terça-feira, 3 de setembro de 2019

Miguel Esteves Cardoso - José Tolentino Mendonça



ÉS NOSSO AMIGO

"José Tolentino Mendonça é um escritor e um intelectual num tempo em que é estranho falar dessas coisas. Que fique dito que tem o coração grande, que tem amor verdadeiro dentro dele."

A primeira pessoa a falar-me de José Tolentino Mendonça foi o meu grande amigo Hermínio Monteiro, que já morreu e também foi, entre muitas outras coisas de grande valor, meu editor. 
Disse-me que gostava muito dele, apesar de ser padre ou católico ou lá o que era, que não o tornava um chato. 
Conheci-o no meu restaurante favorito, o Aya nas Twin Towers, que era o lugar do cozinheiro Takashi Yoshitaki, que também já morreu. As únicas duas pessoas que ficaram vivas foram ele e eu. 
A impressão que tenho dele é de uma enorme bondade, abertura, curiosidade, graça. Ele sabia que eu estava a tentar converter-me (sem sucesso) ao judaísmo. Mas as palavras dele foram de felicidade, da sorte de nos conhecermos, de sermos humanos ao mesmo tempo nas nossas duas vidas que ele via, justamente, com a bondade que é a dele, como sendo a nossa. 
Ele é um escritor e um intelectual num tempo em que é estranho falar dessas coisas. Que fique dito que tem o coração grande, que tem amor verdadeiro dentro dele. 
É o primeiro cardeal que conheço. A graça dele, a generosidade absoluta que tem, a fixação na minha personalidade, como teria por qualquer outra, mostrou-me a bondade de que é capaz. 
Lembro-me de considerações amistosas que Pequito Rebelo escreveu sobre o cardeal Cerejeira. Ajudam-me a dar valor à humanidade, a Deus. O José Tolentino Mendonça é boa pessoa. Esforçou-se por ser assim. Contenta-se em ser assim. Faz bem em ser assim. E é assim que faz bem a todos. Alguma coisa está bem no mundo. O Papa sabe o que faz
Que bom que isso é. 

Miguel Esteves Cardoso no PÚBLICO 

domingo, 1 de setembro de 2019

António Barreto - Três Museus


A propósito dos museus que temos ou não temos, que devíamos ter ou proibir que se fizessem, sempre com uns a favor e outros tantos contra, António Barreto publica no PÚBLICO um texto que nos deve levar a refletir, com o título "Três museus" e subtítulo "O Estado democrático não pode tratar Salazar tal como ele tratou a democracia: proibindo-a! Nós não podemos tratar Salazar tal como ele nos tratou a nós!"


«Uns dizem com ar sério que não se deve fazer o Museu dos Descobrimentos, mas sim o da Escravatura ou do Colonialismo. A verdade é que, se existissem os dois, teríamos um país tolerante. Se existisse só um com os dois lados da questão, teríamos um país tolerante e inteligente. Se existir um em vez do outro, teremos um país intolerante e estúpido. Se não existir nenhum, como agora, então teremos o país habitual, envergonhado e ignorante.»

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PAPA eleva Tolentino à honra de Cardeal

Cardeal José Tolentino Mendonça

"O arcebispo português D. José Tolentino Mendonça, bibliotecário e arquivista da Santa Sé, vai tornar-se a 5 de outubro o sexto cardeal português do século XXI e terceiro a ser designado no atual pontificado." Esta é, para mim e para muitos, a grande notícia do dia na Agência Ecclesia. Como sempre admiti, o padre, poeta, pensador, ensaísta, cronista, biblista, escritor e grande homem da cultura foi elevado à honra de cardeal, não como personagem decorativa, mas como servidor dos homens e mulheres de boa vontade abertos aos dons do espírito, da transcendência e da verdade expressa na Boa Nova de Jesus Cristo, tudo emoldurado por uma multifacetada cultura geral. 
Os meus parabéns ao homem com quem conversei algumas vezes e cuja obra literária procuro conhecer cada vez mais e melhor,  lendo-a e relendo-a frequentemente.

Fernando Martins

Anselmo Borges - Deus aos ricos: “Insensatos!”

