domingo, 20 de maio de 2007

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


DEBATE SOBRE A RELIGIÃO
NO GRANDE ORIENTE LUSITANO



No passado dia 5, o Grande Oriente Lusitano realizou o Encontro Internacional de Lisboa - Religiões, Violência e Razão, onde me coube falar sobre os fundamentos essenciais do diálogo inter-religioso.
Crentes, agnósticos, ateus vivem no mesmo mundo, cuja realidade ambígua exige interpretação. Ora, como nota o teólogo Andrés Torres Queiruga, não é porque se é crente, agnóstico ou ateu que se interpreta o mundo de uma determinada maneira; pelo contrário, é-se crente, agnóstico ou ateu, porque a fé ou a não crença aparecem ao crente e ao não crente, respectivamente, como a melhor forma de interpretar o mundo comum.
É neste horizonte que se enquadra o diálogo entre as religiões, com quatro pilares fundamentais.
1. Desde que se não oponham ao Humanum, pelo contrário, o afirmem e promovam, todas são reveladas e verdadeiras, o que não significa que sejam iguais.
2. Todas são relativas, num duplo sentido. São relativas porque nasceram num determinado contexto geográfico, social, económico e até religioso. São relativas também no sentido de que estão todas referidas ao Sagrado, mas nenhuma o diz plena e adequadamente. Precisamente por isso, devem dialogar para melhor tentarem dizer o Mistério que a todas reúne e transcende.
Assim, o diálogo inter-religioso não se impõe apenas pragmaticamente, para evitar a violência, nem é simples tolerância, que ainda diz, subtilmente, superioridade face ao outro tolerado. Ele é exigido pela própria compreensão autêntica do que significa ser religioso, portanto, em relação com o Sagrado Infinito, que nenhuma religião nem mesmo todas juntas podem dizer.
Precisamente porque é necessário salvaguardar a transcendência do Sagrado, impõe-se a separação das Igrejas e do Estado. A distinção entre a esfera política e a esfera religiosa não é decisiva apenas em ordem à paz e à convivência pacífica entre todos os cidadãos. É exigida pela religião, que tem consequências políticas, mas não pode aceitar que o Sagrado seja transformado num ídolo político ou instrumentalizado para legitimar interesses económico-políticos.
Torna-se claro que é necessário tirar outra consequência fundamental. Se as diferentes religiões nascem num determinado contexto histórico, geográfico, cultural, moral e até religioso, isso também implica que os textos sagrados das diferentes religiões não são ditados de Deus e, por conseguinte, não podem ser lidos literalmente - exigem uma leitura histórico-crítica.
Ao contrário do que possa pensar-se, isto não significa de modo nenhum relativismo, pois é de perspectivismo que se trata. O relativismo implica negação da verdade. O perspectivismo, ao contrário, afirma a verdade, mas sempre presente ao Homem em várias perspectivas.
3. Deste diálogo fazem parte todos os seres humanos, também os ateus. Por duas razões fundamentais. Em primeiro lugar, porque o que, antes de mais, nos une a todos é a humanidade e o que se refere à Humanidade. Ora, também a religião e as religiões são questão da Humanidade. Depois, porque foram e são eles - os ateus e os agnósticos - que podem prevenir para o perigo da superstição e da desumanidade das religiões.
4. Se a religião e as religiões estão ligadas ao Mistério, ao Sagrado, que tudo penetra e envolve, o respeito pelo outro ser humano, crente ou ateu, e a salvaguarda da criação, não são algo acrescentado à religião - são exigidos pelo seu próprio dinamismo.
Critério decisivo da religião verdadeira é o ethos a favor de todo o Homem e do Homem todo. Seria levado a pensar que é neste sentido que as Constituições dos Franco-Maçons, 1723, declaram: "Embora nos tempos antigos os maçons fossem obrigados, em cada país, a ser da Religião, qualquer que ela fosse, desse país ou nação, julga-se agora mais conveniente obrigá-los apenas àquela Religião com a qual todos os Homens concordam, deixando a cada um a sua opinião particular, isto é, serem Homens bons e verdadeiros, ou Homens de Honra e Honestidade, quaisquer que sejam as denominações ou crenças que os possam distinguir."

sábado, 19 de maio de 2007

Aveiro: Feira do Livro

Rossio à vista e à sua espera


LIVROS PARA TODOS OS GOSTOS
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Hoje, pelas 16 horas, Aveiro e sua região vão ter mais uma Feira do Livro. Até 3 de Junho, no Rossio, os amantes do livro e curiosos terão à sua disposição, assim creio, mais um certame de muito interesse cultural. Haverá livros para todos os gostos e animação para atrair quem precisa, no fundo, de boas obras, para seu enriquecimento. Eu não faltarei, como é da tradição. Vá lá também. Olhe que em 50 stands, com 21 livreiros, sempre há-de haver um bom livro para si. Pense, por exemplo, nos livros que gostaria de ler nas férias, que se avizinham.

Ares da Primavera


ROTUNDA DO HOSPITAL
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A rotunda do Hospital está com ares de Primavera. Relva, árvores e flores convidam-nos a olhar. Nem sempre, porém, o fazemos. A pressa é muita. Uns vão para o Hospital, a correr, outros para a Universidade, com os seus múltiplos pólos, outros para o Seminário de Santa Joana Princesa, outros para o Bairro de Santiago, outros ainda rumo a diversas paragens. O trânsito à volta da rotunda é muito, normalmente. A atenção exige cuidado. Não há tempo para parar e para olhar.

