segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Casa-Museu Afonso Lopes Vieira

Passar por São Pedro do Moel e não visitar a Casa-Museu Afonso Lopes Vieira é como ir a Roma e não ver o Papa. Afonso Lopes Vieira (1878-1946) foi um escritor multifacetado, onde sempre sobressaía o poeta e o homem de cultura. 
A poesia, a prosa, a literatura infantil, as adaptações, o cinema e o ensaio encheram a sua vida. Mas no fim, ainda houve lugar para o homem solidário, tendo doado a sua casa, em São Pedro do Moel, para ali funcionar uma colónia de férias para filhos dos trabalhadores vidreiros e florestais. Ainda hoje funciona. 
Não tendo sido, na sua juventude, um crente, pelo casamento tornou-se um homem de fé. Curiosamente, a ele se devem os versos que são uma indiscutível marca das aparições de Fátima, o célebre Ave de Fátima, com a assinatura de um servita. 
A Casa-Museu, antiga residência de férias, e não só, do poeta, merece uma visita. O visitante pode, se quiser, sentir ao vivo a ambiência que Afonso Lopes Vieira usufruiu, com o bater das ondas na sala de estar banhada de sol, que o artista fixou em fotografias. 
A luz é presença permanente na sua alma e nos seus registos. Cultor do espírito franciscano, manifestado numa vida austera e numa preocupação pelos mais sofredores, a sua obra é reflexo de grande humanismo e da sua ternura para com as crianças.

FM

Poema de Afonso Lopes Vieira,

Onde a terra se acaba e o mar começa
é Portugal;
simples pretexto para o litoral,
verde nau qu'ao mar largo se arremessa.

Onde a terra se acaba e o mar começa
a Estremadura está,
com o Verde Pino que em glória floreça,
mosteiros, castelos, tanta pátria ali há!

Onde a terra se acaba e o mar começa
há uma casa onde amei, sonhei, sofri;
encheu-se-me de brancas a cabeça
e, debruçado para o mar, envelheci...

Onde a terra se acaba e o mar começa
é a bruma, a ilha qu'o Desejo tem;
e ouço nos búzios, té que o som esmoreça,
novas da minha pátria - além, além!...


Afonso Lopes Vieira, 

Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa, 

Bertrand, 1940

O odiado Pinho estava no bom caminho

Martim Avillez Figueiredo, director do i, usa o seu editorial para, de forma simples e directa, traçar linhas esclarecedoras da nossa realidade política, social e económica.
Hoje afirmou que “A Inglaterra corre o risco de ficar sem electricidade já em 2012. Isso: sem electricidade. Um dos países mais poderosos do planeta está em vias de se apagar porque não consegue produzir energia suficiente para as suas necessidades”. E depois explica porquê. E adianta: “O odiado Manuel Pinho, com que todos embirravam pelas suas curiosas aparições públicas, (…) montou um plano de investimento em energias renováveis – vento e água, sobretudo – que chamou até a atenção do prémio Pollitzer”. O editorial merece ser lido Esta minha chamada de atenção serve para dizer que muitas vezes somos levados a ficar com ideias erradas de certos políticos, e não só, por força de tiradas jornalísticas e de ataques políticos, com o único intuito de dizer mal, para destruir. Afinal, o ministro que foi despedido pelo Governo estava no bom caminho. FM

Fotografia de Carlos Duarte na Costa Nova

Aspecto da exposição
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Carlos Duarte tem sabido
partilhar o que vê e sente
,
Com mais de 40 anos dedicados à fotografia, como amador de qualidade indesmentível, Carlos Duarte tem sido presença assídua na comunicação social, cumprindo, com oportunidade, um bom trabalho de repórter fotográfico. Cruzei-me com ele várias vezes no serviço de reportagem e conheço, por experiência própria, a importância do seu contributo na divulgação de acontecimentos e pessoas marcantes da nossa região. Quando completou quatro décadas de profícuo trabalho, veio a público um livro com alguns registos por ele captados, onde mostrou uma sensibilidade muito própria, com sinais claros da sua paixão pela ria, com mar à vista. Com as suas fotografias, desde a era analógica até à digital, que hoje domina quase em absoluto a arte fotográfica, Carlos Duarte tem sabido partilhar, com o público da região, o que vê e sente, através de exposições individuais, mostrando à saciedade quanto rejubila com máquina na mão e olhos atentos. Mais alma que põe em tudo quanto aprecia e o seduz. Nesta exposição, patente na Residencial Azevedo, a quarta da sua carreira, Carlos Duarte teve a oportunidade de chamar a minha atenção para algumas fotografias, só possíveis de captar quando deambula de bicicleta e atravessa a ponte que nos liga às Praias da Barra e da Costa Nova. Quem anda apressado, normalmente, não tem tempo para ver a paisagem que o circunda. Lá estive no dia da abertura da exposição e tenciono voltar para, com mais calma, apreciar, fotografia a fotografia, mais pormenores de cada uma, a beleza do seu trabalho, sem arranjos que alteram, por vezes, o que a natureza assume como coisa sua. Ria e mar, barcos e moliço, redes e vieiras, velas e proas, ondas com reflexos e nuvens espelhadas na laguna, de tudo um pouco ali está. Os preços são acessíveis. FM

