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domingo, 2 de agosto de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 142

BACALHAU EM DATAS - 32

Pescador de bacalhau

A COMISSÃO REGULADORA DO COMÉRCIO DO BACALHAU

Caríssimo/a:
1934 - «De 1929 a 1934, construíram-se apenas 4 navios, sem que a sua construção representasse qualquer progresso sério nos métodos da pesca.» HPB, 77
«Em 1934 foi criada a Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau (CRCB) com a finalidade de proteger e incrementar a indústria do bacalhau. E a sua acção, de certo modo positiva, fez-se sentir até à liberalização do comércio deste peixe, o que aconteceu em 1967. Durante essas três décadas surgiram grandes grupos económicos ligados ao sector e a CRCB começou a perder capacidade de liderança. As importações subiram e as capturas, obviamente, desceram. O 25 de Abril desmantelou como é sabido, esses grupos e a CRCB passou a ter o monopólio das importações de bacalhau, alargando a sua acção aos congelados.» BGEGN[1], 1991, 7
«A criação da Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau ocorreu a 5 de Junho de 1934 (Decreto-Lei n.º 23.968), marca o arranque de um amplo processo de reorganização estatal do sector bacalhoeiro que precede as políticas de fomento da frota. A acção institucional da CRCB tinha por fim garantir a reserva do mercado à produção nacional e o condicionamento das importações de peixe estrangeiro, a estabilidade do aprovisionamento e dos preços.» Oc45, 104 n. 3
«Considerado por Henrique Tenreiro, delegado do Governo junto de todos os grémios das pescas, como “ um dos principais factores da vida portuguesa”, a pesca do bacalhau foi objecto de uma reorganização a partir de 1934. O Estado Novo encetou a reestruturação das pescas, atendendo a uma reforma financeira com o objectivo de repor os bens considerados essenciais, aumentar a produção nacional e combater as importações.» Oc45, 109
E ainda na mesma revista “Oceanos, n.º 45” se pode ler
na página 91: «1934 a 1967: Período áureo da “Campanha do Bacalhau”.»;
na página 93: «De 1934 a 1969 o total de navios que vão ao bacalhau quase que duplica. A média é de 60 navios por ano.»;
na página 99: «De 1934 a 1967, 74 % dos “navios de linha” em actividade tinham casco de madeira.»;
e na 101: « ... [E]scassas 4.726 toneladas de arqueação líquida da frota bacalhoeira em 1934.»
Manuel
[1] Boletim do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, do ano de 1991

sábado, 25 de julho de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 141

BACALHAU EM DATAS - 31
ANTÓNIO RIBAU
Caríssimo/a:
“...[D]ois barcos de pesca à linha: ANTÓNIO RIBAU e LUÍSA RIBAU.”: assim terminava o último “Tecendo ...”. Como é minha convicção de que sempre temos tratado mal os nossos Avós, regresso hoje ao Timoneiro, e desta feita ao ano de 1990, ao mês de Dezembro, para nos deliciarmos com o “TOCA A MARCHAR!...” de Marcos Cirino e O. Louro, e do qual transcreverei pouco mais do que as partes relativas ao senhor António Ribau. «Diz a lenda regional que em tempos que já lá vão fabricou-se o rico sal nesta linda população. [...] “Com a deslocação da Barra , em meados do século XVII para próximo de Mira (...) o número de 500 marinhas (no salgado de Aveiro) estava reduzido em 1778 apenas a 178. A crise da barra e os consequentes assoreamentos na Ria foram causa do abandono e desaparecimento das marinhas das Gafanhas desde Vagos e desde a Costa Nova. Pelo sul da actual ponte da Cambeia também desapareceram a Marinha Velha, a dos Gramatas e bem assim a dos Mil-Homens que ficava pelo norte do Forte Novo ou Castelo da Gafanha.” [...] É daqui oriundo o mais, ou pelo menos, um dos mais antigos armadores da frota bacalhoeira. De facto, a não ser que se conhecessem documentos do século XVII ou do XVIII, e até prova em contrário, vamos considerar o senhor António Ribau o primeiro a mandar fazer um navio. Mandou fazê-lo na Murtosa, sendo posterior o chamado NAVEGANTE I, feito em 1921 pelo Mestre Mónica. Quando este barco foi feito, o senhor António Ribau deu uma quota de 1.000$00 a cada filho – e eram onze – e sabe-se que o preço médio dum navio nessa década de 20 rondava os 14.000$00. Foi então que surgiu a empresa ligada à pesca e secagem de bacalhau denominada Empresa Naval Ribaus, Lda. [...]
Vamos contar um episódio curioso. Voltemos ao senhor António Ribau. Nas suas deslocações tinha uma bicicleta com travões de cinta. Naqueles tempos era costume, nos bacalhoeiros ou na arte xávega, irem à bruxa para dar sorte nas pescas. Ora nestes primeiros anos do século XX não havia comunicação entre os bancos do noroeste atlântico e Portugal. O barco do senhor A. Ribau não aparecia e já lá vão mais de seis meses. Que faz ela! Diz: “O navio aparece amanhã e tem de entrar, senão vai ao fundo, porque se aproxima um ciclone.”
O mar estava ruim. Que fez ele? Carregou a pistola e na antiga cadeia do Forte, que pertencia aos pilotos da Barra, tomou posição e mandou entrar o navio que entrou mesmo. Se a sua ordem desse para torto, seria o seu último dia de vida. Tal não sucedeu. A propósito de superstições e bruxas a desenfeitiçar pescarias leia-se a curiosíssima página do livro “Nossa Senhora da Nazaré” referente à fundação da capela do senhor dos Aflitos ou a correspondente da Monografia.
Hoje a empresa de que falámos é do seu neto senhor José Ribau e outras empresas, quatro ou cinco, tiveram a sua origem no avô corajoso e investidor. A Marinha Velha possui [...] uma seca de bacalhau e, em construção, o novo porto de pesca costeira, um futuro de esperança.»
Aí fica, para os nossos mais novos e um ou outro curioso, esta página de antologia do nosso Bacalhau!
Manuel

domingo, 19 de julho de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 140

BACALHAU EM DATAS - 30 .
EPA - EMPRESA DE PESCA DE AVEIRO
Caríssimo/a:
1928 - Constituição da E. P. A. (Empresa de Pesca de Aveiro) - primeira grande empresa virada para a pesca do bacalhau na Terra Nova, com dois barcos - S. JACINTO e SANTA JOANA, e em 1935, a construção de mais dois - SANTA MAFALDA e SANTA ISABEL. Em 1939, mudou-se para o lugar que hoje ocupa, tendo comprado praias de junco onde fez a construção dos armazéns.
1929 - « [É publicado] "A campanha do Argus", livro da autoria de Alan Villiers.» [C, 20]
1930 - «Durante o Estado Novo, o Governo, com a política de fomento das pescas, procurou incrementar a captura do bacalhau nos pesqueiros da Terra Nova, tendo esta pesca assumido, a partir dos anos trinta, uma importância estratégica no desenvolvimento da economia nacional. No discurso do Estado Novo, foi o próprio Estado quem, através do sistema corporativo, impulsionou a pesca do bacalhau, regulando directamente a produção, importação e preços e dirigindo a acção de armadores, produtores, pessoal de mar e comerciantes. Neste âmbito salientam-se a criação da Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau (1934), do Comércio dos Armadores dos Navios da Pesca do Bacalhau (1935), da Mútua dos Navios Bacalhoeiros (1936) e da Cooperativa dos Armadores de Navios de Pesca (1938). A partir de 1930, a frota portuguesa começou a pescar na Gronelândia, que se revelou um pesqueiro mais abundante que os bancos da Terra Nova, e adaptou-se uma nova técnica de pesca, designada por «trole», aparelho constituído por várias linhas ligadas entre si - 20 linhas de 50 braças; de cada braça ficava suspenso um anzol, ao todo cerca de mil.»
1931 - «Em 1931 e 1932 apenas pescaram 26 a 30 embarcações respectivamente e o nível de capturas regressa aos valores dos primeiros anos da I Guerra.» HPB, 77
«O Capitão João Ventura da Cruz, veterano dos lugres bacalhoeiros, [foi] um dos que, em 1931, demandaram pela primeira vez os bancos da Gronelândia.» HDGTM, 7
1932 - «O primeiro fluxo de inovação [das características técnicas introduzidas nos navios bacalhoeiros da frota portuguesa do bacalhau] surge em 1932 com a motorização de uns poucos de lugres: LUSITÂNIA III, armado pela Lusitânia - Companhia Portuguesa de Pesca da Figueira da Foz, e o GAMO, da Parceria Geral de Pescarias, de Lisboa.» Oc45, 100
1933 - Funda-se a Sociedade Gafanhense com dois barcos de pesca à linha: ANTÓNIO RIBAU e LUÍSA RIBAU. Manuel

