sábado, 2 de agosto de 2014

UMA NOVA CONSTITUIÇÃO

Crónica de Anselmo Borges no DN

Sobre o paradoxo da Igreja, o sociólogo Olivier Bobineau tem um texto penetrante e inexcedivelmente límpido. "A Igreja Católica é uma junção paradoxal de dois elementos opostos por natureza: uma convicção - o descentramento segundo o amor - e um chefe supremo dirigindo uma instituição hierárquica e centralizada segundo um direito unificador, o direito canónico. De um lado, a crença no invisível Deus-Amor; do outro, um aparelho político e jurídico à procura de visibilidade. O Deus do descentramento dos corações que caminha ao lado de uma máquina dogmática centralizadora. O discurso que enaltece uma alteridade gratuita coexiste com o controlo social das almas da civilização paroquial - de que a confissão é o arquétipo - colocado sob a autoridade do Papa. Numa palavra, a antropologia católica tenta associar os extremos: a graça abundante e o cálculo estratégico. Isso dá lugar tanto a São Francisco de Assis como a Torquemada."
Será este paradoxo, para não dizer contradição, superável?

DAI-LHE VÓS DE COMER

Uma reflexão semanal de Georgino Rocha

«O ser humano, em todas as suas dimensões, é ameaçado pela fome de pão, de consideração e apreço, de valia pessoal e reconhecimento social, de superação dos limites e de aspiração ao Infinito. Todo o ser humano é um peregrino de Deus que vai encontrando e saboreando nos gestos de fraternidade realizados enquanto é tempo. A mesa comum espera-nos no fim da caminhada, embora esteja posta desde já em forma sacramental na celebração da eucaristia. Daí, a mais-valia da missa dominical.»

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

ARTE NO SEMINÁRIO DE AVEIRO



Quando passo ou entro no Seminário de Santa Joana Princesa, em Aveiro, não me canso de apreciar o que de bom e belo o edifício nos reserva. Na fachada e no interior não faltam motivos que nos deixam satisfeitos. Siza Vieira, o arquiteto mais badalado do nosso país e um dos mais conceituados do mundo, com obra feita por todo o lado, considerou o Seminário de Santa Joana Princesa como um belo exemplar e bem representativo de década de 50 do século passado. Isso nos basta para com mais força o visitarmos e apreciarmos. Há tempos registei fotos como esta, situada num corredor de um piso superior, com vista para a igreja daquela casa de formação. Quando puderem, passem por lá. Pode ser que alguém vos possa mostrar o interior do edifício.

A SOCIEDADE DO CANSAÇO

Crónica de José Tolentino Mendonça

«A verdade é que as nossas sociedades ocidentais estão a viver uma silenciosa mudança de paradigma: o excesso (de emoções, de informação, de ofertas, de solicitações…) está a atropelar a pessoa humana e a empurra-la para um estado de fadiga, de onde é cada vez mais difícil retornar. O risco é o aprisionamento permanente nessa armadilha como explicava profeticamente Fernando Pessoa: «Estou cansado, é claro,/ Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado./ De que estou cansado não sei:/ De nada me serviria sabê-lo/ Pois o cansaço fica na mesma». Valia a pena pensar nisto.»


quinta-feira, 31 de julho de 2014

FELIZES

«O mais feliz dos felizes é aquele que faz os outros felizes.»


