sábado, 13 de maio de 2017

O fim de linha

Crónica de Maria Donzília Almeida



É uma verdade tacitamente aceite que a vida é uma viagem. Tem o seu início após o nascimento, isto é, a entrada neste planeta azul em que vivemos e vai-se desenrolando em sucessivas estações e apeadeiros, onde deixamos um pouco de nós, como trazemos um pouco dos locais e das pessoas com quem privámos.
Não há duas viagens iguais, apesar de haver muito de comum entre as pessoas, os lugares e as circunstâncias. Cada pessoa tem o seu próprio percurso de vida.
Quando se é criança, jovem ou até adulto, vislumbra-se um longo caminho à frente, em que o tempo parece dilatar-se até ao infinito. Ilusão da juventude, dizem os mais velhos.
Quando se atinge a idade da reforma, impõe-se uma paragem mais prolongada, para uma reflexão profunda. Começa a ter-se a perceção de que o percurso já vai adiantado e provavelmente, mais de 2/3 já percorridos. Sente-se a vida estremecida! Se durante o período de atividade, o tempo era escasso para a multiplicidade de tarefas que preenchiam o nosso dia-a-dia, eis chegada a oportunidade para a pausa que se impõe.
As pessoas aposentadas, ainda com energia para saborearem a vida e rentabilizá-la, procuram preencher o seu tempo, da forma que mais lhes agradar e que lhes traga um sentimento de gratificação. Das múltiplas ofertas disponíveis, há uma que parte de cada um de nós e que traduz um sentimento de partilha e pertença à sociedade em que vivemos – o voluntariado.
Pode revestir-se de variadas formas, desde lecionar, transmitir saberes numa Universidade Sénior, até à mais frequente, como visitar doentes nos hospitais ou utentes em lares de idosos.
Já que tenho um tempo alargado e o posso gerir como me aprouver, optei pela última modalidade. Uma vez por semana tenho encontro marcado numa casa de acolhimento de idosos, de ambiente familiar, onde cada um é tratado mediante as suas especificidades. Ali, não há a massificação que é a característica das instituições.
Aproveito para fazer uma caminhada, respirando o ar puro que ainda existe na nossa vila e deliciando o ouvido com a sinfonia dos grilinhos, numa orquestra sempre bem afinada.
O ambiente acolhedor e amistoso desta “Casa de Hóspedes” cria uma atmosfera de bem-estar que a todos contagia. A dona faz disso questão, pretendendo recriar ali, o ambiente familiar que ficou para trás
Sou sempre recebida, com certo alvoroço e ouço, essencialmente, o que os idosos têm para contar. Encontrando-se numa fase descendente da vida, vivem agora do passado, já que não se podem projetar no futuro. Vivem de memórias, sobretudo de boas memórias, da sua luta pela vida, que se vai aproximando do fim. Contam repetidamente as mesmas histórias, os episódios de vida em que foram protagonistas; as alegrias e tristezas, as vitórias e as derrotas, enfim o tecido das suas vidas.
Passando ali o dia inteiro um a seguir ao outro, apreciam a lufada de ar fresco de quem os visita. Ser bom ouvinte é qualidade de quem ouve com o coração e não só com os ouvidos. Ouvir e escutar são coisas diferentes. Eu escuto pacientemente, tudo o que têm para me contar, ainda que pela enésima vez.
“O que está a fazer é apostolado” disse já uma senhora, em tom de reconhecimento. Sem pretender ser “o bom samaritano”… reservo uma fatia do meu tempo para dar aos outros. “Volte sempre que puder” é a frase que ouço à despedida.

