domingo, 16 de julho de 2006

Texto de Paula Rocha, no JN

Arte Nova
liderada por Aveiro
e Estarreja
A Câmara Municipal de Aveiro vai coordenar, nos próximos dois anos, em colaboração com Estarreja, os trabalhos da Rede Nacional de Municípios Arte Nova. A decisão foi tomada numa reunião, realizada no dia 11, onde estiveram presentes os municípios de Espinho, Cascais, Porto, Estarreja, Aveiro, Leiria e Figueira da Foz.
A primeira reunião serviu, essencialmente, para definir os regulamentos de funcionamento da rede, criada a 17 de Maio e da qual fazem parte 12 municípios (Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Espinho, Loures, Cascais, Caldas da Rainha, Figueira da Foz, Leiria, Porto, Vila Nova de Gaia e Lisboa).
De acordo com Ana Gomes, responsável Divisão de Museus e Património da Câmara Municipal de Aveiro, "haverá um próxima reunião, em Outubro, e nessa altura os municípios irão apresentar as propostas desenvolvidas, no que respeita às acções para 2007 e 2008".
Os 12 parceiros que integram a Rede Arte Nova têm, então, até Outubro para fazer um levantamento de todos os imóveis e elementos Arte Nova existentes nos respectivos concelhos, para que depois se possam delinear formas de actuação.
A sensibilização dos privados para a necessidade de recuperação dos imóveis e a questão dos apoios financeiros que possam ser dados nesse sentido, são duas questões que a Rede Nacional de Municípios Arte Nova irá definir à posteriori.
Ana Gomes disse ainda que o nome de Aveiro foi sugerido como primeira opção. No regulamento ficou definido que a rotatividade será válida por dois anos e que caberá aos municípios voluntariarem-se. No caso de haver mais do que dois voluntários, proceder-se-á a uma votação.
A sede da Rede Nacional de Municípios Arte Nova irá ser instalada na Casa Major Pessoa, futuro Museu Arte Nova de Aveiro.

Um artigo de Alexandre Cruz

Motivação, do mundial à vida
1. Todos sabemos que não existem soluções instantâneas para os problemas estruturais, que se têm arrastado pelo tempo fora. Mesmo que fôssemos campeões do mundial de futebol, e muito boa prestação a nossa delegação (comparativamente) assinalou, claro que no que se refere às áreas fundamentais da sociedade tudo iria, como irá, continuar naturalmente na mesma. Ainda bem que as coisas são assim, “são como são”, e esperar o contrário seria não colocar “cada coisa no seu lugar”; mal vai quando a emoção perde todas as fronteiras da razão transpondo para a “euforia” as soluções de tudo. Não se peça ao futebol o que ele nunca poderá dar, mas reconheça-se na nossa vivência do mundial o mérito motivador e retire-se de mais esta experiência exaltante o sentido dos desafios tornados esforço e compromisso diário. Diante deste fenómeno de proporções impressionantes e incontornáveis pelo querer das “pessoas”, tanto não fará sentido ser “velho do restelo” como se Portugal não tivesse participado nesta competição mundial, como, do mesmo modo, será irrealista do Futebol realizar leituras interpretativas de toda a realidade, leituras essas ora “fatalistas” na hora das derrotas, ora “divinas” na hora da vitória em que se conclui rapidamente que “somos os melhores do mundo”! Talvez do mesmo modo, e pautando pelo equilíbrio, mesmo os mais pessimistas viveram horas de alegria motivadora na vitória, assim como os optimistas desenfreados souberam descer do lindo “sonho” à realidade. Afinal o Futebol é só o Futebol! Mas como em tudo na vida o que está bem feito assim merece esse mesmo reconhecimento e apreço. A este propósito será de sublinhar, e depois de tudo o que se possa dizer…, que graças à gestão presente da instância competente, ao sentido de liderança e estratégia, é bom hoje sentir que a selecção de futebol – assim seja em tudo - não é fonte de problemas (como era até há poucos anos, quem não se lembra!) mas de alegria, motivação, energia positiva. Este facto, a transpor como exemplo para a vida diária, pode ser um sinal objectivo muito positivo, estimulante.
2. Há, naturalmente, opiniões para todos os gostos, sendo que no nosso ADN português está sempre uma costela de “travão”, de tristeza e pessimismo, que nos impede de “agarrar” com toda a alma aquilo que temos de fazer e que pode ser bom para todos. Contudo, teremos de centrar mais onde “pomos os pés”, a esperança e o sentido da vida, quando não da euforia incontida (dando importância demasiada ao acessório) depois passamos à ressaca do nosso “triste fado”. E aí carregamos novamente com o nosso arado de pessimismo e calculismo que nos impede de erguer as causas, os ideais, a esperança motivada e motivadora. Muito para além dos convites, contextos e oportunidades (sociopolíticas que sejam) não é por acaso que as pessoas saem à rua e partilham a festa com os seus símbolos coloridos. Não só no nosso país, mesmo em terras germânicas, habitualmente mais frias quer no clima quer nas personalidades, também aí se verificou toda a festa cantada, dançada e partilhada. É bom sinal! O viver os acontecimentos no que eles significam, assumindo a festa de forma saudável e simples, derrubando também este muro do racionalismo que pertence ao nosso código genético europeu, será algo de libertador e importante. Sendo verdade que infelizmente por vezes a euforia deu ou dá lugar à emoção irracional e destruidora até da própria segurança colectiva, o certo é que, não se podendo ler o todo pela parte, o conviver e festejar de forma saudável como foi na generalidade, representa o encontro, a partilha, liberdade, sair de casa movidos por uma causa comum, força de motivação que se renova e renova a vida. Algo que só mesmo o futebol neste mundo consegue. Mas, o “jogo” deverá continuar! 3. Que ficará, e que será feito, de toda esta energia positiva colectiva partilhada? Esta é a pergunta essencial… que, porventura, não fará mesmo sentido fazer. É a pergunta sobre o “depois” em que tudo na realidade volta ao mesmo. Se o mundial foi oportunidade para mais alguns portugueses despertarem em si mais a alegria, o “sonho”, a motivação (esta hoje a palavra chave da vida pessoal e social), o agarrar com energia cada dia de vida como se de uma “final” de tratasse; o aperfeiçoar a noção do “gosto em fazer bem” vivendo em todos os “campos do jogo da vida” com mais esperança e responsabilidade…então o Mundial, como energia motivadora, foi ganho mais ainda! Será caso para dizer com a canção: “Podes não chegar à luz mas tiraste os pés do chão!... Corre mais!”

