terça-feira, 29 de abril de 2008

Ausente, mas presente quando possível

Ausente, mas presente quando possível. Por aí, onde encontrar uma porta que possa abrir, voltarei ao convívio com os meus leitores e amigos. Sempre com reflexos do que vi, li e senti.
FM

NA LINHA DA UTOPIA

A regulação do regresso à terra
1. As mudanças estão em curso. A par de toda a especulação económica, a incerteza cresce abalando mesmo com alguns fundamentos encontrados pelo pensamento ocidental, como a dignidade da pessoa humana no mundo do trabalho. No geral, os novos paradigmas asiáticos emergentes na lógica da quantidade nem sequer perdem muito tempo a discutir as questões, e a corrente social da China que esboça um primeiro alinhamento de algumas leis do trabalho não iludem a desumanização reinante. Uma nova regulação diante de um novo mundo torna-se um imperativo. Tanto a regulação do que anda desregrado como uma nova concepção reguladora, pois que as formas de ver antigas não respondem à nova complexidade e universalidade das problemáticas. 2. Por vezes aquilo que vai acontecendo todos os dias tem momentos de forte safanão. É o que tem acontecido nestes últimos meses. Uma onda de mobilidade económico-social que não pára, mas que se vai consolidando como permanente agitação. São as «dores do parto» do ajustamento da globalização económica em realização: conflituosa para quem estava acomodado, bem-vinda para quem descobre que um mundo com mais dignidade (pelo menos pão, água, medicamentos, mais esperança de vida) está à porta. As ditas sociedades de bem-estar estão a deixar esse lugar ao sol, no perigo que se corre nestas épocas de o sol continuar nascer só para alguns. O bem-estar, que não pode ser sinónimo de consumo (quanta educação para o consumo é hoje uma urgência!), é conceito móbil, vai mudando, adaptando-se aos novos cenários. 3. É o nosso regresso à terra! Vivemos séculos agrícolas, tudo vinha daí; depois com a revolução industrial absolutizámos a máquina; na revolução digital, agora, endeusámos a tecnologia. Até houve quem criasse quase incompatibilidade psíquica com a agricultura…! Também aqui os tempos são de rápida mudança e hoje até se chama «produto biológico» àquilo que outrora era a forma mais artesanal de produção agrícola. A correcção da história está aí: voltamos a reconhecer que a terra é imprescindível e que a agricultura é um bem primeiro da nossa própria subsistência vital com qualidade. O que temos assistido sobre os graves problemas (já presentes) da alimentação mundial vai-nos obrigar a repensar os modelos de vida em sociedade e a relação com a terra. Esta «terra mãe» quer ser cultivada, não explorada ou dominada quimicamente… 4. Haverá pão e água para todos se o verdadeiro sentido da «justa distribuição dos bens» imperar sobre todas as lógicas do ter (de alguns). Para isto é preciso uma filosofia ética e universal para a vida deste tempo. Também aqui, estamos como as terras… Abandonámos as filosofias, o pensamento, as ideias. Ainda estamos agarrados ao poder (tão frágil) das «coisas». Seja o pensamento humano (e humanitário) sempre o condutor de todas as regulações a reinventar. Sem ele não há bem comum. É mesmo urgente e cada vez mais inadiável!

Um poema de Afonso Lopes Vieira


Dança do vento

O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia.
Baila, baila e rodopia
E tudo baila em redor.
E diz às flores, bailando:
- Bailai comigo, bailai!
E elas, curvadas, arfando,
Começam, débeis, bailando.
E suas folhas, tombando,
Uma se esfolha, outra cai.
E o vento as deixa, abalando,
- E lá vai!...
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor.
E diz às altas ramadas:
Bailai comigo, bailai!
E elas sentem-se agarradas
Bailam no ar desgrenhadas,
Bailam com ele assustadas,
Já cansadas, suspirando;
E o vento as deixa, abalando,
E lá vai!...
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!
E diz às folhas caídas:
Bailai comigo, bailai!
No quieto chão remexidas,
As folhas, por ele erguidas,
Pobres velhas ressequidas
E pendidas como um ai,
Bailam, doidas e chorando,
E o vento as deixa abalando
- E lá vai!
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!
E diz às ondas que rolam:
- Bailai comigo, bailai!
e as ondas no ar se empolam,
Em seus braços nus o enrolam,
E batalham,
E seus cabelos se espalham
Nas mãos do vento, flutuando
E o vento as deixa, abalando,
E lá vai!...
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!


Afonso Lopes Vieira






- Antologia Poética (1966)

DIA MUNDIAL DA DANÇA


Uma simples dança pode mudar o ritmo da nossa vida

O “Para ti” é a folha dominical do CUFC. Para além dos textos da missa da eucaristia dos domingos, lembra, aos seus leitores, os Dias Assinalados, com o intuito de nos levar a reflectir um pouco. Semana a semana, vamo-nos dando conta de que cada dia, quase, é dedicado a um tema. Hoje, por exemplo, é o Dia Mundial da Dança. Os dançarinos, decerto, rejubilam com este dia e com a possibilidade que há de se pensar um pouco na beleza e na prática da dança.
É sabido que todos, desde a mais tenra infância, reagimos aos ritmos que as músicas ou os batuques nos impõem. Quem há por aí que não tenha visto crianças a tentarem acertar o passo ou mexendo o corpo, cadenciadamente, ao ouvir certas músicas? E quem há que não goste de bater o pé ou de menear a cabeça ao ritmo de bonitos sons musicais? E de ver quem dança com arte?
Por tudo isso, aqui fica a minha admiração por quem cultiva a dança, por quem dança e por quem gosta de apreciar a dança. Para não falar de danças mais ou menos complicadas, que exigem muito esforço e muito saber, por aqui me fico com um conselho: se puder, hoje, mesmo em casa, dance um bocadinho para celebrar o dia. E verá que, afinal, uma simples dança pode mudar o ritmo da nossa vida.

