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sábado, 21 de dezembro de 2019

Natal de 2019 - Que o céu se abra...

Mensagem de D. António Couto, bispo de Lamego



Que o céu se abra,
E que o orvalho desça
Sobre esta terra dura e seca,
Com as mãos em prece,
Pois vê-se que carece
De paz
E de ternura.

Que o Teu orvalho desça,
Mas desce Tu também,
Menino de Belém,
Por essa escada
Rendilhada
De água pura.
E não Te esqueças
De que está na altura
De vires nascer em Belém
E aqui também.

Por isso Te espero
Com a alma acesa,
O pão na mesa,
Os pés ao borralho.

Vem depressa, Menino,
E não te percas na confusão
Do trânsito
Da circunvalação
Ou da televisão.
Mete logo pelo atalho
Do presépio de musgo e de cascalho,
Que com oração e trabalho,
Abri no coração.

Vem, Senhor Jesus,
E enche de luz o nosso tempo,
Segundo a segundo,
Momento a momento.

NOTA: Poema e foto da ECCLESIA

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Natal é renascimento



Este arbusto é nosso companheiro em horas de descanso na sala. Uns leem  ou escrevem e outros, absortos, olham de soslaio a televisão. Ao lado dela, está o arbusto com a sua história. Alguém lhe deu a mão para renascer. 
Há mais de um ano ofereceram-me um ramo de flores muito bonito, que tinha como suporte um resto de tronco, porventura recuperado do lixo. As flores murcharam e acabaram por secar com o tempo. O tronco, novamente condenado ao lixo, ficou por ali. E a Lita resolveu limpá-lo e metê-lo numa  garrafa antiga  cheia de água. O tempo passou e um dia, sem se fazer anunciar, surge, a saudar-nos, um olhinho com sinal de vida. E continua a crescer saudavelmente. Era um renascimento. É Natal. 

F. M.

domingo, 15 de dezembro de 2019

Que há de novo para este Natal?

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO


"Este Natal recolhe frutos de uma caminhada, de poucos anos, mas que parecem séculos."

No solstício de Inverno – o momento preciso em que a duração do dia ultrapassa a duração da noite – os antigos romanos celebravam o Sol invictus, quer dizer, a vitória do deus Sol sobre a noite e sobre a morte. A Igreja de Roma resolveu designar essa data como a do nascimento de Jesus, o verdadeiro sol da vida: foi Ele que enfrentou a morte e a venceu! Como vimos na crónica do Domingo passado, o Natal tornou-se a cristianização inculturada de uma festa gentia.
Em regime de Cristandade, passou a ser uma celebração de cristãos para cristãos. Hoje, evoca uma bela festa de família, mesmo quando esta instituição está a passar por crises de vária ordem. No entanto, o centro da prática e da mensagem de Jesus consiste em procurar fazer família com quem não é da família biológica. Só nessa dimensão o Natal se pode tornar cristão.
Jesus, o Nazareno, teve uma intervenção na história humana, a partir de Israel com poucas saídas ao estrangeiro, embora muito significativas da sua mensagem universalista. Como diz o filósofo André Comte-Sponville, os melhores especialistas discutem, desde há muito tempo e ainda hoje, acerca da historicidade de Jesus, mas ele não aceita que o tratem como uma personagem mitológica: “gosto de pensar que um homem, de há dois mil anos, tenha manifestado – não só por palavras, mas pelos seus actos – o essencial, que não é nem a força nem a riqueza, mas o amor, a justiça e o cuidado com os mais frágeis.” [1]

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

NATAL feliz para todos



NATAL

Lá na gruta de Belém
onde nasceu o Redentor
houve falta de agasalho
que sobrou em Paz e Amor
Apoio humano e divino
prendas singulares do mundo
foram presença marcante
nesse Presépio fecundo
cuja pobreza na grandeza
e desamparo era bondade
e que simplesmente deu
rumo à Humanidade.
Que nesta época de Natal
de já rara fraternidade
que ao menos, depois da festa,
Possa celebrar-se a Amizade.

M. Cerveira Pinto


NOTA: Este poema, de um colega e amigo que muito estimo, publiquei-o há dez anos no meu blogue. Republico-o  com votos de Santo Natal para a sua família e para os meus muitos amigos. A ilustração representa a sensibilidade da Lita. 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

A data incerta de uma festa admirável

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO

Celebramos o nascimento de Jesus a 25 de Dezembro. Qual é o fundamento desta data? Nenhum.