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A nossa gente: João Teixeira Filipe - II

No meu dóri, era eu o capitão...
João Zagalo, um doryman aguerrido - II
Contou-me uma história, que lhe deixou saudades, passada em Agosto, na Groenlândia, no Novos Mares, com o Capitão Pascoal: – O navio deu a emposta (mudou de sítio) para arriar mais cedo. Deu uma pesquisadela. Disse o Capitão: – Para fora, não tem nada. Ide para o lado de terra! – «Vamos à vida, com Deus, vamos arriar!» – ordem do Capitão. E a manobra do arriar começa. Eu, como era chasman (presumivelmente corrupção do inglês lastman), orientei, com outro camarada, a manobra de arriar. Deduzi que o chasman era o dono do último bote do cimo da pilha, que não se desarmava. Tinha de ser um homem responsável, com jeito, traquejo e muita prática. Havia um chasman em cada pilha, que ajudava a arriar e a içar os botes e era sempre o último a partir para a pesca, depois de ter orientado estas lidas. Eu, então, depois de botar as mãos no peitilho do avental para as aquecer, já que não trabalhava de luvas, remei de cu p’rà ré e fui p’ra fora, por estar mais desempachado (livre, disponível). Larguei o trole e quando o grampolim chega ao fundo, comecei a sentir bacalhau na linha do grampolim. Bom sinal!
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Ana Maria Lopes
Leia mais aqui
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Nota: Texto e fotos do Marintimidades

domingo, 12 de julho de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 139

BACALHAU EM DATAS - 29
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GIL EANES
Caríssimo/a: 1924 - «No início de Janeiro de 1924, é fundada a Empresa Portugália, L.da e a Empresa de Pesca Bons Amigos, L.da. A Companhia Aveirense de Navegação e Pescas, em liquidação, vende todos os seus bens: a sede, o rebocador VOUGA, entre outros bens.» Oc45, 86
«Em 1924 o número de embarcações da frota bacalhoeira atinge as 65 . As capturas passam de valores inferiores a 2.000 toneladas de bacalhau para mais do dobro e o número de dóris ultrapassa os 2.000.» HPB, 76
«Outras vezes a pesca não chegava para as despesas. Diz Mário Moutinho, “quando foi à Terra Nova a maior frota desta época, a média de capturas não ultrapassou 100 toneladas por barco. Esta média manteve-se nos 20 a 25 e chegou mesmo a ser inferior em anos anteriores”.» Oc45, 88
1925 Dez 14- «Decreto do governo n.º 11.351 que se orientava para o desenvolvimento da frota e para a formação profissional do pessoal técnico dos estaleiros e oficinas de construções navais, a realizar na nova Escola de Construção Naval de Lisboa a qual nunca viria a ser construída. ... Este Decreto propunha a criação de um prémio de construção para os navios destinados à pesca do bacalhau que fossem construídos segundo os planos fornecidos pela Direcção da Marinha Mercante ou por ela aprovados... Não parece que estas medidas tivessem resultado, pois nos 10 anos seguintes apenas foram construídos 5 navios.» HPB, 73/74
1926 - Substituição do primitivo estaleiro da Gafanha por outro, situado mais para sul, pertença do mestre Manuel Maria Bolais Mónica. Aquele primeiro estaleiro, situado na margem esquerda da Ria, foi fruto da transferência, no séc. XIX, dos estaleiros localizados na Cale de S. João, em Aveiro, ocasionada pela subida dos fundos do canal da vila.
«Em 1926, pela primeira vez, pesca-se mais de 7.000 toneladas, assistindo-se a partir de então a uma quebra de produção.» HPB, 76/77
1927Abr08 - «O Decreto n.º 13.441 é sem dúvida a primeira peça fundamental da organização da indústria bacalhoeira promovida pelo Estado Novo, os assuntos tratados são muito variados, demonstrando uma visão globalizante dos problemas.» HPB, 74
«No art.º 27 do Decreto n.º 13.441 determinava-se que o Ministério da Marinha organizaria o serviço de assistência aos pescadores nos bancos da Terra Nova e promoveria estudos técnicos e científicos realivos à pesca do bacalhau. Neste quadro foi o «GIL EANES» à Terra Nova ainda em 1927.» HPB, 75
Finalmente o «GIL EANES»!... E falar em «GIL EANES» é falar em assistência aos bacalhoeiros; e pese embora todas as críticas e suspeições (e bem fundamentadas!) a outras atribuições do barco de apoio, temos de convir que foi positivo o seu “bem-fazer”! Será caso para dizer: tardou mas chegou!
Manuel

domingo, 5 de julho de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 138

BACALHAU EM DATAS - 28

Pescadores de bacalhau

O DIA-A-DIA DOS PESCADORES DE BACALHAU
Caríssimo/a: Manuel Óscar da Rocha Fernandes, “capitão pescador”, publicou, em 1992, uma brochura intitulada “A Ria de Aveiro – Os barcos lagunares e a costa adjacente – A pesca do Bacalhau” e, entre as páginas 23 e 27, escreveu: «O Dia a dia na Pesca
O dia começava com os "louvados", normalmente às quatro horas da manhã. Eram assim chamados, porque o homem que estava de vigia e encarregado de ir chamar os companheiros para iniciar o dia de trabalho, antigamente, fazia-o cantando com versos, na maioria das vezes de sua autoria, como por exemplo: "Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo Filho da Virgem Maria, Venha um homem para o leme e dois para a vigia! São quatro horas, Padre nosso, Avé Maria! "
Ou ainda estes outros
"Louvado e adorado seja o Santo Nome de Jesus que por causa de nós irmãos, morreu na Cruz! E morreu para nos salvar! Ó de baixo, salta para cima que o de cima está a acabar! Levantai-vos irmãos meus, filhos da Virgem Maria olha quem rende o leme e os dois para a vigia! São quatro horas, vamos ao café!"
De seguida tomavam o pequeno almoço, constituído por peixe frito, café e pão. Era também essa a composição do lanche que levavam para fora para o resto do dia. Iam depois receber o isco - lula ou cavala - para iscar as centenas de anzóis que constituem os seus aparelhos de pesca. Antes da existência de frigoríficos, a isca era apanhada pelos próprios pescadores: peixes que apanhavam à zagaia e dos quais aproveitavam as vísceras ou aves marinhas que abundam nas zonas de pesca. Seguia-se o arriar dos dóris, precedido da tradicional ordem do Capitão, que, de boné na mão, dava início à faina:" Vamos lá à vida com Deus!". Toda a tripulação se descobria e dava-se início ao trabalho. E lá iam a remos ou à vela para o lado que mais lhes palpitava e experimentando aqui e além com a zagaia até encontrarem indícios de peixe, aí começavam a largar os seus trolleys que se estendiam por algumas centenas de metros. Após uma permanência na água de uma ou duas horas, começavam a recolha das linhas. Se a pesca era abundante e dava para carregar o bote, vinham a bordo descarregavam e voltavam para acabar de alar o aparelho e novamente lançar as linhas para novo lanço. Pelas cinco ou seis horas, se o tempo estava claro, era içado a bordo do navio, um sinal convencionado com os tripulantes para que regressassem. Se estivesse nevoeiro, a chamada era feita por tiro de canhão e posteriormente por morteiro (foguete) seguido por toques de sereia, que, periodicamente, se sucediam, até que o último homem estivesse à vista do navio. Uma vez a bordo, e após uma refeição quente, que às quintas e domingos era de carne acompanhada de uma caneca de vinho, dava-se início à escala e salga do pescado (esvisceração e conservação pelo sal). Ao terminar a escala, que se chegava a prolongar até às primeiras horas da manhã, o moço encarregado de lançar o peixe já escalado e lavado para o porão, tirava o barrete e anunciava o fim do trabalho: "Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo! Para hoje não há mais e para amanhã Deus dará". Quase sempre tomavam uma sopa quente antes de se deitarem, normalmente constituída por um caldo de peixe a que chamavam "chora". Acontecia por vezes, que, devido aos fundos pedregosos ou correntes de água, o pescador perdia o aparelho ou o ensarilhava. Acabado o serviço de peixe, em vez de se ir deitar, ia tratar de repor as linhas perdidas ou clarificar o aparelho ensarilhado, para na maré seguinte estar apto para poder voltar ao trabalho. Perdia o descanso, que por via de regra não ia além de quatro ou cinco horas, ou excepcionalmente seis, quando o número de dias de pesca consecutivos abundante era considerável. Só nos dia de "brisa" (mau tempo que não permiti a pesca) é que se aproveitava para pôr o descanso em dia.» Traçado o plano geral, busquemos alguns pormenores, para isso lendo, um que outro parágrafo, das páginas 32 a 34, do livro várias vezes citado “Histórias Desconhecidas dos Grandes Trabalhadores do Mar”:
«...A bordo, a água, elemento essencial da vida, depressa ficava choca, turva ou da cor acastanhada, com sabor e cheiro nauseabundo, após várias semanas em contacto com a madeira dos barris. Mas, mesmo nestas condições degradantes, não se pense que era gasta à discrição. O seu racionamento era rigorosamente controlado - uma caneca por dia a cada homem - e no final do dia de trabalho, depois de se lavarem com água do mar, essa sim, em abundância, havia então uma pequena tina com água e creolina, onde todos passavam as mãos e os pulsos, como protecção contra a furunculose e desinfecção de úlceras e ferimentos. A doença era um luxo que não se podia permitir, o que levava estes homens a trabalharem até à exaustão, até ao limite supremo das suas forças; só quando caíam esvaídos se dava algum crédito aos seus queixumes, por norma sempre encarados como possível manha, invariavelmente seguidos de reprimenda áspera do chefe. ... Mas não ficavam por aqui as agruras destes homens! Eles viam-se ainda confrontados com infecções resultantes de ferimentos acidentais, cortes feitos nas cascas dos búzios que aproveitavam para isca, espetadelas em anzóis infectados ou espinhas. E vinham os terríveis penaríssios, que na melhor das hipóteses, após longos dias de atroz sofrimento, lhes deixavam os dedos aleijados. Para as espetadelas a solução era a cauterização da ferida com um arame em brasa, metido bruscamente pela carne dentro, tratamento que nem todos suportavam, ou quando a ele acabavam por se sujeitar, era demasiado tarde. Então, a morte vinha numa agonia lenta e horrorosa, de sofrimento indescritível, reclamar o seu quinhão de vidas. Era esta a situação trágica de todos os pescadores, ...durante tantos meses separados do mundo dos vivos, sem notícias da família, esta também sem saber se o marido ou pai estava ainda vivo. E para o luto, que todos os anos visitava várias famílias, a data era sempre a da chegada ao porto de armamento, quando ao fazer-se a contagem dos tripulantes, à medida que iam saindo do navio, alguns não apareciam. » Do poço sem fundo que é a vida de cada um dos nossos pescadores do bacalhau quase nada se disse ... e o espaço vai já longo. Espreitemos por entre névoas, nevoeiros, gelos e temporais. Ajoelhemos diante dos seus dramas. Caia sentida a nossa lágrima ao folhear as páginas dilaceradas e sangrentas desta tragédia ainda por escrever. Manuel

