sábado, 29 de março de 2008

Barra de Aveiro foi aberta há dois séculos


NAVIO QUE ENTRA E NAVIO QUE SAI
O que agora parece fácil já foi difícil. Há precisamente dois séculos, os navios não entravam na laguma aveirense com a mesma facilidade com que o fazem nos dias de hoje. Dois séculos é muito tempo. E desde então, a Barra de Aveiro passou por inúmeras transformações, que foram, muitas delas, grandes melhoramentos. A região saiu enriquecida com a abertura da Barra, o que aconteceu no dia 3 de Abril de 1808. Inês Amorim escreveu um livro - "Porto de Aveiro: Entre a Terra e o Mar"-, que mostrará toda a história do nascimento e crescimento da Barra de Aveiro, ao longo dos últimos 200 anos. Sobre as celebrações que vão decorrer no próximo dia 3 de Abril, direi algum coisa durante estes dias.

NOVA LISTA DE PECADOS PELO VATICANO?


Quem frequentou a catequese lembrar-se-á, ainda que vagamente, dos sete pecados capitais: soberba, inveja, gula, luxúria, ira, avareza, preguiça. Estes são os sete pecados capitais da tradição, a partir de uma lista do Papa Gregório Magno no século VI.
Durante as festas pascais, não houve jornal, rádio ou televisão que não tenha referido uma nova lista a juntar à antiga. Devo confessar que esse interesse me causou algum espanto, tendo mesmo sido tentado a pensar que poderia haver quem subtilmente, lá no íntimo, imaginasse que talvez o Vaticano tivesse descoberto alguma nova oportunidade interessante para transgredir e pecar. Ah, aquele pedido: Oh God, make me good, but not yet!
Tratou-se de um equívoco, pois o Vaticano não publicou propriamente um decreto com uma nova lista de pecados capitais. Mas, por outro lado, na base do alarido, está uma chamada de atenção para questões complexas e graves que não podem de modo nenhum passar despercebidas.
O que é que se passou na realidade?
O Osservatore Romano, jornal oficioso do Vaticano, publicou, no passado dia 9 de Março, uma peça do jornalista Nicola Gori, com o título "As Novas Formas do Pecado Social", a partir de uma entrevista com mons. Gianfranco Girotti, bispo do tribunal da Penitenciária Apostólica, organismo da Santa Sé.
Nicola Gori perguntou ao bispo quais eram os novos pecados em tempos de globalização. Mons. Girotti, depois de lembrar que o pecado "é sempre a violação da aliança com Deus e os irmãos", respondeu que há várias áreas dentro das quais deparamos hoje com atitudes pecaminosas referentes aos direitos individuais e sociais.
E enumerou-as: "Antes de mais, a área da bioética, dentro da qual não podemos não denunciar algumas violações dos direitos fundamentais da natureza humana, através de experiências, manipulações genéticas, cujos êxitos são difíceis de vislumbrar e ter sob controlo. Outra área, propriamente social, é a área da droga, com a qual a psique enfraquece e se obscurece a inteligência, deixando muitos jovens fora do circuito eclesial. Mais: a área das desigualdades sociais e económicas, nas quais os mais pobres se tornam cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos, alimentando uma injustiça social insustentável. E a área da ecologia, que reveste actualmente um interesse relevante."
Foi a partir daqui que houve quem pretendesse poder elaborar uma lista de novos sete pecados capitais, segundo esta denominação ou semelhante: as violações genéticas; as experiências moralmente discutíveis, como a investigação em células estaminais embrionárias; a toxicodependência; a contaminação do meio ambiente; contribuir para cavar mais fundo o abismo entre os ricos e os pobres; a riqueza excessiva; gerar pobreza.
Embora a lista não exista enquanto tal, é necessário reconhecer que se não pode de modo nenhum ignorar que estas quatro áreas - a área biológica, com as violações genéticas; a área ecológica, com a poluição ambiental; a área da droga, com o risco da toxicodependência; a área das desigualdades sociais, com desequilíbrios socioeconómicos que bradam aos céus - são domínios nos quais existe o perigo real de ferir gravemente a dignidade humana e, nesse sentido, para os crentes, violar a aliança com Deus, pecando.
O que é, de facto, o pecado? Mais uma vez, segundo o catecismo, é a transgressão voluntária da Lei de Deus. Mas, aqui, é preciso perguntar: algo é bom porque Deus o manda ou Deus manda-o porque é bom para o ser humano? Algo é mau porque Deus o proíbe ou proíbe-o porque é mau para o ser humano?
O crente reflexivo sabe da autonomia moral e, assim, sabe que só é proibido por Deus o que prejudica o ser humano e só é mandado o que o dignifica e engrandece. O critério dos mandamentos de Deus é o Homem vivo e a sua realização.
Assim, no quadro da ética do cuidado e do princípio da precaução, quem não verá a urgência de reflectir sobre novas situações pecaminosas, como violações genéticas, poluição ecológica, toxicodependência, um mundo estruturalmente injusto?