Um dia no Hospital




UM DIA ENRIQUECEDOR.
APRENDI PACIÊNCIA, HUMILDADE E…



Ontem estive umas boas horas no Hospital Infante D. Pedro. Para consulta de rotina e como acompanhante de um familiar com um incómodo que aconselhava o Serviço de Urgência. Olhando pela positiva, foi um dia enriquecedor. Aprendi paciência, humildade, respeito pelos outros, compreensão pelas dificuldades de profissionais e utentes, aceitação do sofrimento, atenção aos mais idosos, apreciei a disponibilidade de muitos, tentei ler o que vai na alma de alguns. O tempo de espera deu para muito.
Aos hospitais chega de tudo. Gente idosa e mais nova, gente que vem acompanhada e gente que vem só, gente que tem tudo e gente a quem falta tanta coisa, gente que sofre e gente tranquila, gente com dores e gente que sabe consolar, gente que se senta e gente que procura ajudar quem chega.
Para ajudar, não faltou a oferta de chá, café, leite e bolachas, graças à colaboração de voluntários hospitalares. Eram duas senhoras simpáticas e bem dispostas, que não se cansavam de chamar a atenção para a oferta. "Ninguém paga nada", diziam.
Nas salas de espera do Hospital Infante D. Pedro está o que gosta de contar estórias e o que gosta de se rir, o que critica tudo e o apaziguador, o inquieto e o calmo. Nos rostos havia marcas de sofrimento e de algum desespero pela incerteza do diagnóstico médico. Uns acompanhantes perdiam a calma, outros aguardavam serenamente.
A meu lado havia quem gostasse de ler. Os desdobráveis que dão conselhos, os cartazes que fazem recomendações, as revistas com marcas de muito uso, jornais e livros. Os faladores nunca se calavam. Os calados raramente falavam. Eu era um destes. Mas lia estórias de Manuel Jorge Marmelo. Daquelas que se lêem depressa e não cansam. À minha esquerda um paciente lia “Porque não sou cristão”, de Bertrand Russell. O livro, de edição antiga, tinha sinais de ter conhecido muitas mãos. Interiormente, imaginei-me a formular votos de que não ficasse por aí e que lesse outros. Por exemplo: “As minhas razões de crer”, de Jean Guitton; “Em que crê quem não crê”, um diálogo sobre a ética no final do milénio, entre Umberto Eco e Carlo Maria Martini; “Diálogos sobre a Fé”, de D. José Policarpo e Eduardo Prado Coelho; a “Bíblia”, que o escritor brasileiro Erico Veríssimo tinha como livro de mesa-de-cabeceira, apesar de na altura se dizer não crente, mas que considerava como o melhor código de vida; e tantas outras obras que nos podem ajudar na caminhada espiritual, rumo ao encontro com Deus. Também li “Porque não sou cristão”, mas não fiquei por aí. Seria muito redutor fixar-me simplesmente num livro como o que escreveu o filósofo Bertrand Russell.
Já me esquecia de referenciar os serviços do Hospital Infante D. Pedro. Olhando pela positiva, tudo está aparentemente bem. Médicos e paramédicos atenciosos, demais funcionários em correria constante para atender a muitas solicitações. No fim, nos casos a que estive ligado, tudo normal. Os exames deixaram-me muito tranquilo. Foi um dia cheio, apesar de algumas inquietações. Aprendi muito. Quando me deitei, por volta da meia-noite, adormeci tranquilo. Acordei com outro ânimo e aqui estou, logo de manhã, com votos de que o fim-de-semana corra bem a toda a gente. E sem hospitais, claro.

Fernando Martins

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Dia Internacional dos Museus

Museu Marítimo de Ílhavo: bateira caçadeira de pesca

OS MUSEUS NÃO PODEM
SER ESPAÇOS MORTOS


Sempre me impressionou saber que os museus não são tão visitados quanto se desejaria. Têm visitantes, é certo, mormente à custa, imensas vezes, das escolas e instituições, que vão tendo o bom gosto de canalizar para lá alunos e utentes, em viagens de estudo. Isto é por demais conhecido, quando pelos museus passamos, em especial em épocas em que o tempo vai permitindo as deslocações.
Pessoalmente, sempre tive o cuidado de sensibilizar alunos, professores, familiares e amigos para a importância de usufruirem das aulas e ensinamentos que os espaços museológicos proporcionam, se para tanto soubermos e quisermos aproveitar quanto os nossos antepassados nos deixaram e outros souberam coleccionar e expor.
Penso que os museus não podem nem devem ser espaços mortos nem depósitos de objectos angariados sem qualquer nexo. Importa utilizar as melhores técnicas e organizar as colecções para que elas possam transmitir às gerações actuais as sensibilidades e a arte dos que nos precederam. Importa ainda que os responsáveis pelos museus saibam expor, temporariamente, obras de arte por séculos ou temas, por artistas e por estilos, por profissões e correntes artísticas, sempre na esperança de elevar o nível cultural das pessoas. Outras iniciativas, como conferências e debates, espectáculos e colóquios, publicação de livros e revistas, brochuras e desdobráveis, filmes e programas radiofónicos e televisivos, artigos nos jornais e demais publicações devem merecer a melhor atenção dos directores e outros técnicos dos museus.
Que cada um de nós, também, saiba e queira falar dos museus de que gostou, para que outros os visitem o mais depressa possível. Este será um bom serviço que podemos prestar em nome da cultura. E não custa dinheiro.

Fernando Martins

Dia Internacional dos Museus


O Dia Internacional dos Museus comemora-se hoje, com várias acções de animação sociocultural que decorrem nos vários museus do distrito
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Museu de Aveiro
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DIA ABERTO EM MUITOS MUSEUS
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O Dia Internacional dos Museus comemora-se hoje, com várias acções de animação sociocultural que decorrem nos vários museus do distrito. Na maior parte destes espaços museológicos é, hoje, Dia Aberto, e as entradas são livres. As crianças são o alvo privilegiado neste dia, tendo a possibilidade de realizar visitas guiadas aos museus, no sentido de ficarem a conhecer melhor o seu património. Nalguns destes espaços culturais decorrerão, ainda, concertos, representações teatrais, exposições, mostras de artesanato, entre outras actividades. Aqui ficam algumas sugestões.

Leia mais no Diário de Aveiro

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Imagens de Aveiro

Clicar na foto para ver melhor

VALE A PENA PARAR E OLHAR
:
De quando em vez vale a pena parar e olhar. É certo que andamos sempre a correr e sem tempo para nada. Hoje, porém, deu para parar uns minutos na cidade e olhar para o lado. Vi esta placa toponímica e gostei de ficar a saber mais alguma coisa. Leiam e digam se é ou não verdade.

