sábado, 14 de fevereiro de 2015

Púrpura e periferias

Crónica de Anselmo Borges 
no DN

Anselmo Borges

1. Como tinha anunciado, o Papa celebra hoje e amanhã no Vaticano a cerimónia de criação de vinte novos cardeais, dos quais, porque têm menos de 80 anos, quinze são eleitores do novo Papa, num eventual conclave. Anteontem e ontem, Francisco examinou com o Colégio Cardinalício, uma espécie de Senado da Igreja, que agora representa 73 países de todo o mundo, a reforma da Cúria Romana, desafio fundamental. De facto, sem uma reforma radical, consistente e duradoura, "constitucional", da Cúria, não se cumprirá uma tarefa essencial para Francisco.
Como já tinha acontecido na primeira nomeação de novos purpurados, há um ano, Francisco fez questão de abandonar critérios tradicionais de escolha. Assim, ficaram sem cardeal grandes cidades como Veneza e Bruxelas e só um membro da Cúria ascendeu ao cardinalato. Mas o arcebispo de Santiago, Arlindo Gomes Furtado, tornou-se o primeiro cardeal de Cabo Verde na história, o arcebispo de Rangun, o primeiro cardeal birmanês, como o bispo de Tonga é o primeiro proveniente do arquipélago de Tonga e também, com 53 anos, o mais jovem do Colégio. A América Latina fica representada por mais três cardeais, e a Ásia também com mais três.

QUERO, FICA LIMPO

Reflexão de Georgino Rocha




Jesus curou-me. Jesus limpou a minha lepra. Jesus tocou o meu corpo impuro. Jesus deu-me saúde. E de outros modos, ia lançando o brado da feliz notícia o homem recuperado na sua dignidade. Mc 1, 40-45. A experiência feita enche-o de entusiasmo e de júbilo, de alegria incontida e de coragem ousada. Aconteceu nas ruas de Cafarnaúm, próximo do Mar da Galileia. O encontro pessoal com Jesus, o pedido ardente que lhe faz e a prontidão generosa com que é atendido abrem-lhe novos horizontes e provocam-lhe atitudes de vida contrastantes com as ordens recebidas.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Josué Ribau em entrevista ao jornal Timoneiro

A música é realmente o melhor antidepressivo

Josué Ribau 

O fascinante mundo da música volta este mês ao Timoneiro com outras facetas, entrevistando um entendido nas áreas do colecionismo, construção e restauro de instrumentos de corda, com o bandolim na linha da frente de um conjunto de 80 peças, cada uma com a sua história, de origens diversas. 
Josué Ribau Teixeira, 65 anos, casado com Maria Aldina Matias, um casal de filhos e duas netas, professor de Educação Física aposentado, resolveu aprender música há três anos. Solfejo e teoria musical, dedicando-se também ao bandolim, foram as suas opções. «Dá-me gozo tocar para mim e isso me basta», não tendo pretensões de exibições públicas, sublinha. Não toca de ouvido, mas segue a leitura da pauta, estando já familiarizado com símbolos e sinais. E sobre as músicas, frisou que tudo está mais facilitado, porque estão à venda na Net a preços acessíveis. «Os portes são mais caros que as próprias músicas, por vezes», disse.
Na altura, o fumador, que o foi durante 40 anos, resolveu cortar radicalmente com o tabaco, canalizando todo o dinheiro agora poupado para a aquisição dos instrumentos que constituem a sua coleção. E garante que vai continuar a investir nesta sua paixão, nunca com a ideia de vender o que coleciona, restaura e constrói de raiz. 
Embora reconheça que a sua família, quer do lado paterno quer materno, teve, no passado, executantes musicais, e que os quatro irmãos mais velhos — Manuel, Ângelo (falecido), Plínio e Diamantino — seguiram o rasto dos seus antepassados, a verdade é que o Josué foi durante décadas indiferente aos seus gostos, tal como sua irmã Maria de Fátima não foi por essas artes, sendo uma das mais antigas catequistas da nossa paróquia. 

O "Cozido das Furnas" vai ser taxado por "panela"

Câmara Municipal da Povoação 
anunciou as tarifas para a confeção 
do cozido das Furnas



«Segundo a autarquia, "a partir de 01 de março serão aplicadas a tarifa de entrada, a tarifa de panela de cozido e a tarifa de estacionamento", mas os residentes nas Furnas estarão isentos.
"A entrada custará 50 cêntimos, por pessoa, com isenção a crianças até 12 anos, aos residentes na Freguesia das Furnas e a todos quantos possuam o Cartão Amigo do Parque da Direção Regional do Ambiente. Estão ainda isentos o portador do cozido, os Guias Turísticos, os empresários da restauração e dos táxis e os condutores de autocarros", adianta o município, numa nota.
No que toca aos cozidos, custará "aos particulares três euros por panela e os empresários da restauração pagarão 2,5 euros por panela".»

