terça-feira, 26 de novembro de 2019

OIÃ - Uma terra com história







Uma passagem por Oiã, freguesia do concelho de Oliveira do Bairro, deu para perceber que se trata de uma povoação com raízes na história local, mas não só. No Largo do Cruzeiro (séc XVII), lembrei-me de um bom amigo, Armor Pires Mota, que conheci no meio jornalístico, poeta, cronista, romancista e historiador local, com obra muito expressiva e fundamental para o conhecimento da região. Em casa, saboreei umas páginas do seu livro "Oiã - Terras e Gentes", com data de 1991, que recomendo, agora, decerto, em outra edição. 
Como desafio a uma visita, aqui ficam referências ao Cruzeiro (construído em 1690, restaurado em 1940 e reconstruído em 2002) e à homenagem a um médico que à terra e ao povo se deu sem regatear esforços.

Jorge de Jesus - De bestial a besta?

Tenho acompanhado as vitórias de Jorge de Jesus no Brasil, ao serviço do Flamengo, conseguidas em cerca de meio ano. Alvo de algumas críticas no início do seu contrato com o “maior clube do mundo” a nível de torcedores, venceu com mérito o que toda a gente já sabe. Um crítico, logo criticado, já pediu desculpas pelo que disse. Contra vitórias destas, logo duas de expressão futebolística ao mais alto nível, não há argumentos para rebater. 
No dealbar dos festejos, vieram logo as perguntas da praxe: — Vai continuar no Flamengo? E Jorge de Jesus, que terá muito traquejo neste mundo do futebol, adiantou que há vários fatores a ponderar. E um deles será, sem dúvida, fugir ao velho ditado, que tem demonstrado, à evidência, que de um jogo para outro, qualquer treinador, por mais condecorado que seja, pode passar de bestial a besta. 

F. M.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O que escrevi há 10 anos

Há muitos anos que paro um dia inteiro. Fico entregue a mim mesmo e aos meus. Como que retirado no mundo, mas a olhar quem passa. Presente, contudo, bem presente nas minhas recordações, um incontável número de familiares e amigos. Uns que conheci e me acompanharam na vida, outros que me chegaram pela tradição oral. E muitos daqueles, ontem, se lembraram de mim. E todos eles vieram com palavras muito amigas e com recordações de algum momentos gratificantes recolhidos do que lhes disse e da forma como o fiz.
É claro que já perceberam que foi o dia do meu aniversário, repetido setenta e uma vezes [agora 81]. Pois é verdade. Venci mais uma barreira, a dos 70 [80] com o ânimo robustecido por tantos e tantos amigos. Todos ao lado de uma família que me deu tudo. Mesmo tudo o que sempre desejei.
As recordações de ontem hão-de vir para este meu espaço, ao sabor da maré que me enche a alma. Sem pressas.

Aqui ficam os meus agradecimentos pelos muitos gestos de amizade que ontem me chegaram.

Fernando Martins

Gafanha da Nazaré, 25 de novembro de 2009 [2019]

domingo, 24 de novembro de 2019

Bento Domingues - Hoje estarás comigo no paraíso


«Jesus já tinha rezado por todos os que o condenaram e maltrataram. Não tinha inferno para ninguém e deixou-nos uma missão: tirai as pessoas do inferno em que vivem.»

1. Anselmo Borges publicou, recentemente, dois artigos sobre A pena de morte e o inferno [1]. São duas peças notáveis de filosofia e teologia que é preciso meditar para perceber as razões que o levaram a dizer: Não há inferno. E, para explicitar mais o sentido dessa afirmação, remete para o livro editado pela Gradiva, Conversas com Anselmo Borges.
Antes de manifestar o prazer e o proveito que essa obra me ofereceu, gostaria de contar uma história que se passou comigo, numa aula de teologia, em Fátima, no âmbito dos Cursos de Verão do Instituto de S. Tomás de Aquino (ISTA).
Numa dessas aulas perguntaram-me se há ou não há inferno. Respondi que a minha esperança era nunca chegar a saber. Comentei, a brincar, que um amigo dizia que talvez existisse, pois sem ele os padres não tinham um instrumento forte para meter medo aos seus fregueses com a repetição cadenciada do estribilho dos sermões de Quaresma e de preparação para uma confissão assustada: sempre, nunca! Quem é condenado ao inferno, nunca de lá pode sair.
A resposta não caiu bem. Uma aluna indignada gritou-me: com coisas sérias não se brinca. O inferno existe. Nossa Senhora mostrou-o aos pastorinhos, junto da actual Capelinha das Aparições.
Tentei mostrar que acreditar em Fátima não fazia parte do credo da Igreja. É possível ser católico e não acreditar em Fátima. As impressões das criancinhas estavam condicionadas pelas figurações que aprendiam na catequese, nos sermões, nas conversas e orações das respectivas famílias. Nossa Senhora teria de lhes falar no imaginário e na linguagem que elas pudessem entender. As crianças também têm direito à imaginação e cada um à sua opinião.

