segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Halloween

Dia das Bruxas
Comemora-se, no dia 31 de Outubro, o Halloween, festividade que remonta ao povo Celta e tem a ver com rituais pagãos, entre nós, chamado Dia das Bruxas. Amada pelas crianças que vêem, neste dia, um escape para a sua irreverência e desculpa para pregar partidas, o Sweet or treat, confirma este fenómeno, é simultaneamente contestada e repudiada por muitos outros. Alegando que não tem nada a ver com a nossa cultura, contestam uns tantos que estamos a sofrer uma aculturação, em relação aos povos de origem anglo-saxónica, nomeadamente dos EUA, donde foi importada esta celebração. Materializando-se numa série de objectos comercializados profusamente pelo comércio, tem a sua expressão e simbologia máximas na utilização das abóboras. Estas são descarnadas, abre-se-lhes uma tampa em cima e desenha-se uma cara, pela excisão de pequenos pedacinhos que correspondem aos olhos, nariz, boca. Dentro das mesmas é colocada uma vela e aí temos o que nos países de Língua Inglesa chamam, o Jack-o’-Lantern! Esta figura bizarra e fantasmagórica era colocada em locais frequentados, mas pouco visíveis. Este ritual acontecia no Outono, em plena época das colheitas. Reportando-me aos meus tempos de juventude, e porque nasci no século passado, na época áurea dos Beatles, evoco algo que, pela sua similitude, merece a minha referência. Terminada a colheita do milho, que por estas terras das Gafanhas tinha um cultivo muito abundante, procedia-se ao seu acondicionamento: primeiro, fazia-se a desfolhada, aqui para nós designada por desmantadela, seguida da debulha, por debulhadoras mecânicas. Finalmente, depois de permanecer na eira por vários dias, sob os raios do sol escaldante, para ficar completamente seco, era armazenado em celeiros próprios, de grandes proporções, aqui chamados caixas do milho. Quando se viam os campos despidos, o milho recolhido e as abóboras colhidas e arrumadinhas em linha, por cima dos telhados, acontecia esta cena tão habitual, quanto insólita. Os membros mais jovens das famílias dos agricultores, ou semiagricultores, dedicavam-se a esta tarefa invulgar: desventravam as abóboras e construíam cabeças-fantasma, com uma vela dentro. Acabada a operação, punham a tampa na abóbora e iam colocá-la nas encruzilhadas dos caminhos e em sítios esconsos. Remontando às origens primitivas da utilização destas “lanternas”, ressalta aqui um paralelismo entre a tradição anglo-saxónica e estes costumes de terras gafanhenses. Isto foi vivenciado por mim, mas é possível que haja relatos orais mais aprofundados, desta mesma tradição, aqui na nossa terra.
Madona

domingo, 26 de outubro de 2008

O Fio do Tempo

A proximidade com o “Outro”
1. O Ano Europeu para o Diálogo Intercultural (2008) quer ampliar a consciência de que vivemos num tempo de novos desafios. As novas formas de comunicações actuais colocam-nos numa “mesa comum”, gerando as próprias crises grandes oportunidades de reajustamento (con)digno à nova realidade social. A pergunta do livro dos Génesis “onde está o teu irmão?”, actualizada há 2000 anos no episódio do samaritano sobre “quem é o meu próximo?”, tem hoje o mesmo lugar insubstituível da procura de um relacionamento humano saudável, que sabe dar primazia à Pessoa na sua situação. Não se trata de um refrão pré-definido, mas de uma aceitação incondicional do “encontro”, como abertura de espírito à diversidade... 2. No âmbito do programa Distância e Proximidade, decorre nos dias 27 e 28 de Outubro (com transmissão on-line, em directo: http://www.gulbenkian.pt/) a Conferência Gulbenkian sobre a temática: “Podemos viver sem o outro? – As possibilidades e os limites da interculturalidade.” A pergunta fundamental quer nortear a reflexão e encaminhar a acção educativa. Sublinha em entrevista o Comissário da Conferência, Arjn Appadurai, que «hoje, o “outro” chega-nos sob muitas formas», para além das formas consideradas clássicas como as mobilidades humanas. A pergunta radical da Conferência, significando a própria fronteira do debate intercultural, quererá merecer uma resposta estruturadora que se escreva não meramente numa linha de sobrevivência humana mas de apreço condigno na riqueza da diversidade pessoal e cultural. 3. Em última instância, a interculturalidade é profundamente desestabilizadora. Fomos (?), aos diversos níveis de organismos sociais, educativos, políticos e religiosos, habituados a caminhar numa uniformidade de ter tudo “certinho, direitinho”. Diante das impressionantes mobilidades, quer reais como virtuais, teremos de “rever” o nosso esquema à luz do essencial humano. Somos capazes?