FM

"PORTUGAL E OS PORTUGUESES"


Um livro de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto

Esta Terça-feira, dia 29 de Abril, pelas 19 horas, será lançada a obra «Portugal e os Portugueses», da autoria de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto e Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.
A apresentação do livro, que terá lugar na livraria da Assírio & Alvim – Rua Passos Manuel 67B, Lisboa – será feita por Guilherme d’Oliveira Martins, Presidente do Centro Nacional de Cultura.
No primeiro capítulo – “Portugal e os Portugueses”, é reflectida a “relação entre os Portugueses e Portugal”. A segunda parte da obra – “Notas de Cultura Portuguesa” – aborda os temas do “Clericalismo e anticlericalismo na cultura portuguesa”, “O culto de Nossa Senhora: da fundação à restauração da nacionalidade”, “Maria na devoção dos portugueses – uma devoção nacional?” e “O Cristianismo é uma realidade ribeirinha”.
O terceiro e último capítulo – “Religião na Europa” – examina as questões do “Cristianismo e Europa: uma relação essencial” e “Religião na Europa: uma fronteira aberta”. Há ainda um anexo com entrevistas.
O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura apresenta o primeiro texto da obra – “Relação entre os Portugueses e Portugal” – que foi publicado pela primeira vez em Annualia 2006-7, da Editorial Verbo.
"A relação que mantemos com Portugal é, fundamentalmente, bíblica. Olhamos Portugal como uma personalidade colectiva portadora de uma alma, no sentido romântico do termo, ainda que referido a algo muito anterior ao Romantismo. E a relação que mantemos com esse gostoso e custoso colectivo vem na esteira de um outro povo, que se descobriu eleito e portador de uma missão universal", pode ler-se.

Fonte: Ecclesia. Clique aqui para ler mais

PONTES DE ENCONTRO


Cereais: de novo, para ajudar a entender!

Por mais de uma vez tenho abordado algumas questões relativas ao aumento dos cereais, em todo o mundo, com a consequente escassez destes bens alimentares na dieta básica de milhões de pessoas, o que tem provocado reacções de todo o género, que vão das manifestações públicas, em todos os continentes – algumas até bem violentas -, até a declarações de preocupação, proferidas por vários responsáveis políticos e religiosos, designadamente ao nível da Organização das Nações Unidas, independentemente da ineficácia que vem demonstrando, desde há vários anos, no seu funcionamento.
São factos indesmentíveis, ainda que, relativamente à causa, ou causas, que estão na origem destes aumentos, continuam a não aparecer respostas claras, explícitas e objectivas. Esta falta, persistente, de esclarecimentos rigorosos não deixa de ter uma leitura, a meu ver, negativa, pois começa a sobressair a ideia de que as explicações surgem em função dos interesses políticos ou ideológicos de quem diz que os dá.
Ainda, ontem, dia 28 de Abril, ouvi dois economistas portugueses a falarem deste assunto e os argumentos ou as razões de ambos não foram nada coincidentes.
Estaremos perante uma situação cujas explicações surgem em função de se gostar e defender, ou não, uma qualquer teoria económica?
Se assim for, tenho dificuldade em compreender porque é que as Nações Unidas promovem, a partir de hoje, dia 29, uma reunião na cidade de Berna, na Suíça, para discutir a crise alimentar mundial, tendo o seu mandatário a esta reunião, Jean Ziegler, referido que o direito à alimentação é “um direito fundamental para todos os que têm fome no mundo”.
Para este alto funcionário da ONU, o papel dos biocombustíveis, na crise alimentar, tem sido determinante nos aumentos dos cereais e a grande causa da fome no mundo, acusando a indústria dos biocombustíveis de estar por trás da súbita escalada do preço dos cereais.
Jean Ziegler ainda se pronunciou sobre a especulação, que calcula ser responsável em trinta por cento no aumento do preço dos produtos alimentares, estando, segundo disse, por trás das recentes interdições à exportação de arroz, em grandes países produtores, como é o caso do Brasil.
Esta iniciativa da ONU foi, entretanto, noticiada pela Rádio Vaticano.
Quanto à Comissão Europeia, deixou, ontem, um alerta sobre a crise alimentar. Nas suas previsões de Outubro de 2007, esperava uma subida de dez por cento, no preço da comida para o ano de 2008. Agora, diz que o aumento será de trinta e nove por cento, por causa da especulação, segundo notícia do “Diário Económico”, de hoje.
Voltando a ontem, dia 28, o economista João César das Neves escreveu um artigo de opinião, no jornal “Diário de Notícias”, com o título “O Fantasma da Fome Global”, no qual, reconhecendo que “A subida mundial dos preços alimentares é um tema dramático”, parece, depois, entrar em considerações onde “ A atenção mediática” centrada “em alguns efeitos pontuais”, o “Nervosismo internacional, maus anos agrícolas e instabilidade sociopolítica local hão-de passar.”
Falando da “famigerada especulação”, João César das Neves refere que “só de vez em quando surge para ficar com culpas.”
Afinal no que ficamos? Será que está tudo bem ou a caminhar para isso, não passando todas estas as notícias, destes últimos dias, de um alarmismo injustificado e perigoso?

Vítor Amorim

segunda-feira, 28 de abril de 2008

JARDEL ALERTA PARA O PERIGO DA DROGA


Em entrevista à Rede Globo do Brasil, Jardel, o grande goleador que ensinou como se marcam golos com aparente facilidade, passou um mau bocado na vida. De um dia para o outro, o goleador, o jogador que decidia campeonatos, como aconteceu no Sporting, foi derrotado pela cocaína. Confessou isso mesmo em entrevista que está a correr mundo. Quer, agora que se considera curado, pois não consome drogas há dois meses, voltar a jogar num clube grande do seu país, numa luta consigo mesmo. Resta saber se aos 34 anos ainda conseguirá marcar golos que resolvem jogos. Para mim, porém, a sua grande lição de vida está no testemunho que deu com a entrevista, alertando a juventude para o perigo da droga. Perigo que pode pura e simplesmente destruir um grande jogador. Ou um homem!