1. Por mais paradoxal que isso possa parecer, no Evangelho de S. Marcos, considerado o mais antigo dos quatro Evangelhos, não há Natal! Por opção, começo pelo desfecho abrupto deste “livro de intenso encanto literário e um dos mais arrebatadores que alguma vez foi escrito”. Desfecho tão abrupto que o seu tradutor, Frederico Lourenço, pergunta: é concebível que um livro em língua grega possa terminar com a palavra “pois"? Mas é um facto. Vou transcrever esta tradução de ritmo grego em português.
Conta S. Marcos que, “passado o sábado, Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e Salomé compraram perfumes para irem embalsamá-lo. E muito cedo de manhã, no primeiro dia da semana, elas vão ao sepulcro tendo já nascido o sol. E diziam entre si: Quem rolará para nós a pedra da entrada do sepulcro? E tendo olhado à sua volta, vêem que a pedra tinha sido rolada para o lado; e era muito grande. E entrando elas no sepulcro, viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca, e ficaram apavoradas. Ele diz-lhes: é Jesus, o Nazareno que procurais, o crucificado? Ressuscitou. Não está aqui. Vede o lugar onde o depuseram. Mas ide e dizei aos seus discípulos e a Pedro: Ele vai à vossa frente a caminho da Galileia; lá o vereis, tal como ele vos disse. E elas, saindo, fugiram, pois domina-as um tremor e um êxtase. E nada disseram a ninguém: tinham medo, pois” [1].

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Cuidados com o Natal

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO


«Este ano, ainda continuará a existir o Natal dos ricos e super-ricos e o Natal dos pobres com algumas sobras dos ricos e da solidariedade dos que partilham a mesa com os que vivem sós. Conheci uma pessoa, era eu um adolescente, que me dizia: “Só me faltou o que não dei.”»

1. O Natal é uma canseira, um mundo de cuidados, dizia-me há dias uma zelosa mãe de família, com alguns tiques da queixosa Marta do Evangelho [1]. É preciso pensar em tudo para que ninguém fique melindrado. As sensibilidades das pessoas são muito diferentes e a persistência de ressentimentos imaginários pesa.
Prefiro não tocar em histórias natalícias de família porque, além de outros motivos, as concepções culturais de família tornaram-se tão fluidas e controversas que é aconselhável alguma discrição para não aumentar o número dos que se julgam excluídos. Gosto de dizer e de ouvir dizer família humana. Embora desagregada, ofendida e esquecida, é a nossa realidade mais antiga e mais profunda.
Os cuidados com o comércio do Natal estão, pelo contrário, bem entregues e actuam sempre por antecipação. Nesta quadra, é ele que inunda de publicidade os grandes meios de comunicação. A eficácia das homilias contra essa orquestração da onda consumista é muito duvidosa. Não estamos, no entanto, proibidos de tornar o Advento, liturgicamente programado, uma excelente oportunidade para meditar e descobrir que não estamos condenados a uma concepção cíclica do tempo, a um eterno retorno do mesmo, como os calendários festivos podem sugerir.

domingo, 1 de dezembro de 2019

Para haver Natal este natal

As mãos preocupadas
com embrulhos
esquecem outros gestos de amor




Para haver Natal este natal

Para haver Natal este natal
talvez seja preciso reaprendermos
coisas tão simples!
Que as mãos preocupadas
com embrulhos
esquecem outros gestos de amor.
Que os votos rotineiros que trocamos
calam conversas que nos fariam melhor.
Que os símbolos apenas se amontoam
e soltam uma música triste
quando já não dizem
aquela verdade profunda.

Para haver Natal este natal
talvez seja preciso recordar
que as vidas começam e recomeçam
e tudo isso é nascimento (logo, Natal!).
Que as esperanças ganham sentido
quando se tornam caminhos e passos.
Que para lá das janelas cerradas
há estrelas que luzem
e há a imensidão do céu.

Talvez nos bastem coisas afinal
tão simples:
o alento dos reencontros
autênticos,
a oração como confiança
soletrada,
a certeza de que Jesus nasce
em cada ano,
para que o nosso natal alguma vez, esta vez,
seja Natal.

P. José Tolentino Mendonça

(Pe. Tolentino é agora cardeal)

sábado, 30 de novembro de 2019

Sociedade fraterna a caminho


A partir de amanhã, 1 de dezembro, este meu blogue franqueia portas para acolher a colaboração de quem estiver aberto à partilha de temas de Advento e Natal. Prosa, poesia, fotografias, provérbios ou mensagens terão espaço livre. Textos curtos que traduzam otimismo e certezas de uma sociedade fraterna já a caminho. Tudo Pela Positiva. 