16.º Grande Prémio de Atletismo Terra Nova

Campeões no pódium; Presidente da Câmara aplaude
Preparados para a partida É PRECISO INCUTIR NAS CAMADAS JOVENS O GOSTO PELO EXERCÍCIO FÍSICO
Decorreu hoje, na Gafanha da Nazaré, o 16.º Grande Prémio de Atletismo, da responsabilidade da Cooperativa Cultural e Recreativa e da Rádio Terra Nova. A coordenação técnica foi da empresa Sportis – Eventos Desportivos. Foi uma festa ao desporto, concretamente ao Atletismo, pois contou com a participação de muitos atletas de todas as idades. Este ano, porém, o Grande Prémio Terra Nova contou com a novidade de nele participarem alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico do Concelho de Ílhavo, ao jeito do encerramento da Semana da Educação, que se desenrolou entre 20 e 26 do corrente mês. Tenho uma admiração muito especial por este género de provas, sobretudo por envolverem atletas amadores, os tais que competem essencialmente por amor ao desporto. Aliás, na brochura de apresentação do Grande Prémio, sublinha-se “a consciência de que é preciso incutir nas camadas mais jovens o gosto pela prática do exercício físico”, sensibilizando-as “para a adopção de hábitos de vida cada vez mais saudáveis”. Para mim, e para além do convívio que à volta do desporto se desenvolve, aqueles princípios valem perfeitamente o esforço que a organização despendeu. Também é salutar o envolvimento das autarquias. Nessa linha, o presidente da Câmara, Ribau Esteves, considera que esta iniciativa é “promotora de desenvolvimento desportivo e social do nosso Município, marcando a agenda do panorama desportivo da região". Por sua vez, Manuel Serra, presidente da Junta, congratula-se com a realização deste evento, pelo que ele pode proporcionar, “em termos de convívio, cultura, desporto e demais regras da convivência humana”. Assisti a algumas provas e vi o esforço, carregado de entusiasmo, de muitos atletas. Em competição consigo próprios, tentando o máximo para se superarem, em luta leal e aberta com os outros atletas. Eram na sua grande maioria jovens. Outras, menos jovens, mostraram à saciedade que o desporto pode ser praticado por todos, das mais diversas idades, respeitando as regras da segurança e tendo em conta a saúde de cada um. Apetecia-me registar os nomes dos atletas e dos dirigentes, técnicos, cronometristas e assistentes de pista e de metas. Mas como é impossível, permitam-me que frise aqui a chegada à meta de uma atleta que retrata fielmente o esforço e a vontade indómita de praticar desporto. Não interessa o seu nome nem o seu clube. Interessa, isso sim, a exaustão com que chegou em último lugar. Foi, decerto, um desafio às suas capacidades. Vinha com ar de esforço extremo. Quase a cair. Os bombeiros acorreram para a amparar. Mas ela chegou mesmo ao fim da prova. Momentos depois já sorria. FM

Costa Nova

Com este dia lindo de sol, que já confirmei pela janela, estou em crer que hoje vai ser uma correria para as nossas praias. A Costa Nova, com uma marginal para a ria rara de encontrar por outras paragens, com espaços verdes para descansar ou brincar, oferece a quem a visita esta paisagem de uma laguna límpida e atraente. Não para nela nos vermos ao espelho (embora também sirva para isso), mas para dela inspirarmos a maresia que tempera o nosso dia-a-dia carregado de stresse. O convite vai, pois, no sentido de os meus amigos usufruirem estas coisas boas que a natureza nos oferece e que os homens, quando têm imaginação, conseguem ainda melhorar. Aqui é o caso.

Diáconos Permanentes celebram 20 anos de ordenação - 3

3 – Restauração do Diaconado Permanente O Vaticano II diz que os diáconos, “aos quais foram impostas as mãos «não em ordem ao sacerdócio mas ao ministério», estão em grau inferior da hierarquia, para, “fortalecidos com a graça sacramental”, servirem o Povo de Deus, “em união com o Bispo e o seu presbitério, no ministério da liturgia, da palavra e da caridade.” Atribuindo às diversas Conferências Episcopais a competência de decidir, “com a aprovação do Sumo Pontífice, se e onde é oportuno instituir tais diáconos para a cura das almas”, o Vaticano II lembra que, “Com o consentimento do Romano Pontífice, poderá este diaconado [permanente] ser conferido a homens de idade madura, mesmo casados, e a jovens idóneos; em relação a estes últimos, porém, permanece em vigor a lei do celibato”. Estas como todas as decisões do Concílio Vaticano II foram sancionadas por Carta Apostólica de Paulo VI, em 8 de Dezembro de 1965, onde se proclama que “tudo quanto foi estabelecido conciliarmente seja observado santa e religiosamente por todos os fiéis, para glória de Deus, honra da santa mãe Igreja, tranquilidade e paz de todos os homens”. A ideia de introduzir o Diaconado Permanente em Portugal surgiu em 1969, de forma mais concreta, quando a Assembleia Plenária do episcopado emitiu um comunicado, em Novembro, no qual refere: “Respondendo à solicitude da Santa Sé, a Assembleia reflectiu sobre a oportunidade de introduzir entre nós o Diaconado Permanente, e para fomentar ulterior deliberação em matéria com tantas implicações e sobre a qual se não conta com a lição da experiência, resolveu confiar o estudo prévio do assunto à Comissão Episcopal do Clero e Religiosos”. Em 1977, também em Assembleia Plenária do episcopado, foi então aprovado um documento sobre os motivos que justificam a instauração do Diaconado Permanente nas dioceses portuguesas que o julgarem oportuno, como se lê no livro “Diaconado Permanente – Actas e Documentos”, da Comissão Episcopal do Clero, Seminários e Vocações. Estava aberto o caminho para que as dioceses solicitassem à Santa Sé autorização para avançar com o ministério do Diaconado Permanente.
Fernando Martins

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 100

OS SÁBADOS
Caríssima/o: Chegados aqui, dizei lá se não vem mesmo a calhar uma pausa; fruto das coincidências, é o Tecendo número 100 e o tema é «os sábados»; logo, nas escolas quando o sumário atinge aquele número faz-se uma pequena festa, nem que seja meramente simbólica, e antigamente o Sábado era a véspera de Domingo. Dirão alguns: ”que grande novidade nos estás a dar!...” Esquecem-se ou desconhecem que nesses bons e velhos tempos havia aulas aos sábados, só de manhã, o que era sinal de que no dia seguinte não havia escola! E que se fazia nessa manhã? Era o dia da «mocidade», entenda-se da “Mocidade Portuguesa”; assim sendo, havia umas formaturas seguidas de marchas, falava-se da Bandeira e do Hino e cantava-se...Aproveitavam também os professores para falar de higiene e de regras de boa educação...(Já nessa altura se dizia aos alunos que ficava bem cumprimentarem os professores e as pessoas mais velhas!...) Bem, isto no início do ano, porque com a aproximação dos exames todo o tempo era pouco para a “preparação”. Mas como se está vendo era um dia diferente porque, estando mais tempo fora da sala de aula, quando havia espaço para tal, sempre se proporcionavam uns jogos e umas brincadeiras. Não havia futebol (isso é pano para outro falar!), mas saltar o eixo e o 'bom barqueiro' eram obrigatórios... Por vezes, e quando já havia desdobramentos, também as Professoras aproveitavam para juntar os alunos para o canto... E que bem sabiam estas pausas e estes bocadinhos de entretenimento quando toda a semana era uma lufa-lufa de redacções, ditados, contas e problemas! Que bom! Como o tempo era de pausa, já falei demais; fico-me por aqui. Manuel
NOTA: Eu não sei se os meus amigos leitores já se deram conta de que o Manuel, meu colaborador de há anos, completou hoje, com a sua rubrica "Tecendo a vida uma coisitas", o número cem. Não é muito frequente sentirmos, no dia-a-dia, uma tão grande regularidade nos blogues. É que o Manuel, quando assume um compromisso, não se fica pelas meias-tintas, cumprindo, escrupulosamente, os objectivos que se propôs. E não vades supor que o número o assusta, antes o aceitará, como creio, para continuar a brindar-nos, semana a semana, com a sua sempre saborosa arte de recordar.
FM