Li no DN

Nota: Do cozido das Furnas, em S. Miguel, Açores, tenho ouvido  falar há muito. Mais agora, que o meu filho João Paulo exerce por aquelas bandas a profissão de professor, Como não podia deixar de ser, perguntei-lhe há tempos como era o tal cozido, ficando eu com água na boca porque, não sendo um glutão, gosto de saborear iguarias típicas de diversas regiões, nem que seja simplesmente pão. Ora, tendo eu com a minha Lita programado uma visita a S.  Miguel, quando houver bom tempo, fiquei com apetite  pelo tal cozido que antes de ser servido é enterrado, como mostra a imagem, onde deve cozer com calor mas sem lume que se veja.
Ao ler esta notícia não pude deixar de refletir sobre os impostos, que chegam a tudo quanto possa render uns trocos às autarquias. Neste caso, porém, não atingirão os naturais e residentes nas Furnas. Valha-nos isso. 

Sexta-feira, dia 13 de fevereiro


Superstição

1. desvio do sentimento religioso que consiste em atribuir a certas práticas uma espécie de poder mágico, ou pelo menos uma eficácia sem razão
2. crença sem fundamento nos efeitos mágicos de determinado objeto, ação ou ritual, crença irracional, crendice

Dos dicionários

Sobre a superstição, o dicionário é claro. Nada tenho a acrescentar. Apenas quero sublinhar que não sou nem nunca fui supersticioso. Mas conheço gente que o é, apesar de possuir alguma cultura. E quando a sexta-feira calha num dia 13, é certo e sabido que muitos sorriem por achar graça à coincidência, crentes ou não crentes. E como esta há outras superstições que limitam ou podem limitar a liberdade natural das pessoas que acreditam no azar ou na sorte que elas possam suscitar.
Não há gato preto que me assuste, nem uivo de cão que me incomode, nem pio de mocho que me perturbe. Entro em qualquer sítio com o pé que calhar e quando jogava à bola não me benzia ao entrar no campo, como fazem alguns jogadores de futebol ainda hoje. Alguns até tocam com a mão na relva antes de se benzerem atabalhoadamente. Talvez acreditem que, com esse gesto, Deus os poderá ajudar a marcar algum golito. Se o fizesse, o que não creio, seria um pai injusto ao beneficiar uns filhos em desfavor de outros. 
É certo que somos livres de ser ou não ser supersticiosos. Então façam como entenderem, mas não se desviem muito das vossas convicções assim de repente, não vá o diabo tecê-las, logo neste dia.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Não me levem a mal




Vem aí o carnaval de tantas tradições em muitas terras do nosso país e no mundo em geral. Não me levem a mal, mas é festa que nada me diz. Não me perguntem porquê, porque não sei explicar. Sempre fui assim. Contudo, nada tenho contra os que a vivem com intensidade transbordante estes festejos. 
Desde menino que via passar os mascarados a que não achava graça nenhuma. Muitos, a pé ou de bicicleta, mais tarde de motorizada e até de carro, exibiam-se naturalmente e falando com disfarce de voz, levando-nos a tentar descobrir quem eram eles. Ficava-se por aí,  e a caravana, muito diferente do que veio depois, continuava. Não muito grande, é claro. Mais tarde, com o tempo, as coisas refinaram-se. 
Em épocas ainda da minha meninice e juventude, surgiram as cegadas em que o Armando Ferraz foi mestre. Eram grupos maiores que se exibiam em zonas estratégicas da nossa terra e que tinham a sua graça. Tudo passou e presentemente o carnaval movimenta imensa gente, em algumas povoações, com organizações artísticas e reis e rainhas importados, ou escolhidos entre as populações.Gente bonita ou com graça.  Tudo bem. Mas eu, que não vou a esses festejos, só posso desejar que toda a gente seja muito feliz, otimista e galhofeira, com ou sem carnaval.