Alexandre Dumas, 

1802 - 1870

segunda-feira, 28 de julho de 2014

UM LIVRO PARA ESTAS FÉRIAS

“Os Novos Maias na Costa Nova” de Senos da Fonseca




“Os Novos Maias na Costa Nova” é o mais recente livro de Senos da Fonseca. Se querem um conselho amigo, aproveitem para o ler nestas férias; dirijo-me sobretudo aos veraneantes desta praia de «mil encantos, e recantos…», no dizer expressivo do autor, que não dispensa, durante meio ano, como um dia garantiu, fixar-se por aqui, para se enredar no mar e na ria, deles inspirando a maresia e o linguajar do povo.
A génese deste trabalho situa-se numa notícia publicada no EXPRESSO, a propósito das comemorações dos 125 anos de “Os Maias”. O desafio lançado pelo semanário foi dirigido a autores conhecidos e propunha a escrita de um novo capítulo do célebre livro de Eça de Queiroz, que teria por título “Os Novos Maias”. 
Senos da Fonseca dormiu mal nessa noite. «O desafio começou a atormentar-me», referiu na Justificação do livro. E aceitou o repto, sabendo a priori que «Eça “viu” na Costa-Nova, in loco, outras gentes, ainda sãs». E na referida Justificação afirma que situou as personagens de “Os Novos Maias”, em 1907, afiançando que, «só por coincidência, têm nomes historicamente conhecidos».
Escusado será dizer que apreciei o livro, tanto mais que o autor consegue, com poesia e arte, na minha ótica de não-crítico literário, por ausência de dotes e conhecimentos que não possuo, reportar-me aos princípios do século XX, sabendo, como sei, que Eça por aqui veraneou, desde menino, dando-se ao luxo até de criar uma tal Viscondessa da Gafanha, mulher que, de tantos vícios, jamais poderia ter existido entre nós. O porquê dessa figurinha ligada a uma terra de gente trabalhadora e humilde não o sei. Mas gostava de saber. 
Senos da Fonseca serve-se, e bem, da família Pinto Basto, da alta sociedade da época, «gente de fartos e entrouxados cabedais», para acolher figuras gradas da obra de Eça na Costa Nova do Prado. E fez muito bem. 
O trabalho deste autor ilhavense está cheio de referências a frequentadores da nossa Costa Nova, personalidades de renome na região e no país, na época retratada. E no seu livro, a figura central de “Os Maias”, Carlos da Maia, tem aqui, como no mundo à sua volta, quem goste de o servir e adular, nomeadamente o João da Ega, sempre disponível para satisfazer os seus gostos e caprichos. 
Como não podia deixar de ser, Carlos da Maia apaixona-se pela Joana, filha do arrais Sr. Maaia, que o Ega retratou assim: «um verdadeiro poema de amor: esbelta como Siracusa, alta como um cipreste negro da Grécia...». E não digo mais… Permitam-me, contudo, que refira o jeito poético com que Senos da Fonseca domina os temas amorosos e a beleza sem artifícios, e não só. 
É óbvio que não vou contar a trama romanesca, mesmo resumidamente, encaixada em 10 capítulos, sendo este último preenchido por dez postais com estórias, qual delas a mais saborosa, sobretudo as que saem do linguajar da nossa gente, onde a malícia tem lugar marcado. 
“Os Novos Maias na Costa Nova” é uma edição do autor que também ilustra os postais. A capa é de Sara Bandarra e a revisão foi de Maria Helena Malaquias. A execução gráfica é da Officina Digital.
Boas férias com boas leituras. 

Fernando Martins


domingo, 27 de julho de 2014

O PAPA FRANCISCO E UM LIVRO INQUIETANTE

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


1. Deixei, neste espaço, quatro crónicas sobre o estilo provocatório de alguns gestos, atitudes e intervenções do papa Francisco destinados, por um lado, a questionar e a despertar a vida da Igreja, em todas as suas dimensões e, por outro, a denunciar um sistema financeiro e económico que corrompe a própria natureza da política. Esta, em vez de se regenerar no serviço do bem comum, tornou-se um instrumento de decisões que reduzem os seres humanos pobres ou “improdutivos” a lixo social.

Perante este comportamento, não admira que certos grupos classifiquem de populista a via deste argentino. Mesmo sem exigirem o uso majestático da tiara papal, esperam, do bispo de Roma, menos espontaneidade, modos mais cerimoniosos e protocolares.

sábado, 26 de julho de 2014

A VIDA

"Quem ama a vida é amado por ela"

(Artur Rubinstein, 1829 - 1894)


- Posted using BlogPress from my iPad

FRANCISCO ENTRE OS LOBOS

Crónica semanal de Anselmo Borges* 

no Diário de Notícias


O mundo não é igual para todos. O mundo visto a partir de uma grande metrópole não coincide com o que se vê a partir do campo. Uma família feliz e uma família desgraçada não olham para o mundo do mesmo modo. Há sempre um ângulo de visão, um ponto de vista, e projectamos sobre o mundo os nossos interesses, medos e expectativas. O mundo que um banqueiro perspectiva diferencia-se do de um desempregado. O mundo visto a partir do poder não coincide com o mundo visto a partir das vítimas, dos pobres, dos sem-abrigo. Uma coisa é olhar para o mundo a partir da janela mais famosa do planeta - a janela do Palácio Apostólico no Vaticano - e outra coisa é vê-lo a partir da Casa de Santa Marta, onde vive o Papa Francisco. E a visão que temos do mundo também nos transforma a nós. De qualquer modo, não há olhares absolutamente límpidos, objectivos, neutros, pois estamos sempre situados.

CHEIO DE ALEGRIA, AGARRA-SE AO TESOURO

Reflexão semanal de Georgino Rocha


Atitude decidida e coerente, fruto de um coração inteligente e de uma vontade determinada. Atitude assumida com firmeza pelo homem que passa no campo e sente o seu olhar “golpeado” pelo brilho de um tesouro. Atitude emblemática de tantas outras que, ao longo dos dias, somos chamados a considerar e fazer nossas.