Um artigo de D. António Marcelino


OS VELHOS REFORMADOS
DAS MARINHAS

De vez em quando, corto a manhã e vou tomar café ao Bairro de Santiago. Ali, na Rua de Espinho, onde também há flores a precisar da água da atenção e do amor. Preciso de ver aquela gente e ela também gosta de me ver. No café onde entro, as ciganas logo cochicham, passam palavra e sorriem a dizer que me conhecem. Eu saúdo, também sorrio, falo, saio desejando um bom dia. No café do Bairro toda a gente se conhece.
Foi no Domingo e a cidade estava mais buliçosa. Era a bênção dos finalistas e via-se gente com ar festivo por todo o lado. Também fui a Santiago. Ao meu café.
Um homem, bem idoso pela aparência, de bengala e boina larga, encostado à parede, acolhia o sol lindo da manhã. Das poucas coisas que os pobres e os velhos podem gozar sem ter de pagar o que quer que seja, ou de pedir licença a quem que seja. Dirigi-me a ele e saudei-o com respeito e carinho. Respondeu-me sorridente, com palavras de quem me conhecia. E de facto conhecia. Deu para falar mais à vontade.
Os chinelos deixavam ver uns pés feridos de sofrimento. Contou-me que foi do sal das marinhas, onde sempre trabalhara ao longo da vida. Pensei que andasse já pelos oitenta e disse-lho. Tinha setenta e três, e recordou-me logo que era mais novo do que eu, adiantando, com a certeza de quem não se enganava, a conta certa da minha idade.
Este encontro inesperado de simplicidade, não conseguiu, porém, esconder um mundo de preocupações que se lhe liam nos olhos e espalhavam sombras no seu rosto. Sim, andava a tratar-se dos pés, coisa grave e morosa, foi dizendo e, também, de uma bronquite crónica, que só aliviava com a bomba para ajudar a respirar. Meteu a mão ao bolso e mostrou. Era mesmo assim.
Morava ali no Bairro com a família. E tal era a pensão de reforma? Indaguei eu. Depois de uma vida longa de trabalho duro, uma miséria de quarenta contos, respondeu. Casa, comida, roupa, remédios… Já viu? Como é isto possível? Ao ouvi-lo, já tinha feito a pergunta a mim mesmo. Já me tinha visto e metido, como pude, na sua pele. Ele é um de muitos, que se vêm por aí ao sol, quando há sol. Como é isto possível?
Teve possibilidade de falar e desabafar. Ficou mais aliviado naquela manhã de Domingo. Não do peso do dia a dia, nem do beco sombrio para onde o empurrara uma vida de luta, depressa esquecida por quem dela beneficiou. O estado dá-lhe agora, em jeito e patrão generoso e por favor, uma esmola que não pode negar, umas pobres migalhas que não dão para o pão.
Partilhamos ali um pouco do nosso tempo e do mais que a vida nos permitiu. Ele, verdade, preocupações e dores. Eu, atenção, amor e respeito e um pouco do meu pão. Ficamos ambos mais ricos, que nem só de dinheiro se enriquece a vida.
Neste dia fazia-se a recolha para o Banco Alimentar contra a Fome. A fome é uma realidade. Fome de pão, de justiça, de respeito, de carinho, de reconhecimento, de uma migalha de atenção de quem passa e pode nem olhar quem está.
Os berços onde se nasce, não são de ouro, como às vezes se diz, nem de madeira tosca, como também acontece. Nasce-se sempre num berço igual. O do colo da mãe que acolhe com alegria o que trouxe escondido no seu ventre. Depois, há berços diferentes, até ao momento em que de novo tudo volta a ser igual, para ricos e pobres.
Naquele Domingo era ainda o Dia a Mãe, a que nunca se esquece, a do amor igual.
Os velhos são um tropeço a dificultar o caminho de quem só vê dinheiro. Dinheiro que os “grandes” recebem aos milhões e os “pobres” aos cêntimos.
A reforma das marinhas é igual a tantas outras de gente que sempre trabalhou no duro. Nunca dará para viver com dignidade e conforto. Mas isso não incomoda os que estão confortados Os pobres não fazem greves. Podiam clamar por pão e, mais ainda, por justiça. Mas uma sociedade apressada não dá pelos injustiçados. Pobres dos pobres!

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Ainda o caso de Maddie

Um artigo de Alexandra Lucas Coelho,
no PÚBLICO de hoje
A HISTÓRIA
A QUE NINGUÉM ESCAPA
É o que podia acontecer a todos, quase aconteceu, nunca aconteceria. Por identificação ou rejeição, com alívio e ansiedade, a história de Maddie tornou-se num fenómeno inédito em Portugal. A cobertura dá a volta ao globo e a PJ nunca viveu isto Uma mulher levanta-se perante 832 mil espectadores. Esteve sentada a ouvir criminologistas, advogados e repórteres em directo da Praia da Luz, onde a britânica Madeleine McCann, de quatro anos, está desaparecida há 13 dias. Agora, a autora do programa da RTP Prós e Contras, Fátima Campos Ferreira, dá-lhe a palavra "em nome das mães que têm filhos desaparecidos". E os espectadores vêem os olhos azul-cinza de Filomena Teixeira, que viu o filho Rui Pedro pela última vez quando ele saiu para ir andar de bicicleta há nove anos. É uma mulher muito bonita, de grande cabeleira puxada para trás, com maquilhagem brilhante. Vê-se isso e mal ela começa a falar vê-se uma mulher que viveu cada dia dos últimos nove anos como se nenhum tivesse passado. Se Filomena Teixeira veio de Lousada a Lisboa para participar num programa de televisão e voltar a fazer umas centenas de quilómetros no dia seguinte foi por acreditar que mau é o silêncio em que as coisas desaparecem. A comunicação social tem sido boa e a Polícia Judiciária também tem ajudado, diz Filomena aos telespectadores, mas há nove anos a Judiciária era meia-dúzia de polícias que lutavam em todos os casos sem especialidades, e o sigilo é um pau de dois bicos, aos pais faz mal e à investigação faz bem. Durante todo este tempo, diz Filomena, não houve ninguém que fizesse nada, simplesmente ouviram-na, não havia meios, organização, pessoal, ela queria saber se colar cartazes ajudaria, ou outra coisa, mas ninguém a aconselhava, entravam e saíam de casa dela. Os media são essenciais porque fazem pressão, diz Filomena, mas após nove anos ela está na mesma, como o retrato que agora aparece no ecrã, um menino a rir com grandes olhos e grandes orelhas arrebitadas que não foi actualizado desde que Rui Pedro tinha 11 anos e foi andar de bicicleta, e agora Filomena vê a filha que vai fazer 18 anos, vê como estão diferentes os amigos do filho, agora Rui Pedro tem 20 anos, é um adulto, e basta olhar para a cara dela para ver como nem um dia passou.
: Leia mais no PÚBLICO, no caderno P2