Anselmo Borges

sexta-feira, 28 de março de 2008

Discriminação Racial

Ciganos a caminho

Termina hoje a Semana de Solidariedade com os Povos em luta contra o Racismo e a Discriminação Racial. Passou a semana sem que déssemos conta dela voltada para esta temática. E no entanto, ninguém de bom senso nega a pertinência do assunto.
Penso, contudo, que essa solidariedade não pode circunscrever-se a uma semana, das 52 que tem o ano. A luta, actuante e firme, tem de ser durante todos os dias do ano e de todos os anos. O racismo não é doença morta. O racismo é de todos os tempos e de todos os povos e raças. Uns mais do que outros, é certo. Ligado a ele está a discriminação social, que humilha quem é diferente, na cor da pele, na religião, na etnia, na nacionalidade…
Ao contrário do que muita gente supõe, há entre nós, portugueses, quem seja racista e xenófobo. Quantas vezes tenho ouvido e sentido palavras e gestos desses comportamentos de gente normal. Gente que fala comigo e que se mostra, até, cheia de razão. Isto significa que, no dia-a-dia, haverá sempre motivos para nos solidarizarmos com quem sofre a discriminação racial.

FM

GAFANHA DA NAZARÉ - Centro Cultural vai entrar em obras


Por iniciativa da Câmara de Ílhavo, o Centro Cultural da Gafanha da Nazaré vai entrar em obras, ainda este ano, como anunciou a Rádio Terra Nova. Esta obra insere-se num projecto mais alargado daquela autarquia, que visa dotar o concelho de mais e melhores equipamentos culturais. Espera-se, agora, que os arquitectos e outros técnicos sejam mais felizes na concepção de um espaço que proporcione um mais amplo conjunto de actividades culturais, oferendo funcionalidades e comodidades a quem o frequenta.