O homem da parábola concentra todas as energias na realização da maior aventura da sua vida: obter a preciosidade vislumbrada. Definida a meta dos seus desejos, reorganiza e reordena todas as suas rotinas, reelabora a sua escala de valores, redimensiona a distribuição do tempo. Nestas diligências, sente o seu ânimo transbordar de alegria e toma decisões arriscadas. 

quinta-feira, 24 de julho de 2014

UM AMIGO...


«Que belo é ter um amigo! Ontem eram ideias contra ideias. Hoje é este fraterno abraço a afirmar que acima das ideias estão os homens. Um sol tépido a iluminar a paisagem de paz onde esse abraço se deu, forte e repousante. Que belo e que natural é ter um amigo!»

Miguel Torga
 Diário - 1935

quarta-feira, 23 de julho de 2014

PORTUGAL SAI DERROTADO NA CPLP

Os direitos humanos foram ignorados 


«Portugal resistiu enquanto pôde à entrada da Guiné Equatorial na CPLP. Em 2010, ganhou tempo com uma moratória. Em 2012 resistiu. Mas agora, face ao ultimato de Angola e Brasil, acabou por ceder. “Portugal aguentou, aguentou, aguentou…”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, no passado domingo, no seu espaço de comentário habitual na TVI, referindo-se ao processo de adesão da Guiné Equatorial à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Portugal disse não uma vez, em 2010, na cimeira de Luanda. E outra, em 2012, em Maputo. Estabeleceu-se um roteiro, requisitos mínimos: o fim da pena de morte e medidas destinadas a promover o uso do português. Mas as pressões dos “países irmãos” foram tantas que o Governo cedeu. “Portugal baixou a bola”, disse Marcelo. O Observador sabe que as coisas foram mais complicadas do que isto, mas o “professor” resumiu bem a história.»

Texto de Fávio Monteiro no OBSERVADOR



- Posted using BlogPress from my iPad

terça-feira, 22 de julho de 2014

O VIVER DO HOMEM


"O homem que começou a viver mais seriamente por dentro, começa a viver mais singelamente por fora."

(Ernest Hemingway, 1899 - 1961)



- Posted using BlogPress from my iPad

O MAR E AS MULHERES

Uns conselhos de Ramalho Ortigão



Uma leitura para este tempo é ou pode ser Ramalho Ortigão. Um clássico porventura a cair no esquecimento. Dele não conhecia muito. Umas Farpas e textos de antologias. 
Graças à Editora Quetzal, estou a ler "As Praias de Portugal - Guia do Banhista e do Viajante", cuja primeira edição data de 1876. As nossas praias, Barra e Costa Nova, não lhe mereceram qualquer referência. Apenas diz que a Costa Nova era frequentada por algumas famílias de Aveiro e seus subúrbios. Nem o Algarve está no mapa. 
De qualquer forma, o leitor fica ao alcance de bons nacos de prosa e de informação variada. E não faltam curiosidades científicas, decerto já ultrapassadas. Já lá vão uns 150 anos. 
Deixo aqui um pedacinho dedicado às mulheres, que talvez possua um fundo de atualidade, com poesia para este tempo.
Boas férias para todos.


«Aí o tens, boa amiga, o vasto, o poderoso Oceano! Procura conhecê-lo. Ele será o teu melhor, o teu mais fiel amigo, o teu médico, o teu mestre, o namorado do teu espírito.
Tudo aquilo de que precisa o teu abatido organismo, a tua imaginação, o teu carácter, a tua alma, o mar possui para to dar.
Ele tem o fosfato de cal para os teus ossos, o iodo para os teus tecidos, o bromureto para os teus nervos, o grande calor vital para o teu sangue descorado e arrefecido.
Para as curiosidades do teu espírito ele tem as mais interessantes histórias, os mais engenhosos romances, os mais comoventes dramas, as mais prodigiosas legendas.
Para as fraquezas da tua imaginação, da tua sensibilidade, da tua ternura, tem finalmente a grande força austera, simples, tenaz, implacável, que na terra se não encontra senão dispersa, em pequenas parcelas, pelo que há de mais sublime e de mais culminante na humanidade: a alma dos heróis e o coração das mães; - força imensa, sobrenatural, inconsciente, de que o mar é viva imagem colectiva e portentosa.»

- Posted using BlogPress from my iPad

SOLIDÃO E LIBERDADE

«Quem não ama a solidão, também não ama a liberdade: 
apenas quando se está só é que se está livre»

Arthur Schopenhauer, 
1788 - 1860


- Posted using BlogPress from my iPad