Riqueza e Pobreza

1. É mau ser rico? Não, de maneira nenhuma. Ai de nós, se não houvesse ricos, com iniciativa e capacidade para investir, criar riqueza, dar emprego a tanta gente, fazer progredir um país e o mundo! A riqueza, diz a Bíblia, é uma bênção. A pobreza, essa é uma maldição. O que é que podemos fazer sem algum dinheiro? Mesmo para fazer o bem e ajudar outros precisamos também de dinheiro. A expressão “Igreja dos pobres” pode levar a equívocos, pois não se trata de realizar “o ideal” de todos serem pobres. Pelo contrário: “Igreja dos pobres e para os pobres”, para acabar com um mundo de pobres que não têm aquele mínimo que lhes permita realizar a sua dignidade humana e cristã. 
Pense-se na “parábola dos talentos”. Um dos contemplados foi condenado porque nada fez com o seu talento. Cada um de nós é ele, é ela, o que a família e a natureza nos deram gratuitamente e também o resultado do que conquistámos com o nosso trabalho e o nosso esforço... 

2. Então porque é que a Bíblia condena os ricos: “Ai de vós, os ricos!”, proclama Jesus no Evangelho. Porque há a riqueza que é preciso condenar. 

2. 1. Em primeiro lugar, é maldita a riqueza roubada, a que provém do roubo, da exploração. E, meu Deus!, o que se rouba, também neste país! Aos milhões e milhões! Uma desgraça! Por exemplo, há Bancos que se afundam e o Estado, isto é, nós, os contribuintes (alguém viu o Estado?), pagamos milhares de milhões e não acontece nada, nem sequer um julgamento. Foi a antiga Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal que afirmou recentemente que o Estado está “capturado” por redes de corrupção e compadrio: “Há efectivamente algumas redes que capturaram o Estado e que utilizam o aparelho do Estado para a prática de actos ilícitos...

sábado, 31 de agosto de 2019

Farol da Barra foi inaugurado em 31 de Agosto de 1893

Farol em construção
O Farol da Barra de Aveiro, situado em pleno concelho de Ílhavo, na Gafanha da Nazaré, é um ex-líbris da região aveirense. Imponente, não há por aí quem o não conheça, como um dos mais altos de Portugal e até da Europa. Já centenário, faz parte do imaginário de quem visita a Praia da Barra. Quem chega, não pode deixar de ficar extasiado e com desejos, legítimos, de subir ao varandim do topo, para daí poder desfrutar de paisagens únicas, com mar sem fim, laguna, povoações à volta e ao longe, a dominar os horizontes, os contornos sombrios das serras de perto e mais distantes. 
À noite, o seu foco luminoso, rodopiante e cadenciado, atrai todos os olhares, mesmo os mais distraídos, tal a sua força. Mas são os navegantes, os que podem correr perigos ou desejam chegar à Barra de Aveiro em segurança, os que mais o apreciam, sem dúvida. Ora, esse foco, que começou por ser alimentado a petróleo, passou a beneficiar da energia elétrica em 1936, completando, este ano, 73 anos de existência. 
Bonita idade para tal melhoramento merecer ser assinalado, embora de forma simples, com esta nota. Se tem lógica e algum merecimento a recordação dessa efeméride, não deixa de ser oportuno e justo lembrar que este ano também se podem celebrar os 153 anos da portaria do ministro das Obras Públicas, engenheiro António Maria de Fontes Pereira de Melo, assinado em 28 de Janeiro de 1856 e dirigida ao diretor das obras públicas do Distrito de Aveiro, engenheiro Silvério Pereira da Silva, que dá orientações para se avançar, rumo à futura construção do nosso Farol. Reza assim, na parte que nos diz respeito, como se lê na revista “Arquivo do Distrito de Aveiro”, em artigo assinado por Francisco Ferreira Neves: “Há por bem sua majestade el-rei [D. Pedro V] ordenar que o director das obras públicas do distrito de Aveiro, de combinação com o capitão daquele porto, e com o director-maquinista dos faróis do reino, trate de escolher o local nas proximidades da barra que for mais próprio para a construção de um farol, – devendo o mesmo director, apenas se ache determinado o dito ponto, proceder, de acordo com o referido maquinista, à confecção do projecto e orçamento da respectiva torre com a altura conveniente para que a luz seja vista a dezoito ou vinte milhas de distância.