A ÁRVORE E A FLORESTA



Sem qualquer suporte científico, verifico que, quando alguém procede à leitura de um jornal ou revista, tem uma curiosidade, quase inata, em procurar as “frases do dia”, da “semana”, ou do “mês”, que mais não são do que uma pequeníssima parte retirada de um assunto mais amplo, vasto e profundo.
Porém, não vejo, nestes comportamentos (nem a tal me atreveria), qualquer aspecto mais ou menos positivo que possa prejudicar ou ajudar, séria e eficazmente, quem tem este costume de leituras. Creio é que é preciso ir mais longe!
Não deixa, no entanto, de ser um hábito e, provavelmente, uma necessidade para muitos leitores, funcionando como um bálsamo e um revigorador espiritual, cujo efeito é o da pessoa sentir que não está só no mundo – num mundo em que todos os assuntos podem fazer parte das ditas frases – e em que há sempre alguém que está com ela, que a compreende e conforta, mesmo não a conhecendo.
Procura-se, mesmo, decorar aquela(s) frase(s) que mais nos aconchegam, para as transmitir, o mais fiel possível, aos outros. Tudo soa a boa nova: os diagnósticos, finalmente, foram feitos e as soluções, para muitos problemas, já foram encontradas.
Quase tudo é possível lá caber, pelo que, cada frase, parece ter sido feita mesmo à medida das necessidades de quem a lê.
Todas as nossas críticas, desejos, insatisfações, expectativas, e provavelmente muito mais, estão lá! Parece haver algo mágico em tudo isto!
Assim, não é de admirar que surjam, através destas leituras, sentimentos, mais ou menos generalizados, em alguns leitores, de que alguém já encontrou a fonte milagrosa da cura, a panaceia para todas as dificuldades e – muito melhor, se tal for possível – alguém já é capaz de ser o centro de um unanimismo sagrado, capaz de resolver, de uma vez por todas, os males que possam afectar e afligir a vida de cada um.
Bem sei que pode haver alguma dimensão caricatural nestas palavras, mas também reconheço que a verdade possível de cada realidade vai, e tem mesmo que ir muito, para além de frases ou fórmulas feitas, sejam elas do “dia”, da “semana” ou do “mês”.
Se assim não for, tem-se o caminho aberto para a cultura da demagogia, das promessas fáceis e para a manipulação pessoal e colectiva, ainda que possa não ser essa a intenção do ou dos seus autores.
O sentido crítico da pessoa tende a desaparecer, e nada mais se questiona, pelo que a intolerância instala-se, sem se dar por isso. Já não é preciso acreditar em mais nada!
Claro que não se trata de pôr tudo em dúvida, (era o que mais faltava) muito menos de querer (como se eu tivesse algum poder para tal) em contribuir para uma sociedade paralisante e asfixiante.
Trata-se, isso sim, de lembrar que é preciso, é mesmo muito urgente e necessário, ir para além das palavras enlatadas, que nos tendem a servir, com a melhor das intenções.
Assim como a crítica, as divergências de opinião, os confrontos de ideias, sérios e leais, entre outros exemplos, fazem parte, integrante e indispensável, da continua construção de uma cidadania de verdade, com direitos e deveres para todos, lembro o que Fernando Pessoa escreveu: “O mundo, à falta de verdades, está cheio de opiniões.”
Na sua sabedoria proverbial e ancestral, o povo diz que “de boas intenções está o inferno cheio”. Desejo, humildemente, dizer a este mesmo povo que, ao continuar a ler as tais frases “emolduradas”, não se esqueça que é mais fácil dar uma opinião do que procurar o bem e a verdade, em nome de todos, numa atitude de compromisso assumido e transparente.
Vítor Amorim

MOVIMENTO ESPERANÇA PORTUGAL


Ângelo Ferreira, responsável distrital pelo novo Movimento Esperança Portugal:
«Há clubismo na defesa dos partidos»

O partido que vier a ser criado com base no Movimento Esperança Portugal (MEP), recentemente constituído, poderá vir a concorrer às próximas eleições autárquicas em Aveiro. Em entrevista ao Diário de Aveiro e Aveiro FM, Ângelo Ferreira, um dos fundadores do MEP, adiantou que não exclui a hipótese de o grupo avançar com uma candidatura. «A situação política no seu todo não parece mobilizar muito as pessoas, os melhores recursos, as melhores disponibilidades, as melhores capacidades», diz o ex-presidente da Associação Académica da Universidade de Aveiro, de 38 anos, prometendo um novo discurso político feito por «cidadãos comuns» e não por «estrelas ou vultos conhecidos»
Pode ler a entrevista no Diário de Aveiro de hoje

quinta-feira, 27 de março de 2008

Lição de Dalai Lama


O líder espiritual do Tibete, Dalai Lama, já se manifestou contra o boicote aos Jogos Olímpicos, que vão decorrer em Pequim, na China, ainda este ano. E sobre o seu país, defende a autonomia democrática dentro da grande China.
Como pacifista, não podia aceitar nem seguir outra posição que não seja o diálogo, que a China rejeita. Como rejeita a liberdade, os direitos humanos e a democracia. Porque a guerra nunca leva a parte nenhuma, pode ser que os Jogos Olímpicos, com a mediatização que eles proporcionam e com o exemplo de fraternidade que estimulam, levem os dirigentes chineses a abrir as portas aos valores seguidos pelos homens e mulheres livres. Entretanto, Dalai Lama não desarma, ensinando que a paz se constrói com a paz. Da guerra só sabemos e bem que deixa marcas que o tempo nunca apagará.
FM

A Bíblia: entre culto e cultura



OUSAMOS SABER

Qual o livro bíblico que escolheria e porquê?