domingo, 9 de agosto de 2009

Passeios de Férias: São Pedro de Moel

Afonso Lopes Vieira
:
Visita para repetir? Claro!
Quando, há anos, visitei São Pedro de Moel, fiquei com a ideia de que se tratava de uma terra arejada, encravada entre o Pinhal de Leiria e o Mar, onde veraneia gente de haveres. Vivendas recentes que casam bem com moradias de traça antiga mostram que houve cuidado com a urbanização e com o asseio. Bom sítio para umas boas férias à beira-mar, com ladeiras a exigirem boas pernas para subir e descer. Durante esta visita, confirmei que se tem mantido o rigor na manutenção da povoação, imposto desde há muito. Hotéis e residenciais, restaurantes e pensões, estabelecimentos preparados para atender os residentes e visitantes, tudo serve para garantir uma ambiência que pode ser desfrutada por muita gente, principalmente no Verão, época de maior afluência.
Na praça, qual varanda virada para a praia, pontifica o busto da figura maior desta terra – Afonso Lopes Vieira – que o soube respeitar, tanto quanto o poeta a soube amar. Mas dele, da sua obra e do seu museu, falarei, com mais pormenor, num próximo registo. Se o não fizesse, seria crime de lesa-poesia e de lesa-solidariedade.
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Nessa varanda, com tendas de artesanato variado, mais doces regionais, como penso, até nem faltou a propaganda política, da CDU, com o ainda bem conhecido homem da Rádio, Cândido Mota, a debitar os slogans do partido que mais lutas políticas apoiou ou promoveu na Marinha Grande, sede do concelho a que pertence São Pedro do Moel e centro vidreiro de renome internacional, embora, segundo penso, a entrar em decadência nos últimos anos. Não sei se agora estará em recuperação… Deus queira que sim. A marca do poeta está em cada canto. No restaurante Brisamar, premiado pela gastronomia, higiene alimentar e profissionalismo, onde degustei uma bem composta cataplana, acompanhada por um branco do Ribatejo, de nome e preço a condizer com o repasto, apreciei uma quadra de Afonso Lopes Vieira, que ali está há 45 anos, como me informaram. Mais ainda: um quadro, em jeito de tríptico, de Carlos Reys, e uma vitrina de peças de vidro dignas de museu. Visita para repetir? Claro! FM

Raul Solnado

Na galeria dos inesquecíveis A meio da manhã, ligou-me o António Macedo, da Antena 1, com a voz tensa e a notícia de um rumor: constava que tinha morrido o Raul Solnado. Perturbado e um tanto incrédulo, dado que os nossos últimos encontros não pressagiavam tão brutal novidade, procurei informações junto de um amigo comum que o acompanhava sempre: o Manolo Bello. Era verdade. Duas horas antes destas amargas conversas, perdêramos do nosso convívio um homem raro, alguém que não fazia apenas parte de um círculo de amigos mas da existência dos portugueses todos. E nessa manhã negra de ontem, em homenagem à memória do Raul, tomei dois whiskies como tantas vezes fizemos juntos. E entristeci. Mário Zambujal, no PÚBLICO de hoje, Caderno Principal, 3.ª página