Coimbra: IPO


Na sala de espera do Instituto Português de Oncologia está sempre patente o rosto do País doente. E se não faltam expressões de dor, também nos confrontamos sempre com sinais de esperança.
Hoje estive em Coimbra como acompanhante de um familiar, para consulta de rotina. Nada de grave, é certo, mas é bom cultivar a prevenção. E ali, na sala de espera cheia de pacientes e acompanhantes, os meus olhos saltitaram de rosto para rosto, na ânsia de perscrutar o que ia na alma de cada um. Uns denotavam tranquilidade, outros reflectiam angústias, outros acreditavam na cura, outros fixavam os seus olhares num horizonte muito longe dali. Falta de cabelo disfarçada com lenço garrido em forma de chapéu que mãos hábeis souberam aconchegar, rostos macilentos, ternura em casais mais jovens e menos jovens, solidão de quem está só e que chega com bombeiro a ajudar. Todos os dias é isto.
Mas hoje ainda reparei nos voluntários que dão a sua alegria aos pacientes. Uns que acompanham os doentes às salas das consultas ou dos tratamentos, atentos e carinhosos; um que chega para anunciar, com ar de brincalhão, que todos podem dirigir-se ao átrio para tomar chá, café ou leite, “com umas bolachinhas”, tudo de graça, porque é oferta da Liga Portuguesa Contra o Cancro; outro que nos pergunta, solícito, se estamos com alguma dificuldade; outro, ainda, que anuncia que o São Pedro nos pregou uma partida: “andou-nos a dizer que tinha chegado o Verão e, afinal, está a chover.”
Que não senhor, responde um doente, “ainda agora vim de lá de fora e estava bom tempo”. “Olhe que não, olhe que não”, responde o voluntário. E lança o desafio: “vá ali à janela e já vê.” E alguns foram. Eu também. E estava mesmo a chover. Mas logo o Sol brilhou.

FM

RIA DE AVEIRO

(Clicar na foto para ampliar)
O meu amigo e amante da fotografia Carlos Duarte teve a gentileza de me enviar esta foto da nossa Ria com a Gafanha d'Aquém à vista. Dizia-me ele que era para o meu arquivo. Contudo eu acho melhor partilhá-la com os meus leitores. É que guardá-la poderá ser interpretado como sinal de egoísmo. E eu não estou nada interessado em cultivar esse defeito. Aqui fica ela com um abraço para o Carlos Duarte.

Na Linha Da Utopia


As Juventudes, todos os dias

1. Como hábito, o discurso presidencial do chamado dia da liberdade trouxe à ribalta sentimentos e preocupações que são reflexo da vivência diária da sociedade portuguesa. Desta feita o centro de referência foi a juventude. Duas tónicas foram sublinhadas: a «ignorância dos jovens» em relação à história política recente de Portugal, e nela a do 25 de Abril, e a «notória insatisfação» dos portugueses em relação ao funcionamento da vida política e democrática. Do que foi revelado pelo estudo efectuado sobre o alheamento das juventudes face à política, a configuração político-partidária tem deixado bastante a desejar nestas décadas democráticas.
2. Se por um lado se pode justificar o alheamento dos jovens da nossa história contemporânea pelo facto da idade, pois os jovens de hoje não viveram esse tempo concreto, por outro toda a complexidade da história que encerra a revolução dos cravos parece ainda mal compreendida, carecendo de uma pacificação na sua justa e contextual análise. No fundo, como tem sido passado esse testemunho e que «liberdade» tem falado da liberdade do 25 de Abril? Sem ocultar todos os complexos ângulos da questão, mas sem revivalismos que bloqueiam entendimentos em ordem ao futuro. Também, ainda que a história já fosse pacífica (se é que algum dia o será), uma certa indiferença da liberdade das juventudes vai assumindo contornos de desconhecimento dos pilares sociais fundamentais. Sem simplismos, tudo hoje corre demais e a história corre o perigo de passar à história.
3. Talvez, neste incompleto de essência da própria liberdade, afirma-se como imperativo tanto a consciência de que o regime da liberdade não pode esquecer a sua origem, como o não perder a consciência de que essa liberdade não é um dia histórico mas será tarefa diária. Talvez já seja pacífico entre as diversas correntes políticas a frase que o presidente da República referiu, pensamento semelhante ao de anteriores presidentes: que «num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar». Efectivamente, só quando as liberdades sintonizarem com todas as responsabilidades então atingiremos a meta... O estudo apresentado (como caminho de reflexão) revela que os jovens mostram aptidões extraordinárias para o voluntarismo social. Esta energia, que os partidos foram perdendo progressivamente, quererá ser integrada como dinamismo positivo na sociedade de todos…
4. O partido do governo no comentário ao discurso presidencial, destacava a «necessidade de envolver os jovens na política». Mas esta urgente consciência de participação cívica e democrática não cai do céu de forma instantânea. Importa alimentar de valores, éticas e princípios toda a vida social e, em particular, co-responsabilizando os jovens pelo presente (que é já futuro). Os jovens olham e perguntam: em que escala de valores se alicerça a vida social? Qual o lugar do ter em relação ao ser? É nesta fonte que a água terá de deixar de ser inquinada, quando não a mensagem não passa, antes pelo contrário. Também o optimismo precisa de raízes (no ser) para ter sustentabilidade. Quantas decisões, explícitas ou não, vão no caminho contrário ao da co-responsabilidade dos jovens na vida da comunidade…Vale a pena parar, apreciar e promover as instâncias que efectivamente apoiam os jovens numa vida com sentido e com valores sociais.

