domingo, 9 de março de 2014

O SER HUMANO TEM CURA (2)

Crónica de Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO de hoje

Frei Bento Domingues


1. Dizem-me que a verdadeira cura do ser humano seria a sua substituição pelo pós-humano, realidade sem memória nem futuro, sem infância nem velhice, liberto da doença e da morte, despido de qualquer interrogação metafísica ou preocupação ética. Ao que parece, existem ciências e técnicas disponíveis para uma “saída limpa” da nossa humanidade cansada e, mesmo assim, irritantemente belicosa.

Como já sou velho, tenho dificuldade em me adaptar à ideia e não alinho em soluções de desespero. Prefiro recorrer a um aforismo de Heráclito: sem esperança, não encontrarás o inesperado. S. Paulo também não prometeu muito mais. Na célebre Epístola aos Romanos (cap.8), depois de muita ginástica mística e antropológica, observa com modéstia: vivemos suspirando e gemendo pela redenção do nosso corpo, num mundo em dores de parto, pois só estamos “salvos em esperança e ver o que se espera não é esperar. Acaso alguém espera o que vê? Se esperamos o que não vemos, é na perseverança que o aguardamos”.

sábado, 8 de março de 2014

Uma viagem no tempo com o Foral de Ílhavo

Foral de Ílhavo

O Foral de Ílhavo, outorgado por D. Manuel I, o rei venturoso, em 8 de março de 1514, à vila de Ílhavo, fez hoje 500 anos. Mas o documento, cujo original pudemos apreciar na exposição que integra as comemorações, só chegou a Ílhavo dois anos depois, decerto por dificuldades próprias da época, inerentes às deslocações, mas também ao afastamento entre o poder central e o poder local. Ontem como hoje, afinal.
Na cerimónia de abertura das comemorações, no Centro Cultural de Ílhavo, o presidente da autarquia ilhavense, Fernando Caçoilo, afirmou que os forais manuelinos representam um marco histórico para as povoações, pois estão na base da reorganização administrativa de Portugal. Serviram de estímulo ao desenvolvimento económico, enquanto ofereceram uma certa autonomia às vilas. 

Lançamento do selo comemorativo

Sendo certo que a importância da vila de Ílhavo já havia sido reconhecida por D. Dinis, é oportuno frisar que a reorganização administrativa de Portugal, levada a cabo por D. Manuel I, na época áurea dos descobrimentos, veio mostrar o progresso em crescendo da nossa terra, disse o autarca. 
Fernando Caçoilo lembrou que «somos hoje um município desenvolvido», fruto do trabalho de toda a comunidade, nomeadamente, «das empresas, instituições e pessoas». Contudo, adiantou que importa valorizar os talentos, apostar na formação e na cultura a todos os níveis, tendo em conta as nossas tradições. E referiu a mais-valia que significa para Ílhavo o contributo dos nossos símbolos, bem representados «no Museu Marítimo e no Navio-museu Santo André», sinais concretos da nossa identidade, que tem o «Mar por Tradição».
O autarca concluiu afirmando que Ílhavo depende da vontade de todos os munícipes aqui radicados, mas também realçou o precioso contributo  dos ílhavos na diáspora. 

A alcoviteira
A lição de história, que nos trouxe certezas do nosso passado e dúvidas que exigem estudo, veio do docente universitário e especialista em História Medieval, Saul Gomes, que elaborou a introdução histórica, transcrição paleográfica e revisão científica da edição do Foral Manuelino, editado pela Câmara de Ílhavo em 2009. E a lição conduziu os presentes numa viagem através do último milénio, frisando que a «história está espelhada no espaço em que vivemos».
Paira no horizonte a necessidade de descobrirmos se os fenícios e romanos, ou outros povos, por aqui andaram nos princípios de Ílhavo, de onde nasceu este vocábulo que deu nome à terra e suas gentes; porém, deixou-nos como certeza que a organização urbanística tem razões históricas, tal como a toponímia, patente em lugares e templos. Do brasão, sublinhou que as três vieiras significam terra de passagem e hospitalidade, nas rotas dos que peregrinavam a São Tiago, e que as ermidas são sinal de terra despovoada.

Na feira
Os forais, documentos passados pelo Rei ou Senhor a uma terra e que estiveram na base da criação dos municípios, permitem-nos conhecer a demografia dos povoados, as atividades económicas exercidas, em especial o comércio praticado, a agricultura e pescas, a alimentação e os impostos a pagar. 
Saul Gomes mostrou quanto a igreja de São Salvador traduz o crescimento da vila de Ílhavo nos séculos XVII e XVIII, enquanto adiantou que Ílhavo, no espaço marítimo, nos mostra o Portugal ligado ao mar. 
A jornada comemorativa dos 500 anos do Foral de Ílhavo saiu enriquecida com a exposição aberta no Centro Cultural (patente ao público até 9 de junho) e com a encenação da Outorga do Foral pelo rei. No átrio, o século XVI passou por Ílhavo, com a alcoviteira, o arauto, os músicos, as feiras,  os trovadores, as bruxas, a inquisição e a pobreza. E ficou no ar a ideia de que a semelhança com a atualidade é pura realidade. 

Fernando Martins

FRANCISCO SOBRE TEMAS EM DISCUSSÃO

Crónica de Anselmo Borges 
no DN de hoje

Anselmo Borges


Já sabíamos, mas agora é o próprio Francisco, entrevistado pelo Corriere della Sera, a dizê-lo: "Gosto de estar com as pessoas, com os que sofrem. O Papa é um homem que ri, chora, dorme tranquilo e tem amigos como toda a gente. É uma pessoa normal." Por isso, não gosta que façam dele um mito, e cita Freud: "Em toda a idealização há uma agressão.

