sexta-feira, 15 de julho de 2005

Núcleo Museológico do Piódão

Posted by Picasa Um aspecto do museu As raízes de um povo entroncam
na sua memória colectiva Fazer turismo, para mim, é passar obrigatoriamente, com olhos de ver e ouvidos para ouvir, pelos museus, é visitar e apreciar monumentos, é conhecer a história das povoações, é indagar das suas raízes. No Piódão, não podia deixar de visitar o Núcleo Museológico e de contemplar todo o seu acervo, como quem saboreia delicioso petisco. “As raízes de um povo entroncam na sua memória colectiva”, lê-se no desdobrável promocional do Núcleo Museológico, e é verdade. Quem não entender isto não vai longe no seu amor à terra em que nasceu. Mas o povo de Piódão sabe que, para construir o seu presente e o seu futuro, não pode prescindir do seu passado colectivo. E para mostrar a importância desse passado, tem o seu Museu, que a Câmara Municipal de Arganil ajudou e ajuda a manter, com todo o rigor etnográfico. O Núcleo Museológico fica logo à entrada da povoação, no Largo Cónego Manuel Fernandes Nogueira, que foi pároco e em Piódão fundou um colégio, que funcionou entre 1886 e 1906. Este colégio, que muitos consideram ter sido também um Seminário, foi um grande centro cultural que serviu toda a região. O espaço museológico está organizado em três núcleos temáticos: “ Olhar dos Outros”, isto é, o modo como os artistas (pintores, escritores, escultores, entre outros) sentiram e sentem estas terras e estas gentes, a serra e os seus recantos; “Uma História cheia de Estórias”, onde mouros e bandidos, médicos e mestres barbeiros, ali são recordados; e “Vida Quotidiana (A casa e a terra)”, com as tradições, os usos e costumes e o modo de vida das pessoas, como testemunho de tempos distantes e … também não muito distantes. No mesmo desdobrável, leio que “uma cultura só permanece viva enquanto houver um conjunto significativo de actos, objectos e histórias reconhecíveis por todos como pertencendo a um legado comum. Esta herança identitária (…) é a base da coesão comunitária, o cimento sobre o qual se podem, com segurança, erguer os alicerces que estão para vir”. Concordo. Fernando Martins Dois registos, patentes no Museu: Piódão, 7 de Abril de 1991 “Com o protesto do corpo doente pelos safanões tormentosos da longa caminhada, vim aqui despedir-me do Portugal primevo. Já o fiz das outras imagens da sua configuração adulta. Faltava-me esta do ovo embrionário” Miguel Torga, in Diário XVI
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E agora Que o frio Deixou vazio Todo o espaço… O traço do tempo Que vejo e vedes Fica mais claro Por detrás destas paredes Agora Deuses da montanha Adormecidos Sem lamentos Dizei-nos da vossa luz Soprai-nos dos vossos ventos Hélio Gomes (Poeta e escultor)

PIÓDÃO: Aldeia Histórica que merece uma visita

Aspecto da aldeia

Passagem obrigatória 
para turista que preza a cultura

De Arganil, rumei a Piódão, uma Aldeia Histórica que é uma referência nacional. Foram 41 quilómetros, por estrada que serpenteia a Serra do Açor, do cimo da qual se pode apreciar um panorama único, pela verdura que o enche e pelos desfiladeiros que atemorizam o viajante mais destemido. Por aqui e por ali, casebres abandonados, de xisto, e, lá no alto, as torres que aproveitam a energia eólica. Nem vivalma pelo caminho. Apenas a serenidade e a beleza do ambiente, o ar puro que desentope os brônquios e a alma a sentir-se livre e a querer voar para chegar ao infinito. Depois, ao longe, ao virar de uma esquina serrana, meta à vista, com o casario da aldeia, como um bloco único de xisto.
Piódão é uma aldeia que não pode deixar de fazer parte de qualquer roteiro turístico para quem busca raízes ancestrais. A fundação do povoado data de 1676 e mantém, ainda hoje, as características da região, com uma fidelidade que impressiona. Povoamento concentrado de montanha, numa encosta e em ladeira, casas de xisto, ruas pedestres estreitas e tortuosas, regatos que escorrem por leito de pedra, flores e hortas em recantos aproveitados, tudo nos mostra o labor harmonioso de gente que através de séculos e séculos ali se fixou.
Hoje, Piódão tem apenas 60 moradores, seis dos quais são crianças com idades compreendidas entre os 2 e os 4 anos. A Escola do 1º Ciclo do Ensino Básico, que no presente ano lectivo teve um só aluno, filho do próprio professor, dali natural, vai encerrar. Mas a vida continua na aldeia, com gente que emigra e que volta, com gente que a visita, que o turismo, agora, é uma das principais fontes de receita.
Nesta aldeia histórica, servida por ligações rodoviárias, há alojamentos, cafés e restaurantes, onde ainda é possível apreciar o cabrito assado e a chanfana, tendo a tigelada, o pão-de-ló, as filhós e os coscoréis como boas sobremesas. O licor de mel e a aguardente de medronho, que dizem ser bons digestivos, e o mel, de produção regional e local, são excelentes.
Durante os percursos turísticos, feitos por ruas e ruelas, de empedrados irregulares, podemos apreciar, para além do casario que domina tudo, a Capela das Almas (1852), a Capela de São Pedro (1838), padroeiro da povoação, a Capela de São João (da primeira década do século XVII), e a Igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, edifício setecentista, que foi reconstruída no século XIX, tendo como autor do projecto o Cónego Manuel Fernandes Nogueira. Junto à matriz há casas datadas de 1869.
Como curiosidade história, aponta-se o facto de Diogo Lopes Pacheco (estes apelidos ainda hoje existem na aldeia), conselheiro de D. Afonso IV e que contribuiu para o assassínio de D. Inês de Castro, se ter refugiado em Piódão. Também se diz que o célebre salteador e assassino João Brandão, que atacava de noite os povos da região, se escondia de dia em casa do pároco.
O Núcleo Museológico do Piódão, que merece um texto à parte, é lugar de passagem obrigatória para o turista que preza a cultura.