sábado, 27 de junho de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 137

BACALHAU EM DATAS - 27
:

Iate Nazareth

I CONGRESSO NACIONAL
SOBRE A PESCA DO BACALHAU
Caríssimo/a:
1920 - «A imprensa ilhavense referia que, no início dos anos 20, os navios franceses estavam já equipados com telefonia sem fios, como podiam contar com um navio-hospital.» Oc45, 86
1921 - «O governo nomeou em 1921 uma comissão com o fim de estudar e propor um conjunto de medidas que conduzissem ao desenvolvimento da pesca do bacalhau.» HPB, 69
«O governo decretou a criação da Junta de Fomento da Pesca, na Póvoa do Varzim, dotada de meios para fomentar a construção de novas embarcações. Mas tal medida não trouxe qualquer alteração significativa.» HPB, 71
«A partir de 1921 a frota bacalhoeira volta a compor-se por mais de 35 embarcações.» Oc45, 86
«Em 1921, Aveiro tinha 11 navios da pesca do bacalhau. O ano foi excelente. “A Gafanha está a abarrotar e nos secadouros já não sabem onde o hão-de arrumar”. Nos finais de 1921, os periódicos locais anunciam a venda de um lugre de 500 t, “acabado de lançar à água, de magnífica construção”. Mas entretanto perguntava: “Para onde vai tanto bacalhau? Escondem-no para o venderem pelo preço que querem, com lucros fabulosos à custa do povo faminto e desgraçado? Na época das colheitas sempre os preços baixam, mas o bacalhau, esse, em vez de descer sobe?”» HPB, 76
1922 - «Localizados na zona norte da Ria de Aveiro, uma zona conhecida por actividades de construção naval ligadas à construção de barcos moliceiros, também aqui foram construídos alguns lugres para a pesca de bacalhau, principalmente pela mão do mestre José Maria Lopes de Almeida, natural de Pardilhó, nos Estaleiros do Bico da Murtosa. Em 1922, este mestre já havia construído nessa paragem, um lugre de madeira para a pesca do bacalhau, o MARIA DA CONCEIÇÃO, para a Sociedade Construtora Naval, L.da, Bola Vilarinho & C.a, L.da, armadores da praça de Aveiro, bem como o hiate LIGEIRO. Não foi executada naquelas instalações outra construção de grande tonelagem até 1945.» Oc45, 115
1923 - «Em 8 e 9 de Outubro, realiza-se em Aveiro o I Congresso Nacional sobre Pesca de Bacalhau, promovido pela Associação da Classe dos Armadores de Navios de Portugal.» Oc45, 86
«Além do iate NAZARETH, com todos os seus pertences, a Parceria de Pesca, L.da, anuncia, a sequência da decisão de dissolução, a venda dos armazéns, utensílios de seca, etc..» Oc45, 86
« ASSISTÊNCIA SANITÁRIA: À semelhança do que se passou com os franceses ao longo dos tempos, também entre nós a assistência dispensada aos nossos pescadores da Terra Nova começaria com um navio afecto à Armada Portuguesa. Primeiro o cruzador CARVALHO ARAÚJO, mais voltado para os estudos hidrográficos do que para a assistência médica propriamente dita, zarpou para a Terra Nova numa viagem embrionária de apoio à nossa gente, em 1923; depois, o GIL EANES...» HDGTM, 43 Apesar de vida intensa, em 1922, nos Estaleiros do Bico da Murtosa, das perguntas da imprensa, da dissolução de uma sociedade, do surgir da assistência médica, saliento hoje o PRIMEIRO CONGRESSO NACIONAL SOBRE PESCA DO BACALHAU, EM AVEIRO, EM 1923! É salutar fazer paragens dando espaço à meditação e reflexão! Manuel

domingo, 21 de junho de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 136

BACALHAU EM DATAS - 26

CONSTRUÇÃO NAVAL EM PARDILHÓ Caríssimo/a:
1916 - «Em 1916 foi despendida uma verba de 4.789.129$00 na importação de bacalhau e 7 anos depois [1923] este valor subia para 123.775.924$00. Quer dizer, neste período a saída de divisas aumentou quase 30 vezes.» [HPB,69] 1917 - «Os navios bacalhoeiros da Figueira da Foz não irão este ano [de 1917] à pesca nos bancos da Terra Nova, em virtude de o pessoal exigir remunerações exorbitantes”. [...] Também a subida dos preços dos seguros chegou a pôr em risco a companha de 1917. Acresce ainda que a navegação se fazia com receios dos submarinos alemães, o que obrigou diversas empresas a fazer seguro das cargas.»[Oc45, 85/86] «Apesar das contrariedades, iam surgindo novas empresas. Em 1917, nasce uma sociedade por quotas, com um capital de 32 contos, em que a maior quota pertence a D. Lucília Ferreira Duarte Pinto Basto.» [Oc45, 86] 1918 - «Após o final da Guerra, assistiu-se a um incremento da pesca do bacalhau e da construção naval, especialmente em Aveiro. Em 1918, a Companhia Aveirense de Navegação e Pesca, liderada por um importante comerciante da praça de Aveiro, com ligações fortes ao poder político e económico locais, lança às águas o lugre ALTAIR, construído no estaleiro de Manuel Maria Bolais Mónica, na Gafanha da Nazaré. A imprensa local dá um enorme relevo à festiva e mediática cerimónia do “bota-abaixo”.» [Oc45,869] 1919 - «Em Pardilhó (Estarreja), terra conhecida pelos construtores navais de barcos moliceiros, fora construído em 1919, pelo mestre Joaquim Dias Ministro, o lugre de madeira ENCARNAÇÃO.» [Oc45, 120 n. 13] «Depois de um período florescente durante a I Guerra Mundial e da formação de uma escola de carpintaria naval, em 1919, o renascimento da construção naval em madeira na Figueira da Foz dá-se somente na época da II Grande Guerra. A dinastia Bolais Mónica associou o seu nome à construção naval em madeira na Figueira da Foz, destacando-se os construtores António, Manuel, João, José Maria e Benjamim Bolais Mónica. Este último localizou as suas carreiras na tradicional Murraceira, em frente da cidade da Figueira da Foz.» [Oc45, 115] «Em 1919, perdeu-se o ARIEL. A arrematação dos salvados não rendeu mais de 3.000$00.» [Oc45, 88]
Em título, realcei a construção naval em Pardilhó... já que Pardilhó foi ( ainda será?...) a sede do Sindicato da Construção Naval! Contudo, e sem dúvida, qualquer um dos parágrafos daria assunto para pesquisa e muita investigação: aos nossos futuros estudiosos... Manuel

