terça-feira, 7 de setembro de 2010

Os nossos artistas: Cândido Teles


«Se passa, desacanhadamente, da "Escolha de peixe" no sul da Costa Nova para o "Mercado de Cabinda"; se transfere as tintas do glauco da Ria para os amarelos gritantes da seara madura;  se da peixeira esbelta resvala para a ceifeira maciça e do pescador ágil e bailarino para o pastor imóvel na paisagem pasmada, isso não lhe obnubila a fidelidade à ambiência onde, pela primeira vez, experimentou os pincéis e a que está ligado por uma afectividade toda tocada de ternura.»

Frederico de Moura

In "Homenagem do Município de Ílhavo – C. Teles – Desenhos"

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

D. Manuel Clemente em entrevista ao PÚBLICO

O PÚBLICO inseriu hoje nas suas páginas uma extensa entrevista com D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, que transcrevo para o meu blogue, atendendo à importância e à oportunidade das suas reflexões. Na íntegra, para quem gostar e tiver tempo.

Um trabalho de Teresa de Sousa.





Há povos-cais, onde se chega e de onde se parte. 
Julgo que é essa a nossa condição

O seu olhar sobre o mundo e sobre o país transmite o tempo de uma instituição milenária. Não se angustia com a pressa do tempo presente. Atravessa os séculos como se tivessem sido ontem. Mesmo que sem ilusões. D. Manuel Clemente, 62 anos, bispo do Porto desde 2007, remete tudo à pessoa e às pessoas. O confronto mundial entre culturas diferentes ou o imperioso reconhecimento que temos de fazer de nós próprios, enquanto portugueses. Como sair deste "tempo de escombros"? A resposta está na última encíclica de Bento XVI. "Com uma nova síntese humanista."


"Tempo de escombros", palavras muito fortes com que se refere aos tempos actuais no diálogo epistolar com José Manuel Fernandes que foi agora editado. Vivemos uma tripla crise: a nossa, a europeia, que é como se fosse nossa, e a crise mundial ou, se quiser, do lugar do Ocidente no mundo. São estes os tempos de escombros a que se referia?

Era a esses escombros, sim. Aquilo a que também se refere a expressão "pós-modernidade". Como sabe, desde o pós-guerra que aquelas certezas muito sólidas, aquelas ideologias duras e aqueles desígnios colectivos que nos embalavam até aí começaram a fragmentar-se. E é nesse sentido que apareceu, nessa conversa, a palavra "escombros". É o que resta de uma casa que, de repente, ruiu. E esses escombros não são apenas arquitectónicos, são também mentais e culturais. É muito difícil hoje vivermos num universo verdadeiramente conjunto e conjugado. Cada um faz, mais ou menos, o seu universo. E, neste ambiente - nesta atmosfera, como dizem os homens da pós-modernidade -, é muito difícil estabelecermos um diálogo aceite e perspectivado para alguns objectivos pré-definidos.
Desaparecem as certezas e as referências, as fronteiras deixam de existir, a globalização une e divide ao mesmo tempo. São perigosos estes momentos?

São, mas são também inevitáveis porque a humanidade é isso, é evolução. Em primeiro lugar, nunca se acrescentou tanta novidade, quer técnica quer também cultural, como nas últimas décadas. Nós, hoje, com este acesso imediato à informação e ao que é novo, aprendemos numa década - ou, pelo menos, apreendemos, quando não as sofremos - mudanças que três ou quatro gerações atrás eram de uma vida inteira, se fossem.

