sábado, 2 de maio de 2020

UM POEMA PARA UM DIA AMENO

O REGRESSO

Como quem, vindo de países distantes fora de
si, chega finalmente aonde sempre esteve
e encontra tudo no seu lugar,
o passado no passado, o presente no presente,
assim chega o viajante à tardia idade
em que se confundem ele e o caminho.

Entra então pela primeira vez na sua casa
e deita-se pela primeira vez na sua cama.
Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças,
cidades, estações do ano.
E come agora por fim um pão primeiro
sem o sabor de palavras estrangeiras na boca.

Manuel António Pina


NOTA: Aos meus amigos recomendo: Se andarem nervosos com os confinamentos, leiam Manuel António Pina.

D. MANUEL VIEIRA PINTO. ÉTICA E MÍSTICA

Crónica de Anselmo Borges 
para o Diário de Notícias 
- 1 de Maio de 2020


“Porque é que tu, que és Bispo, quando vens falar comigo, nunca me falas de Deus e da religião, mas do povo, da defesa dos seus direitos e da sua dignidade?”, perguntou o Presidente Samora Machel a D. Manuel Vieira Pinto, arcebispo de Nampula. “Porque um deus que precisasse da minha defesa seria um deus que não é Deus. Deus não precisa que O defendam. O Homem sim”, respondeu D. Manuel. 
Esta história foi-me contada por D. Manuel Vieira Pinto, à mesa, quando estive lá, no Paço episcopal, em Nampula, durante um mês, em 1992, a preparar uma antologia de textos seus, com o essencial do seu pensamento e que publiquei em 1992: D. Manuel Vieira Pinto. Cristianismo: Política e Mística (Antologia, Introdução e Notas de Anselmo Borges), Edições ASA. Nesse livro, publiquei também textos de homenagem, entre os quais um, excelente, de Mário Soares, então Presidente da República, que o condecorou com a Ordem da Liberdade. 
Aquela resposta do Padre Manuel, como o arcebispo de Nampula, Manuel Vieira Pinto, gostava de ser tratado, diz bem o que é decisivo nele, para compreender o que significou a sua vida para a Igreja e para o mundo. 
Já ia do Continente, como então se dizia, com boa e má fama, como acontece com todas as figuras que marcam a História. Com as suas conferências, a partir do movimento “Por um mundo melhor”, no contexto da assunção plena do Concílio Vaticano II, arrastava multidões.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

CONFINAMENTO - NATUREZA




Estou confinado entre as paredes da minha casa e os muros do meu quintal. E quando estou ansioso, nos momentos em que me imagino fora de casa, livremente, para contemplar as paisagens possíveis e respirar os ares da maresia e do arvoredo, puros porque sempre renovados, procuro a natureza que me envolve em casa e fora dela. 