domingo, 7 de junho de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 134

BACALHAU EM DATAS - 24
A PRIMEIRA GRANDE GUERRA
Caríssimo/a:
1911 - «1911 fora um ano mau. Queixavam-se as empresas “de que os seus barcos trazem menos que no último ano alguns contos de réis da preciosa salga... Apanharam quase todos os restos de um tufão e tiveram na viagem um mar tormentoso. No regresso, o lugre SOPHIA perdeu um pescador, “o infeliz Cipriano José, natural de Ílhavo”. O capitão Manuel dos Santos Labrincha: “Ia o rapaz a sair das escadas da câmara quando um golpe de mar entrou por aí dentro e mo levou. [...] A câmara ficou com meio metro de água dentro. Os vidros desapareceram, rebentou-lhes com as portas, e lá vai o pobre rapaz sem o poderem salvar [...].” »[Oc45, 88] 1912 - «Em 1912, um ano fraco para a pesca do bacalhau, nasce uma nova sociedade, a “Boa União”, que inicia a construção dos seus armazéns.» [Oc45, 84] «Em 1912, ao sair para a Terra Nova, o LUCÍLIA, da praça de Ílhavo, “esteve em risco de naufragar. Já fora da barra, amainando o vento, o iate encostou numa restinga do sul, tendo de alijar parte da carga de sal para poder safar-se”. Nesse mesmo ano de 1912, no regresso da Terra Nova, perdeu-se o ATLÂNTICO: ”encostou à praia, ao entrar, e se partiu perdendo-se. A carga, anunciada para vender em leilão, foi arrematada pela firma Pinto Leite, do Porto, à razão de 6$000 réis o quintal”.» [Oc45, 88] «Tanto a Murraceira como o Cabedelo, Carneiro e outros locais da Figueira da Foz serviram para a construção de lugres bacalhoeiros já no primeiro quartel do século XX, quer pela mão dos Mónica, quer pela mão de outros mestres construtores navais como Sebastião Gonçalves Amaro ou Jeremias Novaes, destacando-se, entre outras, as seguintes unidades: GOLFINHO (1912), JÚLIA IV (1914), GUERRA SEGUNDO (futuro CORÇA e futuro GRANJA – 1919), SARAH (futuro GASPAR – 1919), CISNE (1920), MARIA DOMINGAS (futuro BRETANHA – 1923), SÃO PAULO I (futuro MARIA PRECIOSA – 1925).» [Oc45, 120 n. 14] 1913 - «Em 1913, eram já 38 os navios portugueses na Terra Nova. Aveiro contribui com 6 unidades. Nesse mesmo ano, a empresa Cunha & C.a constrói uma nova seca na Gafanha da Nazaré. No final desse mesmo ano, nasce uma nova empresa para a pesca do bacalhau, para o que adquiriu o lugre LUCÍLIA. Mas o crescimento da frota era lento e irregular.» [Oc45, 84] 1914 a 1918 - «Mas a pesca do bacalhau decaiu com a Primeira Grande Guerra. Depois do Armistício, o Estado disponibilizou algum auxilio aos armadores, assistindo-se a um incremento da pesca do bacalhau e da construção naval associada, que originou um novo relançamento da frota. Esta compunha-se de navios de madeira, de propulsão à vela, construídos maioritariamente nos estaleiros da Figueira da Foz, Aveiro e Viana do Castelo e armando em lugre, lugre-patacho, lugre-escuna, patacho escuna e iate.»[Creoula, 10] «O período da I Guerra Mundial foi marcado por dificuldades várias, a começar pela irregularidade do volume do pescado, que de resto se fez sentir durante as primeiras décadas do século XX.» [Oc45, 85] «Alberto Souto, membro da Comissão de Pescarias da Câmara dos Deputados: [...] “[E]nquanto nas Escolas Industriais dos centros piscatórios se não fizer um curso de aquicultura com as competentes demonstrações nos Viveiros Nacionais e nos Laboratórios de Zoologia Marítima, a indústria aquícola em Portugal continuará a ser o que hoje é – o atraso, a rotina e a devastação”. O papel do Estado não podia ser, em seu entender, “apenas o de um fisco avaro e de um polícia severo”.» [Oc45, 85]
Pelas palavras que lemos, ficamos com algumas certezas e muitas dúvidas. Certamente que estou com Alberto Souto lá isso estou... mas parece que estas “guerras” estão perdidas antes de tempo! Manuel

domingo, 31 de maio de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 133

BACALHAU EM DATAS - 23

O FRACASSO DO “ELITE”

Caríssimo/a: Voltemos ao ELITE e ouçamos a opinião do capitão Valdemar que nos ajudará, mais uma vez, a entrar com segurança em águas profundas: «A alternância verificada no âmbito do apoio hospitalar às suas frotas, entre franceses e portugueses, ficou a dever-se às diferentes políticas económicas de desenvolvimento adoptadas pelos dois países, sobretudo após a entrada no século XX. Dissemos acima que o princípio da mudança entre os franceses foi anunciado com o aparecimento dos primeiros arrastões nos bancos no início do século, mais concretamente em 1907; no entanto, o grande incremento, a verdadeira grande revolução, só após o término da I Guerra Mundial se verificaria de modo fulgurante. À medida que a nova modalidade - pesca de arrasto - se ia impondo por força das incomparavelmente melhores capturas, com muito menos riscos para o pessoal, os navios veleiros da pesca à linha iam sendo gradualmente convertidos ou abatidos, consoante se tratasse ou não de unidades de boa dimensão e em bom estado de conservação. Mas a muito curto prazo, até esses navios transformados tinham desaparecido, sendo pois a frota francesa constituída na sua totalidade por unidades novas, feitas de raiz. E, em poucos anos, a visão dos veleiros franceses nas águas da Terra Nova era coisa de arquivo, fotografia em parede de escritório, ou recordação gravada na memória. Em Portugal tudo se processou de modo bem diferente, mas por razões que convém esclarecer! Não se pense que não houve entre nós qualquer reacção aos ventos de mudança! Antes pelo contrário, o entusiasmo foi enorme e imediato, Entre nós, a primeira tentativa de enviar à Terra Nova um arrastão ocorreu em 1909 e partiu da Parceria Geral de Pescarias, da casa Bensaúde, sediada na Ilha do Faial, nos Açores. A escolha deste porto de armamento, situado a meio do Atlântico e, por conseguinte, a meia distância entre Portugal Continental e os bancos da Terra Nova, obedeceu a um plano estratégico bem delineado. O navio, chamado "ELITE", era de propulsão mecânica a carvão e estava preparado para trazer o bacalhau eviscerado, conservado em gelo granulado, fazendo viagens relativamente curtas – cerca de três semanas – entre saída e chegada ao porto de armamento. Eram estas, aliás, o tipo de viagens que entre nós se faziam ao Cabo Branco, quer em duração quer em conservação pelo gelo. Mas, infelizmente, por várias razões de ordem técnica, a experiência não correu bem, não resultou, o que foi pena, porque o fracasso desta iniciativa tão louvável, e levada a cabo num momento tão próprio, terá muito possivelmente contribuído para o abandono precipitado da modalidade nascente e para um maior apego à manutenção e desenvolvimento da modalidade ancestral, aliás apoiada numa mão de obra barata e de facílimo recrutamento ao longo de todo o litoral português, E esta é uma razão de consequência que não deve ser omitida.» HDGTM, 42
E ao ELITE regressaremos, em breve, mas por outras razões. Manuel