Conferência no CUFC

Hoje, pelas 21.15 horas
:




"O Papel Insubstituível do Pai
na Família e na Sociedade"

O médico João Paulo Malta, membro do Conselho da Ordem dos Médicos e professor da Universidade Católica, profere hoje, 16 de Maio, em Aveiro, uma conferência sobre "O Papel Insubstituível do Pai na Família e na Sociedade".
A conferência é promovida pela Fundação Sal da Terra e Luz do Mundo, ligada à Diocese de Aveiro, e terá lugar no Centro Universitário Fé e Cultura (CUFC), às 21.15 horas, com entrada livre.
O tema surge num contexto em que "o pai" parece estar a desaparecer ou pelo menos a ficar enfraquecido nas sociedades modernas. Recorde-se que a pergunta lançada aos portugueses no dia 11 de Fevereiro, no referendo sobre o aborto, referia apenas "por opção da mulher"...
Por outro lado, a diluição da autoridade em geral, as famílias monoparentais, os casais formados por pessoas do mesmo sexo, uma certa terminologia que prefere falar em "progenitor A e B", entre outros factores, questionam claramente a figura paterna. Onde pára o pai? A sua figura está a esbater-se? O seu papel vai desaparecer? Estas são algumas questões a reflectir na conferência.

Um artigo de António Rego


O CAMPEÃO

Entre um sorriso e uma raiva escondida se cruzam as grandes discussões sobre futebol. Não será bom cidadão quem não diz, nalgum momento, que gosta deste ou daquele clube, próximo ou longínquo do lugar de origem ou donde vive. Ou, por imperativo dos jornais, relatos e transmissões desportivas, aderiu a uma massa informe de gente que grita no estádio ou nos milhares de estádios domésticos, convertidos numa final de taça ou campeonato que a televisão converte em templo.
É uma realidade. E quando se fala em milhões por uma transferência ou compra de atleta, é disso que se trata: milhares e milhões de pessoas que sustentam essa máquina, com os ouvidos e os olhos devoradores do espectáculo, num estádio como se fosse um templo, um relvado como altar ou ara de imolação e triunfo.
Todos entram neste jogo, directa ou indirectamente. Mesmo aqueles, ou talvez aquelas, que detestam gritos e discussões em torno dum assunto que não estão interessados em perceber. Mas não podem ignorar. Os ritmos dos serões familiares alteraram-se e o tema das conversas com os amigos passa sempre pelo desporto, pelo futebol, na sua versão mais singular: o jogo, a vitória, a derrota, as estratégias, as jogadas, os erros, os resultados, os comentários.
E todo o complexo emocional que envolve o jogo: o investimento extremo de energias, o ensaio de esperança no meio dos grandes desesperos, a catarse de todas as raivas, a naturalidade de todos os vocabulários. Ninguém admite que seja real, que tudo não passe duma cena momentânea que põe em jogo o ego, o saber, a intuição, o apoio, a aniquilação, a força, o poder. Muito raramente intervém a razão, a não ser para conter impulsos que transbordem o sensato. Mas em poucas matérias o razoável vai tão longe. A cada um se permite o parêntesis no porte e na dignidade. Desporto, claro que não é. É jogo. No plural e no simbólico.
E, todavia, no estádio se exibem grandes valores da humanidade. Na equipa, entreajuda, entrega esgotante, inspiração livre, para tratar um objecto imprevisível no capricho da sua esfericidade. A superação de impossíveis obstáculos naturais ou artificiais. Lutar de igual para igual com respeito pelas regras. E obedecer a sentenças que são, muitas vezes, obviamente injustas. É a recriação dum espaço real ou um ensaio da vida quotidiana. O futebol. O campeonato. O campeão. O maior. Com milhões. É assim. O melhor. A lógica é o menos. O campeão é o máximo. E chega. Já é muito.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Universidade Católica em alta



SEGUNDO O FINANCIAL TIMES,
UNIVERSIDADE CATÓLICA
ESTÁ ENTRE AS 50 MELHORES
DO MUNDO

Segundo o Financial Times, a Universidade Católica Portuguesa está entre as 50 melhores Universidades do mundo, ao nível dos cursos para executivos. Mais concretamente, foi-lhe atribuído o 42º lugar, o que honra o Ensino Superior português.
A ordenação das Universidades foi ontem divulgada, tendo sido sublinhado que na Europa ela ocupa o 19º lugar.
O estudo incidiu, concretamente, sobre a Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa, mostrando que, afinal, em Portugal, há uma Escola Superior com nível internacional, acreditando eu que outras Universidades, públicas e privadas, também estarão em posições relevantes.
É certo que outras há que brincam com o ensino superior, como foi amplamente divulgado recentemente com o caso da Universidade Independente.
Todos quantos se preocupam com o ensino em Portugal sabem que a Universidade Católica pauta a sua conduta pelo rigor e pela qualidade, sendo uma mais-valia para os que investem em cursos que lhes garantam um futuro mais risonho, sendo garantido que isso nem sempre pode acontecer em todas as Universidades Portuguesas, onde as facilidades não podem gerar bons profissionais para o futuro.
Os meus parabéns à Universidade Católica Portuguesa.