1.º DE MAIO – UMA PORTA QUE ABRIL ABRIU


No 25 de Abril, recordei um tanto ou quanto levemente, algumas portas que Abril abriu. Hoje, lembro mais uma – O 1.º DE MAIO – de largo alcance social. Realmente, nesta data, evocada e celebrada por todo o mundo democrático, sem peias de qualquer espécie, os trabalhadores homenageiam os que lutaram e morreram pelos seus direitos no mundo do trabalho, clamando por justiça no relacionamento entre patrões e empregados, por salários dignos, por condições laborais humanizantes, pelo direito à greve e à livre associação, pela igualdade de tratamento entre homens e mulheres, por apoios sociais e por reformas compatíveis com as necessidades vitais.
Em 1886 surgiram nos EUA as primeiras manifestações de trabalhadores a exigirem 8 horas de trabalho diário, o que provocou respostas violentas por parte da polícia. Aconteceu em Maio e uma greve geral mostrou o descontentamento reinante contra a exploração do homem pelo homem. 
Três anos mais tarde, em 20 de Junho 1889, a Internacional Socialista, reunida em Paris, convocou uma manifestação anual, para o 1.º de Maio, no sentido de manter a luta pelas 8 horas de trabalho. Era, de certa forma, uma homenagem aos que morreram na defesa de melhores condições laborais e de menos horas de laboração. 
Em 1 de Maio de 1891, numa manifestação em França, morrem dez operários e meses depois, em Bruxelas, a Internacional Socialista proclama o 1.º de Maio como dia internacional para as reivindicações de melhores condições de trabalho. Outros países, sobretudo os mais industrializados, seguem o exemplo dos pioneiros. Havia países em que os operários tinham de trabalhar 16 horas por dia, muitas vezes em condições péssimas e mesmo desumanas. Na nossa terra, nas secas e não só, trabalhava-se de sol a sol. 
Em Portugal houve também celebrações do 1.º de Maio muito incipientes. Na primeira República, os sindicalistas chegaram a ser perseguidos e durante o chamado Estado Novo foram proibidas manifestações sindicais. Só com o 25 de Abril, com as portas que se abriram às liberdades fundamentais, é que o 1.º de Maio passou a ser celebrado, como o Dia Mundial do Trabalhador. É feriado nacional e as festas de e com trabalhadores generalizaram-se a todo o território português. Manifestações, comícios, convívios, com organização das Centrais Sindicais ou mesmo sem elas, os nossos trabalhadores, agora debaixo de um conceito mais alargado, sentem este dia como seu, respeitando-o como homenagem a todos os que, com o seu esforço físico e científico, mas também com a sua capacidade criativa, constroem riqueza e alimentam projetos de dignificação do homem e da mulher para os nossos tempos. 

Fernando Martins

JESUS, O BOM PASTOR, CHAMA-NOS PELO NOME

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo IV da Páscoa 

Jesus estabelece connosco uma relação humana muito rica que, biblicamente, se expressa na imagem do bom pastor que se dedica totalmente às ovelhas do seu rebanho. Visualiza-o no seu agir sempre solícito em benefício de quem está em necessidade. Identifica-o no seu ensinamento acessível a todos. Confirma-o na sua atitude final quando entrega ao Pai o seu espírito. Fixa-o e transmite-o, sobretudo, na narrativa de João no Evangelho que, por sua vez, recorda as mensagens de Ezequiel, cap. 34, dirigidas aos exilados da Babilónia.
João quer fazer uma catequese sobre Jesus ressuscitado. Recorre a contrastes eloquentes: entrar pela porta ou rebentar a sebe que resguarda e protege o rebanho, ser reconhecido na voz que chama e é correspondida ou sentir-se considerado como um estranho sem eco de resposta, ver-se procurado e seguido ou dar conta que é abandonado e fica desolado, cuidar da vida das ovelhas ou desleixar-se a ponto de a falta de pastagens lhes provocar a fome e a morte, fazer-se tudo para elas ou explorá-las e aproveitar ao máximo os recursos que têm. Jo10,1-10

quinta-feira, 30 de abril de 2020

DIA INTERNACIONAL DO JAZZ E JACINTA



O Dia Internacional do Jazz é celebrado neste dia, 30 de abril. Começou a celebrar-se em 2012 com o objetivo de lembrar a importância deste género de música, mas também para promover a aproximação de cultura de diversos povos do mundo. 
O Jazz está associado à luta pela liberdade e à abolição da escravatura. 
Nesta data, permitam-me que evoque neste meu recanto a Jacinta, da Gafanha da Nazaré, cantora e docente universitária de Jazz, com voz e expressão que muito aprecio e de cuja amizade me orgulho. 

Fernando Martins

quarta-feira, 29 de abril de 2020

DIA MUNDIAL DA DANÇA - 2020



Para todos os que apreciam a dança e gostam de dançar, 
mesmo em tempo de COVID-19 ou talvez por isso.