sábado, 8 de julho de 2006

Ainda de férias

Mesmo de férias, foi possível arranjar um tempinho para esta visita. O respeito pelos meus leitores habituais é muito bonito e muito sincero.
Até um dias destes para mais uma passagem por aqui. Nem que seja de fugida...
FM

Gotas do Arco-Íris – 25

AI QUE LINDO RANCHO!...
Caríssimo/a: Havia, de facto, uma popular cantiga em que assim dizíamos... Curiosamente este rancho era sempre um colectivo e bem animado: grupo de jovens que procurávamos a vida, ziguezagueando, por festas, novenas, cegadas, serões e serenatas...[Não vamos recordar aquelas cenas que se passavam na passagem de ano, para não chocar ninguém pela sua inocência ou para não ser acusado de estar a viver muito no passado...] Agora lá que as fazíamos, que não restem dúvidas. A atestá-lo aí está o Timoneiro [é só procurar a data...] e, quem sabe, talvez algumas actas da Junta de Freguesia ou relatórios do sr. Regedor. Imaginem, porém, que o meu amigo Mário Borges lá me foi dizendo: - Sabe, comi ao almoço um rancho que me deixou consolado! A minha Mulher [...e falava na esposa sempre com um certo ar de quem a tinha bem presente acarinhando-a...] não faz destas comidas e eu já tinha saudade daquela massa com grão com as costelinhas, uma boa chouriça... Só não comi os pés de porco; não aprecio!... Já há muito que não comia; desde os tempos do Colégio [e, pelo tom, punha o colégio com letra maiúscula!...] Podem crer que este jovem foi uma revelação desde que pela manhã os nossos destinos se cruzaram: ele era o motorista do autocarro que me (nos ) conduziria a uma praia bem conhecida para reforço de Amizade de grupo que terminava a sua azáfama em prol dos outros. O nosso almoço não meteu rancho, mas a salada de polvo e as pataniscas de bacalhau apagaram traços de outros sabores. E depois de refrescante caminhar por encosta de monte pesaroso do incêndio do ano passado, parámos num largo com seu cruzeiro antigo e capela a condizer. Mais uma grata surpresa: a capela era dedicada a Nossa Senhora das Dores. Como diria outro grande Amigo, o professor Baltazar, em ocasião também ela apelativa: - Isto aqui é dois em um! [Referia-se ao espectáculo maravilhoso das amendoeiras em flor completado com o da neve que foi caindo mansa mas assustadora!] A verdade é que a Capela logo me transportou para junto das duas Mães, que a minha da terra também era das Dores! E por momentos as minhas memórias quedaram junto do ex-voto que na parede fronteira nos recordava graça pedida e concedida... Só me resta repetir aquilo que todos já esperamos [...mas devagar, que estes chineses têm cada ideia!...]: “Pouca cama, pouco prato, e muita sola de sapato”! Manuel