Um artigo de Alexandre Cruz


Maddie, quando uma vida
vale o mundo. Mas…


1. Já lá vão muitos dias desde o alegado rapto da menina inglesa Madeleine no Algarve. De então para cá os esforços da investigação judiciária atingiram níveis nunca antes vistos em Portugal, todos na preocupação de encontrar “rasto” a fim de recuperar a filha do casal McCann. A entreajuda multiplicou-se, populares e comunidades vivem a inteira compaixão e cooperação, tanto no esforço procurador como no conforto caloroso para com quem sente o coração “partido” com uma perda inqualificável. O aberto sentido da fé que alimenta a esperança do casal, numa dimensão partilhada em comunidade, é testemunho vivo de que para não desistir de acreditar é necessário deixar-se refrescar na fonte existencial da esperança. Vivendo horas de incerteza, este lado do mundo aguarda com ansiedade e expectativa, a todo o momento, o encontro familiar com um final feliz. E se o final não for o esperado? Fica a consciência de que todas as forças se moveram, fica a certeza da paz infinita que vem (no possível) acalmar a guerra quê se sente no coração…
2. Desde já, ficará a grande lição de que uma vida, cada vida humana, merece todo o esforço deste mundo para ser resgatada, recuperada, para a dignidade que a habita. Toda esta imensa onda de solidariedade tanto testemunha como exige a inteira coerência no cuidar da segurança e protecção dignificante de cada pessoa humana que vive neste mundo, especialmente na situação mais frágil como a pessoa criança, a pessoa idosa, a pessoa em formação… Se é louvável todo o esforço neste caso que se tornou mediático, o mesmo empenho tem de ser desenvolvido com cada Maddie que é vítima das maiores crueldades humanas; são milhares, são milhões, são redes de tráfico de crianças, de mulheres, de órgãos, de…; é o mesmo escândalo, é o mesmo desespero que aguarda o mesmo empenho. Com tantos satélites de comunicações, após todas as promessas científicas repletas de soluções para as grandes questões da Humanidade, afinal, impressiona como no mundo actual as redes do crime internacional convivem com o dia-a-dia social.
3. Têm sido algumas nestes dias as palavras sobre o papel da instituições em toda esta problemática. Por vezes assistimos a posturas de discursos diplomáticos, pré-formatados, de pessoas com responsabilidades na sociedade que demonstram cabalmente estarem fora do jogo da realidade da vida; até mesmo em relação ao que aconteceu e tragicamente acontece todos os dias; ou andarão tão comodamente fora do mundo que nem de alguns “números perturbadores” de indignidade têm conhecimento? Nessa passividade diplomática cresce todos os dias a distância entre as pessoas concretas nos seus problemas e a dura realidade, avoluma-se (neste contexto) o fosso entre o chamado crime inteligente e os vazios legais da lei institucional e da justiça típica no seu peso, tudo enquanto o mundo passa... No esforço, que se procura realizar, de agilizar procedimentos, com qualidade e personalização (por isso acompanhando o “tempo presente” diário), estará hoje um dos desafios determinantes das instituições sociais, políticas, religiosas; quando não passam a ser insignificantes perdendo a capacidade de acompanhar a vida, sendo vistas como facultativas pois exteriores e descomprometidas com a realidade, daí muita da generalização da indiferença actual.
4. Na mediática Maddie estão todas as crianças desaparecidas, raptadas e abusadas que ficam no silêncio. No sofrimento e na prece de seus pais estão presentes as angústias de muitos milhares de famílias. Como sabemos, o que menos interessa nestas circunstâncias é gerar o pânico da insegurança; mas é incontornável esta ferida dolorosa que se multiplica continuamente e que toca bem fundo na incapacidade humana de viver a liberdade respeitadora. Se nos sentimos satisfeitos porque, apesar de tudo Portugal (à escala do mundo) é um país seguro, a verdade é que o longe hoje mais que nunca está perto. Mundo global, (tanto alegrias como) preocupações globais. Nesta conjuntura, talvez o sinal mais preocupante é imensa “rede de redes” que continuamente interagem e preparam estes novos crimes contra a humanidade. Como responder? Será que, na ausência da verdadeira liberdade humana, teremos de fazer deste mundo um gigantesco big brother, com fiscalizadoras câmaras de filmar por todo o lado? Para ir à raiz do problema teremos que investir mais em compreender as razões que levam pessoas humanas a cometer tais crueldades contra os seus “irmãos”. Tarefa infindável mas essencial. Que todas as Maddies regressem ao seu lar; que todos os pais abracem os seus filhos e dêem VIDA ao tempo em que estão com eles!...

A RIQUEZA DA NET



Graças ao desenvolvimento das tecnologias da informação, o cidadão comum tem hoje acesso a um infindável conjunto de elementos que podem, seguramente, contribuir para a sua formação. Também há, obviamente, muita coisa má, que deve merecer, da nossa parte, o repúdio ou a pura indiferença.
Por exemplo, o portal http://www.lancaiasredes.org/ tem todos os arquivos do Fórum Universal do CUFC, bem como a maior parte das conferências, debates e tertúlias com algum registo de índole religiosa, que se vão proferindo por terras de Aveiro.
Trata-se, pois, de mais uma oportunidade para nosso enriquecimento pessoal. Esteja atento, por isso.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

EDUARDO LOURENÇO

Uma entrevista para ler...


RETRATO
DE UM PENSADOR ERRANTE


Como vê a Igreja Católica, enquanto instituição?