sábado, 23 de maio de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS –132

BACALHAU EM DATAS - 22
Última bandeira da Monarquia
Bandeira da República 1909 - ARRASTÃO “ELITE”
Caríssimo/a:
1907 - «Em 1907, o imposto sobre o bacalhau português rendeu 26.879$000 réis, o que significava que “o bacalhau pescado por portugueses paga[va] de direitos, antes da secagem, 12 réis por quilograma”. Era um imposto muito pesado, que onerava o consumidor e as empresas interessadas.» [Oc45, 83] «Em 1907, “o barco [o Náutico?] apanhou durante o exercício da pesca um forte temporal, chegando a perder ferros e correntes, mas como é de rija construção e de tripulação destemida, resistiu e entrou há dias, são e salvo, no porto de Lisboa.”» [Oc45, 88] 1908 - «Em 1908, há 30 bacalhoeiros portugueses.» [HDGTM ] «Em 1908, quando se contavam 30 bacalhoeiros portugueses, surge “um novo navio, o iate ATLÂNTICO. Desta vez, foi uma pequena sociedade formada por Antero Duarte e seu cunhado Alberto Ferreira Pinto Basto que enviaram o navio comprado para esse efeito. Aveiro e Ílhavo contavam então três navios para a pesca do bacalhau: NÁUTICO, RAZOILO e ATLÂNTICO.» [Oc45, 82] «O iate RAZOILO, antes do início da campanha de 1908, esteve num estaleiro do Porto a forrar o casco de cobre. Antes de seguir para Lisboa, parou em Aveiro para carregar sal e receber alguns pescadores.» [Oc45, 82] 1909 - «A carga do RAZOILO e do NÁUTICO foi calculada em cerca de 6.000 quintais, sendo considerado por isso um ano muito bom. “A pesca foi tão abundante nesse ano – pode ler-se no 'Campeão das Províncias' – que, do que vinha às linhas, [os pescadores] apenas aproveitavam o peixe maior, desprezando o mais pequeno”.» [Oc45, 82] «Em 1909, o bacalhau – que representou cerca de 87% do pescado importado – custou-nos 3.803.306$000, que em ouro pagámos à Inglaterra, Noruega, França e outras nações.» [Oc45, 84] «Goradas, em 1909 e 1910, as experiências do arrastão português ELITE.» [HDGTM,7] «Um único arrastão a vapor fizera apenas duas campanhas: em 1909 e 1910. chamava-se ELITE e fora armado pela Parceria Geral de Pescarias segundo o arquétipo dos vapores franceses que por esse tempo demandavam os bancos da Terra Nova e da Gronelândia.» [Oc45, 99 ] 1910 - «No fim da Monarquia, Portugal consumia cerca de 28.000 t de bacalhau por ano, mas os navios portugueses não capturavam, nesse período, mais do que cerca de 2.400 t. De facto, “a pesca nacional apenas chega[va] para o consumo de um mês, não satisfazendo de forma nenhuma as necessidades internas”.» [Oc45,83]
: “No fim da Monarquia,...”, apesar do 'estado da Nação', mesmo assim e para além disso, havia quem remasse contra a maré... Só que... Esperemos que novos ventos soprem... e novas Élites surjam!
Manuel

domingo, 10 de maio de 2009

Pesca do Bacalhau: Navio-Motor VAZ

Um filme sobre o navio-motor VAZ pode ser visto aqui. Interessante para os que viveram a Faina Maior, há anos. Há sempre espaço nos meus blogues para recordações.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 130

BACALHAU EM DATAS - 20
Iate Razoilo
OS PRIMEIROS ANOS DO SÉCULO XX
Caríssimo/a:
1904 - Segundo Rui Cascão : “A partir de 1904, a flotilha passa a contar com outro navio, o lugre LEOPOLDINA. A Figueira ocupava o segundo lugar a nível nacional, com 6 navios bacalhoeiros, a seguir a Lisboa (10 navios) e antes de Aveiro e Ponta Delgada (1 navio cada)”. [Oc45, 80] [Em 1904] o número de navios portugueses na pesca do bacalhau aumentou em mais seis unidades [em relação a 1903 passando a ser 18]. [Oc45, 81] A marinhagem de um barco da Figueira da Foz, quase toda de Ílhavo, foi dizimada por envenenamento das águas de provisão, contaminada pela decomposição do corpo de uma rela: “A água começou a ter mau sabor, mas bebeu-se à falta de melhor. Era a que havia.” [Oc45, 88] O primeiro arrastão francês a vapor que pescara na Terra Nova fizera-o em 1904. [Oc45, 95] 1905 - Os proprietários do NÁUTICO transferem a seca do bacalhau da Gafanha da Nazaré para Lisboa. [Oc45, 82] 1905 foi um ano bom para a pesca do bacalhau. [Oc45, 81] Em 1905, um pescador do lugre ARGUS perdeu-se no seu dóri, e andou, sozinho, na imensidão do oceano, durante três dias e três noites, até ter tido a sorte de ser recolhido por um vapor que ia carregar madeira no Canadá. De outros nunca mais se soube. [Oc45, 88] 1906 - O iate RAZOILO, propriedade de uma sociedade composta por Manuel Faúlho Razoilo, João Ramalheira Júnior e José Pereira Júnior, é enviado, pela primeira vez, à Terra Nova. A seca foi igualmente estabelecida na Cale da Vila, na Gafanha da Nazaré, sendo o bacalhau vendido para a praça do Porto, perante o protesto da imprensa aveirense.[Oc45, 82] Os argumentos apresentados pela imprensa local para a não adopção da pesca a vapor... O «Nauta»: “[...] porque, sendo com vapores, a despesa seria muito maior, e além disso o calor das caldeiras prejudicaria o peixe, logo que não houvesse rigoroso cuidado. Também havia o inconveniente de, no caso de qualquer inesperada tempestade, os vapores não poderem manobrar imediatamente como os navios de vela, visto as caldeiras não estarem acesas.” [Oc45, 81] Note-se que, em 1906, Portugal havia exportado 2.565.819$00 de peixe, mas, em contrapartida, havia importado 4.695.000$000 réis do mesmo produto. Os custos do bacalhau representaram, em 1907, uma enorme fatia de cerca de três quartos [do valor dispendido em todos os peixes adquiridos]. [Oc45, 83] Em 1906, a imprensa local noticia o incêndio a bordo do iate SANTIAGO. Por um descuido do cozinheiro, perdeu-se o navio com todos os seus aprestos e as soldadas dos tripulantes, não tendo havido perdas humanas. O iate, como escreve o capitão Francisco Gonçalves Moreira, num esclarecimento publicado na imprensa, possuía meios elementares para apagar o incêndio (bomba, baldes, etc.), mas, apesar da ajuda das tripulações de outros barcos, não foi possível salvá-lo. O fogo “tinha chegado às latas de petróleo que estavam no rancho e ao carvão que estava no pique também começando a arder o mastro do traquete por baixo da inora e cujo pé do mastro vinha assentar na sobrequilha por dentro do rancho”. Além dos “papéis” pouco mais se salvou. [Oc45, 88]
Afinal, desde sempre, «além dos papéis pouco mais se salva»! E é curioso que os Homens estão incluídos n'«o pouco mais»!
Manuel