Fernando Martins


quinta-feira, 14 de julho de 2005

FOTOS DE FÉRIAS - 6

  
Aspecto do "Consultório" do Dr. Adolfo Rocha

No Hospital de Arganil procurámos o “Consultório” do Dr. Adolfo Rocha. Não foi difícil. Já sabíamos que ele estava lá, mas não sabíamos em que espaço. À nossa pergunta, uma transeunte respondeu logo: "No portão de ferro, lateral, logo à entrada, lá encontra o “Consultório” de Miguel Torga." E assim foi. Quem conhece a obra de Miguel Torga, sabe que ele trabalhou em Arganil alguns anos e que sempre ficou indelevelmente ligado à terra e suas gentes. A foto mostra o possível e na base, em placa explicativa, pode ler-se: 

“Material doado pelo Doutor Adolfo Rocha (Miguel Torga) 
ao Hospital de Arganil, onde trabalhou muitos anos.”

FOTOS DE FÉRIAS - 5

Posted by Picasa Busto do Dr. Fernando Vale
O Dr. Fernando Vale, falecido, no ano passado, com 104 anos, foi fundador do PS e seu presidente honorário. Médico respeitado por todos, foi também lutador antifascista e arauto de causas justas, o que fez dele um símbolo da dignidade e da frontalidade cívicas. O seu busto recebeu uma frase cheia de significado do também médico e escritor Miguel Torga, que reza assim: “Nenhuma prepotência o vergou e desviou do recto caminho cívico da justiça e da liberdade.”

ARGANIL: um pedaço do nosso passado

Rua de Arganil
Arganil, com registo de nascimento anterior à nacionalidade portuguesa (o seu primeiro foral data de 1114 e foi-lhe concedido por D. Gonçalo, Bispo de Coimbra), é um pedaço do nosso passado colectivo e da nossa cultura. A sua beleza é indiscutível, ou não fosse a vila envolvida por serranias a perder de vista, com penhascos de recorte caprichoso a oferecerem-lhe e a oferecerem-nos paisagens inesquecíveis. 
Da sua história, respigamos a necrópole megalítica da Lomba do Canho, que uma guarnição romana ocupou muitos séculos depois, o Mosteiro de Arganil, de que se fala desde 1086, as festas e inúmeros monumentos de épocas diversas, e a gastronomia, de sempre: o cabrito assado, o arroz de miúdos, o pão caseiro e a tigelada, decerto criada no Mosteiro de Folques, no século XVII. 
Logo à entrada, recebe-nos a capela de S. Pedro (dos finais do século XIII), verdadeira jóia do Gótico. Fechada ao público, só pudemos apreciar o seu exterior, o mesmo tendo acontecido com a matriz. Já a igreja da Misericórdia, pequena e bonita, com o seu altar e trono a surpreenderem-nos pela singularidade da beleza que ostentam, encantou-nos. Um órgão de tubos, enorme em relação ao templo, afinado e com óptimo som, como nos testemunhou uma devota residente, e o púlpito de antanho exibem o cuidado com que tudo ali é tratado. 
Arganil foi, para nós, terra de passagem, em busca de aldeias históricas. Mas nem por isso quisemos deixar de apreciar o possível. Vimos, então, na zona mais antiga, ruas estreitas, como mandavam as exigências dessas épocas, com gente que ciranda, por aqui e por ali, como nós, que compra e vende, que descansa em esplanadas olhando o burburinho e o corre-corre de muitos, cruzando pequenas mas acolhedoras praças. 
Passagem obrigatória para quem gosto de coisas do nosso passado colectivo é o Museu Etnográfico de Arganil, paredes-meias com o posto de turismo e integrando a Casa Municipal da Cultura. Este projecto nasceu na Câmara Municipal e teve como finalidade “salvar do esquecimento e do pó (para benefício das gerações futuras) as raízes culturais desta região – os hábitos e os objectos que formam a memória colectiva dos povos da Beira Serra”, como se lê em folheto promocional. 
O espaço museológico é preenchido por diversos temas: O Ciclo da Subsistência (Agricultura e criação de gado), A Vida Familiar (A casa), A Sobrevivência económica (Artes e profissões tradicionais) e Últimas décadas (A agonia da Serra). Existe, ainda, uma área destinada a exposições temáticas temporárias. Depois, e sempre a correr, fomos à cata do Dr. Fernando Vale e de Miguel Torga. 

Fernando Martins

Para que acreditem e tenham a vida

Orientações para a catequese actual da Conferência Episcopal Portuguesa
1. INTRODUÇÃO: A RENOVAÇÃO DA CATEQUESE.A renovação dos catecismos que, neste momento, se torna urgente, leva-nos a tomar consciência da necessidade de esclarecer a identidade da catequese que pretendemos pôr em prática. Os catecismos são instrumentos para fazer catequese. Para definir as características dos catecismos, precisamos de esclarecer também a obra que queremos realizar com eles e o contexto em que devem situar-se, ou seja, a educação da fé que conduza ao crescimento da vida cristã.
A catequese encontra-se, há várias décadas, num processo de renovação de forma a responder às profundas mudanças do contexto cultural. Como declarou o Sínodo de 1977: “A renovação da catequese é um dom do Espírito Santo concedido à Igreja nos dias de hoje” (CT3). Verificou-se, primeiramente, a nível pedagógico, integrando os métodos activos, procurando uma relação mais forte com a vida, adoptando os áudio - visuais, prestando maior atenção à dinâmica do acto catequético. Depois, sobretudo com o Concílio Vaticano II, renovaram-se também os conteúdos doutrinais, seguindo a perspectiva da história da salvação e acompanhando o ritmo do ano litúrgico. A catequese torna-se mais bíblica e mais ligada à experiência dos catequizandos e das comunidades. Como regista o Directório Geral de Catequese: “Os trinta anos decorridos desde a conclusão do Concílio Vaticano II até aos umbrais do terceiro milénio constituem, sem dúvida, um tempo extremamente rico de orientações e propostas para a catequese. Foi um tempo que, de alguma maneira, recuperou a vitalidade evangelizadora da primeira comunidade eclesial; foi um tempo que relançou oportunamente o ensinamento dos Padres e favoreceu a descoberta do antigo catecumenado” (DCG 2).
(Para ler o texto na íntegra, clique aqui)

