sábado, 9 de julho de 2022

O calor abrasador está aí

Praia da Barra com farol à vista

O calor abrasador está aí. Não sei se vem para ficar ou se vem tocado por algum fenómeno meteorológico. Com os 33.º anunciados, os mais idosos têm mesmo de se resguardar. Os mais idosos e os mais novos, que as altas temperaturas poderão ser prejudiciais a todos.
Com o calor anunciado, as praias serão procuradas e as apetecidas sombras estarão disponíveis, mas os corpos necessitam de muitos líquidos, em especial água. Pela minha parte, que gosto do calor mais do que de tempos incertos, garanto que ficarei em casa a ver como param as modas, que motivos não me faltam para me sentir tranquilo. E que fazer num dia destes, sem compromissos profissionais, sociais ou outros? Lembrar que a natureza tem os seus ciclos,  todos fundamentais à vida.

sexta-feira, 8 de julho de 2022

D. António Francisco nas Bibliotecas do Município de Aveiro

Biblioteca D. António Francisco dos Santos
na Rede de Bibliotecas do Município de Aveiro

D. António Francisco

Segundo informa a autarquia aveirense, o Executivo Municipal deliberou aprovar a celebração do Acordo de Cooperação entre o Seminário Santa Joana Princesa e a Câmara Municipal de Aveiro no sentido de integrar a Biblioteca D. António Francisco dos Santos na Rede de Bibliotecas do Município de Aveiro, potenciando um espólio de elevado interesse histórico e cultural, reconhecendo-se a sua utilidade para fins de gestão patrimonial e de investigação académica.
Congratulo-me com o facto, na convicção de que os amantes da cultura terão muito a ganhar com aquela decisão.

Vai e cura com misericórdia os feridos da vida

Reflexão de Georgino Rocha 
para o domingo XV do Tempo Comum

Vai e faz o mesmo porque o amor de Deus envolve necessariamente aqueles que Deus ama, sem distinção de género ou de raça; percorre os seus caminhos de aproximação e serviço; reveste os seus sentimentos de ternura e misericórdia.

Esta exortação assertiva, clara e interpelante, surge na parábola do samaritano, narrada por Jesus, como resposta ao mestre de leis preocupado com o sentido da vida e com os meios a usar para alcançar a vida eterna; decorre, como consequência lógica e coerente, do amor a Deus e ao próximo, síntese de todos mandamentos, como bem acentua o jurista inquieto e desejoso de acertar na solução do futuro; comporta uma orientação fundada e constitui um guia seguro de atitudes e comportamentos para o relacionamento das pessoas em sociedade, sobretudo em situações de especial necessidade; destaca a importância da rede de cuidados e da cooperação entre os intervenientes; apresenta um dos traços mais fortes da identidade dos discípulos/cristãos e define a marca mais vigorosa do seu testemunho público. Lc 10, 25-37.

Poços de rega nas Gafanhas

Poços de rega 
faziam parte das nossas paisagens


Passei há dias pela Casa Gafanhoa a convite da direção para apreciar mais um motivo de interesse — um poço de rega — que merece ser apresentado a quem nos visita, com o intuito de não deixar cair no limbo do esquecimento uma excelente forma de regar os campos cultivados de solo arenoso, muito permeável à água da chuva ou de outra natureza. Imagino, por isso, os sacrifícios por que terão passado
os nossos ancestrais para evitar que determinadas culturas não morressem de sede, sendo certo que alguns cereais, por natureza, não necessitassem tanto de rega, nomeadamente, o centeio, a cevada, a aveia e o trigo.
O poço ali está nas traseiras da Casa Gafanhoa com engenho que inclui os alcatruzes, de furo na base, para o ar se escapar e deixar entrar a água sem pressão. O precioso líquido, fundamental à vida, caía na caldeira feita de zinco, passando por um tubo até à caneja, rumo aos produtos agrícolas cultivados, sobretudo milheirais com feijoeiros à mistura. Também batatais e hortaliças.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Democracia e regimes autocráticos

"Depois da guerra de Putin, a grande dicotomia entre concepções de sociedade já não é entre a esquerda e a direita, mas entre os defensores da democracia (que existem à esquerda e à direita) e os simpatizantes de regimes autocráticos (que abundam na extrema-direita e na extrema-esquerda)."

Teresa Ribeiro em Delito de Opinião

terça-feira, 5 de julho de 2022

CASA GAFANHOA - Vale a pena recordar

A propósito do Festival de Folclore 
que vai realizar-se no próximo sábado 



Maria Merendeiro - proprietária
A CASA GAFANHOA, pólo museológico do Museu Marítimo de Ílhavo,  foi inaugurada em 11 de Novembro de 2000. Trata-se de um edifício do princípio do século XX, que foi adquirido pela Câmara Municipal de Ílhavo e entregue à administração do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, a entidade que mais lutou por este espaço, que reflecte a vida de um lavrador rico desta região. 
A casa antiga, depois de bem restaurada com todo o respeito pela traça original, mostra um recheio totalmente dominado por móveis e utensílios do princípio do século, num desafio constante à pesquisa e estudo de quanto os primeiros gafanhões nos legaram, mostrando um viver simples, mas prático, que não pode hoje deixar de nos encantar pela simplicidade que se desprende de tudo. 


Recorrendo à minha memória, posso lembrar que nas casas gafanhoas podia ver-se a cozinha com a sua trempe de ferro, panelas de três pés, aparadores, mesa e bancos toscos. Os talheres eram de ferro e alguns de cabo de osso. A um canto havia a cantareira com a respectiva cântara de ir à fonte buscar água, junto à mata da Gafanha, que dava gosto beber pela sua limpidez e frescura (que lhe era dada pela cântara de barro). 

