quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Medicamento avulso



Um quinto dos medicamentos receitados não são utilizados. Esta é uma realidade indesmentível. Todos nós temos em casa caixas e mais caixas de medicamentos, com o “rótulo” de sobras. Alguns, cujo efeito é bem conhecido, poderão ser ainda utilizados. Por exemplo, quando temos uma dor de cabeça, lá tomamos uma aspirina. Mas há outros que acabam por caducar e o seu destino pode ser o lixo. Ou regressam às farmácias para seguirem para uma qualquer incineradora.
Isto é um prejuízo incalculável para todos. Para os utentes, porque acabam por comprar medicamentos, normalmente caros, que acabam no lixo. Para o Estado, porque comparticipa os mesmos medicamentos.
A partir daqui, por que razão não são comercializáveis doses medicamentosas estritamente indispensáveis para o tratamento prescrito pelo médico? Acho que esta seria e é a melhor solução. Mas… atenção: a indústria farmacêutica já está a lembrar os “perigos” da venda avulsa. Que pode haver confusão, por falta da caixa, dizia um entendido. Francamente… não haverá solução para isso?

FM

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Prós e Contras: O tabaco

Não aguentei mais Gosto de assistir, como telespectador, ao "Prós e Contras". Ontem era dia de reflectir sobre a recente lei que proíbe o tabaco em recintos fechados. Em determinada altura não aguentei mais e virei as costas à algazarra. Uma lei que defende os não fumadores, que devia merecer uma análise calma, porque está em jogo a saúde de milhões de portugueses, virou, simplesmente, numa bagunçada inadmissível. Tudo porque uns tantos inteligentes, acorrentados a interesses bem conhecidos (comerciais, industriais e políticos, neste caso porque tudo serve para dar nas vistas), resolveram brincar com coisas sérias, mostrando-se de caras sérias e fazendo dos outros uns tontos. O importante é muito simples: respeitar a saúde das pessoas e levar uns tantos fumadores a ter em conta que não podem obrigar ninguém a fumar. Ninguém pretende tirar o vício seja a quem for. Quem quiser fumar, que fume. Mas que o faça sem incomodar e prejudicar os outros.
FM

Carnaval da Glória foi cancelado


"Este ano, o tradicional Carnaval da Glória não vai sair à rua. Motivos financeiros, aliados à data do evento, este ano excepcionalmente cedo, e à fraca mobilização de equipas, foram as razões apontadas pela Comissão Organizadora para este cancelamento"
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O Diário de Aveiro noticia hoje que o Carnaval aveirense, habitualmente organizado pela paróquia da Glória, não se vai realizar. Embora não seja um frequentador assíduo dos festejos carnavalescos, não posso deixar de lamentar que isto aconteça.
As explicações do pároco, padre Manuel João, são esclarecedoras, mas nem assim se compreende que os aveirenses, com as forças vivas à frente, tenham deixado cair uma festa já com raízes entre nós. Tanto mais que sempre foi pautada pela alegria e pelo sentido pastoral, sobretudo na aproximação que proporcionava a todos os aveirenses, num clima sadio.
Ficará para o ano. Espero que sim.

FM

Na Linha Da Utopia





O “Risco”


1. A história é revestida de equilíbrios provindos de “choques”. Bom seria que esses “choques” não existissem, mas eles são um facto. O famoso “Crash” dos anos 30, de que ouvimos falar como novidade em tempos, trouxe consigo um efeito dominó típico de estarmos e vivermos em rede. Hoje, mais que nunca sublinhe-se, a intensidade da “rede” é elevadíssima, tempo on-line, para o bem, para o menos bem e mesmo para o mal. Os mercados estão alavancados uns nos outros, num medir de forças ao segundo e num jogo mediático tornado de tal maneira forte em que, tantas vezes, valoriza-se mais o poder da imagem virtual que o real das condições económicas. Há já alguns anos, lembramo-nos do “fim” de algumas grandes empresas globais dos EUA que assentavam a sua lógica nos planos da virtualidade, até que ruiu…
2. A noção de “risco” está aí, novamente demonstrada. “Risco” e “Crash”, palavras a evitar dizer nesta estratégia de não contagiarmos o pessimismo das bolsas e dos mercados. Com antídoto para o “risco” aposta-se na palavra “confiança”, visando recuperar os equilíbrios perdidos. Só que estes, afinal, andavam mais ilusórios que reais. Tal como, por princípio, uma pessoa ou família não pode gastar mais que o que ganha ou tem, assim também quanto maior eram os índices de especulação dos mercados (nos EUA, desde há meses), maior será no reajustamento a crise. A recente crise dos mercados internacionais, entre as mais variadas razões, também demonstra que a virtualidade dos mercados mais dia menos dia acaba por descer à realidade, e que todos – uns com os outros - estão seguros por um fio comum. O que acontece em Nova Iorque, chega até nós, e o que se sente em Paris tem impactos em Tóquio, numa interdependência que impõe reciprocidades no reajustamento das situações de crise.
3. Os analistas da especialidade têm dito que as quebras rivalizam com o 11 de Setembro 2001, e numa “vertigem” que obriga a acompanhar o fuso horário das diferentes bolsas mundiais que unem as grande capitais do mundo. É a globalização dos mercados, que desafia à globalização da cooperação, como acontece nestes dias com o povo moçambicano vítima das cheias. À ideia global, desde os séculos XVI pertence a noção de incerteza e insegurança, pois «viver numa época global significa a necessidade de enfrentar uma série de novos factores de risco. Em muitas situações teremos de ser mais atrevidos do que cautelosos no apoio que dispensamos à inovação científica ou a outros tipos de mudança. Ao cabo e ao resto, uma das raízes da palavra “risco”, no português original, levou à criação de outra palavra que também significa “ousar” (Anthony Giddens. O mundo na Era da Globalização: 43). Seja uma globalização da ousadia mais justa e solidária.

Alexandre Cruz

Três milhões de euros para o Jardim Oudinot

Ponte da Cambeia

A Câmara Municipal de Ílhavo adjudicou, por cerca de três milhões de euros, a recuperação do Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré, considerado o «maior parque da Ria de Aveiro», informou a autarquia.

A empreitada foi adjudicada ao consórcio Conduril/Rosas Construtores, sendo o prazo de execução de cinco meses e resulta de um acordo financeiro entre a Câmara Municipal de Ílhavo e a Administração do Porto de Aveiro (APA).
As infra-estruturas a serem construídas consistirão num ancoradouro de recreio, percursos pedonais e cicláveis, equipamentos desportivos, parques infantis e uma praia fluvial com apoio de bar.
«Com esta obra realizada pela Câmara Municipal de Ílhavo, no âmbito de um acordo de parceria com a APA, cumpre-se um importante objectivo do Plano Unir@Ria, materializando-se o maior Parque da Ria de Aveiro, e garantindo a sua disponibilização e fruição a todos, com uma nota de relevância para o acesso directo da população da Gafanha da Nazaré à Ria, na única zona onde isso é possível dentro da área portuária», refere uma nota municipal.
O processo segue agora para visto do Tribunal de Contas. Na última reunião, o executivo municipal de Ílhavo adjudicou também o projecto para a remodelação e ampliação do Mercado da Costa Nova ao Gabinete Octógono Projectos, por 97 mil euros.
Trata-se de uma obra considerada «da maior importância» para a manutenção do mercado da Costa Nova, «visto englobar não só a ampliação do espaço de venda do mercado propriamente dito, mas também nela se incorporar a nova cozinha, completamente equipada e obedecendo a todas os requisitos higio-sanitários para a confecção do marisco que é vendido no mercado já cozinhado».


Assim vai a Educação

Foto enviada por um professor amigo. Clicar na imagem para ampliar

Assim vai a Educação entre nós. Com pais destes, como serão os homens de amanhã? Naturalmente, e à partida, piores do que os seus pais. A não ser que venham a recuperar da educação que receberam, mas à sua custa... ou à custa de outro ambiente, onde a educação para a responsabilidade seja uma realidade concrecta.

REFLEXO



«Rezai incessantemente»

Vivemos nesta semana o Oitavário de oração pela unidade dos cristãos, que teve lugar pela primeira vez de 18 a 25 de Janeiro de 1908 – por iniciativa do episcopaliano americano Rev. Paul Wattson, como lembrou, com justiça, o Papa na alocução do Angelus do passado Domingo – e que trouxe à vida das comunidades de todas as confissões cristãs, num século de vigência, a consolidação de um genuíno desejo de unidade, hoje universal. O texto bíblico que dinamiza o Oitavário de oração em 2008 é-nos proposto pelo Apóstolo das nações na carta endereçada aos cristãos de Tessalónica: «Rezai incessantemente». Assim enunciada, a oração ressoa, nas palavras de São Paulo, como verdadeiro imperativo de vida cristã. Na docilidade ao Espírito que santifica a criação inteira, os cristãos aprendem a escutar a vontade de Deus, fonte de todo o bem, e a oferecer-Lhe o louvor perfeito.
Apesar de dilacerada em múltiplas voltas da História, os cristãos sabem que a unidade não é um desejo vão, pois têm como fundada razão da sua esperança a palavra de Jesus – «que todos sejam um» (Jo 17,21) –, pronunciada na antecâmara da Paixão. O desejo da unidade não esgota a força do seu dinamismo num justo e necessário movimento de purificação da memória, sempre pacificador, nem sequer no genuíno acolhimento do outro, tão enriquecedor na diferença, ou até na expressão mais viva do encontro fraterno, tornada patente na partilha da Eucaristia, única mesa de todos. Na verdade, tal desejo alcança o seu mais fundo sentido na missão, pois o mesmo Jesus, confiando ao Pai a unidade dos seus discípulos, logo acrescentou: «para que o mundo creia».
Ao iniciar o seu pontificado, Bento XVI pediu passos concretos nos caminhos, ainda difíceis, do ecumenismo. Não se tratará apenas, por certo, de esperar a multiplicação de actos de acolhimento, da parte de uns e de outros; nem ainda de conseguidas aproximações teológicas, a que as declarações conjuntas têm dado expressão; como até a realização de gestos, porventura epifânicos, protagonizados por aqueles que Deus escolheu para dirigir as comunidades. Mas poderá, sem dúvida, inscrever-se entre aqueles passos concretos trazer o desejo da unidade dos cristãos, segundo os desígnios de Deus, para a oração quotidiana das nossas comunidades, isto é, para a vida de todos e de cada um de nós, todos os dias. Essa tarefa pertence-nos.

