segunda-feira, 8 de junho de 2020

Figueira da Foz para variar


Para variar, que a experiência aconselha, dei um saltinho até à Figueira da Foz. Dirão os meus amigos que os ares são os mesmos, tocados pelo mesmo mar e pelas mesmas ventanias, mas há sempre algumas diferenças, que eu bem as noto quando chego. Foi o caso. 
Por aqui tenho andado sem enfado. O silêncio esperado, o aconchego desejado, a serenidade no corpo e na alma, o ânimo à procura de motivos para se não perder em banalidades. Faço o exame de consciência e penso com tempo sobre o que fazer e como fazer e desejo ensaiar novas formas de ver e de partilhar e sinto que me faltam forças para inovar. 
Olho o oceano cujo Dia Mundial hoje se comemora e aprecio a mansidão das águas que nunca atravessei para além das praias de areais convidativos. E por aqui me fico na contemplação dos anos que vivi com alguns sonhos tão longínquos.

F. M. 

domingo, 7 de junho de 2020

Viver é muito perigoso

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO


1. O título desta crónica anda comigo desde 1962. Quando o dominicano brasileiro, Frei Mateus Rocha, foi a Toulouse convidar-me para ir trabalhar no Instituto de Teologia da Universidade de Brasília, falou-me apaixonadamente do Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa [1]. Deixou-me o exemplar que trazia consigo, com o aviso: vais conhecer a obra-prima da literatura brasileira e uma das mais belas expressões da teologia literária. Tinha razão.
O projecto de Brasília era do grande antropólogo, Darcy Ribeiro, ministro da Educação no governo de João Goulart, derrubado por um golpe militar em 1964. A ditadura durou 21 anos. Não fui para Brasília, mas o Grande Sertão nunca mais me largou.
Viver é muito perigoso é um dos refrões que ritma a poderosíssima escrita do Grande Sertão. Que viver é mesmo perigoso já Siddhartha Gautama, chamado Buda, o iluminado (nascido em 560 a.C.), o tinha verificado quando, ao sair para fora da sua zona de grande conforto e prazer, encontrou um velho, um doente, um cadáver e um monge pedindo esmola. A doença, a velhice e a morte foram o começo do seu despertar para a descoberta das causas do sofrimento e das quatro nobres verdades que conduzem à sua superação, mediante o nobre caminho das oito virtudes.
Sem a vitória sobre o desejo, sobre a vontade de viver, não é possível a perfeita iluminação libertadora do medo. Seja qual for a história e a fantasia dessas narrativas, a verdade é que provocaram, ao longo dos tempos, diversas escolas de sabedoria: o Budismo forma uma constelação ou uma nebulosa impressionante de ensaios de sabedorias de viver, sobretudo nas áreas culturais asiáticas.
O monaquismo ocidental, de inspiração cristã, teve muitas expressões. S. Bento superou a acusação de parasitas do trabalho alheio, com a regra norteada pela sabedoria de ora et labora, reza e trabalha. S. Paulo tinha sido mais sintético: quem, podendo trabalhar, não trabalha, não coma [2]​.

2. O Grande Sertão situa a sua religiosidade no âmbito cristão, da forma mais ecuménica que se possa imaginar e capaz de beber em todas as fontes. Riobaldo, o fervoroso teólogo jagunço, tem uma experiência terrível de como é mesmo perigoso viver, mas nunca desiste de pensar e repensar a sua fé e as suas crenças, para não perder a esperança de tornar o homem humano. Para ele, “o existir da alma é a reza… Quando estou rezando, estou fora da sujidade, à parte de toda a loucura. Ou o acordar da alma é que é?”.