Um poema de Sophia

Escuto mas não sei Se o que oiço é silêncio Ou deus Escuto sem saber se estou ouvindo O ressoar das planícies do vazio Ou a consciência atenta Que nos confins do universo Me decifra e fita Apenas sei que caminho como quem É olhado amado e conhecido E por isso em cada gesto ponho Solenidade e risco.
:: “Escuto”, in Geografia, Edições Salamandra, 1990 [1967] Fonte: Revista XIS de hoje

Empresários Solidários

Empresários
unidos pela Inclusão
Dez empresários portugueses criaram uma associação, denominada EIS – Empresários pela Inclusão, com o objectivo de apoiar projectos na área da Educação. Pretende-se, fundamentalmente, ajudar jovens em situação de exclusão escolar, através da concessão de bolsas e de acções de formação de professores. A associação foi já apresentada ao Presidente da República, que teve, como se compreende, uma reacção extremamente positiva, ou não viesse este projecto na linha dos apelos feitos por Cavaco Silva à sociedade civil, no discurso do 25 de Abril. O grupo inclui João Rendeiro, do Banco Privado Português, Eduardo Catroga, ex-ministro e empresário da Sapec, Joaquim Vieira Coimbra, da Labestal, Diogo Vaz Guedes, da Somague, Arlindo Costa Leite, da Vicaima, Horácio Roque, do Banif, Alexandre Soares dos Santos, da Jerónimo Martins, Paulo Pereira da Silva, da Renova, e ainda Manuel Violas e Pedro Queiroz Pereira. Trata-se de uma iniciativa oportuna e sobretudo pedagógica, porquanto pode servir de estímulo a outros empresários para que avancem com iniciativas semelhantes, no sentido de contribuir para uma sociedade mais inclusiva. Fernando Martins.

O Território e os Transportes

COM O APOIO DA APA
"AVEIRO 1900 - 2006.
O TERRITÓRIO
E OS TRANSPORTES"
A exposição "Aveiro 1900-2006. O território e os transportes", já inaugurada, marca a abertura da II Mostra de Arquitectura e Urbanismo de Aveiro, a decorrer entre Junho e Outubro de 2006. No intuito de imprimir à presente edição uma leitura vocacionada para vertentes diferentes das exploradas no ano anterior, optou-se por um conjunto de iniciativas que permitam percepcionar as questões do território da região.
Explorar a realidade de Aveiro e da região ao nível dos transportes e da sua estreita relação com a ocupação do território, a partir de uma contextualização nacional, constitui, assim, a temática da exposição baseada em documentos fotográficos, desenhados e escritos.
A peculiar localização geográfica de Aveiro junto da laguna implica uma abordagem mais cuidada e diversificada face às várias tipologias de transportes e de redes de comunicação possíveis. Percepcionar a relação de desenvolvimento urbano em torno do surgimento e evolução dos transportes e das vias de comunicação; reflectir sobre problemática das mobilidades e seus reflexos (eixos e fluxos); fomentar o debate sobre a importância dos transportes e dos meios de comunicação num contexto de comportamentos urbanos; identificar especificidades da região de Aveiro e de que forma elas condicionam as suas linhas evolutivas são os grandes objectivos desta vasta exposição documental.
O evento resulta da conjugação de esforços entre a Câmara Municipal de Aveiro e a Direcção Geral dos Transportes Terrestres e Fluviais. Este não seria, ainda, possível sem a colaboração de outras entidades, em particular da Administração do Porto de Aveiro SA, que prontamente respondeu e abraçou a ideia disponibilizando e facultando parte da documentação.
Relevante foi, também, o apoio prestado pela Aveiro POLIS e pela MoveAveiro de onde provém parte dos materiais.
A visitar, no Museu da República (Aveiro), até 27 de Agosto de 2006.
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Fonte: Portal do Porto de Aveiro