João Soalheiro

ASAE mete medo a muita gente

Há tempos louvei aqui a acção da ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), em defesa dos consumidores. Entretanto, começaram as acusações de que aquele organismo está a exagerar na forma de agir e nas multas que prescreve para cada infractor. Talvez seja verdade. No entanto, continuo a dizer que a ASAE é importantíssima para a moralização dos agentes alimentares e económicos. Se é verdade que há gente muito honesta nestes domínios, também não deixa de ser correcto admitir que há muito "chico esperto" que está sempre pronto para nos enganar, vendendo gato por lebre.
É público que nas vésperas de uma grande peregrinação a Fátima alguns proprietários de restaurantes souberam que a ASAE ia passar por lá. Foi o suficiente para logo encerrarem certos estabelecimentos, conforme se podia ler nos avisos postados à porta, mais ou menos nestes termos: Encerrado para limpeza. Pois é. Se calhar, sem a ASAE à perna, tudo continuaria como dantes.
FM

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Unidade dos Cristãos


Está a decorrer, até ao dia 25, a SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS, a caminho da tarefa URGENTE da reunificação ecuménica das Igrejas Cristãs. A primeira vez que os cristãos se uniram em oração pela unidade de todos os que aceitam Jesus Cristo como Salvador, na semana entre as festas dos apóstolos Pedro (18 de Janeiro) e Paulo (25 de Janeiro), foi em 1908, em Graymoor, Nova Iorque, Estados Unidos.
No hemisfério Norte, essas continuam a ser as datas tradicionais da semana de Oração. Já as Igrejas do hemisfério Sul celebram a Semana de Oração em torno do Pentecostes, outra ocasião simbólica da Unidade dos Cristãos.
Para a Semana 2008 o tema escolhido foi "Não cesseis de orar", exortação do apóstolo Paulo na primeira carta aos Tessalonicenses.
De cada crente se espera, ao menos, um ou outro sinal de aproximação concreta aos irmãos de outras confissões religiosas, cristãos em especial, ou de outras religiões. O mundo ficará mais rico se assim fizermos e continuará pobre se mostrarmos total indiferença.
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Foto: Patriarcas ortodoxos

Na Linha Da Utopia



Aprender das diferenças

1. Que monótono seria o mundo se, sobre TUDO, todos pensassem da mesmíssima forma! Embora, muitas vezes, as próprias forças/sistemas sociais sobrevalorizem a uniformidade em vez da diversa criatividade, a história da humanidade, que em momentos determinados sofre os embates da hiperconfluência de tanta informação das diversidades, foi-se e vai-se construindo a partir das diferenças de formas de ser, pensar e agir. Todavia, toda essa riqueza da diversidade humana não provém de “uma qualquer diferença”, do fazer algo sem ninguém ter nada a ver com isso; a “diversidade”, na sua autenticidade, não se pode confundir com a libertinagem. Talvez aqui resida uma das grandes questões do tempo actual. Necessita-se de compreender as “diferenças” (de posição, cultura, política, religião) não pela sua rama mas na sua profundidade, pois só sabendo em que tabuleiro estamos é que será possível o aprofundamento das identidades no diálogo.
2. Este aprender das diversidades nada tem a ver com o proliferar das “diferenças indiferentes”, do ser diferente “por ser”, onde não há razões pensadas e amadurecidas para esta ou aquela posição. Já num patamar de superficialidade sem racionalidade, sem pensar o que se quer, então vale tudo, e as diferenças ganham um alcance desmedido e descentralizado do referencial inabalável da dignidade humana. No horizonte cultural e religioso o conhecer e apreciar das diferenças do outro acabam por mostrar o fascinante da aventura humana. Como refere Eduardo Lourenço, o pensamento, as filosofias e as religiões, representam as respostas mais profundas para o sentido da vida e da história. Estas diferentes abordagens não são superficiais mas tocam as razões profundas do pensamento humano; é neste patamar que o diálogo pode exercer pontes de um futuro mais digno e mais humano para todos.
3. A época que vivemos, com a redefinição da própria história à luz da globalização aceleradora, proporciona uma aprendizagem que dá valor àquilo que é diferente da nossa forma de pensar… Esta dinâmica procuradora e apreciadora não se confunde com anulação ou perca de identidade (outra palavra chave da actualidade), mas representa o aprofundar da mesma essência humana que nos une. Só neste terreno de qualidade, não superficial, poderemos mais e melhor discernir uma hierarquia de verdades que saiba diferenciar o que “passa” do que fica ou deve ficar. Dos bancos da escola à praça pública, talvez apreciar a riqueza dos que pensam (de forma pensada) diferente de nós seja um exercício para uma vida (com)unitária. O mundo precisa tanto de ler as diferenças como “complementaridades”. Cada vez mais, neste mundo, todos estamos no mesmo barco!


Alexandre Cruz

Santa Joana e José Estêvão

Monumento a José Estêvão, em Aveiro

“Proponho-me visitar hoje os túmulos de Santa Joana e de José Estêvão, duas peregrinações que eu não podia deixar de fazer desde que aqui vim”

Este propósito de Júlio Dinis, anunciado na carta que escreveu de Aveiro, conforme registo publicado ontem no meu Blogue, dá que pensar. Quantos de nós já procedemos assim?
Será que, de visita a qualquer povoação, nos inteirámos antes daquilo que podemos e devemos visitar? Será que consultámos publicações que nos elucidem do que vale a pena conhecer melhor? Julgo que não. E no entanto, com frequência vejo, nas zonas históricas, turistas estrangeiros a consultarem literatura sobre o que tem de ser apreciado. Entre nós, julgo que há muito o hábito de raciocinar assim: como moramos relativamente perto, a todo o momento poderemos passar por cá, com mais calma. Só que, tal não acontece. O tempo passa e acabamos por não ver nada.
FM

domingo, 20 de janeiro de 2008

A PROPÓSITO DE UMA CARTA DE JÚLIO DINIS


De quando em vez sabe bem reler os clássicos da nossa literatura, nem que daí resulte algum prejuízo, momentâneo embora, para os escritores e escritos mais na berra. E foi isso que me levou, há tempos, a procurar na estante, algo desarrumada, um livro talvez pouco lido, a não ser por curiosos ou estudiosos das coisas literárias. Refiro-me a “Cartas e Esboços literários” de Júlio Dinis, com prólogo do célebre Egas Moniz, sábio que ao mundo e ao Homem muito deu no campo da medicina, mas que ainda encontrou tempo e disponibilidade interior para se dedicar a estudos sobre literatos e questões literárias, com a mesma paixão com que dissecava o cérebro humano em busca de verdades até então ignoradas.
Uma das cartas, agora lida com outro sabor, talvez pelo ambiente que quis e soube criar, referia-se à Gafanha, é certo que de fugida, em termos que me apetece repetir para que não caiam no esquecimento.
Reza assim, na parte que interessa, a missiva dirigido de Aveiro, em 28 de Setembro de 1864, a seu amigo Custódio Passos:
“Escrevo-te de Aveiro. São 7 horas da manhã do histórico dia de S. Miguel. Acabo de me levantar. Acordou-me o silvo da locomotiva. Abri de par em par as janelas a um sol desmaiado que me anuncia o Inverno.
A primeira coisa que este sol alumiou para mim, foi a folha de papel em que te escrevo; aproveito-a, como vês, consagrando-te neste dia os meus primeiros pensamentos e o meu primeiro quarto de hora.
Aveiro causou-me uma impressão agradável ao sair da estação; menos agradável ao internar-me no coração da cidade, horrível vendo chover a cântaros na manhã de ontem, e imensas nuvens cor de chumbo a amontoarem-se sobre a minha cabeça, mas, sobretudo intensamente aprazível, quando, depois de estiar, subi pela margem do rio e atravessei a ponte da GAFANHA para visitar uma elegante propriedade rural que o primo, em casa de quem estou hospedado, teve o bom gosto de edificar ali.
Imaginei-me transportado à Holanda, onde, como sabes, nunca fui, mas que suponho deve ser assim uma coisa nos sítios em que for bela.
Proponho-me visitar hoje os túmulos de Santa Joana e o de José Estêvão, duas peregrinações que eu não podia deixar de fazer desde que vim aqui.
A casa em que eu moro fica fronteira à que pertenceu ao José Estêvão. Há ainda vestígios das obras que ele projectava fazer-lhe e que, por sua morte, ficaram incompletas. Tudo isto se vendeu, e dizem que por uma ninharia.
Cheguei a Aveiro um pouco dominado pela apreensão de que talvez viesse ser infeccionado pelos eflúvios pantanosos da terra e cair atacado por sezões, circunstância que não obstante o colorido local que me havia de dar, nem por isso me havia de ser muito agradável.
Nada porém de novo me tem por enquanto sucedido, e continuo passando bem, e, o que é mais, engordando”.
Nesta carta do romancista quiçá mais lido de Portugal, há uma mão-cheia de considerações e de notas a merecerem outros tantos estudos. Interessa-me somente dizer que afinal esta terra tem sido notada e continuará a sê-lo, assim creio, por quem deambula com olhos bem abertos à magia de recantos nem sempre suficientemente divulgados.
Fico-me, no entanto, por duas ou três ideias, como esta de “imaginar-se transportado à Holanda”, que “deve ser assim uma coisa nos sítios em que for bela”, e a de na “GAFANHA visitar uma elegante propriedade rural” (quem diria?). Também o propósito de “visitar hoje os túmulos de Santa Joana e de José Estêvão, duas peregrinações que eu não podia deixar de fazer desde que aqui vim.”
Pois é verdade.
Nem sempre reparamos no que é nosso e muito menos lhe damos o valor devido, por esta ou por aquela razão.
E depois ficamos embasbacados, como eu fiquei, quando há anos ouvi de um amigo descrições de tal modo ricas de pormenores, ao mesmo tempo que denunciavam uma sensibilidade apurada e um gosto especial pelos ambientes bucólicos e pelo cheiro a maresia, desta terra que o mar e a ria beijam quase sempre com sedutora carícia. O tentar descobrir as belezas relatadas foi tarefa que na altura impus ao meu bairrismo, para então me deliciar meio envergonhado.
Aos que me lerem, aqui deixo a sugestão de tentarem encontrar o que a vida agitada não tem deixado ver.