13.05.2017

Papa Francisco: Não queiramos ser esperança abortada



Não é muito frequente estar com os olhos e o coração fixos no ecrã da televisão tanto tempo. Desta vez, pus de lado tudo para saborear a presença entre nós do Papa Francisco, que veio do outro lado do mundo para ser Bispo de Roma e, portanto, pastor universal dos católicos. 
Vi-o vestido de branco, sem adereços dourados, sorriso franco, postura afável, sensível a gestos de aproximação à sua passagem, beijando crianças e doentes, carinhoso nas atitudes, falando e ouvindo com naturalidade. Silencioso no momento próprio junto da imagem de Nossa Senhora… de pé, com centenas de milhares de peregrinos em silêncio absoluto também. Gesto raro em multidões ansiosas. Velas ao alto iluminam sentimentos porventura de vida nova para muitos. Há papas inspiradores como Francisco; há símbolos que estimulam corações adormecidos. E o Papa Francisco, 80 anos de vida cheia, retira-se para descanso. 
Disse o Papa Francisco em Fátima: «A Virgem Mãe não veio aqui, para que a víssemos; para isso, teremos a eternidade inteira, naturalmente, se formos para o Céu. Mas Ela, antevendo e advertindo-nos para o risco do Inferno onde leva a vida sem Deus e profanando Deus nas suas criaturas, veio lembrar-nos a Luz de Deus que nos habita e cobre.» E noutra passagem da sua homilia da Eucaristia da canonização dos dois pastorinhos, Francisco e Jacinta, que sempre disseram terem visto e ouvido a Mãe de Deus, lembrou que «a vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra vida». «Não queiramos — adiantou o Papa — ser uma esperança abortada».
Citando João Paulo II, salientou: «Sob a proteção de Maria, sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor.» 
Assisti, via televisão, quase a tudo. Em Fátima seria garantidamente diferente. 

