conselho oportuno, de uma pista de vida assente nos valores cristão. Quando podia, passava pela Sé para ouvir as suas homilias. Com palavras simples, abria os participantes aos valores evangélicos, apontava caminhos de bem e de verdade, alertava para o perigo do comodismo que nos torna frios e indiferentes aos que mais sofrem. Quando a ele me dirigia, na busca de qualquer colaboração ou sugestão, o Padre João mostrava uma disponibilidade muito grande para me ouvir e ajudar. Disponibilidade para ouvir, sem mostrar enfado nem pressas. Porque o seu sacerdócio foi assim mesmo. E tenho mesmo a certeza de que vai continuar, agora que deixa a paróquia da Glória, ainda com mais tempo para ouvir quem precisa de falar e de ser ouvido. Fernando Martins

Um artigo de D. António Marcelino

Quando os jovens
alinham depressa....
Vamos entrar, de novo, numa campanha onde, dificilmente, as pessoas se vão ouvir umas às outras, a tal ponto pensam que têm a razão toda e o que é preciso é falar mais alto para abafar os contrários e que ninguém os possa ouvir, nem a eles, nem às suas razões.
Os jornais já noticiaram que o aborto vai agora ao Parlamento pela mão do PS. Depois, o referendo, como motivo de fidelidade a promessas feitas e parece que a exigências de leis e de clientela.
Em Julho passado, com esta perspectiva no horizonte, o novo líder da Juventude Socialista disse, e os jornais fizeram eco com chamada de primeira página, que o aborto é o “combate da sua vida da JS”.
Por mais que se tente embrulhar tal propósito em papel colorido e bem perfumado, ele aparece sempre, de facto, como o combate da vida de gente nova e sonhadora. Motivo de pouca esperança para a parte da nação que espera alguma coisa de novo e sério dos jovens militantes do partido.
Da gente nova, qualquer que seja a sua cor partidária, temos direito a esperar, tal o investimento que nela se faz à custa de todos nós, sonhos e projectos de vida, luta empenhada pela justiça social e pelo bem comum, compromisso nas causas sociais mais nobres, aquelas que não envelhecem com o tempo, nem com as cores partidárias. Temos direito a esperar alguma rebeldia sadia, em relação a tudo quanto dignifica as pessoas e as torna mais livres para seu bem e em sociedade. Direito a esperar um não alinhamento em causas onde há mais emoções que razões, uma maior abertura na procura de soluções para os problemas sociais mais graves e para a defesa dos direitos que nivelam por cima e são de todos.
A causa da vida nunca se resolverá com soluções de morte, nem com emoções voluntariosas. O respeito pelas pessoas em situações dolorosas, não se identifica fazendo coro cego com grupos de pressão minoritários.
Quando os jovens deixam de pensar os problemas da sociedade e entram no seguidismo de um pensamento unidimensional, que outros acriticamente lhes propõem ou impõem, facilmente se fecham os horizontes necessários da vida, onde a humanização e a dignificação da pessoa humana deixa de ser uma simples palavra, para se tornar um compromisso social inalienável.
Mal vai quando os voos da gente nova são voos das aves de capoeira. A gente nova prima pela utopia, pelo sonho sem limites, pela ânsia de resolver depressa todos os problemas humanos e sociais, pelo não deixar que alguém lhes corte as asas ou lhes mate os sonhos.
As juventudes partidárias alinham depressa de mais. O tempo actual favorece, lamentavelmente, esta atitude. Porém, é preciso denunciar o tempo que não deixa crescer ou reduz a vida a interesses imediatos de carreira social ou política. Ao colo, pela mão ou de olhos fechados e mente preguiçosa, ninguém vai muito longe. O país precisa de jovens que não envelheçam antes do tempo e cultivem projectos com horizontes largos e fascinantes. Não creio que esteja entre estes o aborto, muito menos como o grande combate de uma vida jovem.

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

JACINTA EM DIGRESSÃO PELO PAÍS

Jacinta inicia
digressão em Viseu
a 4 de Outubro
A cantora portuguesa de jazz Jacinta, natural da Gafanha da Nazaré, começa no próximo dia 4 de Outubro, em Viseu, a digressão de apresentação do último álbum «Day Dream». A cantora vai percorrer o país durante dois meses. Depois de Viseu, Famalicão (dia 6), Marinha Grande (dia 7) e Aveiro, no dia 11, vão receber Jacinta em concerto pelas 21:30 horas. Depois de uma passagem no dia 27 de Outubro pelos Açores, Ponta Delgada, a cantora vai estar em Portalegre no dia 28. Em Novembro a digressão vai passar pela Guarda (dia 4), Évora (dia 14) e no dia 24 em Lisboa, entre outras cidades. Dois meses depois do início do périplo pelo país, Jacinta termina a digressão no Porto, no dia 2 de Dezembro. «Day Dream» foi produzido por Greg Osby e já conquistou a platina de ouro.