BÍBLIA - Tradução de Frederico Lourenço

Adquiri hoje o Tomo 2 do IV Volume da BÍBLIA, numa tradução do grego de Frederico Lourenço. Para mim, é um prazer enorme reler a BÍBLIA nesta edição da Quetzal, enriquecida pelos comentários do tradutor, oportunos e esclarecedores. Frederico Lourenço não é um tradutor qualquer, pelo que sei. E também é um escritor de mérito. É mesmo especialista e docente universitário  de Literatura Grega. 
A Bíblia faz parte da minha biblioteca desde que os livros começaram a despertar-me interesse. Direi mesmo uma certa e salutar paixão que se tem mantido viva e atuante. 
Gosto de ler o Livro Sagrado ao ritmo da maré. Serenamente, sem provocar cansaço e na perspetiva de saborear a presença de Deus no mundo... Ele anda por aí. 

«O importante é esta Bíblia, um grande livro que decerto perdurará muitos, muitos anos na reduzida prateleira da Grande Arte da nossa Literatura, pelo seu rigor, pela sua beleza, pela sua absoluta e luminosa fidelidade. Como português agradeço do coração a Frederico Lourenço. Como escritor agradeço-lhe do fundo da alma. A Arte não é um desporto de competição e a Casa do Pai tem muitas moradas.» 

[António Lobo Antunes] 

Na cinta do livro 

Para onde irei, longe do Teu espírito? 
E longe do Teu rosto para onde fugirei? 
Se eu subir ao céu, Tu estás lá; 
se eu descer ao Hades, estás presente. 
Se eu tomar as minhas asas de madrugada 
E habitar nas extremidades do mar, 
Também aí a Tua mão me conduzirá; 
E a Tua dextra me segurará. 
E eu disse: «Então escuridão me espezinhará; 
E a noite será iluminação no meu prazer.» 
Porque escuridão não será escurecida devido a Ti; 
E noite como dia será iluminada. 

Salmo 138 (= 139 BH), 7-12 

Capa da contracapa

Anselmo Borges - Profundíssima e reverendíssima reforma


«Frei Bartolomeu dos Mártires seria um apoiante firme de Francisco e das suas reformas, de que foi aliás precursor. Se vivesse hoje, aplaudiria, com todo o coração e inteligência, Francisco, pois foi com um Papa como ele que terá sonhado»

1. Participaram dois cardeais, duas dezenas de bispos, muitos fiéis, entre os quais o Presidente da República, na Sé de Braga completamente cheia. Foi no passado dia 10 deste mês de novembro, na canonização de frei Bartolomeu dos Mártires, antigo arcebispo de Braga. Marcelo Rebelo de Sousa disse o essencial: "Foi um bispo reformador, pobre e amigo dos pobres, pastor, intelectual e, do ponto de vista teológico e sociológico, um homem muito à frente do seu tempo."
Nesse mesmo dia, o Papa Francisco, na recitação do Angelus, disse dele que foi "um grande evangelizador e pastor do seu povo". Pessoalmente, não duvido de que, se vivesse hoje, frei Bartolomeu dos Mártires seria um apoiante firme de Francisco e das suas reformas, de que foi aliás precursor. Se vivesse hoje, aplaudiria, com todo o coração e inteligência, Francisco, pois foi com um Papa como ele que terá sonhado. Não se pode esquecer que, no encerramento do Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI ofereceu a cada um dos bispos uma das suas obras, o célebre Estímulo de Pastores. Na sua essência, uma canonização só pode ter por finalidade apresentar um modelo de vida a seguir, e não há dúvida de que frei Bartolomeu dos Mártires é um exemplo vivo de pastor para todos os pastores. Ele foi, pela sua vida e pela sua palavra, com desassombro e frontalidade, uma das figuras mais eminentes para a reforma de uma Igreja que, no século XVI, atravessava uma profundíssima crise. Não pregou só pela palavra, pregava pelo exemplo. Quando confrades dominicanos e outros o tentavam demover dos rigores que a si próprio se impunha, respondia: "Permanecerei contumaz numa única coisa: conservar-me-ei afastadíssimo de todo o fausto e esplendor da casa e da família. Hei de manter como bispo a mesma humildade e cuidado do meu corpo, na mesa e coisas semelhantes, que observei como frade. Nenhuma força me desviará deste propósito."