Um bocadinho de Jacinto Lucas Pires

Jacinto Lucas Pires
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Era uma vez um menino ou uma menina, quem lê é que escolhe, que ia por uma floresta ou uma rua ou um deserto com céus mais que gigantes. Era noite fria lá nesse lugar. Uma noite fria e bonita mas também meio triste, porque tudo é triste se estamos tristes, e as coisas bonitas então são as mais tristes, e o menino ou menina não estava contente. Ia sozinho ou sozinha sem companhia ou coragem para ir assim por ali, na floresta ou na rua ou no deserto dos céus. A noite caindo, um silêncio bem mau, e ele ou ela a tremer. O menino ou menina é mesmo igual a nós. Estrangeiro ou estrangeira, pequeno ou pequena, muito fraco ou fraca e sem nada saber. Vai agora na estrada toda feita de escuro ou chuva ou vento ou talvez tempestades. Ao longe, uma luz. E o menino ou menina sofre um medo terrível. E de repente essa luz afinal é uma casa e de repente essa casa afinal é a nossa e de repente o medo é afinal alegria. Uma alegria-alegria ou qual outra palavra? Quem lê é que escolhe, quem lê é que escolhe.

sábado, 8 de agosto de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 143

BACALHAU EM DATAS - 33
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Santa Joana

O SANTA JOANA

Caríssimo/a:
1935 - «...[P]erante a incapacidade dos estaleiros navais portugueses em satisfazer as necessidades da frota, apesar da necessária autorização prévia do Ministro da Marinha, os armadores portugueses recorreram à aquisição de unidades usadas no estrangeiro, onde os preços de navios usados oscilavam entre os 150.000$00 e os 200.000$00. Aquisição do lugre em ferro JOSÉ ALBERTO, para a praça da Figueira da Foz e dos lugres em madeira SANTA QUITÉRIA, para a praça do Porto, e LABRADOR, para a praça de Lisboa. Ainda no mesmo ano e para a praça de Aveiro, foi comprado em França o lugre NORMANDIE e na Irlanda o lugre SENHORA DA SAÚDE.» Oc45,109
«O JOSÉ ALBERTO, adquirido na Dinamarca pela Sociedade de Pesca Oceano, L.da, em 1935, se[rá] o primeiro lugre-motor de pesca à linha, totalmente feito em ferro, a ser integrado na frota de pesca do bacalhau.» Oc45, 111
«17 de Fevereiro - Entrou na barra da Figueira o lugre com motor de 4 mastros JOSÉ ALBERTO, construído em chapa de aço em 1923, na Dinamarca. Propriedade da Sociedade de Pesca Oceano, o lugre foi considerado "o maior e mais elegante navio da frota bacalhoeira portuguesa". A maioria das casas comerciais da zona ribeirinha fecharam, para que o seu pessoal pudesse observar este momento histórico.»
«Neste ano a frota bacalhoeira portuguesa era composta por 46 navios, sendo 11 da Figueira da Foz.»
1936 - «O segundo marco de inovação [das características técnicas introduzidas nos navios bacalhoeiros da frota portuguesa do bacalhau] foi o começo da pesca com arrastões clássicos ou laterais, em 1936, com o célebre SANTA JOANA.» [v. 1932 ] Oc45, 100
«Por encomenda da Empresa de Pesca de Aveiro, foi construído nos estaleiros de Nakskow, na Dinamarca, um arrastão em aço, o SANTA JOANA, que viria a ser o primeiro barco em Portugal a utilizar o sistema de pesca do bacalhau por arrasto. Era de aço, com 66 metros de comprimento e 17 pés de calado. A sua tonelagem bruta atingia as 1198 t e a sua capacidade de pesca ia até às 1080 t. Com uma tripulação de 58 homens, possuía frigorífico, TSF e um motor Guldner que debitava 900 CV. Este motor permitia-lhe fazer duas safras por ano, a primeira entre Março e Junho, a segunda de Setembro a Dezembro. O SANTA JOANA era um navio sofisticado e bem equipado, numa época em que o preço de um arrastão com estas características rondava os 8.500 contos.» Oc45,111
«O SANTA JOANA foi o primeiro arrastão português da pesca do bacalhau. Pertencia à Empresa de Pesca de Aveiro e era considerado, na sua época, uma das maiores unidades do arrasto na pesca do bacalhau.» Oc45,119 n. 5
«Esta modalidade [o arrasto] firma-se entre nós nesse ano de 1936, com a construção dinamarquesa do SANTA JOANA para a Empresa de Pesca de Aveiro, na gerência de Egas Salgueiro. Assume o comando do navio o Capitão João Ventura da Cruz, veterano dos lugres bacalhoeiros, um dos que, em 1931, demandaram pela primeira vez os bancos da Gronelândia.» HDGTM, 7
«Em 1936, foi adquirido o lugre MILENA, em Génova, também para engrossar a flotilha aveirense [para a Indústria Aveirense de Pesca].» Oc45, 109
Manuel

Raul Solnado: A Guerra

A minha homenagem a um humorista inesquecível da minha geração.