Alexandre Cruz

domingo, 27 de abril de 2008

O Papa Bento XVI nos Estados Unidos


Embora evitasse temas tão sensíveis nos Estados Unidos como a democracia e a discriminação das mulheres na Igreja ou a pena de morte, por exemplo, há quase unanimidade no reconhecimento do êxito da visita.
Dois objectivos principais moviam o Papa: tentar sarar as feridas profundas na Igreja e no país, causadas pelos abusos sexuais de padres com menores, e a visita à sede das Nações Unidas.
Quanto aos abusos sexuais, logo no voo a caminho de Washington, disse aos jornalistas que sentia “profunda vergonha”. Outra coisa, aliás, não poderia dizer. De facto, trata-se de pelo menos quatro mil padres pedófilos que abusaram de muitos milhares de menores. É repugnante e intolerável, tanto mais quanto a Igreja tem um discurso moral duro e até intolerante sobre a sexualidade. A Igreja perdeu, pois, autoridade moral e muitos crentes sentiram-se abalados na sua confiança.
Em sucessivas intervenções, o Papa referiu o incalculável sofrimento infligido por esses padres e reprovou que a hierarquia tenha “por vezes gerido muito mal” o problema.
Depois, num gesto inesperado, ouviu e conversou com um grupo de vítimas, no sentido de restaurar a esperança.
Para que a hipocrisia acabe e a ignomínia se não repita, é preciso tomar medidas concretas, pois a pedofilia é crime e há incompatibilidade entre o sacerdócio e o abuso sexual de menores. Uma das vítimas dirigiu ao Papa palavras duras: “Disse-lhe que tem um cancro na sua Igreja e que tem de fazer algo para atalhá-lo.” Aliás, há muito que a situação era conhecida – basta ler a obra The Changing Face of the Priesthood, de Donald B. Cozzens, que não é anticlerical. São necessárias mudanças, também ao nível institucional, e uma nova visão dos ministérios na Igreja.
No discurso na sede das Nações Unidas, no sexagésimo aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, defendeu a universalidade dos direitos humanos, sublinhou o seu fundamento e criticou as interpretações relativistas.
Os direitos humanos baseiam-se na “lei natural inscrita no coração do Homem e presente nas diversas culturas e civilizações”, sendo “cada vez mais apresentados como a linguagem comum e o substrato ético das relações internacionais”.
A sua universalidade, indivisibilidade e interdependência são outras tantas “garantias de protecção da dignidade humana.” É “evidente” que “os direitos reconhecidos e expostos na Declaração se aplicam a cada ser humano em virtude da origem comum da pessoa, a qual continua a ser o ponto central do desígnio criador de Deus para o mundo e para a História.” Desligá-los deste contexto “significaria restringir o seu alcance e ceder a uma concepção relativista, segundo a qual o sentido e a interpretação dos direitos poderiam variar e a sua universalidade poderia ser negada em nome das diferentes concepções culturais, políticas, sociais e mesmo religiosas.”
Ora, “a grande variedade de pontos de vista não pode ser motivo para obscurecer que não são só os direitos que são universais, mas igualmente a pessoa humana, sujeito desses direitos.”
A promoção dos direitos humanos na sua indivisibilidade é “a estratégia mais eficaz” para acabar com as desigualdades e reforçar a segurança. De facto, as vítimas da miséria e do desespero tornam-se presas fáceis dos que recorrem à violência e ameaçam a paz.
Depois de sublinhar a necessidade de “um consenso multilateral” na resolução dos problemas do mundo, talvez a novidade do discurso esteja na afirmação do direito de ingerência: todo o Estado tem o dever primário de proteger a dignidade da pessoa humana e os seus direitos, mas, “se os Estados não são capazes de garantir esta protecção, a comunidade internacional deve intervir com os meios jurídicos previstos pela Carta das Nações Unidas e outros instrumentos internacionais.”
É obvio que os direitos humanos devem incluir o direito à liberdade religiosa, que não se pode limitar ao livre exercício do culto, pois deve-se ter na devida conta “a dimensão pública da religião e, portanto, a possibilidade de os crentes contribuírem para a construção da ordem social.”
Anselmo Borges, no DN de sábado