Fernando Martins

Nota: Foto da Ecclesia

sexta-feira, 12 de maio de 2017

QUERO QUE ESTEJAIS ONDE EU ESTOU

Reflexão de Georgino Rocha
Busca o caminho

Jesus vive horas decisivas da sua missão. Acaba de fazer a ceia de despedida dos seus amigos e está prestes a entrar no processo da paixão. As circunstâncias são especiais e os momentos geradores de expectativas. Os discípulos sentem-se incomodados e perplexos. Não se imaginam sozinhos. Estão confusos. Não “engolem” o falhanço da aposta de terem deixado tudo e, agora, verem ruir os projectos tão intensamente alimentados. Acham estranho que Jesus lhes acene com novos horizontes. O realismo começa a pesar e o sonho a desfazer-se. A perturbação instala-se e o coração “chora”. E as perguntas surgem pela boca de Tomé e de Filipe, porta-vozes do grupo apostólico.
“Senhor, como podemos saber o caminho, se não sabemos para onde vais”?, adianta Tomé como reacção às declarações de Jesus. Pergunta coerente pois o “vaivém” de Jesus, o seu “até breve”, o vou partir, mas voltarei “para vos levar comigo”, na casa de meu Pai há muitas moradas, quero preparar-vos um lugar, “soariam” a estranhas e provocantes. E a afirmação conclusiva, ainda mais: “Vós conheceis o caminho para onde Eu vou”.
Este breve diálogo evidencia modos diferentes de compreender a novidade do projecto de Jesus. Tomé deixa perceber o seu lado humano, vitorioso face aos adversários, triunfante nos últimos confrontos. Finalmente, todos como no Jardim das Oliveiras cairão por terra. E será Jesus a dar-lhes ordem de se erguerem. Outra é a realidade: a denúncia de Judas, a prisão de Jesus e todo o processo da paixão que culmina na ressurreição, depois da morte. Tudo por amor de salvação. Tudo por decisão de consumar o caminho iniciado na Galileia. Tudo com determinação livre, firme e corajosa, expressa progressivamente nos passos dados rumo a Jerusalém.  
E nós, por que caminho avançamos na vida? “Quero que estejais onde eu estou”, continua a dizer-nos como outrora aos discípulos. O Papa Francisco, alerta-nos para as tentações de andarmos por atalhos individualistas, sem apreço pela comunidade nem pelo compromisso, para experiências subjetivas sem rosto, para o refúgio em zonas de bem-estar pessoal, indiferente e insensível a tudo o que acontece à sua volta. (Alegria do Evangelho, 90).
O caminho de Jesus é claro. Nele se encontra a verdade. Por ele se alcança a vida. Com ele se vai ao Pai. Há outros que brilham em tantas luzes de sedução; mas esgotam-se depressa e, quase sempre, deixam o coração vazio e insatisfeito. Ganham em intensidade o que perdem em fugacidade. De sede em sede, aspiram sempre mais, desejam a fonte que jorra água viva, sacia agora e tem em reserva um manancial para muitas outras ocasiões. É o próprio Jesus.
Santo Agostinho diz-nos num dos seus sermões: “Seguindo o caminho da sua humanidade, chegarás à Divindade. Ele te conduz a Ele mesmo. Não procures por onde ir fora Dele. Se Ele não tivesse querido ser caminho, sempre andaríamos extraviados. Ele se fez, pois, caminho, por onde ir. Portanto não te direi: Busca o caminho. O caminho mesmo é quem vem a ti. Levanta-te e anda! Anda com a conduta, não com os pés. Muitos andam bem com os pés e mal com a conduta. E inclusive os que andam bem, mas fora do caminho. Correm, mas não pelo caminho, e quanto mais andam, mais se extraviam, pois se afastam mais do caminho… Sem dúvida, é preferível ir pelo caminho, embora mancando, do que ir fora do caminho” (Sobre o evangelho de São João, XIII). Sim, Cristo é caminho estreito em comparação com os caminhos espaçosos do mundo. Porém estes últimos são atalhos sem saída. Pelo mesmo caminho veio e voltou, para nos mostrar-nos a direção da verdadeira rota.
“Quero que estejais onde eu estou”. É desejo apelo a que sigamos Jesus na sua doação ao Pai, no amor à Igreja e à comunidade a que pertencemos, no desempenho das funções e serviços que são indispensáveis à realização da missão, na promoção do bem comum das pessoas e da sociedade, na atenção aos sem voz nem vez. Ouvir e seguir Jesus, como os pastorinhos de Fátima, hoje santos da Igreja universal, que à pergunta da Senhora de branco: Quereis oferecer-vos a Deus? Respondem: sim, quero.
E o Papa Francisco deixa-nos este pedido familiar: “É nas vestes de Pastor universal que me apresento diante Dela, oferecendo-lhe um bouquet das mais lindas flores que Jesus confiou aos meus cuidados. Ou seja, os irmãos e irmãs do mundo inteiro, resgatados pelo seu sangue, sem excluir ninguém. Vedes? Preciso de vos ter comigo. Preciso da vossa união — física ou espiritual, importante é que seja do coração , para o meu bouquet de flores, a minha rosa de ouro, formando um só coração e uma só alma. Entregar-vos-ei todos a Nossa Senhora, pedindo-lhe para segredar a cada um: O meu imaculado coração será o teu refúgio, o caminho que te conduzirá até Deus”.

É preciso manter desperta a busca da verdade

Bento XVI, Tolentino Mendonça e Manoel Oliveira


Efeméride: Há sete anos, tive o privilégio de participar num encontro com o Papa Bento XVI no auditório principal do Centro Cultural de Belém, em Lisboa. E neste dia, em que temos também a felicidade de ver e ouvir o Papa Francisco, ocorreu-me evocar esta efeméride da minha vida. Foi um momento inesquecível. Hoje, se Deus quiser, teremos outro momento que ficará, creio eu, num cantinho especial das nossas memórias.