"Não decide sem ouvir o conselho de muitos, e ouve mesmo, não finge. Mas, claro, "quando se trata de decidir, de assinar, fica só com o seu sentido de responsabilidade". Na entrevista, enfrenta os temas mais delicados. Com uma liberdade e clareza desarmantes. Assim: "Nunca entendi a expressão "valores não negociáveis". Os valores são valores e pronto.

" Sobre a pedofilia: "Os casos de abusos são terríveis, porque deixam feridas profundíssimas. Bento XVI foi muito corajoso e abriu o caminho. E, seguindo esse caminho, a Igreja avançou muito. Talvez mais do que ninguém. As estatísticas sobre o fenómeno da violência contra as crianças são impressionantes, mas mostram também com clareza que a grande maioria dos abusos provém do ambiente familiar e das pessoas próximas. A Igreja Católica é talvez a única instituição pública que se moveu com transparência e responsabilidade. Ninguém mais fez tanto. E, no entanto, a Igreja é a única a ser atacada.

LIBERTA-TE E VEM COMIGO

Uma reflexão de Georgino Rocha
para esta semana

Georgino Rocha

Jesus dá o exemplo e faz o apelo. Após o baptismo vê confirmada a sua dignidade de Filho de Deus que vê questionada ainda antes de iniciar a missão pública. Mateus – o narrador do episódio – elabora um diálogo provocador entre dois contendores: O tentador com as suas propostas sedutoras e Jesus com as suas respostas contundentes. Umas e outras afectam o núcleo mais consistente do ser humano e constituem o espelho mais polido da ”trama/drama” da nossa existência. Dão por suposto o reconhecimento da realidade assumida – a novidade da missão de Jesus – e procuram fazer a sua interpretação, descobrindo e reencaminhando o sentido original.

Dia Internacional da Mulher - 8 de março

Crónica de Maria Donzília Almeida

Maria Donzília Almeida



É do conhecimento geral, que muitas das grandes convulsões sociais têm o seu embrião nos Estados Unidos da América. Aí germinam, crescem e explodem.
Assim, a comemoração da data de hoje teve também origem nesse país. Em 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas, para 10 horas, por dia. Estas mulheres que recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, tendo sucumbido 130. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido comemorar o 8 de março como "Dia Internacional da Mulher" em homenagem àquelas lutadoras. Desde então, o movimento a favor da emancipação da mulher tem subido de nível, chegando até a alguns exageros, como se constata nos movimentos feministas, um pouco por todo o mundo. 

quinta-feira, 6 de março de 2014

500 Anos do Foral Manuelino de Ílhavo


O Município de Ílhavo celebra em 2014 os 500 anos da Outorga do Foral Manuelino de Ílhavo, concedido a 8 de março de 1514 pelo Rei D. Manuel I.
Para assinalar tão importante data, a Câmara Municipal de Ílhavo vai realizar no próximo dia 8 de março, sábado, pelas 15h30, no Centro Cultural de Ílhavo, a Abertura das Comemorações dos 500 Anos da Outorga do Foral.

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quarta-feira, 5 de março de 2014

O CÍCLAME JÁ FLORIU


Todos os anos, com a aproximação da primavera, o cíclame voltou a florir na pequena escadaria que dá acesso à minha casa. Passou o inverno, excessivamente agreste, a dormitar, para agora nos mostrar que, afinal, conseguiu resistir entre pedras e cimento, como símbolo da vida que quer perpetuar-se aos nossos olhos e no sítio em que passamos diariamente. Que seja bem-vindo para nosso regalo!

Mensagem para a Quaresma de D. António Francisco



«Escuta | Liberta-te | Transforma-te | Orienta-te | Renova-te | Manifesta-te | Vive, são desafios que a caminhada de Quaresma nos apresenta e compromissos a que a Quaresma nos convoca.
São apelos de renovação espiritual ao alcance de todos: sacerdotes, diáconos, consagrados e leigos.
São imperativos de conversão, que queremos assumir como pessoas e como comunidades, e caminhos de transformação humana e social, que vamos percorrer, para que o mundo sinta a ternura do amor de Deus e a força da esperança para vencer a “miséria material, moral e espiritual” (Papa Francisco, MQ 2014).
Coloco esta mensagem no coração de todos os diocesanos, crianças, jovens, famílias, doentes, idosos e emigrantes, para que em todos se retome e reavive a bela experiência jubilar, que nos leva, em cada momento da nossa vivência eclesial, ao encontro de quantos habitam esta nossa casa, que é a diocese de Aveiro.»

Ler toda a mensagem aqui

terça-feira, 4 de março de 2014

As mães solteiras do Papa

Crónica de Henrique Raposo 


«Este Papa não é um panzer intelectual, não tem a profundidade teológica de Ratzinger, nunca terá dez lombadas na estante cá de casa. Mas o argentino sorridente tem outra qualidade. É um almocreve que anda na realidade, é um sujeito carnal que anda cá em baixo junto da carne pecadora. Eu gosto disso. Andar à beirinha do pecador devia ser o pão com manteiga do catolicismo, mas não é. Há demasiada gente a fugir da imperfeição quando o caminho certo é o inverso, sim, o caminho católico é feito na direcção daqueles que estão à margem, daqueles que não tiveram a chance de serem perfeitinhos. O caminho não passa por ficar sentado numa virtude fechada, na posse só de alguns, uma virtude que se alimenta do ódio em relação ao exterior, uma raiva contra certas tribos de pecadores.» 

É necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha




Fez-Se pobre, 
para nos enriquecer com a sua pobreza


«À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. A miséria material é a que habitualmente designamos por pobreza e atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. O nosso compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha.»

Da Mensagem do Papa Francisco para a quaresma