sábado, 25 de outubro de 2008

Pessoas que nos marcaram

Flores para a Irmã Iracema, com o Manuel Serafim e a Fátima Lage
Irmã Iracema esteve entre nós, 18 anos depois
Quer queiramos quer não, há sempre pessoas que nos marcam na vida. Para o bem e para o mal. Eu sinto isso. As que tentaram insinuar-me o mal ou indicar-me caminhos menos correctos foram postas de lado. Não ocupam qualquer lugar na minha vida. Outras, as que me sugeriram princípios do bem e me deram testemunhos, concretos, de que é possível seguir pistas de verdade, de justiça, de fraternidade e de paz, essas têm um lugar especial no meu coração. Às vezes dou comigo a pensar em todos esses homens e mulheres que deixaram sinais indeléveis na minha formação. Foram muitos, é verdade, tantos que nem consigo elencá-los. Só tenho pena de não ter tido a capacidade de colher dessas árvores de bons frutos toda a sabedoria e humildade para os reflectir na minha vida, chegando a quantos me rodeiam. Ontem, contudo, encontrei-me com uma dessas pessoas, que não via há 18 anos. Trata-se da Irmã Iracema, do Instituto das Irmãs de Maria de Schoenstatt, que viveu entre nós 15 anos. Destacada pelo seu Instituto para trabalhar em Portugal, radicou-se na Gafanha da Nazaré, tendo colaborado, activamente, no lançamento das bases do Movimento Apostólico de Schoenstatt na Diocese de Aveiro. A construção do Santuário dedicado à Mãe e Rainha, na Colónia Agrícola da Gafanha, deve-lhe imenso. E por aqui se manteve, em plena actividade apostólica e humana, até 1990, insuflando em muita gente o fervor da fé e a paixão pelos valores cristãos. Missão cumprida, regressa ao Brasil, continuando, no país irmão, outras tarefas ligadas aos ideais que desde jovem abraçou. No encontro organizado para a ouvir de novo, com a mesma voz e com o mesmo entusiasmo, jovens e menos jovens partilharam saudades. A Irmã Iracema repetiu o que sempre foi na vida: coerência na fidelidade aos princípios que sempre a nortearam, princípios de verdade, de frontalidade e de testemunho em todas as circunstâncias. Mas sempre crente num mundo melhor, alicerçado na Boa Nova. Foi muito bom conversar com ela, ouvi-la e sentir o calor da fraternidade e o amor a Jesus Cristo e a Sua Mãe, que tão bem sabe transmitir com simplicidade e serenidade. E com os seus 70 anos de vida, prometeu voltar à Gafanha da Nazaré para comemorar, connosco, o seu centenário. Eu prometi acompanhá-la nesse dia. Fernando Martins

O País que (não) somos

Imaginem Imaginem que todos os gestores públicos das setenta e sete empresas do Estado decidiam voluntariamente baixar os seus vencimentos e prémios em dez por cento. Imaginem que decidiam fazer isso independentemente dos resultados. Se os resultados fossem bons as reduções contribuíam para a produtividade. Se fossem maus ajudavam em muito na recuperação. Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais baratos e que reduziam as suas dotações de combustível em dez por cento. Imaginem que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento também. Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões de crédito das empresas. Imaginem ainda que os carros pagos pelo Estado para funções do Estado tinham ESTADO escrito na porta. Imaginem que só eram usados em funções do Estado. Imaginem que dispensavam dez por cento dos assessores e consultores e passavam a utilizar a prata da casa para o serviço público. Imaginem que gastavam dez por cento menos em pacotes de rescisão para quem trabalha e não se quer reformar. Imaginem que os gestores públicos do passado, que são os pensionistas milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam uma redução de dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões. Eles acumulam várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam, todos, muito acima dos mil contos por mês. Imaginem que o faziam, por ética ou por vergonha. Imaginem que o faziam por consciência. Imaginem o efeito que isto teria no défice das contas públicas. Imaginem os postos de trabalho que se mantinham e os que se criavam. Imaginem os lugares a aumentar nas faculdades, nas escolas, nas creches e nos lares. Imaginem este dinheiro a ser usado em tribunais para reduzir dez por cento o tempo de espera por uma sentença. Ou no posto de saúde para esperarmos menos dez por cento do tempo por uma consulta ou por uma operação às cataratas. Imaginem remédios dez por cento mais baratos. Imaginem dentistas incluídos no serviço nacional de saúde. Imaginem a segurança que os municípios podiam comprar com esses dinheiros. Imaginem uma Polícia dez por cento mais bem paga, dez por cento mais bem equipada e mais motivada. Imaginem as pensões que se podiam actualizar. Imaginem todo esse dinheiro bem gerido. Imaginem IRC, IRS e IVA a descerem dez por cento também e a economia a soltar-se à velocidade de mais dez por cento em fábricas, lojas, ateliers, teatros, cinemas, estúdios, cafés, restaurantes e jardins. Imaginem que o inédito acto de gestão de Fernando Pinto, da TAP, de baixar dez por cento as remunerações do seu Conselho de Administração nesta altura de crise na TAP, no país e no Mundo é seguido pelas outras setenta e sete empresas públicas em Portugal. Imaginem que a histórica decisão de Fernando Pinto de reduzir em dez por cento os prémios de gestão, independentemente dos resultados serem bons ou maus, é seguida pelas outras empresas públicas. Imaginem que é seguida por aquelas que distribuem prémios quando dão prejuízo. Imaginem que país podíamos ser se o fizéssemos. Imaginem que país seremos se não o fizermos. Mário Crespo NOTA: Mão amiga, por certo leitor do meu blogue, clicou para me enviar este texto do jornalista Mário Crespo. Ele (o artigo) aqui fica, pela sua oportunidade. FM

Brancura do Outono

Mesmo no Outono, com a queda das folhas e com o verde a ficar mais ténue, é possível verificar como o branco, síntese de todas as cores, se mantém bonito, puro, desafiando-nos para a contemplação. Ele aqui fica neste sábado de sol claro e de temperatura amena.