Luta contra a corrupção

Lei que prevê punição
de clubes por corrupção
deve entrar em vigor em 2007
O diploma que prevê a responsabilização de pessoas colectivas no âmbito da corrupção desportiva, como os clubes, deve entrar em vigor no início do próximo ano, anunciou o coordenador da Unidade de Missão para a Reforma Penal (UMRP), Rui Pereira. Rui Pereira disse que "a aprovação do diploma, pela Assembleia da República ou pelo Governo, deverá estar concluída até ao final do ano, podendo entrar em vigor no próximo ano".
Pela primeira vez em Portugal será possível julgar clubes e outras associações desportivas pelos crimes de corrupção, à semelhança do que já acontece noutros países da União Europeia. Actualmente, a lei portuguesa prevê apenas a punição de pessoas singulares.
Segundo Rui Pereira, a nova legislação sobre penalizações para a corrupção desportiva tem por base dois motivos: a revisão do Código Penal e a necessidade de adaptação ao mesmo, assim como a opinião do constitucionalista Gomes Canotilho, para quem o decreto-lei de 1991 sobre corrupção desportiva é inconstitucional.
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Como vai o nosso atraso...
Vejam bem como vai o nosso atraso. Só agora é que acordamos para a necessidade de julgar e condenar os corruptos ao nível do desporto...
Até aqui, pelos vistos, não tem havido possibilidades de actuar para impedir a corrupção no mundo desportivo. Daí que alguns clubes, através dos seus dirigentes sem escrúpulos, tenham beneficiado das benesses de ter árbitros escolhidos pelo telefone (a dar fé no que tem vindo a lume), com prejuízo para a verdade desportiva. E o mais curioso é que os dirigentes visados, ao abrigo do princípio que defende a presunção de inocência até ao juldamento, continuam, por isso, nos mesmo cargos, sem qualquer sinal de vergonha. É pena.
F.M.

ENTRE A RIA E O MAR

Numa sociedade como a nossa, que vive cada vez mais limitada a espaços fechados, é sempre bom procurar a natureza. Na Praia da Barra, próximo da antiga ligação, por ponte de madeira, ao Forte Novo ou Castelo da Gafanha, há um convite, que é também um desafio, para convivermos com a natureza. Não perca tempo, antes que o Inverno chegue.

Um artigo de António Rego

O terramoto do século XXI
As notícias de hoje são uma espécie de predadores da nossa quietação mas ao mesmo tempo vasto campo de reflexão sobre temáticas que, em abstracto, seriam constantemente adiadas. De concretos anda o mundo cheio, é verdade. Mas o que acontece sempre deixa margem a questionamentos que de outra forma ficariam à espera de vez. O terramoto de Lisboa de 1755 foi, no facto, instantâneo. Na repercussões lento e profundo em réplicas que ainda hoje se fazem sentir. Temos percebido que o 11 de Setembro de 2001 sacudiu muitos conceitos e preconceitos adormecidos no turbilhão de factos e nos betões e ferros de muitas torres que continuamente se levantam e derrubam. A palavra terrorismo ganhou um significado de que quase já nos havíamos esquecido - era assim que se chamava aos lutadores pela independência das colónias. Existiu e existe nos senderos, esquadrões, brigadas, e tantas formas de chacinas cruéis a inocentes, em terra, mar e ar. Mas a forma de combater esta calamidade observa-se sob diferentes ópticas. Ainda há quem distinga o bom do mau terrorismo, consoante o vento ideológico que o sopra. Sabe-se que o diálogo tem pressupostos de honestidade bilateral. Quantos acordos de paz se fizeram na história com outras tantas roturas. Tudo se pode recobrir com a capa das palavras e gestos. Quando se trata de prender, interrogar e julgar suspeitos de actos terroristas parece que, para alguns, a justiça e os direitos humanos não passam de gestos líricos ou discursos de circunstância. É tanta a raiva contra os criminosos que parece tornar-se legítima a prisão arbitrária, interrogatório e tortura a quem junte vagos indícios de proximidade a qualquer atentado. Aqui se enquadram as prisões secretas que se povoam com viagens mistério dos aviões da CIA. Aqui se escondem direitos humanos, dignidade das pessoas, necessidade duma justiça e direito que se distanciem da prepotência de meios para procurar os criminosos.
Nas muitas reflexões surgidas no quinto aniversário do 11 de Setembro algumas vozes sensatas têm apontado para um objectivo talvez longínquo mas nobre: aprofundar pacientemente o diálogo entre o Ocidente e o mundo Árabe, sem deixar de fora os países mais radicais na interpretação do Islão. A experiência tem dito que a violência apenas produz violência. E que isso é mau para todos.