Um artigo de D. António Marcelino

Este país onde tudo chega mais tarde…
Tudo, isto é, a feira internacional da pornografia, o desfile público dos homossexuais e das lésbicas e o casamento dos mesmos, o aborto “a la carte”, a informação sexual sem tabus, os jornais mais respeitáveis a fomentar a prática da prostituição fina e segura…
O que pode passar sem lei ou torneando a lei, não se atrasa. O que se julga ser exigência de uma modernidade arbitrária e sem regras, vai aparecendo, mais ou menos como facto consumado. O que tem interesses a explorar de qualquer ordem, se tarda, já vem a caminho.
Entretanto, os pobres aumentam, os casamentos desfazem-se mal nascem, o aproveitamento escolar não melhora, a tentação do supérfluo leva a perder o necessário, as relações sociais encrespam-se e edificam-se, por todo o lado, estátuas com pés de barro.
Entre nós, a diferença vai deixando de ser riqueza. Rico passou a ser o que é igual ao de lá de fora, e chegou aí por força de um mimetismo empobrecedor, das misérias que destroem pessoas e já desagregaram povos. Cada vez se faz mais importação daquilo que não presta, e se deixa, sem préstimo, o que, de seu natural, é bom.Em relação ao que afecta as pessoas por dentro, pensa-se cada vez menos e cresce o número dos que vão fugindo ao incómodo de ser livres e de reflectirem e optarem por si. Alguns meios de comunicação social ajudam, cada dia, este empobrecimento colectivo, calando o que vale e dando valor ao lixo. Muitos dos que escrevem, também já não pensam. Parecem autómatos teleguiados, dependentes de quem lhes dá o pão a ganhar. Ou, se pensam, é sempre e só numa direcção.
Há actividades em que a liberdade é cada vez mais cara e a subserviência mais evidente. O plano está muito inclinado e o deslize, ainda que imperceptível, é permanente e inevitável.
Quem comanda o processo? Os papagaios do regime, que dizem, desdizem, contradizem e dançam conforme a música; os grupos de pressão, normalmente minoritários, comandados por interesses que já são mais do que conhecidos; os dirigentes de organizações de classe, que perderam o sentido do conjunto nacional e só olham para dentro; os “videirinhas” que se sabem aproveitar das situações para subir ou acumular bens. Há ainda os instalados que não querem perder nada e estão sempre de acordo com quem os favorece. Por fim, os críticos profissionais, que nada fazem para dar novo rumo ao “sistema” de que fazem parte e os vai minando.As consequências desastrosas de tudo isto são abafadas, o bem comum deixa de ter sentido, o que resta de bem vai-se a pouco e pouco esfumando, os incompetentes ganham terreno, os mais capazes emigram, a gente nova prefere o mais fácil, os adultos encostam-se onde parece mais seguro e ninguém os cala, quando o seu encosto começa a oscilar.
É preciso pintar o quadro com pouca luz, que também não tem muita, para ver se as pessoas acordam, se organizam e assumem um papel activo em relação ao rumo deste país, onde há “mais problemas para além do deficit”. Não falta gente capaz, inquieta e séria, mas são poucos os que se dispõem a lutar na linha da frente.

terça-feira, 12 de julho de 2005

AUSENTE, MAS SEMPRE PRESENTE

De viagem, não estarei por cá, amanhã, em princípio. Quando chegar direi do que vi e li. F.M.

Um artigo de António Rego

Pobreza e Ozono
Medo, propaganda, paternalismo, branqueamento da má consciência dos ricos e poderosos? De tudo pode ter surgido um pouco na última reunião do G8 voltada, em boa parte, para os continentes e países mais pobres do planeta. Mas não só. Importa olhar para uma nova consciência de direitos fundamentais de todos os povos que muitas vezes têm riqueza humana e material, mas não têm autorização para processar o seu próprio desenvolvimento. Estamos, pois, numa questão de fronteira de importância decisiva para a própria história. Com gestos de atenção e reflexão mundial sobre estes temas e numa nova perspectiva de solidariedade a humanidade vai dando passos lentos que, inicialmente, parecem concessão de favores mas na verdade se tornam reconhecimento de direitos.
E entramos, assim, na curva subtil do direito de todos aos bens essenciais, mesmo quando circunstâncias históricas, políticas ou outras, mantiveram grande parte da humanidade no usufruto mínimo dos bens, abaixo da sobrevivência.
O G8, instância, de si, arrogante e elitista, pode converter-se numa consciência da mundial dos direitos dos países mais pobres muito para além do paternalismo em que se pode converter a urgente solidariedade dos povos. Desta vez foi lançado um olhar técnico sobre os países mais endividados sem deixar de reconhecer que a “solidariedade” não é uma palavra vaga ou um gesto ocasional.
Com o reconhecimento consequente que uma ajuda paternalista e desprogramada apenas agravará o fosso da pobreza. Com a certeza que o problema da pobreza e do desenvolvimento é um problema global. E não fica mal colocado ao lado das preocupações com o ambiente, a defesa da terra, nomeadamente nas alterações climáticas. Estamos perante duas chagas planetárias que, por igual, dizem respeito a todos: a pobreza que sufoca a maioria e o buraco do ozono que nos pode sufocar a todos.
Ambos têm a ver com o presente e o futuro de todos.“Estamos - como escrevem os bispos portugueses em Nota Pastoral – num momento em que é preciso realçar as exigências do bem comum, isto é, a prevalência do bem de toda a colectividade sobre interesses pessoais ou corpo-rativos”. Palavras certas para o momento nacional e internacional que vivemos.

FOTOS DE FÉRIAS - 4

 
A poesia junto à praia
 
Quem andar pela marginal da praia da Figueira da Foz, não deixará de notar a homenagem que a cidade prestou a um seu filho ilustre. É ele João de Barros, notável cidadão que muito deu ao País. As suas ideias e ideais, que nada tinham que ver com os fundamentos familiares (monárquicos, católicos, conservadores), já que se dizia e era republicano, maçónico e anticlerical, levaram-no a lutar pelo respeito cívico e democrático. 
Foi também político, amigo da liberdade, pedagogo e escritor. A poesia também passou por ele, ou ele por ela, deixando-nos um jogo de palavras, carregado de harmonia.

