quarta-feira, 9 de maio de 2018

Centro Comunitário da Gafanha do Carmo


«Se tivesse só uma oportunidade para ir ao ano de 2068, o senhor João Fernando visitaria Alcoitão. É que apesar de ser da Gafanha do Carmo, foi na freguesia do concelho de Cascais que ele, com esforço, conquistou o seu futuro. “Gostava de ir lá ver se eles continuam a ensinar as pessoas como me ensinaram a mim”, justifica, recuan­do à sua infância. “Aqui, como eu tinha uma deficiência [paralisia cerebral], não queriam deixar-me ir para a escola. Mas lá, eles perceberam que eu também era uma pessoa que tinha futuro e deram-me uma segun­da oportunidade. Ensinaram-me a dactilografar e, graças a is­so, voltei para cá e trabalhei mui­tos anos numa junta de freguesia. E sempre consegui su­pe­rar todas as barreiras que me apareceram na vida. Todas”, sublinha. Seja o que for que o futuro nos reserve, o exemplo do senhor João Fernando nunca vai deixar de ser inspirador.
Mas isso somos apenas nós a fazer o exercício de tentar adivinhar como será essa coisa do futuro. E foi isso que convidámos a fazer, também, a D. Ermelinda. Ela é que nos confidenciou que, em 2068, iria direitinha à América para visitar o neto Pedro Jorge, que criou e que não vê há 12 anos. Já a D. Maria Helena, regressaria a Angola. Ao país onde viveu 21 anos da sua vida, no qual viu os filhos nascer, e que é uma terra pela qual tem “uma admiração muito grande”. “Tenho e terei até morrer”, assegura. Mais perto, ficaria o senhor Lino. “Lino de Aveiro”, aliás. Homem que traz colado à identidade a terra que sempre foi sua e na qual é “muito famoso”. Por isso, em 2068, seria pelo Rossio e pela Praça do Peixe que voltaria a passear-se. 
O desafio para que os quatro utentes do Centro Comunitário da Gafanha do Carmo (CCGC) dessem um salto a 2068 foi proposto pelo Diário de Aveiro, mas a ideia está longe de ser original. Afinal, é isso que os responsáveis por aquela casa vão fazer, no sábado, pelo terceiro ano consecutivo. O “Futuridade 2068 – Desperta o teu horizonte” vai decorrer na Casa da Cultura de Ílhavo (CCI), a partir das 9 horas, contando com a participação de 12 oradores (ver caixa) das mais variadas áreas, que vão, também eles, ser desafiados a perspectivar como será o mundo daqui a 50 anos.»


Notas:
1 - Todo o texto pode ser lido no Diário de Aveiro em papel;
2 - A foto é do mesmo diário. 

terça-feira, 8 de maio de 2018

“Tributo a Capitães de Ílhavo”

Um livro de Ana Maria Lopes 

Ana Maria Lopes, em agosto, na apresentação do seu livro



Li “Tributo a Capitães de Ílhavo”, com gosto e curiosidade, um livro de Ana Maria Lopes, editado quase há um ano, com prefácio de Álvaro Garrido, professor da universidade de Coimbra e Consultor do Museu Marítimo. Contou com o apoio da Câmara Municipal de Ílhavo, do Museu Marítimo e, naturalmente, da Associação dos Amigos do Museu, de que a autora é membro qualificado pela sua entrega às questões do mar e da ria, de que é profunda conhecedora. 
No Prefácio, Álvaro Garrido sintetiza o essencial do trabalho de Ana Maria Lopes, sublinhando: «Aqui se reúnem trinta breves biografias de Capitães ilhavenses já desaparecidos, conjugando palavras certas e belíssimas imagens, muitas delas inéditas porque residiam algures em silêncio. As biografias privilegiam o currículo marítimo dos oficiais e as principais peripécias dos navios que governaram. Homens houve que naufragaram três vezes. Muitos já eram filhos e netos de oficiais da Marinha Mercante. A esses detalhes narrativos, fios de água que levam ao mar, aditou-lhes a autora preciosas notas humanas, traços de vida e testemunhos de família que não deixarão de interpelar outras memórias quando estas páginas forem dissecadas emotivamente.» 
“Tributo a Capitães de Ílhavo” apresenta-se com 178 páginas, a maioria com fotos a preto e branco, que na altura dos registos ainda estaria longe a fotografia a cores, dos biografados e dos navios que comandaram, o que enriquece sobremaneira o seu trabalho, que contou com testemunhos de familiares e amigos. 
Ana Maria Lopes relata alegrias e tristezas, sucessos e naufrágios, festas e momentos de descanso, a dureza da vida no mar, usando o linguajar técnico e as expressões populares. Navios e seus apetrechos, o dia a dia a bordo, a ameaça dos medonhos icebergs, as empresas e os registos oficiais dos biografados dão-nos uma panorâmica histórica e humana dos capitães ilhavense já falecidos, muitos dos quais fizeram história na pesca do "fiel amigo".
Para ajudar o leitor, que nem todos estarão por dentro dos termos técnicos, a autora oferece um Glossário sucinto, que necessita mesmo de ser consultado, para se compreender cabalmente o que se lê. E na Bibliografia, estão indicados os livros, revistas, jornais, o Arquivo Marítimo do CieMar-Ílhavo e alguns blogs, com destaque para o seu "Marintimidades". 
Nos agradecimentos, Ana Maria Lopes sublinha, entre outros colaboradores, Etelvina Almeida e Paulo Miguel Godinho, seu filho, que procederam ao tratamento e limpeza de quase duas centenas de imagens. 