QUEM TESTEMUNHA O QUÊ?

As Conferências do Lumiar, organizadas pelas monjas dominicanas, têm como tema neste ano lectivo "testemunhar". A mim, na abertura, coube-me o título em epígrafe: Quem Testemunha o Quê? No plano cristão, o testemunho ocupa lugar nuclear e determinante. Jesus, diante de Pilatos, o representante do Império Romano, respondeu: "Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz." E antes da ascensão ao Céu, disse aos discípulos: "Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo." Na Bíblia, é infindável o número de referências ao testemunho, ser testemunha, dar testemunho. Testemunha e testemunho provêm do latim testis (*tristis, "que está ou assiste como terceiro", com raiz em tri, redução de tres, treyas + sto). Percebe-se assim a ligação com tribunal. Essa conexão é dada do mesmo modo em alemão, por exemplo: Zeuge (testemunha), a partir de ziehen, especialmente das Ziehen vor Gericht (levar a tribunal) e, também, Zeugnis ablegen (dar testemunho), überzeugen (convencer, levar alguém com provas a reconhecer algo como verdadeiro); Zeugnis é o comprovativo das notas dos alunos, que provam o seu esforço e saber. Num tribunal, há testemunhas de defesa e de acusação, o que está em julgamento e um juiz. No cristianismo, Jesus, por palavras e obras, deu testemunho do que viu e ouviu de Deus, seu Pai: que é amor, e espera-se e exige-se que os cristãos dêem, por palavras e obras, testemunho do que viram e ouviram de e sobre Jesus: ele é o Messias de Deus, que revela quem é Deus para os homens e o que são os homens para Deus, com todas as consequências. Há testemunhas que dão testemunhos verdadeiros e outras, falsos. O tribunal procurará averiguar a verdade ou a falsidade do testemunho, buscando contradições. No nosso caso, pode haver, de facto, contradição entre o testemunho dito e o testemunho pela acção. Pense-se, por exemplo, no Vaticano, no luxo do clero, na pedofilia, na avareza e na injustiça cínica dos cristãos - não contradiz a prática o que se confessa por palavras? Por outro lado, é preciso testemunhar até ao fim. Não se pode negar o que se viu e ouviu. Foi assim que fizeram Jesus e os discípulos: testemunharam, atestaram, certificaram até ao sangue e à morte - mártys e martyrion, em grego, significam, respectivamente, mártir e testemunho ou prova. O testemunho implica coragem de ser: significativamente, outra acepção de testis (testemunha e testículo) é força varonil. Então, dá-se testemunho de quê? Da verdade? Da beleza? Da dignidade? Da solidariedade? Da malvadez? Da vulgaridade? Da fealdade? Da injustiça? Porque todos damos testemunho. O próprio mundo dá testemunho. Mas de quê ou de quem? Esse testemunho é ambíguo. Porque há a beleza e a ordem do mundo e também a sua desordem e fealdade. O mundo exalta, o mundo horroriza. A natureza tudo dá à luz e tudo destrói e sepulta. O Homem recebe o testemunho e tenta decidir. O que são as filosofias e teologias e a grande música e poesia e artes senão testemunhos? Mas o mundo é racional ou irracional? Na sua raiz, está a Vontade cega? É sempre o eterno jogo do mesmo? E a História dos homens? Tem sentido? A História do mundo é o juízo do mundo, como queria Hegel - Weltgeschichte Weltgericht? A História é moral? Mas então quem dá razão às vítimas inocentes? Há uma dívida para com elas. Quem a paga? E testemunha-se perante o quê ou perante quem? Perante a consciência, perante os outros, perante a História. Mas, para quê, se tudo for devorado pelo nada? Quem é o juiz? O mundo está em processo, e o processo ainda não transitou em julgado. Ninguém sabe o que está em questão na História do mundo e na História dos homens. A História lê-se do fim para o princípio e precisamente o fim ainda não chegou. Mas os crentes esperam que, no fim - no chamado Juízo Final -, Deus se revele como testemunha favorável a todos e juiz misericordioso. Anselmo Borges

Diáconos Permanentes celebram 20 anos de ordenação - 2

2 – Fundamentos do Diaconado O Diaconado nasceu com a Igreja. Logo nos primeiros tempos, o número de discípulos ia aumentando. Então surgiram queixas dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram esquecidas no serviço diário. Daí surgiu a necessidade de escolherem “sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria”, para desempenharem o serviço dos mais pobres. Os apóstolos poderiam, assim, dedicar-se mais à Palavra de Deus, como convinha. É certo que os diáconos da primeira hora foram discípulos, na verdadeira acepção da palavra, embora destacados, a nível ministerial, para o serviço dos pobres de então, fundamentalmente para o apoio às viúvas, mulheres que, nessa situação, estariam sem recursos para sobreviver com dignidade. Por razões diversas, o diaconado permanente, enquanto ministério ordenado, caiu em desuso, tendo sido restaurado no Concílio Vaticano II. Aliás, o concílio de Trento já havia avançado com a proposta da ordenação de diáconos permanentes, embora tal projecto nunca tenha sido concretizado na Igreja Latina. O diaconado, porém, manteve-se em vigor, apenas para os candidatos ao presbiterado.
Fernando Martins