Foi com grande emoção, contida com esforço, que ouvi hoje [12 de maio de 2010], ao vivo, o Santo Padre Bento XVI, no principal auditório do Centro Cultural de Belém (CCB).
Um silêncio profundo encheu a sala antes da entrada do Papa, e quando «o homem vestido de branco» assomou ao pano de fundo do palco, os aplausos explodiram de alegria.
Não era o filósofo apresentado nos mais recentes debates e escritos nem o teólogo proclamado ainda antes de se sentar na cadeira de Pedro. Não era o alemão frio e tímido que toca piano e se debruça sobre os clássicos. Não era o Papa fechado sobre si mesmo e que come à mesa sozinho. Não era o homem carismático continuamente comparado com o seu predecessor João Paulo II. Quem chegou afinal?
Chegou ao CCB o sucessor de Pedro, o que traiu o Mestre, mas a quem Jesus recomendou que nos confirmasse na fé; chegou o continuador da cadeia apostólica, que carrega aos ombros as certezas e dúvidas das comunidades católicas em caminhada de busca e de aprendizagem da vivência da compaixão e do perdão; chegou o pastor universal com a missão de guiar todos os homens e mulheres de boa vontade rumo a uma sociedade mais fraterna.

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O que eu penso sobre Fátima (3)

Crónica de Anselmo Borges no DN 



1 O sofrimento das pessoas tem de ser compreendido e respeitado. Perante o sofrimento, os calvários todos do mundo, eu inclino-me, porque me comovo profundamente.
Mas, depois, porque os crentes muitas vezes não foram informados sobre o verdadeiro Evangelho, notícia boa e felicitante da parte de Deus, concebem Deus à maneira de um tirano ou de um déspota, que precisa de sangue e submissão, fazem promessas e, concretamente em Fátima, vão pagá-las, de joelhos ou arrastando-se, sempre com aquela ideia de que talvez Deus se comova. Aqui, há uma pergunta simples: que pai ou mãe sadios, para darem pão e saúde aos filhos, precisam que eles se ajoelhem e se arrastem?
Fátima precisa, pois, de ser evangelizada. E a primeira evangelização é a evangelização de Deus, da imagem que fizemos dele. Jesus veio "evangelizar" Deus. Afinal, Deus é mesmo Pai e Mãe, e o seu único interesse consiste na alegria e na realização verdadeira e plena dos seus filhos. O único sacrifício que Deus quer é o que é exigido para lutar pela dignidade de todas as pessoas e pelos seus direitos.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Afinal, o Creoula vai continuar entre nós…



Depois da estadia do Creoula no Porto de Aveiro, à conta das festas da capital do distrito, entre 12 e 14 de maio, chega-nos agora a notícia de que, afinal, aquele navio vai continuar entre nós, concretamente, até 20 do mesmo mês, no cais bacalhoeiro, Gafanha da Nazaré, no âmbito das Comemorações do Dia da Marinha. Esta presença tem em conta, conforme comunicado da autarquia ilhavense, «a sua "tradição marinheira", associada desde o século XVI à pesca do bacalhau por muitos Capitães e pescadores nos mares frios da Gronelândia, bem como às excelentes relações que remontam às Comemorações do Dia da Marinha, em 2003, e à Regata dos Grandes Veleiros, em 2008», entre outros eventos. Esta é mais uma excelente notícia para as nossas gentes, em especial para as apaixonadas pelas nossas tradições marítimas.

Fonte: CMI; Foto da CMI

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Faleceu o meu amigo Leopoldo Oliveira


Pouco passava da meia-noite de hoje quando um filho me deu a notícia do falecimento do meu amigo Leopoldo Oliveira, com 90 anos de idade. De manhã, procurei informar-me da hora do funeral, mas deparei-me com notícia de que já tinha sido ontem, pelas 16 horas. Fiquei triste por não ter acompanhado a família na hora derradeira da sua partida  para o seio de Deus. Apresento, por esta forma, as minhas condolências aos filhos e demais familiares, com a certeza das minhas orações pela sua alma. Ele agora estará com a sua Maria e seu filho Paulo no regaço maternal do Senhor da Vida.

