sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Que exista a coragem de divulgar o bem feito pelos sacerdotes

Carta de um sacerdote católico 
para o NEW YORK TIMES

(Foto da Rede Global)

Caro irmão e irmã jornalista:

Sou um simples sacerdote católico.
Estou feliz e orgulhoso da minha vocação.
Há vinte anos que vivo em Angola como missionário.
Vejo em muitos meios de informação, sobretudo no vosso jornal, a ampliação do tema dos sacerdotes pedófilos, com investigações de forma mórbida sobre a vida de alguns sacerdotes.
Falam de um de uma cidade nos Estados Unidos dos anos '70, de outro na Austrália dos anos '80, e seguida de outros casos recentes... 
Certamente isto deve ser condenado!
Veem-se alguns artigos de jornal equilibrados, mas também outros cheios de preconceitos e até de ódio.
O facto que pessoas, que deveriam ser manifestação do amor de Deus, sejam como um punhal na vida de inocentes, provoca em mim uma imensa dor.

Figueira da Foz: 15 dias se passaram

Figueira da Foz - Torre  do Relógio com 20 metros de altura

Prometi a mim mesmo, há 15 dias, que teria de descansar para retemperar energias. Assim procedi. Limitei-me, porém, a respeitar compromissos assumidos, o que fiz sem qualquer dificuldade. Não estou assim tão mal que não possa cumprir um dever. Contudo, sinto o peso da idade que me rouba alguma vitalidade, embora teime em ultrapassar pequenos obstáculo que outrora nem me apercebia deles. 
Deambulei sem perder o Norte, li e reli umas coisas, voltei à Figueira da Foz onde gosto de estar e vi o mar à distância, que as minhas pernas já não vencem o areal que nos separa do oceano, andei por ruas e ruelas da Figueira Antiga, apreciei palacetes da alta burguesia que por aqui passou férias, nesta cidade que se tornou cosmopolita há décadas. E por estas bandas continuarei até me chegarem as saudades da minha Gafanha, da Ria e das nossas praias. Também dos nossos familiares, amigos e outras gentes cujos rostos têm lugar reservado nas minhas melhores memórias.

sábado, 25 de agosto de 2018

Diácono Augusto Semedo já está no regaço maternal de Deus





O diácono permanente Augusto Semedo já está no regaço maternal de Deus. A notícia chegou-me hoje [24 de agosto]. As mortes de familiares e amigos são sempre inesperadas. Caem sobre nós como alertas de que a vida terrena é mesmo  finita. Para os crentes, como eu, a vida continuará em Deus, que nos acolhe como filhos prediletos, na certeza de que o Pai Todo Poderoso “perdoa sempre, perdoa tudo”, no dizer, em jeito de lembrança, do Papa Francisco. 

O Augusto Semedo estava doente. Foi atingido por um AVC que lhe limitou os movimentos, sem lhe afetar a capacidade de falar, de refletir e de partilhar ideias e sentimentos, com uma lucidez digna de registo. Sucumbiu, para mim e para outros, de forma repentina, neste agosto que registaremos como o mês da sua partida para a felicidade em Deus, onde se lembrará de cada um de nós, como nós haveremos de manter viva, para sempre, a sua bondade para com todos. 

O Semedo, como o tratávamos, marcou-me profundamente como colega de curso e de trabalho no Diaconado Permanente da Diocese de Aveiro, ao longo de mais de 30 anos. Para mim, o diácono Augusto Semedo era o melhor de todos: Generoso no servir, culto na hora de esclarecer, humilde no momento de se dar aos outros, fervoroso na oração, aberto ao espírito vicentino sem dia e hora marcados, compreensivo na troca de ideias, alegre nos convívios fraternos. Era, realmente, um Rosto de Misericórdia, no dizer justo e oportuno do padre Georgino Rocha, como se lê no seu mais recente livro “Rostos de Misericórdia – Estilos de Vida a Irradiar”. 

As minhas sentidas condolências a toda a família e amigos. 