Fernando Martins

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 61

Escola da Ti Zefa, actual oficina de bicicletas e motorizadas

E AS MENINAS? ... IAM POUCAS À ESCOLA!...

Caríssima/o:

Comparando com as brincadeiras e os jogos que praticavam no canto, o nosso escolar viu que na sala de aula havia poucas meninas. Certamente haveria muitas outras escolas onde talvez a situação se invertesse...
Contaram-lhe então que as meninas da terceira classe tinham desistido quase todas, como fizera o seu irmão. Não era obrigatória a frequência além do 1.º grau (a terceira classe) que terminava com um exame!
Tudo isto lhe fazia muita confusão até porque ouvira dizer que a sua irmã mais velha (tinha mais dez anos de idade que ele) nunca passara da primeira dos cartões; que tinha dificuldade em aprender.[Muitos anos passados, já casada, e feitos os exames respectivos, se verificou que quase não via “um boi à sua frente”, tal o grau de miopia que afectava os seus olhos...]

Os anos foram passando e já na quarta classe e admissão o caso era bem notório. Como os professores juntassem os alunos para melhor os prepararem e se habituarem aos examinadores com pronúncias e maneiras de ser diferentes, lembra-se que da Marinha Velha, da Escola do Ti Lopes, vinham acompanhados pelo Professor Salviano para a Escola da Cambeia, da Ti Zefa, onde leccionavam a Professora D. Sílvia[1] e o Professor Ribau. Ainda hoje tem diante dos olhos o tabique de madeira que separava a parte masculina da feminina, sendo a área ocupada pelas meninas talvez um terço da dos rapazes! Quer dizer que a frequência do sexo feminino era de facto mais reduzida...
As escolas eram então masculinas, femininas e mistas. Não se sentiam grandes dramatismos nas relações entre uns e outras já que habitualmente eram parceiros de brincadeiras e de jogos que agora na escola teriam como palco a estrada que passava defronte do edifício.

Aí fica mais este retrato “à la minuta”, com uma realidade que entretanto foi completamente alterada.

Manuel

1. Aqui o Manuel faz uma pausa e apresenta a sua dúvida pois não tem a certeza se seria a D. Sílvia a professora nessa altura...

Na Linha Da Utopia


A Tri-Unidade Ecuménica

1. É um hábito anual que se poderia (e deveria) prolongar por todo o ano: mensal, semanal, diário. Um dia lá chegaremos, porque um infeliz dia de lá saímos. Este ano, de 18 a 25 de Janeiro (25 de Janeiro é celebrada a conversão de São Paulo – acontecimento que marca a matriz do espírito ecuménico), comemora-se os 100 anos da primeira Semana de Oração pela Unidade das Igrejas Cristãs. Foi no ano de 1908 (um ano depois da fundação do escutismo mundial por Baben Powel), em Graymoor - Nova Iorque, nos Estados Unidos, que pela primeira vez (de que há registos), após as grandes divisões seculares, os cristãos de diferentes igrejas se reuniram a orar pela unidade. Talvez hoje pareça estranhíssimo dizermos que antes as igrejas cristãs não se falavam…; para compreendermos bem o alcance e o progresso deste século teremos de ter presente a triste história das trágicas intolerâncias dos séculos XVI-XVII...
2. As distâncias culturais e linguísticas (não havia Internet nem um “inglês universal”), uma cristandade de multidão de que os mosteiros foram sendo as sedes culturais, uma bem-vinda irreverência desinstaladora das comodidades da religiosidade imperial, a situada incapacidade de diálogos como entendimento das diversidades (particulares) na unidade (essencial), a perspectiva de uniformidade igualitarista em vez da complementaridade das diferenças, entre tantas mil e uma complexas razões terão estado na origem das divisões das igrejas cristãs. No séc. XI (ano 1054), a fractura a oriente (ortodoxa) mais por razões de cultura; no séc. XVI, a divisão (protestante) no centro da Europa, por razões filosófico-teológicas da ordem da salvação e interpretação da Escritura. Uma complexidade de aspectos que entranhou o ADN colectivo de que uns é que eram proprietários da salvação e outros não. Sem relativismos, no limite as maiores atrocidades na catolicidade foram cometidas e as igrejas o reconhecem.
3. Os tempos são outros. Há cem anos assim essa “corrente” tolerante e de unidade foi semeando proximidades no conhecimento das diversidades. Sem medos de perder identidade. Para além do aparato exterior, quanto mais conhecermos as razões de cada diversidade mais nos sentimos em unidade. O mesmo acontece com os seres humanos, é imensamente mais o que nos une que o que nos separa. O caminho é sempre o diálogo (Vaticano II). Sem ingenuidades simplistas mas na purificação da memória (João Paulo II). Com todos os aprofundamentos rigorosos e discernindo entre o que são os dispensáveis acessórios e o ESSENCIAL que importa potenciar. O apelo continua a interpelar: «Que sejam UM». É irreversível, mas só com coragem dos líderes, o povo seguirá. Quanto ao designado Espírito Santo, Ele sempre quis a UNIDADE, Ele a vive na Trindade. Voltemos a Oração Ecuménica para nós e para a história que temos a construir. Deus não nos dispensará, mas sem (o Seu) Amor adiamos, adiamos...

Alexandre Cruz

sábado, 19 de janeiro de 2008

O POISAR DA POMBA


É esta a imagem que João Baptista usa para dar forma ao que acontece no baptismo de Jesus. A cena ocorre no rio Jordão. Jesus encontra-se no meio da multidão penitente. Ao vê-lo aproximar-se para receber o seu baptismo, trava-se entre ambos uma curta conversa. O rito da água faz-se. Sinais interpelantes e apelativos são visíveis: uma voz se ouve, uma pomba desce e poisa sobre a cabeça de Jesus, um testemunho eloquente é dado.
A mensagem é interpretada por João evangelista de forma encantadora.
A pomba é a ave portadora de boas notícias. No início da criação, pairava sobre as águas para que surgisse a vida; após o dilúvio, é portadora do ramo de oliveira – sinal de que o dilúvio havia purificado a terra e chegava a era da paz; agora – qual estrela dos Magos que se detém sobre o local onde estava o Menino – poisa volitando sobre Aquele que “vem baptizar no Espírito Santo”.
A mensagem tem um alcance extraordinário e opera uma grande transformação em João: Eu não O conhecia - diz, mas agora sei quem Ele é pois me foi revelado. Eu vim antes, mas Ele está à minha frente. Eu baptizo com água, mas Ele baptiza no Espírito Santo. Eu sou a voz, mas Ele é a Palavra. Eu preparo, mas Ele realiza. Eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus que tira o pecado do mundo.
Também em nós, Senhor Jesus, a mensagem baptismal pretende ser eficaz. Por isso, te oramos, hoje e sempre: Faz-nos sentir que somos criaturas com nova dignidade. Ajuda-nos a descobrir a beleza e o encanto de o Espírito Santo estar connosco e em nós. Orienta os nossos esforços em benefício de todos os que estão “surdos e mudos” aos apelos da humanidade sofrida e amargada. Dá-nos coragem e tenacidade na perseverança da prática da justiça, da sobriedade e da partilha. Abre-nos a horizontes cada vez mais próximos da fraternidade universal onde se espelha, de modo singular, o rosto amigo de Deus, nosso Pai e nossa Mãe.
Senhor que nos enviaste o Espírito Santo, faz-nos apreciar a nossa Igreja reunida em oração para sermos mais sensíveis à urgência da unidade e darmos passos concretos na sua realização. A união dos teus discípulos e apóstolos faz parte do testamento de vida com que quiseste selar a tua missão na terra e ao qual o Pai do Céu atribui valor de eternidade. Ajuda-nos a amá-la, sem reservas, para partilharmos o bem que muitos fazem com generosidade e assumirmos as lacunas que muitos outros, sem vergonha, deixam a claro escandalosamente.
Obrigado, Senhor Jesus, por dares a conhecer “coisas” tão sublimes por sinais tão próximos e sensíveis. Ajuda-nos a viver sob as asas da pomba – o Espírito Santo – o baptismo que nos introduz de modo original no circuito do teu amor e da tua missão.

Georgino Rocha

CAVACO SILVA ATENTO AO PATRIMÓNIO HISTÓRICO


O Presidente da República, Cavaco Silva, vai começar, na segunda-feira, uma visita de dois dias à Beira e Douro Litoral, no âmbito das II Jornadas do "Roteiro para o Património", para defesa, valorização e promoção do património português. Da sua agenda consta a passagem por Coimbra, onde se procurará informar da situação da Sé Velha, a igreja e os respectivos claustros, antes de se deslocar ao Palácio de S. Marcos, para uma reunião com professores e investigadores ligados à área do património.
No mesmo dia, a comitiva presidencial desloca-se depois a Lorvão, em Penacova, onde Cavaco Silva visita a igreja e o mosteiro.
No segundo dia do “Roteiro para o Património”, o Presidente da República desloca-se ao Mosteiro de Arouca e ao Museu de Arte Sacra da real Irmandade da Rainha Santa Mafalda.
Seria interessante que o Presidente da República passasse por Aveiro. Se isso acontecesse, talvez pudesse chamar a atenção para a degradação em que se encontram as Igrejas de S. Francisco e Santo António, junto ao Parque Infante D. Pedro. A ADERAV e outras instituições bem têm lembrado essa triste realidade, mas a verdade é que tudo continua à espera que alguém tenha a coragem de avançar com soluções.

