segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Soneto de Florbela para começar a semana


Perdi Meus Fantásticos Castelos

Perdi meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma...
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a  uma!

Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma...
— Tantos escolhos! Quem podia vê-los? —
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!

Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias...

Sobem-me aos lábios súplicas estranhas...
Sobre o meu coração pesam montanhas...
Olho assombrada as minhas mãos vazias...

Florbela Espanca

domingo, 18 de novembro de 2018

Painel “eterniza” o valor dos mordomos

Li no Diário de Aveiro

Jeremias Bandarra  e Rui Ramos
«Com desenho de Jeremias Bandarra e execução do pintor e ceramista Rui Ramos, foi ontem inaugurado o painel de azulejos que presta homenagem a todos os mordomos que passaram pelas mordomias de São Gonçalinho. A obra de arte está bem visível junto à Capela (na parede da Casa de Apoio) e foi revelada no âmbito do primeiro Dia do Mordomo, criado pela actual mordomia e cujo Juiz reconhece ter um “valor sentimental muito especial”. De acordo com Ricardo Lopes Paulo, este dia foi pensado para reunir todos os mordomos que “serviram” São Gonçalinho e, de alguma forma, “reconhecer-lhes o seu valor”, porque “em todas as mordomias há conhecimento que não se deve perder”. Foi a pensar nessa “au­ra histórica que quisemos juntar todos eles e contribuir para a história do Bairro da Beira Mar e da festa”, testemunhou ao Diário de Aveiro. E nada melhor do que uma obra de arte para eternizar um momento importante, neste caso, um painel de azulejos que conta muitas histórias sobre os mordomos, mas também a Capela e o bairro.»

A estupidez das guerras

Frei Bento Domingues

1. Para O Livro do Desassossego, “as guerras e as revoluções – há sempre uma ou outra em curso – chegam, na leitura dos seus efeitos, a causar não horror mas tédio. Não é a crueldade de todos aqueles mortos e feridos, o sacrifício de todos os que morrem batendo-se, ou são mortos sem que se batam, que pesa duramente na alma: é a estupidez que sacrifica vidas a qualquer coisa inevitavelmente inútil. Todos os ideais e todas as ambições são um desvario de comadres homens. Não há império que valha que por ele se parta uma boneca de criança. Não há ideal que mereça o sacrifício de um comboio de lata” [1] 
Ainda antes deste texto, Fernando Pessoa já tinha escrito: “Dói-me na inteligência que alguém julgue que altera alguma coisa agitando-se. A violência, seja qual for, foi sempre para mim uma forma esbugalhada de estupidez humana. Depois, todos os revolucionários são estúpidos, como, em grau menor, porque menos incómodo, o são todos os reformadores.” 
Não diz só porque lhe dói a inteligência, dá um bom conselho, embora, como sempre, o julgue inútil: “Revolucionário ou reformador – o erro é o mesmo. Impotente para dominar e reformar a sua própria atitude para com a vida, que é tudo, ou o seu próprio ser, que é quase tudo, o homem foge para querer modificar os outros e o mundo externo. Todo o revolucionário, todo o reformador é um evadido. Combater é não ser capaz de combater-se. Reformar é não ter emenda possível.” 
Não falta nada para se concluir que Fernando Pessoa não passava de um reles reaccionário conformado com o mundo como ele está: um conservador, um decadente.

Um poema de Licínio Amador para este domingo



Licínio Amador
O moliceiro, o amante da ria

O moliceiro, o amante da ria,
Flutua leve, silencioso,
Rompendo a madrugada,
Rasgando o manto misterioso
Da neblina que o veste;
E com a ajuda do sol nascente
Aparece imponente à luz do dia.

Com a sua proa pintada,
A sua vela içada
Prenhe de vento, de maresia
Vai lavrando
As salsas águas da ria.

O moliceiro, o amante da ria,
Carrega no seu ventre
O húmus, a semente,
Que fecunda a terra
Terra que abraça a ria,
Rotunda de seiva, de alegria.

Corta as águas, ora calmo, gracioso,

Porque Eolo, no Olimpo, está alegre
Ora quase naufraga
Porque o deus está zangado, furioso.

E ria acima, ria abaixo
Ao som da concertina,
Espalha a cor, a alegria,
Ao levar os mancebos e as moçoilas,
A S. Paio em dia de romaria.

O moliceiro, o amante da ria,

Abraça-a nos seus braços esverdeados,
Trocando ósculos entusiasmados,
Que são as marolas da ria
Marulhando no casco do moliceiro.

Assim desliza o moliceiro
Pelas águas esverdeadas da ria
Ora lisas, ora ondeantes
Trocando juras de amor eterno
O moliceiro e a sua amante,
A ria!