Na Linha Da Utopia


A crise do arroz
1. Cerca de metade da população mundial tem no arroz a sua base alimentar. Este mapa cresce tanto mais quando tomamos consciência da acentuação demográfica da Ásia, populações nas quais o arroz se assume quase como uma matriz cultural. A reconfiguração mundial da globalização económica vai-nos trazendo os seus efeitos inevitáveis, e a adaptação aos novos contextos é tarefa sempre difícil. Lembramo-nos de há algumas semanas a crise dos cereais, nomeadamente de trigo, ter despertado as instâncias económicas mundiais para cenários de crise sem precedentes, ou não fosse o trigo da base do pão, o elemento mais básico da alimentação, das mesas humanas.
2. Sem alarmismos, mas na consciência realista do que está a acontecer, vem agora o alerta estatístico da crise no mercado mundial do arroz, tido de «consequências imprevisíveis». O preço tem subido em catadupa, recordes de sempre são batidos. Os níveis de produção são, desproporcionalmente, dos mais baixos desde a década de oitenta. As reservas mundiais estão em risco de colapso histórico, enquanto a procura não para de aumentar. As instâncias dos fundos alimentares e os programas das Nações Unidas da área estão cabalmente em risco... Até mesmo o Banco Mundial vem lançando alertas para os trágicos perigos de problemas sociais para mais de trinta países, onde o arroz tem sido a salvação das gentes.
3. Já se reconhece abertamente que não há arroz para responder às encomendas necessárias. Os países produtores fecham-se nos receios da revolta de suas populações. O grande Brasil suspendeu as exportações, medida com efeitos imediatos; os EUA já têm racionamento à sua venda. América Latina e África, na ausência do arroz agravam a sua crise de fome e instabilidade social. Como sempre, que o diga a negociata global do petróleo, é a oportunidade para os grandes negócios de alguns. A crise tem sempre o reverso da medalha, sendo para uns poucos a oportunidade de enriquecimento na subida astronómica dos preços, como se verifica na Tailândia, o maior exportador mundial de arroz.
4. É o «tsunami silencioso», que já faz da fome a notícia que este século tecnologicamente pródigo vai semeando. Segundo agências de informação, no Vietname os produtores foram proibidos de assinar contratos de exportação a partir de Junho; o Egipto, já desde Outubro, baniu os carregamentos para o exterior; na China, o governo aplicou uma taxa extra de 5% a produtores que pretendam exportar. As medidas restritivas, diante das crescentes incertezas de uma economia mundial comandada pela loucura dos preços do petróleo, vão-se multiplicando. Também se pode juntar a este cenário, não só a nova força dos biocombustíveis mas a chegada dos novos especuladores americanos, que da tragédia dos mercados imobiliários, transitaram agora para as matérias-primas. Novos contextos do ajustamento da globalização económica, mas com novos riscos que fazem temer o pior: a chocante e gritante fome, aqui ao lado, em pleno séc. XXI. Quanto a nós, é proibido esbanjar e estragar comida! Seja um pedacinho de pão!

ESTÔMAGOS VAZIOS GERAM REVOLUÇÕES

O trigo subiu 130 por cento

O problema da escassez de alimentos começa a inquietar o mundo. O tema já foi abordado, com oportunidade, pelo meu colaborador Vítor Amorim, hoje e aqui no meu blogue, mas será sempre bom voltarmos a ele, porque tudo quanto se disser não será demasiado.
Em opinião, na coluna lateral, Ferreira Fernandes, do Diário de Notícias, lembra até que “o estômago vazio é que dá horas às revoluções, não a falta de liberdade”. E é verdade.
O PÚBLICO de hoje dedica umas boas seis páginas ao assunto, porque é importante reflectir com muita seriedade, sob pena de perdermos a carruagem da busca de soluções, que são inadiáveis.
Ao abordar a questão da fúria dos pobres, lembra que ela já está em campo, prenunciando revoluções sociais de consequências imprevisíveis, apoiadas, essencialmente, na falta de pão. Recorde-se, antes de mais, que os preços baixos da alimentação duraram 40 anos e que, de um dia para o outro, as subidas foram simplesmente brutais, segundo o PÚBLICO: o milho aumentou 31 por cento, o arroz 74 por cento, a soja 87 por cento e o trigo 130 por cento.
Paralelamente, os protestos não param: México, Marrocos, Mauritânia, Guiné, Camarões, Senegal, Costa do Marfim, Madagáscar, Moçambique, Etiópia, Haiti, Indonésia, Iémen e Paquistão dão, entre outros países, o tom ao descontentamento. Alguns países já suspenderam as exportações e noutros começaram as restrições à venda de alguns produtos alimentares. Tudo, ao que se diz, por causa do aumento das populações, dos biocombustíveis e do preço petróleo, que não pára de crescer.
FM

CHINA ACEITA DIALOGAR COM DALAI LAMA


Afinal, os protestos sempre surtiram efeito. A China já aceitou dialogar com Dalai Lama, o líder espiritual tibetano. No entanto, a imprensa chinesa não desarma e prossegue com os seus ataques, dando pouca importância à oferta do regime de Pequim. Dalai Lama, contudo, já afirmou que quer discussões "sérias" com a China, porque em causa está a liberdade e a defesa da cultura tibetana. Vamos esperar para ver. De qualquer forma, o facto de Pequim acolher os próximos Jogos Olímpicos, já por si pode estar na base deste diálogo. Ainda bem.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 75

Prova caligráfica de João Simões Amaro, em 9 de Julho de 1930, na escola da Cambeia.
O professor atribuiu-lhe a classificação de Bom. (clicar na foto para ampliar)






TINTEIROS, CANETAS E APAROS

Sentados nas carteiras, dois a dois, três a três ou mesmo quatro a quatro, começávamos por gatafunhar com os lápis de bico mais ou menos rombudo. Falaremos deste e de outros lápis quando nos dedicarmos ao desenho; hoje fiquemos pela escrita no papel... Durante largos meses, os nossos dedos faziam equilíbrios mirabolantes no lápis (por mais que esticássemos o dedo indicador nunca estava na posição correcta! Que martírio...)
Quando, por alturas do Carnaval, passávamos para a letra miudinha do livro de leitura, a nossa Professora mandava-nos comprar uma caneta! No nosso tempo na loja só havia daquelas redondas e coloridas. O primeiro encantamento era pois para os “traços e arabescos” que atravessavam ou corriam ao comprido do nosso novo e mágico instrumento; depois era o aparo a que se chamava “bico”. Quanta arte e feitiço nestes apetrechos metálicos: uns redondos e curvos, outros mais esbranquiçados mas direitos e duros; aguçados estes, largos e achatados aqueles...
Havia situações do arco da velha: quando o dinheiro não chegava para pôr de lado os tostões que custava a caneta e não havia possibilidades de ter acesso a uma por empréstimo ou por herança, o caso levava os pais a fazer a tal caneta... A obra até podia ser prima mas o “sortudo” não achava piada nenhuma, porque fugia da norma e, pior do que isso, quase nunca o bico se segurava direito! Era um tormento!
Não queria afastar-me do assunto... Primeiro dia de escrita com a caneta: nós, os que passámos por ele, ainda nos lembramos dos dedos pintados de azul e dos pingos de tinta que caíam (como?) no papel e inutilizavam todo o trabalho realizado até essa altura; havendo borrata tinha de se repetir tudo desde o princípio!
Em cada carteira, dois tinteiros esperavam sempre de boca aberta que molhássemos os aparos. E muita tinta se gastava! De quando em vez, os alunos da quarta renovavam a reserva nos frascões enormes, desfazendo o anil na água que se ia buscar ao vizinho ou se trazia de casa.
Diga-se, porém, que o uso destas canetas levava as crianças a desenvolverem certo gosto artístico. Como as provas de passagem e de exame tinham uma componente que se chamava “Caligrafia”, era forçoso praticar; se o/a Professor/a tivessem veia, era certo e sabido que os alunos logo aí deixavam marcas de bela e perfeita letra, com finos e cheios, com hastes e barrigas elegantes...
Só mais uma imagem: a escrita nos dias gelados de Inverno! Bem, só de pensar em tal, o computador até se engasgou e, deu-me a impressão, que lágrima furtiva caiu do tinteiro automático... Para quê mais tormentos?!