Museu Marítimo de Ílhavo em Festa

Com 72 anos de vida, 
cada vez mais tem mais para dar

Não há dúvida. O Museu Marítimo de Ílhavo, com os seus 72 anos de vida, cada vez mais tem mais para dar. O mar e a ria, mais as gentes que lhe estão ligadas, marcam presença indelével, há muitos anos. Numa procura de actualização permanente, graças também aos Amigos do Museu, que muito o continuam a enriquecer, este espaço museológico é, de forma indesmentível, um excelente pólo de desenvolvimento cultural. A Faina Maior, representativa da saga dos bacalhaus, em que os ílhavos foram muito grandes, é bem digna de ser revisitada, a par da Sala da Ria e de outras colecções que situam o nosso Museu num patamar alto dos melhores museus do mundo, no seu género. Do edifício, podemos salientar que tem sido premiado, com títulos de que nos podemos orgulhar. Hoje está em festa, mas se quisermos, e decerto queremos, a festa continuará com as nossas visitas e os nossos estímulos.

FM

Passeios de Férias: Vieira de Leiria

Diversos aspectos da mesma praia Férias bem diferentes do século XIX
Nas férias, gosto de sair um pouco para conhecer as terras que quase se avistam do lugar onde assentei arraiais. Por vezes chego mais longe, sem perder de vista os horizontes ou a rota segura. Hoje fui a Vieira, para ver o mesmo oceano que oiço e vejo desde menino. Verão, o deste ano, sem o calor que almejo, mas nem por isso falta gente de todas as idades, no areal e na povoação, carregada disto e daquilo que junto das ondas é preciso. Não me aventurei pela praia, mas apreciei o prazer que muitos sentem, como que indiferentes ao ventinho agreste que me obrigava a procurar abrigo. Gostei de ver Vieira de Leiria, com a azáfama do Verão. E enquanto olhava à volta, dei comigo a pensar, nem sei por que carga d’ água, que era nesta praia, mais metro menos metro, que as personagens principais do célebre romance de Eça de Queirós – O Crime do Padre Amaro – veraneavam, carregando para aqui, desde Leiria, o essencial de que precisavam, para umas boas férias, de banhos de mar e de sol. Não havia, certamente, hotéis, restaurantes, bares e outros estabelecimentos que, nos tempos que correm, contribuem para o bem-estar dos veraneantes que demandam estas paragens. Tão-pouco andariam, os banhistas do século XIX, como os de hoje. As modas das praias, a apetência pela tez morena e as possibilidades de férias estavam longe dos tempos actuais. Gostei do que vi na povoação e na praia, com acessos fáceis e asseio a condizer com o bom gosto de quem chega e de quem está. É difícil estacionar? Com calma tudo se consegue. FM
NOTA: A seguir, S. Pedro de Moel

O capitalismo é moral?