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

CRIANÇAS E JOVENS LÊEM MAIS

O PÚBLICO de ontem deu-nos uma excelente notícia: As crianças e jovens gostam cada vez mais de livros. Afinal, nem tudo é mau. Não se sabe bem se este fenómeno se deve ou não ao Plano Nacional de Leitura, mas é de supor que sim. É que, à sombra dele ou por meio dele, falou-se muito da necessidade da leitura, começando pelos mais novos. Com as famílias superocupadas e superpreocupadas, cabe às escolas e demais instituições a tarefa de estimular hábitos de leitura entre as crianças e jovens. E pelos vistos estão a cumprir, com resultados à vista, a função de os sensibilizar para o interesse pelos livros. Com o advento dos meios audiovisuais e em especial da Internet, houve quem garantisse que a tendência seria para a marginalização dos suportes culturais de papel, livros e jornais, em especial. Mas tal não está a acontecer. Penso que ultrapassada a fase inicial provocada pela novidade e pela possibilidade de andarmos pelo mundo, ao ritmo de um clique, as pessoas acabarão por regressar aos livros e jornais. Não pelo cheiro do papel e da tinta, mas pelo prazer que o seu manuseamento oferece e pela facilidade de os ter ali à mão, em cima dos joelhos, no bolso do casaco ou na mesa mais próxima. Eu, que sempre estive familiarizado com livros e jornais, também conquistei o gosto pelas novas tecnologias e pela Internet. Mas os velhos meios de formação e de estudo, os livros e os jornais, nunca perderam o seu lugar na minha vida. FM

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O Fio do Tempo

A «situação espiritual»
1. Recentemente chegou-nos às mãos a colectânea das conferências da Conferência Gulbenkian que de 25 a 27 de Outubro de 2006 assinalou os 50 anos da Fundação. O pertinente e corajoso título, «que Valores para este Tempo?» trouxe a Portugal nomes grande da reflexão actual. Por trás da idealização da iniciativa, vale a pena apercebermo-nos da reflexão do grande e reconhecido pensador que foi Fernando Gil (1937-2006), entretanto falecido, não chegando a participar no congresso que fora convidado a preparar. Começava deste modo a reflexão de abertura de Fernando Gil: «Perante a angustiante “situação espiritual do nosso tempo”, diagnosticada há muitos anos por Max Scheler (1774-1928) […] parece oportuno interrogarmo-nos sobre o que se pode chamar, sem exagero, uma crise geral do sentido.» 2. Ideias estas tão importantes que, numa busca de coerência, nos farão reflectir, nos vários níveis de pertença social, sobre as necessárias interrogações. Não como quem paralisa na dúvida, mas como quem a sente viagem de descoberta. Se formos pela rua fora sobre o que se pensa da “situação espiritual” do nosso tempo arriscamo-nos a ser surpreendidos com posições que podem tocar, de um lado ou de outro, um certo extremismo de posições; como reacção crítica ou como aceitação acrítica. No fim de contas, e para que a vida tenha sentido, a busca de sentido é a tarefa mais importante da vida. A asfixia espiritual, por determinados conceitos ou preconceitos (?), continua a ser o reflexo dos fechamentos que são sementes de exclusão e intolerâncias. É urgente refocalizar o centro dos debates… 3. Uma dinâmica, como que sem contraditório, faz com que quanto menos se reflecte menos apetece pensar e reflectir. As faces técnicas e “fazedoras” da vida não darão as respostas essenciais ao nosso tempo, somente as respostas instrumentais. Não deixemos que o ser humano se instrumentalize ou ‘subjectivize’. Há tempo e lugar?

DOENÇA QUE A TODOS PODE AFECTAR COM GRAVIDADE

Um mestre espiritual de tempos recentes, Anthony de Mello, um jesuíta indiano dotado de profunda sabedoria da vida, culto, aberto e sensível à realidade das pessoas e do seu viver, escreveu, num dos seus livros, que doença grave que por aí grassa e pode atingir a todos, é a que ele chama, com a sua conhecida e habitual perspicácia e ironia, “camadas de gordura”. Não se refere, como é óbvio, à tão falada e grave obesidade de crianças, jovens e adultos, que vem merecendo grande atenção e cuidados pelos muitos perigos que encerra e males que provoca. Diz o mestre que, tal como acontece com o corpo, também a mente humana, pelas muitas aderências inúteis e graves, se pode tornar pesada e lenta, incapaz de pensar, observar, procurar e descobrir… E convida a olhar à nossa volta para que vejamos que a maioria das mentes estão entorpecidas e adormecidas, envolvidas por camadas de gorduras morais e psíquicas, desejando não ser molestadas nem sacudidas na sua modorra. E, como mestre sábio, ensina a ver quais são essas camadas, bem como os meios a utilizar para as dissipar e vencer, e adquirir, assim, a normalidade de uma mente que pensa, sente, vê e quer. Aí estão as camadas perigosas: são maneiras de viver, por força de determinadas condições religiosas, politicas, culturais, que foram criando barreiras interiores, emparedando a mente e impedindo novos horizontes de vida; são ideias, acerca de pessoas e de coisas, que se foram sedimentando e tornando fixas, e se traduzem em rótulos que não mais se tiram e condicionam, por fim, conceitos e relações, empobrecendo-os e estratificando-os; são hábitos, não meramente mecânicos, que estes até nos ajudam na vida, mas hábitos que invadiram o campo do amor e da visão, impedem a interioridade e a contemplação, nos tornam insensíveis ao maravilhoso, ao que chega de novo carregado de bem e de beleza, nos fazem perder a criatividade e a capacidade de inovar e de apreciar o diferente das pessoas e das coisas; são apegos e medos que não nos deixam em paz, geram aversões e tensões, fixações e repulsas, e empurram a mente para um processo doentio. Vendo bem, a doença é real e vai sendo epidémica, enchendo a sociedade de gente emparedada e aprisionada. Como sair disto? Primeiro, que a pessoa acomodada se reconheça presa e emparedada; contemple, serenamente, os muros que lhe tiram a liberdade, consciente de que eles, muito observados, cairão por fim; leve tempo a observar as pessoas e as coisas que a rodeiam e veja-as libertas; sinta, tranquilamente, como funciona a sua mente, pois dela brotam pensamentos, sensações e reacções, e contemple, depois, sem pressas, o que se passa consigo, concluindo se afinal está viva ou se nem sequer dá pelos seus pensamento e reacções…Então, está em condições de começar a desprender-se das “camadas de gorduras” e de perceber que tem de procurar rumo. Uma vida inconsciente, diz o mestre, não merece ser vivida. É mecânica, robótica, mais sonho e morte que vida humana. Uma nova visão do mundo e das pessoas aparece, como a daquele que se sujeitou a uma cirurgia às cataratas. Não escondo que se torna difícil a muita gente tanto o reconhecer a doença como o querer libertar-se dela. Mas também aí se verifica até que ponto a vida tem ainda sentido ou a resignação cómoda já a destruiu.
António Marcelino