Comandante Carlos Isabel vai deixar a Capitania do Porto de Aveiro

Comandante Carlos Isabel e Bispo D. António Moiteiro 

Carlos Isabel, comandante da Capitania do Porto de Aveiro, vai deixar o cargo que ocupou durante três anos entre nós. Tivemos o privilégio de conversar com Carlos Isabel algumas vezes e dele guardamos a lembrança de que se trata de uma pessoa muito responsável e determinada, mas também com enorme capacidade de diálogo e compreensão, aliadas aos princípio da justiça, no cumprimento das leis em vigor nas áreas que superintende. 
Durante a visita pastoral do Bispo de Aveiro, D. António Moiteiro, à nossa paróquia, o comandante Carlos Isabel, que o recebeu nas instalações da Capitania, adiantou-nos que considerou a visita do prelado aveirense «muito gratificante, porque somos uma entidade pública», e logo acrescentou que D. António «nos motiva para o nosso trabalho do dia a dia» 
O Capitão do Porto chamou a atenção para o valor do conhecimento, pelo que «é nossa obrigação conhecer e dar a conhecer aos utentes e ao público em geral aquilo que nós fazemos, nomeadamente, «a forma como recebemos o senhor Bispo de Aveiro». 
Carlos Isabel disse que «a Capitania ajuda todos os utentes, marítimos e não marítimos», e que «a Polícia Marítima presta apoio em situações boas e menos boas». 
Aproveitamos este momento da sua partida para o Comando-geral da Polícia Marítima, formulando votos das maiores venturas, pessoais e profissionais, no desempenho de novas funções. 

Fernando Martins

NOTA: Reeditado hoje, 5 de Setembro. 

Este triste mês de Agosto: O sol é um medricas

Esperei o sol para fotografar, mas ele não veio 

Este mês de Agosto é o mais frio dos 80 que já vivi. Será um lugar-comum fazer uma afirmação destas, mas é o que sinto, o que me vai na alma. E tenho razões para o afirmar. Basta dizer que estou a escrever esta nota do meu diário com uma manta de inverno sobre os joelhos, tapando os pés, que se queixaram da falta dela. 
Fui à janela da minha tebaida, no tranquilo sótão da minha residência, para espreitar o frio e vi um tempo sombrio, com o sol perdido nem sei por onde. Queria fotografar o frio, mas não consegui rasto dele que, talvez por cobardia, andará escondido de vergonha. De sol, nada. É um medricas...  Os meus amigos já estão por aí a dizer, com um sorriso malicioso: “É da idade, meu caro, é da idade!” 
Talvez tenham razão. Já vivi 80 Agostos e deles recordo calor em abundância, necessidade de roupas leves e arejadas, sandálias para me emprestarem mais conforto no caminhar, urgência de bebidas frescas, uns geladinhos de vez em quando, a garridice no vestir e no folgar, a aragem da maresia, o à-vontade no estar e no andar… Mas não… Este mês de Agosto tem de ficar longe dos meus registos como tempo de férias agradáveis. Para o ano será melhor. E disso decerto darei conta. 
E como será Setembro? Espero que muito melhor. Resta-me essa esperança. 

Fernando Martins 

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

100 anos de presença Militar em São Jacinto


A Câmara Municipal de Aveiro, na sua Newsletter de ontem, lembra, com sentido de oportunidade, que «a presença militar em São Jacinto remonta ao final da 1.ª Guerra Mundial, em 1917,  quando a Marinha Francesa decidiu ali instalar uma base de hidroaviões antissubmarinos com apoio do Estado Português». E acrescenta que aquela «Base Militar serviu os três ramos das Forças Armadas», nomeadamente, a Marinha, a Força Aérea e, desde 1994, o Exército.
Lembra a nota da autarquia: «Neste contexto e já depois de em abril deste ano, na comemoração do 101.º aniversário da presença militar em Aveiro, o Regimento de Infantaria N.º10 ter oferecido à Cidade o “Monumento ao Parquedista”, foi a vez do Município de Aveiro retribuir a oferenda com a  inauguração de um Monumento comemorativo dos 100 anos da presença Militar em São Jacinto.» E conclui a nota: «Um momento singular e emotivo, parte integrante do programa do Festival, que juntou no final da tarde de sexta-feira, dia 23, familiares, amigos e muitos cidadãos junto à Porta de Armas da Base Militar, para celebrar a Paz.»