No monumento, junto ao mar da Figueira, pode ler-se um naco poético que vale a pena ler e reler. Aqui fica

 ... aquele mar da minha infância 
bom camarada e meu irmão...

eu sorrirei, calmo e contente 
se ouvir e vir, perto, 
bem perto o mar fraterno, 
o mar eterno, 
o livre mar...

FOTOS DE FÉRIAS - 3

Figueira da Foz não é só praia

  
Prof. Doutor Joaquim de Carvalho

Ao contrário do que muitos pensam, a Figueira da Foz não é só praia. Tal como outras cidade e vilas, e até muitas aldeias, há sempre sinais de vida, de cultura, de valores e de tradições que merecem ser conhecidos e compreendidos.
Tenho o hábito de procurar, nas terras por onde passo, esses sinais que, no fundo, fazem a história das povoações. E confesso, até, que imensas vezes fico surpreendido com o que encontro nas deambulações que faço. Os monumentos, os nomes das avenidas e ruas, as estátuas, as lápides em casas antigas, entre outros vestígios do passado, deixam-me encantado.
Hoje, mostro a homenagem que a cidade prestou a um dos seus maiores. É ele o Prof. Doutor Joaquim de Carvalho, uma personagem da cultura nacional, que viveu entre 1892 e 1958.
A lápide, que celebrou o 1º centenário do seu nascimento, em 10 de Junho de 1992, lembra que a sua terra não o esqueceu. E junto ao monumento, lá se diz que ele escreveu a História das Instituições e Pensamento Político, a História da Filosofia, a História da Cultura e a História da Literatura e da Ciência.
Quem por lá passar e olhar com olhos de ver, sempre pode ficar a saber mais alguma coisa, para além da bonita praia da Figueira da Foz.

Fernando Martins

Os portugueses e a Matemática

Posted by Picasa Os alunos precisam de ser estimulados pelos professores De quem será a culpa
da aversão à Matemática? Tenho dificuldades em crer que os portugueses sejam, geneticamente, avessos à Matemática, apesar de, há muito, se falar disso. Também os resultados dos exames nos vão dizendo que algo vai mal no reino desta disciplina, que é fundamental à vida. Não há nada do nosso dia-a-dia que possa existir à margem da Matemática. Tudo gira à volta de números e contas, de cálculos e percentagens, de estimativas e problemas, de compras e vendas, em suma, à volta de uma ciência que acompanha o mundo desde o seu nascimento. Por tudo isto, e já não é pouco, temos de estranhar a aversão da maioria dos alunos por esta disciplina. Sei de muitos que não escondem um certo terror por esta cadeira que faz parte da vida académica, em qualquer parte do mundo. Mas não sei se nos outros países também é assim. Ora, se os alunos, por norma, gostam da generalidade das disciplinas e conseguem bons resultados, por que razão detestam a Matemática? Será que já foram feitos inquéritos para ver a causa desta atitude? Onde estão eles? Nos últimos exames do 9º ano, sete em cada dez alunos tiveram negativa a Matemática, isto é, 70 por cento mostraram à evidência que detestam esta disciplina. E não se venha agora dizer que isto aconteceu só este ano, porque estes resultados são frequentes. Então, de quem será a culpa? O normal é acusarem os alunos de falta de estudo, de desinteresse, de serem originários de meios familiares nada favoráveis à aplicação curricular, de ausência de motivações, etc. Ainda se diz que a mudança sistemática de professores cria problemas ao regular ensino/aprendizagem da Matemática, que as turmas têm muitos alunos (o que dificulta um ensino individualizado) e que há falta de material didáctico apropriado. Mas será só isso? Cá para mim, a culpa não será apenas dos alunos nem dessas carências e situações. Também deve haver nas escolas alguns professores sem qualquer vocação para o ensino, sem arte para cativar alunos, sem habilidade para descobrirem os melhores caminhos para os estudantes partirem ao encontro da beleza da Matemática. Sei que tem havido iniciativas interessantes nessa linha. Mas será que não se ficam só por uma ou outra escola, ficando quase todas as outras à margem do que de bom se faz? Gostaria de conhecer outras opiniões. Cá fico à espera. Fernando Martins

Fotografias no Estabelecimento Prisional de Coimbra

Iniciativa do Projecto BlogAveiro, do ISCIA

(Com o devido respeito pelo autor da foto)

Esta terça-feira, dia 12 de Julho, são inauguradas, no Estabelecimento Prisional de Coimbra, sete exposições fotográficas do Projecto Blogaveiro. Iniciativa dos alunos de Fotojornalismo do Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração (ISCIA), conta com o apoio desta instituição de ensino, da Fundação para o Estudo e Desenvolvimento da Região de Aveiro (FEDRAVE), e da direcção do Estabelecimento Prisional de Coimbra. 
Expressões, de Ilda Marques ; FrutaCores (vários autores); Gotas, de Fausto Correia; Palcos da Bola, de José Carlos Sá; Sinais do Mar, de Isabel Silva e Sara Agudo; Texturas, de Luciana Alcaide, e Voz do Silêncio, de Isabel Henriques são as exposições que ficarão patentes, por uma quinzena, na entrada, parlatório, acesso ao recreio, refeitório, biblioteca e alas da prisão, fotografias para usufruto dos reclusos e funcionários. Esta série de exposições pretende sensibilizar os reclusos interessados para a arte e técnicas da fotografia. 
Recorde-se que no Estabelecimento Prisional de Coimbra decorre, presentemente, um atelier de fotografia. O Projecto BlogAveiro pretende ser ponto de encontro de todos os que gostam de Aveiro e gostam de fotografia também. Gerado na turma de Fotojornalismo 2004/2005 do ISCIA, não se esgota na cidade de Aveiro , galgando o distrito, a região; não se ancora unicamente nas "fotos das terras", nem sequer abomina tudo o que não seja fotografia. Constitui-se, já, como uma bojuda Galeria Virtual de Fotografias, distribuídas por mais de 30 blogs, ultrapassando as 1.500 imagens, captadas por 30 repórteres fotográficos.

