terça-feira, 11 de agosto de 2015

Agosto: Tempo de férias



Olhou para mim e perguntou: 
— Não me conheces?
— Não! — respondi.
Olhei melhor e a sua expressão dizia-me qualquer coisa. Nem assim consegui reconhecê-lo.
Foi então que ele me disse de quem era filho. E de imediato tudo se tornou claro. Era o João.
Aí começou a animar-me a minha memória. Que me visitava frequentemente quando na juventude estive doente dos pulmões e acamado. Que gostava de conversar comigo e dos truques que eu fazia para entreter os amigos que vinham saber da minha saúde. Só não conseguiu perceber como é que eu fazia desaparecer a moeda que caía no copo de água. 
— Ainda hoje me lembro desse truque e nunca descobri como é que fazias aquilo.
— São truques… — adiantei eu.
Falou-me dos pais, dos filhos e da reforma que está a viver. 
Disse-me que muitas vezes se tem cruzado comigo sem nunca ter tido a coragem de me interpelar.
Ralhei com ele e disse-lhe que nunca mais fizesse isso. Gosto que me falem ajudando-me a recordar o passado. Não faz sentido passar por alguém que conhecemos sem uma saudação, por mais simples que seja.
(…)
Agosto é, desde que me lembro, o mês de férias por excelência. Para quase toda a gente. E quando a emigração começou para a Europa, sobretudo, é certo e sabido que na Gafanha da Nazaré e demais povoações de Portugal as férias passaram a ser mais animadas. Há aldeias quase a desaparecer do mapa que se transfiguram, enchendo-se de vida. Quando passei férias em Trás-os-Montes com a família, senti de perto essa realidade. Nas vilas e cidades, as férias dos emigrantes ficam mais diluídas, mas nem por isso ignoramos que os nossos conterrâneos estão de volta durante pelo menos um mês.
Os anos passam a correr e os cabelos brancos ou a falta deles escondem fisionomias que nos foram próximas. Mas estamos sempre a tempo de as trazer até nós. Basta uma simples saudação para desfiarmos memórias de décadas.
Aqui fica uma saudação amiga para os emigrantes que chegam para férias, mas também para os que não puderam vir.

Supera a agressão


“Supera a agressão com a suavidade, e a malícia com a bondade”

Santo Isidoro de Sevilha (560-636)

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Maria

Crónica de Maria Donzília Almeida

Barra
Do alto do seu pedestal, 
sua majestade o Farol da Barra 
assistiu, abençoou e piscou o olho 
a mais esta cena da vida real


Tomar um banho nas águas bem frescas, do Oceano Atlântico, na orla que abraça a nossa praia da Barra, é um ato que só os corajosos empreendem.
Ouço, a cada passo, os banhistas queixarem-se que são águas geladas, que afugentam a maioria das pessoas. Menosprezam o efeito revigorante das suas temperaturas baixas em favor de águas mais temperadas e quase mornas, na costa vicentina do Algarve. Aqui, o mar parece ”caldo”, no dizer de alguns friorentos.
Apesar de apreciar muito o nosso Algarve por muitas e variadas razões, não subestimo as nossas praias de areia branca e macia, beijadas pelo ímpeto de altas ondas que arrojam ao areal as conchas e burgos que muitos colecionam.

sábado, 8 de agosto de 2015

7 DE AGOSTO: UM DIA MUITO ESPECIAL




Ontem vivemos um dia muito especial. Eu e a Lita celebrámos os 50 anos do nosso casamento, que se realizou, concretamente, em 7 de agosto de 1965, no Bunheiro, Murtosa. Foi um dia muito especial vivido com filhos e netos, que nos manifestaram todo o amor e ternura que têm por nós, como nós temos por eles. E como essas manifestações de carinho, embora esperadas, nos comoveram!
Foram 50 anos cheios de trabalhos, canseiras, alegrias sem conta e algumas mágoas, que vida sem tudo isso será uma monotonia desenxabida. Não são as mágoas que nos fazem crescer? Os momentos bons deram-nos muito prazer; os menos bons tornaram-nos mais unidos. 
Dizem alguns, nestas circunstâncias, que nunca se arrependeram do que fizeram na vida. Eu não partilho dessa opinião. Fiz, decerto, muitas coisas boas, mas também cometi alguns erros, dos quais me arrependo. Nem sempre fiz o bem que queria, mas o mal que não queria, no dizer do apóstolo Paulo. A fragilidade humana é assim.
Revemo-nos nos filhos e netos que nasceram do nosso amor durante estes anos todos. Nas suas veias corre o nosso sangue e nas suas almas desabrocham os valores que cultivamos e enformam os nossos quotidianos. Valores de verdade, de justiça, de paz, de amor, de fraternidade, de ternura, do bem, do belo e da compaixão pelos feridos da vida. 
Nunca lhes transmitimos ânsias de poder, de riquezas, de honras sem sentido, de vaidades e de privilégios. Antes os educámos para o serviço à sociedade, sem dela esperarem recompensas. Os filhos e netos, afinal, eternizam-nos no tempo.
Por estranho que porventura possa parecer, foram estes sentimentos que, como casal e pessoalmente, mais nos vieram ontem à memória. E no fim do dia os filhos ainda nos brindaram com uma evocação sentida e muito íntima dos nossos 50 anos de casados. Que Deus os abençoe.