MENTIRA E DIREITO À VERDADE


Quando se reflecte sobre a mentira, é difícil não vir à mente o famoso paradoxo de Epiménides. Diz um cretense: "Todos os cretenses são mentirosos." Sendo cretense, também ele mente. Então, a sua afirmação é verdadeira ou falsa?
Pessoalmente, também lembro uma estória que um jesuíta me contou. Ah! o céu vai ser a coisa mais fabulosa que possamos imaginar. Mas, nos primeiros dois-três dias, no fim do mundo, antes da entrada no céu, quando Deus começar a entregar os filhos aos verdadeiros pais e o dinheiro aos verdadeiros donos, portanto, quando se repuser a verdade, que confusão!...
Afinal, independentemente do paradoxo do cretense, todos mentimos. Mentimos às crianças e ensinamo-las a mentir, com este resultado caricato: "O pai disse para dizer que não está em casa." O miúdo acha que a tia é feia e diz-lho na cara, mas é claro que vai ser repreendido.
Se uma mulher gorda nos pede a opinião - "Estou gorda, não estou?" -, vamos aliviá-la: "Nem pense nisso!"
Imaginemos que uma bela manhã todos se levantavam com a decisão firme de, fossem quais fossem as circunstâncias, dizerem na cara dos colegas, dos amigos, dos vizinhos, dos superiores hierárquicos, dos amantes, dos companheiros de viagem em comboios e autocarros, dos imbecis, dos governantes, fosse de quem fosse, o que verdadeiramente pensam deles. O que seria a vida social sem algumas mentiras ou, pelo menos, sem a omissão da verdade nua e crua?
Os políticos! Desses diz-se que têm como condição de sobrevivência mentir.
Depois, há sempre o que não é conveniente...
E é assim que a verdade raramente se diz, pelo menos toda. Porque realmente não é conveniente: nem na política, nem nos media, nem no sexo, nem aos amigos - Pascal escreveu que, se os amigos soubessem o que os amigos dizem deles na sua ausência, talvez não restassem no mundo mais do que dois ou três. O que pensam e dizem realmente de nós os nossos amigos? Quereríamos saber?
Todos mentimos. Há, porém, mentiras e mentiras. Tomás de Aquino distinguiu entre mendacium - mentira - e falsiloquium - não dizer a verdade a alguém que não precisa de sabê-la ou não tem o direito de sabê-la. No limite, pode acontecer que mentir seja uma obrigação moral. Se um assassino procura um inocente para matá-lo, deve-se mentir quanto à sua localização. O detentor da chave do segredo para desencadear a guerra nuclear deverá mentir ao terrorista que a exige...
A mentira não se refere imediatamente à verdade, mas à veracidade: dizer a alguém o contrário do que se julga ser verdade, com a intenção de enganar. Aprofundando mais, deve-se acrescentar: não dizer a verdade a alguém que tem o direito de sabê-la. M. Onfray escreveu que nunca se deveria mentir, fossem quais fossem as consequências, como exige Kant; mas, se Kant tem razão em princípio, esse princípio é na realidade não vivível, impraticável; por isso, aceita a definição de mentira como "o facto de não dar a verdade, sem dúvida, mas só a quem é devida". Uns têm direito a ela, outros não: por exemplo, um nazi que procurava um judeu para matá-lo não tinha o direito à verdade. Deve-se distinguir "a mentira prejudicial, impura, a que procura um engano destinado a submeter o outro, a limitá-lo, a evitá-lo, a desprezá-lo, e a mentira para ajudar, limpa, chamada por alguns mentira piedosa, a que cometemos, por exemplo, com a finalidade de poupar sofrimento e dor a uma pessoa querida".
Em Portugal, quando se olha para as promessas incumpridas dos políticos, jogos obscuros na banca, subterfúgios à procura da localização de aeroportos, uma política de saúde que fecha maternidades e urgências e descura pobres e velhos, o caos na justiça, um leque salarial gritantemente indecoroso, previsões inverdadeiras da inflação e outras infindas manobras com corrupção activa e passiva à mistura, tem-se a sensação de que se avança em terreno minado pela mentira, com uma democracia perplexa, triste e quase impotente. Quando os portugueses têm direito à verdade.

Anselmo Borges

In
Diário de Notícias

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

REFORMAS DOURADAS

O texto que aqui insiro enquadro-o na linha das reformas douradas, existentes no nosso País. Veio publicado no PÚBLICO de hoje. É certo que se trata de uma empresa privada, com liberdade para fazer o que entender, ao nível salarial. Mas que é um escândalo, aos meus olhos, lá isso é, sabendo-se como são as reformas normais dos trabalhadores portugueses, na sua grande maioria. Vejam:



"O ex-presidente da comissão executiva do Banco Comercial Português (BCP), Paulo Teixeira Pinto, saiu há cinco meses do grupo com uma indemnização de 10 milhões de euros e com o compromisso de receber até ao fim da vida uma pensão anual equivalente a 500 mil euros, 35 mil euros por mês, 14 vezes por ano. Quando o BCP divulgar as contas anuais de 2007, estas deverão incorporar uma verba de 22 milhões de euros, associada à demissão negociada de Teixeira Pinto, que entrou para o banco em 1995, assumindo a presidência em 2005."

Bispo de Aveiro dialoga com a sociedade civil


Na recta final da visita pastoral às paróquias da Torreira e S. Jacinto, diocese de Aveiro, D. António Francisco dos Santos realçou à Agência ECCLESIA que “é fundamental um bispo conhecer os seus cristãos no seu meio ambiente”. De 7 a 20 de Janeiro, o prelado de Aveiro caminhou com aquelas comunidades paroquiais.
Depois da preparação prévia – com os párocos e elementos dos conselhos pastorais – a visita pastoral deve obedecer a três vertentes: “parte celebrativa, encontro com os agentes de pastoral (iniciativas programáticas) e proximidade do bispo com as famílias e instituições (realidade socio-cultural)” – disse D. António Francisco Santos.
Nas paróquias da Torreira e S. Jacinto, o bispo de Aveiro encontrou-se com os agricultores, pescadores, comerciantes e autarcas. “Como são zonas de veraneio e que acolhem pessoas que vêm de fora é fundamental ouvir estas pessoas” – frisou. E acentua: “senti as alegrias e dificuldades deste povo”.
Na visita às escolas e unidade militar, o bispo deixou palavras de ânimo. “A Unidade Militar de S. Jacinto presta um grande serviço na promoção da paz”. Neste contacto promove-se um “diálogo entre a Igreja e a sociedade civil”.

FORTE DA BARRA


A propósito do texto e foto que inseri, hoje, neste meu espaço, recebi esta fotografia, enviada, gentilmente, pelo Ângelo Ribau, com a seguinte nota: "Tenho nos meus arquivos esta foto 'velha' do Forte. Não sei a data em que foi tirada, mas as águas batem contra a muralha do Forte. A barra devia ser a sul daquelo local, dado que não existia 'Triângulo'."
Não sabes, meu caro, mas talvez haja quem saiba. Ficaremos à espera.

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos


TESTEMUNHAR A FÉ É FUNDAMENTAL



Ano após ano, sucedem-se nesta altura, entre 18 e 25 de Janeiro, os encontros e reflexões sobre a unidade dos cristãos. É a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, normalmente animada por várias denominações que aceitam o ecumenismo, em diálogo e em oração. Em Aveiro, também, este ano num templo ortodoxo, em S. Bernardo, como refiro em Informações do meu blogue, haverá uma celebração ecuménica.
Penso que todas as iniciativas levadas a cabo nesta altura são importantes, pese embora a necessidade de se não ficar apenas por uma semana. É certo que os teólogos lá vão fazendo o seu trabalho, mas julgo que a nossa intervenção, ao nível do dia-a-dia, também necessita de ser uma realidade constante, e não esporádica, ao jeito de quem cumpre um ritual por obrigação.
Todos os anos costumo dizer que há muito o hábito de pensar que o ecumenismo mais não é do que o esforço que todos temos de desenvolver para que as Igrejas cristãs se acolham na Igreja católica, tornando-se numa só. Penso que o caminho não será esse, pois acredito que as Igrejas cristãs não católicas têm uma parte significativa da verdade, já que a totalidade dela está em Cristo e na unidade que Ele efectivamente representa e é.
Se todos os cristãos, os que aceitam Jesus Cristo como único Salvador e Redentor da humanidade, se congregarem em torno desta verdade essencial e fundamental, estou em crer, salvo o devido respeito pelos teólogos, que estaremos na rota certa d’Aquele que é o caminho, a verdade e a vida. Ora isto, que precisa das nossas orações, também não prescinde dos nossos contributos diários, como testemunhos autênticos da fé em Jesus Cristo.
Em ECUMENISMO, à margem, no meu Blogue, há textos cuja leitura recomendo.