Fernando Martins

Pontes



Em terras de ria, com canais e mais canais, ora estreitos ora mais largos, uns de águas serenas e outros de águas mais agitadas, as pontes brotam como fundamentais à vida das comunidades. Esta não é para pessoas passarem a pé, de bicicleta, carros ou camiões, não aproxima povoações nem se destina a gente que vive o dia a dia com necessidade de estabelecer contactos, mas liga o Porto de Aveiro ao mundo ferroviário.

Base de amizades

«Em política, a comunhão de ódios 
é quase sempre a base de amizades»

Alexis Tocqueville (1805-1859), historiador e escritor 

Li no Público de sábado 

Sede alegres na esperança

Rumo ao Congresso Eucarístico


“A morada natural da esperança é um «corpo» solidário, no caso da esperança cristã este corpo é a Igreja, enquanto o sopro vital, a alma desta esperança é o Espírito Santo. Sem o Espírito Santo não se pode ter esperança”

Papa  Francisco 

“Sede alegres na esperança”, recomenda S. Paulo aos cristãos de Roma perseguidos pelo poder político e necessitados de reforçar as relações dentro e fora da comunidade. E acrescenta outras de grande valor para dar testemunho da fé operativa.
Que alegria terão sentido os discípulos de Emaús ao encontrarem a comunidade de Jerusalém em assembleia! E que comoção ao verem confirmada a novidade surpreendente do fazer caminho e estar à mesa com Jesus ressuscitado! E ao poderem partilhar a experiência por eles vivida: “Contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus quando Ele partiu o pão”. Que conforto recíproco terão saboreado!
Agora, um novo laço os une. Além do sangue familiar, entre alguns, da memória agradecida de uma história comum nos caminhos da Galileia e noutras terras, da amizade alimentada em convívios e conversas, surge o facto novo que a todos entusiasma: O de serem constituídos testemunhas de Jesus ressuscitado, de beneficiarem da graça da sua aparição, de receberem o encargo do seu anúncio até aos confins da terra, a começar por Jerusalém (Lc 24, 40). E de contarem sempre com o Espírito Santo, o prometido por Deus Pai: “Por isso, esperai na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”.
Que conforto psicológico e espiritual lhes terá advindo deste regresso à cidade, testemunha do processo iníquo, onde tem de recomeçar a nova etapa da evangelização. Em Igreja, claro! Etapa que prossegue ao longo da história. Etapa em curso na busca de novos rostos e novas ousadias, novos métodos e novas atitudes. Etapa que brota da Eucaristia celebração para chegar à Eucaristia missão. 
O Papa Francisco lembra que: “A morada natural da esperança é um «corpo» solidário, no caso da esperança cristã este corpo é a Igreja, enquanto o sopro vital, a alma desta esperança é o Espírito Santo. Sem o Espírito Santo não se pode ter esperança”.

Georgino Rocha

domingo, 6 de maio de 2018

Artes no Canal - 2

Banca da Batita

A Lita também quis ver a mulher-estátua a mexer-se 

Criança a desfiar a mulher-estátua 

João Tiago 
Volto, como prometido, ao projeto “Artes no Canal” que visitei ontem, sábado, com dia luminoso e convidativo para uma saída. No meu caso, para retemperar ânimo, um pouco em baixo. Sair de casa ajuda a espairecer. 
Para além das bancas de vendas, onde se mistura o artesanato com outros produtos, acabamos por perceber que há rostos habituais com artigos habituais, nem sempre a condizer. A exposição-venda de uma artesã gafanhoa, a Batita, lá estava, com sua mãe a substitui-la, como tem acontecido noutras alturas. Dispensando-me de deixar o registo de tantos trabalhos exibidos, tive pena de não detetar mais ninguém das Gafanhas, mas seria natural e expetável que lá estivessem. Se errei, alertem-me. 
Motivo de atração para todos quantos passavam, com destaque para a pequenada, foi a mulher-estátua, na sua postura rígida, só alterada quando alguma moeda caía na caixinha à sua frente. As crianças, o melhor do mundo segundo Pessoa, passavam do espanto à admiração, com desafios, olhares, aproximações e palmas que não alteravam o rigor da postura. E então, quando tilintavam as modas na caixa, lá se mexia a mulher-estátua, serenamente, para gáudio dos mais pequenos e de alguns mais maduros. 
Também apreciei jovens que integram ASK – Aveiro Sketchers, um grupo que desconhecia e que abordarei amanhã. O seu projeto, cujo nome indica a naturalidade estrangeira, cultiva o desenho que posteriormente partilha nas redes sociais. Cinco jovens “retrataram” com arte o ambiente da Praça Dr. Joaquim de Melo Freitas.
Visita que recomendo em próximas edições.