Desconfinados e desmascarados

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Claro que precisamos da devida “distância social” e do confinamento apropriado e, evidentemente, também e sobretudo, da máscara. Para preservarmos a saúde, a nossa e a dos outros. Podemos contagiar-nos uns aos outros e somos responsáveis uns pelos outros. Quem é cristão tem uma razão suplementar para isso: segundo os Evangelhos, um dos interesses e preocupações maiores de Jesus foi a saúde das pessoas. Por isso, não entendo aquele debate à volta da comunhão na mão ou na boca, havendo quem invoque razões para a comunhão na boca. Sempre fui contra a comunhão na boca, pois só damos de comer na boca às crianças. Agora, ainda mais se impõe a comunhão na mão, por causa da preservação da saúde. Ah!, e para quem continua a propugnar a comunhão na boca: não é verdade que provavelmente há línguas mais sujas do que as mãos? 
Mas não foi este tema que me motivou hoje. A questão é mais funda. O que provoca a minha reflexão de hoje são outros confinamentos e outras máscaras, ficando a crónica de hoje para os desconfinamentos e a da próxima semana para os desmascaramentos. Desconfinados e desmascarados. 

1. Como a gente se sente mal no confinamento! Mas, ao contrário do que pensamos, andamos e somos demasiado confinados, no sentido de auto-centrados, e, por isso, pobres, se não paupérrimos. Afinal, na contradição de nós. Vejamos. 
Uma vez, uma antiga aluna pediu-me para ir à escola onde agora lecciona, para fazer uma palestra sobre o umbigo, esperando ela que fosse falar sobre o egoísmo, o individualismo. Cheguei lá e fui mostrando aos jovens que é verdade que essa expressão de “voltado, voltada para o seu umbigo” é vulgarmente usada com esse sentido. Mas em contradição com o próprio umbigo. De facto, o umbigo é em nós a marca biológica de que não vimos de nós, vimos de uma relação, não somos a nossa origem. 
Outra vez, uma outra estudante queria uma nota melhor. Para isso, até escreveu um trabalho sobre ética. Na defesa, perguntei-lhe: “Se houvesse uma única pessoa no mundo, como seria um tratado de ética?”. E ela: “Nem sequer se punha a questão ética, porque essa ‘pessoa’ não sabia que era ser humano.” E teve a boa nota que queria.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Dia Mundial do Ambiente

Ria - Costa Nova

Praia da Barra

Floresta
O Dia Mundial do Ambiente celebra-se hoje, 5 de junho, com a finalidade de promover o cuidado que devemos ter com a natureza e com tudo o que nos cerca. Preservar e cuidar devem ser os verbos que nos indicam caminhos certos... nessa tarefa que é de todos e para todos. 
Esta celebração nasceu em 1972 e tem de continuar porque todos sabemos que imensa gente, infelizmente, não tem nenhum respeito pelo ar que respiramos, pela floresta que é o pulmão do mundo, pelo mar que é fonte de vida e de pão para muitos, e por tudo o mais que nos rodeia e nos enriquece com beleza, arte e alegria.
Importa construir um futuro para uma humanidade mais sensível ao bem e ao belo, mais solidária e participativa, começando por iniciativas integradoras e estimulantes, tendo sempre nos horizontes um mundo novo  a partir de uma sociedade em constante renovação.

F. M. 

Flor no deserto


A flor fugiu do jardim para viver no deserto. Os eremitas eram mestres da meditação, só possível, em plenitude, na opinião de muita gente, longe do burburinho do mundo. 

Tanto amou Deus o mundo

Uma reflexão de Georgino Rocha 
para a Festa da Santíssima Trindade



“Tanto amou Deus o mundo que lhe entregou o seu Filho Unigénito para que todo o que n’Ele acredita não pereça, mas tenha a vida eterna”

Jesus atende Nicodemos ao cair da noite e abre horizontes novos ao círculo fechado das suas dúvidas e perplexidades. Fazem um diálogo de consciência acerca de Deus e da consequente relação humana. Passam dos sinais – ditos, ensinamentos e milagres – que manifestam as intenções de Jesus, o enviado de Deus, à necessidade de ver com olhos novos essa realidade, de a compreender no seu alcance anunciador, de a assumir como presença do Reino de Deus já em movimento. Jo 3, 16-18.
É no decorrer deste diálogo profundo e interpelante que Jesus faz a solene declaração: “Tanto amou Deus o mundo que lhe entregou o seu Filho Unigénito para que todo o que n’Ele acredita não pereça, mas tenha a vida eterna”. E desvenda outra dimensão desta entrega: Para que o mundo seja salvo por Ele e não condenado. Jesus deixa a claro o que está em causa: o amor de Deus Pai, o sentido da missão do Filho, o valor do baptismo fruto do Espírito Santo a ser enviado e da água – berço da vida nova.
Nicodemos, homem culto e influente, fica admirado e pergunta: “Como é que isso pode acontecer?” E Jesus lança-lhe outro desafio com “ares” de censura: Acreditar nas coisas do céu que se revelam de modo especial no grande sinal, o do Filho do Homem ser levantado na cruz salvadora, como havia feito Moisés com a serpente no deserto.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Geometria agreste



O vento varreu o areal e deixou à vista de quem passa uma geometria agreste.