Fernando Martins

FORTE DA BARRA DE AVEIRO


UM POUCO DE HISTÓRIA


Temos da convir que um qualquer motivo de interesse turístico ganha ou perde conforme o concelho a que pertence ou não pertence. Assim acontece com o Forte da Barra de Aveiro, localizado na ilha da Mó do Meio, Gafanha da Nazaré, concelho de Ílhavo, considerado imóvel de interesse público pelo Decreto - Lei n.º 735/74 de 21 de Dezembro, e completamente esquecido dos roteiros postos à disposição de quantos visitam esta encantadora região. Integrado numa outra região, talvez fosse mais lembrado pelos que têm responsabilidades no sector do turismo. É certo que o estado de abandono a que foi votado muito tem contribuído para que dali se desviem os mais sensíveis a tudo quanto de algum modo faça recordar o nosso passado histórico, muito embora se reconheça que o Forte da Barra não terá sido grande baluarte de defesa da foz do Vouga e desta zona ribeirinha.
Este antigo forte, denominado Forte Novo ou Castelo da Gafanha, é um imóvel do século XVII, embora haja quem o considere anterior. Trata-se de “uma obra do tipo abaluartado, restando, actualmente, uma pequena cortina de dois meios baluartes. Depois que deixou de ser necessária a defesa do Rio Vouga, foram edificadas construções sobre a cortina e o meio baluarte norte. Também o espaço existente entre os dois meios baluartes foi afectado. No baluarte sul foi erguida uma torre de sinalização mas, nesse lado, ainda é visível parte da escarpa, cordão e três canhoeiras cortadas no parapeito.
Os dois meios baluartes remontam, assim parece, a épocas diferentes. O flanco norte aparenta ser oblíquo à cortina, enquanto o do sul é perpendicular. Também as linhas rasantes não são do mesmo ângulo”. Esta é a descrição do Inventário Artístico de Portugal de Nogueira Gonçalves.
O Guia de Portugal da Fundação Calouste Gulbenkian acrescenta que a “torre de sinalização que aqui se ergue foi construída em 1840, sob a direcção do Eng. Oliveira Antunes”, e o Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses do General João de Almeida diz que “este forte teria sido construído durante a Guerra da Restauração e reconstruído nos anos de 1801 a 1802, em obediência ao plano de defesa do reino, elaborado nos fins do século XVIII” e que, em fins do século passado, perdida a sua eficiência militar, foi construída, contígua à fortaleza, da banda do sul, uma bateria rasa, de tiro de sinal para avisar a defesa da entrada da barra”.
A descrição do Forte da Barra de Aveiro, também conhecida por Forte Novo, sugere‑nos uma referência a um outro forte, o Forte Velho, que existiu na Vagueira e bem assinalado em diversas cartas, possivelmente construído com finalidades semelhantes pela mesma altura e há muito destruído. Aliás, sabe-se que a pedra dos seus muros foi aproveitada para a construção de parte da muralha da barra, quando ela ali se localizou. E é curioso que muitos se interrogam sobre qual deles é, afinal, o mais antigo.
A este propósito, consultámos os escritos do superintendente das Obras da Barra, Francisco António Gravito, que teceu as seguintes e curiosas considerações em 1781. “O forte conhecido com o nome de Velho o não merece senão pela sua ruína porque a inscripção de nua pedra que se acha entre as ruínas o declara feito em anno de 1643 pouco tempo para merecer aquele nome se não fosse a ruína como dizemos.
O conhecido com o nome de Novo, o vemos quase inteiro, sem memória do seu princípio com os seus materiais, indicando sua antiguidade maior, que estes 138 anos que tem o chamado Velho.
Se fosse mais moderno que este apareceria alguma memória da sua certa factura. Nestes termos parece, sem hesitação devemos ter este chamado Novo, pelo mais antigo e imemorial, e que o nome de Novo o conserve pela falta da sua ruína”.
Poder-se-á concluir que o chamado Forte Novo afinal é o mais antigo da foz do Vouga e das margens da Ria de Aveiro? Até prova em contrário pensamos que sim.
E neste caso, urge que lhe seja reconhecido o direito de figurar nos guias e roteiros turísticos editados pela Câmara de Ílhavo e pela Região de Turismo da Rota da Luz, às quais ele pertence como imóvel de interesse público.
Para além disso, e tendo em vista um melhor e mais completo aproveitamento, sugerimos um restauro adequado e urgente e a sua entrega a uma qualquer instituição vocacionada para a defesa do património cultural, histórico e monumental. Talvez assim o Forte Novo ou Castelo da Gafanha passe a ocupar o lugar a que tem direito.


Fernando Martins


JACINTA COM JAZZ À FLOR DA PELE



Jacinta, uma cantora com a arte à flor da pele e na alma, é já há bastante tempo uma artista que se impôs e impõe no mundo contemporâneo do jazz, muito para além das nossas fronteiras. Os seus discos são, de facto, um sucesso inquestionável, fazendo dela uma referência no panorama artístico, em geral. Ouvi-la é um regalo, pois a sua voz e sensibilidade envolvem-nos de tal modo que nos deixam num outro mundo.
Gostei de saber que se iniciou, entretanto, no mundo da blo-gosfera (www.jacintajazz.blogspot.com/), para mais facilmente nos pôr a par do que vai fazendo e se propõe fazer a nível artístico, enquanto nos oferece o que dela vai dizendo a crítica especializada, que nos ajuda a compreender, ver-dadeiramente, a sua voz notável e a sua maneira de cantar única e expressiva.
Os meus parabéns à Jacinta, na certeza de que ela continuará a subir cada vez mais alto e a chegar cada vez mais longe.
No seu blogue, experiemente ouvir a sua arte.

FM

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Viagem pela geopolítica do mundo actual


Gostei de ler no Correio do Vouga...

Com os dotes de comunicação que lhe são reconhecidos e uma cultura admirável sobre relações internacionais, Nuno Rogeiro dissertou acerca da “dignidade humana das nações” e principalmente sobre os grandes problemas geopolíticos da actualidade. Assistiu uma plateia que lotou totalmente o salão do Centro Universitário Fé e Cultura, na noite de 9 de Janeiro. Aqui ficam as ideias principais de mais uma sessão mensal do Fórum::Universal,


por Jorge Pires Fereira

RECORDANDO

Esteiro Oudino

Navio-museu Santo André

Ponte da Cambeia

Portas d'Água

ESTEIRO OUDINOT VAI FICAR COM CARA MAIS BONITA


Posso assegurar que a zona anexa ao Jardim Oudinot vai passar por um arranjo urbanístico, de forma a ficar um espaço de lazer, convidativo e acolhedor. O enquadramento não pode ser melhor. Com o esteiro Oudinot, navio-museu Santo André, Ponte da Cambeia, Portas d’Água e pequena praia, com canal de Mira como atractivo especial, onde não hão-de faltar embarcações de várias características, o arranjo será uma mais-valia para residentes e visitantes.
A Ponte da Cambeia, em ruínas, merece, de facto, voltar ao convívio pleno de quem aprecia os restos de um passado recente, presente, ainda, na memória de muitos. Tão bem a recordo, quando por ali pescávamos macacas e ouros peixinhos que ficavam presos aos nossos anzóis. Também assisti à pesca do safio, nas pedras da ria, por artes de gente mais velha que sabia o que fazia. As Portas d’Água eram uma decoração bonita para quem gostava de apreciar os arcos, que se limitavam a deixar passar a água, sobretudo na altura das marés vivas, com correntes bastantes fortes.
As palmeiras ainda resistem aos ventos, ao lado do canal, que dava acesso às oficinas da JAPA (Junta Autónoma do Porto de Aveiro), hoje APA (Administração do Porto de Aveiro). Ali atracavam as barcaças que transportavam as lamas retiradas do fundo lodoso dos canais da ria pelas dragas, para ficarem mais navegáveis. Tantas vezes fiquei arrepiado, ao ver os trabalhadores todos sujos, arrastando à força de vara, as pesadas cargas que atiravam, às pazadas, para as margens. Mas isto são outras histórias…

FM



Na Linha Da Utopia




Que Sapienza?!



1. “Sapienza” é palavra italiana que significa “sabedoria”. A Universidade La Sapienza de Roma é uma prestigiada universidade, hoje pública, que nasceu a 20 de Abril de 1303 por decreto papal de Bonifácio VIII. É uma das mais antigas e maiores universidades do mundo, com cerca de 150 mil estudantes. À sua história pertencem momentos conturbados da própria história da Europa e, dentre as várias reformas de que foi alvo, destaque-se mesmo a Reforma Napoleónica. Na natural preocupação de confrontar conhecimentos com intelectuais de todas as épocas, a Universidade La Sapienza, aberta à pluralidade de expressões, desta vez convidara o teólogo papa Bento XVI. Saudavelmente, tal como vai convidando intelectuais de toda a ordem filosófica, política e religiosa, desta vez o livre convite dirigia-se a uma das personalidades do mundo cultural, que aceitara com o maior prazer.
3. O que não seria nenhuma notícia de especial acabou por sê-lo. Um grupo de professores, intelectualmente mais uma vez descontextualizado com afirmações (de há anos) deste pensador, mobilizou opinião contra a sua vinda. Rapidamente os estudantes foram apanhados na rede que ampliaram, gerando-se o mal-estar com proporções anuladoras da visita de Bento XVI. Muito para além de questões de religião, este cenário, primeiramente, diz-nos que qualquer personalidade que represente uma determinada comunidade corre hoje o perigo de não ser bem-vinda ao “espaço público” de todos. Sinal de intolerância das liberdades? Segundo, porventura, na falta de qualidade racional, pode-se abrir palco a ideias de ditadores mas fecha-se a porta à liberdade de expressão do confronto saudável de ideais e valores… Caminha-se “anti”, será laicismo intransigente? E a LIBERDADE proclamada?
3. É certo que existe uma factura histórica que se paga sempre no presente, quando as hegemonias de outros séculos foram impostas à força, tanto da parte de sistemas filosóficos, como de políticos e religiosos. Mas as intolerâncias crescem tanto mais quanto menos a cultura da racionalidade iluminar o pensamento. E é aqui que a exclusão de Bento XVI, como dizem vários pensadores ateus e agnósticos, acaba por ser sinal de desonestidade intelectual para onde deixámos cair os valores e a razão. Defensor dos princípios da laicidade, Ernesto Galli, editorialista do jornal Corriere de la Sera, escrevia que este gesto traduzia «uma laicidade oportunista, alimentada por um cientismo patético, arrogante na sua radicalidade cega». Correrá Ernesto Galli perigo de vida?! A este caso poderemos juntar (em âmbitos diversos) o da visita de Dalai Lama ou a famosa aula do papa na Universidade de Ratisbona do ano passado, onde as frases retiradas do contexto foram o que foram.
4. Independentemente de todas as histórias do passado, e de todos os lados da barricada, precisa-se de uma ordem da racionalidade justa e honesta que não se feche à pluralidade de opinião e compreenda o pensamento “lendo” até ao fim. Quando não, adeus liberdade ocidental! Claro, de tudo isto a única preocupação será a Liberdade, na Verdade, com Humanidade. Embora marcando o timbre do tempo, tudo passa; em tempo global, as aberturas são mesmo irreversíveis. Sejam ao serviço da Humanidade aberta.