O Espírito Santo é um atrevido

Frei Bento Domingues

"O Espírito Santo é muito atrevido, mas não é louco, não se substitui a ninguém, não tem uma varinha de condão para eliminar conflitos, não quer fazer nada sozinho, mas também não se acomoda ao que sempre assim foi"

1. Entramos em Maio e no VI Domingo da Páscoa. O Espírito Santo resolveu não esperar pela festa do Pentecostes e meteu S. Pedro em sarilhos teológicos e pastorais [1]. Contam os Actos dos Apóstolos (Actos) que estava ele para começar a rezar, mas com muita fome. Veio do Céu uma toalha cheia de manjares, mas todos proibidos a um bom judeu. Foi o próprio Espírito Santo quem lhe disse para não ligar a essas proibições e comer à vontade. Insistiu ainda que entrasse na casa de um gentio, um centurião romano, que o recebeu desvanecido. Pedro anunciou aí um princípio teológico de alcance universal: reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, pois qualquer uma, de qualquer nação que O tema e pratique a justiça, Lhe é agradável. Não estava a criar um novo privilégio, pois Jesus Cristo, que é o Senhor de todos, até começou pelos filhos de Israel o anúncio da boa nova da paz.
O Espírito Santo mostrou que não estava para conversas nem muitas cerimónias. Desceu sobre todos. Os companheiros de Pedro ficaram maravilhados ao verem que os gentios tinham a mesma sorte que eles. Pedro rendeu-se à evidência: como negar o baptismo aos que já receberam o Espírito Santo? Nasceu ali uma nova comunidade.

Para o Dia da Mãe



Mãe!

Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas 
que ainda não viajei!
Traze tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça 
não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. 
Depois venho sentar-me ao teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei,
tão parecidas com as que não viajei, 
escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa.
Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente 
para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

José de Almada Negreiros


Nota: Sugerido pela Livraria Bertrand

sábado, 5 de maio de 2018

Artes no Canal - 1





Aveiro está no meu coração. Lá estudei, trabalhei, participei em inúmeras reuniões e cerimónias, convivi com amigos, assisti a espetáculos, apreciei exposições, frequentei livrarias. E, mais importante que tudo, conheci a Lita, minha companheira de toda a vida. Ultimamente, tenho passado por Aveiro a correr, sem vagar para olhar, com olhos de ver, as transformações que tem sofrido, em nome do progresso a vários níveis. 
Hoje, fiz questão de ir à cidade dos canais, animada por um projeto que tem por missão atrair pessoas, aceitar a onda do turismo, estabelecer convívios e criar dinamismos valorizadores da economia. Refiro-me, a Artes no Canal. 
O dia esteve lindo, próprio de festa, e os turistas, nacionais e estrangeiros, de linguajares bem patentes, encheram o centro citadino, com os moliceiros e mercantéis numa roda-viva, com apitos e cicerones a indicarem o que de mais importante se pode apreciar do meio dos canais. 
Cansado, mas satisfeito pelo que experimentei e apreciei, passei por ruas e ruelas há muito afastadas dos meus horizontes, vi esplanadas em cada canto, vi rostos que não via há muito, encontrei estabelecimentos modernos e outros puídos pelos anos, tirei fotografias e confirmei o peso que a moda da arte fotográfica tem nos tempos atuais. Máquinas fotográficas de alta resolução ao lado de smartphones que hão de levar gratas lembranças de Aveiro e seus canais, para mais tarde recordar. 

(continua amanhã)

Aveiro: Artes no Canal




Hoje, sábado, 5 de maio, terá lugar a edição dedicada à Cidade de Aveiro do “Artes no Canal” das 10.00 às 19.00 horas, integrando-se no programa que a Câmara Municipal de Aveiro organizou para assinalar o Feriado Municipal, que ocorrerá no próximo dia 12, também Festa de Santa Joana, padroeira da cidade e diocese de Aveiro.
Tenciono passar por lá para poder sentir o palpitar das gentes aveirenses, tão ricas a vários níveis, onde a cultura e a arte de conviver têm destaque no seu dia a dia.

Ver programa