Georgino Rocha - Sê humilde, procura a verdade



Jesus encontra-se em casa de um fariseu ilustre para tomar uma refeição em dia de sábado. A circunstância proporciona-lhe uma das melhores oportunidades para observar o comportamento dos convivas presentes que “espiam” as suas atitudes. Em causa está a escala da ocupação dos primeiros lugares à mesa prevista no “ritual” de banquetes. E, consequentemente, o apreço social e religioso atribuído ao ocupante. E havia quem se aproveitava, o que obrigava a uma certa despromoção. E o invés também se dava, intervindo o organizador da festa e fazendo subir para lugar de maior consideração quem o merecia.
Jesus, na leitura de Lucas 14, 1. 7-14, hoje proclamada, faz o relato da situação dando-lhe o estilo de parábola. Eleva a cena a banquete nupcial e atribui o lugar devido a cada convidado. A ordem alterada é reposta, fazendo brilhar a atitude interior da pessoa e o seu apreço social. A verdade manifesta-se sem interferências e põe a claro a (in)coerência disfarçada de uns e a humildade autêntica de outros. A aparência e suas múltiplas manifestações ocorre por todo o lado, mas sobretudo nos espaços mediáticos, no campo desportivo, na “arena” política, nas festas religiosas.
“As leituras de hoje, afirma Manicardi, contêm uma mensagem sobre a humildade: humildade como atitude humana agradável a Deus e que torna amável aquele que a vive (1ª leitura); humildade como atitude que reproduz o modo de escolher e de viver que foi o de Cristo Jesus (Evangelho) ”. Do nascer ao morrer, da vida em Nazaré ao anúncio missionário em aldeias e famílias, da ida à sinagoga ou ao Templo, das festas e convívios, Jesus dá o exemplo da mensagem que anuncia e nos deixa como boa nova para todos os povos.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Anselmo Borges em entrevista ao DN - Deus também descansou

“Até Deus, após a criação, descansou 
e quis que houvesse um dia de descanso semanal"



A preguiça é, segundo a doutrina da Igreja Católica, um dos sete pecados capitais e até há um ditado que a classifica como a mãe de todos os vícios. Num tempo em que preguiçar é um luxo a que poucos podem dar-se, perguntámos ao padre Anselmo Borges porque é que a Igreja a olha como uma falta tão grave.

Texto de Catarina Pires | Fotografia Leonel de Castro/Global Imagens

A preguiça era um dos sete pecados capitais. Porquê?
Era e é. Os pecados capitais são sete: soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja, preguiça. Sete é um número perfeito. Neste caso, número perfeito dos vícios que estão à cabeça de todo o mal, por isso se chamam capitais (de capitis, cabeça) e de que as pessoas devem libertar-se. Porquê? Os vícios são-no porque estragam a nossa vida ou a vida dos outros, prejudicam-nos, fazem-nos mal. Pergunto: a preguiça não é contra uma vida autêntica? Não dizemos de alguém preguiçoso, que não trabalha nem cuida da família, que é um parasita e que está a prejudicar outros? Até há um ditado que diz que “a preguiça é a mãe de todos os vícios”. 

Mas não é um exagero que o que hoje é quase uma necessidade ou até direito, como escreveu Lafargue, assuma tal gravidade?
No sentido que expliquei, não.


Tudo depende do que se entender por preguiça, 
que é um mal se for a recusa do trabalho 
e o tentar viver à custa dos outros ou encostado ao Estado.

É preciso cultivar o valor do trabalho?
Temos de “ganhar” a vida. A vida é um dom, mas, por causa da “neotenia” (viemos ao mundo por fazer e temos de fazer-nos, realizar-nos), temos de trabalhar. O trabalho é uma das características humanas que nos distinguem dos outros animais. Transformando o mundo pelo trabalho, transformamo-nos a nós e realizamo-nos. Por outro lado, o trabalho implica uma tarefa em comum: pelo trabalho, realizamo-nos coletivamente, uns com os outros. E há o trabalho enquanto esforço duro, mas também há a alegria de ter realizado um trabalho, uma obra (em inglês, trabalhar diz-se to work, que vem do grego érgon, obra). Admiramos quem realizou uma obra. 

Que significado têm os pecados capitais?
São vícios que estão na base de uma existência má para nós e para os outros. Não é verdade que a soberba nos estraga a vida, levando à arrogância e ao desprezo dos outros? Não deve dizer-se o mesmo da avareza, pois acabamos por dar mais importância às coisas do que às pessoas? E da luxúria, que desumaniza a sexualidade? Da ira, que pode levar à violência e a matar? Da gula, que dá cabo até da saúde? Da inveja, que se entristece com o bem dos outros? E da preguiça, como disse.

Segundo a Bíblia, até Deus, após a criação, descansou 
e quis que houvesse um dia de descanso semanal, 
para que o ser humano soubesse que não é uma besta de carga. 
O problema agora é que as pessoas se esgotam a produzir e a consumir.