Leopoldo Oliveira era um amigo com quem gostava de conversar, sobretudo quando abordávamos temas do passado e da sua vida, desde muito novo, marcada pela diabetes. Posso garantir, sem medo de errar, que faleceu o mais idoso e antigo diabético da Gafanha da Nazaré, graças, certamente, ao cuidado que mantinha na hora da alimentação e da medicação com insulina.
Um dia, quando descobri que eu próprio também era diabético, tipo dois, foi com ele que aprendi muito do que devia fazer para viver tranquilamente. Pela minha insistência, com perguntas e mais perguntas, ele repreendeu-me docemente: — Não tenha medo, que eu considero-me uma pessoa saudável, apesar de ser diabético desde os 21 anos, e sou muito mais velho do que você. E fiquei então mais tranquilo. Aliás, um médico que bem o conhecia, disse-me, para me tranquilizar, que o Senhor Leopoldo era realmente o mais antigo paciente da diabetes, «com todos os órgãos afinados». Daí, a sua longevidade, que o levou a estar entre nós, fisicamente, até aos 90 anos. Espiritualmente, permanecerá na nossa memória. 
A última vez que o vi, no Lar Nossa Senhora da Nazaré, testemunhei a sua amizade. Ao dar-lhe um abraço, o amigo Leopoldo chorou. Depois, mais calmo, disse-me que estava a ser bem tratado, mas que ficara comovido quando me viu. Seriam saudades das nossas conversas ali na zona em que sempre viveu, perto da igreja matriz. 
Paz à sua alma.

Fernando Martins

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Concurso Aveiro Jovem Criador promovido pela autarquia


O Executivo Municipal deliberou aprovar o Regulamento do Concurso Aveiro Jovem Criador 2017, dando assim continuidade a uma importante iniciativa potenciadora da criatividade nas áreas artísticas, nomeadamente a Arte Digital, Escrita, Fotografia, Pintura e Música, sendo esta última uma nova área, que foi acrescentada em 2016. 
Um concurso deste género não pode deixar de projetar o Município de Aveiro a nível nacional e internacional, tanto mais que promove a criatividade e a participação ativa dos jovens, como se lê na informação da autarquia aveirense.
A participação dos jovens está subdividida em duas categorias, nomeadamente, 18/35 anos e 13/17. Haverá prémio monetário e, ainda, a oportunidade de frequentar uma Residência Artística Internacional ou Nacional, conforme a classe etária, informa a autarquia.

Fonte: CMA

NEGE — Novo Estrela da Gafanha da Encarnação


Inauguração do relvado sintético

Neste mês de maio, a rubrica “Associações” é dedicada ao NEGE – Novo Estrela da Gafanha da Encarnação, que comemora 40 anos de atividade. 
Remontam a 1976 os primeiros passos da equipa desportiva amadora “Sport Clube Estrela”, que desenvolvia a sua atividade na extremidade nascente da Rua de Entrecampos, onde treinava e recebia as equipas adversárias em jogos amigáveis. Com a afirmação da equipa, foram criadas as condições para que, em 1977, se constituísse a associação desportiva e cultural Novo Estrela da Gafanha da Encarnação (NEGE), com o propósito de fomentar o desenvolvimento da educação física e o desporto, promovendo a sua prática e expansão, especialmente entre os seus associados, proporcionando-lhes igualmente meios de cultura e distração. 
A primeira participação em competições oficiais da equipa sénior deu-se na época de 1979/1980 tendo ao longo dos anos somado diversos títulos ao seu palmarés desportivo, nomeadamente o de Campeão Distrital da 1.ª Divisão, a participação na Taça de Portugal e também na Divisão de Honra. 
Face aos sucessos alcançados, entendeu a Direção em funções na época 1984/1985 iniciar o escalão de formação Júnior para apoio à equipa Sénior. Posteriormente e como forma de promover a prática desportiva, foram criados os restantes escalões de formação. Atualmente o NEGE conta com os escalões de Petizes/Traquinas, Benjamins, Infantis, Juvenis, e Seniores, contando com 110 atletas inscritos na Associação de Futebol de Aveiro e no INATEL. 
Com a consolidação do desenvolvimento do clube, as diferentes Direções promoveram consecutivas obras de remodelação no parque desportivo, tendo estas culminado no ano de 2016 com a instalação de um relvado sintético promovida pela Câmara Municipal de Ílhavo, o que trouxe uma considerável melhoria das condições da prática desportiva, dando assim um novo impulso à missão que o NEGE desempenha há 40 anos ao serviço da comunidade em que se insere. 
No âmbito das Comemorações do Feriado Municipal de Ílhavo 2017, foi-lhe atribuída a Medalha do Concelho em Vermeil, pelos relevantes serviços prestados à comunidade, distinguindo assim espírito de iniciativa, a resiliência e perseverança das diferentes Direções do Clube ao longo de quatro décadas de existência.