Armando Silva Carvalho, Poeta: O Livro de Job. Por razões muito pessoais da minha vida. Sobretudo isso. Sempre que o leio, Job ajuda-me a encontrar uma possibilidade de resistir.
Assunção Cristas, Professora Universitária: Escolheria o Livro dos Salmos, porque é poesia na Bíblia, na Revelação, e eu gosto disso. Porque está ligada à oração de Jesus e permite-nos partilhar a oração que foi a Dele.
Leia mais em "Observatório"

AVEIRO: Jornada Interdiocesana de Reflexão sobre a Prostituição

PRESSÃO CÍVICA PARA CORRIGIR OS PREÇOS

Está decidido que o IVA vai baixar, em Julho, 1%. Esquecendo a contradição do primeiro-ministro, porque não há ninguém que não se engane, vamos admitir que é muito boa esta descida. Será? Para já, não vai incidir sobre o que mais mexe com a bolsa do consumidor: o que se come no dia-a-dia. Depois, no meio de tantas subidas, em Julho, ninguém vai dar pela descida. E nada, tenho cá um palpite, vai passar a custar menos. Dou mesmo um doce a quem me provar o contrário. As empresas, essas sim, fazendo-se esquecidas, talvez acabem por ganhar uns euritos. E de eurito em eurito enche a galinha o papo. Estarei enganado? Contudo, segundo o Público, “O ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, avisou hoje que serão reforçados os mecanismos de vigilância para que a descida do IVA tenha consequências benéficas junto dos consumidores, mas apelou também à pressão cívica para que os preços sejam corrigidos”. Cá para mim, se a ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) se meter no assunto, com a eficiência com que tem trabalhado, talvez os consumidores venham a beneficiar. A ver vamos, como diz o cego.
FM

Na Linha Da Utopia


GERAÇÃO SUSPENSA?

1. São diversificadas as atribuições aplicadas às novas gerações. Desde os anos 60 (Maio de 68), com o emergir da «juventude» como grupo social, uma multiplicidade de nomenclaturas, umas mais felizes que outras, procuram na actualidade de cada tempo compreender as mentalidades mais jovens. Habitualmente essas atribuições trazem consigo um sabor a injustiça, mas também um pouco de verdade. Injustiça porque a geração que se dá ao luxo de qualificar os vindouros é a geração que lhe está todos os dias a dar (ou não dar) a formação cultural, os desejados valores referenciais e educativos para uma vida repleta de dignidade e autêntica liberdade responsável. Um pouco de verdade, pois, muito acima da “vitimização” sempre mais cómoda (de que as causas de todos os males vêm de trás…), haverá que olhar “olhos nos olhos” das juventudes contemporâneas e gerar climas de absoluta co-responsabilidade sócio-educativa, cívica, dignificante e mesmo ecológica, no esforço de todos, comunidade, caminharmos no aperfeiçoamento daquilo que está aquém do ideal (hoje) ético global.
2. Quem não se lembra do debate levantado há anos quando, diante de manifestações estudantis ao rubro, Vicente Jorge Silva, do então jornal Público, lançou o polémico epíteto «Geração rasca»? Do mesmo modo não podemos ser indiferentes à recente qualificação «Geração em saldo» da revista Visão, referindo-se nomeadamente às dezenas milhares de jovens licenciados que vivem precariamente, no desemprego, ou, quando muito, a recibos verdes. A par de todas estas realidades dolorosas, assistimos a um certo “beco sem saída”, ou melhor, em que a saída é mesmo “sair”, até de Portugal, num novo êxodo de emigração para os mais próximos países europeus ou para países de língua portuguesa. Falta-nos mais sermos cá dentro a energia que temos lá fora! Ainda, hoje, é uma multidão incontável de casais novos (e muita da geração dos 30 anos) que vive “às custas” de seus pais ou fazem dos avós os verdadeiros pais (quando há trabalho) num desenraizamento crescente da essencial ligação paterna.
3. Tempos de profunda transformação, onde, a par do domínio excelente e inédito das tecnologias e de múltiplos conhecimentos, as novas gerações vão reaprendendo todos os dias a conviver com o drama e a ansiedade da incerteza quanto a quase-tudo: incerteza no trabalho, nos juros bancários, no aumento dos preços (de bens tão básicos como pão, leite, combustíveis, água), na própria vida afectiva e conjugal onde, infelizmente, os chamados “valores da família” foram quase retirados para a periferia. Vermos muita da gente das novas gerações a viver a incerteza e o desencanto desta fronteira faz com que o próprio futuro apareça como que “suspenso”… Talvez no meio de todas as incertezas e instabilidades o tempo actual precise mesmo do regresso à comunidade primordial dos afectos, a família. Esta pode ser garantia de serenidade, conforto e paz, mesmo nas turbulências da vida. Mas haverá vontade de enfrentar, problematizar e reflectir estas questões? Qual o lugar dos referenciais modelo, para termos onde “pousar”? Ou estamos mesmo a transferir tudo para uma subjectividade do “cada um é que sabe”, conduzindo a história, o pensamento e a acção, como se fôssemos «gerações indiferentes»? Será esta a qualificação do nosso presente daqui a meio século? A inquietude é sempre dos passos decisivos ao brotar da nova consciência de pertença.

