terça-feira, 31 de agosto de 2021

Paróquia da Gafanha da Nazaré - 111 anos de vida

Igreja Matriz - Inaugurada em 14-Jan-1912

Prior Sardo
Por decreto do Bispo-Conde de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina, a nossa paróquia foi criada em 31 de Agosto de 1910, no respeito pelo decreto do Rei D. Manuel II, com data de 23 de Junho do mesmo ano. Nessa altura, com a extinção da Diocese de Aveiro no século XIX, ficámos a pertencer à Diocese de Coimbra até à restauração da diocese aveirense, em 11 de Dezembro de 1938.
Como tem sido largamente sublinhado, o grande dinamizador do processo que levou à criação da paróquia foi o padre João Ferreira Sardo, capelão da nossa terra, mas também, ao tempo, vereador da Câmara Municipal de Ílhavo, onde terá dinamizado o processo para o desmembramento da freguesia de São Salvador em duas paróquias. A nossa terra foi, portanto, elevada à categoria de paróquia, atendendo ao seu desenvolvimento, mas não só.
A aprovação da Câmara, liderada por Alberto Ferreira Pinto Basto, apoiou-se num pormenor curioso, registado em ata de 28 de Março de 1910:

“Considerando que os povos do mesmo lugar se acham separados da sede da atual freguesia por uma grande extensão de areia solta, cuja travessia se torna bastante incómoda; considerando que, sendo este concelho constituído por uma única freguesia, que hoje conta cerca de 15 mil almas, o seu pároco e regedor não conhecem grande número dos seus habitantes, o que sobremaneira embaraça o serviço público; por isso é a mesma Câmara de parecer que deve ser criada uma outra freguesia com sede no mencionado lugar da Cale da Vila d'este concelho.”

Com este parecer, considerado fundamental, D. Manuel II decreta, em 23 de Junho do mesmo ano, apenas três meses depois, a criação da freguesia, abrindo portas à fundação da paróquia, o que aconteceu em 31 de Agosto de 1910, com o decreto do Bispo de Coimbra. O seu primeiro pároco foi, obviamente, o Padre João Ferreira Sardo. 
Passados 111 anos, esta terra,  separada do “mundo” por uma grande extensão de areia solta, cuja travessia se tornava incómoda, tornou-se numa cidade respeitada e conhecida nas mais diversificadas paragens. Há gafanhões nos quatro cantos da terra e por aqui labutam gentes de diversíssimas origens.

Se é verdade que a Gafanha da Nazaré é obra de todos os gafanhões, daqui naturais e residentes que adotaram esta terra como sua, hoje é nosso dever honrar os primeiros habitantes que nela labutaram para transformar as areias soltas em terra fértil.
Não resisto a deixar um reparo para nossa reflexão. Os primitivos gafanhões, que arrotearam as dunas sob sol escaldante e ventos agrestes, não mereceram de nós qualquer símbolo que os perpetuassem como exemplo a seguir. 

Fernando Martins

O dito e o feito


"Qualquer pessoa com bom senso e uma mente perspicaz irá tomar a medida de duas coisas: o que é dito e o que é feito"

S. Heaney, escritor

Publicado em ESCRITO NA PEDRA do PÚBLICO 

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Assim foi o nosso Agosto de outras eras

Chaves - Ponte romana


Lita comigo em Chaves
O mês de Agosto aí está na sua reta final. Faltam algumas horas e já pressinto a tristeza de muitos com o adeus a este mês, com tudo o que ele proporcionou de bom. As férias naturais dos portugueses estão de partida, deixando-os livres para o romance da vida. Agosto é mês de férias desde que me conheço. Escolares, as primeiras, em várias fazes da minha vida, seguindo-se as outras, de trabalhos e canseiras. Por fim, as definitivas. Aquelas que nos segredam sem ninguém ouvir: Descansa que trabalhaste bastante.
Bastante? Tanto quanto o necessário, mas garanto que não estou nada arrependido. Se voltasse atrás, talvez percorresse os mesmos caminhos, risonhos, uns, para esquecer, outros. E agora, quando acordo e salto da cama, relógio no pulso sem dele precisar, entro na azáfama de dar corda à roda do dia, que parar é morrer, dizem, decerto com razão. Depois, meses e meses a pensar nas próximas férias, minhas e dos demais, que por contágio mexem comigo.
Tantos Agostos de férias partilhadas, quais saltimbancos com a família. Em campismo, mas não só. Casa às costas, carro sobrecarregado, filhos felizes pela mudança de hábitos, novas amizades, serras calcorreadas, que o mar ficava à nossa disposição quando regressássemos. Novas terras e gentes, amigos que se faziam para a ocasião, que logo perdíamos de vista. Outros permanecem leais. Assim foi o nosso Agosto de outras eras. Agora, recordamos apenas e já nos sentimos muito felizes por isso.