Um artigo de Alexandre Cruz

5 anos depois 11-09
1. Assim foi e assim será nos anos de vida das próximas gerações. O calendário ao assinalar “11 de Setembro” convida-nos aos minutos de silêncio e meditação sobre como “como vamos de mundo”. São infindáveis as reflexões destes dias sobre tudo e mais alguma coisa, o antes, o durante e o depois; das análises da geopolítica, à abordagem da tecnologia militar e arquitectura das torres; da filosofia e história das religiões até às concepções de história contemporânea com esta página aberta que não deixa ninguém insensível. Tudo foi escalpelizado, mas talvez mesmo o que valha e pena seja compreender mais as raízes do “ground zero”, as razões do acontecimento que continua a comandar o mundo. 2. Quanto a consequências, ao que mudou… tudo mudou! Para alguns analistas regressámos, na resposta unilateral anglo-americana, ao pré-revolução francesa, onde o estado de direito é “abalado”, a comunidade (e o seu direito) internacional apresentara-se insignificante e a “lei da força” explícita regressa a marcar o ritmo. Estes dias foram oportunidade de (re)parar fazendo leituras de pormenores que mudaram há cinco anos: pela segurança apertada sabe-se que qualquer muleta, corta unhas, pode fazer parar um avião; diz-se mesmo sem complexos que após o 11 de Setembro “ser pessoa com deficiência” é ainda mais difícil pois a desconfiança nos aeroportos e não só generalizou-se. Quem não se lembra na altura do pânico do “antrax” nas caixas Multibanco… 3. Há cinco anos, diante dos escombros do símbolo (as torres gémeas) do proclamado império do ocidente (EUA), e ainda com todo o fumo a desafiar o pragmatismo americano da cidade modelo (NY), dizia-se que talvez fosse “hora” dos cinemas de Hollyood silenciarem a sua “máquina de guerra” e procurassem por todos os meios implementar uma Cultura da Paz. Qual quê, sendo certo que a vida tem de continuar mas…, cinco anos depois, na irresistível encenação americana, os filme de guerra não pararam e começam mesmo a abundar películas de cinema com a tragédia americana; talvez seja uma forma de cartoonizar exorcizando a realidade… 4. No meio de tudo e na gestão de tão complexo fenómeno daqueles dias, onde a “emoção” supera a anos-luz a “razão”, em temos de racionalidade política as contas continuam e ficarão perplexas. O Iraque invadido à força pelo casamento dos EUA com a Inglaterra, com o pretexto de encontrar as famosas (mas invisíveis) “armas de destruição maciça”, politicamente deixam para a história da política internacional como a guerra e o “combate do outro” vence em eleições todas as “mentiras”. (Democracia não é necessariamente sinónimo de “verdade”…e quando a mentira vence descredibiliza-se a “política”.) Agora que Blair e Bush estarão quase a terminar a sua missão, entre o real e o possível, fica o sabor amargo. Como serão os sucessores, que correcção histórica lhes será possível? Por muito que tudo se diga, a verdade é que precisamos dos EUA regenerados no tabuleiro do xadrez político do mundo global. 5. Em tudo o 11 de Setembro fica registado na nossa memória com o traumatismo de algo “perdido”. Perderam-se vidas, famílias, sentido de abertura e confiança na partilha de culturas de que era paradigma o coração da América, World Trade Center; perdemos a “liberdade” que encontrámos talvez também porque não lhe tenhamos dado melhores “fundações” de conhecimento mútuo e reciprocidade no aprender a “viver juntos”; perdemos, no unilateralismo anglo-americano, a oportunidade da ONU ser o gestor da Nova Ordem Mundial emergente que instaurasse sentidos de justiça (e justa distribuição dos bens) para então ser possível a paz; perdemo-nos, nós, no esforço de compreender o incompreensível, quando a razão humana é bloqueada pelos fundamentalismos que existem e persistem em todo o lado (tanto nas causas como nas consequências, não é só “lá” que existem fundamentalismos e intolerâncias; e não se pense que é só no campo religioso, existem fundamentalismos de visões sociais, políticas, científicas…que impedem a abertura plural ao “outro”, cegando a possibilidade do atingir de modo inclusivo um bem comunitário maior, em justiça e com autêntica liberdade (responsável e respeitadora). 6. Futuro? Claro, ele está aí todos os dias! Soubemos por estes dias que o presidente do Irão (o indizível “observador” atento do mundo, a ir à boleia nesta catadupa de acontecimentos…) há meses, quando do episódio dos cartoons de Maomé, lançou “concurso nacional” de cartoons sobre o holocausto. Amor com amor se paga!... Fascinante mas lamentável mundo… também em que tantas vezes perdemos a “sensibilidade do outro” e na nossa ingénua concepção de “liberdade” ateamos fogos evitáveis no desrespeito pelos valores do “outro”. 7. Cada vez mais o futuro, e falar de futuro é falar do futuro da liberdade, está na vivência compreensível do dia-a-dia! Precisamos mais de compreender a realidade que nos envolve e que somos… A força das armas nunca será caminho de construção com futuro, às vezes abre mais feridas. Uma boa parte deste futuro de esperança que reequilibre este lindo planeta residirá numa ONU renovada; esta deve ser o centro do mundo, com o contributo inclusivo de todas as forças vivas e construtivas, também das grandes Filosofias e Religiões da Humanidade, estas tantas vezes perdidas ou “entretidas” nas suas vírgulas e “umbigos” retardando a essencial “identidade na pluralidade”, com autêntico espírito de serviço à Humanidade. Humanidade que Deus ama e mesmo “assume” para a diversidade dos Cristãos. É mais o que une que o que separa, vamos, mais em espírito ecuménico! O mundo passa! A velocidade deste tempo não se compadece com um “ir andando”…! (Mas…que bom seria que a ONU encontrasse um “poço de petróleo” para se auto-sustentar sem “mendigar” às potências mundiais!...)