Alexandre Cruz

ÉTICA NOS NEGÓCIOS

“Todos os homens têm direito 
ao pão para a boca 
e à verdade para o espírito”

Vitorino Nemésio

Utopia ou Cidadania?



Não sendo economista e não podendo recorrer a Jesus Cristo, que, no dizer de Fernando Pessoa, “não sabia nada de finanças”, apelei à minha memória e recordei-me de uma entrevista que o Presidente da Galp, Eng.º Ferreira de Oliveira, deu, no dia 17 de Janeiro de 2008, à jornalista da RTP1, Judite de Sousa, no programa “Grande Entrevista”.
O Eng.º Ferreira de Oliveira é considerado um dos maiores especialistas nacionais na área das energias, designadamente no sector petrolífero, pelo que as suas palavras não têm um significado nem uma dimensão quaisquer. Bem pelo contrário.
Na entrevista, Judite de Sousa coloca ao Eng.º Ferreira de Oliveira a seguinte questão: “O que determina que o preço do barril de petróleo tenha atingido, nas últimas semanas, os 100 dólares? Há razões para isso?”
A resposta foi imediata: “…no substancial, nada determina um preço a esse nível. Era possível à indústria petrolífera, como um todo, estar a pôr no mercado o petróleo a 40 ou 50 dólares!”, para logo acrescentar:”“Se eu tivesse que fazer uma projecção, diria que, em 2008, vamos ter o preço do petróleo a cair para os 70 ou 75 dólares o barril!” (sic).
Estamos, é certo, em finais de Março, mas infelizmente, até agora, as suas projecções ainda não se concretizaram (ontem, dia 26, o petróleo chegou, em Londres, aos 103,32 dólares o barril) e os “porquês” que daqui imergem são vários e pertinentes.
Terão sido afirmações levianas, precipitadas, demasiadamente optimistas ou foi ignorado algum aspecto importante capaz, só por si, de condicionar o preço do chamado “ouro-negro”?
Desde os impostos, aos custos de produção, transportes, prémios de seguro de risco, passando pelas instabilidades políticas e conflitos armados, que surgem um pouco por todo o mundo, nada ficou de fora, para aquele cálculo, mas, mesmo assim, o preço não dá sinais de descer.
Resta-me, pois, concluir que, neste tipo de negócio, para não falar já de outros, a realidade estará sempre a ser ultrapassada por decisões enigmáticas e por interesses obscuros, onde prevalece a especulação e a corrupção sem rosto, sem pátria e sem fronteiras.
Alguns estudiosos árabes já referem que o negócio do petróleo se está a transformar, cada vez mais, numa “maldição para os próprios países árabes”, devido aos elevados níveis de corrupção e de especulação que tem gerado à sua volta. Ainda por cima, referem que, em muitos países produtores de petróleo, o seu “desenvolvimento é superficial e artificial”, podendo vir a traduzir-se em custos elevados, daqui a alguns anos, para todo o mundo, nomeadamente o mundo Ocidental, que irá ter que os ajudar!
Podem até as projecções do Presidente da Galp concretizarem-se, mas elas já são um indicador claro que a realidade, neste negócio, é a que alguns querem que ela seja num dado momento e a verdade é uma ilusão que se vende na base da mentira, da injustiça e da manipulação.
No meio de todos estes interesses “subterrâneos”, está o cidadão comum que, como eu, vai vendo que ninguém tem capacidade para o esclarecer, minimamente, dos “porquês” deste negócio. Será possível a alguém ser feliz quando só lhe resta pagar e calar?
Como é possível acreditar, assim, num mundo concorrencial, é certo, mas também mais livre e justo?

