NOTA: A estátua do nosso primeiro prior, sobre um pedestal, continua sem as legendas que possuía desde a sua inauguração. Ladrões de metais ofenderam um dos nossos maiores. Digo ofenderam, embora reconheça que essa gente nem sequer sabe o significado de ofender. É claro que as nossas autarqias temem que a reposição das legendas, fundamentais a quem passa, naturais ou passantes, sugira novo roubo. De qualquer forma, penso que haverá maneira de as repor, usando outro tipo de materiais.
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
O dinheiro maganão de João de Deus
Tão bonito, o maganão!
Tem tanta graça, o maldito,
Tem tanto chiste, o ladrão!
O falar, fala de um modo...
Todo ele, aquele todo...
E elas acham-no tão guapo!
Velhinha ou moça que veja,
Por mais esquiva que seja,
Tlim!
Papo.
E a cegueira da justiça
Como ele a tira num ai!
Sem lhe tocar com a pinça;
E só dizer-lhe: «Aí vai...»
Operação melindrosa,
Que não é lá qualquer coisa;
Catarata, tome conta!
Pois não faz mais do que isto,
Diz-me um juiz que o tem visto:
Tlim!
Pronta.
Nessas espécies de exames
Que a gente faz em rapaz,
São milagres aos enxames
O que aquele demo faz!
Sem saber nem patavina
De gramática latina,
Quer-se um rapaz dali fora?
Vai ele com tais falinhas,
Tais gaifonas, tais coisinhas...
Tlim!
Ora...
Aquela fisionomia
É lábia que o demo tem!
Mas numa secretaria
Aí é que é vê-lo bem!
Quando ele de grande gala,
Entra o ministro na sala,
Aproveita a ocasião:
«Conhece este amigo antigo?»
— Oh, meu tão antigo amigo!
(Tlim!)
Pois não!
João de Deus,
in “Campo de Flores”
NOTA: Nicolau Santos publica todas as semanas no caderno Economia do EXPRESSO um poema. A ideia é, na minha ótica, excelente, ou não servisse a poesia para amenizar a aridez da Economia que nos dá cabo da cabeça. Se cultivássemos este gosto, talvez a vida se tornasse mais suave, porque a beleza das artes alegra o mundo.
A avó Europa de Francisco
Crónica de Anselmo Borges
no DN de sábado
A Europa mítica é uma princesa de Tiro. Como que a lembrar que é a Eurásia, a Europa ecuménica, de fronteiras imprecisas. Zeus disfarçado de touro aproximou-se da bela princesa fenícia, deixando que o acariciasse e trepasse para o seu dorso. Entrou então pelo mar, dirigindo Eros o casal para Creta, onde fizeram amor. Foi a esta Europa, ao mesmo tempo divina e terrena, e agora em crise, envelhecida e sem confiança, que o Papa Francisco se dirigiu na semana passada com dois discursos: ao Parlamento Europeu e ao Conselho da Europa. 1. Francisco quis deixar "uma mensagem de esperança e de alento" a uma Europa que, num mundo cada vez mais global, é cada vez menos "eurocêntrica" e dá a impressão de "cansaço e envelhecimento", a ponto de "os grandes ideais que a inspiraram parecerem ter perdido força de atracção".
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
MARIA, A MULHER ÍNTEGRA
Reflexão de Georgino Rocha
Maria, a agraciada do Senhor, em resposta ao convite-apelo dá uma orientação mais profunda à sua vida, ao seu estado de ânimo existencial. A feliz esperança do Messias vai realizar-se de modo admirável. Ela é a contemplada, a eleita entre todas as mulheres, para ser a mãe do Messias esperado. Ela vê confirmada, em si, a expectativa do povo judeu que, ansiosamente, aguardava esse evento. O seu “seja como queres” abre caminho a uma nova e definitiva época da história da salvação. (Lc 1, 26-38). Surge uma nova aurora libertadora em que o SOL da verdade ilumina as buscas da humanidade inquieta e derrete o gelo da indiferença insolidária e mesquinha.
domingo, 7 de dezembro de 2014
O clericalismo é o vazio da profecia
Crónica de Frei Bento Domingues
no Público
Este Papa não é escravo do passado,
não fica cego pela última moda,
nem remete tudo para o futuro
1. Não gosto muito dos livros de homilias. Extinta a luz e o calor da comunicação directa – quando existem – os textos tornam-se mortiços, sem graça. É verdade que aguentei algumas pregações quase ininteligíveis. Eram peças abruptas de teologia literária, em torrentes metafóricas, pouco adequadas às exigências da oralidade, mas que ressuscitavam com uma força enorme quando saboreadas na leitura. Era, aliás, o estilo de Frei José Augusto Mourão, O. P..
Há missas de ritual perfeito que são também um perfeito aborrecimento. Algumas são salvas pela qualidade da música, outras pela acutilância das homilias. Raras são as celebrações que combinam todos os elementos da encenação simbólica da graça, em consonância com a experiência de vida quotidiana de uma assembleia cristã.