Um artigo de D. António Marcelino

AS DISTRACÇÕES
DO MUNDIAL
E OS PROBLEMAS
SOCIAIS
Era uma multidão ordeira que desfilava. À frente, um grande cartaz que dizia: “Para nós não há Mundial que nos distraia!” Dez mil ou trinta mil, segundo as diversas contagens dos polícias ou dos sindicatos, pouco interessa o número. O importante é que se tenham confrontado, com sentido, objectividade e de modo público, preocupações tão díspares. Enquanto a maioria do país se anestesia com a ânsia dos resultados do futebol e milhares se metem em aviões fretados rumo à Alemanha, há gente cuja vida sofre por problemas sociais graves que a atingem diariamente, fazem doer e fecham portas a horizontes de esperança. Quando está em perigo o pão, valem menos os jogos que divertem. Esta realidade nacional de uns que sofrem e outros que gozam ou se atordoam para disfarças sofrimentos e dores, é um dado da vida social que é necessário saber ler e tirar conclusões. Trata-se de uma realidade que tem expressões interpelantes em muitos aspectos da convivência humana e social. Os pequenos exemplos abundam. Por vezes, tudo se na pequena aldeia onde uma morte dolorosa e inesperada faz chorar alguns, mas não impede a festa que outros programaram. Tudo pode ocorrer com o barulho estrepitante próprio da festa, no mesmo largo do lugar onde está também a casa dos que velam e choram o seu familiar. Outras vezes é o menosprezo pelas carências da população, que não impedem o gasto esbanjador da festa, por pruridos e exageros de bairrismo. Momentos caros que pouco mais duram que o estalejar dos foguetes e o barulho do conjunto musical, ansioso por acabar depressa, porque já o esperam noutra festa, ali a uns quilómetros. Há uma tendência manifesta e crescente para que incomodem o menos possível aqueles que, por seus problemas e dores, podem estragar os projectos e planos de quem quer apenas gozar. A verdadeira solidariedade faz dizer: “Quem há aí que sofra, que eu não sofra com ele?”. Um sentimento difícil de concretizar, é verdade, porque mingua a empatia nas relações humanas e cresce o individualismo de quem se sente bem. Mas que é possível concretizar e alguns o fazem. Porém, no nosso país, este problema tem cada vez mais nós difíceis de desatar. Crescem as contradições, multiplicam-se as insensibilidades, apagam-se focos de educação para os valores, vinga o “cada um que se arranje”. São muitos os que não embarcam neste clima e contrariam, contra ventos e marés, este processo de morte. Mas o apoio, vindo de cima, não vai ao seu encontro. Esbanja-se em simpatias ocas e medidas loucas que nunca são inconsequentes. É preciso que haja quem diga que o Mundial não os distrai.

Nova Gerência na RR

Cardeal-Patriarca: Igreja tem contributo importante na sociedade
O Cardeal-Patriarca de Lisboa sublinhou ontem, durante a tomada de posse do novo Conselho de Gerência da Rádio Renascença, a importância do papel da Igreja na sociedade. D. José Policarpo afirmou que a Igreja não pode ser ignorada: "A Igreja, na autenticidade e da simplicidade da sua missão tem que provocar esta visibilidade na sociedade". Na cerimónia presidida foram apresentados os novos responsáveis. O Conselho de Gerência da Rádio Renascença é presidido pelo Cónego João Aguiar Campos. Este responsável sublinhou a missão e a identidade da Emissora Católica Portuguesa, anunciando também os grandes objectivos para este mandato. Assegurar a diversificação do Grupo é um desses objectivos, construindo, nomeadamente, uma plataforma de comunicação na internet, para além das simples emissões on-line ou dos habituais sites dos canais. Outro objectivo é reforçar o especial papel do Canal Rádio Renascença, para além dos outros projectos de rádio já existentes - RFM e Mega FM. E, finalmente, dar continuidade ao esforço de formação dos recursos humanos do Grupo Renascença. O Cardeal-Patriarca de Lisboa realçou o papel da Emissora Católica, a todos lembrando o período histórico que atravessamos, quando se torna necessário ler os sinais dos tempos e reforçar a visibilidade da Igreja na sociedade portuguesa, para dar voz à sua missão de aposta na perenidade da fé e dos valores cristãos. Do mesmo modo, D. José Policarpo salientou a importância do meio rádio nesta fase de evolução acelerada de outras plataformas de comunicação, como a Internet, tendo como certa a necessidade e o cruzamento das várias formas de comunicação social. Este Conselho de Gerência da Emissora Católica Portuguesa, mandatado por um período de três anos, integra também Luís Torgal Ferreira, José Luís Ramos Pinheiro, Luís Soromenho de Alvito e Gonçalo Faria de Carvalho.
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Fonte: Ecclesia