Vítor Amorim

quarta-feira, 26 de março de 2008

IVA desce 1%

Ontem, uma boa nova do Governo garantia que a crise orçamental estava ultrapassada. A nova encontrou eco aqui, o que me levou a recordar que talvez agora não fosse necessário apertar tanto o cinto. E acrescentei que ficaria à espera de que isso se reflectisse na bolsa dos mais desfavorecidos. Admiti, então, que daqui a uns tempos haveria uma descida estratégica dos impostos, talvez nas vésperas das eleições legislativas, como é normal. O Governo, contudo, prometeu hoje que o IVA iria descer 1%, lá para Julho. O mesmo Governo que há dias jurou que era “leviano e irresponsável" falar em baixar impostos, face ao estado das finanças públicas. Criticava, por esta forma, a proposta do líder do PSD, Luís Filipe Menezes, da necessidade de baixar os impostos. Confesso que fiquei baralhado. E ainda me não recompus!

Na Linha Da Utopia



QUANDO NÃO SE DEVE REPETIR…

1. Sabemos todos das fronteiras da sociedade da informação. Implacável nos seus efeitos modeladores da vida pessoal e social. Com imensas virtudes e potencialidades, mas com contra-valores que por vezes desdizem a sua própria missão. Criam deuses e derrubam regimes; abrem novas vias de sociedade plural mas, mesmo em contextos de liberdade de informação, é ténue e delicada a “linha” entre o que é legalmente permitido e o que eticamente obriga ao discernimento e à contenção. O caso repetido continuamente nas notícias da “corajosa” estudante de telemóvel na sala de aula e da “temerária” e esmagada professora subjugada pela turma ridente, é uma das imagens que merecia um crivo pedagógico, não que viesse de fora como imposição mas fazendo parte da própria função socioeducativa das comunicações sociais. É naturalmente difícil esse consenso em apostarmos todos naquilo que, sem escamotear verdades inconvenientes, pode melhor criar formas de ser e estar em comunidade. Ninguém sabe os impactos (subjectivos) nestes dias das imagens de deseducação escolar; mas ninguém duvida que elas acabam por ser mais uma “acha” para um quadro de referência social e educativo já bem ateado.
2. As repetições sensacionalistas até ao excesso têm efeitos generalizantes e geram consequências contraditórias com o que se quer transmitir. As necessárias éticas da informação e comunicação, no meio das suas sempre ténues fronteiras de uma área concorrencial ao limite, não se podem deixar seduzir com o que o povo gosta ou com o que facilmente tem auditório. Tantas vezes, como neste caso da violência na escola, ao denunciar os males existentes acaba-se por divulgar e multiplicar esse mesmo mal. É uma pergunta delicada mas, pelas dificuldades do diálogo de gerações e numa certa indiferença dos valores onde “tanto faz” quem respeita quem, quantos estudantes da idade turbulenta vão despertando exacerbadamente para os seus direitos (de “passar de ano”) esquecendo-se dos seus deveres de pessoa, aluno, cidadão… Nesta cadeia de relacionamentos, o elo mais fraco tem merecido novamente uma exposição desmesurada e desautorizante: a professora/os professores; enquanto que o recriado sentido corporativo dos alunos vai abrindo os olhos para os seus “galões” da liberdade interminável de que são a razão de ser da escola.
3. Ainda assim esta sedutora casuística, não é verdade que este seja o quadro generalizado das escolas, e o pior que pode acontecer é a repetição caótica do mesmo “caso” que dá a sensação de estar tudo perdido. Neste contexto, também como actor da “cidade educadora”, as comunicações sociais, sendo-lhes permitido, como “ética” nem sempre devem repetir e repetir tudo o que conhecem. Ou já não há margem para isto, e o que conta é o que se quer fazer passar, esquecendo-se e promovendo deformação que se critica?