Licínio Ferreira Amador

1.º Prémio de Poesia livre dos VII Jogos Florais da Câmara Municipal da Murtosa em 25/03/2006. Tema: O Moliceiro 

sábado, 17 de novembro de 2018

Dia Mundial da Criatividade - Fugir do Trivial


Celebra-se hoje o Dia Mundial da Criatividade, celebração esta que não é muito falada, mas devia ser. Neste mesmo dia, ainda se comemora o Dia Mundial do Não Fumador, o Dia Mundial da Prematuridade e o Dia Internacional dos Estudantes. Na impossibilidade de escrever umas notas sobre cada dia, fico-me pela indicada em epígrafe. Contudo, mantenho-me  disponível para aceitar os escritos de quem o desejar fazer. 

O Dia Mundial da Criatividade visa enaltecer a importância do capacidade criativa para a vida humana, sendo fundamental “libertar a imaginação e inventar”, na certeza de que “o potencial criativo está em todas as pessoas, mas não flui com facilidade”, lê-se em notas referentes a este dia. 
Nesses pressupostos, urge estimular, a começar por cada um de nós, as pessoas a avançarem para a resolução de problemas, descobrindo novas soluções, tendo em conta que a mente humana tem imensas capacidades à espera de boas oportunidades para se manifestarem. Nessa linha, estão todas as tentativas, nossas ou de outros, que nos levem a fugir do trivial, assumindo tarefas originais nas mais diversas áreas. Escrever, pintar, desenhar, colecionar, filmar, fotografar, recriar artesanato e apostar, nas mais diferentes funções, em tarefas que nos libertam do ramerrão dos nossos quotidianos. 

Fernando Martins

As maravilhas de Portugal

Anselmo Borges

1. Evidentemente, fico contente e aplaudo o equilíbrio do défice, a descida do desemprego, alguma subida concretamente dos salários e das pensões mais debilitados, o elogio estrangeiro ao desempenho do país em domínios económico-financeiros... Significa isto a minha completa sintonia com a aparente euforia nacional? Infelizmente, não. 

2. E não sintonizo porquê? As razões são múltiplas e não posso elencá-las todas. Ficam aí algumas, um pouco desajeitadamente e correndo o risco de transgredir o preceito do ne sutor ultra crepidam (o sapateiro não deve ir além da sandália). 

2. 1. Mesmo do ponto de vista económico-financeiro, desconfio da afirmação de que chegou o fim da austeridade. Porquê? Vejo, por exemplo, o preço dos combustíveis, a carga de impostos e taxas e mais taxas, não sem sublinhar que os impostos indirectos são os mais injustos, porque cegos, atingindo tanto os ricos como os remediados ou os pura e simplesmente pobres... E, quanto ao futuro, receio o abalo que acontecerá com a subida dos juros e se alguma crise internacional chegar (já se sabe do abrandamento do crescimento económico da União Europeia no próximo ano)... Há uma almofada suficientemente sólida de suporte? De qualquer forma, a dívida toda (pública, das empresas, das famílias...) está em 700 mil milhões de euros (será que li bem?). E os portugueses não poupam, porque se criou a percepção de que tudo está sob controlo, e desculpam-se também com o facto de não valer a pena ou até ser prejudicial, ao pensar no que os bancos cobram e, depois, as pessoas ainda se lembram de que vários bancos faliram e, até agora, não aconteceu nada, excepto que os contribuintes vão ter de continuar a pagar... O turismo permanecerá com a força do presente? Que investimentos se tem feito? Que planos para tempos de crise? O crescimento da economia tem derivado sobretudo da procura interna, e os portugueses até se endividam para consumos dispensáveis e viagens. E não sofrem de eleitoralismo algumas medidas, cedendo às exigências das várias funções do Estado, dentro do fascínio causado pela tal percepção de que a situação económico-financeira está como nunca? E as famosas cativações?... E quem pensa no tsunami demográfico? 

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Dia Internacional da Tolerância - Pensar e Agir