Creio que a Igreja só está por intermitência à altura do seu próprio passado. Curiosamente, este papa, que é tido como um papa reaccionário, no sentido de vir reiterar uma espécie de dogmática, sobretudo na ordem ética, que caracteriza a mensagem católica, é, a outros níveis, um papa menos reaccionário do que as pessoas julgam. Ele veio despolitizar o discurso da Igreja e é um grande teólogo. Foi o primeiro papa a fazer uma pastoral, ou talvez uma encíclica, já não sei, sobre o tema do amor, na qual o “Eros” é tratado nas suas diversas conotações, e não apenas nessa conotação negativa e pecaminosa que o conceito tinha arrastado até hoje na visão cristã do mundo. As pessoas não dão atenção a estas coisas, mas são muito mais reveladoras do que as posições, mais fáceis, na ordem ideológico-política. Gostei muito desse texto, que cita Nietzsche sem “problemas de pluma”. Nietzsche!, repare bem, o assassino de Deus, o Anti-Cristo. Nesse capítulo, é um papa muito mais aberto do que o anterior, o célebre atleta de Deus. Em todo o caso, estamos num mundo em que nem a palavra dele, nem a de ninguém, tem qualquer eco. Qualquer vedeta de televisão é muito mais importante do que ele. É pena.

:


Nota: O pensador e ensaísta Eduardo Lourenço, que completa 84 anos no próximo dia 23, merece ser mais conhecido pelos portugueses comuns. A biografia autorizada, com texto de Luís Miguel Queirós e fotos de Nelson Garrido, é uma boa oportunidade para os meus amigos ficarem a saber algo mais deste nosso compatriota, radicado em França há décadas, mas sempre com a sua capacidade de intervenção cultural no meio deste nosso País que o viu nascer.
:Leia mais no PÚBLICO

domingo, 13 de maio de 2007

Ares da Primavera


“Quem pode impedir a Primavera
Se as árvores se vão cobrir de flores
E o homem se sentiu sorrir à Vida?

Quem pode impedir a surda guerra
Que vai nos campos deslocando as pedras
– Mudas comparsas no ritmo das estações –
E da terra inerte ergueu milhares de lanças
Que a tremer avançam, cintilantes,
para o limite
Em que a luz aquosa se derrama
Como um mar infinito onde o arado
Abre caminhos misteriosos à seiva
inquieta!

Quem pode impedir a Primavera
Se estamos em Maio e uma ternura
Nos faz abrir a porta aos viandantes
E o amor se abriga em cada um dos
nossos gestos!

Quem?...
Se os sonhos maus do Inverno
dão lugar à Primavera!”

Ruy Cinatti

:
Citado por Laurinda Alves
no seu espaço “Coisas da Vida”,
no “PÚBLICO” de sexta-feira

Festa das Famílias

No Seminário de Aveiro



A ALEGRIA
É PARA SER PARTILHADA

:
No próximo fim-de-semana, 19 e 20 de Maio, vai realizar-se no Seminário de Aveiro a Festa das Famílias. O objectivo desta festa é fazer-nos Reflectir, Festejar, Rezar e Celebrar o Evangelho da Vida e do Amor com todas as famílias da Diocese de Aveiro. Como a Alegria é para ser partilhada, cada família está desafiada a convidar outras famílias para a Festa, até porque o programa é rico e diversificado. Este é mais um momento a não perder pelas famílias que acreditam nos valores que as têm enformado ao longo da civilização cristã. Por isso, convidadas ou não, as famílias podem e devem aparecer, na certeza de que não faltarão tempos muitos agradáveis.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 23


A LENDA DOS GRITOS
DA SENHORA DE VAGOS



Caríssima/o:


«Estão estas terras e populações de Vagos, desde 1385 a 1854 – quase 500 anos – sujeitas ao domínio déspota e autoritário de fidalgos, nobres e senhores que usufruem dos bens e rendas em proveito próprio, administram a seu bel-prazer a justiça em demandas e crimes, e mantêm as famílias trabalhadoras em humilhante subserviência e total obscurantismo, desprovidas de condições mínimas de higiene e apoio sanitário. Esta longa e sofrida história abre em 14/05/1385 com a doação de D. João I a João Gomes da Silva, primeiro senhor de Vagos, para encerrar em 14/03/1854 com a morte de D. Maria José da Apresentação Pedro Regalado Baltazar do Pé da Cruz da Silva Telo de Meneses Corte-Real de Noronha, 18.ª senhora e 4.ª Marquesa da Vila de Vagos.
Estranham com justíssima razão os historiadores que em nossos dias não haja quaisquer resquícios, no âmbito da arquitectura, que atestem a presença e o domínio de tais fidalgos e senhores em terras de Vagos. No entanto, por ironia, diz a lenda – provavelmente a menos conhecida mas a mais tenebrosa – que a imagem de Santa maria solta gritos lancinantes, chorosos, carregados de revolta, que ecoam, terreiro além, pelos casais adentro. Porquê? Cumprindo ordens loucas de ignaro senhor destas terras e gentes, os criados, empunhando escopro e maceta ou serra dentada, mutilam irreparavelmente a escultura com especial incidência na parte posterior ao nível da cintura, serram as pernas do Menino por sob os joelhos, decepam a mão e o antebraço direito da Senhora, devastam a coroa de rainha que lhe ornava a cabeça, com o objectivo condenável de os revestir de roupa interior, cabeleira, vestido e capa.
Esta agressão rude, ignóbil, contra a jóia mais preciosa do património artístico ali conservado, só pode ter acontecido entre os finais do séc. XVI – data do início do revestimento a panos das esculturas na Igreja – e o término do domínio da nobreza entre nós (1854).
Os gritos que ecoam, pungentes e aflitivos, até ao mais fundo do coração dos devotos, exprimem corajosamente a revolta e a condenação do vil atentado contra uma obra de arte que deve ser preservada com carinho e não grotescamente mutilada.»


Transcrita esta lenda do livro “Santa Maria de Vagos”, de Manuel António Carvalhais, edição da Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de Vagos, 2000, pg. 55, onde ainda se poderão encontrar mais cinco: A Lenda das Origens da Imagem e da Ermida, A Lenda da Chuva Copiosa, A Lenda da Senhora em Cantanhede, A Lenda da Cura do Leproso, A Lenda da Pontinha.
Aqui deixo a minha homenagem a este e a tantos outros sacerdotes que nos têm ajudado a ler a História das nossas Terras!
E se me permite, secundarizo o seu “grito”, alertando os nossos Amigos para que não rasguem ou queimem nenhum papel ou livro, por mais velho, amachucado ou maltratado, desde que tenha algo da vida dos nossos Antepassados. Se possível, conservem alfaias, ferramentas, utensílios, construções; antes de destruir, fotografem, copiem, peçam opinião... A quem?!... Vá lá, ao Grupo Etnográfico...
Todos ficamos a ganhar!