Emigrantes no "Pela Positiva"

Professor Fernando Os meus respeitosos comprimentos O meu nome é Alberto Margaça e queria daqui do Canadá mais precisamente da cidade de Toronto saudá-lo e ao mesmo tempo dizer-lhe que aprecio muito o trabalho que vem fazendo no seu blogue, na Internet, “Pela Positiva”. Sempre atento ao que se passa na nossa terra, e não só, para assim a poder divulgar mais. E nós, que estamos longe, sabemos melhor que ninguém apreciar e valorizar tão excelente trabalho. Os meus parabéns e muito obrigado. Há já algum tempo atrás, na minha consulta ao blogue “Pela Positiva”, chamou-me a atenção o seguinte: “Escola da Ti Zefa - Antigos alunos querem encontrar-se.” Bem que eu gostava de ter sido um desses antigos alunos da escola da Ti Zefa, mas infelizmente não fui; e ainda hoje estou sem entender a razão de me mandarem a mim, e só a mim, daquela área, para a escola da Chave; porque todos os meus irmãos foram para a escola da Ti Zefa: a minha irmã Rosa, mais velha do que eu, e os meus irmãos mais novos, o Dimas, o João José, a Maria e a Regina, todos foram para a escola da Ti Zefa. E só eu é que fui para a escola da Chave e tinha que fazer essa caminhada todos os dias quatro vezes por dia, da casa dos meus pais até à escola, porque vínhamos comer a casa ao meio-dia. E é essa mágoa que eu carrego comigo toda a minha vida e que nunca esqueci. E devo-lhe dizer que ainda agora em Setembro, quando estive em Portugal, eu fui de propósito fazer essa caminhada da casa dos meus pais até à escola da Chave, só para ver o tempo que eu demorava e o sacrifício que naquele tempo me fizeram passar, quer estivesse sol, frio ou chuva, durante cinco anos. Nunca me vou esquecer destas coisas. Perdoar, sim; mas esquecer não consigo, nunca na vida. Senhor professor Fernando, desculpe este meu desabafo mas são coisas de outros tempos que eu não percebi, não percebo e nunca vou perceber. Coisas muito complicadas. Desculpe também o meu português, mas sabe que já estou fora de Portugal vai fazer trinta e sete anos e também os nossos computadores não tem os acentos e as cedilhas. Se quiser publicar esta carta no seu blogue “Pela Positiva”, por mim pode-o fazer. Não há problema. Um abraço Alberto Margaça Ramos NOTA: O Alberto, que tive o prazer de encontrar nas últimas férias que passou na Gafanha da Nazaré, escreveu-me esta carta, via e.mail, com a naturalidade de quem continua com saudades de todos nós. E vejam os meus amigos como ele recorda facetas da sua vida, que estão, como decerto tantas outras, bem guardadas num cantinho do seu coração e num saco grande das suas memórias. Claro, meu caro, que eu não iria publicar a tua carta sem pôr os acentos e as cedilhas nos seus lugares. Também corrigi uma ou outra gralha, substituindo letras maiúsculas por minúsculas e vice-versa. O que importa, Alberto, é partilhar vivências, sentimentos e emoções com os amigos, porque só partilhando aprendemos a ser solidários e fraternos. Aqui, no meu blogue, todos os emigrantes, e não só, têm o seu lugar à espera de ser preenchido, desde que venham até mim, sempre Pela Positiva. A foto reproduz, como facilmente se vê, a capa de um CD. É que o Alberto gosta mesmo de música. E como podia ele pôr de lado uma paixão de tantos anos?
Um abraço FM

Diáconos Permanentes celebram 20 anos de ordenação - 1



1 – Introdução No dia 22 de Maio de 1988, os primeiros diáconos permanentes de Aveiro foram ordenados na Sé, por D. António Marcelino, estando presente D. Manuel de Almeida Trindade, Bispo Emérito. Duas décadas depois, esse acontecimento foi recordado, por iniciativa dos diáconos permanentes, em três momentos, que proporcionaram outras tantas reflexões.
Em Recardães, a 11 de Maio, Dia de Pentecostes, com uma vigília de oração, seguida de jantar de confraternização. Associaram-se as esposas e outros diáconos permanentes, também com suas esposas, bem como alguns amigos. D. António Francisco dos Santos e o Padre Georgino Rocha, Delegado Episcopal para o Diaconado Permanente, participaram, tendo, com a sua presença, contribuído para valorizar o encontro e estimular quantos, há 20 anos, se dispuseram a servir.
As celebrações continuaram em 22 do mesmo mês, Dia do Corpo de Deus, com a participação na eucaristia e na procissão, cerimónias presididas pelo Bispo de Aveiro, tendo culminado no dia seguinte, no Caramulo, por gentileza do diácono permanente Joaquim Simões. Aí, na eucaristia de acção de graças, foram recordados os diáconos permanentes falecidos, Carlos Merendeiro, do primeiro grupo, e Arnaldo Almeida, do segundo. Ainda foram evocadas as esposas do Carlos, Maria Helena, e do Afonso Henriques, Maria Cândida, também falecidas.
Celebrar uma efeméride é motivo de regozijo dos que a protagonizaram, de reflexão sobre a caminhada que lhe deu origem e sobre as perspectivas de futuro. Daí este texto, que mais não é do que um ponto de partida para a descoberta, neste caso, da importância do diaconado permanente na Igreja Católica, agora mais do que nunca tendo em conta a urgência da nova evangelização, face a uma sociedade cada vez mais secularizada e mais indisponível, na opinião de muitas, para assumir, na vida, os valores da Boa Nova de Jesus Cristo.