Há um passo célebre da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, de Immanuel Kant, sobre o "comerciante avisado", para mostrar o que é realmente moral. O comerciante avisado e prudente não engana os seus clientes, pois a honestidade é necessária para o bom andamento do negócio. Ele age de modo conforme ao dever - não enganar os clientes -, mas isso não significa que aja moralmente. A acção só é moral, se agir por dever e não com uma intenção egoísta, isto é, porque o seu lucro o exige. Em A República, Platão apresenta o famoso anel de Giges, que, colocado numa certa posição, tornava o seu possuidor invisível. Com o anel e os seus poderes mágicos de invisibilidade, Giges, que era um homem honesto, entregou-se a uma série de crimes. Colocado nesta situação de poder tornar-se invisível, pode alguém fazer o teste da sua moralidade, verificando que só é verdadeiramente moral quem, mesmo invisível, continuasse a agir por dever e não por interesse ou por medo do juízo dos outros. À pergunta em epígrafe, que constitui também o título de uma obra de André Comte-Sponville, o conceituado filósofo responde: "Não. O capitalismo não é moral, mas também não é imoral; é - total, radical, definitivamente - amoral." Assim, por exemplo, aos protestos compreensíveis de quem se revolta porque o preço de determinado produto está acima do que a decência pode tolerar, observa: "A decência, que eu saiba, não é uma noção económica." Para perguntas e respostas correctas, é necessário distinguir as ordens, os níveis ou domínios. A primeira ordem é a ordem tecnocientífica - no caso da economia, a ordem económico-tecnocientífica -, estruturada, interior- mente, pela oposição do possível e do impossível. Esta fronteira interna entre o possível e o impossível é incapaz de limitar a ordem tecno-científica, porque se desloca constantemente: pense-se no que era antes impossível e hoje possível no domínio da biologia e do progresso tecnológico em geral. Mas precisamente estas novas possibilidades e suas consequências - manipulações genéticas, poluição...; no caso da economia, as variações do mercado... - podem pôr em causa o futuro da Humanidade ou afectar dramaticamente a vida de milhões de pessoas. Assim, uma vez que esta ordem é incapaz de limitar-se a si mesma - não há limite biológico para a biologia, limite económico para a economia, etc. -, é preciso limitá-la do exterior, com a ordem jurí- dico-política, a lei, o Estado, ordem estruturada interiormente pela oposição do legal e do ilegal. O legal pode, porém, não respeitar a dignidade humana: pense-se na legalização do esclavagismo ou do racismo. Não se vota o bem e o mal: "O indivíduo tem mais deveres do que o cidadão." Assim, a ordem jurídico-política é limitada do exterior pela natureza e pela razão, pela ordem moral (o dever, o interdito). Quer dizer, há o pré-jurídico e pré-político. Por último, a ordem moral é "completada", abrindo-se ao divino, que é a ordem do amor e da gratuidade. O capitalismo é, pois, amoral. Não funciona pela virtude nem pelo desinteresse ou pela generosidade, mas pelo interesse pessoal ou familiar, pelo egoísmo. Se funciona bem, é precisamente porque egoísmo é coisa que não falta, mas, também por isso, não basta. O mercado, que mostrou ser o sistema mais eficaz, não tem a capacidade de regulação socialmente aceitável e a moral também não consegue. Então? "Entre o poder cego da economia e a fraqueza da moral, só a política e o direito nos permitem fixar limites não-mercantis ao mercado, regulá-lo, a fim de que os valores morais dos indivíduos dominem, pelo menos em parte, a realidade amoral da economia. O problema, hoje, é que se cavou um desfasamento entre a escala mundial dos problemas económicos e a escala nacional dos nossos meios de acção sobre esses problemas." É aqui que se mostra a urgência de uma política mundial, o que implica compromissos entre Estados, para que o capitalismo seja limitado nos seus efeitos perversos e dramáticos. "Quanto mais lúcido se é quanto à força da economia e à fraqueza da moral mais exigente se deve ser quanto ao direito e à política."
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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

“Feira da Saúde do Município” na Praia da Barra: amanhã, sábado

ESTILOS DE VIDA MAIS SAUDÁVEIS
A Câmara Municipal de Ílhavo vai promover amanhã, sábado, dia 8 de Agosto, a edição 2009 da “Feira da Saúde do Município” na Praia da Barra. Esta acção tem como objectivo incentivar a população do Município e os turistas a adoptarem estilos de vida mais saudáveis, permitindo-lhes um contacto directo com diferentes agentes e especialistas da saúde, de forma informal. Estarão presentes, nesta iniciativa, várias entidades profissionais do ramo da saúde de diversas especialidades. Depois de ter sido inaugurado a 23 de Abril de 2006, o edifício da Extensão de Saúde da Barra permanece sem utilização, dado o facto do Ministério da Saúde não ter honrando o compromisso assumido com a Câmara Municipal de Ílhavo e com a População da Barra, colocando-o em funcionamento. A Feira da Saúde, a realizar neste edifício, é também mais um alerta público para uma situação inadmissível que urge resolver em nome do interesse dos cidadãos.
Fonte: CMI

Cheque para a Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo

Hospital de Cuidados Continuados
No próximo dia 11 de Agosto, pelas 20 horas, vai a Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo promover um jantar com o presidente da Câmara Municipal, Ribau Esteves, e com Joaquim Coelho, emigrante nos Estados Unidos, o qual, recentemente, promoveu um espectáculo de angariação de fundos para as obras do novo Hospital de Cuidados Continuados Integrados, que aquela Instituição está a construir. Nesse encontro, Joaquim Coelho fará a entrega de um cheque com o valor angariado. O jantar terá lugar no restaurante "O Navegante", em Ílhavo.