Um artigo de António Rego

O sacramento do mundial

Numa clássica e lindíssima igreja de Lisboa, repleta até ao átrio, estava prestes a terminar a celebração dum Casamento integrado na Eucaristia. Dirigia-me à cadeira presidencial para os momentos de Acção de Graças quando um estranho ruído de vozes se levantou na Igreja - seria protesto, pedido de intervenção, súplica incontida? Foi sufocado, de imediato, por uma vibrante salva de palmas como cascata de alegria. Nunca tal havia visto. Tratava-se, afinal, do momento exacto em que Portugal vencia a Inglaterra. E que, ainda não sei como, percorreu toda a Igreja numa onda progressiva. Como Presidente da celebração aguardei a chegada do silêncio e disse: “mais um motivo de acção de graças a juntar àquele que já nos possuía nesta celebração litúrgica”. Fez-se um silêncio complacente e respeitoso. Pedi, a seguir, o mesmo ímpeto de entusiasmo na pequenina palavra Amen em resposta à petição de bênção para o jovem casal: “Vamos puxar por esta jovem equipa de família que hoje, diante de todos, sela o seu amor com o sinal de Cristo”. E nunca me lembro de ouvir tão alto e vibrado, o Amen da Assembleia, como reforço à bênção matrimonial. Se no princípio estava duvidoso sobre o bom gosto de irromper em exclamações e palmas dentro da Igreja por causa dum golo, acabei por entender que se o sacramento é entrosado na vida, ganha compreensão e densidade e projecta mais longe o ritual tecnicamente perfeito de palavras e gestos predefinidos. E depois da imploração de Bênção para todos, todos partiram com uma experiência de Acção de Graças que nem sempre acontece de modo tão visível e assumido no seu todo. Não é edificante? Paciência! (E eu, que só vi dois jogos inteiros do Mundial e já deito futebol pelos olhos, lá voltei, sem querer, ao assunto. Desta vez como “sacramento… e acção de graças…” Espero que os liturgistas entendam…)