O Dia Internacional da Tolerância é celebrado hoje, 16 de novembro. A data foi aprovada pelos estados membros da UNESCO, em 1995, e visa promover o bem estar, progresso e liberdade de todos os cidadãos, assim como fomentar a tolerância, respeito, diálogo e cooperação entre diferentes culturas, povos e civilizações. É um dia destinado não só aos governos e organizações mas também às comunidades e aos cidadãos, cabendo a todos promover a tolerância no seu espaço e no mundo. Assim se pode ler em notas sobre a efeméride.
A tolerância, aparentemente um princípio fundamental nos relacionamentos humanos, nem sempre é seguida no dia a dia. Ciosos das nossas verdades, ou daquilo que consideramos como verdadeiro e indiscutível, temos, por vezes, dificuldade em ouvir os outros. No meu dia a dia, constato isso mesmo na forma como reagimos face aos acontecimentos, criticando por criticar, esquecendo que não somos detentores exclusivos da verdade. Há nos outros também uma parte da verdade, quiçá maior do que a nossa. 
Conheço quem defenda que cada um deve ficar no seu canto, aconchegado pelos seus princípios políticos, sociais, religiosos, estéticos e outros, evitando a troca de impressões e de opiniões, em suma, acantonando-se, como egoístas fanáticos, medrosos ou doentiamente incapazes do diálogo, no sofá da sua intolerância. 
O mundo de hoje, na minha ótica, tem necessidade de pessoas que falem naturalmente  umas com as outras, que discutam sadiamente, que conversem sem temores nem reticências, que debatam os temas do presente com abertura e que assumam, consciente e deliberadamente, a tolerância em todas as circunstâncias. 
A troca de ideias não pressupõe nem pode admitir subserviências, muito menos  desprezo pelos adversários, que nunca podem ser olhados  como inimigos a abater.  É claro que  tolerância não significa aceitar cegamente o pensar e o agir dos que se toleram. 

Fernando Martins 

José Saramago nasceu neste dia


16 de novembro de 1922 

Eu luminoso não sou


Eu luminoso não sou. Nem sei que haja
Um poço mais remoto, e habitado
De cegas criaturas, de histórias e assombros.
Se, no fundo do poço, que é o mundo
Secreto e intratável das águas interiores,
Uma roda de céu ondulando se alarga,
Digamos que é o mar: como o rápido canto
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas. O musgo é um silêncio,
E as cobras-d'água dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.

José Saramago

In “Provavelmente Alegria”

No fim dos tempos, Jesus reúne os eleitos de Deus

Georgino Rocha

Jesus está no monte das Oliveiras. Sentado (posição normal do mestre que ensina), conversa com Pedro, Tiago, João e André sobre o Templo que se ergue em sua frente. Estão maravilhados com a sua beleza e grandiosidade. Era de facto esplendoroso. Constituía o orgulho dos judeus. Que alegria e confiança deviam sentir!

Jesus aproveita a ocasião e desvenda o que está para acontecer. Faz-lhes uma admoestação séria e grave. Exorta-os a manterem um cuidado vigilante, a saberem ver além das aparências, já de si tremendas, a estarem preparados porque a hora do desfecho se aproxima. Do Templo, não ficará pedra sobre pedra. O tempo encaminha-se para fim. As convulsões estão em curso. A esperança renasce, após a tormenta. Como na natureza, a primavera vem depois do inverno e antecipa o verão radiante de cor e beleza. Será este o desenlace do conflito decisivo. “Tomai muito cuidado”! É tempo de dar testemunho com coragem. Que impacto, devem ter sentido ao ouvir esta declaração surpreendente de Jesus! E em jeito de pedido/interrogação, exclamam: “Diz-nos: quando é que tudo isto vai acontecer e qual será o sinal de que todas estas coisas estão para acabar”?

Marcos faz-nos um bom relato deste discurso de Jesus. A liturgia de hoje ajuda-nos a reviver a parte final da sua rica mensagem. Vamos deter-nos e reflectir sobre alguns aspectos importantes para a nossa atitude cristã. Vamos saborear a alegria serena que brota da confiança na palavra de Jesus. Vamos decifrar o que se esconde na linguagem figurada, típica de certas épocas bíblicas e de filmes “tremendistas”, nas metáforas transparentes impregnadas de novidade e de esperança.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Gafanha da Nazaré: Inauguração da escultura "O Dóri"


Gafanha da Nazaré
Rotunda da Av. dos Bacalhoeiros
Sábado
16 horas

"O Dóri"

No próximo sábado, 17 de novembro, pelas 16 horas, na rotunda da Av. dos Bacalhoeiros, vai ser inaugurada uma estátua, denominada "O Dóri", cerimónia integrada no âmbito do Dia Nacional do Mar. Em comunicado da Câmara Municipal de Ílhavo, pode ler-se que se trata de um trabalho de Miguel Neves Oliveira, que aceitou o desafio de "levar a bom porto"a recriação artística do Dóri, também chamado, entre nós, Bote, utilizado na pesca do bacalhau à linha, nos mares gelados da Terra Nova e da Gronelândia.
Lê-se ainda que o Município de Ílhavo homenageia, assim, o Dóri, «visando nesta embarcação revisitada preservar valores, memórias e tradições da ligação dos “Ílhavos” ao Mar num passado recente».

Nota: Sobre este evento, tenciono falar depois da inauguração.