“Não queremos esconder nada”

Posse da Comissão Diocesana 
para a Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis

Bispo de Aveiro e Vigário-geral da Diocese 
“Não queremos esconder nada”, afirmou D. António Moiteiro na tomada de posse da Comissão Diocesana para a Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis (CDPMPV), que decorreu no dia 1 de junho, numa sala do Paço Episcopal (antigo Convento do Carmo), em Aveiro. “Queremos ajudar todos, em primeiro lugar as vítimas, mas também o abusador, que às vezes também é vítima”, prosseguiu, salientando que a comissão é uma consequência da “fidelidade ao Evangelho”, que exige “amor à verdade”.
A CDPMPV foi criada para “escutar, registar e agir” em casos de abusos sexuais sobre menores e pessoas vulneráveis por parte de pessoas ligadas à Igreja Católica, sejam padres, agentes pastorais como catequistas, animadores juvenis e escuteiros, ou outros responsáveis eclesiais. Por “menores”, como explicou o Bispo de Aveiro, entende-se os que têm menos de 18 anos; já a expressão “pessoas vulneráveis” inclui, independentemente da idade, portadores de deficiência, pessoas com a liberdade por algum motivo condicionada e pessoas “sem capacidade de entender, querer ou resistir” aos atos de abuso.

Comissão 

Dr. Mário Silva Tavares Mendes, Juiz conselheiro jubilado
Dr. Nuno Álvares de Castro Ramos Pereira, Psiquiatra
Dr.a Mónica Pedreiras da Cruz, Inspetora da PJ
Dr.a Ana Paula Hipólito de Carvalho , Educadora de infância
Dr. Ricardo Vara Cavaleiro, Advogado

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"Igreja Aveirense" - Um retrato da Diocese

Tive o privilégio de assistir ao nascimento da revista Igreja Aveirense no seio da Comissão Diocesana da Cultura. Trata-se de uma revista de publicação semestral com 15 anos de existência, tendo como diretor o Pe. Georgino Rocha, desde a primeira hora. Cada número apresenta-se como retrato, tão fiel quanto possível, da vida da Diocese de Aveiro, abarcando todos os seus setores, sem esquecer as paróquias e as suas mais relevantes iniciativas pastorais e não só. 
Em lugar de destaque e a abrir está sempre um capítulo dedicado ao nosso Bispo, D. António Moiteiro,  sublinhando-se tudo o que de importante fez no semestre, a partir de Mensagens, Cartas e Notas Pastorais, Homilias, Nomeações e Visitas Pastorais, entre outras informações e referências. 
A revista publica, nas suas 309 páginas, sinais concretos da vida de instituições de ensino e cultura, de associações, movimentos e obras laicais, da vida consagrada e do santuário diocesano de Schoenstatt, que celebrou 40 anos da sua construção. 
No capítulo da homenagens, o destaque vai para o espaço museológico Cónego Póvoa dos Reis, no Seminário de Coimbra, e para o centenário do nascimento de Monsenhor Amílcar Amaral. Em memória de... salienta-se o falecimento do diácono permanente Fernando Reis, um diácono solícito que já está no seio de Deus. Raul Duarte Mira, primeiro vigário geral da restaurada Diocese de Aveiro, foi recordado como Pessoa Notável. 
Como nota final, ocorre-me sublinhar a importância da revista Igreja Aveirense para a formação dos católicos, sejam eles clérigos, consagrados ou leigos, pelo extenso manancial de material que proporciona. A revista, de edição reduzida, está ou deve estar em todas as paróquias e departamentos diocesanos. As assinaturas podem ser requeridas à Comissão Diocesana da Cultura. 

F. M.