Cozinha com membro do GEGN

Na cozinha de fora, mais modesta, com chão de junco, e na principal, de tudo um pouco ali se encontrava, desde roupa pendurada nos cabides até aos armários com louça e com comida que se não estragasse com o calor. O forno, onde se fabricava a sempre apetecida boroa de milho (e com que apetite era esperada a bola — boroa pequena e achatada — para comer com chouriço ou alguma carne de porco, mesmo gorda), era obrigatório em quase todas as casas gafanhoas. E também a salgadeira que guardava, no sal, o porco, governo de todo o ano. Também ali ficava, a um canto, a barrica com sardinha salgada, bem acamada. 

Quarto com cama de casal

Na CASA GAFANHOA, podem apreciar-se os quartos pequenos, onde mal cabia uma cama e a respectiva mesa-de-cabeceira, com a mala do enxoval da casa, quantas vezes sem guarda-fatos e sem outros móveis, que o dinheiro e os hábitos não davam para mais. Sobre as camas das casas gafanhoas não faltavam as mantas de tiras, que as tecedeiras fabricavam com farrapos e restos de roupa velha, tiras essas cortadas nas noites de Inverno, ao serão, sobretudo pelas mulheres da casa. Mas ainda se hão-de admirar cobertores grosseiros de lã, lençóis de linho churro, e a um canto, o lavatório, normalmente só usado aquando da visita do médico a algum familiar doente. 

Sala do Senhor

A Sala do Senhor, à frente, que se abria na Páscoa ou em dias de casamento ou baptizado, com um crucifixo sobre uma toalha alva, em cima da cómoda, onde se guardavam as roupas brancas e de festa. Havia cadeiras à volta, retratos nas paredes, principalmente dos casamentos, ampliados, que são actualmente grandes e importantes fontes de conhecimento da maneira de vestir e de ser das pessoas dos tempos antigos, sobretudo desde que a fotografia começou a marcar presença e a registar os principais acontecimentos das famílias. Aliás, em cima da cómoda, onde dois castiçais suportavam outras tantas velas para acender em dias de trovoada e, ainda, quando havia a visita das “almas” e quando se velavam os mortos, podiam ver-se algumas fotos de datas marcantes da família, a par das jarras de flores, renovadas semana após semana. 

Currais e arrumos
No pátio interior não faltam as padiolas, os carros de mão e de vacas ou bois, com todos os seus apetrechos, as várias alfaias agrícolas, encabadas com paus toscos, a charrua e o arado, a um canto o galinheiro para as galinhas e galos, sobretudo, se refugiarem à noite, pois que de dia andavam, normalmente, a campo, comendo sementes, restos de comida e bicharada, quando não comiam outras coisas bem piores. E também não falta a retrete, pequena e de tampo de madeira, com o indispensável buraco a meio, que quarto de banho era coisa que não existia. E porque falamos de quarto de banho, o tal que só apareceu muito mais tarde, talvez na década de 50 para o grosso da população, que os mais ricos já o tinham havia algum tempo, se não nos falha a memória, perguntar-se-á onde tomavam banho os gafanhões. Ao que nos têm dito, tomavam-no na cozinha, geralmente ampla e que dava para o viver do dia-a-dia, numa grande bacia de lata, com água aquecida nas panelas de ferro de três pés. 
Forno
A água estava sempre quente, para o que fosse preciso, porque se cozinhava em panelas mais pequenas. Para o que fosse preciso, significa para lavar a loiça e para se lavarem, antes de se deitarem, especialmente os pés, que nem tudo podia ser lavado todos os dias, talvez por falta de hábito. Para o pátio interior ainda davam os currais dos porcos e das vacas ou bois, que sempre berravam acusando a falta da "lavagem", os primeiros, e da erva ou palha seca, de milho, os segundos. O celeiro também tinha uma porta para este pátio e às vezes para o exterior. 
Nos beirais dos telhado viam-se as abóboras a secar e à espera do Natal, para fazer os bilharacos. No pátio de fora não faltava a eira, onde se malhavam e secavam os cereais, cobertos de noite pelo tolde, feito de palha de centeio, a estrumeira (quando não era no pátio interior), para onde se deitava tudo o que pudesse transformar-se com o tempo em esterco, tão necessário à fertilização dos solos, a par do moliço e de mistura com ele. 

Poço de rega
Viam-se as medas de palha e o “cabanéu” (prisma triangular, feito de uma armação de troncos de eucalipto e de ripas, e deitada sobre uma face), onde se arrumavam lateralmente e num dos topos, bem apertadas para não entrar a chuva, as palhas de milho, secas, para no Inverno servirem para alimento do gado. No interior guardavam-se alfaias agrícolas, menos usadas no dia-a-dia, e também ali dormiam, em especial os filhos da família, quando havia milho na eira, para o guardar dos ladrões que às vezes deixavam o lavrador sem nada do que granjeou durante todo o ano agrícola. Claro que não podemos esquecer, o poço, de onde se tirava a água para os usos domésticos, e um outro, o de rega, com o seu engenho puxado por vaca ou boi, que servia para regar o aido. 

Fernando Martins



NOTA: Texto escrito há anos e agora republicado

segunda-feira, 4 de julho de 2022

MARNOTO: Para os mais saudosistas


Para abrir a semana, nada melhor, na minha ótima, do que acordar os saudosistas. O marnoto, figura maior de um grafiti já neste meu  espaço publicado, merece a homenagem. E já me garantiram que é retrato de gafanhão. Quem o identifica?