MUSEU MARÍTIMO DE ÍLHAVO: Nos Porões da Memória – 4

Até 10 de Outubro de 2010





Em Agosto de 1957, o Anton Dohrn, um sofisticado navio de pesquisa de pescas da República Federal Alemã, deparou-se com alguns bacalhoeiros portugueses nas águas do Atlântico Noroeste. Devidamente autorizados, dois cientistas alemães foram a bordo do lugre Adélia Maria a fim de observar e registar os processos de pesca do bacalhau usados pelos portugueses e outros aspectos do trabalho a bordo, do convés ao porão. As fotografias de Bodo Ulrich, algumas delas tiradas do topo dos mastros, pouco informam sobre a agenda científica dos alemães. A julgar pela estética e pelo modo serial como as imagens registam o trabalho humano dos míticos pescadores lusos, o álbum que chegou até nós mais se parece a um documentário etnográfico sobre processos de pesca visivelmente artesanais, obsoletos e insólitos, ainda assim muito belos dado o arcaísmo dos navios e dos próprios homens. O relato em imagens do encontro do Anton Dohrn com o Adélia Maria permite questionar o sentido eminentemente “nacional” da memória da pesca do bacalhau por homens e navios portugueses, intenção que orienta o projecto expositivo Nos Porões da Memória, que agora conhece a sua quarta série. Nos anos cinquenta, os bacalhoeiros portugueses já se tinham tornado uma lenda internacional, que interessava muitos olhares estrangeiros. Mesmo o dos cientistas de países que tinham recursos financeiros e visão política para apoiar a indústria da pesca através da investigação experimental de técnicas que permitissem conjugar o alto rendimento das empresas com a sustentabilidade de exploração dos recursos. Construído em Cuxhaven em 1957, localidade do norte da Alemanha para onde haviam de emigrar muitos ilhavenses, a missão específica e “aplicada” do Anton Dohrn acabou por nos legar uma memória surpreendente da “grande pesca nacional”. Aparentemente ingénuo e parecido com tantos outros álbuns fotográficos de lugres portugueses, o trabalho que aqui se expõe antecipa o grande diálogo que hoje se pede à indústria de pescas: a coabitação de pescadores, armadores e cientistas num único sistema tecnológico de exploração económica dos recursos do mar.

Álvaro Garrido


Ainda a Justiça em Portugal...

«Não são revisões parcelares das leis penais que resolvem esta dor de cabeça. Não são as entrevistas do PGR. Não são os desaguisados permanentes onde cada agente judiciário reclama esta ou aquela necessidade. (...) Só quando chegar esse momento de humildade democrática para o reconhecimento dos erros podemos recomeçar com a pergunta fundamental: como é que este país tem uma justiça rápida, eficaz e exemplar?»

Francisco Moita Flores, "Correio da Manhã", 05-09-2010

domingo, 5 de setembro de 2010

Efeméride: Tratado de Tordesilhas foi ratificado neste dia

5 de Setembro

Um país e nação tem efemérides sem conta. Estamos atentos às mais recentes e começamos a esquecer as restantes. Hoje, 5 de Setembro, Portugal ratificou o Tratado de Tordesilhas que havia assinado com o país irmão e parceiro da Ibéria. Na altura, em 7 de Junho de 1494, o Mundo, descoberto ou a descobrir, seria repartido entre os reinos de Portugal e de Espanha. Na época éramos mesmo importantes e até parece que  mandávamos no planeta Terra. Os tempos passaram e presentemente somos o que somos: reis e rainhas de nós próprios. Quanto baste.
Os espanhóis, mais apressados, sabe-se lá porquê, ratificaram-no a 2 de Julho e os portugueses, mais atrasados, como de costume, esperaram até 5 de Setembro do mesmo ano.
Aqui fica a lembrança.

Tratado de Tordesilhas

No Público de hoje: crónica de Bento Domingues




Em memória de Frei João Domingos

Por Frei Bento Domingues




A sua vida passou por várias conversões. A morte levou-o quando já tinha dado tudo a Deus e ao povo angolano



Este nome é, hoje, praticamente ignorado em Portugal, tratando-se, no entanto, de uma figura incontornável da boa presença portuguesa em Angola onde, desde 1982, viveu e realizou uma obra notável. Angola, em plena guerra civil, foi para ele uma opção definitiva.
Nasceu, em 1933, na aldeia da Torre (Sabugal) e morreu, em Lisboa, a 9 de Agosto de 2010, onde se encontrava para ser operado. Entrou para a Ordem dos Pregadores em 1952. Estudou Filosofia no Centro de Estudos Sedes Sapientiae, em Fátima, Teologia em Otava e Estrasburgo.
Foi director da Escola Apostólica em Aldeia Nova. Como prior do Convento Dominicano, participou activamente na criação do Centro de Estudos de Fátima (CEF), cuja sede e salas de aula estavam situadas nesse mesmo convento. Em 1975, a partir da Comunidade João XXIII (Lisboa), desenvolveu um incansável trabalho de orientação de numerosas congregações religiosas, nomeadamente, no apoio ao movimento das "pequenas comunidades" que irrompeu em Portugal, por diversas circunstâncias, depois do 25 de Abril de 1974.