Fernando Martins

Um Poema de Madona

Sátira A Natureza se enganou E fez de mim um jardim, Pois cravos, em mim, plantou E tão bem os adubou Que eles crescem ‘inda assim! Flores, nas jarras, gosto E no jardim a crescer, Mas juro e até aposto Que ninguém tem este gosto, Tão bizarro, a meu ver! Alguns maus-tratos, lhes dou E ácido até lhes ponho! Mas o cravo que vingou, Como remédio o tomou E alimentou o seu sonho! Essas mãos tão veneradas, Numa anterior situação De novo são solicitadas E decerto apreciadas, Nesta botânica operação! Que estes cravos decapite, Atenda esta prece minha!, E o Doutor não hesite, Que eu vou tendo o palpite Que lhos deixo numa jarrinha! Madona

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Gafanhas com tantas histórias por contar

Em dia de descanso
As Gafanhas são terra rica, onde se entrecruzam as mais variadas gentes de todo o país e até do estrangeiro. Rica em tradições e histórias com marcas um pouco de toda a região. Mais as que nos legaram os que por aqui se estabeleceram. Bem gostaria eu de as poder oferecer aos meus leitores, mas já não tenho tempo e saúde para isso. Há um outro campo que tem sido descurado pela grande maioria da população, nomeadamente, pelos que estão ligados à ciência histórica. Refiro-me às histórias, muitas vezes dramáticas, de quantos participaram nas guerras coloniais. Sei que um ou outro gafanhão vai registando o que passou, de bom e de mau, nas ex-colónias, durante o serviço militar obrigatório. Era o tempo em que nos ensinavam o Portugal multicultural, multi-racial e multicontinental. Com o objectivo de acordar os que podem ajudar no relato dessas vidas, em que tanta juventude perdeu a vida e abafou sonhos que nunca mais pôde concretizar, sugiro hoje a leitura do blogue Pangalacity, onde escreve o meu amigo e conterrâneo Ângelo Ribau.
FM
Nota: Foto do Pangalacity

O Fio do Tempo

O espírito das Leis
1. A consumada aprovação da tida moderna Lei do Divórcio, mesmo com as temerárias reservas presidenciais, sugere uma continuada reflexão sobre o papel das leis na sociedade actual. É debate antigo, tanto quanto as leis fazem parte do caminho humano. Após tantas vozes que apressadamente aplaudem a aprovação prática do divórcio e outras que a sabem questionar e renegar lendo nela um menor sinal social dado à comunidade, tem sentido lançarmos as questões que nos podem ajudar a perceber para onde caminhamos. Dá a sensação que chegámos ao tempo em que tratamos de questões humanas como se de coisas práticas se tratassem. Nestes cenários a óptica da necessária corresponsabilização tem tendência a diluir-se… 2. O filósofo francês Montesquieu (1689-1755) no ano de 1748 publicou a obra Do Espírito as Leis. Aí sugere as suas concepções sobre as formas de governo, o exercício da autoridade política e as doutrinas básicas da ciência política que viriam a exercer profunda influência no pensamento moderno, inspirando a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Pelos frutos de nacionalismos europeus vindos da Revolução Francesa claramente nos apercebemos que o “espírito” subjacente à Lei foi-se orientando mais numa busca pragmática que pedagógica. Temos, em diversos quadrantes, observado que as leis têm vindo mais legitimar práticas de maiorias (do que seja…) que estimular perspectivas apelativas e éticas de vida em sociedade. 3. Sucedem-se, por um lado, as lógicas criminalistas, de produção legislativa para tudo; por outro, em termos de educação e formação prefere-se um neutralismo que acaba por representar o avançar no vazio que esvazia. Sabe-se que nem tudo o que é legal é eticamente consistente e plausível. Sente-se estas fronteiras a serem esbatidas, será pela urgência de resolver as coisas práticas, como que secando as raízes existenciais. Preocupante? Ou já nem sequer?

Crise de Valores

No Diário de Notícias de ontem, Mário Soares, referindo-se à crise que todos estamos a sentir, diz que o mais grave está na "crise moral, crise de valores ou melhor: da falta deles, a negação da ética, omitida nos comportamentos, pelo capitalismo especulativo, crise civilizacional, de fim de ciclo, dado o enfraquecimento do Estado, a impunidade da corrupção, a desvalorização do serviço público, numa sociedade individualista, egoísta e consumista, por excelência, em que conta, acima de tudo, o dinheiro - como supremo valor - sem importar como se adquire nem qual a sua origem. Se vem do tráfico ilegal da droga, da prostituição, da compra e venda de armas, incluindo nucleares, do crime organizado ou das especulações feitas através dos offshores, que têm por detrás deles "respeitáveis" senhores que gerem bancos, seguradoras e grandes empresas, auferem vencimentos multimilionários, prémios e indemnizações e são os mais próximos responsáveis - não os únicos - até agora impunes, da grande crise global e complexa com que nos debatemos."

Ler e Reler

HÁ LIVROS QUE MERECEM BEM UMA RELEITURA
Gosto de ler e gosto de reler. Mas se leio um livro, nem sempre o releio. Coisa que nem sei explicar, já que há livros que merecem bem uma releitura, pela sua posição no pedestal das obras mais expressivas, nacionais ou universais. Por vezes, porém, sou levado à reler um livro, pela simples razão de alguém me falar dele sob outro ângulo, que não o que me levou à sua leitura. Um dia destes, na revista ÚNICA do EXPRESSO, Saramago afirmou que HÚMUS, um romance de Raul Brandão, é, sem sombra de dúvidas, uma obra-prima da literatura nacional. Não resisti. E fui logo pegar no livro, agora para o saborear com mais atenção. Com mais cuidado, procurando descobrir o que distingue uma obra-prima de uma outra obra qualquer. Na badana da sobrecapa diz-se que HÚMUS, publicado em 1917, “supôs a confirmação de Raul Brandão como modernizador da ficção portuguesa”. Se a classificação atribuída por Saramago a este livro não fosse o suficiente, aquela proposição justificaria a releitura. E confesso que, de facto, HÚMUS merece perfeitamente o tempo que lhe estou a dedicar. FM

