domingo, 8 de março de 2015

Dia Internacional da Mulher

"Ser mulher é algo difícil, já que consiste 
basicamente em lidar com homens"

Joseph Conrad (1857-1924), escritor inglês

A missa como antidepressivo

Crónica de Frei Bento Domingues no Público 



1. Sei que o título deste texto contraria a experiência de muitos católicos que se confessam ”não praticantes”, precisamente porque o velho preceito de assistir à Missa se lhes tornou impraticável. Um bom passeio, uma prática desportiva, o contacto com a natureza, um convívio com amigos, pelo bem que faz ao corpo e ao espírito, louva mais a Deus do que o aborrecimento de uma Missa enfadonha. Se aquilo era a festa da fé, preferiam ir ao café.
Apesar de tudo isso e de muito mais, mantenho o título, porque julgo que a celebração cristã do Domingo – se a comunidade celebrante encarnar e encenar hoje a significação da sua origem e da sua verdade – torna-se um divino antidepressivo semanal, um dispositivo contra o medo neste mundo carregado de ameaças e seguranças, um belo processo de refazer a vida e enfrentar os desafios de uma nova semana.
Não digo isto apenas porque os textos do domingo passado - o de S. Paulo, “se Deus está por nós, quem será contra nós” (Rm 8,31-34) e o de S. Marcos, sobre a transfiguração, quando Jesus se começa a sentir cercado (Mc 9, 2-10) - são evidentes e poderosas fontes de energia espiritual.
Não alinho, no entanto, com liturgias destinadas a provocar estados de descontrole emocional, lavagens ao cérebro, simulações de curas milagrosas ou qualquer outra tática para atrair clientes. Não me parece que seja esse o bom caminho para acabar com as missas consideradas uma seca, um aborrecimento ou um sacrifício inútil.

sábado, 7 de março de 2015

Engenharias dos nossos homens da Ria



As engenharias dos nossos homens da ria estão bem patentes nesta imagem que há dias registei de passagem pela Gafanha d’Aquém. O dia estava primaveril com céu limpo e temperatura amena, em contraste com dias anteriores de chuva, vento e frio. A laguna parecia usufruir de uma soneca tranquila, ao jeito de quem espera por alguém que prometeu vir mas não veio. 
Gosto da ria assim, muito embora o vento dê um contributo formidável para a navegação à vela, com quilhas a postarem-se na posição de desafio aos fotógrafos, sejam eles da terra, profissionais ou mesmo amadores. 
Pois as engenharias, sem cálculos complicados e sem réguas nem esquadros, mostram como os homens sabem pura e simplesmente ultrapassar os obstáculos com que se deparam no acesso aos seus barcos atracados na borda-d’água em maré de descanso.

Sobre sexo e género (2)

Crónica de Anselmo Borges no DN

Anselmo Borges


Como escrevi aqui no sábado passado, o historiador Yuval Harari, na obra De Animais a Deuses, escrevendo sobre as injustiças da História, que estabelece arbitrariamente hierarquias imaginadas, refere-se a uma que "tem sido de suprema importância: a hierarquia de género". Em quase toda a parte, os homens sobrepuseram-se hierarquicamente às mulheres, que ficaram numa situação de subordinação e humilhação. Porquê? Seja como for, "durante o último século, os papéis dos géneros passaram por uma tremenda revolução".

Nesta transformação, tiveram, entre outros, papel determinante dois factores: por um lado, por causa das guerras, o acesso das mulheres ao trabalho dos homens que partiam para combater e a consequente autonomia económica e, depois, o acesso ao ensino, e, por outro lado, a revolução operada pela chamada "pílula", que deu a possibilidade mais fácil de separar actividade sexual e procriação.