Minha aldeia é todo o mundo


A minha aldeia



Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.


Bate o sol na minha aldeia
com várias inclinações.
Ângulo novo, nova ideia;
outros graus, outras razões.
Que os homens da minha aldeia
são centenas de milhões.


Os homens da minha aldeia
divergem por natureza.
O mesmo sonho os separa,
a mesma fria certeza
os afasta e desampara,
rumorejante seara
onde se odeia em beleza.


Os homens da minha aldeia
formigam raivosamente
com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
cada qual é seu irmão.
Valência de fora e dentro
ligam tudo ao mesmo centro
numa inquebrável cadeia.
Longas raízes que imergem,
todos os homens convergem
no centro da minha aldeia.


António Gedeão

Candidatos à Presidência da República

Começam a perfilar-se os candidatos à Presidência da República, o mais alto cargo da nação. A dignidade do cargo devia levar os candidatos a agir nessa perspectiva. Penso que os anunciados candidatos saberão dar aos portugueses o exemplo da serenidade e do respeito pelos adversários, privilegiando uma postura de apresentação dos seus ideais e falando claro das suas ideias. E por favor não comecem já com ataques pessoais. Fica mal em pessoas que desejam ser o Presidente de todos os portugueses.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 200

PELO QUINTAL ALÉM – 37


 
A FIGUEIRA

A
Professor Manuel Joaquim Ribau e
Manuel de Mira e Maria Merendeiro
Caríssima/o:

a. Estender a mão e saborear um figo é um dos prazeres inesquecíveis que o quintal nos oferece. Às vezes a dificuldade está na escolha: pingo de mel, bacorinho, bachachote, roxo,...?
Havia uma recomendação: “Escolhe o mais cerinha!...” Ou seja, o figo quere-se bem madurinho... e comido debaixo da figueira!

e. Nos idos de quarenta e cinquenta do século passado, houve três figueiras que me foram bem queridas:
– a primeira, plantada por meu Pai, não via os figos maduros que a canalha da casa não deixava: figo inchado, logo comido com o leite a escorrer e... lábios rebentados!;

– a segunda, junto à Escola da Ti Zefa, do outro lado da estrada, num recanto que diziam ser do Ti Manuel de Mira; o filme era parecido: tantos pretendentes de bocas famintas como de alunos da 4.ª classe, nos preparativos para o exame... e está-se mesmo a ver: figo inchado... a mesma história, mas com mais risota!;

– a outra, em casa do Ti Manuel Elviro, debaixo da qual o filho Manuel se “entretinha” a estudar para os exames na universidade! Também tinha figos que alguns lá comi, por sinal, maduros!

i. É importante consumir o figo com a sua pele - pois ela é rica em fibras, proteínas, sais minerais, goma e mucilagem - tendo o cuidado de lavá-lo bem.
Além de nos deliciarmos consumindo-o ao natural, pode-se também fazê-lo na forma de passas secas, em calda ou em xarope.
O conteúdo do látex do figo é maior na fruta verde e serve para coalhar o leite, sendo de 30 a 100 vezes mais potente que o coalheiro preparado do fato dos animais ruminantes.

sábado, 4 de setembro de 2010

Placa do Centenário da Paróquia


No passado 31 de Agosto, dia da trasladação dos restos mortais do Prior Sardo para o Jazigo da Paróquia, foi também descerrada uma placa alusiva à celebração do centenário da paróquia, estando presentes, para além do nosso prior, as autoridades autárquicas e o nosso Bispo.


Na hora precisa, o Padre Francisco Melo, o Presidente da Câmara, Ribau Esteves, o nosso Bispo, D. António Francisco,  e o presidente da Junta, Manuel Serra, descerraram a placa alusiva à efeméride, na parte lateral da igreja matriz.