Lita e Fernando

Voz político-moral global (1)

Crónica de Anselmo Borges 


«O centro da Igreja é o ser humano, 
sempre frágil e necessitado
de compreensão e ternura»


"A descrição do Papa como um super-homem, como uma estrela, é ofensiva para mim. O Papa é um homem que ri, chora, dorme tranquilamente, e tem amigos, como as outras pessoas." Quem isto diz é o Papa Francisco, dessacralizando o papado, citado por R. Draper num artigo na National Geographic deste mês, com o título provocador: "O Papa vai mudar o Vaticano? Ou o Vaticano vai mudar o Papa?" À partida, digo que estou convicto de que é o Papa que vai mudar o Vaticano. Seria péssimo para a Igreja e para o mundo se fosse ao contrário. Ele sabe que ninguém é perfeito: "Existimos apenas nós, pecadores." Mas também sabe que "Deus não tem medo de coisas novas! É por isso que nos surpreende continuamente, abrindo-nos o coração e guiando-nos por caminhos inesperados."

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Passeios

Santuário de Schoenstatt 
Em moda estão as caminhadas e os passeios de bicicleta. De manhã e à noitinha, não faltam ranchos que caminham tranquilamente. E fazem-no com animação, conversando e rindo. Por razões de saúde e de convivência, está bem de ver. E os ciclistas terão os mesmos objetivos. Então, propomos que de em vez em quando, nestas férias, se peregrine aos santuários de Schoenstatt e de Santa Maria de Vagos. O primeiro, com a finalidade de sentir a serenidade que ali se experimenta, associando-lhes a oração que possa brotar de cada coração agradecido pelas dádivas do céu. O segundo, em homenagem às principais raízes das gentes gafanhoas, num ambiente agradável. Santa Maria de Vagos ali está acolhedora desde a fundação da nacionalidade.


Sofrer

"Sê capaz de sofrer. Mas não digas nada que possa
 perturbar o sofrimento dos outros"

Léon-Paul Fargue (1876-1947)


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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Um sorriso

"É necessário muito pouco para provocar um sorriso 
e basta um sorriso para tudo se tornar possível."

Gilbert Cesbron (1913-1979)


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Museu de Ílhavo e Navio Santo André

Vista panorâmica do Porto Comercial (Clicar para ver melhor)
As estatísticas respeitantes ao Museu Marítimo de Ílhavo e ao Navio-museu Santo André mostram a mais-valia que representam aqueles espaços museológicos para a nossa cultura e turismo. Importa aproveitar o que nos é oferecido a preços módicos ou em dias de portas franqueadas para nos apercebermos do que temos de bom. E as férias são uma excelente oportunidade para nos cultivarmos. 

Ler mais  aqui 

Leituras de férias



O hábito da leitura continua a beneficiar quem o pratica. Os livros são riquíssimas fontes de cultura e de saberes. Mas este mês ficaríamos de mal com a nossa consciência se não recomendássemos a leitura de dois preciosos livros do Papa Francisco: “A Alegrias do Evangelho” e a sua segunda encíclica, “Louvado Sejas”. Ambos apreciados por personalidades de todos os credos e culturas. A propósito deste último, Carlos Fiolhais, físico e professor universitário, nos dez livros que recomendou para estas férias, diz no PÚBLICO: «A segunda encíclica do actual Papa é um extraordinário ensaio sobre a atenção que devemos à nossa casa comum, o planeta Terra. Não é só a ecologia, mas também a economia que nos deve preocupar.»



domingo, 2 de agosto de 2015

"Francisco quer ações, não meras palavras na questão do ambiente"

Autor de uma biografia fundamental sobre o Papa, 
Austen Ivereigh falou ao DN sobre a primeira encíclica de Francisco, 
o seu percurso, preocupações e o concílio em que foi eleito

Papa Francisco e Austen Ivereigh

As ações humanas produzem a degradação do ambiente?

A importância da encíclica é que toma posição no debate científico sobre a questão, reconhecendo que as alterações climáticas são resultado da ação humana, mas as evidências em que se baseia surgem mais do testemunho dos pobres, sintetizadas através das declarações de conferências episcopais. Isto é deveras importante, porque o Papa está a afirmar que o povo de Deus está a sofrer e que sente e vê esse sofrimento. E a ciência sustenta esta evidência. O que não tem sido entendido por muitos nos EUA que dizem não ser admissível o Papa tomar posição sobre a ciência quando ele, de facto, diz que a evidência vem do sofrimento dos pobres.