Alexandre Cruz

PASSAGEM




Nada mais lógico do que a grande festa cristã ser a festa da Passagem. Esta é a marca da nossa existência, uma passagem, em que aquilo que importa é não esquecer que não se fica indefinidamente no mesmo lugar, por mais que o homem sonhe com elixires da imortalidade.
Tomámos este ritmo da Natureza, a mesma que com as suas estações e ciclos lunares marca o calendário das celebrações pascais, este ano mais cedo do que algum de nós irá um dia voltar a ver.
Aprender que o mais importante é passar e não ficar é uma lição dura, que nem sempre estamos dispostos a receber. Percebemo-lo nos mais variados campos, da política à economia, do desporto à religião: é grande a tentação de pensar que não há um fim para o tempo em que se está, como se a vida não fosse, acima de tudo, tempo que passa. E depressa.
Páscoa é, afinal, o condensar da nossa existência: chegar e partir, sempre de novo, num percurso que, para a fé, leva o ser humano rumo ao esplendor da luz que não se apaga.
Inevitavelmente, a Páscoa recorda o núcleo da fé cristã: Cristo morreu e ressuscitou. Uma passagem singular, que marcou a história da humanidade, e que a Igreja apresenta a cada um como o seu caminho, o sentido da existência. Mais do que procurar elaborações complicadas do seu quadro de convicções ou de, supostamente, elaborar listas com novos pecados, procura, com a preparação e a celebração da festa da passagem, centrar-se no que é essencial sobre a vida do homem e sobre a eternidade.
A preocupação com o essencial, a transmissão da fé, foi também a marca do último triénio de trabalho da Conferência Episcopal Portuguesa, que agora chega ao fim. Os novos caminhos, com a preocupação de adaptação aos tempos actuais, respondem, então, a esta necessidade de passagem, fazendo chegar à sociedade pós-moderna os critérios cristãos de leitura da realidade que a Igreja tem para oferecer.
É caso para dizer que, também neste caso, não há nada mais lógico do que a Igreja em Portugal querer falar daquilo que tem mais importância: a vida, a obra e a mensagem de Jesus. Porque há muitos que ainda não se aperceberam, por distracção ou por ingenuidade, de que só estão cá de passagem.

Octávio Carmo

O Papa defende «verdade histórica» da Ressurreição

“A Igreja proclama alegremente que Cristo ressuscitado tem o poder de mudar as vidas e de incidir uma nova luz na história humana. Hoje, tal como em todas as alturas, Cristo vem ao nosso encontro para permanecer no meio de nós com o seu poder salvífico”


Bento XVI

A telenovela continua

Já vi, vezes sem conta, o vídeo da aluna em luta com a professora por causa do telemóvel. A notícia, vista, ouvida e lida, também já cansa. O que agora se diz nada acrescenta ao que já se sabe. Não seria melhor acabar com estas cenas? Ou não há mesmo mais nada para noticiar? Quem procura notícias, durante o dia, está condenado a ver e a ouvir, até à exaustão, sempre as mesmas imagens, com as informações já gastas.

PÚBLICO com a blogosfera

O PÚBLICO passa a colaborar, de forma mais concreta, com a blogosfera. É um passo digno de registo, porque incentiva, por esta forma, a ligação às notícias do dia-adia. A ferramenta, chamada "Twingly", é já usada em alguns jornais estrangeiros, como o "Politiken", da Dinamarca, ou o "Helsingin Sanomat", da Finlândia.

Um poema de Orlando Figueiredo

Escrevo em segredo Escrevo em segredo as veredas do teu nome enquanto o misterioso hálito do teu veneno avança errante dentro de mim Por amor ou fantasia o fogo do teu olhar despe-me a alma em silêncio O que resta de mim apenas existe para tua glória Sou teu escravo o teu triunfo é o meu destino Orlando Jorge Figueiredo
- Fevereiro 2008

Dia do Livro Português


Segundo um “site” que consultei, hoje é o Dia do Livro Português. Bom motivo para lembrarmos, aqui, que Portugal tem dado ao mundo muitos escritores. Prosadores e poetas enchem a nossa memória, desde tenra infância. E ainda agora, com a infância já distante, não deixo de admirar tantos cultores da Língua Portuguesa, espalhados por todos os países lusófonos e pelos mais diversos recantos do globo.
O que mais me impressiona é que, cada dia que passa, novos escritores vão surgindo, oferecendo-nos belíssimos textos que nos permitem sonhar, através de viagens que nos propõem carregadas de histórias e emoções. A literatura portuguesa, afinal, talvez seja um dos poucos sectores da nossa vida colectiva que escapam às crises que nos envolvem. É um sector sempre pujante, não obstante as dificuldades que muitos escritores sentem em entrar nos gabinetes dos editores, mais preocupados, decerto, em divulgar os autores mais badalados.