domingo, 3 de maio de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 129

BACALHAU EM DATAS - 19

Iate Júlia ३.º

1903 - RESSURGE A PESCA DO BACALHAU EM AVEIRO

Caríssimo/a:
1901 - «Em 1901, os poderes públicos determinaram que o bacalhau pescado por navios portugueses ficava sujeito apenas ao imposto de 12 réis por Kg – já que até aí (e desde 1886) estava-se numa situação deprimente, revoltante e vergonhosa: os proprietários de 12 navios [portugueses], pagando apenas 6,6 %; todos os outros que se quisessem lançar na empresa da pesca do bacalhau, pagando mais pelo produto da sua pesca do que os próprios estrangeiros...» [Oc45,80] 1902 - «A empresa da família Bensaúde passa a denominar-se Parceria Geral de Pescarias, com 9 veleiros, alguns com mais de 300 toneladas. A empresa Mariano e Irmãos nesta data apenas tinha juntado aos dois primeiros JULIA, o iate JULIA III com 175 toneladas e viria mesmo a ser vendida no princípio do século a uma nova empresa denominada Companhia da Pesca Atlântico. » [HPB, 29] 1903 - «A partir de 1903, com o fim do monopólio, tendo-se tornado livre a construção e o armamento de navios bacalhoeiros, a indústria entrou numa fase de maior prosperidade, passando a tomar parte nas campanhas da Terra Nova um número cada vez mais elevado de navios, agora também de Ponta Delgada, Aveiro, Porto, e, mais tarde, de Viana e de Caminha.» [Oc45, 81] «Em 1903, partiram 12 navios portugueses para os bancos da Terra Nova.» [Creoula, 09] «O regresso à Terra Nova de navios armados em Aveiro e Ílhavo verifica-se apenas em 1903.» [Oc45, 80] «Efectivamente, é no ano de 1903 que ruma à Terra Nova o primeiro navio da praça de Aveiro, o palhabote NAZARETH, de 177 t, depois alterado e rebaptizado como NÁUTICO, propriedade dos “nossos patrícios e arrojados industriais”, Luís e António Marques de Freitas, então residentes em Lisboa, que tinham uma sociedade com o “brasileiro” da Murtosa, João Pedro Soares, homem ligado por fortes laços políticos e familiares ao poder político local. [...] «O NÁUTICO saíu no final de Maio e regressou no início de Novembro desse ano com “uma boa carga de peixe, grande e de boa qualidade, que seria tratado e seco no “ensecadouro” para esse efeito estabelecido na Gafanha da Nazaré, nesse mesmo ano de 1903, num terreno próximo do estaleiro de José Maria Bolais Mónica. [...] As tripulações, nomeadamente, os capitães, como referem amiudadas vezes os periódicos locais, eram “quase todas do concelho de Ílhavo”. [Oc45, 81] «Na sua primeira viagem de regresso da Terra Nova, o NÁUTICO, capitaneado pelo ilhavense António Fernandes Matias, o Gafanhão, alongou os habituais 25 dias de viagem por ser “impelido apenas por uma débil viração”, o que acontecia frequentemente neste “árduo e aventuroso mister”.» [Oc45, 86] «Aumento da frota bacalhoeira com um barco de 177 toneladas.» [BGEGN, 7] “Desde 1903 que o porto bacalhoeiro está localizado na Gafanha da Nazaré, na margem esquerda, abrangendo os lugares da Cale da Vila e Chave”... e o cheiro do bacalhau regressou à nossa terra!
Manuel

domingo, 26 de abril de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 128

BACALHAU EM DATAS - 18



A PESCA NOS DÓRIS

Caríssimo/a: 
Falar nos dóris, na pesca nos dóris, leva a minha geração a recuados tempos em que nos víamos transportados para bordo do navio acabadinho de atracar onde íamos abraçar o familiar roído de saudades... Quantos dias nos sentámos a olhar para a vela que o tio Mário içava no quintal para a enxugar e experimentar como reagia aos sopros da nortada! No fio secava a roupa que em breve seria ensacada para a nova viagem!... Ou então no Esteiro, a remos ou à sirga, no bote do tio naquelas aventuras pesqueiras que nos deliciavam... De outra vez, na seca do Coimbra, o Pai e o tio Manel ajustaram a reparação e a construção de botes novos... Recordar conversas de familiares e amigos... Oh, palavras mágicas de naufrágios, incêndios, conflitos, pescas quase milagrosas!...
Façamos silêncio, ponhamos o dedo na página 19 do livro “Nos Mares do Fim do Mundo”, de Bernardo Santareno, e que o tempo pare:


A PESCA À LINHA

«Louvado seja o bom Jesus, Nosso Senhor! ... » É a hora. São quatro da manhã. Os homens vão saltando dos beliches à medida que acordam e, ainda ensonados, benzendo-se, respondem ao vigia: «Que nos remiu em sua santa Cruz, louvado seja!» É madrugada e as sombras que cobrem o mar recuam ante a claridade frígida, cor de pérola, que alastra sobre o Oceano. Não há brisa, é dia de pesca. Almoço frugal logo em seguida e, preparados os botes (os dóris), prontos anzóis, linhas e isco: - «Arriando, com Deus!» Lá vão, cada qual no seu barquito, para a grande aventura quotidiana. E cada qual pensa, o coração sempre apertado neste momento: «Voltarei hoje? Ai, minha Nossa Senhora ... » Há um que leva aos lábios uma medalha - Senhora da Nazaré, Senhor dos Navegantes ... - que traz pendurada ao peito; outro, disfarçando mal, acaricia o retrato dos filhos que tem oculto no bolso; outro ainda, mais novo, um «verde», em vago sorriso crispado pelo frio e pelo medo, promete como quem reza: «Hei-de fazer a nossa casa com o dinheiro desta viagem, Maria, ... casaremos pelo Natal! ... » - «Arriando, com Deus!» Todas as madrugadas o capitão os despede com este mesmo grito e, em cada dia, ele fica longo tempo debruçado na amurada, apreensivo, com uma asa nostálgica a sombrear-lhe os olhos duros ... Esta é a pesca à linha, nos bancos da Terra Nova e da Gronelândia. Quem pesca assim? Só os portugueses, no mundo inteiro! Lá vão eles: um homem e um barquito frágil .. frente ao mar tão forte e tão volúvel, à neblina que pode tornar-se cerrada, ao vento que pode levantar-se rijo ... Um homem sozinho, frente ao infinito!! E cada barco alivia no mar, com a escrita da sua quilha, o peso duma interrogação ansiosa, logo apagada pela espuma leve e branca ... Aí pelas duas, três horas da tarde, os dóris começam a voltar ao navio . Mas às vezes não voltam: sob o peso excessivo do pescado, ou pela fúria súbita da brisa, o barco afunda-se ... Outras vezes, a névoa densíssima fá-los perder o navio-mãe: e são longos dias à deriva, sem água, sem alimentos, até que ... - «O Zé Robalo não voltou!» Lá na curva do horizonte, o Sol, redondo, enorme e vermelho, desce rápido, logo sugado pelo mar impassível .. : redondo e rubro, como o rosto dum deus pagão, sangrento e implacável. - O Zé Robalo não voltou! ... “Ah, mar! ah, mar dum cão! malvado, mar terrible! na há pior matador qu'ati. na há pior castigo qu'a vida dum pescador!”» Ai, ó meus amigos,e a Mulher e os Filhos só após a entrada do navio, já lá vão uns meses, é que choram que “o Zé Robalo não voltou!...”. 

Manuel

domingo, 19 de abril de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 127

BACALHAU EM DATAS - 17

Júlia I

SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX - BENSAÚDE E MARIANO
Caríssimo/a:
E continuemos a nossa saga...
1857 - «…Mas em 1857, a Companhia [de Pescarias Lisbonense] viu-se forçada a suspender a sua actividade, por razões que se prenderam com o agravamento das leis fiscais.» [Creoula, 09; HPB, 27; Oc45, 79] 1865 - «O “imposto de pescado” já se elevava a 6 %.» [HPB, 26/28] 1866 - «Em 1866 voltou a ressurgir a Faina Maior com a empresa Bensaúde & C.ª, do Faial, que, por razões climatéricas, transferiu mais tarde a seca do bacalhau e as instalações principais para o Barreiro.»[Creoula, 09] «Nove anos depois da falência da Companhia das Pescarias Lisbonense (1857), em 1866, apareceram dois novos armadores “Bensaúde e C.a” e “Mariano e Irmãos” que armaram nesse ano 4 veleiros: HORTENSE, 98 t, SOCIAL, 148 t e 25 homens; JULIA I, 217 t e 41 homens; JULIA II, 145 t e 28 homens. O JULIA I e o JULIA II serão mesmo armados em lugres-patacho. De 1866 a 1903, estas duas empresas acabaram por ter praticamente o exclusivo da pesca do bacalhau.» [HPB, 28] 1875 - «A grande revolução nos métodos de pesca empregados ocorreu em 1875, ano em que se fez o primeiro ensaio com "dories", embarcações ligeiras de fundo chato, utilizadas há muito pelos pescadores americanos. As pesadas chalupas de difícil e perigosa manobra, quer no arrear, quer no içar para bordo, viram assim terminado o seu ciclo de utilização diário. Entre os franceses, cada dory era tripulado por dois homens, visto serem ligeiramente maiores que os dories usados pelos portugueses, estes ocupados por um só homem. A pesca era agora feita pelos pescadores isolados nas suas pequenas embarcações, senhores e donos do seu trabalho e do seu destino, ficando o navio fundeado no mesmo sítio durante vários dias, enquanto a abundância de pesca o justificasse.»[HDGTM, 40] 1885 - «Na Figueira da Foz, diz Rui Cascão, a pesca do bacalhau “reiniciou-se de facto em 1885, utilizando um só navio – o JÚLIA 1.º – com apenas 82 toneladas de lotação – sob o comando do capitão José da Cunha Ferreira (1856-1945).” »[Oc45, 79] 1886 - «Segundo Rui Cascão partiram para a Terra Nova dois navios – JÚLIA 1.º e JÚLIA 2.º, com a tonelagem de 270 m3.» [Oc45, 80] 1888 - «Das cerca de 21.000 toneladas que entraram no país, apenas 923 foram pescadas por navios nacionais.» [Oc45, 67] 1889 - «Segundo Rui Cascão “As campanhas [da pesca do bacalhau] foram feitas com 3 navios de 1889 a 1901, com excepção dos anos 1895/1896 e 1900”.» [Oc45, 80] 1890 - «Construção do navio ADÍLIA nos terrenos marginais da Cale da Vila, pelo pai do celebrado Mestre Mónica.» [Tim, Set/1990, “Toca a Marchar”] 1891 - «Em 1891, a empresa Bensaúde & C.ª deu origem à Parceria Geral de Pescarias que a par com a Mariano e Irmãos, da Figueira da Foz, deteve o exclusivo da pesca do bacalhau em Portugal.»[Creoula, 09]
Manuel

sábado, 11 de abril de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS –126