Figueira da Foz: NÓS NA ARTE - No edifício do antigo Casino Oceano

Les Deux Musiciens, tapeçaria sob cartão de Le Corbusier Tapeçarias de Portalegre e Arte Contemporânea
No edifício do antigo Casino Oceano, ao lado do actual Casino, na Figueira da Foz, pode ser apreciada uma exposição de Tapeçarias de Portalegre e Arte Contemporânea, bem como dos “cartões” originais, executados pelos artistas representados, nomeadamente, Almada Negreiros, Nadir Afonso, Camarinha, João Tavares, Le Corbusier, Susanne Dolesch, John Olsen, Vieira da Silva, Carlos Botelho, Júlio Pomar, Graça Morais, Cruzeiro Seixas, Manuel Cargaleiro, Menez, entre outros. Há também espaços para artistas mais jovens. Trata-se de uma exposição do Museu da Presidência da República, que merece uma visita, até ao fim de Setembro. Entrada livre.

FOLCLORE NA PRAIA DA BARRA

Amanhã, sábado, 8 de Agosto, a partir das 21.30 horas, no Largo do Farol, com organização do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, vai realizar-se o Festival de Folclore da Praia da Barra. Participam, para além do grupo anfitrião, o Grupo Folclórico de Santiago de Custóias, o Grupo de Danças e Cantares da Serra da Gravia - Valadares, S. Pedro do Sul, o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Alpiarça e o Rancho Folclórico da Correlhã, Ponte de Lima. Trata-se de uma festa popular para toda a gente, em especial para os amantes do folclore.

Pedro Nunes: "O maior cientista que houve em Portugal"

Pedro Nunes
Há sete anos que a vida de Henrique Leitão corre entre as quatro paredes de um dos gabinetes da Academia das Ciências, no Bairro Alto, em Lisboa. Desde que em 2002 a Academia das Ciências de Lisboa e a Fundação Calouste Gulbenkian decidiram lançar-lhe um desafio e convidá-lo para editar a obra completa daquele que é o maior matemático português de sempre e uma das figuras mais proeminentes do pensamento quinhentista. "Foi o maior cientista que houve em Portugal." Para quem duvida do lugar de Pedro Nunes no panorama intelectual do século XVI, Henrique Leitão recorre sempre a um diagrama de época sobre mestres de álgebra - o frontispício do livro de Matemática do alemão Johannes Luneschlos, de 1649, onde aparece a imagem de Pedro Nunes a par de figuras como Euclides. Está lá, colado numa estante, por trás da cabeça de Henrique Leitão.
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Bispo de Aveiro de luto

Ao início da noite de ontem, Deus chamou à Sua presença a Sra. Donzelina dos Santos, mãe do Sr. D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro. Depois de longos anos de enfermidade, vivida em profunda união com Deus, foi chamada para a Casa do Pai. Os seus restos mortais encontram-se em câmara ardente na Casa de Retiros de S. José, em Lamego, onde residiu nos últimos anos. A Solene Missa Exequial realizar-se-á na Sé Catedral de Lamego, amanhã, sexta-feira, pelas 11.00h. O seu funeral seguirá para a sua terra natal, Tendais, no concelho de Cinfães, onde será celebrada Santa Missa de Corpo presente, pelas 17.00h. A Diocese de Lamego, o seu Bispo, o seu Clero e todos os fiéis associam-se à dor de D. António Francisco e à da sua família, e não deixará de elevar a Deus preces pela alma desta generosa mãe que ofereceu tudo o que tinha à Igreja. Neste momento, importa também destacar a generosidade das pessoas que, mais de perto, foram acompanhando a Sr. D. Donzelina na sua doença, e sempre a cuidaram com todo o carinho e atenção. Deus, que nunca se deixa vencer em generosidade, acolha a alma desta sua serva. Possa ela gozar da visão beatífica na presença do Eterno Pai. Gabinete de Imprensa da Diocese de Lamego 06-08-2009 NOTA: Associo-me à dor de D. António Francisco com a solidariedade cristã que me é possível, na certeza de que Deus já acolheu, com toda a ternura maternal, a mãe do meu bispo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A maior cavaca de São Gonçalinho



“A maior cavaca de São Gonçalinho” foi apresentada no dia 12 de Janeiro deste ano. Mordomos da festa e crianças do Centro Social Paroquial da Vera Cruz (CSPVC), em Aveiro, transportaram a cavaca, em procissão, desde a confeitaria encarregada da sua confecção até à capela do mais popular santo dos aveirenses. Junto à capela de São Gonçalinho, a cavaca foi partida e do cimo da torre, como manda a tradição, foi atirada, para que o povo a saboreasse. 
O doce típico pesava 10,140 Kg, tinha 1,904 m de comprimento e 0,45 m de largura. Apresentou-se como candidata ao Guinness World of Records, tendo sido o acto testemunhado pelo Governador Civil de Aveiro, Filipe Brandão, pelo presidente da Câmara, Élio Maia, e pelo presidente da Associação Comercial, Jorge Silva 
O acontecimento, referenciado pela comunicação social, teve, contudo, uma finalidade mais ampla: pretendeu envolver a comunidade aveirense na construção da Creche da Vera e do Cruz, daquele centro social. A instituição foi até ao povo e o povo ficou mais interessado pela construção da nova creche. A ideia nasceu no âmbito do projecto AJUD’ARTE, concebido para promover iniciativas de angariação de fundos, aproveitando artistas de vários quadrantes, da região e não só. 