Manuel

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


BENTO XVI
APROVOU O FIM DO LIMBO

Depois de uma conferência, no período das perguntas, uma senhora atirou-me: "Sempre é verdade o que dizem: o senhor nega dogmas da Igreja!" Pedi-lhe para dar exemplos. Ela: que tinha negado o dogma do pecado original.
Aí, perguntei-lhe se tinha filhos. E ela: "Sim, tenho duas filhas." Dei-lhe parabéns sinceros e desafiei-a a dizer-me se acreditava sinceramente que as duas filhas tinham sido geradas em pecado e que ela tinha andado nove meses de cada vez carregando com duas filhas em pecado dentro dela. Ela: "Nem pense nisso! É claro que não."
Fiquei então, mais uma vez, a saber que, frequentemente, há na religião o que se chama dissonância cognitiva: afirma-se uma coisa, mas realmente não se acredita nela, porque se pensa outra coisa. Aquela senhora, confrontada com a questão, viu claramente que não podia acreditar que uma criaturinha inocente, concebida com amor, tivesse sido gerada e tivesse nascido em pecado, um pecado de que não era autora nem culpada. Mas ao mesmo tempo acusava de heresia quem dissesse o contrário do que lhe ensinaram que devia dizer, sem pensar. Ora, a fé não pode entregar-se à cegueira, abandonando a razão.
O pecado original não se encontra na Bíblia. Segundo o exegeta Armindo Vaz, a "transgressão" mítica de Adão e Eva "não implica um juízo de ordem ética ou moral nem permite a sua interpretação como 'pecado', 'falta' ou desobediência moral". Como foi possível essa interpretação moral, se, na lógica dos mitos de origem, a natureza humana ainda estava em processo de criação e as acções do casal primordial são precisamente para "complementar a criação da sua condição humana: 'comer da árvore do conhecimento' (aquisição do conhecimento), cobrir a nudez (aquisição da civilização), sentença divina, decreto de morte e expulsão (aquisição da condição de sofredor, mortal e trabalhador)"?
Já o filósofo Hegel tinha interpretado a saída do "paraíso terreal" como a passagem da animalidade à humanidade. O pecado original foi elaborado essencialmente por Santo Agostinho, com a finalidade de evitar a atribuição do mal a Deus. Para ele, foi com o pecado de Adão e Eva que veio ao mundo todo o mal, incluindo a morte, e, com esse pecado, transmitido de geração em geração, a Humanidade toda tornou-se "massa condenada" ao inferno, do qual só alguns são libertos pela graça imerecida de Deus.
Esta concepção agostiniana teve pesadíssimas consequências no Ocidente e no mundo. Escreveu o filósofo cristão P. Ricoeur: "Nunca se dirá suficientemente o mal que fez à cristandade a interpretação literal, melhor, historicista, do mito adâmico, ao levá-lo à profissão de uma história absurda e às especulações pseudorracionais sobre a transmissão quase biológica de uma culpabilidade quase jurídica da falta cometida por outro homem, castigado na noite dos tempos, algures, numa fase da evolução entre o Pitecantropo e o homem de Neandertal."
Santo Agostinho não hesitou em deixar cair no inferno as crianças que morriam sem baptismo, entrando assim no Ocidente uma concepção bárbara de Deus. Como foi possível conceber um Deus que teria castigado a Humanidade inteira com o calvário todo da História e o inferno por causa de um único pecado de seres humanos ainda no dealbar da consciência? E como poderia aceitar-se a condenação eterna de crianças inocentes, a não ser que recebessem o baptismo?
O limbo apareceu na Idade Média para atenuar esta crueldade. Assim, as crianças sem baptismo ficavam privadas da visão de Deus, mas não eram condenadas ao inferno. Erguia-se, porém, legítima, a pergunta: não se trataria ainda de um castigo?, e como poderia Deus, infinitamente poderoso e bom, estar dependente, em ordem à salvação, de uma concha de água?
Já em 1984, J. Ratzinger afirmara que o limbo era uma mera hipótese teológica. No passado dia 19 de Abril, o agora Papa Bento XVI aprovou um documento de 41 páginas, preparado pela Comissão Teológica Internacional, que acaba com o limbo e abre as portas da salvação às crianças que morrem sem serem baptizadas.

sábado, 12 de maio de 2007

Festas de Santa Joana e do Município de Aveiro




A MISSÃO DA IGREJA NUNCA FOI DOMINAR
MAS SIM HUMANIZAR E SERVIR
Celebrou-se hoje, 12 de Maio, a festa em honra de Santa Joana, padroeira da diocese e cidade de Aveiro. Na homilia da elebração eucarística, D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro, sublinhou que o exemplo de Santa Joana "ensina-nos o que o evangelho sempre nos disse: a missão da Igreja nunca foi dominar mas sim humanizar e servir, com particular e fraterno afecto aos mais pobres, esquecidos ou desamparados pela vida e pela sorte". E apelou aos pobres e aos que sofrem que não receiem bater à porta da Igreja de Aveiro neste limiar do século XXI como o faziam à porta do Convento de Jesus no tempo de Santa Joana".
Aos jovens, o prelado pediu para que Santa Joana lhes desperte "a alegria de descobrir a beleza e o encanto da vocação para a vida consagrada".
Durante a tarde de hoje realizou-se a tradicional procissão, em que marcaram presença os muitos membros da secular Irmandade de Santa Joana, outras Irmandades, associações, grupos católicos e cívicos, bem como as forças vivas da cidade e muito povo.
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Aliança das Civilizações

Jorge Sampaio
pede contributo da sociedade civil
para fortalecer Aliança
das Civilizações