sábado, 23 de novembro de 2019

Há mais sem-abrigo em Aveiro


Cresceu o número de pessoas sem-abrigo em Aveiro. No primeiro semestre deste ano, foram contabilizadas 37 pessoas “Sem tecto”, ou seja, que vivem na rua ou num edifício abandonado, e 22 “Sem casa”, que pernoitam em pensões e casas de acolhimento.O segundo semestre ainda não terminou, mas há a percepção de que quando os últimos seis meses do ano forem contabilizados serão mais as pessoas a viver nas ruas ou em edifícios abandonados do que há seis meses. A instituição Florinhas do Vouga, com o projecto “Ceia com Calor”, que distribui diariamente um suplemento alimentar aos sem-abri­go de Aveiro, integra o Gru­po de Intervenção e Monotorização e Avaliação da Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas em Situação de Sem Abrigo, e tem mantido o contacto com as acções desenvolvidas nesta área pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. 

Leia a notícia completa na edição em papel. 

Fonte: João Peixinho no Diário de Aveiro  de hoje.

NOTA: Se cada cidade resolvesse o  problema dos seus sem-abrigo, tudo seria muito mais fácil.

Gaivota desconfiada


Que quer o fotógrafo? É já a terceira vez que ouço um clique. Deixa-me em paz, que preciso de descansar e de sonhar novos desafios...

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Os livros são quase pessoas

Crónica de António Rego no "Correio da Manhã" - Folhas secas 



Os livros são quase pessoas. Não ouvem, nem veem, nem falam. Mas têm alma quase mais forte que a vida que em nós palpita. Melhor que nós compõem a eternidade. Fio onde subtilmente corre o nosso pensamento, tornam-se mais velozes que nós próprios. Empilhados em estantes parecem fúnebres, sequência de campas em fila de cemitério. Atravessamos as suas ruas sem dizer nem escutar palavras, levantam uma poeira que nos faz arder os olhos e perturba as aparências do nada que compõem os enigmas que se escondem nas suas páginas. Mas são uma cátedra, um púlpito, uma vida, um recheio interminável de saber, um amontoado de gerações, um ventre sereno da arte e do saber. Uma estrada aberta, plantada de mil plantas. 

É nos serenos silêncios 
que se escrevem 
os nossos melhores discursos 

Se entro pela estrada do digital, não vejo cruzes, tropeço na ramagem quase mais ruidosa que as folhas de Novembro, que se enrolam nos pés à passagem nos corredores da floresta ressequida. E todavia sinto que também nesse percurso há um diálogo, parecido com o discurso, que tanto mais se sente quanto maior é o silêncio. Até por vezes me parece ouvir a folhagem a dizer nomes vivos e até expressar ideias que nunca me haviam ocorrido.

Festa de Cristo Rei

Georgino Rocha - Hoje estarás comigo no paraíso




Jesus responde, com esta certeza/promessa, à súplica do condenado à morte que está crucificado à sua direita. A súplica brota do reconhecimento da inocência de Jesus, injustamente sentenciado. Não assim, ele e o seu parceiro de aventuras malfeitoras. “Lembra-te de mim quando vieres com a tua realeza”, pede confiante, após ter censurado o colega pelos insultos e imprecações que vociferava. Apesar de ambos quererem salvar-se, que contraste de atitudes e sentimentos, de perspectivas e desejos! Um queria voltar à fase anterior à condenação, outro abre-se confiadamente à nova situação que intui de Jesus e humildemente faz-lhe um pedido comovedor. Lc 23, 35-43.
“Lembra-te de mim” é prece que tem sentido profético e ecoará por todo o tempo, fruto dos corações silenciados pela violência torturante, pela fome e pelas doenças esgotantes. Escutar e dar resposta a estes dramas é respeitar a humanidade, viver a solidariedade, potenciar a fraternidade. E está ao alcance de todos, sobretudo de quem, autorizado pelo povo, detém o poder. Sejamos humanos, escutemos os gemidos dos nossos irmãos!