Alexandre Cruz

UM MUNDO DE GENTE ENCRESPADA E DESILUDIDA





Parece que andamos todos a jogar taco a taco ou desconfiados de quem passa ao nosso lado, como se fosse um inimigo. Todos os dias, polémicas, desmentidos, respostas tortas e crispadas, opiniões a pretender ser moeda única na comunicação. Todos os dias a parecer que as relações sociais e o direito de cidadania e de expressão têm de ser inspirados no prós e contras. Cada vez mais frequentes as manifestações de rua que, anos atrás, eram apenas por razões laborais e hoje, também, para expressar direitos fundamentais à saúde que só este campo dá razões, sem conta, para crispar as pessoas.
É verdade que só o governo fornece matéria de sobra para esta irritação colectiva, que já deixa poucos de fora, pouco mais que a gente que vive longe de Lisboa, que quando sente esmagada ou esquecida, mostra a coragem e a sabedoria da vida que leva consigo. Então não se cala e, como o cego de nascença do Evangelho, que é mandado calar por quem não quer ser incomodado, mas o faz gritar ainda mais. Na persistência teve a cura, porque alguém, por gritava, o ouviu. Mas esse foi Jesus, não o ministro da saúde...
Na vida em sociedade há coisas ambivalentes e difíceis que não se esclarecem só porque sim e não se implementam validamente, só pela força férrea de quem manda.
Há resignação que não é aceitação e a resignação pode sempre levar ao “já basta”.
Quem detém a autoridade, pais, professores, bispos e padres, ministros e subalternos até ao extremo dos agentes de segurança pública, precisa de saber que, se já não é igual quem é chamado a obedecer, também não pode ser igual quem detém a autoridade.
Não se trata de subverter o papel da autoridade, mas sim de a compreender e exercer como serviço, respeito pelos súbditos, sejam eles quem forem, diálogo normal que já ninguém dispensa, nem sequer os miúdos dos jardins-de-infância. Depois, também a consciência de que opiniões não são dogmas e a grandeza de alma para reconhecer que nem sempre o que se mandou estava certo e era o melhor, ou que não foi previamente dialogado e justificado. A teimosia não é força de razão.
A nível nacional os factos multiplicam-se todos os dias: o lugar do aeroporto, o furor da ASAE, a administração BCP, as medidas precipitadas na saúde, a sobrecarga das urgências já tornadas átrios de morte, o eterno problema das escolas, a polémica lei do tabaco, a dança das pensões de reforma, as leis do trabalho, o disparado custo de vida, os impostos, o desemprego sempre a crescer, enfim e acima de tudo o manifesto desfasamento entre o discurso dos governantes e a vida das pessoas…
Parece que o governo, que até tem tomado medidas necessárias, decidiu ouvir pouco ou mesmo nada, com excepção para os grupos de pressão, escondidos atrás de anonimatos e vénias. Para o povo e seus representantes naturais e as diversas instituições que com ele lidam de perto e sabem interpretar os seus sentimentos e seus desejos não há tempo.
Já alguém disse que as diversas autoridades, e disse-o olhando os governantes, são “ventríloquos”. Como a tentação é de todos, pode estender-se a outros com poder de decisão. Quem fala só para dentro ou só fala de si, dá nota de merecer especial atenção. A comunicação normal é feita com os outros, para que possa ter eco, resposta e parceria colaborante nas decisões a tomar.
Muito deste clima encrespado evitava-se e teríamos mais concórdia e colaboração, se todos valessem por si e fossem mais responsabilizados na resposta às necessidades emergentes. O governo, para poder estimular quem serve e apoiar quem age, tem de ter abertura, proximidade normal das pessoas, diálogo construtivo.
Se entramos no “hoje sim, amanhã não”, jamais se saberá a ponta a pegar na conversa. Isto leva à critica fácil, ao arredar dos mais válidos, ao ascender dos mais inúteis, à escolha de criados de serviço, a que se dispensam opiniões e se favorecem aspirações.


António Marcelino

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Papa cancela visita a Universidade Italiana


O Papa cancelou a visita que estava programada à Universidade “La Sapienza”, de Roma, atendendo aos protestos de alguns professores e alunos. A visita tinha sido preparada a pedido do Reitor da Universidade, durante uma recepção no Vaticano.
O Presidente italiano, Giorgio Napolitano, manifestou a sua solidariedade a Bento XVI após a anulação da visita. Houve manifestações de apoio ao Papa, por parte de muitos católicos. Alguns jornais de grande circulação em Itália também repudiaram a atitude de professores e alunos, que mostraram a intolerância de que são capazes.
O mundo está assim. Parece que se está a tornar moda hostilizar as religiões, nomeadamente a Católica, nas pessoas dos seus responsáveis. Sobretudo em alguns meios intelectuais e académicos. A religião católica parece que incomoda muita gente. Ou então é politicamente correcto, para algumas inteligências, ser anti-religioso de forma agressiva e mal-educada. Prega-se a liberdade, a tolerância, o diálogo entre todos, crentes e não crentes, mas no fundo, certa gente, sente-se bem a provocar quem tem fé, com direito a vivê-la, negando qualquer possibilidade de ouvir os que têm ideias diferentes. Vêm com fantasmas, com argumentos ridículos, com teorias sem sentido, como se um intelectual católico, como é Bento XVI, não tivesse lugar numa universidade como “La Sapienza”, por sinal fundada por um Papa.
Estou em crer que, se o convidado fosse um líder muçulmano ou um ditador qualquer, com aversão à democracia e aos direitos humanos, talvez a universidade italiana lhes franqueasse as portas e a cátedra, com os aplausos dos que agora ofenderam o Papa.

Na Linha Da Utopia


A Identidade à Francesa!

1. A força cultural de certos países foi e vai imprimindo as suas próprias modas como hábitos de pensar e viver. Tantas vezes uma impressão quase imposição de modelos que, herdando momentos decisivos da história do passado, acabam por “ir à boleia” da sua memória não se vendo no presente como sair do pântano... Quantos clubes e mesmo instituições cristalizaram no tempo e nos seus tempos gloriosos passados! Claramente salta à luz do dia que, com a velocidade dos acontecimentos da história presente e na incapacidade da adaptação das tradições pesadas, o cordão umbilical da ligação à contemporaneidade se vai perdendo. Isto mesmo aplicar-se-á às linguagens, às instituições de ensino, às instituições políticas e mesmo religiosas. Hoje, o ritmo de tudo será diário, e numa transversalidade de processos andantes e, aos níveis institucionais, necessariamente transnacionais. Nada de novo; ou melhor, tudo novo, quando não, o comboio passa…
2. Neste sentido muito concreto, quase que se poderá perguntar: que vale ao Benfica ter uma história gloriosa se hoje a “coisa” não funciona? Que valerá aos portugueses a lembrança nostálgica dos feitos heróicos de há cinco séculos se hoje não se beber desse dinamismo criativo e visionário? Que vale à França ter marcado a história com uma Revolução Francesa (1789) de alguns valores universais, mas que depois se tornaram nacionalistas… conduzindo a sua própria história com défices interculturais? Enfim, tudo tem o seu valor… numa história que nunca se deve (nem pode) apagar. Mas por vezes parece que preside às relações das nações um contraditório: por um lado não se dá lugar às grandes mensagens históricas que construíram o património de valores universais, por outro, quando dá jeito, puxa-se pelos galões da história particular de cada nação para a garantia de superioridade sobre “o outro”…
3. A própria história, afinal, que se constrói todos os dias, encarrega-se de diferenciar positivamente o que tem valor. O segredo dos portugueses no séc. XV-XVI, da Holanda no séc. XVII e dos Estados Unidos no séc. XVIII-XX foi a capacidade de abertura cosmopolita, lendo a “diferença” como “complementaridade” numa unidade superior. O “fechamento”, quer por motivações políticas, filosóficas ou religiosas, sempre conduziram ao isolamento asfixiante, ao princípio do fim. O que acontece em França, diríamos, é consequência natural das opções seculares exclusivistas sobre os “outros”... Uma identidade “à francesa” que vai perdendo terreno no panorama social, cultural, literário, estando a cidade de Paris sem a “Luz” que outrora foi impulso na ordem da racionalidade.
4. Neste particular, Nuno Rogeiro há dias destacava que, diferentemente dos relacionamentos nas comunidades hispânicas e francófonas, as comunidades lusófonas vivem uma (quase generalizada) proximidade sadia… O que faz com que muitas das ex-colónias francesas e mesmo inglesas da África do futuro aprendam o “português” como a língua dos relacionamentos culturais e comerciais. Também as últimas presidências francesas têm demonstrado (e continuam) que, em termos de liderança e visão, a “razão” das luzes anda descolorida… Entre as múltiplas identidades como pertença futura, talvez a “identidade à francesa” como sinal de modernidade tenha os horizontes mesmo comprometidos.