O directório principal do BlogAveiro mora em http://blogaveiro.blogspot.com

Viagens encantatórias pelas aldeias perdidas da Serra da Freita, retratos das gentes do Caramulo, mail’o Senhor Manuel, as moreias mais as pedras-parideiras; gotas que se contam e outras que se esparramam pixéis fora; fotos-miradouro para delícias paisagísticas várias, e outras brotando de espelhos-de-água; fotos pintadas com luz, penumbras e neblina; mordendo o chão para fotografar o repuxo, engolindo poeira para abocanhar a cratera, voando sobre carris, acariciando as nervuras do desenho azulejado; genuflectindo perante o farol medonho de bonito. E fotos com sal, e fotos com um sorriso, estados d’alma; provas de contraste entre o opulento Estádio de Aveiro e o parque de jogos da FIDEC, descidas aos cemitérios, registos de um mundo grafitado. De hoje e de antanho, passeio da Escola Masculina ao Canal dos Santos Mártires, roteiro errático pela cidade bela. E também, agora de mais longe, a neve da Serra da Estrela e a forasteira, o xisto forte do Piódão, apontamentos gandareses, o Douro. E há fotos dentro da máquina da água, e um livro, uma flor, o mar, muitas pérolas a desfiar... 
Para além da presença na internet, o Projecto BlogAveiro, coordenado por Dinis Manuel Alves, materializa-se também através de outras iniciativas, como, por exemplo, exposições em sala.

segunda-feira, 11 de julho de 2005

FOTOS DE FÉRIAS - 2

Posted by Picasa Visita obrigatória para quem gosta de museus
O Palácio Sotto Mayor, na Figueira da Foz, é um museu que vale a pena visitar. Direi até que deve ser visita obrigatória para quem passa por esta cidade. o Palácio foi mandado construir pelo banqueiro Joaquim Sotto Mayor, que fez fortuna no Brasil.
O Palácio, tipo francês, mostra bem o viver da alta burguesia do princípio do século XX, com data de 1920. Foi restaurado em 1980 e é pertença da Sociedade Figueira-Praia, sendo utilizado, presentemente, para eventos sociais e culturais.
Se por lá puder passar, faça perguntas aos cicerones, porque eles têm muitas e saborosas histórias para contar, da vida vivida por uma família abastada, cujos apelidos ainda soam nos nossos ouvidos.
As visitas podem ser feitas, de 1 de Julho a 15 de Setembro, das 14 às 18 horas, e de 16 de Setembro a 30 de Junho, aos sábados e domingos, das 14 às 18 horas.

FOTOS DE FÉRIAS - 1

Posted by Picasa
Conde de Monsaraz
recordado neste palacete
Na Figueira da Foz, nas Abadias, há um palacete que faz parte da Quinta das Olaias. Quem por lá passa pode ler a inscrição que recorda o poeta Conde de Mosaraz, também recordado numa rua figueirense. Hoje, a quinta e o palacete pertencem à Câmara Municipal, que ali organiza, de quando em vez, encontros sociais, culturais e artísticos, segundo me informou uma funcionária.
Na fachada que dá para a rua, que conduz à Igreja Matriz, pode ler-se a seguinte inscrição:
:
"Nesta casa viveu e algumas obras compôs António de Macedo Papança, Conde de Monsaraz. No primeiro centenário do seu nascimento, gloriosa memória do poeta esta lápide consagrou. A Câmara Municipal da Figueira da Foz. Ano de 1952" :
Pouco consegui indagar, nestas férias de 2005, sobre a vida do Conde de Monsaraz na Figueira da Foz. Soube, contudo, por ter lido algures, que o poeta costumava receber neste palacete um outro poeta, João de Deus, com quem habitualmente passeava pela Figueira, durante longas conversas.
Também aqui não tenho qualquer poema do Conde, mas prometo oferecê-lo aos meus leitores, numa próxima oportunidade
F.M.

Parem, em nome de Deus!

Bento XVI apela ao final do terrorismo
“Parem, em nome de Deus!”. Foi este o grito com que o Papa se dirigiu ontem a todos os que “fomentam sentimentos de ódios e levam a cabo acções terroristas tão repugnantes” como os da passada quinta-feira, em Londres.
Falando aos peregrinos, reunidos na Praça de São Pedro, após a recitação do Angelus, Bento XVI manifestou a sua profunda dor pelos atentados que provocaram mais de 50 mortos e 700 feridos, afirmando que “Deus ama a vida que criou, e não a morte”, mostrando assim que a Religião não pode justificar nenhum acto terrorista.
O Papa pediu aos fiéis que rezem pelas vítimas dos atentados na capital britânica e pelas suas famílias. Bento XVI convidou também os presentes a rezar pelos autores do atentado, para que "Deus toque os seus corações".
Num telegrama enviado ao Cardeal de Westminster, o Papa já tinha manifestado o seu pesar e angústia pelo que qualificou de "actos bárbaros contra a humanidade". Ontem voltou a condenar os ataques, classificando-os como "atrozes".
Fonte: Ecclesia

Recados de Jorge Sampaio

Posted by Picasa Jorge Sampaio “Quanto mais se falar da crise,
pior será” Num intervalo da sua visita ao Chile e ao Paraguai, o Presidente da República, Jorge Sampaio, enviou alguns recados, oportunos, para os portugueses. Políticos profissionais e povo em geral. “Quanto mais se falar da crise, pior será”, sintetizou. De facto, todos gostamos muito de criticar o que (não) se faz, mas nem sempre assumimos as tarefas que urge fazer no dia-a-dia, em prol do País, directa ou indirectamente. Quem está atento ao que se escreve e diz na comunicação social facilmente pode confirmar que os colunistas e cronistas se agarram, com unhas e dentes, à crise portuguesa, assunto que dá para tudo. Para apoiar o Governo e para o criticar, às vezes doentiamente, numa clara manifestação de falta de ideias. A crise, pela sua importância, deve ser debatida, na verdade, mas penso que há outros temas que não podem ser ignorados. Realmente, não custa nada dizer bem ou mal, com frases bonitas, trocadilhos e metáforas bem engendradas, semana após semana, repetindo-se todos, até à exaustão, em jeito de competição para ver quem fala ou escreve com mais ênfase. Se a muitos recomendassem que abordassem outras questões, estou convencido de que alguns depressa perdiam a avença ou o espaço que os órgãos de comunicação social lhes reservam. Diz Jorge Sampaio, noutro momento da conversa que teve com os jornalistas, que “o que é preciso é fazer. Demoramos muito tempo a pensar no que falta fazer ou naquilo que devemos fazer”. Mas também apelou ao reforço da área da educação, onde as empresas nacionais podem ser agentes de mudança. E sublinhou: “O País precisa de uma iniciativa privada que não esteja sempre a questionar.” Fernando Martins