Fernando Martins

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Criança feliz à distância de um gesto



O Natal é uma época especial de partilha e afeto, onde todos podemos dar um pouco de nós. Por isso , a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Ílhavo (CPCJ), no âmbito do seu Plano Local de Promoção dos Direitos da Criança, lançou a Campanha de Natal Solidária “Fazer uma criança feliz está à distância de um gesto”, convidando toda a comunidade a participar em espírito solidário.
Esta campanha decorre de 15 de novembro a 18 de dezembro e visa a recolha de alimentos, roupa e brinquedos para crianças, que podem ser entregues nas instalações da CPCJ de Ílhavo, no Edifício da Câmara Municipal de Ílhavo.

sábado, 5 de janeiro de 2019

Narrativas Evangélicas do Natal

Reflexão de Anselmo Borges
publicada no OBSERVADOR


Anselmo Borges
 Para se entender o que se passa com as narrativas dos Evangelhos à volta do Natal, há pressupostos fundamentais.

1. Em primeiro lugar, a fé cristã dirige-se a uma pessoa, Jesus confessado como o Cristo (o Messias) e, através dele, a Deus que Jesus revelou como Pai e poderemos também dizer como Mãe, com todas as consequências que daí derivam para a existência.
O que diz o Credo cristão, símbolo da fé? “Creio em Jesus Cristo. Gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, ressuscitou ao terceiro dia.” Segundo a fé cristã, isto é verdade? Sim, é verdade. Mas segue-se a pergunta fundamental: o que deriva dessas afirmações para a nossa existência de homens e mulheres, cristãos ou não? O Credo é teologia dogmática, especulativa, em contexto linguístico da ontologia grega. Ora, a teologia dogmática tem que ver com doutrinas e dogmas, com uma estrutura essencialmente filosófica. Pergunta-se: os dogmas movem alguém, convertem alguém, transformam a existência para o melhor, dizem-nos verdadeiramente quem é Deus para os seres humanos e estes para Deus?
Exemplos mais concretos, um do Antigo Testamento e outro do Novo, até para se perceber a passagem do universo hebraico em que Jesus se moveu e o universo grego no qual aparecem redigidos os Evangelhos. No capítulo 3 do livro do Êxodo aparece a manifestação de Deus na sarça ardente e Moisés dirige-se a Deus: se me perguntarem qual é o teu nome, que devo responder-lhes? E Deus: “Eu sou aquele que sou”. Dir-lhes-ás: “Eu sou” enviou-me a vós. A fórmula em hebraico: ehyeh asher ehyeh (“eu sou quem sou”, “eu sou o que sou”) é o modo de dizer que Deus está acima de todo o nome, pois é Transcendência pura, que não está à mercê dos homens, mas diz também (a ontologia hebraica é dinâmica) o que Deus faz: Eu sou aquele que está convosco na história da libertação, que vos acompanha no caminho da liberdade e da salvação. Depois, com a tradução dos Setenta, compreendeu-se este ehyeh asher ehyeh como “Eu sou aquele que é”, “Eu sou aquele que sou”, o Absoluto. Filosofando sobre Deus, a partir daqui, Santo Tomás de Aquino dirá que Deus é “Ipsum Esse Subsistens” (O próprio ser subsistente), Aquele cuja essência é a sua existência. Isto é verdade, mas significa o quê para iluminar a existência? Perdeu-se a dinâmica do Deus que está presente e acompanha a Humanidade na história da libertação salvadora.
No Novo Testamento, João Baptista, preso, mandou os discípulos perguntar a Jesus se ele era o Messias. Jesus não afirmou nem negou. Mas deu uma resposta existencial, prática: “Ide dizer-lhe o que vistes e ouvistes: os coxos andam, os cegos vêem, a Boa Nova é anunciada, a libertação avança, a salvação está em marcha”.
O que é que isto significa? A teologia, a partir da Bíblia, é, antes de mais, teologia narrativa e não dogmática. Quer dizer: tem uma estrutura existencial, histórica. Na teologia especulativa, o centro de interesse é o ser; na teologia narrativa, o decisivo é o que acontece. Assim, na perspectiva cristã, o essencial consiste na pergunta: O que é que acontece quando Deus está presente? Na linha dogmático-doutrinal, exige-se e até se pode dar um assentimento intelectual, subordinando-se, mas a existência continua inalterada. Corre-se então o perigo de uma “fé” em fórmulas doutrinais coisistas, petrificadas, sem qualquer transformação da vida, que é o que acontece tão frequentemente. Ora, a vida cristã, se quiser ser verdadeiramente cristã, no discipulado de Jesus, tem de ser determinada mais pela ortopráxis do que pela ortodoxia (sem menosprezo, evidentemente, pela ortodoxia, segundo uma hermenêutica adequada): Jesus louvou a cananeia pela sua fé, que não era ortodoxa, deu como exemplo o samaritano, que não seguia a ortodoxia, mas praticava a misericórdia, e, sobretudo, leia-se o Evangelho segundo São Mateus, no capítulo 25 sobre o Juízo Final, no qual não há perguntas sobre fórmulas teóricas religiosas, mas sobre a prática: “Destes-me de comer, de beber, vestistes-me, visitastes-me na cadeia e no hospital...”.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Solidão natalícia