Novo Estrela da Gafanha da Encarnação 
Rua da Saudade 
3830-479 Gafanha da Encarnação 
E-mail: nege@sapo.pt

Presidente 

Mário Figueiredo

Fonte: Agenda "Viver em..." da CMI

terça-feira, 9 de maio de 2017

Filarmónica Gafanhense — Convívio com porco no espeto


A Filarmonica Gafanhense teve a gentileza de me convidar para estar presente num convívio à volta de um porco no espeto junto ao edifício desativado do Stella Maris,  na Gafanha da Nazaré. A festa vai ter lugar no próximo dia 21 de maio, pelas 12 horas, esperando-se, naturalmente, a participação de muitos amigos da banda. É claro que a participação, seja de quem for, implica o pagamento de uma refeição normal, até porque a Filarmónica, agora com farda nova, necessita da ajuda de todos. Garanto que, se puder, lá estarei, porque a banda merece o nosso aplauso pelo que tem feito e pelo que há de fazer.

Gostei de ler "Um Papa nada convencional"

Opinião de Francisco Sena Santos 


A percepção é determinante. Bento XVI apareceu-nos sempre como um velho professor, fechado, austero na sua cátedra. As suas palavras como Papa exprimem pensamento que se traduz em lições e doutrina. Como se estivesse sempre a falar para audiências qualificadas. O Papa Francisco nunca se põe na cátedra, evita a imagem de autoridade, aparece-nos de braços abertos, como um avô que quer compreender-nos, reduz a distância entre o cargo e a pessoa, entre abstracção e realidade concreta.
Francisco não parece ter os 80 anos que tem, transmite com aquele sorriso fraterno energia que parece revolucionária. Mais do que um educador, chega-nos como um amigo. É alguém que acredita na alegria da vida. É um pontífice de vanguarda, americano argentino.

Ler mais no  Sapo 24

Aveiro em festa


Creoula aberto a visitas no Porto de Aveiro

Navio Creoula

Os amantes de navios com carga histórica relevante vão ser contemplados com a visita do Creoula, atracado no Terminal Sul do Porto de Aveiro, nos dias 12, 13 e 14 de maio. A visita, que integra as comemorações do Feriado Municipal de Aveiro, estará aberto ao público entre 12 e 14 de maio. 
Entretanto, no dia 13, pelas 16h30, a bordo do navio, será lançado o livro editado pela Câmara Municipal de Aveiro, intitulado "Aveiro e a Expansão Marítima Portuguesa".