Preços dos medicamentos podem descer em Agosto

O “PÚBLICO” noticia hoje que o Governo tem pronta a publicação de uma portaria que pode fazer cair a pique os preços dos medicamentos até final do ano. Diz ainda que no Diploma em que concretiza a anunciada redução de seis por cento já a partir de Agosto, exige à indústria que venda abaixo dos preços praticados em Espanha, Itália e França. A indústria farmacêutica já manifestou o seu descontentamento por esta medida, alegando que este pacote governamental vai arrasar o sector, mas a verdade é que ninguém explica por que motivo os medicamentos são, em Portugal, mais caros do que naqueles países citados pelo Governo. Toda a gente sabe que os elevados preços de alguns medicamentos são incomportáveis para muitos portugueses, sobretudo para os mais idosos, sobretudo para os que vivem com pensões muito baixas. A política da Saúde, a meu ver, não pode permitir que haja compatriotas nossos que tenham de escolher entre comprar medicamentos, caríssimos, ou pão para matar a fome. Claro que o Governo vai ter de enfrentar o lóbi poderoso da indústria ligada à produção de medicamentos, no sentido de procurar um maior equilíbrio social, em que todos, industriais, proprietários de farmácias e consumidores possam viver com dignidade, isto é, sem grandes disparidades de rendimentos. F.M.

sábado, 9 de julho de 2005

BOAS FÉRIAS - 3

O prazer de sentir a natureza As férias devem ter momentos para descobrirmos prazeres. Em semanas anteriores, escrevi sobre o prazer de conviver e sobre o prazer de ler. Para esta semana proponho o prazer de descobrir e de sentir a natureza, com todas as suas tonalidades. Depois de conviver com amigos e familiares e de ler textos saborosos, acho que fica bem procurarmos a natureza que nos rodeia e que nem sempre soubemos ver e apreciar. Sair de casa, deixar os lugares fechados e olhar a vegetação, respirar o ar puro, calcorrear caminhos rurais nunca dantes andados, cheirar o mar, sentir a frescura dos campos, mirar as aves que viajam pelos céus, ouvir os seus chilreios, falar com as árvores e contemplar as flores, tudo isto pode afugentar o stresse, aliviar o espírito, dar ânimo a pensamentos positivos. Para mim, férias nunca foi andar a correr, nunca foi fazer nada, nunca foi procurar o enfado, nunca foi perder tempo, nunca foi cansar-me física e mentalmente. Porque no resto do ano temos tempo de sobra para tudo isso e para muito mais. Sugiro, pois, aos meus leitores, que experimentem descobrir novos lugares (às vezes tão perto de nós), onde Deus beneficiou a natureza com quadros talvez nunca vistos nem apreciados. As montanhas tão cheias de lendas e de horizontes a perder de vista, o mar imenso tão cheio de histórias que fizeram a nossa história pátria, os rios vagarosos ou apressados tão cheios sonhos que se deitam tranquilamente no oceano, o céu estrelado que nos desafia e descobri-lo e a lê-lo e as noites de Verão que nos ajudam a abrir a alma aos que nos enchem a vida são bons motivos para passarmos umas férias mais felizes. Fernando Martins

Dívidas de países pobres perdoadas

G8 unido contra o terrorismo
e contra a pobreza O G8 – grupo dos oito países mais industrializados do mundo (Alemanha, França, Itália, Grã-Bretanha, EUA, Canadá, Japão e Rússia) está unido na luta contra o terrorismo e contra a pobreza no mundo, mormente em África, o continente mais devastado pelas guerras fratricidas, pela corrupção e pela fome. A Declaração Final do encontro do G8, que se reuniu em Gleneagles, na Escócia, até ontem, com a participação também do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, e do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, adianta que vai ser reforçada a cooperação na luta contra o terrorismo, enquanto vão ser adoptadas políticas que contrariem o recrutamento de terroristas, em especial nas democracias ocidentais. Ainda foi sublinhado que é preciso responder ao terrorismo no quadro do respeito pelos valores democráticos comuns. Quanto ao esforço a desenvolver para erradicar a pobreza, o G8 resolveu aumentar a ajuda aos países pobres em mais 50 mil milhões de dólares por ano, até 2010, metade dos quais para África. Entretanto, foi ratificado o perdão da dívida a 18 países dos mais pobres do mundo e prometido que haverá negociações com outros nove, no sentido de os ajudarem a combater a corrupção, mas ainda a organizarem-se para garantir políticas de desenvolvimento credíveis. F.M.