Um artigo de Alexandre Cruz

Um guarda-redes
com Fé
1. Não tenhamos dúvidas, Deus não joga por clube contra outro; Deus não é de uma selecção em desrespeito da outra. “Trazer” Deus para o campo de futebol na procura da mágica vitória não se comprometendo cada dia com uma busca de sentido divino para a vida não será outra coisa senão “superstição”. Todavia, tal como dizemos que “Deus não joga”, também deveremos dizer que “Deus ajuda que acredita…”, pois quem acredita fica mais “leve” em situações humanamente difíceis e pesadas em que todos os “nervos” deitariam tudo a perder. É pretexto destas linhas o já habitual sofrido jogo Portugal – Inglaterra do Mundial de Futebol, em que no final alguém comentava que o guarda-redes “Ricardo é uma pessoa de Fé, ele é uma pessoa de Fé!” Ao acolher este testemunho, rapidamente vale a pena reparar mais a fundo sobre o comportamento dos guarda-redes, o “peso” do momento decisivo com o olhar de todo o mundo, as mil razões lógicas para quem defende e quem marca estar nervoso, a natural e compreensível falta de serenidade diante de um justificado oceano de “nervos”, a noção do “momento histórico” que atrapalharia todo o reflexo necessário para uma defesa que seja. O certo é que a “calma”, provinda da luz da Fé que da “tempestade da adrenalina ao rubro” gera “a bonança da concentração e leveza interior”, tanto foi incómodo para os rematadores ingleses como reflexo apurado e intuição certeira para o calmíssimo e confiante Ricardo. É por isso que valerá a pena “tirar esta lição”: sem a libertação interior, existencial, as tempestades de nervos atrapalham qualquer jogada, perturbam o ser humano impedindo o acesso ao seu melhor; sem a libertação interior a ansiedade profunda faz o seu caminho perturbando a “saúde” espiritual. Com o sentido da Fé, que gera paz interior, tudo pode ser diferente; claro que não a Fé fanática das frases feitas que aposta no “mágico” que viria substituir a responsabilidade e o empenho, como se “Deus jogasse por nós…” Esta visão de Fé, ainda a precisar de muita purificação, infelizmente existe e tanto será menoridade para quem a vive como naturalmente dificulta o “discurso” partilhado com o mundo contemporâneo. Sim a Fé, a Esperança profunda, projectada até ao infinito e depois em Deus-Pessoa…que vem iluminar divinizando o sentido de Humanidade. Este sentido de Fé, ainda que navegando na fronteira que cria pontes de esperança com o “outro” diferente, libertará, dará a paz, concentração, serenidade em hora determinante… 2. Nesta era de excelentes racionalidades e tecnologias, todavia tempo de pobreza de valores relacionais e de desencantos de sentido, talvez valha mesmo a pena sublinhar que se se pretende dar mais um pouco de cor e luz interior a todas as horas do “jogo da vida”, então será mesmo essencial ir vivendo e semeando poesia, esperança, Fé. Sem esta luz interminável (luz da Fé que estará um patamar acima das codificações interpretativas diversas dos esquemas das religiões – estas são já também a expressão de vivência comunitária com maturidade desejada, sempre crescente), sem essa luz tantas vezes as vidas tornam-se escuras, vazias de sentido, geram-se tempestades num copo de água, o clima fica frio dificultando a vivência saudável com o “outro”. No meio da baliza, a Fé ajudará a acrescentar “paz” à turbulência da “ansiedade” lógica. Que outra realidade, tantas vezes, não precisamos mais que não seja a sabedoria para acalmar as tempestades? Ou ler nelas o desafio a reconstruir a maturidade desejada? É grande e belo quando as pessoas “confiam”…; é empobrecedora e pobre a vida de quem só confia em si mesmo, esquecendo-se que sem “outros” não vive. Uma vida que procure uma luz sempre presente, ainda que as palavras digam outra coisa é uma vida que assume a humildade capaz de procurar mais e mais, esse é o grandioso caminho da Fé que, com a razoabilidade (fé com inteligência) necessária renova as possibilidades e horizontes da vida. 3. Que bom seria uma sociedade onde cada um, na riqueza da diversidade de suas expressões, tivesse a oportunidade de partilhar de forma plural a sua canção, poesia, esperança! Que seca e culturalmente asfixiante a visão que, espelhada já em sistemas de conceitos e preconceitos, procura afastar a pluralidade de visões e dos sentidos de Vida e de Fé da própria sociedade! Não há nada mais importante que a oportunidade, feita crescimento de aprendizagem comum, de se conversar, debater, conhecer o outro, partilhar a ideia, duvidar como caminho, procurar uma síntese sempre construtiva e inclusiva com as “achegas” de todos os contributos! Talvez valha a pena sublinhar que, não estando na moda, uma inteligência que humildemente se deixa iluminar pela Fé, voa bem mais alto, aproximando-se a vida pessoal de uma realização mais plena, onde a “sensibilidade inclusiva com o outro” será expressão viva de Fé geradora de grandeza de Humanidade. Estes são os que ficam para a história, pois contra ventos e marés mantêm a serenidade pois vivem a humilde grandeza de confiarem para além de si mesmos… Assim, ficam mais leves, com o mais apurado discernimento agarram todas as bolas! Esta é a pergunta essencial: que queremos para nós e para os vindouros?... O caminho da felicidade e paz que se procura está para além da fascinante lógica das coisas; se ficamos por aqui, a meio do caminho só pelo “visível”, o peso dos acontecimentos turbulentos “secará” toda a esperança. O rumo da vitória nos jogos da vida, no superar-se a si mesmo e reciclando continuamente “forças” para recomeçar, exige capacidade de abertura, transcendência, Fé! Seja este o caminho da arte de viver com gratidão e esperança. Não dando “lucro” nem nada de extraordinário na “hora”,… o mundo será melhor, pois as pessoas serão interiormente mais saudáveis e mais felizes e solidárias! A sociedade de todos bem precisa!

domingo, 2 de julho de 2006

DE FÉRIAS: AUSENTE, MAS PRESENTE

Durante alguns dias, estarei de férias, que bem preciso. Estarei ausente, mas sempre que possível passarei por aqui, tal é o respeito que me merecem os meus leitores habituais. Serão passagens rápidas, ao sabor da maré e de outras ocupações de tempos de lazer.
A todos os meus amigos, assíduos ou ocasionais visitantes do meu blogue, desejo, também, umas boas e reconfortantes férias.
Fernando Martins