Pode ler a entrevista no Diário de Notícias

Confiança

"Aquele que não tem confiança nos outros não lhes pode ganhar a confiança"

Lao-Tsé (-570-490), filósofo da China Antiga

Li no Público


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sábado, 1 de agosto de 2015

Liberdade e dignidade

Crónica de Anselmo Borges 


«Mas quantos são verdadeiramente donos, senhores, 
de si e não escravos das paixões e das coisas, 
sobretudo do dinheiro e da opinião pública 
e do politicamente correcto?»



Apesar de todos os debates à volta de se saber se somos livres ou não, vivemos na convicção de que o somos, o mesmo acontecendo com as sociedades. Caso contrário, como se explicariam as leis, as normas, os louvores, os julgamentos, as penas, as prisões?
Há uma experiência de fundo: o ser humano não é objecto, coisa. Olhamos para as coisas como um "isso", mas olhamos para os seres humanos como um "alguém". Alguém que é um "tu" como "eu" e, ao mesmo tempo, um tu que não sou eu: outro eu e um eu outro, formando um "nós". O outro, no seu rosto e olhar, impõe-se-me como um "alguém corporal", a visibilidade de uma interioridade inacessível que se mostra, afirma e impõe.

Deixar Deus ser Deus

Reflexão de Georgino Rocha

 A partir do que digo, 
ajustem o vosso modo de pensar, 
alterem a vossa compreensão, 
conformai a vossa vida

Georgino Rocha


Os judeus caem em si. A condição social de origem de Jesus não condizia com o reconhecido estatuto de Mestre e, menos ainda, com o seu discurso após a multiplicação dos pães. Jo 6, 41-51. E, coerentemente, interrogam-se sobre o que está a acontecer: Um artesão de Nazaré da Galileia ser o enviado de Deus? O filho de José e de Maria, bem conhecidos na terra, declarar-se pão da vida? O deslocado de Cafarnaum ensinar, com linguagem dura, “coisas estranhas” na sinagoga? Donde lhe vem tal autoridade? Jesus não entra “no jogo” de pergunta-resposta. Os factos estão à vista, são públicos. A explicação é clara, persuasiva e respeitadora. A mensagem é apelativa, mas não surte efeito. Em vez de se deixarem atrair por Deus e entrar na novidade que o ensinamento de Jesus comporta, começam a murmurar e “estancam” no seu rígido pensar e nos seus velhos hábitos, distanciam-se interiormente e muitos acabam por O abandonar. 
João, o autor da narrativa, destaca a relação de Jesus com Deus Pai e faz uma excelente catequese que choca abertamente com a mentalidade dos ouvintes judeus. Eles, como talvez muitos de nós, têm as suas ideias a respeito de Deus e querem encerrá-Lo nesse quadro de referências. Jesus propõe uma perspectiva diferente: A partir do que digo, ajustem o vosso modo de pensar, alterem a vossa compreensão, conformai a vossa vida. “Não murmureis entre vós, Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que me enviou, não o trouxer”.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Na despedida do Padre Francisco Melo

Ser Igreja que acolhe, porto de abrigo, âncora firme 
e farol que ilumina nos momentos difíceis da vida

Padre Francisco Melo

«Gostava de pedir desculpa por todas as vezes em que não fui capaz de ser o rosto de Deus para aqueles que me foram confiados.» Foi com estas palavras humildes que o Padre Francisco Melo se despediu dos paroquianos das Gafanhas da Nazaré, Encarnação e Carmo na eucaristia a que presidiu no “Centro Comunitário Mãe do Redentor”, no domingo, 26 de julho, pelas 16.30 horas. O Padre Francisco Melo, por decisão do nosso Bispo, D. António Manuel Moiteiro, vai estudar Teologia Pastoral em Roma. 
O Padre Francisco afiança que nem sempre «foi expressão da misericórdia de Deus» nem teve «coragem e fé para enfrentar e viver a vida». Disse que «houve momentos muito bons e muita alegria» com aquelas pessoas que trabalharam consigo, nomeadamente com «a equipa sacerdotal», mas não deixou de afirmar que «houve momentos difíceis que ficam no coração de Deus e no coração de muitos de nós».
Depois da Eucaristia, houve um momento expressivo de agradecimentos ao Padre Francisco, com palavras amigas e lembranças das três paróquias que serviu ao longo de sete, seis e dois anos, respetivamente. Manuel Sardo, do Conselho Económico e Pastoral da Gafanha da Nazaré, falou da gratidão do povo daquela freguesia pelo «enorme trabalho e dedicação manifestados», pela «coragem sem nunca manifestar desânimo», pelas «palavras de estímulo para com todos» e pelos «ensinamentos nos encontros e nas reuniões mais alargadas».