Festival de Folclore na Gafanha da Nazaré

CULTURA POPULAR A cultura popular precisa de ser mais apoiada por toda a gente. Pelo Estado, que muitas vezes só olha para as culturas eruditas, pelas autarquias e pela sociedade civil. Afinal, é a partir da cultura popular que nós podemos chegar mais facilmente às nossas raízes. Os grupos etnográficos e folclóricos, que existem espalhados por todo o País, estão na linha da frente da luta pela preservação das nossas tradições, quer pelas pesquisas e estudos que fazem e dinamizam, quer pela divulgação que fazem dos usos e costumes das suas regiões. Hoje, sábado, realiza-se o XXI Festival Nacional de Folclore da Gafanha da Nazaré, numa praceta da Alameda Prior Sardo, com a participação dos Grupos Folclóricos de Vila Verde, Baixo Minho; de Vila Nova do Coito, Santarém; de Passos de Silgueiros, Viseu; de Santa Maria de Cárquere, Resende; “As lavadeiras da Ribeira da Lage, Oeiras; e do Grupo anfitrião, Etnográfico da Gafanha da Nazaré. A apresentação dos grupos participantes será a partir das 21 horas, esperando-se a adesão de muitos gafanhões, e não só, a mais esta festa de Folclore, organizada pelo Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, que há mais de 22 anos investiga, promove e divulga os usos e costumes do povo das Gafanhas. F.M.

sexta-feira, 8 de julho de 2005

Ainda as Mulheres da Gafanha

Mulheres gafanhoas da década de 40 do século passado 


Retrato “pintado” com muita ternura

Raul Brandão foi para mim o escritor que melhor retratou a Ria de Aveiro e as gentes ribeirinhas, quando por aqui andou em 1922, para depois publicar no seu muito badalado livro “Os pescadores”. Já tenho falado e escrito deste escritor que se apresenta assim: “Este tipo esgalgado e seco, já ruço, que dorme nas eiras ou sonha acordado pelo caminhos, sou eu. Sou eu que gesticulo e falo sozinho, envolto na nuvem que me envolve e impregna. Que força me guia e impele até à morte?” 

Quando relembra o seu regresso do mar, das muitas viagens que fez, para depois descrever, com arte e poesia, o que viu e sentiu, diz que vem sempre “estonteado e cheio de luz” que o trespassa. Depois pega nos “apontamentos rápidos”, em “meia dúzia de esboços afinal, que, como certos quadradinhos, do ar livre, são melhores quando ficam por acabar”. E acrescenta com nostalgia de poeta da prosa: “Estas linhas de saudade aquecem-me e reanimam-me nos dias de Inverno friorento. Torno a ver o azul, e chega mais alto até mim o imenso eco prolongado… Basta pegar num velho búzio para perceber distintamente a grande voz do mar. Criou-se com ele e guardou-a para sempre. – Eu também nunca mais o esqueci…” 

Mas, para esta brochura que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré organizou para o Festival de 2005, quero apenas transcrever o quadro que Raul Brandão “pintou” sobre as mulheres da Gafanha, em que figura como personagem principal a Ti Ana Arneira. Foi um retrato feito com muita ternura por um escritor que não pode ser esquecido. Diz assim: “Quando passei na Gafanha, vi as cachopas da beira-rio, todas molhadas, sempre metidas na água a rapar o moliço. Feias e ingénuas. A uma calculei-lhe: – Tem para aí treze ou catorze anos. – Tenho vinte e um, e três filhos, respondeu. – Outra tinha ficado a olhar para mim com olhos inocentes de bicho e as mãos postas sobre os seios redondinhos – sobre aquilo, como diz a Ti Ana, que o Senhor lhe deu e ela precisa… 
A Ti Ana Arneira, com cuja amizade me honro, é um dos meus melhores conhecimentos da Gafanha. Mulher capazona, como por lá se diz. Acompanha-me pelo areal, e conta-me logo à primeira a sua vida. Tipo atarracado e forte, de grossos quadris, vestida de escuro, chapéu na cabeça e aguilhada em punho. O homem foi para o Brasil há muitos anos (– É o rei dos homes!...), ficou ela e os filhos por criar. Criou-os todos. Netos, doenças, lutos. Nunca desanimou. 
A força que a sustenta é admirável, profunda, e radicada, como a de quase todas as mulheres do povo que conheço. Deitou-se à vida – lavrou campos. Vieram mais aflições e outras mortes. – Então de que lhe morreram os filhos? – Sei lá, a morte não se quer culpada. Era preciso sustentar a família. Pegou nos bois e no carrinho e começou a transportar sal da Gafanha para Mira. Fez mais: antigamente no Arião também havia companhas, e quando faltava um pescador a Ti Ana agarrava-se ao remo como um homem e ia ao mar no barco. – Nem do diabo tenho medo. Só tenho medo aos cães loucos. – A extensa planície que atravessa, duas, três vezes por dia, é um deserto. A Ti Ana vai e vem de noite, sozinha, com os bois que lhe fazem companhia. Agora tem um campo, barcos para o moliço, novos netos para criar – e olha cara a cara o destino sem esmorecer. A sua vida é uma grande lição de energia.” 

Fernando Martins

Bibliotecas Públicas

Posted by Picasa Centro de Artes e Espectáculos, à esquerda, e Museu e Biblioteca, à direita Complexo cultural da Figueira da Foz
merece uma visita Felizmente, por onde quer que andemos em gozo de férias, se olharmos bem, há sempre uma Biblioteca Pública, para conviver com os livros, e não só. Na Figueira da Foz, por exemplo, os residentes ou veraneantes podem usufruir de uma boa biblioteca, servida por funcionários diligentes e atenciosos. Além de livros, que é o seu forte, para consulta e para leitura em casa, a Biblioteca oferece, ainda, jornais e revistas, música variada para todos os gostos e idades, filmes em vídeo e Internet, em salas para adultos e para crianças. Como passo por este espaço cultural com alguma frequência, posso testemunhar que não falta quem a ela recorra, quase a todas as horas do dia. Por ali vejo gente idosa, gente de meia-idade, jovens estudantes e crianças que circulam com muita naturalidade, mostrando hábitos de quem conhece bem o ambiente e as regras. A Biblioteca da Figueira da Foz integra-se num complexo cultural que inclui o Museu António Santos Rocha. Ao lado, pode apreciar-se o CAE (Centro de Artes e Espectáculos) com exposições temporárias, cinema e espectáculos diversos, nomeadamente de música, ópera, teatro e dança, entre outros. A quem vem à Figueira da Foz, recomendo uma passagem com calma por este complexo cultural, banhado pelo parque verdejante das Abadias. F.M.