O alto representante das Nações Uni-das para a Aliança das Civilizações, Jorge Sampaio, exortou ontem à noite, em Nova Iorque, à colaboração da sociedade civil, dos líderes religiosos e do sector privado na promoção do entendimento e na cooperação.
O ex-presidente português, que se dirigiu pela primeira vez aos países da ONU, desde que assumiu o cargo, no debate temático informal convocado pela presidente da Assembleia-Geral, Sheika Haya Rashed Al Khalifa, intitulado "Civilizações e os Desafios para a Paz e a Segurança Mundiais", reconheceu que se vive hoje num mundo "polarizado", mas rejeitou "o fatalismo" da expressão "choque de civilizações".
Como enviado especial, Jorge Sampaio assinalou que fará tudo o que estiver ao seu alcance para melhorar as relações interculturais, negando-se a aceitar a premissa da confrontação de civilizações, por considerar que isso equivale a uma rendição e a afirmar que os problemas não se podem resolver.
Sampaio reconheceu que a identidade cultural e as crenças são exploradas com motivações políticas, defendendo, por isso, que é necessário implementar iniciativas que permitam estabelecer pontes para o diálogo.
"A tendência emergente ao extremismo não é problema de sociedades ocidentais e muçulmanas, também afecta outras comunidades", salientou.
O responsável disse que tentará impulsionar iniciativas com os governos destinadas a reforçar a democratização, o respeito pela lei e os direitos humanos.
"Devemos trabalhar juntos para que os compromissos adquiridos na Aliança das Civilizações se convertam em resultados", afirmou.
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Fonte: PÚBLICO on-line

Citação

“Há duas maneiras de reagir a eleições. Uma: sair de casa, votar, es-perar pelos resultados e seguir com a vida no dia seguinte. Outra: sair de casa, votar, esperar pelos resultados e, se eles não nos agradarem, incendiar carros e atirar pedras à polícia. Depois, há duas maneiras de olhar para estes vândalos. Uma: estão a atacar a democracia, se forem da extrema-direita. Outra: estão a exercer o seu legítimo direito à indignação, se forem da extrema-esquerda.” (…) “A extrema-esquerda, como se provou mais uma vez, é tão estúpida e tão perigosa como a extrema-direita.”
In Editorial da “SÁBADO”,
a propósito das recentes eleições
presidenciais em França

Bispos de Aveiro

UM LIVRO DE MONS. JOÃO GASPAR

“OS BISPOS DE AVEIRO
E A PASTORAL DIOCESANA”


Em Fevereiro deste ano saiu mais um livro de Mons. João Gonçalves Gaspar, Vigário-Geral da Diocese de Aveiro e membro da Academia Portuguesa de História. Trata-se de “OS BISPOS DE AVEIRO E A PASTORAL DIOCESANA”, uma obra de 80 páginas, que apresenta, em resumo, a acção desenvolvida pelos Bispos da restaurada Diocese de Aveiro, que estão bem presentes na memória de muitos.
Quem gostar de conhecer o que foi a acção destas quatro prelados, a nível pastoral, sobretudo, tem aqui um trabalho muito útil e interessante, pois sente-se, no que escreveu e revelou o autor, a entrega, carregada de dinamismo, cada um no seu estilo, de D. João Evangelista, D. Domingos Fernandes, D. Manuel de Almeida Trindade e D. António Marcelino.
O Bispo de Aveiro, D. António Francisco dos Santos, que entrou na diocese em 8 de Dezembro de 2006, lembra que Mons. João Gaspar “é desde os primeiros anos após a restauração da Diocese o mais próximo e dedicado colaborador dos Bispos de Aveiro, o mais atento e laborioso conhecedor e investigador da história da Diocese, um abnegado e incansável cireneu dos sacerdotes, diáconos, consagrados e leigos da Igreja diocesana e um ilustre e destacado aveirense”.
Segundo o autor, e conforme se lê em INICIANDO…, este livro apenas pretende significar, embora sucintamente, a sua “homenagem sincera a todos os cabouqueiros e executores da constante restauração diocesana, ao longo de uma história ininterrupta de sessenta e oito anos, sempre sob a protecção da Princesa Santa Joana, nossa celestial padroeira, com o carinho maternal da Virgem Santa Maria e no amor do Senhor”.
“OS BISPOS DE AVEIRO E A PASTORAL DIOCESANA” lê-se depressa, mas a sua maior importância reside no facto de, a traços largos, podermos recordar, em qualquer momento, o que os quatro bispos, nele referenciados, fizerem pela Igreja e pelo povo da Diocese de Aveiro.

Fernando Martins





sexta-feira, 11 de maio de 2007

Ares da Primavera

"O que nos faz vibrar na Primavera
não são as cores garridas,
os sons da alegria e o ar quente.
É o espírito silencioso e profético
de infinitas esperanças,
a antevisão de muitos dias felizes"
Novalis
: In Coisas da Vida, de Laurinda Alves, no PÚBLICO de hoje.

Liberdade de imprensa



VÂNDALOS EM ÍLHAVO


Há dias foi surpreendido por uma notícia imprópria de uma sociedade civilizada. Vândalos à solta marcaram com a sua ira a sede do jornal O ILHAVENSE e a residência do seu director, José Sacramento. A gente de bem só pode protestar por estes factos, tanto mais que o director do jornal é um homem bom, honesto e muito considerado em Ílhavo e sua região. Por isso, a nossa solidariedade para com ele e para quantos trabalham no jornal.
Não sei por que razões os vândalos agiram assim, a coberto da noite, numa clara manifestação de covardia. Não é de estranhar, porque gente dessa não pode ter, nem sabe ter, comportamentos dignos. Mas não são pessoas de meter medo a José Sacramento, porque ele não se atemoriza com vândalos, nem com os que não aceitam as regras de uma democracia aberta e participativa.
José Sacramento, pelo que me disse, continuará a pautar a sua conduta jornalística por critérios de verdade e de respeito por todas as opiniões e opções partidárias, no quadro da nossa democracia, pugnando sempre pela liberdade e por caminhos de justiça social, rumo a um mundo melhor. Nem outra coisa era de esperar.
Aqui quero deixar expressa a minha solidariedade e o meu incentivo, para que O ILHAVENSE continue a formar e a informar, livremente, as gentes de Ílhavo.

Fernando Martins