PARÓQUIA DA VERA CRUZ TEM NOVO SITE


Foi com gosto que registei nos meus destaques o novo site da paróquia da Vera Cruz, cuja visualização me agradou bastante. Vai ser, para mim, de visita frequente porque naquele espaço noto dinâmica, à partida, e ares modernos capazes de nos abrir a novos horizontes nos campos da paroquialidade, espiritualidade, harmonia e humanidade. 
Há muito que defendo na Igreja a ligação ativa e empenhada ao ciberespaço, fonte inesgotável de comunicação multifacetada, onde as comunidades religiosas têm lugar para o diálogo permanente com as mais variadas formas de pensar e agir. 
Tenho para mim que o confinamento provocado pelo COVID-19 terá levado a Igreja a descobrir o peso das novas tecnologias na vivência expressiva da fé e na forma de a partilhar. 
Daqui, deste meu cantinho com mais de 15 anos, formulo votos dos maiores sucessos à paróquia da Vera Cruz, na esperança de que venha a inspirar outras paróquias. 

F. M.

15 MILHÕES PARA A COMUNICAÇÃO SOCIAL


É público que o Governo vai apoiar com 15 milhões de euros a comunicação social, pagando publicidade institucional, anunciou o Ministério da Cultura. Pretende assim ajudar um setor que se tem tornado cada vez mais deficitário, o que levaria a uma morte sem honra nem glória. É claro que haverá regras a cumprir, não vá dar-se o caso de o dinheiro cair em saco roto, não contribuindo para um jornalismo de qualidade, como é lógico. 
A comunicação social, em geral, está a confrontar-se com a concorrência dos órgãos digitais, que operam em cima da hora, através de textos, imagens e sons quase em direto, um progresso indiscutível a nível informação e formação, que nos satisfaz, embora, como é o meu caso, a nostalgia do jornal e revista em papel não tenha desaparecido. Um diário e um semanário digitais garantem-me janelas bastante amplas para o mundo, estando em permanente atualização. O semanário, no fundo, é diário. Contudo, a saudade e o cheiro do papel ainda não se diluíram. De vez em quando volto a eles, mas o treino ajudar-me-á a esquecer a comunicação social escrita, em papel, até porque já me custa folhear os jornais, sobretudo os que saem com formatos muito grandes para o meu gosto. 
O Governo vai, portanto, ajudar os jornais, revistas, rádios e televisões, esperando eu que não se estabeleça uma espécie de compadrio que suscite obrigações para quem recebe os apoios, coisa muito ruim no jornalismo. A independência é um princípio sagrado. Por cá andaremos para ver, se Deus quiser. 

Fernando Martins

terça-feira, 28 de abril de 2020

A FARMÁCIA - TEMPLO ILUMINADO DENTRO DA NOITE



A Farmácia Morais veio para a Gafanha da Nazaré na década de 40 do século passado. Ficava na atual Av. José Estêvão, perto da nossa casa. A Dona Ester Morais, bem conhecida por todos os gafanhões, era a diretora técnica e proprietária. Chegou a ser, como há dez anos averiguei, a proprietária e diretora técnica mais idosa do país, em atividade. Entretanto, cumpriu a sua missão neste mundo, aconselhando os que recorriam à sua experiência de farmacêutica para curar certas maleitas. Até me explicou como fabricava os comprimidos...
Há anos, vi e li, na Farmácia Morais, um poema curioso e expressivo que se apresentava encaixilhado. Tentei saber da origem, mas nada encontrei. Com o telemóvel, registei o que foi possível captar, mas hoje, a atual proprietária, Maria de Lurdes, teve a gentileza de me enviar uma cópia do original. E diz assim: «“Mais vale tarde… que nunca”. Ao rever pastas antigas de documentos, ainda dos meus pais, encontrei o prometido... E, como diz o ditado, “O prometido é devido”, aqui envio com todo o carinho e amizade, “A Farmácia”». Não faltaram, ainda, os votos de boa saúde. 
Muito obrigado pela amizade  e simpatia. 

Fernando Martins