Fernando Martins

O equívoco da fé "na" Igreja

Anselmo Borges


1.É de A. Loisy um dos ditos que, desde o seu pronunciamento, no início do século XX, mais animaram o debate teológico: "Jesus anunciou a vinda do Reino de Deus, mas o que veio foi a Igreja." E é um dito decisivo também para a compreensão em profundidade da tragédia da pedofilia por parte do clero.
Quando se recita o credo (a síntese da fé cristã), é necessário estar prevenido contra possíveis alçapões. Vejamos. Diz-se: "Creio em Deus Pai, em Jesus Cristo, no Espírito Santo." Em português também se diz "Creio na Igreja una, santa, católica", como se esta estivesse ao mesmo nível de Deus. Realmente, não pode ser nem é assim. Aliás, o latim faz a distinção essencial, pois diz: "Credo in Deum..."; porém, não diz "Credo in Ecclesiam", mas "Credo Ecclesiam". A diferença essencial está naquele "in": Creio "em" Deus, o que significa: entrego-me confiadamente a Deus, mas não creio "na" Igreja; o que lá está é: em Igreja, isto é, fazendo parte da Igreja como comunidade de todos os baptizados, creio em Deus, em Jesus e espero a vida eterna...
Como habitualmente se coloca tudo no mesmo plano, dizendo "creio na Igreja", é fácil interiorizar a ideia de que se acredita na Igreja enquanto instituição, e instituição divina, com todos os enganos e desastres que se sucedem.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

FICAR COM JESUS POR DECISÃO LIVRE

Georgino Rochs

O discurso do pão da vida atinge o auge, no desabafo de Jesus, que João formula na pergunta dirigida aos Apóstolos: “E vós também quereis ir-vos embora?” A sinceridade denota um sabor de amargura. A preocupação manifesta um receio fundado. O risco é evidente e virá a ser concretizado na paixão. A circunstância, aliada ao tom da voz e ao brilho do olhar, provoca a resposta eloquente de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. Jo 6, 60-69.
“Quando se vive esta união com Jesus (tal era o caso de Pedro e dos discípulos que ficaram com Ele), as crises de dúvidas e obscuridades se superam. A força do Espírito faz-se força em nossa vida… É a vida que se caracteriza pela firmeza em ir na vida como foi Jesus e pela transparência de quem não tem nada a dissimular”, afirma J. M. Castilho, no seu comentário ao episódio de Cafarnaúm.
Jesus e Pedro surgem como o rosto pessoal da relação com Deus. Constituem as duas faces da realidade mais profunda da consciência: acolher a oferta, dar-se em liberdade; escutar a palavra, abrir-se à verdade; identificar o dom e fazer-se doação. Por isso, afirma João Paulo II: “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade”. O Papa propõe, na encíclica Fides et Ratio (Fé e Razão), uma belíssima e fundamentada reflexão sobre a verdade, questão central da vida humana e da história da humanidade.

sábado, 18 de agosto de 2018

A mística do quotidiano.1


As férias são um justo tempo para repousar do trabalho, mas elas deveriam ser também, como diz o próprio étimo, a experiência de que o ser humano é um ser festivo e, assim, na serenidade, serem o tempo de reencontrar tempo para a família e para os amigos, tempo para ouvir o silêncio, tempo para a poesia e para a música, que nos remetem para a transcendência. Isso: contemplar e criar beleza - é a beleza que salva o mundo, dizia Dostoiévski -, admirar uma simples folha de erva com o orvalho da manhã, ver o Sol nascer a oriente e pôr-se a ocidente, exaltar-se com o alfobre das estrelas - "Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre novas e crescentes, quanto mais frequentemente e com maior persistência delas se ocupa a reflexão: o céu estrelado sobre mim e a lei moral em mim", escreveu Immanuel Kant -, dialogar com o Infinito. Em tempo de férias, é bom parar e ir ao essencial, para se poder evitar o pior: o desnorteamento, a desorientação, o vazio existencial. O essencial, de um modo ou outro, é em Deus que se encontra, mas numa experiência pessoal. Como no amor. 
Não há dúvida de que hoje, concretamente na Europa, há uma crise da religião, que é sobretudo uma crise de Deus. Basta perguntar, de modo simples: para quantos é que Deus ainda conta realmente nas suas decisões vitais, tanto no domínio pessoal como no colectivo?

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O PÃO DE JESUS GARANTE A VIDA ETERNA

O escândalo agrava-se. As afirmações de Jesus são demasiado claras e contundentes para os judeus. Jo 6, 51-58. Não conseguem suportá-las. E, sem um novo modo de ver – a fé que brota do amor de Deus Pai – quem pode conformar-se? Como é possível “dar-nos a sua carne a comer”?, interrogam-se com lógica natural e ética religiosa, condensando perplexidades que os afligiam e espelham muitas outras que, ao longo dos tempos, virão a desafiar a razão humana, ainda que iluminada pela fé. 
Face à estranheza do “assunto” e ao agravamento das dúvidas, não tardam a evoluir na sua atitude: do entusiasmo precedente, pela multiplicação dos pães, das expectativas decorrentes e das interrogações fundadas à crítica aberta, da recusa frontal ao abandono. Em breve, chegará a vez de Jesus questionar os próprios Apóstolos/discípulos fiéis: “Vós também vos quereis ir embora? Pedro, espontâneo e ousado, responde pelo grupo: “A quem iremos, Senhor?!. Tu tens palavras de vida eterna”.
Jesus não dá explicações. Faz afirmações. O modo há-de surgir oportunamente. E o anúncio passa a realidade na ceia de despedida, no lava-pés, no mandamento novo do amor. Modo que surge narrado por Paulo na 1.ª carta aos coríntios 11, 23-26.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Até um dia destes, se Deus quiser