Manuel

BICENTENÁRIO DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO - 7


As comemorações do Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro prosseguem. A Secção Filatélica e Numismática do Clube dos Galitos associa-se à efeméride, com a realização da Mostra do Mar – mostra filatélica subordinada ao tema Mar.
Esta iniciativa realizar-se-á de 2 a 7 de Maio, nas instalações da antiga Capitania do Porto de Aveiro (no centro da cidade).
O carimbo comemorativo será lançado sábado, dia 3 de Maio, pelas 14h00, no local da Exposição.
A partir das 15h30m, realizar-se-ão três palestras subordinadas aos seguintes temas:
- “Os Estaleiros dos Mónicas na história da construção naval na Ria de Aveiro”, pelo Capitão João Batel;
- “História Postal – Correio Marítimo”, pelo Dr. Luís Frazão;
- “Pesca do Bacalhau – uma viagem”, pelo Capitão Marques da Silva.

Aveiro, o Clube dos Galitos, a Secção Filatélica e Numismática e a Comissão das Comemorações do Bicentenário da abertura da Barra aguardam pela vossa visita.

PONTES DE ENCONTRO


Falta de alimentos e respostas, porquê?

Tanto no dia 27 de Março como no dia 17 de Abril, do corrente ano, tive a oportunidade de partilhar dois textos sobre dois bens que estão a influenciar, cada vez mais, o destino do mundo: o preço do petróleo e a escassez e o aumento dos cereais. Em ambos os casos, procurei transmitir uma ideia que me parece óbvia: o mundo entrou em “roda-livre” e ninguém parece entender-se nele, ou seja, nem nos mercados mais liberalizados e concorrenciais pode valer tudo.
Agora, ninguém assume responsabilidade por nada e quando são tomadas algumas medidas têm, sempre, um carácter pontual e temporário, pelo que a necessária estratégia global e concertada, com líderes capazes de a executarem, está na casa dos sonhos.
Mesmo nas economias de mercado-livre e concorrencial, mais ou menos liberais, tem que haver regras e regulamentos a cumprir, para além dos organismos de supervisão que têm que fiscalizar e regular os próprios mercados.
Parece, no entanto, que alguém se “esqueceu” destes princípios básicos da economia liberal ou neoliberal e, outros, aproveitando esta “amnésia”, trataram de se governar a si mesmos. A criação de redes económicas fortes e impenetráveis, que fogem ao controle de tudo quanto é autoridade, é uma realidade indisfarçável. As margens de especulação tornaram-se a rainha dos negócios e ninguém parece saber quem são os especuladores e por onde anda o dinheiro.
Se tudo isto já era péssimo, as coisas agravaram-se com o preço abrupto dos cereais, em nome da produção dos biocombustíveis. Mas, também aqui, as causas não são pacíficas.
Sendo a alimentação um bem de consumo, sem qualquer equivalência com qualquer outro bem – ou se come ou se morre –, custa a crer como é possível dar mais valor a um biocombustível, para fazer andar um automóvel, do que a uns quilos de milho, para alimentar uma pessoa e ela possa viver.
No passado dia 24 de Abril, o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, alertava para os perigos que milhões de pessoas correm, se a falta de alimentos se mantiver. ONU que, por sua vez, necessita de ser reformada, onde os países emergentes terão um novo papel a desempenhar e o poder de veto do Conselho de Segurança tem que ser revisto.
Também, no mesmo dia, era noticiado, no jornal Público, que, nos EUA, um dos mais importantes retalhistas do Grupo Wal-Mart, o Sam´s Club, passou a restringir a venda de arroz, coisa que não acontecia desde a 2ª Guerra Mundial (1939-1945)!
Igualmente, no dia 24, no Parlamento Europeu, vários deputados pronunciaram-se sobre estas questões. No entanto, não surgem respostas credíveis e tudo parece andar ao sabor das circunstâncias de cada momento.
Neste mesmo dia 24, a Agência Ecclesia noticiava que a AEFJN (Rede África-Europa Fé e Justiça) está a desenvolver uma campanha que visa alertar para os riscos da aposta nos biocombustíveis, sobre as populações mais pobres, frisando que a nova política energética europeia pode colocar em causa “o direito à alimentação dos africanos e dos países mais pobres.”
A Rede África-Europa Fé e Justiça foi criada, em 1988, por vários Institutos Religiosos e Missionários, que trabalham na África e na Europa, e pretendem promover a justiça nas relações entre os dois continentes, inspirada na doutrina social da Igreja Católica.
Será tudo isto apenas alarmismo? Se o é, porque é que ninguém parece em condições de dar respostas cabais ou fazer desmentidos, mesmo a nível da ONU?
Hoje, 230.000 portugueses ainda receberam comida, que lhes é fornecida, diariamente, pelo Banco Alimentar Contra a Fome, sendo os idosos os mais vulneráveis.
E, amanhã, como será? Creio que esta resposta, ainda, pode ser dada pelos homens!