BACALHAU EM DATAS - 16

Um escuna

MEADOS DO SÉCULO XIX: REACTIVAÇÃO DA PESCA DO BACALHAU
Caríssimo/a: E retomemos o desenrolar dos anos e ... dos séculos:
Século XIX - «A pesca do bacalhau foi apenas reactivada pelos portugueses a partir da década de trinta do século XIX, época em que se promulgou legislação especificamente destinada a promover esta actividade, nomeadamente determinando a isenção de pagamento da dízima.»[Creoula, 09] 1802 - «Em 1802 é tornada livre a pesca, tanto na costa, como no mar alto, mas só nos princípios do século seguinte, depois de algumas tentativas de certo modo infrutíferas, se sente novo impulso.»[BGEGN, 1991, 7] 1816 - «Viana do Castelo já não tem uma única embarcação na pesca do bacalhau.» [Oc45, 79] 1830.NOV.06 - «Será apenas a partir de 1830 que a situação estagnante da nossa pesca se vai modificar progressivamente. Com efeito um Decreto de 6 de Novembro de 1830 visava criar incentivos à pesca em geral e consequentemente a pesca do bacalhau também era abrangida. A pesca do bacalhau deixou de pagar a dízima; neste mesmo decreto estipula-se uma licença anual de 3$000 réis de direitos e de 480 réis de emolumentos por barco. Ao basear o novo imposto no número de barcos e não na quantidade de pescado, estava a pesca do bacalhau a receber um impulso de suma importância. Incentivada pelo ambiente favorável, a Companhia de Pescarias Lisbonense pretendeu relançar de forma organizada a pesca nos bancos da Terra Nova, e teve de recorrer à Inglaterra para adquirir seis escunas aparelhadas para este tipo de pesca, sendo a tripulação também inglesa. O objectivo desta compra parece ter resultado plenamente sob alguns pontos de vista, que mais não seja a julgar pelo vocabulário de origem inglesa utilizado até aos nossos dias pelos pescadores portugueses.» [HPB, 24/25] 1835 - «… [I]senção do pagamento da dízima. O governo adoptou ainda outras medidas de fomento piscatório, contribuindo decisivamente para que em 1835, a Companhia de Pescarias Lisbonense se propusesse explorar a pesca do bacalhau, enviando, logo nesse ano, aos bancos da Terra Nova, seis escunas.»[Creoula, 09] «Em Julho de 1835, é constituída a Companhia de Pescarias Lisbonense, cujos planos incluíam entre outras actividades (pesca da baleia, atum e sardinha), a “do bacalhau nos bancos da Terra Nova e da Islândia”. Esta companhia teve de recorrer a Inglaterra para adquirir seis escunas aparelhadas para este tipo de pesca. Também a tripulação era inglesa.» [Oc45, 78] 1842 - «É publicado um novo regulamento da pesca do bacalhau.»[HPB, 26/28] 1845 - «Publica-se a carta de Lei de 10 de Julho, onde se mandava substituir as licenças por cada barco por um imposto proporcional às pescas.»[HPB, 26/28] 1848 - «Neste ano, 19 barcos compunham a frota: 5 escunas, 12 patachos, 1 brigue e uma barca. A tonelagem destes barcos variava entre 81 t para a escuna TENTATIVA, sendo o maior de todos o brigue VESTAL com 131 t. O número de tripulantes por barco variava entre 15 e 20 pessoas. A frota largou, de um modo geral, em Maio e regressou em Setembro; levou cerca de 25 dias para atingir os bancos e pouco menos, como é natural, para regressar, tendo permanecido nos bancos à volta de 110 dias. Estes dezanove barcos pescaram 659.053 bacalhaus.» [HPB, 26 a 28] 1849 - «O estado europeu que neste século desenvolveu uma actividade de pesca mais intensa na Terra Nova foi a França. “A pesca ocupa anualmente mais de quatrocentos navios franceses; duzentas embarcações de cabotagem e de transporte são destinadas além daqueles, às operações acessórias da pesca. Assim esta indústria entretém no mar uma esquadra de 700 velas e dezoito mil marinheiros, que constituem aproximadamente a quarta parte do pessoal válido da inscrição marítima; reserva preciosa, sempre disponível e endurecida na profissão a mais rude, sobre um mar tempestuoso e sob um clima assaz rigoroso; reserva indispensável, mas ainda insuficiente para o armamento das esquadras francesas em tempo de guerra.”» [Oc45, 69]
Fica bem este raiar de novas eras na quadra festiva que atravessamos. Feliz Páscoa! Manuel

domingo, 29 de março de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 124

BACALHAU EM DATAS - 14
AS GUERRAS DO BACALHAU
Caríssimo/a:
Início do século XVIII - «No início do século XVIII, a América do Norte estava colonizada por dois reinos, a França e a Inglaterra. Este último também desenvolveu dum modo acentuado as suas actividades de pesca na região, com especial destaque para os colonos que ocuparam o território da Nova Inglaterra.» [Oc45, 66] Século XVIII - «Parece reter a memória da presença de pescadores aveirenses, nos primórdios da captura do “fiel amigo”, nos bancos da Terra Nova e da sua referência em documentos oficiais. Numa altura em que a pesca do bacalhau já havia sido abandonada, o autor do referido roteiro afirma, de forma sumária e imprecisa: “Posto que os Portugueses já hoje não frequentam esta navegação, sendo que antigamente iam todos os anos, de Aveiro e Viana e outros portos de Portugal mais de 100 caravelas à pescaria do bacalhau, e maior parte dos nomes dos portos da Ilha da Terra Nova são Portugueses, que eles lhes puseram, quando frequentavam esta navegação, os quais nomes ainda se conservam nas Cartas Inglesas e francesas[...]”» [Oc45, 77 cit. Roteiro da Terra Nova dos Bacalhaus, de Manuel Pimentel.] 1750 - «Viana do Castelo ainda conta com uma flotilha de 80 embarcações.» [Oc45, 79] 1756-1776 - AS “GUERRAS DO BACALHAU” «A Guerra dos Sete Anos (1756-1763) Não foram declaradas guerras devidas exclusivamente ao bacalhau, mas o domínio territorial das regiões próximas dos mares onde o mesmo era pescado foi um factor determinante no desenrolar de alguns conflitos, nomeadamente a Guerra dos Sete Anos (1756-1763) e o processo da Independência dos Estados Unidos da América (1776). Com a Guerra dos Sete anos os ingleses garantiram o domínio territorial de toda a América do Norte, conseguindo os franceses negociar o direito de pesca, em condições apesar de tudo vantajosas para a França, na região da Terra Nova. A Independência dos EUA (1776) A Revolução Americana contou com um grande aliado, a França. Contudo, mesmo esta se opôs às pretensões americanas na região do Grande Banco. Os interesses dos franceses que detinham as ilhas de Saint Pierre e Miquelon, poderiam ser lesados, pela pesca dos americanos nas costas que os franceses consideravam como suas. Não sendo obviamente a única causa da independência dos Estados Unidos, o bacalhau esteve no centro da polémica, quer no desenrolar do processo da independência quer na posterior fase das negociações de paz, envolvendo três estados: França, Inglaterra e os recém-nascidos Estados Unidos da América – e neste processo da independência dos EUA a questão da pesca do bacalhau foi a mais complicada de resolver.» [Oc45, 72/73] Século XVIII - O estado da barra [de Aveiro] constituiu um sério obstáculo ao desenvolvimento do porto de Aveiro e aos investimentos na pesca do bacalhau, entre outros, durante os séculos XVIII, XIX e mesmo nas primeiras décadas do século XX. Silvério R. da Rocha e Cunha, 1939, sintetizou a questão da «decadência da pesca do bacalhau» deste modo: «Portugueses e Espanhóis tinham sido expulsos dos mares da Terra Nova. De país produtor de bacalhau, Portugal passou a grande importador; os armadores ingleses traziam-no para os nossos portos, onde era vendido por comerciantes também ingleses. O último comerciante inglês residente em Aveiro, retirou nos fins daquele século [XIX], porque o estado da barra dificultava o tráfego e a população caía em extrema pobreza.» [Oc45, 78]
Certamente que, ao leres “Guerras do Bacalhau”, a tua reacção terá sido de incredulidade. Contudo, como é escrito, “não foram declaradas guerras devidas exclusivamente ao bacalhau ... mas foi um factor determinante no desenrolar de alguns conflitos”. Esqueçamos as “guerras” ... e olhemos para a Barra de Aveiro que começa a dar muito que pensar!
Manuel