Os meus amigos hão de estranhar a minha ausência no mundo da blogosfera e nas redes socais em geral. Fruto de alguns cansaço, senti ser minha obrigação libertar-me de compromissos com data mais ou menos marcada. É claro que voltarei quando tiver renovado as forças e recuperado o ânimo. Como o ser humano, por norma, só utilizada diariamente uma parte mínima das suas capacidades físicas e mentais, estou em crer que um dia destes voltarei em força. 
Há, no entanto, uma ou outra exceção, por acordos pessoais que desejo manter. Até lá, boas férias para todos. 

Fernando Martins

sábado, 11 de agosto de 2018

O não de Francisco à pena de morte e à prisão perpétua

Anselmo Borges

1. Em Setembro do ano passado, por ocasião da celebração dos 150 da abolição da pena de morte em Portugal, realizou-se na Universidade de Coimbra um colóquio internacional sobre o tema. A convite do ex-provedor de Justiça José de Faria Costa, fiz uma conferência subordinada ao título "Teologia e Pena de Morte. Critiquei então veementemente o Catecismo da Igreja Católica pelo facto de nele, no tristemente célebre número 2267 (número de morte), continuar ainda a defesa da pena de morte. Manifestei ao mesmo tempo a firme esperança e até a certeza de que o Papa Francisco acabaria por mudar esse número ("pior do que o 666 do Apocalipse", transportando consigo "a carga de milénio e meio de pacto da Igreja com um tipo de poderes estabelecidos, como se não bastasse Jesus e a Igreja tivesse de apoiar-se num duvidoso "direito natural", como se ela pudesse ditar a sua moral aos Estados e tivesse de renunciar à "libertação" de Jesus e à presença do Reino, permitindo meter na prisão e matar os "maus", para que os outros, os "bons", pudessem viver tranquilos", escreveu o biblista Xabier Pikaza). 
Não há dúvida nenhuma de que o Novo Testamento está na base do movimento abolicionista moderno. Pense-se nas bem-aventuranças, no preceito de Jesus que manda amar os inimigos, no seu procedimento com a adúltera... E não está o cristianismo no fundamento da dignidade inviolável da pessoa humana, como é reconhecido pelos grandes filósofos Hegel, Ernst Bloch, Jürgen Habermas? E como pode a Igreja ser incondicionalmente a favor da vida, como mostra a condenação do aborto e da eutanásia, e ao mesmo tempo justificar a pena de morte? 

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

O Festival do Bacalhau encerra no domingo

Do outro lado do canal com Santo André à espera de visitantes

Um grupo de tendas 
A Lita descansa depois do almoço 
Canal da Ria
Marginal para ajudar na hora da digestão
Navio-motor Santo André com entrada franca
O Festival do Bacalhau começa a criar raízes no Jardim Oudinot, Gafanha da Nazaré. Ano a ano atrai milhares de visitantes e apreciadores do fiel amigo e das diversões que a organização promove, entre outras iniciativas de promoção do nosso património, em vários setores. À noite há concertos musicais.
Cada associação tem o cuidado de oferecer pratos diversificados, sempre com base no bacalhau e seus derivados, de forma a corresponder ao gosto de quem aparece. Há, portanto, que saber escolher. 
Hoje fui lá, não tanto para matar saudades de uma boa posta do fiel amigo, porque cá em casa também o sabemos preparar, mas sobretudo para conviver e encontrar amigos que não via há muito. E nesse caso, fui muito feliz. Falei com alguns alunos de há décadas, troquei impressões com amigos com quem não me cruzava há bastante tempo, apreciei o movimento à volta dos comes e bebes e fiquei a admirar mais os dirigentes e membros das instituições, culturais, sociais, desportivas e de lazer, que se entregaram à dignificação do Festival do Bacalhau. 
Aqui deixo a minha solidariedade a todos, na certeza de que, no próximo ano, a festa voltará.

Fernando Martins