Li aqui 

domingo, 7 de maio de 2017

O milagre dos picarotos





Com a visita a São Miguel, Açores, este nosso paraíso no meio do oceano tem sido motivo de várias conversas sobre as paisagens únicas que tão tardiamente tivemos oportunidade de conhecer. Eu e a Lita regressámos com os Açores no coração, apesar do pouco que pudemos usufruir. E logo imaginámos que haveríamos de voltar um dia para pôr pé noutras ilhas de belezas semelhantes que sempre atraíram turistas e viajantes que não se cansam de cantar loas a tais maravilhas. Esta nossa viagem em junho ficou a dever-se ao nosso filho João Paulo que lecionou em três ilhas: São Jorge, Terceira e São Miguel.
Depois de nós seguiu-se o nosso filho Pedro que, em agosto,  estacionou em São Miguel e passou pela Terceira. E  de tal modo gostou que neste abril voltou para conhecer mais ilhas: S. Jorge, Faial e Pico. Obviamente, regressou encantado. E quem sabe se não programará um outro périplo para ficar a conhecer o arquipélago que anda nas bocas do mundo à conta das suas verdejantes ou inóspitas paisagens de lava morta, onde o horroroso-belo nos enche a alma e nos leva a viajar ou a sonhar com milénios do passado. 
O suplemento Fugas do PÚBLICO ofereceu aos seus leitores, ontem, um texto de Pedro Garcias, intitulado Elogio do vinho, que nos transporta até ao Pico, para deleite de quem gosta dos Açores. Logo a abrir diz: «Quem gosta de vinhos e de vinhas tem que ir ao Pico.» Eu gostaria de ir, é verdade, mas as minhas pernas, cansadas e gastas, não me autorizam. Mas nem por isso deixo de recomendar a leitura desse desafio de Pedro Garcias. Não sou invejoso…nunca fui.

Fernando Martins

Nota: As fotos são de Pedro Martins

Descrucificar é evangelizar

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO



«As notícias do Santuário de Fátima neutralizam o que Bergoglio trouxe de novo: uma evangelização nova, libertadora, descrucificante.»

1. Será que Deus é sádico, Jesus suicida e a Senhora de Fátima, para aliviar o Céu ofendido, sacrifica crianças inocentes?
Não tenho qualquer resposta para estas perguntas que regressam sempre como as gripes. Não as considero desprezíveis, embora nem todos as formulam de forma tão brutal. Passada a euforia da visita do Papa à Cova da Iria, essa questão tornar-se-á ainda mais aguda. Para erradicar a violência em nome de Deus, é fundamental desmascarar todos os lugares onde ela se disfarça. Ainda na missa da quarta-feira da passada Semana Santa embati numa oração que renego: “Senhor nosso Deus, que, para nos libertar do poder do inimigo, quisestes que o Vosso Filho sofresse o suplício da cruz, concedei aos vossos servos a graça da ressurreição.”
Será verdade que Deus, para nos libertar do poder do mal, precisava de fazer morrer o seu Filho no horror da cruz? Gostará Deus do sofrimento de quem mais ama? Poderá ser invocado como Deus um ser tão sádico?
S. Paulo, na famosa Carta aos Romanos, tão celebrada por M. Lutero, para enfatizar a loucura do amor que Deus nos tem e do qual nada nem ninguém nos pode separar, atreve-se a escrever esta barbaridade: “Deus não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por nós todos [1].” Será que Deus gosta mais de nós do que do seu próprio Filho? Não será este um amor perverso?
No Evangelho de S. João, o Pai não exige nada a Jesus e aqueles que o matam pensam que o dominam, mas estão enganados: “Ninguém me tira a vida, mas eu dou-a de mim mesmo [2].” Posição reforçada na Oração Eucarística II: “Na hora em que Ele se entregava, para voluntariamente sofrer a morte...”
Aqui, tudo se complica ainda mais: ou Jesus fingia que sofria e não sofria nada ou gostava de sofrer e, então, era um doente masoquista. Pior ainda, um suicida para nos salvar.
Ao fim e ao cabo: Jesus foi condenado por Deus ou por uma coligação de Herodes e Pôncio Pilatos? [3]
No cenário da Mensagem de Fátima, Deus, o Coração de Jesus e o Coração de Maria estão cravados de espinhos, feridos pelos pecados do mundo. Mas que ideia foi essa, tão pouco celestial, a de fazer com que crianças inocentes assumam a reparação dos estragos feitos pelos pecados dos adultos? [4]