Vítor Amorim

sábado, 26 de abril de 2008

Um poema de Orlando Figueiredo


Um navio de rosas

Como se fosse o princípio do mundo
olhei o mar dos teus pensamentos
e decidi construir
um navio de rosas

Tinha duas rotas
qual delas a mais bela

O navio quedou-se
encalhado nos teus dedos

As rosas
dormem comigo
todas as noites

Orlando Jorge Figueiredo

CALORZINHO: Como ele sabe bem!


Hoje, o calorzinho encheu-me as medidas. Quase nem podia sair de casa, tão forte é ele. E alguém se me queixou, dizendo que estava insuportável. Respondi que assim é que está bem, desde que chova de quando em vez, de preferência à noite. À noite, para podermos usufruir da natureza acolhedora que nos envolve. E como a Net está a dormitar, decerto com o calor, dando-me cabo da cabeça, por aqui me fico com votos de bom fim-de-semana, se possível em espaços verdes, como este que vos ofereço.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Basquetebol na Gafanha da Nazaré


Hoje resolvi assistir a um jogo de basquetebol no Pavilhão Desportivo da Gafanha da Nazaré. Devia esse gesto ao meu neto Ricardo que joga nos iniciados do Grupo Desportivo da Gafanha. Sempre gostei de desporto, mas ultimamente tenho-me situado ao nível do sofá, para ver o que se joga e como se joga na televisão. Reconheço, contudo, que a nossa juventude precisa de estímulos, porque o desporto, quando bem orientado, é uma riquíssima escola de virtudes.
Gosto de ver basquetebol, por me parecer um desporto que não pactua com violência entre atletas. À menor falta ou toque no adversário, a punição vem logo. Quem quer ganhar tem de mostrar não só habilidade mas também muito treino.
No confronto com o Esgueira, o Gafanha perdeu, desta vez, por 66 – 81. No fim do jogo, porém, não faltaram os aplausos para as duas equipas, que se portaram com muita dignidade, mostrando que têm treinado bastante. Não é de um dia para o outro que estes jovens acertam com o cesto.
Foi bonito de ver o entusiasmo dos atletas e treinadores e as palmas dos poucos assistentes que contemplavam os jogadores e as jogadas das duas equipas. Porque, confesso, não esperava ver jovens com tanta habilidade, alguns dos quais verdadeiros craques da bola ao cesto.
Os meus parabéns a todos, com votos de que continuem no desporto. Já agora, permitam-me que sublinhe que nem só de futebol podem viver os nossos jovens.

F. M. 

25 de Abril


Comemora-se hoje mais um 25 de Abril. Houve os tradicionais discursos comemorativos na Assembleia da República, um dos símbolos da liberdade então conquistada. Assembleia que se vestiu de gala para recordar uma data histórica que marcou a era de uma nova democracia.
Paralelamente às celebrações oficiais ao nível mais alto do Estado, registo o silêncio na grande maioria das autarquias portuguesas, afinal um símbolo do Poder Local que se enraíza nas conquistas de Abril. Esse silêncio, malhas que a ignorância e a injustiça tecem, merece ser combatido. Realmente, sem o 25 de Abril, não teríamos um Poder Local tão expressivo e tão defensor dos interesses das nossas gentes.
Ouço e leio quanto baste para saber que o 25 de Abril tem defensores acérrimos e críticos ferozes. Uns e outros, ao que julgo, terão algumas razões para cantar vitórias e para manifestarem a sua tristeza. Ambas as situações encarnam beneficiados com a liberdade e condenados à pobreza.
Há tempos, entre amigos, falava-se disso. Um idoso ouvia em silêncio os prós e os contras do 25 de Abril, ao jeito de quem pensa que não tem voto na matéria. Ouviu, ouviu, e em determinada altura comentou secamente: “Está tudo muito bem; talvez todos tenham razão; mas eu não queria voltar atrás!”
FM