Um texto de Isabel Alçada Cardoso

José Rodrigues, Anunciação
:: A Anunciação a Maria
de Paul Claudel
Paul Claudel (1868-1955) nasce em Villeneuve-sur-Fère em França no seio de uma família católica. O ensino laico francês leva-o a perder a fé, mas aos 18 anos, no dia de Natal, em 25 de Dezembro de 1886 na Catedral de Notre-Dame de Paris, converte-se ao catolicismo. Na sua vida desenvolve simultaneamente a carreira diplomática e a actividade literária. Seguem dois excertos das suas obras que expressam a sua experiência de conversão: «Eu estava no meio da multidão, próximo do segundo pilar, à entrada do coro à direita, do lado da sacristia. Foi então que se deu o acontecimento que domina toda a minha vida. Num instante, o meu coração foi tocado e EU ACREDITEI. Eu acreditei, com uma tal força de adesão, com um tal tumulto de todo o meu ser, com uma convicção tão potente, com uma tal certeza que não deixa lugar a nenhuma espécie de dúvida. Desde então, nenhum livro, nenhum argumento, nenhum acaso de uma vida agitada puderam abalar a minha fé, nem sequer tocar nela. Eu tive de um só golpe o sentimento pungente da inocência, a eterna infância de Deus, uma revelação inefável» (Ma conversion, 1913). «E eu fiquei diante de vós como um lutador que se dobra, Não que se julgue fraco, mas porque o outro é mais forte. Vós chamaste-me pelo meu nome Como alguém que me conhece, escolheste-me entre todos os da minha idade.» (Cinq grandes odes, III, 1907) L'Annonce faite à Marie (1912), agora reeditado sob o título A Anunciação a Maria (Lucerna, Lisboa, 2006), traduzido por Sophia de Mello Breyner Andresen em 1960 conta o debate trágico entre o orgulho e a caridade. O tema é o amor, o amor gerador da pessoa, o amor gerador de um povo, o amor criativo da totalidade. O drama desenvolve-se em torno de seis personagens: Violaine, Pedro de Craon, Anne Vercors, Tiago Hury, Isabel e Mara. Violaine é a hóstia de um sacrifício consentido que a conduz à santidade: abandonada pela mãe farisaica, traída pelo noivo que não acredita no seu amor e assassinada pela inveja de Mara, nunca se defende, em tudo reconhece a simplicidade do Mistério de Deus. Pedro de Craon é o construtor de catedrais. A sua virgindade oferecida a Deus cede num momento de tentação mas é salva pela misericórdia de Violaine. E diz-nos: «Não é à pedra que compete escolher o seu lugar mas sim ao Mestre da obra que a escolheu» (p. 31). E no diálogo do terceiro acto Pedro de Craon, pela boca do aprendiz, sintetiza a sua missão: «Ele [Pedro de Craon] diz que o seu ofício não é fazer estradas para o Rei, mas uma casa para Deus. [...] Para que serve a estrada se no final não houver uma igreja?» (p. 110). Anne Vercors, o pai, faz a síntese de toda a história: «A paz, para quem a conhece, tem em si a alegria e a dor em partes iguais». (p. 179). E mais adiante diz: «Viver será a finalidade da vida? Estarão os passos dos filhos de Deus amarrados à terra miserável? O fim não é viver mas sim morrer! E não armar a cruz mas sim subir à cruz e dar o que temos com alegria! Ali está a alegria, ali está a liberdade, ali a graça, ali a juventude eterna! [...] Que vale o mundo em frente da vida? E de que nos vale a vida se não for para nos servirmos dela e para a dar? E porque nos havemos de atormentar quando obedecer é tão simples e a ordem está ali?» (p. 196).
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In "Observatório da cultura"