Postal Ilustrado — Ponte da Barra

Ponte da Barra

Quem de perto ou de longe contempla o Canal de Mira, que se estende desde aquela ridente vila até ao mar, bem perto de Boca da Barra, não pode deixar de fixar a Ponte da Barra que veio substituir, em 1974, a velha ponte de madeira que ligava o lugar do Forte ou Castelo da Gafanha à Praia da Barra.
Inaugurada e aberta em plenitude ao trânsito naquela data, veio facilitar de forma radical a circulação automóvel e pedonal, que se fazia através da Gafanha da Nazaré, de forma caótica em pleno verão. Se ainda hoje, em plena época balnear, as filas em direção às praias ficam bloqueadas, imagine-se como seria na atual Avenida José Estêvão antes da construção da ponte.
Considerada, anteriormente, fundamental para um regular acesso às praias da Barra e Costa Nova, com o consequente desvio do trânsito da Gafanha da Nazaré, a Ponte da Barra foi reconhecida como uma mais-valia, tanto para os moradores e frequentadores daquelas estâncias balneares como para os habitantes da nossa terra e quantos nela trabalham. 
A ponte foi projetada pelo célebre Prof. Edgar Cardoso em 1971, registando-se, contudo, mais tarde, alguns problemas de comportamento no tramo central, o que obrigou a várias inspeções, a última das quais em 2001, como cremos, tendo sido corrigidas as deficiências, o que permitiu garantir melhores níveis de desempenho, segundo lemos num relatório das Estradas de Portugal.
A ponte, com 578 metros de comprimento, embeleza o Canal de Mira e toda a área circundante, despertando legítimo interesse a quem por ela passa ou dela usufrui.
Para além da via destinada a veículos automóveis, a ponte possui ciclovia e passadiços para peões.

Fernando Martins

A Idade não nos Torna mais Sábios

«As pessoas imaginam que precisamos de chegar a velhos para ficarmos sábios, mas, na verdade, à medida que os anos avançam, é difícil mantermo-nos tão sábios como éramos. De facto, o homem torna-se um ser distinto em diferentes etapas da vida.»

Johann Wolfgang von Goethe

Li aqui

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Papa num Bairro de Lata

Papa no Bairro de Lata
«O papa Francisco, que adotou a preocupação com os pobres como pilar central do seu papado, fez no domingo uma visita-surpresa a um bairro de lata próximo de Tiburtina, nos arredores de Roma.
"Quantos de vocês falam espanhol? ", perguntou o papa Francisco. "Todos! Todos!", respondeu a população, na sua maioria natural de países da América Latina, em particular do Peru e do Equador.
A visita do sumo pontífice deu visibilidade às duras condições de vida dos clandestinos em Itália.
O pároco de San Michele Arcângelo, Aristide Sana, assinalou que a visita do papa Francisco deu alento aos cerca de 150 moradores de Ponte Mammolo. O papa rezou o Pai Nosso em castelhano e abençoou ainda os fiéis. Depois, despediu-se com afeto.»

Li no Correio da Manhã;  texto de João Saramago.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

As vantagens de não se julgar infalível (II)

Crónica de Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO de domingo

Bento Domingues


1. Há vantagens em não se julgar infalível. A primeira de todas talvez seja esta: o mundo não começou comigo nem vai acabar quando eu morrer. Os que jogaram ou jogam na ficção da infalibilidade gostariam de parar o tempo que vai medindo todas as mudanças. A verdade, no entanto, nunca é uma posse definitiva, mas um horizonte irrenunciável que exige um trabalho nunca acabado. A busca da “teoria de tudo”, para explicar o universo, pode ser um grande motor de investigação, mas por enquanto ainda vive no campo dos sonhos fecundos.
Há pessoas e instituições que retardam, quanto podem, as mudanças. A chamada cultura tradicional procura assegurar a reprodução do passado no futuro. O método era o da iniciação das crianças nas teias do passado e acrescentar-lhes um feitiço, um tabu, que desgraçaria a vida de quem violasse essa herança. A cultura moderna coloca o acento na inovação do conhecer e do fazer: fazer acontecer o que nunca tinha acontecido e libertar o horizonte de preconceitos.
Se há pessoas e instituições apostadas em retardar as mudanças, existem outras que as aceleram. O dogma da infabilidade papal, no século XIX, pretendia parar o tempo, barrar o caminho a mudanças, sobretudo na Igreja, mesmo fora do âmbito restritíssimo da aplicação desse dogma. O importante era criar, nas pessoas e nos grupos, a ideia sub-reptícia de que tudo o que vinha de Roma trazia o carimbo da infalibilidade. Ressuscitava-se o adágio: Roma falou, assunto encerrado. Roma locuta, causa finita.