O 25 DE ABRIL E O FUTURO


Passados 34 anos sobre o 25 de Abril de 1974, altura em que foi derrubado o regime que vigorou em Portugal durante quarenta e oito anos, muitas são as opiniões divergentes, que ainda hoje se fazem sentir. É natural e salutar que assim seja.
Para uns, tratou-se do corolário de uma luta, de décadas, que culminou na “revolução dos cravos”, acabando com o regime fascista, corrupto, ditatorial e sangrento que governava Portugal.
Para outros, foi o fim do sonho do grande império colonial, que começava no Minho e acabava em Timor, sendo um dos baluartes dos valores cristãos e da luta anticomunista que o mundo ocidental travava contra os chamados “países da cortina de ferro”.
Para alguns, o 25 de Abril, foi uma oportunidade de assumirem a personagem de “vira-casaca” adaptando-se às novas circunstâncias criadas e tirando delas os máximos benefícios, em proveito próprio.
Um outro grupo de portugueses – bem minoritário – para quem o 25 de Abril de 1974 representava uma ruptura com um passado bolorento e caduco, via a grande oportunidade de iniciarem reformas de fundo, em nome dos princípios então em voga: liberdade, igualdade e fraternidade, através de uma democracia de qualidade.
Os exemplos poderiam continuar, mas estes bastam para dizer que cada português teve, ou não, o seu 25 de Abril, através da forma como o viveu e como este lhe modificou, para melhor ou pior, o seu modo de viver e de pensar, a sua qualidade de vida e as expectativas que lhe foi gerando relativamente ao seu futuro pessoal e colectivo.
O Primeiro-ministro sueco, Olaf Palme (1927-1986) disse, relativamente ao 25 de Abril de 1974, que “Fazer uma revolução era fácil; difícil é fazer reformas”.
Dito de outro modo: falar é fácil, pelo menos a partir de Abril de 1974 passou a sê-lo; o difícil é, como noutras ocasiões, encontrar quem tenha competência e vontade de trabalhar, em nome do bem comum.
Mesmo descontando a tendência que o português tem para um pessimismo doentio e miserabilista, será que se fez tudo o que era possível para sermos um povo com mais esperança no presente e com mais confiança no futuro?
Deveríamos e poderíamos ter ido muito mais além, na criação de melhores condições de vida para os portugueses e se tal não aconteceu foi pela fraca prestação daqueles que se têm ocupado da gestão dos bens públicos – sobretudo os partidos políticos, e mais concretamente os que têm ocupado funções de poder.
Não menos importante, é o fraco grau de cidadania assumida pelos portugueses e a sua falta de exigência, justa e legítima, perante quem os deve ajudar, servindo-os. Costuma-se dizer que “quem cala consente” e o conformismo e o silêncio são os piores inimigos para o desenvolvimento de uma sociedade.
António Barreto, concorde-se ou não com a pessoa ou com o seu percurso político-partidário, escreveu no jornal “Público”, de 27 de Janeiro de 2008: “Este é o mundo em que vivemos: a mentira é uma arte. Esta é a nossa sociedade: o cenário substitui a realidade. Esta é a cultura em vigor: o engano tem mais valor do que a verdade.”
Falar, nos dias de hoje, do 25 de Abril de 1974, é pensar e falar na capacidade que temos em regenerar o que tem que ser regenerado; aperfeiçoar o que tem que ser aperfeiçoado; na vontade em resolvermos as dificuldades e problemas que nos surgem e na qualidade de vida e de democracia que podemos prometer e cumprir, de forma competente, perante todos cidadãos.
Se assim não for, o 25 de Abril de 1974 será sempre passado sem sentido e um memorial de recordações e nostalgias que jamais poderão fazer parte do futuro.

Vítor Amorim

A CIDADE ENCHEU-SE DE ALEGRIA


A afirmação é de Lucas, o médico. Expressa o ambiente social criado pela actuação de Filipe, o fugitivo de Jerusalém, após a morte de Estêvão. Relaciona a verdadeira alegria com Jesus Cristo. Atesta a simpatia e a atenção que as multidões lhe dispensam. Testemunha a transformação operada na cidade liberta de males ameaçadores.
O anúncio de Jesus é feito por palavras acompanhadas de gestos concretos. A união de ambos torna credível a mensagem. O povo da Samaria, apesar de praticar uma religião híbrida, adere cheio de entusiasmo. O facto torna-se notícia e chega a Jerusalém. Os Apóstolos vêem-se perante uma situação nova e enviam Pedro e João para verificarem o sucedido. Reunida a assembleia, oram e confirmam o trabalho feito por Filipe, impondo as mãos aos que haviam sido baptizados. E o Espírito Santo revela-se presente com os seus dons e dando os seus frutos.
Aceitar Jesus é viver este dinamismo de transformação, nascido no coração e configurado nos comportamentos sociais; é reconhecer na cidade a presença de forças opressoras que devem ser banidas porque indignas da condição humana; é apreciar a verdade, fonte da autêntica liberdade e nutriente da genuína responsabilidade; é abrir horizontes à realização humana que tem em Jesus Cristo a sua medida plena e o seu modelo perfeito; é assumir a dimensão pública da fé e da ética, sem preconceitos redutores nem tentativas avassaladoras.
Aceitar Jesus é acolher o Seu Espírito Santo e deixar-se moldar por ele. A acção do Espírito em nós é suave e não abrupta, assertiva e não negativa ou proibitiva, propositiva e não impositiva, performativa e não estática e esterilizada.
O Espírito de Jesus guia-nos para a verdade do ser e do agir humanos, para a lucidez crítica dos factos e dos comportamentos, para a compreensão inteligente das situações e dos rumos do futuro que o presente vai desenhando, para a aceitação responsável e histórica da nossa atitude.
Realmente, agora é a nossa vez. Amanhã será de outros. É no hoje de cada dia que imprimo a minha marca e deixo o meu selo na edificação de um mundo melhor para todos e na transformação das condições de vida de cada um de modo que “a cidade se encha de alegria”.
Senhor Jesus, o Teu Espírito faz-nos donos de nós mesmos e responsáveis pela nossa vida; atesta a nossa dignidade humana e dá-nos maturidade para pensar e decidir; credencia a nossa liberdade quando procura a verdade e revigora a nossa esperança alicerçada nos valores humanos por Ti vividos de forma exemplar e definitiva.

Georgino Rocha

quinta-feira, 24 de abril de 2008

BICENTENÁRIO DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO - 6




(Clicar nas fotos para ampliar)

O Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro continua a ser lembrado na exposição que está patente ao público na antiga Capitania. Se ainda lá não foi, aproveite esta boa oportuniada. Eu fui ver a exposição mais uma vez. Tive pena de não encontrar por ali muita gente. E o mais curioso é que a mostra está num lugar central da cidade. Depois queixamo-nos de que entre nós não há acções culturais de relevo.

FORTE DA BARRA NA AGENDA POLÍTICA


Tenho-me dado conta de que o Forte da Barra começa a estar na agenda dos partidos políticos. Isso mesmo se verificou no programa "Discurso Directo" da Rádio Terra Nova. Já não era sem tempo. Penso que o património histórico que nos foi legado pelos nossos antepassados deve estar, permanentemente, tanto na agenda dos partidos políticos como nas preocupações de todos nós. Por isso, congratulo-me com o interesse manifestado, deixando aqui, ainda, uma palavra de estímulo a todos, para que o Forte da Barra não caia no esquecimento.
FM