Neste mundo vandalizado pelo consumismo, deixamo-nos levar pela onda e atiramos para trás das costas a solidão de tantos. A imagem que publico já não fere ninguém, nem mesmo os que pregam a atenção aos que revivem isolados as memórias que são o único consolo de que se consideram donos absolutos. E no próximo Natal será diferente? Não acredito, mas gostaria de ter a coragem de criar um esquema que tornasse o Natal mais fraterno.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

A Palavra de Deus faz-se Homem. É Jesus, o Filho de Maria

A verdade do Natal 


Georgino Rocha
 João, o discípulo amado, abre o seu Evangelho com uma narração, bela e profunda, que faz lembrar o relato da criação no livro de Génesis. Narração que mergulha no seio de Deus e contempla a vida de relação das três Pessoas divinas. Narração que designa a Segunda Pessoa por Verbo de Deus, Palavra de comunicação e vida, de sabedoria e graça, de amor familiar e proximidade humana. Palavra de acesso ao coração de Deus e de entrada na consciência de cada pessoa, santuário da sua habitação. Palavra de garantia da humanidade divina e da divinização humana; Palavra que nos faz filhos e irmãos. Desta fonte inesgotável brota a nossa comum relação fraterna e o respeito devido às demais criaturas.
Jesus, a Palavra de Deus é o filho de Maria. Nasce no tempo, tem uma família estável, convive com os vizinhos, reza com os pais, vai com eles à sinagoga, aprende um ofício de trabalho, e, chegada a altura, deixa a casa paterna para iniciar um novo estilo de vida: a de missionário itinerante.
João narra, de forma bela, o seu agir histórico, dando-lhe a força de sinais da novidade a revelar-se, da glória a brilhar na entrega por amor que desvenda a dignidade humana onde se espelha o rosto divino.
“Jesus, a Palavra de Deus é a luz que ilumina a consciência de todo o homem. Mas para onde nos conduzirá essa luz? A Bíblia toda afirma que Deus é amor e fidelidade. Levado pelo seu infinito amor e sendo fiel às suas promessas, Deus quis introduzir os homens onde eles nunca teriam pensado: partilhar a vida e a felicidade de Deus”, afirma em comentário a Bíblia Pastoral.
Deus quer, e deixa a resposta à pessoa humana livre de coações, aberta à verdade integral. Que alegria, podermos dar uma resposta positiva ao amor que nos ama e nos propõe a felicidade! Que risco, corremos ao dizer não e permanecer nessa atitude, ficando insensíveis à sua oferta e indiferentes ao bem dos outros, nossos irmãos em humanidade!

A solidão e o Natal


“Talvez precisemos de abraçar a solidão de que facilmente fugimos, pois nela, e de uma maneira carregada de prodígio, acontece o Natal”