Jorge Bergoglio - não o “Santo Padre”, mas o pecador confesso - é um caso raro. Incarna uma novíssima cultura da graça da pregação tocando a sensibilidade, a mente e o coração das pessoas de diferentes povos, continentes e culturas, segundo inumeráveis testemunhos.
Avé-Maria de Fernando Pessoa
AVÉ-MARIA
Avé Maria, tão pura
Virgem nunca maculada
Ouvi a prece tirada
No meu peito da amargura.
Vós que sois cheia de graça
Escutai minha oração,
Conduzi-me pela mão
Por esta vida que passa.
O Senhor, que é vosso Filho,
Que esteja sempre connosco,
Assim como é convosco
Eternamente o seu brilho.
Bendita sois vós, Maria,
Entre as mulheres da Terra
E voss'alma só encerra
Doce imagem d'alegria.
Mais radiante do que a luz
E bendito, oh Santa Mãe
É o fruto que provém
Do vosso ventre, Jesus!
Ditosa Santa Maria,
Vós que sois a Mãe de Deus
E que morais lá nos céus,
Orai por nós cada dia.
Rogai por nós, pecadores,
Ao vosso Filho, Jesus,
Que por nós morreu na cruz
E que sofreu tantas dores.
Rogai, agora, oh Mãe qu’rida
E (quando quiser a sorte)
Na hora da nossa morte
Quando nos fugir a vida.
Avé Maria, tão pura
Virgem nunca maculada,
Ouvi a prece tirada
No meu peito da amargura.
12-4-1902
sábado, 6 de dezembro de 2014
Um visita natalícia
A MELHOR PRENDA DE NATAL
O Albano acordou na segunda-feira com o firme propósito de
resolver de uma vez por todas o problema das prendas de Natal. Todos os anos
sentia o mesmo dilema, sem saber o que oferecer na noite de consoada aos seus
familiares. A esposa, essa sim, tinha jeito para tais coisas. Sempre estava
mais disponível e não tinha preocupações que a incomodassem. O Albano era
diferente. A empresa ocupava-o todos os momentos de todos os dias, ou não o
obrigassem a isso a crise económica que domina o país e alguns conflitos com um
ou outro trabalhador, que há sempre quem esteja insatisfeito com o ordenado que
recebe, como ele tantas vezes dizia. Por isso, escasseava-lhe o tempo para
pensar em prendas. Mas o Natal ainda o motivava para se mostrar generoso com
quem mais o ajudava nos negócios e com os familiares mais próximos. Restos de
uma educação cristã que havia recebido em criança e do ambiente solidário que a
época natalícia propicia.
As prendas dos mais diretos colaboradores eram fáceis de
encontrar. Mais uns dinheiros, para além do subsídio do Natal e do habitual
salário mensal, e não era nada mau.
Adversidade e prosperidade
"A adversidade restitui aos homens
todas as virtudes que a prosperidade lhes tira"
Eugéne Delacroix
(1798 - 1863)
A avó Europa de Francisco
Crónica de Anselmo Borges
no DN
A Europa mítica é uma princesa de Tiro. Como que a lembrar que é a Eurásia, a Europa ecuménica, de fronteiras imprecisas. Zeus disfarçado de touro aproximou-se da bela princesa fenícia, deixando que o acariciasse e trepasse para o seu dorso. Entrou então pelo mar, dirigindo Eros o casal para Creta, onde fizeram amor. Foi a esta Europa, ao mesmo tempo divina e terrena, e agora em crise, envelhecida e sem confiança, que o Papa Francisco se dirigiu na semana passada com dois discursos: ao Parlamento Europeu e ao Conselho da Europa.
1. Francisco quis deixar "uma mensagem de esperança e de alento" a uma Europa que, num mundo cada vez mais global, é cada vez menos "eurocêntrica" e dá a impressão de "cansaço e envelhecimento", a ponto de "os grandes ideais que a inspiraram parecerem ter perdido força de atracção".
NOTA: Para ler na íntegra na segunda-feira
Espera Vigilante e Activa
Uma reflexão de Georgino Rocha
Georgino Rocha |
João, homem íntegro e consistente, anuncia uma mensagem libertadora: Vai chegar quem é mais forte do que eu. (Mc, 1, 1-8). Mais forte no testemunho do amor e do serviço; na denúncia da riqueza que “amarra” o coração e a disponibilidade; na defesa da vida e dos seus direitos e deveres humanizados; na frontalidade serena com que se opõe aos exploradores dos humildes e simples do povo; na entrega, sem reservas, à missão que o Pai lhe confia.
Mais forte do que eu pelo Espírito que transforma e anima, que lembra as maravilhas do passado e ajuda a “tirar” lições do presente, que abre as “portas” do futuro para onde todos peregrinamos. A boa nova é Jesus, o Filho de Deus que se faz humano para nos ensinar a viver e apreciar a nossa comum humanidade e nos desvendar a sua fonte inesgotável: o amor de Deus Pai, fundamento da nossa confiança filial.
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