Empresários e gestores promovem valores cristãos

Para combater
a pobreza
é preciso criar
mais riqueza
A ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores) apre-sentou-se em Aveiro, na segunda-feira, 26 de Junho, por iniciativa do Bispo diocesano, D. António Mar-celino. A sessão decorreu no Centro Universitário Fé e Cultura e contou com a intervenção de Jorge Líbano Monteiro, secretário-geral daquela organização, estando presentes alguns empresários e gestores, sensíveis aos princípios da Doutrina Social da Igreja. A associação defende a humanização das empresas, no respeito absoluto pelos seus colaboradores, como foi largamente sublinhado no encontro. No final, um pequeno grupo de empresários e gestores assumiu a liderança do processo que há-de conduzir à criação do Núcleo de Aveiro da ACEGE, sendo necessários, pelo menos, 10 associados da região. A apresentação da ACEGE centrou-se no “Código de Ética” dos empresários e gestores, documento aceite já por cerca de 500 pessoas ligadas ao mundo empresarial, esperando-se que até finais de 2006 a organização tenha 700 associados. O secretário-geral da ACEGE sublinhou que a associação pretende “inquietar e mobilizar as consciências das pessoas”, defendendo valores cristãos que sejam aplicados na vida familiar de cada um e nas empresas que dirigem. Por outro lado, está a apostar na formação dos seus associados, através de encontros, debates, seminários, entre outras iniciativas, para que todos possam servir de referência na sociedade em que se inserem. Jorge Líbano Monteiro referiu que a associação procura sensibilizar os seus membros e demais empresários e gestores para seguirem a “opção preferencial pelos pobres” defendida pela Igreja. Nessa linha adiantou que é preciso implementar o estudo de mecanismos que possam criar mais riqueza, para mais facilmente se combater a pobreza. Sem nunca esquecer os princípios da Doutrina Social da Igreja, a ACEGE defende que a criação de riqueza é um bem para a sociedade, tendo Líbano Monteiro adiantado que, “quanto mais convictos estivermos dos valores em que acreditamos, mais facilmente os conseguiremos pôr em prática”. Disse que é imperioso “potenciar o compromisso social de cada empresário e gestor no seu meio”, apostando permanentemente nas pessoas, pois só com elas é possível construir um mundo melhor. Falando do “Código de Ética”, em cuja elaboração participou activamente o empresário José Roquete, Jorge Líbano afirmou que este documento foi resultado de muita reflexão e ponderação, estando os seus princípios essenciais a ser seguidos por outras associações e empresas. Citando, ainda, o mesmo Código, lembrou que “o homem é o fundamento, o sujeito e o fim de todas as instituições em que se expressa a vida social”, e que a economia “tem de ser potenciada e implementada para plena realização da sociedade e do bem comum”. Para D. António Marcelino, o “Código de Ética” é uma referência fundamental para todos os empresários e gestores, “cristãos ou não”, tendo recordado que a Igreja “não tem a terceira via”, mas promove valores que são uma mais-valia para que as actividades humanas sejam “fermento de uma sociedade nova”. O Bispo de Aveiro disse, por fim, que a sociedade precisa de gente criativa e com capacidade para oferecer postos de trabalho, em empresas humanizadoras. Fernando Martins
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Foto: Jorge Líbano Monteiro

Gotas do Arco-Íris – 24

SABES A COR
DA FOLITA? Caríssimo/a: Sempre nos acontece cada uma que nos deixa espantados e a cismar. Então não é que, andando na rega do meu quintal, uma folita resolve pousar na mangueira, ali mesmo junto dos meus dedos; e lá se foi mantendo enquanto tirava a sede a umas hidranjas que estavam com as folhas derreadas; assim se manteve largos minutos; saltou para um arame da parreira mas rápida voltou para o seu poiso. Claro, vem logo à ideia o Francisco de Assis e o sermão aos pássaros. E quantos e quais é que estariam a incomodar o seu repouso? Eu por ali admiro melros (que fartura!), pardais, andorinhas, rolas, pombas, cotovias, serzinos (a que na Murtosa apelidam de gilro-gilro), bicos-de-lacre, alguns pintassilgos, pintarroxos e verdelhões, um que outro milhafre, raras alvéolas, e muitas cegonhas... Imagina que no sábado anterior por ali andava perdida, de bico aberto com fome, uma cria de pega!... Tenho um vizinho que, em épocas de falta de trabalho, se entretém a apanhar os pobres e a prendê-los nas gaiolas... E, para além das nossas velhas e conhecidas palmas e ratoeiras, usa também o visco; é um especialista na matéria. Este ano apareceu com uma palma que me lembrou um outro vizinho muito amigo, o ti Manel Jaquim, que (há quantos anos?!) me fez uma dessas que só armei uma vez: rectângulo de rede com dois paus nos extremos e cordas que fazem com que feche caindo sobre a machuqueira, prendendo os tristes dos passarinhos... Ora como o meu vizinho tem trabalho, a passarada por ali anda livremente, fazendo os ninhos e renovando as espécies com novos caçolinhos ... Os melros eram uma das vítimas preferidas, invariavelmente terminando o crescimento na gaiola, onde os progenitores os iam alimentar; agora é um regalo vê-los a esvoaçar, assobiar e até a beber água nas pias que por lá pomos com essa finalidade. Bem, o pior é que não há fruta que resista: toda picada mal começa a amadurecer! Enfim... Certamente já muitos terão reparado é que as cegonhas alteraram o seu estatuto: de emigrantes passaram a residentes. Continuarão como espécie protegida? A ver vamos... Quanto à nossa folita, ela ainda voltou a pousar na mangueira e por ali andará no seu voo rápido e inconstante, como que a lembrar-nos que as férias são isso mesmo... Manuel