José Tolentino Mendonça 
na crónica "Que coisa são as nuvens"
da revista E do EXPRESSO

sábado, 22 de dezembro de 2018

O Natal de Jesus e a dignidade humana

Anselmo Borges

Ernst Bloch, um dos maiores filósofos do século XX, ao mesmo tempo ateu (não acreditava no Deus pessoal) e religioso (estava religado à divina Natureza), quando era professor na Universidade de Leipzig, na antiga República Democrática Alemã, na última aula antes das férias de Natal desejava a todos os estudantes boas-festas, falando-lhes do significado do Natal e terminava, dizendo: "É sempre Advento", querendo desse modo apelar para a esperança: o mundo e a humanidade continuam grávidos de ânsias e de possibilidades, e a esperança está viva e há razões objectivas para esperar. Apesar do Natal, ainda é Advento, porque a plenitude ainda não chegou.
Foi em Tubinga que o conheci, pois Ernst Bloch, embora se confessasse marxista e ateu, acabou por ter de deixar Leipzig e a República Democrática Alemã: as autoridades comunistas acusavam-no de misticismo religioso. Ele defendia-se, sublinhando o carácter único, na história das religiões, do judeo-cristianismo e do seu livro, a Bíblia. Para ele, "a Bíblia é o livro mais significativo da literatura mundial", pois responde à pergunta decisiva do ser humano, que é a questão do fim, do sentido e da finalidade do mundo e da existência. Ir ao encontro da Bíblia "não pode prejudicar" nenhum ser humano que queira bem à humanidade e a si próprio. Concretamente, não é possível compreender o homem europeu e as suas obras literárias e artísticas, sem um conhecimento aprofundado da Bíblia. Os nazis, por exemplo, ao rejeitar a Bíblia como algo estranho que não devia ser estudado, não só não puderam compreender a cultura alemã como caíram na barbárie.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

O Natal escondido


Acordei cedo para sentir o desabrochar do sol por entre nuvens prenunciadoras de chuva. Primeiro uns raiozinhos, tímidos mas persistentes, e só depois veio a força renovadora do astro-rei a marcar presença neste Advento. Saí do meu aconchego e fui à cata do Natal na grande cidade a uns bons quilómetros da casa onde moro. Levei no saco a ânsia de encontrar o Natal em cada esquina, quiçá no coração das pessoas apressadas. Mas do Natal elas não me falaram.
Música no ar, serena para não incomodar, mas audível quanto baste. Eram as melodias natalícias da minha meninice. Bonitas, sim senhor, mas denotando falta de criatividade. As mesmas de sempre, que os novos poetas e músicos terão posto de lado o tema do nascimento de Jesus.
Os enfeites cruzavam-se entre luzinhas que piscavam para nos desafiarem a estar. Estar, olhar, sentir que o ambiente era diferente, que algo de novo andava no ar, que havia festa para celebrar, tradições para respeitar, família para congregar, prendas para ofertar e convidados a chegar. Tudo isto, em força, para na célebre noite da consoada, com data certa em 24 de dezembro de cada ano, se viver a alegria à volta do tronco comum, a família humana.
Deambulei por entre lojas, subi e desci pelas passadeiras rolantes, cruzei-me com olhares que outrora conheci bem, vi jovens e idosos na mesma azáfama, meninos e meninas a saborearem chupa-chupas, pais e mães com sacas e saquetas de presentes, rostos felizes, uns, e cabisbaixos, outros. Gente com porte de endinheirada e pobres de pedir em algumas esquinas. Do Natal da minha infância, nada.
Um magote de crianças rodeava um velho de vermelho vestido, com barbas brancas e saco às costas. Oferecia umas lembranças a quem o rodeava. Era o Pai Natal.
A história do Menino Jesus não tinha lugar naquele espaço comercial. Ficou reduzido a uma ou outra montra e às celebrações em casa ou nas igrejas cristãs. O espírito natalício saiu de cena. O comércio ganhou a parada. E o Natal ficou escondido.

Fernando Martins

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

A Noite de Natal




« (...) Então Joana foi ao jardim. Porque ela sabia que nas Noites de Natal as estrelas eram diferentes. Abriu a porta e desceu a escada da varanda. Estava muito frio, mas o próprio frio brilhava. As folhas das tílias, das bétulas e das cerejeiras tinham caído. Os ramos nus desenhavam-se no ar como rendas pretas. Só o cedro tinha os seus ramos cobertos.
E muito alto, por cima das árvores, era a escuridão enorme e redonda do céu. E nessa escuridão as estrelas cintilavam, mais claras do que tudo. Cá em baixo era uma festa e por isso havia muitas coisas brilhantes: velas acesas, bolas de vidro, copos de cristal. Mas no céu havia uma festa maior, com milhões e milhões de estrelas. (...)»

Sophia de Mello Breyner Andresen (1989).
A Noite de Natal. Porto: Figueirinhas (4ª ed.; il. de Júlio Resende)
(1ªed. - 1959; il. de Maria Keil).

NOTA: Por gentileza de Sara Raquel da Silva