Fernando Martins

domingo, 29 de agosto de 2021

Festa em honra da nossa Padroeira



Com as limitações impostas pela pandemia do Covid-19, a festa em honra de Nossa Senhora da Nazaré ficou circunscrita à Eucaristia. Não houve procissão, que teria passado pelo largo do Cruzeiro com arranjo dignificante, e muito menos foi possível o arraial, com músicas, concerto de banda e foguetório próprios do último domingo de agosto na Gafanha da Nazaré. Contudo, estamos em crer que em 2022 tudo se normalizará, para gáudio do nosso povo.
A Eucaristia festiva foi celebrada às 10h30 pelo nosso prior, Padre César Fernandes, que tinha a ladeá-lo, no espaço do altar-mor, a Irmandade e os mordomos da festa, bem como diversos colaboradores. As autoridades civis, Câmara e Junta de Freguesia, e outras instituições também se associaram, como é habitual. Os cânticos entoados pelo grupo coral estavam em sintonia com a homenagem à nossa Nossa Padroeira. O nosso prior agradeceu a presença de todos e formulou votos de que no futuro possamos congregar todo o povo em torno dos festejos que vêm dos nossos ancestrais. 
Permitam-me sublinhar que as festas em honra dos padroeiros, que aconteciam tradicionalmente no verão, tinham por princípio contribuir, também, para o povo desanuviar dos trabalhos cansativos da agricultura. Nas festas, cantavam, dançavam, encontravam os amigos, recebiam visitas de emigrantes e moradores noutras paragens, mas ainda comiam saborosos assados nos fornos a lenha, tudo regado com vinho da pipa da taberna vizinha.

Fernando Martins

AVEIRO: Artes no Canal


Aveiro é uma cidade bonita. 
Em cada canto há motivos para apreciar e sentir o palpitar dos aveirenses. 
Quem passa a correr jamais a descobrirá na sua plenitude. 


No segundo sábado de cada mês, há Artes no Canal. 
Arte e artesanato variados dão vida ao centro de Aveiro. 
Muita gente para passear, ver e comprar. 
Há de tudo para todos os gostos de ambos os lados do canal central. 
O dia lindo convidava a sair de casa.


Os moinhos da minha meninice e infância ali estavam. 
Como recordo a arte de os fazer! 
Um avô passa com netinho que corre para os moinhos, 
que giravam alimentados pelo ventinho. 
Teve direito a um que ergueu ufano.
 

Para quem se esqueceu do chapéu no carro, 
aquela tenda terá valido a muita gente. 
Eu tive direito a um boné fresquinho para o verão que temos.



A nossa Gafanha não podia faltar. 
João de Mello, quase meu vizinho, que não via há anos, é  artesão por paixão. 
Lá estava com as suas artes. 
Merecerá mais divulgação.


Os moliceiros, táxis na laguna,  andavam apressados. 
Era indubitavelmente necessário aproveitar a maré.
Um guia turístico debitando notas oportunas.


Para animar a festa não faltou a banda musical. 
Não será que as festas ajudam a esquecer mágoas?

Fernando Martins

sábado, 28 de agosto de 2021

CRUZEIRO - Espaço foi dignificado

    Cruzeiro da Gafanha da Nazaré
             
O Cruzeiro da Gafanha da Nazaré, cuja história pode ser lida aqui, beneficiou de um melhoramento significativo. Foi requalificado o espaço com a aquisição de um terreno. Na minha ótica, ficou assim dignificado um espaço com muitas memórias dos nossos maiores. Apenas um reparo: Não seria possível eliminar os fios eléctricos que se cruzam  naquela zona?

O mistério de um rosto, de um olhar, e a burqa

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

(Foto das  redes socias)


A beleza estonteante do riso num rosto nunca será explicada pela física. Penso que a química nunca há-de explicar as lágrimas de alegria, de dor, de horror, de compaixão, que nascem da fonte do olhar e descem por um rosto.

1 - Um rosto é um milagre. Há hoje no mundo quase 8 mil milhões. Nenhum igual a outro: cada rosto é único.
Um rosto é a visita do infinito e a sua manifestação viva no finito. Nunca ninguém viu o seu rosto e o seu olhar a não ser num espelho e sobretudo no olhar de outro rosto.
Para rosto há muitos nomes: rosto, cara, face, aspecto, máscara-pessoa. De um modo ou outro, todos indicam a visibilidade de um alguém. Que é um rosto senão alguém que se mostra na sua aparição? O rosto é a nossa exposição, o nosso estar voltados para os outros e para a frente, para diante.
O que vai na alma vem ao rosto. Há o rosto sereno, ou amargurado, ou severo, ou alegre, ou rancoroso, ou triste, esfarrapado, revoltado, suplicante, pensativo, esfomeado... De homem, criança, mulher. Ah!, e, quando dizemos a alguém que está com óptimo aspecto, possivelmente a resposta será: "Não me queixo do aspecto". Talvez essa pessoa não se queixe. Mas as fortunas que se gastam para se compor e arranjar o aspecto!... Ah!, a aparência, o parecer!