Ouvir Sara Tavares

Sara Tavares: do «Gospel» à «World Music»

Sara Tavares tem um percurso singular na vida cultural portuguesa, conjugando sabiamente a sua condição de compositora, cantora percussionista, com a sua extraordinária sensibilidade musical e com a inteligência e dignidade, que tem testemunhado. Vale a pena ouvir o seu disco “Xinti, a sua mais recente criação, em que interpreta “canções memoráveis”, como escreveu o crítico do Financial Times. Podem conhecer melhor a sua discografia aqui e começar por ouvir “Ponto de Luz” (ver final deste artigo), uma das canções do seu último disco. Para perceber melhor de que é feita a sua música podem ver aqui o excelente programa «Câmara Clara» da RTP 2, de 26 de Julho, em que Sara Tavares foi entrevistada por Paula Moura Pinheiro. É um prazer e alimenta “a sede de largura e altura” do nosso coração, para citar versos de “Xinti”. A música de Sara Tavares, que se alimenta de uma grande sensibilidade e bom gosto, tem as suas raízes no gospel, na música litúrgica que cantava nos coros da Igreja Cristã em que se formou, mas abriu-se a muitas outras influências da música cabo-verdiana, africana e não só. Leia mais aqui

MAIS BEBÉS E MAIS AVÓS

Passo os meus quinze dias de férias, desde há alguns anos, num ponto de encontro de portugueses e de estrangeiros, estes, sobretudo, casais novos. Durante muito tempo, era a desolação. Praticamente não se viam bebés, nem crianças até aos cinco anos. O panorama foi-se transformando, a pouco e pouco. Desde há meia dúzia de anos começou a notar-se uma mudança. Hoje é impressionante o número de casais europeus, sobretudo da Alemanha e Reino Unido, que vemos com os seus carrinhos de bebés. E já se encontram casais com dois e três filhos, espelhando-se no rosto dos pais, a alegria de os ter. Há dias ouvi e li nos meios de comunicação social alguém do partido no poder a anunciar e valorizar do ponto de vista social o donativo do Estado, destinado a abrir conta a cada criança que nasce.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Mar Agosto 2009 - Festas do Município de Ílhavo

Cenário do Festival de Marisco
Ria A Gosto – Festival de Marisco da Costa Nova
De 6 a 9 de Agosto, veraneantes e visitantes, bem como os residentes, podem saborear, no relvado da Costa Nova, o Festival “Ria a Gosto” – Festival de Marisco da Ria de Aveiro, numa organização conjunta do Illiabum Clube e da Câmara Municipal de Ílhavo. Tendo como palco o Relvado da Costa Nova, com os seus coloridos Palheiros como cenário, o Festival de Marisco da Costa Nova tem como objectivo principal divulgar o marisco e “frutos do mar”, numa aposta clara nos produtos “Ria de Aveiro”. Assim, o Festival abrirá ao público amanhã, dia 6 de Agosto, pelas 18.30 h, encerrando no Domingo, dia 9, após o serviço de almoço. Durante estes dias serão servidos mais de mil quilos de variado marisco, do berbigão às navalhas, ou do camarão às santolas. Se faltar, nem sabe o que perde!

Entrevistas a figuras públicas, todos os dias, no jornal i

Mia Couto
Laurinda Alves entrevistou Mia Couto para o jornal i. É um dos meus escritores preferidos. "Jesusalém", o seu mais recente livro, que ando a ler, mostra a razão da minha preferência. Diz a jornalista que "Mia Couto fala devagar e quase sempre em voz baixa. Ri com a mesma facilidade com que se distrai com tudo e todos. É um escritor apaixonante e um homem fascinante". Leia aqui.