domingo, 22 de março de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 123

BACALHAU EM DATAS - 13
SÉC. XVII- INGLESES E FRANCESES TOMAM POSIÇÕES
Caríssimo/a:
1601 - SÉC: XVII E XVIII - « ... [I]ntensa actividade piscatória por parte das frotas de Inglaterra e da França, impediu o regresso dos portugueses aos bancos da Terra Nova no decurso dos séculos XVII e XVIII, remetendo Portugal ao papel de importador de bacalhau, que se tinha imposto como elemento integrante da dieta alimentar nacional.» [Creoula, 09] 1607 - «Em 1607 foi criada a primeira colónia inglesa na América, em Jamestown, na Virgínia.» [Oc45, 68] 1608 - «O francês Samuel de Champlain ergueu um forte no Quebec, iniciando a colonização francesa da região que viria a ser o Canadá.» [Oc45, 68] 1609 - «O inglês Henry Hudson, ao serviço da Holanda, descobriu o rio que ficou com o seu nome, justificando assim o direito que os holandeses reclamam para se fixarem nalguns pontos da América do Norte. No entanto, esta presença holandesa não se manteve por muito tempo, ficando a América do Norte dividida entre ingleses e franceses.» [Oc45,68] 1619 - [1619-1646] - «Os termos de visita aos navios estrangeiros, franceses, ingleses e holandeses (flamengos), entrados pela barra de Aveiro, desde 26 de Junho de 1619 a 27 de Maio de 1646, mostram que o bacalhau passa a ser importado.» [Oc45, 78] 1624 - «Como é sabido o desmantelamento da Armada Invencível pelos ingleses e pelo mau tempo acabou por reduzir o número de embarcações portuguesas, de forma que, pelo menos em 1624, ainda não havia nenhum barco nos portos de Aveiro e Viana que pescassem na Terra Nova.» [HPB, 22] “Em 1624 não havia qualquer navio de Aveiro na pesca do bacalhau, o mesmo se tendo verificado em todo o século XVIII. (As lutas travadas pelos franceses e ingleses para ocuparem a Terra Nova tornou aquela região perigosa, impedindo os portugueses e não só, de naqueles mares se dedicarem à pesca do «fiel amigo» durante cerca de dois séculos. Esta ausência dos portugueses nos mares da Terra Nova foi ainda motivada pelo assoreamento de alguns portos, nomeadamente o de Aveiro.)» [BGEGN, 1991, 6] 1684 - «Um documento de 1684 confirma expressamente que os ingleses haviam tomado o “trato da Terra Nova” e que as lojas estavam “cheias de bacalhau que trazem os Ingleses”. Os ingleses cuidaram de proteger a pesca do bacalhau através de sucessivos tratados.» [Oc45,78]
Mesmo aqui, no “reino do bacalhau”, passo a passo, século a século, vai-se desenhando uma certa “história” que nos leva a desabafar: “mas onde é que já li/ouvi esta cena?...”
Manuel

domingo, 15 de março de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 122

BACALHAU EM DATAS - 12

1580- INÍCIO DE LONGA CRISE

Caríssimo/a:
1580 - «Esta data – 1580 – marca o início de uma longa e profundíssima crise nas nossas pescas, do seu quase desaparecimento, crise a que nem a recuperação da nacionalidade em 1640 deu qualquer alento de revitalização. Ao longo de cerca de trezentos e cinquenta anos serão feitas várias tentativas de ressurgimento, fruto da iniciativa particular, em que a recordação do passado era um apelo permanente, mas tentativas tão desapoiadas pelo escol governante que nenhuma logrou vingar, ser bem sucedida, no desejo inquebrantável de ligar o presente sombrio ao passado heróico. Teríamos de esperar até ao segundo quartel do século XX para que a pesca do bacalhau entre nós ressurgisse das cinzas e se desenvolvesse a alturas que nos permitiu ser novamente lembrados como nação por excelência de marinheiros.» [HDGTM, 27/29] «... o período da ocupação Filipina, ... viria a ter consequências extremamente graves sobre este sector da economia portuguesa. Quando Filipe II de Espanha mandou organizar a chamada Armada Invencível, requisitou todas as embarcações que tivessem um mínimo de condições para as novas tarefas de guerra que lhes seriam atribuídas. A frota da pesca do bacalhau foi rudemente tocada por esta medida. Como é sabido o desmantelamento da Armada Invencível pelos ingleses e pelo mau tempo acabou por reduzir o número de embarcações portuguesas, de forma que, pelo menos em 1624, ainda não havia nenhum barco nos portos de Aveiro e Viana que pescassem na Terra Nova.» [HPB, 22] 1583 - «Gielbert Raleigh ocupou a Terra Nova. Drake aprisionou vários navios portugueses carregados de peixe. [vd. tb HPB, 22] [...] Entretanto Portugal e a Espanha são governados pelo mesmo soberano, as relações entre Portugal e a Inglaterra deterioram-se. Após a Restauração da Independência, a Marinha Portuguesa foi usada para libertar os territórios onde Portugal já exercia uma ocupação efectiva. Este facto, aliado ao crescimento da Inglaterra como potência marítima, que se instalou na América do Norte, conduziu a um menor interesse por aquelas regiões por parte dos portugueses. A frota que era usada no bacalhau ressentiu-se desta situação, que se manteve ao longo dos séculos XVII e XVIII. Em finais do século XIX a pesca do bacalhau ainda se encontrava bastante longe daquilo que seria desejável, sendo Portugal obrigado a importar enormes quantidades desse peixe para consumo interno.» [Oc45, 77] 1585 - «As razões do fim da pesca do bacalhau parecem prender-se, segundo diversos autores, com o ocaso do poderio ibérico nesses mares [do Norte], nomeadamente na Terra Nova, após 1585.» [Oc45, 78] 1598 - «Marques Gomes parece testemunhar o declínio da pesca do bacalhau, no final de Quinhentos, embora o número de embarcações ainda fosse muito significativo, e não adianta qualquer data para o abandono da pesca do bacalhau. “Em 1598 [...] empregavam-se ainda 50 navios na mesma pescaria.”» [Oc45, 78] 1600 - [Sebastião Francisco Mendo Trigoso, 1813] «afirma que, por volta de 1600, Aveiro “era uma das povoações marítimas de Portugal, proporcionalmente mais rica em gente [c. de 2500 fogos], comércio e indústria; senhora de uma barra magnífica pelo fundo, extensão e segurança e de muitas e grandes marinhas”. Acrescentava que “saía todos os anos do seu porto um grande número de embarcações, que proviam de sal as províncias da Beira, Minho e Trás-os-Montes, muitas das nossas ilhas e os portos da Galiza”. Por isso, depois que ali chegou a notícia dos descobrimentos dos Corte-Reais [...], alguns negociantes, tanto daquela vila, como de Viana, então igualmente opulenta e industriosa, determinaram aproveitar-se das circunstâncias, que lhes abriam uma nova fonte de riquezas, e eram capazes de fazer subir o seu comércio a um ponto incalculável... [...]» [Oc45, 77] Século XVI - «No século XVI, também os pescadores de Aveiro, segundo alguns autores, “não curavam o peixe nas praias vizinhas ao lugar da pesca, como outros, conservavam-no a bordo e depois vinham curá-lo e secá-lo aqui.” Esse processo demorou algum tempo a generalizar-se. A Noruega, por exemplo, só o adoptou após 1640.» [Oc45, 67]
Período de longa e difícil crise. Souberam os Portugueses reagir e vencê-la. Assim agora aplicássemos o capital acumulado há quatro séculos!
Manuel