Concurso Literário Jovem

SEM O EMPENHAMENTO DA COMUNIDADE
EDUCATIVA NADA SERÁ POSSÍVEL
A Câmara Municipal de Ílhavo avançou com a 8.ª edição do Concurso Literário Jovem, destinado a alunos das escolas da área do concelho. A notícia está aqui, no meu blogue, um pouco atrás. Falar da sua importância será, à partida, desnecessário. Ninguém contesta o concurso, penso eu. Hoje e aqui venho somente alertar as comunidades educativas (professores, pais e responsáveis pelos diversos sectores da sociedade, directa ou indirectamente ligados às escolas) para a obrigação que têm, no sentido de estimularem a participação dos nossos jovens. Sem incentivos, muitos continuarão alheios a estas iniciativas. Venho com este alerta pelo seguinte: há tempos fiz parte do júri de um concurso de contos e, perante o reduzido número de concorrentes, um responsável garantiu-me que a organização se empenhou a fundo, junto das escolas, para que os alunos escrevessem contos e os enviassem. Recebeu a promessa de que a mensagem seria levada a todas as turmas. No fim, verificou-se, com tristeza, que a grande maioria das escolas ficou completamente alheia ao concurso. As conclusões são fáceis de tirar: os recados, a terem sido dados, não levaram a marca de um envolvimento condigno. Despacharam a “coisa” e está tudo dito. É pena. FM

SÍNODO DOS BISPOS LANÇA 53 PROPOSTAS

Homilias, diálogo com outras religiões, liturgia e estudo do texto bíblico entre as principais preocupações da assembleia sinodal.
As 53 propostas que a XII Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos vai apresentar a Bento XVI, no final dos trabalhos sinodais, vão ser votadas no próximo sábado, dia 25. Destinam-se a todos os católicos, que são convidados a ter em sua posse uma Bíblia. Uma palavra particular é deixada aos estudiosos do texto bíblico. Aos exegetas, é dito, que “devem ter em conta, como teólogos, que a Palavra tem uma dimensão ulterior que não pode ser esgotada com a mera pesquisa filológica, histórico-crítica, mas que exige um outro itinerário, uma outra aproximação que está no espírito de Deus, ou seja, a aproximação teológica em sentido estrito”. Num olhar mais virado para o interior, deseja-se que “os fiéis cresçam na consciência acerca da Palavra de Deus, da sua força salvífica” e também que a Igreja reforce a sua vocação missionária.
Fonte: Ecclesia

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O Fio do Tempo

O retorno das filosofias
1. Foi uma agradável surpresa de há dias o facto de no Brasil haver uma forte aposta, em termos educativos, na área de filosofia. Nas escolas dos vários níveis ela pertence aos programas dos sistemas (abertos) educativos, sabendo-se da importância do pensar para melhor compreender e agir. As próprias ciências sociais, humanas, políticas, psicológicas e neurociências, todas as abordagens da própria analítica tipológica dos comportamentos humanos precisa do horizonte interpretativo que a profundidade sistemática da reflexão filosófica propicia. Dos lados orientais do planeta esse potencial filosófico está garantido como inalienável património cultural. No ocidente fomos querendo instrumentalizar tudo, colocando na prateleira esta face pensante e reflectida da vida. 2. Ainda que tenha lugar um olhar crítico de suspeita sobre as visões metafísicas da filosofia, o facto é que tanto a ansiosa busca de sentido como sucessos literários semelhantes ao livro de Lou Marinoff (2002), Mais Platão, Menos Prozac, são bem reflexo dos desafios da realidade do tempo actual. O castelo social precisa de alicerces, a humanização dos sistemas de um fundamento condigno, a subsistência das éticas, a plataforma das religiões e das políticas… tudo o que move precisa do pensar e repensar como atitude filosófica espontânea comum que, para alguns, atingirá a capacidade sistemática de organização como pensamento a ser proposto. A urgência de pensar o agir é premência contínua mas ganha tanto mais pertinência quanto mais acelerada for a vida pessoal-social. 3. O desafio da quantidade dos tempos presentes precisa da garantia de qualidade. Esta, como dinâmica inspirada de reinvenção, provém do rasgo e da capacidade indispensável do pensamento. Não admira que países como o Brasil apostem na tecla certa para um desenvolvimento valorativo e uma humanização social de futuro. A tecnologia vai estando garantida. A filosofia, que lugar (nos) ocupa?
Alexandre Cruz

Emigrantes no “Pela Positiva”

É sempre com muita alegria que recebo notícias dos nossos emigrantes. Elas são a prova de que lêem os meus blogues e a certeza de que continuam sensíveis aos que se passa na nossa terra. Hoje ofereço parte de um e.mail do João Rodrigues, um gafanhão que não vejo há anos. “Gostava de fazer uma proposta... Frequentemente se fala no seu blogue acerca dos barcos bacalhoeiros, das secas, etc. Mas pouco se fala da ciência da construção de tais barcos. Os que sabiam construir tais embarcações estão a morrer, quase com a mesma frequência de grandes "símbolos"da nossa terra, e com eles toda uma ciência que bem poucos conhecem... Quantos contos e narrativas daí se poderiam tirar... Seria um grande favor para a história da Gafanha se alguém se propusesse a documentar tais factos. E segundo parece não há melhor qualificado de que o professor Fernando. E [outras pessoas], que tanto bem fizeram a muitos... será que as poderia entrevistar? Por favor, continue a falar da nossa gente com o mesmo brio e orgulho de sempre. Tal proposta vem ao encontro dos muitos artigos no blogue "Galafanha", que, para gente como eu, são um elo muito forte que nos une par além dos continentes. Obrigado, uma vez mais, pelo grande trabalho que está fazendo para benefício de todos os gafanhões.”
Um abraço João Rodrigues
NOTA: O João Rodrigues vive e trabalha num país sem acentos. Por isso, tive de fazer as devidas correcções. Diz o João que eu sou o "melhor qualificado" para escrever sobre o tema que sugere. Não é verdade. Há muita gente nas Gafanhas que sabem muito mais do que eu sobre esse assunto e sobre outros. Pode ser que eu convença algum a colaborar no meu blogue. Mas tens razão, João Rodrigues, quando dizes que há "símbolos" que começam a desaparecer, sem que alguém se preocupe com isso. Há tanto que fazer...
Um abraço
FM