Alexandre Cruz

ARES DO INVERNO


SOL ESCONDIDO
:
O Sol, escondido nas nuvens, tarda em nos aquecer. Lá está ele, à espreita, mas as nuvens negras não o deixam chegar até nós, que bem precisamos do seu calor. A chuva virá a seguir, para nos recordar que estamos no Inverno. Nós já sabemos, é certo, mas sempre gostamos de sonhar com o tempo primaveril e com o calor do Verão. Tudo há-de vir a seu tempo. Até lá, contentemo-nos com a beleza das fotografias, que o Inverno, afinal, também nos proporciona.

SOMOS UM PAÍS DE PESSIMISTAS?

Há programas de rádio e televisão que abrem os seus microfones a quem se dispuser a telefonar. Concordo com esta maneira de dar voz a quem normalmente não a tem. Por esta forma, é possível ouvir desabafos, críticas e reacções aos problemas do dia-a-dia que afligem as pessoas. De quando em vez lá consigo aproveitar algum tempo livre para ficar a par do que pensam os portugueses sobre a realidade da nossa sociedade. Por vezes, aparecem pessoas com saber e calma suficientes para dizerem o que pensam, com delicadeza e capacidade de síntese. Outras, nem por isso. Poucas afinam pela positiva, sublinhando o que há de bom, sem deixarem de dizer por que razão não concordam com isto ou com aquilo. A maioria, frequentemente com azedume, acha que está tudo mal. Todos os políticos são desonestos e incompetentes, todos os serviços públicos são incapazes, tudo está errado. Raramente aparece quem diga bem seja do que for. Fico com a ideia de que, de facto, somos um País de pessimistas. Sendo verdade que há muito a corrigir, muito a aperfeiçoar, também é verdade que há muita coisa boa. No meio, afinal, é que estará a virtude. FM

Ponte da Barra






PONTE DA BARRA VAI FAZER 30 ANOS DE VIDA
:
A Ponte da Barra, presentemente em obras de restauro e de beneficiação, vai completar 30 anos de vida. Com a conclusão das obras em curso, os responsáveis políticos e técnicos estão a oferecer-lhe uma boa prenda, que é, também, uma prenda para quem diariamente a utiliza e para quem nos visita.
Começou a ser construída em 1972 e em 1978 foi dada como utilizável em pleno, para bem das populações e do turismo em geral. Recordo-me bem do que isso significou para todos. Até aí, todo o trânsito de Aveiro para as praias fazia-se através da Gafanha da Nazaré. Imaginem os mais novos o que isso significava. Um autêntico pandemónio, sobretudo no Verão, com carros e mais carros a tornarem impossível passar-se de um lado para o outro, a pé, na chamada Av. José Estêvão. E então, quando ainda havia inúmeros carros de vacas, o caos generaliza-se, já que a avenida não era suficientemente larga.
FM

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

PRÓS E CONTRAS

NOVO AEROPORTO DENUNCIA ERROS CRASSOS Ontem à noite ainda consegui ver o programa PRÓS E CONTRAS, na RTP, moderado pela jornalista Fátima Campos Ferreira, que nem sempre consegue esconder de que lado está, quando devia ser completamente isenta. Se há muita gente a contestar esta atitude de uma jornalista credenciada, a verdade é que deve ser difícil esconder sempre as suas preferências. Não há ninguém perfeito, mesmo aqueles que pregam sê-lo. Três notas, apenas, em jeito de comentário: 1 – Este processo do novo aeroporto veio mostrar que a democracia não pode ser jogada só pelos partidos políticos e pelos políticos profissionais ou militantes de uma qualquer corrente ideológica. O povo, pela palavra individual ou através de instituições, tem sempre de se fazer ouvir. E o Governo, qualquer que ele seja, não pode descurar a obrigação de olhar para o que o povo diz. Um grupo de empresários, liderado pela CIP (Confederação da Indústria Portuguesa), soube avançar com a iniciativa de procurar outro espaço para o novo aeroporto, sem peias nem complexos, e descobriu o que ninguém tinha visto. Alcochete vai ser o local do novo aeroporto, pondo de lado a OTA, de que se falava há tantos anos. Se não fosse a sociedade civil, o Governo não daria nenhum passo para analisar uma outra alternativa, que afinal havia e houve. 2 – O bastonário da Ordem dos Engenheiros denunciou que em Portugal há muito o hábito de os políticos tomarem decisões de ânimo leve, sem ponderarem os prós e os contras. Depois, e só depois, é que chamam os engenheiros e outros especialistas para resolverem os problemas, transportando esta atitude enormes custos para o erário público. Seria bom, diz o bastonário, que os políticos tomassem isto em conta, para não se cometerem os mesmos erros. E se é verdade que o LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) resolveu em seis meses o que outros não conseguiram em muitos anos, por que razão não aproveita o Estado os seus técnicos para que estudem atempadamente os projectos, antes de se decidirem, politicamente, pela sua execução? 3 – O presidente da Câmara das Caldas da Rainha afirmou, peremptoriamente, que as autarquias, quando querem levar por diante um projecto, pedem pareceres a técnicos, sabendo de antemão que os mesmos avançam com propostas de acordo com a vontade da entidade que lhes paga. Neste caso, as autarquias. Quis dizer o óbvio: que há técnicos e políticos desonestos. Os mesmos que pregam honestidade. Então, onde está a honorabilidade dos técnicos que ganham para dizer amem a quem lhes paga? E a dos políticos que pedem pareceres a quem falta à verdade, unicamente para avançarem com projectos que à partida estariam condenados? Quereria ele insinuar que o LNEC, afinal, se comportou como os técnicos que fazem o frete de dar pareceres à medida da vontade do Governo? O presidente do Laboratório Nacional, ali presente, disse, mais do que uma vez, que o estudo foi feito com base, unicamente, em dados científicos. E o Governo não estaria interessado em manter a OTA, local que sempre tinha defendido? Que estranho país este! FM

Na Linha Da Utopia

O FÓRUM ALIANÇA DE CIVILIZAÇÕES

1. Está a decorrer em Madrid o 1º Fórum da Aliança das Civilizações. Na sua linha programática procura-se a “apresentação de iniciativas e projectos de alto nível para fomentar o diálogo intercultural”. Mas, mesmo com a presença de diversos prémios Nobel da Paz e do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, a primeira nota de destaque é a generalizada indiferença da imprensa espanhola. Sinal dos Tempos?! O projecto Aliança das Civilizações foi iniciativa lançada em Agosto de 2005 por Kofi Annan e com o co-patrocínio da Espanha e Turquia, tendo sido nomeado Jorge Sampaio como Alto-Representante da ONU (14 Julho 2007). Para o país fundador, o relativo desinteresse não deixa de surpreender…
2. Destaque-se os alcances do trabalho em realização em Madrid, com personalidades da sociedade civil, política, religiões, cinema. Entende-se que a juventude e a comunicação social são eixos estruturantes nos quais apostar para o entendimento entre culturas; procura-se criar plataforma de troca de informação relacionada com o “diálogo de civilizações, religiões e culturas”; será elaborada bolsa de personalidades e peritos disponíveis para intervir sobre estas matérias, especialmente em tempos de crise; dá-se destaque às parcerias entre organizações internacionais e a Aliança, aguardando-se, da parte de diversos países, as estratégias nacionais para o diálogo cultural. Se todo este conteúdo não chega para despertar a máxima atenção, então…?
3. A lacuna da generalizada indiferença continua a confirmar que (infelizmente) se prefere o choque estridente de um atentado à verdadeira e profunda formação da consciência para a coexistência pacífica das nações. Tal como a água ou a saúde, só apreciamos devidamente quando nos faz falta. Que limitação humana (d)a ausência de memória! Já agora, para que não se perca, registemos também que a Aliança procura a criação de um espaço político “multipolar e global” com o fim de lutar contra a “falta de entendimento e de comunicação” entre as diversas concepções de mundo, destacando-se o papel dos agentes internacionais, a educação e formação, a função da comunicação social e do papel dos líderes e religiões.
4. Estamos no Ano Europeu para o Diálogo Intercultural. Uma oportunidade privilegiada de aprofundar a essência dos intervenientes e das autênticas condições do diálogo. Não chega uma visão simplista, mas uma ideia desenvolvida inclusiva do todo (do mundo). É nesta linha que, entre as temáticas, o Fórum aborda “a gestão da diversidade na era da globalização” procurando entrever os “desafios políticos no Diálogo de Culturas”. Eis o perfil do que está a acontecer; importante demais para “passar” num minuto de informação. Jorge Sampaio, optimista, reconhece que o caminho é longo, que exige “persistência e paciência”. Mesmo (na atenção) sem limites!