TERRORISMO

Os responsáveis religiosos devem rever
métodos e pedagogias do ensino religioso A propósito dos actos sangrentos de ontem, em Londres, o antigo Presidente da República Mário Soares disse à TSF que o Ocidente tem de combater o terrorismo com inteligência, lutando contra a pobreza. Questionado sobre se o fim da pobreza leva ao fim do terrorismo, acrescentou que sim. É óbvio para toda a gente que as revoltas das pessoas são, na maioria das vezes, fruto de injustiças e de profundos descontentamentos. Mas não será só por isso. Haverá outras razões ligadas aos fundamentalismos religiosos que são ancestrais. No livro “Religião e violência”, da editorial Paulus, são abordados, com muita pertinência, temas como Extremismos Religiosos, Violência, Cultura e Guerra Santa, que nos ajudam a compreender, de certa maneira, o porquê do terrorismo, no contexto actual, com opiniões de José Jacinto Ferreira de Farias, Peter Stilwell, Alfredo Teixeira e Joaquim Carreira das Neves. Recomendo, por isso, esta obra. Carreira das Neves, depois de recordar a história das três religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), apresentou dados curiosos que nos devem levar a meditar, sobre as guerras que todas alimentaram através dos séculos. Os primeiros, porque precisaram de conseguir vencer, à força das armas, os cananeus politeístas para chegarem “à sua terra santa”. Os cristãos, que aceitaram a lei do “amor para amigos e inimigos e sobre o perdão”, posteriormente esqueceram esse ensinamento e assumiram a fé ligada à “verdade do poder e da ideologia em circunstâncias históricas especiais, o que originou guerras e violências”. Os muçulmanos depararam-se com os seus irmãos árabes animistas e politeístas e decidiram que todos se deviam converter ao Deus Único – Alá – , a bem ou a mal, “para poderem formar a grande nação árabe, a Fraternidade árabe ou Umma, também em oposição a judeus e cristãos”, o que deu origem às leis alcorânicas a favor da Guerra Santa. Isto quer dizer que, durante séculos, houve circunstâncias que conduziram os crentes monoteístas a combater os seus inimigos, que eram os que se opunham às suas crenças, mesmo entre cristãos e entre estes e os chamados infiéis, ou não-cristãos. Claro que tem havido grandes avanços, no sentido do entendimento entre as diferentes religiões, não havendo nenhuma razão para se guerrearem. O cristianismo, a meu ver, foi a religião que mais se aproximou dos seus fundamentos de amor e de paz entre todos. E mesmo os crentes do judaísmo e do Islão, na sua grande maioria, seguem estes princípios, embora haja, no alcorão, regras e leis que podem levar à violência e à vingança, em nome da fé em Alá. A religião islâmica, diz Carreira das Neves, “é a religião do Absoluto que, facilmente, pode levar a posições de fanatismo contra quem não é islâmico. Quem abandonar a religião islâmica por outra religião passa ao mais imperfeito e é digno de ser punido ou, inclusivamente, de ser morto”. O diálogo inter-religioso, que os últimos Papas têm proposto e dinamizado, vai continuar com Bento XVI, conforme já diversas vezes sublinhou depois da sua eleição, sendo certo que todos temos de o apoiar no esforço de defender a verdade religiosa de todos os crentes, “a partir da pessoa e não a partir da verdade absoluta e objectiva, pois essa não existe. Cada crente deve viver em conformidade com a verdade da sua fé ou crença, mas sem a impor aos outros crentes ou não-crentes”, defende Carreira das Neves. Por outro lado, diz que é preciso que os “países mais ricos, mais democráticos, com a maior valia da ciência e da técnica”, passem a olhar “de maneira diferente para os países mais pobres, onde os mais ricos vão buscar, tantas vezes, as suas matérias-primas. O nosso olhar diferente tem a ver com a riqueza cultural e religiosa do outro. Sem diferença e alteridade só pode haver indiferença”, sublinha Carreira das Neves. Defendeu que os responsáveis religiosos devem rever métodos e pedagogias de ensino religioso, “a começar pelos próprios textos sagrados, de modo que o primado da pessoa e do amor seja defendido pelo sistema da crença baseado nos mesmos textos sagrados”. Por fim, referiu que o terrorismo “é obra de criminosos e fanáticos islâmicos e não da maioria absoluta dos muçulmanos que vivem a sua religião, cumprindo os cinco pilares da mesma, com fé e alegria, paz e amor”. Fernando Martins

Igreja Católica cresce, mas tem menos padres

O “Instrumentum laboris” do Sínodo dos Bispos de Outubro apresenta os números da Igreja Católica no mundo, mostrando que há mais católicos, mas menos padres.No primeiro capítulo do documento, o balanço estatístico apresentado revela que o número de católicos no mundo aumentou em 15 milhões entre 2002 e 2003, chegando a um total de 1,086 mil milhões. É na África que se regista o maior crescimento, com um aumento de 4,5%, seguindo-se a Ásia (2,2%), a Oceania (1,3%) e a América (1,2%). A Europa não conheceu nenhuma flutuação de relevo, nesta matéria.
Os 250 Bispos que se vão reunir em volta do Papa, de 2 a 23 de Outubro, sabem que o mundo mudou e que o coração da Igreja se deslocou para a América, onde vivem quase metade dos católicos do Mundo - contra 25,8% na Europa, 13,2% em África e 10,4% na Ásia.Apesar de o número de Bispos ter crescido em 27,68% entre 1978 e 2003 (passando de 3. 714 para 4.742), os números distribuídos no “Instrumentum laboris” assinalam uma quebra de 3,69%, no número de padres nesse mesmo período (de 421.000 para 405.000).
Esse dado, quando cruzado com o aumento dos fiéis, mostra que o número de católicos por padre passou de 1.797 para 2.677, quebra de mais de 40%. O número de padres religiosos diminuiu bastante (13,3%) nesses 25 anos, acompanhando a quebra significativa de religiosos e religiosas no mundo (27,94% e 21,65% respectivamente).
No documento base enviado aos Bispos é sublinhado o papel dos missionários leigos e dos catequistas no mundo, representando um total de 172.331 e 2,8 milhões de pessoas, respectivamente.
Outro dado importante é o aumento do número de diáconos permanentes no período de 1978-2003 - 466,7%. A América e a Europa (que conta com um terço dos diáconos permanentes de todo o mundo) são os continentes em que esta realidade eclesial mais se expandiu.
Fonte: ECCLESIA