JESUS, A PESSOA E O MERCADO

Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha



Jesus chega ao templo de Jerusalém e fica escandalizado com o que vê. Jo 2, 13-25. A casa de oração por excelência havia sido transformada em centro comercial, em banca de câmbio, em lugar de disputas de interesses. O mercado desregulado impunha-se. A exploração dos peregrinos, sobretudo dos pobres, era moeda corrente. A acumulação ilícita de bens económicos por parte dos dirigentes, especialmente dos familiares e protegidos do sumo-sacerdote, fazia parte das regras. Jesus, fiel ao projecto de Deus Pai que antepõe a pessoa a qualquer outro bem, dá largas à sua indignação por tantos atropelos à dignidade humana e desvios de interpretação dos Mandamentos divinos.

quinta-feira, 5 de março de 2015

PÚBLICO celebra aniversário



O Público celebra hoje as bodas de prata com um número especial oferecido aos seus leitores. A primeira página desta edição com 112 páginas destaca em letras gordas “25 DAR TEMPO AO TEMPO” e conta com a participação especial de Marina Cortês, Rui Cardoso Martins, Vítor Cardoso, Carlos Fiolhais, Alexandre Melo e Bárbara Reis. O cientista João Magueijo foi diretor durante um dia. 
Não se trata de um jornal para ler em 24 horas, tempo de sobrevivência natural de um diário. É para ir lendo,  até porque a construção desta edição especial demorou um ano a conceber e a montar. Mas do que li, e foi pouco, dá para perceber que a sua leitura total vai durar uns dias. 
Comecei a ler o PÚBLICO desde a primeira hora, levado pela curiosidade e por me identificar com a qualidade jornalística de alguns fundadores. E se algumas vezes fiquei desiludido com certos trabalhos publicados e opções editoriais, a verdade é que o saldo positivo foi e é notório, ou não fosse o PÚBLICO uma referência jornalística, a par de outros, nomeadamente, o EXPRESSO.
Os meus parabéns a quem o dirige e nele trabalha, com votos de que continue a pautar a sua intervenção por critérios de verdade, justiça e liberdade, dando primazia ao homem e aos direitos humanos. 

quarta-feira, 4 de março de 2015

Quem se mete em atalhos mete-se em trabalhos


Vindo de Ílhavo, lembrei-me hoje de passar pela igreja de S. Pedro, na Cale da Vila, para tirar uma fotografia que pudesse servir para o Postal Ilustrado que costumo publicar no jornal Timoneiro. Tirada a foto, segui para casa, mas meti-me em atalhos, convencido de que o meu sentido de orientação estava afinado e em dia. Não estava. Votei à direita, depois à esquerda, deparando com sentido proibido aqui e ali e com rua de acesso só para residentes. Mais à frente, surgem as máquinas escavadoras das obras em curso na Gafanha da Nazaré. Voltei para trás, procurando uma rua conhecida que me desse o norte e lá consegui, depois de voltas e mais voltas desnorteado.
De facto, é complicado andar pela nossa terra, especialmente quando nos refugiamos nas ruas do dia a dia, sem sentir o prazer da descoberta dentro do que é nosso. No caso das ruas, ruelas, travessas, alamedas, largos e avenidas da Gafanha da Nazaré temos muito que aprender e conhecer.
Nestas voltas e reviravoltas passei pela Rua Cesário Verde. Se lá quisesse voltar, teria de ir à sorte. E em sua homenagem aqui vos deixo um poema, deste poeta que Vasco da Graça Moura, já falecido, considerou o nosso maior, acima mesmo de Camões.

Cesário Verde


DE TARDE

Naquele pic-nic de burguesas, 
Houve uma coisa simplesmente bela, 
E que, sem ter história nem grandezas, 
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico, 
Foste colher, sem imposturas tolas, 
A um granzoal azul de grão-de-bico 
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos, 
Nós acampámos, inda o Sol se via; 
E houve talhadas de melão, damascos, 
E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda 
Dos teus dois seios como duas rolas, 
Era o supremo encanto da merenda 
O ramalhete rubro das papoulas!

Em "O Livro de Cesário Verde"