2. É verdade que na história do mundo, quase sempre paga o justo pelo pecador. Se essa desgraça não pode ter aprovação divina, muito menos pode ser Deus a exigir a morte do seu próprio Filho para perdoar as ofensas recebidas.
A teoria jurídico-teológica das exigências da reparação justa da ofensa feita a Deus, elaborada por Santo Anselmo adicionada à concepção do pecado original de Santo Agostinho, deixa Deus muito mal e desgraça Jesus Cristo. Foram tantos os estragos na imagem de Deus e na vida dos seres humanos que o melhor é dispensar definitivamente essa teoria.
Muitos textos [5], ao pretenderem que Jesus estava a realizar o desígnio de Deus, prefigurado no Antigo Testamento — não era um traidor —, permitem leituras vesgas: se era Deus que O entregou, os adversários que o executaram estavam a cumprir a vontade de Deus! No entanto, em lado nenhum, Jesus se apresenta com a seguinte proposta: há muito sofrimento no mundo; eu venho para o alargar e intensificar. Não me parece que o Nazareno se tenha aconselhado com José Saramago para conceber, delinear e realizar a sua missão.
No Evangelho de S. Lucas, Jesus apresenta o seu programa, na sinagoga de Nazaré, servindo-se de uma passagem do profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a boa nova aos mendigos; enviou-me a proclamar aos presos a libertação e aos cegos a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano aceitável da parte do Senhor [6].”
A recepção imediata do público da sinagoga foi simpática, mas acabou mal. Porquê? O programa era bom. A ideia de um ano Jubilar estava prevista no Levítico (25). Convidava ao perdão de dívidas e à libertação dos escravos. A desgraça está nos pormenores. A primeira foi a de fechar o livro antes do tempo: suprimiu a passagem do dia da vingança de Deus. Isto era grave. Parecia que já mandava no texto sagrado. Como não queria nada com a ideia de um Deus de vingança, não leu essa passagem e pronto. A segunda foi pior do que a primeira: o que Isaías dizia do Messias estava a realizar-se nele, Jesus de Nazaré. Era pretensão a mais. “Encheram-se todos de fúria na sinagoga ao ouvirem as suas palavras”, da fúria passaram aos actos, “expulsando-o da cidade, levaram-no ao cimo do monte sobre o qual a cidade estava construída, para o atirarem dali abaixo. Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”.
Os quatro Evangelhos cumprem o que diz o nome: Jesus é um amado de Deus que entrega a sua vida para que seja perfeita a alegria de todos. Nas últimas crónicas já apontei qual foi o caminho de Jesus. O seu programa recusava a dominação económica política e religiosa que crucifica a vida das pessoas, seja onde for. O amor ao sofrimento é doença; o esforço para procurar vencer o próprio sofrimento e o dos outros, nas suas causas e consequências, é amor da vida, é descrucificar [7].

3. Nestas crónicas recusei-me sempre a responder à pergunta: que vem o Papa fazer a Fátima? Julguei que era melhor esperar para ver. Sabendo de quem se trata, alimento o secreto desejo de uma boa surpresa.
Entretanto descobri que o Papa Francisco publicou uma carta apostólica, em forma de motu proprio, que transfere as competências sobre os Santuários para o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização [8]. É precisamente o que mais falta em Fátima: tornar-se um centro propulsor de saída para o mundo e não apenas de um altar de incenso.
São ridículas as notícias colhidas ou veiculadas pelo Santuário sobre os cuidados com a figura do Papa, a sua indumentária para celebrar, o cálice de ouro, a pala para o resguardar do sol e outras futilidades do género. Parecem manifestar o propósito de neutralizar, na Cova da Iria, o que Bergoglio trouxe de novo: uma Igreja de saída para todas as periferias, com gosto da alegria do Evangelho, de uma evangelização nova, libertadora, descrucificante.

[1] Rm 8, 31-39
[2] Jo 10, 18
[3] Act 4, 27-30; Cf. Simon Légasse/Peter Tomson, Qui a tué Jésus?, Cerf 2004; Nathan Leites, Le meurtre de Jésus moyen de salut?, Cerf 1982
[4] Cf. Lúcia de Jesus, Memórias, Edição crítica de Cristina Sobral, Fátima 2016.
[5] Cf. Act. 2, 22-36 //
[6] Lc 4, 16-30
[7] Lc 7
[8] L’Osservatore Romano, 06.04.2017