Crónica de Férias: "POMBINHOS"

Quando, mais uma vez, cumpria o ritual de visitar as cabrinhas...
E assim acabou o idílio
daquele “casalinho de rolas”
Era um regalo para os olhos, ver aquele casalinho tão unido! Não podiam ver-se um sem o outro e até a dormir ficavam coladinhos, no leito! As mais das vezes, assim acontecia, excepto quando a “menina” saltarica como todas as meninas-rapaz, pulava para o beliche que ficava por cima da cama comum! Era uma cesta de verga, semelhante a uma alcofinha de bebé, a que só faltavam os lençóis de fina cambraia! Talvez nas noites muito quentes, ela tivesse necessidade de mais espaço, de poder esticar-se à vontade, sem importunar o companheiro que permanecia fiel ao seu leito nupcial! Se calhar....até ressonava e queria poupá-lo a esse incómodo (!?) Por várias vezes, a “pastora” a surpreendeu nesta pose e não resistiu a fixar a imagem para deleite futuro. Sim, constituía um espectáculo de rara ternura, ver uma cabrinha anã, deitada dentro dum cabaz comprido, e dormir o soninho dos justos nesse aconchego de verga. Quando os ia colocar de manhã, no pasto, tinha que levar um de cada vez e isso era um problema, pois a privação do outro era um sofrimento tal, que originava um balir dolente e contínuo, até se encontrarem os dois pombinhos, outra vez juntos. Para abreviar esta eternidade, (!!!) a cabrinha era transportada ao colo da dona, que a segurava como uma peninha! Tão leve, tão delicada, tão franzina no seu corpinho de bonequinha de pêlo! Era uma delícia contemplá-la nas suas quatro patinhas, tão fininhas que se surpreendia como seguravam aquele corpito irrequieto. O companheiro, ávido de rever a “menina”, corria à frente da dona, quase se escapulindo pelo meio da erva circundante. Um dia, sem terem reivindicado nada, foi-lhes alargado o espaço de circulação e passaram a andar sem freio, sem limites, sem cordas. Foi a alegria consumada, do “casalinho de rolas”, que pôde dar largas à sua sede de liberdade! De vez em quando, uma rola que nidificara por ali, vinha partilhar do bebedouro franco, colocado no bosque, para mitigar a sede a todos os visitantes. A água quando nasce é para todos e ali se fazia prova do mesmo. A dona deliciava-se nesta contemplação e até quase invejava a felicidade daquele parzinho amoroso! Tinham espaço amplo, sombra com abundância e comidinha fresca e variada. Até lhes era oferecida, à sobremesa, um petisco que devoravam num ápice. Um prato, de maçã laminada, descia até às cabrinhas, que lhes chamavam um figo! Têm boa boca as “meninas”! Boa e pequenina, por isso a dona tinha o cuidado de lhes preparar a iguaria, com o mesmo requinte que se deve a convidados especiais. Sempre que se aproximava da entrada do bosque, lá lhes cheirava a petisco e era vê-las a correr em direcção à paparoca! E tinham razão, pois vinha mesmo coisa boa! Um dia, de manhã, quando mais uma vez cumpria o ritual de visitar as cabrinhas e de lhes franquear a saída para o seu repasto, a pastora teve uma alucinação! Uma alma penada, vinda dos confins dos infernos, entrara, à socapa, no ovil e arrebatara consigo a companheira fiel. Não sabe por que purgatório, ou inferno terá passado a criaturinha de Deus, antes de entregar a alma ao Criador, mas uma certeza ficou. Uma mágoa enorme, pelo desaparecimento duma coisinha tão pura, tão fofinha e sobretudo tão fiel ao seu companheiro de jornada! Este, não se viu derramar lágrimas como os humanos, mas no seu semblante, outrora tão gaiato, tão feliz, pousou uma enorme tristeza! Nos primeiros dias, quase não arredava pé do mesmo sítio e pouco ou nada comia. Como acontece a muitos seres humanos, foi condenado, sem culpa, a uma pena de solidão.....que segundo peritos na matéria.....mata! E assim, acabou o idílio daquele “casalinho de rolas”, que para a dona era um parente próximo -os pombinhos!
Mª Donzília Almeida 04 .08.09

Voltar atrás?...

Voltar atrás?... Ao olhar para mim não me revejo No petiz que eu fui, jovem que sonhou, Parecendo que a fé já se esfumou Na tortuosa estrada em que mourejo. Em adulto perdi todo o ensejo De fazer o que sempre me animou E a vida tão sonhada se mudou De grande sinfonia em fraco harpejo. No tremor alquebrado dos joelhos Sinto que foram vãos esses conselhos Que tanto me previram este fim. Tentar voltar atrás de nada vale Por não haver regresso que me cale A saudade que sofro já por mim! Domingos Freire Cardoso