terça-feira, 12 de setembro de 2006

ECUMENISMO

Papa reafirma compromisso ecuménico
Bento XVI reafirmou esta tarde o seu compromisso pessoal na promoção da unidade entre os cristãos e agradeceu a possibilidade de rezar “juntos”, como o fez com católicos, protestantes e ortodoxos, na Catedral de Regensburg. Essa unidade, frisou, serve “para que o mundo creia” e a “seriedade desse compromisso” deve animar o diálogo entre as Igrejas.
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11 de Setembro

AINDA HÁ MUITO A FAZER...
“Ainda há muito a fazer para construir a paz e a igualdade entre os povos. (…) Com o 11 de Setembro, o Mundo ficou a saber que a violência pode atingir tudo e todos, [mas] a paz nunca se vai conseguir alcançar pela afirmação do poder, mas sim pelos laços de proximidade, de igualdade e de partilha entre os povos.”
D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu,
no Diário Regional de Viseu
Esta afirmação do Bispo de Viseu veio mesmo a calhar no dia em que o Mundo recordou, com emoção, o 11 de Setembro de há cinco anos. E bateu no ponto certo, na minha óptica, quando muitos só falam das injustiças e dos fanatismos religiosos ou outros, como fermentos de ódio e de terrorismos. A realidade é esta. À nossa volta continuam guerras, violências, perseguições, marginalizações, em suma, outras formas de terrorismo que matam sem tiros nem bombas e sem aviões desviados. Por isso o apelo de D. Ilídio, no sentido de lutarmos pela paz, criando laços de proximidade e de igualdade. Treinados nisso, no âmbito familiar e local e depois no âmbito de freguesia e de País, chegaremos ao plano internacional, na partilha e na comunhão entre os povos. Com mais justiça, com mais respeito pelas opções dos outros, sempre em diálogo com todos, ajudaremos a construir a paz por que almejamos. Fernando Martins

Mundo do futebol

Não há quem ponha
cobro ao compadrio
O mundo do futebol, pelo que se ouve e vê, está um caos. Não é preciso perceber muito deste mundo para saber que a podridão grassa por aí. As escutas telefónicas continuam a revelar, pelo que diz a comunicação social, que o compadrio, uma eloquente forma de corrupção, mina a ética desportiva. E o mais engraçado é que até alguns dirigentes que passam a vida a pregar moralidade são descobertos com a boca na botija, sendo iguaizinhos aos que acusam de corruptos. Tudo isto é tanto mais grave quanto é certo que as escutas agora denunciadas pela comunicação social foram registadas há muito pela Justiça portuguesa. E o que foi feito a partir daí? Nada, que se saiba. Ou muito pouco, para ser mais justo.
F.M.