Alexandre Cruz

FUMADORES RESSACADOS

Gostei de ler no Diário de Notícias
"Nunca tive tanta noção de o tabaco ser uma droga como nos últimos 15 dias, após ler textos alucinados por parte de colunistas habitualmente respeitáveis como Vasco Pulido Valente ou Miguel Sousa Tavares. O que eles têm escrito sobre a nova lei do tabaco, deitando mão a comparações que deviam envergonhar qualquer pessoa que tenha lido dois livros de História, é de tal modo inconcebível que só se explica pela carência de nicotina. Eles fingem que um café inundado de fumo é coisa que não incomoda ninguém. Eles chamam fascismo a uma decisão que chateia dois milhões de portugueses e protege oito milhões. E Sousa Tavares conseguiu mesmo a proeza de afirmar no Expresso, sem corar de vergonha, que a lei faz "lembrar, irresistivelmente, os primeiros decretos antijudeus da Alemanha nazi". Ora, isto não é texto de um colunista prestigiado - isto é conversa de um junkie a quem o dealer cortou na dose. Faço, pois, votos que os fumadores descompensados acabem de ressacar rapidamente, para o bom senso regressar e nós podermos voltar a lê-los com gosto."
João Miguel Tavares

32



É um gosto oriental que a Bíblia herdou: o gosto pela aritmética simbólica, a paixão pelo jogo de números, cifras e códigos. Por exemplo, o Evangelho de Mateus abre com uma “brincadeira” (chamemos assim a essa coisa muito séria) em torno ao número 14, que se repete três vezes. Como em hebraico os algarismos eram expressos por letras, Mateus, mesmo escrevendo em grego, sabe que os seus leitores decifrarão que o 14 corresponde ao nome David (4+6+4, se tomarmos apenas as consoantes). O evangelista quer enaltecer Jesus atribuindo-lhe três vezes a realeza de David... Para não falar do Apocali-pse que faz desta linguagem dos números uma autêntica gramática para a sua empenhada teologia da história e da esperança...
As nossas sociedades contemporâneas lidam massivamente com números, mas sem a aura simbólica de um tempo. A sua função tornou-se sobretudo utilitária, estatística. Cada um de nós tem uma série de números, engrossa gráficos e percentagens. Neste labirinto quotidiano, os números parecem ter perdido a carga profética que tinham. Quantificam a realidade, e basta. Esquecemo-nos que o barro precisa do sopro vital, que a superfície respira em profundidades que não se vêem, que a quantidade se torna um acumular inútil se não nos encaminha para a qualidade do ser. Os números sucedem-se, em velocidade, no rodapé dos dias. Que significam verdadeiramente? Que pedem de nós?
Disto me recordo, lendo um texto de um especialista em questões de desenvolvimento acerca do número 32. Calcula-se que o bilião de pessoas que vive nos chamados Países do “primeiro mundo” tenha uma taxa relativa de consumo per capita de 32, enquanto que a maior parte dos outros 5,5 biliões de habitantes do planeta viva com uma mísera taxa que ronda quase sempre o 1. Dito brutalmente: o número 32 expressa neste momento a diferença de estilos de vida e de possibilidades entre o mundo desenvolvido e abastado, e o resto da humanidade. No cristianismo das origens os números eram interpretados simbolicamente como desafios concretos. E nós agora?

José Tolentino Mendonça

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Na Linha Da Utopia




O FOSSO

1. Um desenvolvimento justo e harmonioso garantirá o equilíbrio dos vencimentos dos que gerem em relação aos empregados. Nos países democráticos chama-dos “desenvolvidos”, esse equilíbrio salarial dará o sinal do caminho certo; em países que ainda não assumiram integralmente essa concepção de justiça diária, as distâncias são exorbitantes. Nestes, “subdesenvolvidos” em relação ao ideal, o fosso é gigantesco, a ponto de em muitos países (do chamado, sabe-se lá porquê…, “terceiro-mundo”) assistirmos a líderes ditadores riquíssimos estando o seu povo mergulhado nas maiores indignidades humanas.
2. Consequentemente, quanto maior for o fosso dos reconhecimentos salariais (do patrão em relação ao empregado), maior é o atraso da ideia e do concreto da sociedade civil de um país. Há dias a revista Visão (nº 775, 10 Janeiro) trouxe a público alguns resultados, estudando os vencimentos de 25 grandes empresas. Destacava-se, entre tantíssimos casos exorbitantes, que, por exemplo, o vencimento mensal de um administrador da PT daria para pagar 128 salários/mês aos trabalhadores da empresa. Diferenças abissais, de um património empresarial que, se alguns têm o privilégio de liderar vivendo folgadamente, outros, a grande maioria (que o constroem), vivem no fio da navalha da gestão da vida mensal.
3. No Portugal que, como dizem os estudiosos, não fez uma Revolução Industrial, ainda se vê muito a empresa mais como uma regalia (de quem a consegue erguer) do que como uma transversal responsabilidade social. Não está em causa o mérito da gestão daqueles que têm a arte e o engenho de “arriscar” e que, tantas vezes, sofrem no silêncio as incertezas das apostas; aqui, seja reconhecido o mérito. Mas estará, sim, em causa, toda a distância gritante de salários (entre o topo e a base) que espelha a distância (do novo-riquismo) de concepções entre quem gere e quem trabalha na obra. Afinal, que seria de uns sem os outros?
4. Este é um assunto que nos países democráticos, que querem crescer harmoniosamente na base da justiça social, está no mapa das preocupações. Pelo próprio George W. Bush dos EUA, potência mundial, esta desigualdade tem sido denunciada. Entre nós, na mensagem de ano novo, o presidente da República tocou no assunto, referindo-se aos “salários imorais (?)”. Está em causa o equilíbrio da sociedade e a consciencialização da identidade de cada pessoa na pertença à comunidade, mas onde os próprios líderes haverão de liderar pela simplicidade. O “lucro pelo lucro” e às custas da injustiça sempre foi raiz de instabilidade social. É certo que este “fosso” não é algo que se resolva de um dia para o outro, e que na sua resolução estará a responsabilidade, tanto da base como do topo. Tudo depende da sociedade que queremos, mesmo para os descendentes dos senhores do topo…

Alexandre Cruz

OS CRICOS DA RIA DE AVEIRO

Ria de Aveiro: povo apanha os cricos

Quando eu era miúdo, a Ria de Aveiro era do povo. Livremente, cada um podia apanhar na Ria o que lhe apetecesse, para sustento próprio e até para vender. Os cricos, os mexilhões, as amêijoas e tudo o mais que a laguna oferecia era de quem quisesse arregaçar as calças e dobrar a espinha. Era um regalo andar na Ria!... Agora chia mais fino… A ria é de quem a arrenda para nela “semear” marisco, onde fica a crescer. Dizem que depois dá bom dinheiro…
Também quando eu era mais novo, houve luta entre o povo e o Estado por causa dos baldios, nas zonas serranas, sobretudo. Os baldios eram do povo e deles viviam os mais pobres, apascentando por ali os seus rebanhos. Depois, o Estado entendeu florestar esses terrenos que o povo usufruía. Venceu quem tinha forças e armas. Mas os povos da Ria não são pessoas de guerras e lá foram ficando isoladas, sem poderem apanhar, à vontade, os cricos que tanto apreciavam. Agora nem sei bem como é. Sei que de vez em quando há pessoas que mexem e remexem na laguna, em maré baixa, à cata dos cricos. Mas sei, também, que há zonas proibidas. São as tais que foram arrendadas aos produtores de marisco. Os tempos, agora, são outros!
FM

domingo, 13 de janeiro de 2008

Na Linha Da Utopia


PRESERVAR
A RAIZ = FAMÍLIA

1. Quando do nascimento do Estado Mo-derno (séc. XVI-XVII), dava à luz uma identificação absoluta entre as ideias do rei e do seu povo súbdito. O dita-do “cuius regio eius religio” obrigava a uma unidade de uniformidade, na qual o pensamento dos donos do poder (rei e príncipe) teria de ser religiosamente seguido pelas sociedades do antigo regime. Dessa forma, as diversidades e diferenças (especialmente na Europa fracturada das reformas) eram anuladas e, muitas vezes, combatidas até à exaustão.
2. Esse espírito subiu até à razão de estado que trouxe a liberdade da Revolução Francesa (1789). Um Estado de Direito que, benéfico na organização da “casa” da diferenciação dos poderes, cedo viria a revelar incapacidade de gerar a coexistência das diversidades e das autonomias das pessoas, das famílias, das mulheres,... Os nacionalismos decorrentes da Revolução Francesa espelham bem que essa Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) não trazia consigo a abertura à dignidade humana, vindo a colidir nas guerras do séc. XX.
3. Toda esta reflexão que apresentamos pretende sugerir que hoje estamos num tempo (humano) novo. Neste, os Estados, em democracia, têm de ser relativizados em função das Pessoas concretas na sua situação, sendo a liberdade (claro, responsável, na verdade digna) a fronteira do entendimento de todas as razões. Quanto à célula-raiz da sociedade, a FAMÍLIA, a Declaração dos Direitos Humanos (1948), que constitui uma aquisição de civilização jurídica de valor essencial, afirma que «a família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito a ser protegida pela sociedade e pelo Estado» (artigo XVI, nº 3).
4. Do dito anteriormente, consequentemente, tudo muda de cenário. Os estados (entidade sempre anónima) não são absolutos, mas sim as pessoas (“entidade” sempre real). O preâmbulo (1º) da Declaração dos Direitos Humanos considera «que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo». Assim, a construção da paz, por isso, só é possível na base da dignidade humana comum. Nos contextos sociais que atravessamos, é neste sentido que Bento XVI alerta que «a negação ou mesmo a restrição dos direitos da família, obscurecendo a verdade sobre o homem, ameaça os próprios alicerces da paz» (nº 4 da Mensagem do Dia Mundial da Paz – 1 Janeiro 2008, com o tema Família Humana, Comunidade de Paz).
5. O desapreciar sucessivo da comunidade familiar (em paradigmas de vida e mesmo em liberdades sem referenciais de legislações europeias e entre nós), vai trazendo consigo águas inquinadas quanto ao futuro. Já os Direitos Humanos sublinham que «ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar… » (artigo XII). Bento XVI complementa destacando que, assim, «quem, mesmo inconscientemente, combate a instituição familiar debilita a paz na comunidade inteira, nacional e internacional, porque enfraquece aquela que é efectivamente a principal “agência” da paz» (nº 5 da Mensagem - Dia Mundial da Paz 2008). Sem a FAMÍLIA de sempre não haverá futuro sensível e humano. É claro, como sugere Agostinho da Silva, “o tempo que vivemos se for mesquinho, amesquinha o eterno”. Há uma classe pensante, e que sabe do valor insubstituível da família, mas que…vai deixando correr a água.

Alexandre Cruz

Imagens de Aveiro: Estátuas no Olho da Cidade


























































Fotos, de cima para baixo, da esquerda para a direita: Peixeira, Fogueteiro, Marnoto e Parceira do Ramo. Clique na foto para ampliar.